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OIT Igualdade Racial 06

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alcançados, dados sobre as desigualdades ainda encontradas no Brasil.Na terceira parte, são discutidas as diretrizes gerais ou propostasde ações afirmativas possíveis de serem implementadas no Brasil, apartir das possibilidades legais e experiências exitosas já existentes.4Finalmente, faz um breve relato sobre metodologia deimplementação de políticas de ações afirmativas.


A forma de atuação dessa Secretaria, pressupõe a coordenação,promoção, articulação e acompanhamento entre os diferentesMinistérios, e outros órgãos do governo, para a implementação depolíticas de promoção da igualdade racial. Além de promover eacompanhar o cumprimento de acordos e Convenções Internacionaisassinados pelo Brasil, que digam respeito à promoção da igualdade ecombate à discriminação racial ou étnica. Outro objetivo da Secretariaé auxiliar o Ministério das Relações Exteriores nas políticasinternacionais, no que se refere à aproximação de nações do ContinenteAfricano.8A principal referência para o inicio da atuação da Secretaria foio programa Brasil sem Racismo que abrange a criação de políticaspúblicas em diversas áreas. Outros instrumentos legais que dão suportea atuação dessa secretaria são a Política Nacional de Promoção da<strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> - PNPIR e as resoluções da Conferência Nacional dePromoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> – CONAPIR.c) A Política Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> (PNPIR)A Política Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>- PNPIR- sínteseas linhas orientadores de atuação da SEPPIR, desenhando as principaisações e frentes de atuação para a redução das desigualdades raciais.Afirma que cabe ao Estado brasileiro o papel de reverter esse quadroe usa como referência instrumentos diversos como a Convenção 111, odocumento base do programa de governo Brasil Sem Racismo e o Planode Ação e Declarações de Durban.O principal objetivo descrito nessa política é reduzir asdesigualdades e para tanto adota as seguintes estratégias:• Defesa de diretos com afirmação do caráter pluriétnico dasociedade brasileira, regulamentação das terras quilombolas;criminalização do racismo;• Ação Afirmativa• Articulação das temáticas de gênero e raça.


AS diretrizes da PNPIR referem-se: a) ao fortalecimentoinstitucional das políticas de igualdade racial ; b) incorporar de maneirainovadora a dimensão racial em todos os âmbitos das políticas de governoseja incorporada de forma definitiva; c) consolidar a participaçãopopular na gestão do processo de promoção da igualdade racial; d)melhorar a qualidade de vida dos negros e negras no Brasil e no Mundo;e) inserir essa temática na agenda internacional do governo brasileiro.9Esse documento adota como princípios a transversalidade dosdebates e das ações, a descentralização das decisões e um processo degestão democrática da decisões e construção dos planos de ação. Nosentido de efetivar essa demanda da a SEPPIR convocou, em 2004, a IConferência Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> (CONAPIR) como objetivo de estabelecer um diálogo entre Estado e sociedade civilpara aprofundamento dos eixos estabelecidos pela PNPIR. EssaConferência foi precedida da consulta de todos os 27 estados daFederação que elegeram seus representantes para participar daConferência.(CONAPIR)d) A Conferência Nacional de Promoção de <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>O ano de 2005 foi declarado pelo governo brasileiro como AnoNacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>. A realização da 1ª.Conferência Nacional de Políticas de Promoção significou a consolidaçãode uma estratégia de políticas públicas voltadas para a alteração dascondições de vida da população negra no Brasil. Essa Conferência foirealizada entre os dias 30 de junho, 01 e 2 julho e, segundo a SEPPIR,tratou-se de um momento de fortalecimento das ações de promoçãoda igualdade racial na estrutura governamental e proporcionou aformulação de um um modelo de gestão participativa, onde a promoçãoda igualdade racial se afirma como elemento essencial no processo deconsolidação da democracia.Os objetivos da Iª Conapir foram:• Refletir sobre a realidade brasileira, do ponto de vista dasociedade e da estrutura do Estado, considerando os mecanismosde reprodução da discriminação, do racismo e das desigualdadesraciais.


• Avaliar as ações e políticas públicas desenvolvidas para apromoção da igualdade nas três instâncias de governo –municipal, estadual e federal, bem como o cumprimento doscompromissos internacionais objetos de acordos, tratados econvenções.10 10• Propor diretrizes para a Política Nacional de Promoção da<strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> e Étnica considerando a perspectiva de gênero,cultura e religião. 4Em termos de resultado, um dos mais importantes a seremdestacados é o acordo para a elaboração de planos estaduais edistrital de promoção da igualdade racial que definam as bases de umconvênio vinculado ao Plano Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>,Sob essa perspectiva, uma das expectativa da SEPPIR é que os debatesocorridos na Conferência resultem na constituição de um SistemaNacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>, que garanta a capilaridadedas políticas implementadas pela Secretaria nos estados e municípiosda Federação..e) O Estatuto da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> ( em processo de tramitação)Ainda em tramitação no Congresso, o Estatuto da <strong>Igualdade</strong><strong>Racial</strong> traz, em seu corpo, diversos enunciados onde a proposição eimplementação de políticas afirmativas para a promoção da igualdaderacial tornam-se obrigação do Estado, devendo estas estarem contidasnos Plano Plurianuais. Ou seja, essa tarefa deixa de ser incumbênciade lideranças dos movimentos socais, do empenho individual dos ativistaspela igualdade e passa a ser dever do Estado. Conforme assinala FERRAZ(20<strong>06</strong>), no Estatuto:estão insertas as coordenadas para que os poderes do Estadotenham embasamento para planejar e aplicar políticas públicasvoltadas para reparação de distorções sociais. Ele declara legítimaa estipulação de cotas e, neste caso, não especifica apenas parao campo da educação, possibilitando também sua implementaçãonas áreas do trabalho e cultura. 54Site: www.presidencia.gov.br/seppir5FERRAZ.(20<strong>06</strong>,), <strong>Igualdade</strong> de Oportunidades e Discriminação <strong>Racial</strong> no Trabalho:uma leitura dos instrumentos legais, pg. 75. <strong>OIT</strong>.


O Estatuto, se aprovado, trará outros avanços como a proposiçãode criação dos Conselhos de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> nos Estados,que terão competência para formular, coordenar, supervisionar e avaliaras políticas de combate à desigualdade e à discriminação, o que,possibilitará a otimização da transversalização dos temas de raça,trabalho e ensino nas políticas públicas.11O capítulo que trata do mundo do trabalho, afirma que acontratação de novos funcionários públicos deverá observar a igualdadede oportunidades visando garantir a proporcionalidade dasrepresentações da sociedade brasileira, tanto racial quando de gêneroe quaisquer outras forma de diversidade.Todos esses instrumentos apresentados são parte dalegislação e das diretrizes e planos de ação existentes, os quais têmnorteado as ações já desenvolvidas pela SEPPIR. Para precisar melhor ouniverso em que deverá ser articulado e construído um Programa Nacionalde Ações Afirmativas, no item a seguir apresentaremos as principaisatividades desenvolvidas pela SEPPIR, nos últimos 03 anos.I.2 - Programas e Atividades da SEPPIRAs desigualdades raciais no mundo do trabalho se constituem emum dos maiores desafios, senão o maior, a ser enfrentados pelas políticaspúblicas. No caso específico das mulheres negras, os indicadores revelamque elas ainda ocupam a base piramidal de trabalho e renda, recebendoremuneração inferior a homens negros, mulheres brancas e homensbrancos, estes no topo da pirâmide.Durante os quase três anos de atuação, sistemática ediversificada, a SEPPIR desenvolveu diversas políticas. As principais,voltadas para o universo do mundo do trabalho e do desenvolvimentoeconômico da população afro-brasileira, foram:• Programa Brasil Quilombola - PBQ é coordenado e monitoradopela SEPPIR, em parceria com 21 ministérios, e tem como objetivoimplementar políticas públicas que melhorem as condições devida nas comunidades remanescentes de quilombos. Os principaisresultados até o final de 2005 foram: a) a regularização de 270processos fundiários no Incra, o que beneficiou mais de 400


comunidades quilombolas; b) investimentos em ações deassistência técnica; c) instalação de energia elétrica peloPrograma Luz para Todos em 73 comunidades, beneficiando2.653 famílias; d) capacitação de 123 comunidades quilombolaspara elaboração de projetos de geração de renda em parceriacom a Eletrobrás; e) investimento de R$ 4 milhões da Petrobrásno apoio a projetos de desenvolvimento sustentável para 10comunidades quilombolas, beneficiando 600 famílias. f) instalaçãode Telecentros em cinco comunidades quilombolas e umainstituição religiosa e cultural de matriz africana; g) publicaçãode edital do CNPq/MCT (Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico) em parceria com SEAP – SecretariaEspecial de Aqüicultura e Pesca, SEPPIR e Ministério do MeioAmbiente, no valor de R$ 3,2 milhões para Projetos deTecnologias Sociais para Comunidades Tradicionais e PovosIndígenas.12 12Todos esses projetos e programas, no âmbito das comunidadesquilombolas favorecem um processo de mudança das condições sócioeconômicase aumentam, de forma considerável, as possibilidades deintervenção pública e privada no processo de criação de novos empregose empreendimentos, gerando renda e fomentando a construção evalorização da identidade étnica desses afro-brasileiros.Em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego –MTE, aSEPPIR contribui para a re-elaboração do Plano Nacional deQualificação - PNQ que permitiu uma maior inclusão de negros emseus programas. Dos 142,3 mil pessoas qualificadas neste programa,62% são negros e descendentes de indígenas. Os objetivos desseprograma visam desenvolver cursos em diversas áreas para trabalhadorese trabalhadoras do campo ou da cidade, para que possam adquirirmelhores condições de enfrentar os novos desafios e desenvolver novosconhecimentos; ampliar as chances de acesso e permanência do mercadode trabalho; dar novas perspectivas de ascensão profissional, elevaçãode salário e renda; maior formação intelectual, fomentar oempreendedorismo etc.Esse programa é de extrema importância para promoção daigualdade racial pois traz em sua estrutura a clara preferência ematender, enquanto público alvo, as populações marginalizadas:


Será dada preferência a trabalhadores (as) de baixa renda emenor escolaridade e a pessoas mais sujeitas à discriminaçãosocial e com maior dificuldade de acesso ao mercado de trabalho,como: desempregados; negros, afrodescedentes e descendentesde índios; mulheres chefes de família; pessoas com mais de 40anos; pessoas com necessidades especiais, como portadores dedeficiências; trabalhadores rurais, agricultores familiares,,assentamentos ou em processo de assentamento, trabalhadoresem atividades sujeitas à sazonalidade por motivos de restriçãolegal, clima ou ciclo econômico; pessoas que trabalham porconta própria em cooperativas ou entidade associativa;trabalhadores (as) domésticos(as); engressos do sistemapenal;trabalhadores em empresas afetadas por processos demodernização. 613 13Ainda , no âmbito das ações do PNQ, deve-se destacar aimplementação do Plano Setorial de Qualificação Social de Profissional“Trabalho Doméstico Cidadão” lançado em 08 de novembro de 2005,a partir de uma parceria entre SEPPIR e Ministério do Trabalho eEmprego. Este plano sinaliza um horizonte mais favorável para a mulhernegra, uma vez que grande parte delas estão ocupadas no trabalhodoméstico. As principais diretrizes desse programa são: a) garantia dedireitos; b) qualidade de vida; c) identidade e consciência de classe eraça; d) emponderamento e participação.A proposta é alcançar esses objetivos através de políticas públicasde estímulo e seguridade social, divulgação e obrigatoriedade quantoao cumprimento dos direitos trabalhistas, maiores oportunidades dequalificação profissional e educação permanente.Além dessas, a imprensa deu importante destaque a uma dasdiretrizes desse programa, aquela que permite o abatimento no Impostode Renda dos encargos com empregadas (os) domésticas (os) já apartir de 20<strong>06</strong>, para os casos com registro em carteira de trabalho. Oque possibilitará o aumento do número de mulheres negras amparadaspor legislação trabalhista, com maiores benefícios e segurança. Alémdisso, pode contribuir para a diminuição da informalidade nas relaçõesde trabalho nesse segmento.6PNQ – Plano Nacional de Qualificação, Ministrio do Trabalho e Emprego- MTE.


Entre as ações desenvolvidas pela SEPPIR em parceria com oMTE, o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego paraJovens através dos Consórcios Sociais da Juventude qualificou 6.732jovens, entre eles 4.035 negros, o que representa cerca de 59,24% dototal de jovens atendidos pelo programa.14 14Ainda no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, deve-sedestacar o papel dos núcleos de combate à discriminação nas delegaciasregionais do trabalho- DRT, criados pela Portaria 64/00. Essas unidadestêm ganhado força junto os trabalhadores, mas ainda necessitamavançar mais nas ações pró-ativas ao combate à discriminação e apromoção da igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Emfunção dessa necessidade, a <strong>OIT</strong> vem apoiando tecnicamente o MTE nosentido de desenvolver estruturas e metodologias que possibilite aossetores designados para esta função maior eficácia na sua ação.Em 2004 foi instituída, também, a Comissão Tripartite de<strong>Igualdade</strong> de Oportunidades e de Tratamento de Gênero e Raça noTrabalho, com o objetivo de discutir e sugerir políticas públicas deigualdade de oportunidades e tratamento, e de combate a todas asformas de discriminação no emprego e ocupação, dando prioridade asquestões de gênero, raça e etnia.Na vertente do apoio ao empresariado negro as experiênciaspara o Fortalecimento de Empreendedores Afro-Brasileiros, por meiode incubação de cooperativas, foram realizados em parceria com aAnceabra – Associação Nacional de Empresários Negros, em 6 estados eno Distrito Federal, com público de 800 pessoas. A Incubadora Afro-Brasileira IPDH, com o apoio institucional da SEPPIR e apoio financeiroda Petrobrás, capacitou 450 empreendedores negros, que já tinhamalguma atividade econômica. Ressalte-se que a maioria destesempreendedores desenvolve suas atividades na informalidade e semapoio administrativo, assessoria contábil ou plano de negócios quepossibilitem uma melhor desempenho da atividade.. Nestes programasde capacitação, os empreendedores negros participavam de cursos degestão de pequenos negócios, processo de compras e vendas,comercialização, marketing dentre outros aspectos para conseguiremobter mais sucesso em seus empreendimentos. Além de apoio jurídicoe contábil.


Visando dar maior visibilidade e legitimidade as ações do GovernoFederal e da SEPPIR, uma peça publicitária de apoio às iniciativas depromoção da igualdade foi lançada. Tratou-se da Campanha daDiversidade que foi divulgada por meio de dois filmes publicitários emcanais abertos, que incentivam a diversidade racial nas empresas,mostrando o interesse do Governo Federal em trazer o setor privadopara dentro desse contexto de mudança na composição do quadrofuncional, dando espaço para os diversos segmentos que compõem cadaregião.15 15A capacitação de gestores públicos na temática racial coloca-secomo eixo fundamental na elaboração e implementação de uma políticapública de promoção da igualdade racial. A SEPPIR consolidou parceriacom Organização Internacional do Trabalho (<strong>OIT</strong>) por meio do Programade Fortalecimento Institucional para a <strong>Igualdade</strong> de Gênero e Raça,Erradicação da Pobreza e Geração de Emprego – GRPE, cujo objetivoé incorporar e fortalecer as dimensões de gênero e raça nas políticaspúblicas de combate à pobreza e geração de emprego.O programa representa uma das principais ações de capacitaçãonas temáticas racial e de gênero para servidores (as) e gestores(as)públicos(as) federais, estaduais e municipais e de outros atores sociais,em particular organizações sindicais e de empregadores. Para alcançarseus objetivos foram realizadas diversas oficinas, seminários e reuniõescom gestores públicos.- No âmbito federal: oficinas de Capacitação de Gestores Públicosjunto ao Ministério do Trabalho e Emprego, especificamente dos gestoresdo Plano Nacional de Qualificação (PNQ) e dos Núcleos de Combate àDiscriminação e de Promoção da <strong>Igualdade</strong> de Oportunidades existentesno âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego; oficinas para servidorespúblicos das secretarias do MTE;• Palestras de sensibilização para integrantes das secretarias doMinistério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS);• Palestras de sensibilização para integrantes dos cinco pólos(Estados) do Programa de Educação Previdenciários (PEP) doMinistério da Previdência Social;• Oficinas para conselheiros do Conselho Nacional dos Direitosda Criança e do Adolescente – Conanda.


- No âmbito regional e local: na região do ABC (composta porsete municípios) paulista foram realizadas 15 oficinas de capacitaçãode gestores nas temáticas raciais e de gênero para aproximadamente90 gestores públicos dos programas sociais: Bolsa Família, Renda Cidadã,Brasil Alfabetizado, Banco do Povo e Casa Abrigo regional e outrosatores sociais (representantes do movimento negro e de mulheres,centrais sindicais e empresariais); quatro workshops sobre relaçõesraciais e políticas públicas no Brasil, destinados a sensibilizar de gestorese a implementação do Quesito Cor nos programas sociais mencionados.16 16• Em São Paulo: foram realizadas reuniões de continuidade doprojeto com a Prefeitura Municipal de São Paulo.• Em Minas na região do Vale do Jequitinhonha e Mucuri(composta por 105 municípios dos estados de Minas Gerais,Espírito Santo e Bahia): foram realizadas oficinas para 40conselheiros da MESOVALES e representantes da sociedade civil;além da construção de um diagnóstico sobre o desenvolvimentolocal do Vale do Mucuri envolvendo 23 municípios a partir dorecorte racial e de gênero; oficinas para incorporação de novosconhecimentos (designer) a unidades produtivas gerenciadas pormulheres negras.• Na Bahia: na cidade de Salvador foi realizado o I seminário deimplementação do programa GRPE para gestores públicosmunicipais e representantes da sociedade civil.A existência dos instrumentos legais mencionados acima e dosprogramas citados possibilitam um cenário favorável a criação de umPlano Nacional de Ações Afirmativas no Mundo do Trabalho, uma vezque essa esfera da sociedade é essencial para promover uma alteraçãono quadro de desigualdades sócio econômicas entre as diversas etniasdo Brasil. Sem esquecer, é claro, das demais esferas sociais que tambémdevem adotar medidas afirmativas nesse sentido.Diante desse quadro, a criação de um Plano Nacional de AçõesAfirmativas vem ganhando força e se consolidando. Manuela Tomei,em recente publicação, aponta as várias ações adotadas em diversospaíses visando a redução das desigualdades, segundo ela:“Esta abordagem considera a discriminação não como um eventoesporádico, mas algo arraigado na sociedade e nas instituições


de maneira geral, e sua eliminação, uma responsabilidade social.A “ação afirmativa” é expressão clara da noção de igualdadesubstantiva, 7 que procura assegurar justiça na distribuição deempregos e oportunidades entre os diferentes grupos. Isso explicapor que as medidas de ação afirmativa são baseadas em grupose visam igualar as disparidades intergrupais.17 17É importante ressaltar que o objetivo das medidas de açãoafirmativa não é apenas “abrir portas” aos membros de grupossub-representados, possibilitando que atuem detrás dessasportas. Há outro objetivo importante que é a redistribuição depoder e de recursos. 8 O foco, portanto, não recai apenas sobrea melhoria da representação numérica de determinados grupos,mas também sobre mudanças na organização do trabalho e nogerenciamento de recursos humanos, de modo a criar umambiente de trabalho estimulante. A noção de “eqüidade noemprego”, cunhada e introduzida pela juíza Rosalie SilbermannAbella em 1985, no Canadá, enfatiza a importância de se obtermudanças nas políticas e práticas organizacionais 9 .”I. 3 - Desafios a serem articulados a partir dos aspectos institucionaisexistentes.A criação de uma Secretaria com status de Ministério, ligadadiretamente a Presidência da República é um grande avanço. No entanto,a necessidade de levar estruturas semelhantes para Estados e Municípiostornou-se uma demanda urgente para o Pais.7Especialistas identificam duas abordagem principais da noção de igualdade deoportunidade e tratamento: uma delas define igualdade como “igualdadesubstantiva, enquanto a outra a descreve como “igualdade de procedimentos ouigualdade formal. Hepple caracteriza a “igualdade formal como uma “igualdadeenquanto coerência, ao passo que Ben Israel se refere a ela como “igualdade detratamento.Ver: HEPPLE, B., Equality and empowerment for decent work.International Labor Review, Genebra, v. 140, n.1, 2001, pp. 5-18; e ISRAEL, B.,Equality and the prohibition of discrimination in employment. Comparative laborlaw and industrial relations in industrialized market economies The Hague: KluwerLaw International, 1998. O modelo de “igualdade formal busca reduzir adiscriminação assegurando que as regras de competição sejam cumpridas demaneira justa para todos, mulheres e homens, negros e brancos. Em outraspalavras, defende que todos os trabalhadores sejam tratados da mesma maneira.Ela tem uma orientação claramente individualista e reflete respeito pelasrealizações, eficiência e “mérito, o que pode espelhar concepções tendenciosassobre que atitudes e competências são desejáveis no mundo do trabalho. Ver: MCCRUDDEN, C. “Merit principles. Oxford Journal of Legal Studies, Oxford, v. 18, n.4, pp. 543-579, 1998.8HOLTMAAT, R. (relator). op. cit.9TOMEI (2004). Ação Afirmativa para a igualdade racial: características, impactose desafios.


Muitas ações realizadas pela SEPPIR e também por diversos outrosórgãos públicos não conseguem chegar em todas as esferas de atuaçãoonde o Estado deveria estar presente. A descentralização das decisõese da implementação de políticas públicas é o caminho que permitiráuma maior consolidação dessas políticas. Principalmente por que anatureza das políticas de caráter inclusivo está permeada pelanecessidade de acompanhamento e sensibilização constante.18 18Faz necessário descentralizar as ações e propostas e dar maisautonomia para que os governos locais e estaduais possam implementarpolíticas mais adequadas, e mais apropriadas para as necessidades edemandas regionais, seguindo orientações de um organismocentralizado. Que de acordo com as ambições da SEPPIR podem comporfuturamente um Sistema Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>,nos moldes dos programas de saúde –SUS- e Educação -LDB.


19 19II – Pressupostos Teóricos do ProgramaNesta seção vamos enumerar alguns conceitos importantes queauxiliam na compreensão de aspectos referentes ao tema discriminaçãoe ao mesmo tempo aparecem na formulação elaborada pela <strong>OIT</strong>, apartir da experiência dos projetos de cooperação técnica ( GPRE e<strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>). Este recurso permitirá apresentar alguns fundamentose pressupostos que podem nortear um Programa de Ação Afirmativa aser elaborado pela SEPPIR.De uma maneira mais geral, esses fundamentos já estãoenunciados na Convenção 111 (Combate à Discriminação) que propagao fim de qualquer forma de discriminação e prevê que os Estadosadotem políticas de promoção da igualdade racial.Destacamos, assim, os seguintes conceitos:a) DiscriminaçãoAto de discriminar, faculdade de distinguir ou discernir;separação, apartação, segregação. Na área do trabalho, pode-seconsiderar a interferência dos critérios subjetivos de admissão e/oupromoção, que resultam em privilégios para alguns grupos em


detrimento de outros. É, portanto, uma ação que provoca benefíciose malefícios decorrentes de uma escolha baseada no preconceito e nosestereótipos. O preconceito muitas vezes é só predisposição, mas adiscriminação traduz uma ação concreta, uma ação direta.20Segundo Bento, o cotidiano e o ambiente de trabalho são lugaresonde o potencial para atos de discriminação se tornarem práticascontinuadas e negadas é muito alto, visto que poucos se debruçamsobre as ações do dia a dia, sobre as regras e procedimentos, sobre osvalores e etc., de forma reflexiva. São espaços de repetições enormatizações rígidas. Muitas dessas regras até as informais,independente da intenção de discriminar ou não, acabam por reforçara situação de desigualdades no Brasil” 10, fazendo necessário umacampanha intensa de informação e formação desses gestores, tantode empresas públicas quanto das privadas. Um dos caminhos possíveisé a adoção de ações afirmativas.b) Ações AfirmativasA discussão sobre ações afirmativas no mundo não é recente, noentanto, no Brasil, em função da negação do racismo como práticacotidiana adiou o debate a implementação de ações afirmativas, bemcomo dificultou o entendimento do princípio por traz dessas propostas.Dessa forma faz-se necessário definir o que compõe um padrãode ações afirmativas e como elas estão sendo empregadas no Brasil.De acordo com Tomei,...todas essas medidas visam acelerar o ritmo de participaçãodos membros de grupos sub-representados no acesso ao emprego,educação, treinamento e promoção. A lei internacional não serefere nem define explicitamente o termo “ação afirmativa;entretanto, o conceito “medidas especiais, empregado emdiversos tratados, compreende também aquelas medidasgeralmente referidas como “ação afirmativa. O Art. 5 daConvenção 111 da <strong>OIT</strong> um dos primeiros artigos de um tratadointernacional que permite a adoção de “medidas especiais de10BENTO. (2001). O Crepúsculo das políticas de promoção da igualdade racial noBrasil.


proteção ou assistência de modo a atender a necessidadesparticulares de pessoas que, por razões associadas a sexo,deficiência, responsabilidades familiares ou status social oucultural, so geralmente reconhecidas como necessitadas deproteção ou assistência especial....21Medidas de “justiça afirmativa compreendem esforos proativosde informar e incentivar membros de grupos sub-representados acandidatarem-se a empregos ou de oferecer-lhes treinamentovocacional para capacit-los a competir em igualdade de condições. Asmedidas de “justiça afirmativa também incluem esforços dirigidospara assegurar que os critérios usados para contratações e promoçõesnão levem em consideração a cor da pessoa, ou seja, que sejambaseados no mérito e não em critrios irrelevantes, tais como a cor dapele ou o sexo. O propósito desse tipo de medidas de ação afirmativa,segundo o relator especial da ONU, eliminar a discriminação racial egarantir que a pessoa “melhor qualificada, independentemente deraça ou gênero, sempre tenha preferência 11A partir dessas ações, o objetivo é reduzir as desigualdades sociaisexistentes na sociedade, mas que deve ter como meta, também, aalteração de estruturas já consolidadas que reinventam e reorientamas relações de desigualdades existentes na sociedade brasileira.Além das cotas outras modalidades de ações afirmativas podemser identificadas no contexto atual das políticas governamentais,, comoé o caso dos programas de profissionalização do menor, do primeiroemprego, da formação profissional e qualificação para o trabalho, damulher, do negro e da pessoa com deficiência, de metas de participaçãode afrodescententes, mulheres e pessoas com deficiência nopreenchimento de cargos em comissão da Administração Pública, bemcomo o conjunto de ações desenvolvidas pelas unidades de combate àdiscriminação no âmbito Ministério do Trabalho e Emprego.c) DiversidadeJá o conceito de diversidade, que algumas empresas têm adotado,visa não só a melhoria da sua imagem, bem como a ampliação da11TOMEI. (2005) Ação Afirmativa para a <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>: características, impactose desafios.PP 6- 9


competitividade, pela crença de que um ambiente diverso possibilitauma abordagem multifocal dos problemas e aumenta a diversidade desoluções para os mesmos. Tornando o ambiente de trabalho menoscompetitivo e mais cooperativo.22“De tal modo, o grau de comprometimento dos órgãos de recursoshumanos com as normas de igualdade no emprego vai definir omodo como a empresa se organiza e cria uma cultura voltadapara diversidade. As empresas que incorporam políticas voltadaspara diversidade fundam-se na concepção de que um ambientede trabalho que acolhe diferentes aumenta o potencial desoluções, e propicia que estratégias diferentes levem aorganização de produção a melhores resultados em termos deprodutividade. 12O “Manual sobre Diversidade nas Empresas” 13 desenvolvido peloInstituo Ethos, apresenta a diversidade como uma meta a ser buscadade forma coletiva pelos cidadãos, instituições, governos e comunidades,como uma responsabilidade social compartilhada. Nesse sentido, adiversidade é apresentada com o direito a diferença, com respeitomútuo e um ambiente onde as pessoas podem agir de acordo com osseus valores.No entanto, obter uma participação mais justa, no trabalho,dos grupos sub-representados socialmente exige mudanças deprocedimentos nos processos de recrutamento e seleção e também nasdecisões sobre treinamento e promoções de trabalhadores. 14Como já mencionado, esse princípio que percorre as linhas eentrelinhas da Declaração de Durban busca responsabilizar o Estadoquanto as desigualdades e atribuir-lhe a responsabilidade deimplementação de políticas públicas e ações diretas e imediatas.O Decreto 4228/02, impõe ao Estado a políticas de cotas derepresentação racial para a contratação de novos funcionários públicos,além de dar início a criação de critérios de promoção da igualdaderacial nas licitações.12COUTINHO. (20<strong>06</strong>). Discriminação no Trabalho: Mecanismos de Combate e dePromoção da <strong>Igualdade</strong> de Oportunidades, PP 163.13INSTITUTO ETHOS. (2000). Manual sobre Diversidade nas Empresas14TOMEI. (2005): Ação Afirmativa para a <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>: características,impactos e desafios


Na Política Nacional de Promoção da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong> (PNPIR), aorientação máxima é uma ampliação das políticas de ações afirmativas,não se restringindo apenas ao âmbito da inserção de novos funcionáriospúblicos dos grupos discriminados. Nesse programa, as ações devemser amplas e transversais, sendo adotadas por todas as esferas degoverno, inclusive nos programas oferecidos pelo mesmo, desde aconcorrência para projetos culturais até metas na reforma agrária eampliação de investimento público no fomento ao empreendedorismonegro.23A Conferência Nacional de Promoção de Política de <strong>Igualdade</strong><strong>Racial</strong> (CONAPIR), de acordo com a avaliação da SEPPIR, coroa suaatuação uma vez que concretiza a proposta para a elaboração daspolíticas públicas de forma participativa e descentralizadas, tendo asresoluções da Conferência Nacional a síntese das propostas discutidasnos estados..Além dessas premissas de entendimento dos conceitos adotadospela <strong>OIT</strong>, tanto o PNPIR, quanto às diretrizes do CONPIR e o Decreto4228, que foram apresentados anteriormente, são documentos epressupostos legais que dão suporte a criação de um Plano Nacional deAções Afirmativas e as propostas aqui apresentadas. Mas, atualmente,a iniciativa privada têm apresentado diversos outros instrumentos ediretrizes que permitem e dão sustentabilidade a promoção de açõesafirmativas. Como, por exemplo, as diretrizes da OCDE e o GlobalCompact e ainda a Declaração Tripartite de Princípios sobre EmpresasMultinacionais e Política Social, da <strong>OIT</strong>.As diretrizes da OCDE – Organização de Cooperação eDesenvolvimento Econômico, onde os países desenvolvidos se obrigama monitorar a ação das empresas multinacionais atuantes em paísesem desenvolvimento. Em especial nesse processo de monitoramento,há um ponto de contata nacional – PCN, geralmente localizado em umministério, responsável por receber denúncias da sociedade civil e dossindicatos, contra empresas que venham a ferir alguns dos direitostrabalhistas, civis ou políticos vigentes nos países membros da OCDE,mesmo que no país onde a empresa venha a realizar a infração nãotenha ratificado quaisquer convenção ou não tenha em sua legislaçãonorma que verse sobre o tema em questão.


Esse instrumento tem sido muito usado no Brasil, pois o PCN é aúltima instância de denúncia. Antes de chegar nesse estágio as empresase os sindicatos tentam esclarecer e corrigir o problema detectado,caso a situação não seja resolvida a denúncia é feita.24 24No que se refere ao Global Compact trata-se de uma iniciativada ONU – Organização das Nações Unidas, visando fortalecer a relaçãocom as grandes empresas e corporações do mundo, com objetivo deestas empresas estabeleçam um processo de articulação com osprincípios defendidos pelas Nações Unidas.É um instrumento de adesão livre e voluntária das empresas,contendo 10 princípios :Princípios de Direitos Humanos1. Respeitar e proteger os direitos humanos;2. Impedir violações de direitos humanos;Princípios de Direitos do Trabalho3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho;4. Abolir o trabalho forçado;5. Abolir o trabalho infantil;6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho;Princípios de Proteção Ambiental7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;8. Promover a responsabilidade ambiental;9. Encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente.Princípio contra a Corrupção10. Combater a corrupção em todas as suas formas inclusiveextorsão e propina. 15E, por fim, a Declaração Tripartite de Princípios Sobre EmpresasMultinacionais e Política Social, é uma iniciativa da <strong>OIT</strong> buscandoinstrumentos que possam apontar para uma regulamentação da condutadas empresas multinacionais – EMNs – e das condições que devemreger suas relações com os países em que se instalam. Essa demandasurgem em função da percepção das EMNs como tendo um papel15http://www.pactoglobal.org.br/pg_principio.php


proeminente e fundamental no processo de globalização econômica esocial, em função da busca pelos diversos países de novos investidorese desenvolvimento com aumento de produtividade e da presença dessasempresas em seus territórios.25No primeiro item da Declaração aparecem diretrizes erecomendações quanto aos direitos e condições de trabalho:“(...) No âmbito das políticas de desenvolvimento instauradaspelos governos, essas empresas podem, também, contribuir amplamentepara a promoção do bem-estar econômico e social; para a melhoria donível de vida e para a satisfação das necessidades básicas; para acriação direta ou indireta de oportunidades de emprego e parapromoção, em todo o mundo, dos direitos fundamentais do homem,inclusive a liberdade sindical” 16 .16Declaração Tripartite de Princípios Sobre Empresas Multinacionais e PolíticaSocial, pág. 10-11, <strong>OIT</strong> , 2003.


26III - Diretrizes GeraisAs propostas de Ações Afirmativas no mundo do trabalho edesenvolvimento econômico podem ser apresentadas por dois ângulosdistintos: o âmbito governamental e no âmbito da iniciativa privada. Eessas ainda, podem ser subdivididas em diversos outros aspectos como:à diminuição da informalidade; maior inclusão no mercado formal;fomento do empreendedorismo negro. Assim, cada uma dessas esferasterá tratamento diferenciado, explorando algumas das diversaspossibilidades de promoção da igualdade racial e desenvolvimentoeconômico.III- A) Ações governamentais:No âmbito do governo algumas ações já foram apresentadas,como por exemplo, o programa Brasil Quilombola, mas outras aindapodem e devem ser adotadas pela Brasil para que possa romper com ociclo de permanência das desigualdades.Dentro desse segmento ainda há algumas subdivisões necessárias.A primeira é aquela que diz respeito aos programas e leis que o Governoadota para estimular a ação de outros atores sociais /esferas sociais, ea outra é aquela que diz respeito ao Governo internamente. Sendo o


maior empregador do Brasil, é importante que as empresas estataisadotem ações afirmativas, pois essa iniciativa pode tornar-se umaboa prática a ser replicada.27Muito já tem sido feito por parte do Governo Federal em relaçãohá alguns aspectos. Um exemplo é a esfera educacional. O GovernoFederal implementou um programa cujo objetivo é a inclusão de jovensnegros nas universidades privadas. Outro exemplo é a aprovação da Lei10.639 que inclui como disciplina obrigatória no currículo escolar, tantodos estabelecimentos de ensino fundamental e médio nas escolas oficiaise particulares, o ensino de História da África e cultura afro-brasileira.Essas duas medidas têm impactos significativos no mercado detrabalho num futuro próximo, pois possibilitará uma maior inserção denegros com qualificações exigidas no mercado de trabalho, e a barreirada “qualificação” – muitas vezes empregada pelas para excluir apopulação negra – tende a ser enfraquecida, forçando o mercado formalde trabalho a enfrentar as resistências existentes contra negros, umavez que a justificação educacional tende a ser desmistificada.Para além da educação formal, a atuação junto aos órgãos dequalificação profissional tem sido muito eficaz e apresentado bonsresultados no processo de inclusão no mercado formal. Os recortes degênero e raça têm permitido que o Estado destine parte dos recursosalocados nos fundos qualificação do trabalhador para os grupos maisvulneráveis no mercado de trabalho (mulheres e negros). Ilustrandoesse aspecto observa-se que desde do início do PNQ, é crescente onúmero de participantes desses segmentos.Já no âmbito da iniciativa privada muitas empresas, em especialas multinacionais, têm implementado programas de diversidade que,na maioria das vezes, já foram desenvolvidos e adotados originalmenteem suas matrizes. No entanto, o caminho a ser percorrido ainda émuito longo. Segundo levantamento feito pelo Instituto Ethos junto as500 maiores empresas do Brasil, das que responderam o questionário (cerca de 119 empresas) somente 4% têm algum programa promoçãode equidade para negros e negras.Assim, a criação de uma Política Nacional de Ações Afirmativaspode trazer maior orientação e método para que o empresariadonacional possa adotar medidas e metas de promoção da igualdade racial.


III – A.1) Ações possíveis no âmbito do GovernoA abordagem necessária em busca da igualdade de oportunidadesnão se limita apenas a uma vertente de atuação do Estado brasileiro.As ações têm que ser conjuntas tanto com a sociedade civil quantocom as diversas esferas do Governo, e ainda, partirem de várias frentesdesde da educação até oportunidades de lazer e seguridade social deforma simultânea.28Um programa para a implementação de políticas de promoçãoda igualdade racial no trabalho pode ter como uma das principais metas,a construção de instrumentos de monitoramento e de aplicação dosdireitos estabelecidos na Convenção 111, visando subsidiar dirigentes efuncionários públicos no que diz respeito à medidas práticas quefavoreçam a igualdade de oportunidades e de tratamento no trabalho,considerando-se as peculiaridades e contextos específicos nos quais sepretende implantá-las.Os objetivos de um programa de monitoração da Convenção 111 são:• mobilizar a atenção dos diferentes atores para a amplitude,importância e implicações da temática da igualdade no trabalho;• difundir e ampliar a consciência do direito de igualdade notrabalho, nas suas mais diversas dimensões;• fortalecer as lutas contra a discriminação e pela igualdade deoportunidades e de tratamento no trabalho;• inscrever a temática da igualdade no trabalho como um valora ser preservado e tomado como parte indistinta da busca pormelhores condições de trabalho e de vida.A partir das discussões e diretrizes aprovadas no Conapir, dasações e programas da SEPPIR e dos debates e seminários organizadospela <strong>OIT</strong> Brasil e Governo Federal, é possível pensar em algumassugestões cabíveis para as diretrizes já desenhadas e aprovadas eminstâncias superiores.A seguir apresentamos ações que podem e devem ser adotadospelo Governo em diversos outros segmentos visando fortalecer a políticanacional de promoção da igualdade racial.


III A. 2) Na Área Educacional: Pensando as perspectivas no âmbitoprofissional:29Algumas idéias podem ser adotadas como a criação de diversascooperativas de crédito educacional, com financiamento do BNDS comrecursos de fundo perdido, para que as famílias de baixa renda negrasou não negras possam participar de um projeto educacional para seusfilhos. A cada mês eles poderiam depositar uma quantia mínima, deacordo com os rendimentos de cada família, que venha à subsidiarvárias dimensões do processo educacional do filho, desde a possibilidadede freqüentar um cursinho e ter condições de disputar uma vaga emuniversidade pública, até ter a faculdade privada paga com bolsaproveniente da cooperativa. Ou ainda, como verba mensal que garantiriaa permanência dos alunos na faculdade.Cada família faria sua adesão à cooperativa quando a criançaentrasse no ensino fundamental. Assim, a contribuição de pequenasparcelas durante anos possibilitaria o direito de adquirir o benefício dabolsa de estudos.Outra vertente que essas cooperativas poderiam adotar e oestabelecimento de parcerias com as faculdades públicas e privadaspossibilitando a realização de estágios, nas diversas profissões que oexigem, junto ao público de cooperados. São exemplos desses estágiosaulas de línguas, geografia, física, matemática, biologia, sociologia 17 ,atendimento psicológico, odontológico, dentre outras possibilidades.Além do sistema de bolsa, as cooperativas podem e devemdesenvolver programas de formação e informação dos cooperados edos filhos dos mesmos. Possibilitando um maior envolvimento dos gruposde cooperados com as questões comuns. O ideal é a fixação dessascooperativas educacionais em áreas comuns, por bairro, região oucomunidades.17Todas a disciplinas oferecidas nos ensinos fundamental e mdio, exigem que osprofessores sejam licenciados, e para a obtenção do certificado de licenciatura,os graduados precisam realizar estágios em escolas. Algumas dessas horas deestágio poderiam ser transformadas em regência obrigatrias e monitoradas.


III A. 3) Na área do trabalho : perspectivas para inclusão no mercado detrabalho.Atendendo a demanda do movimento negro, em especial daConapir, uma diretriz que o Governo deverá adotar de forma irrestritaé a efetivação da implementação da Convenção 111. E para concretizaras várias orientações e recomendações contidas nessa convenção épossível realizar várias ações :30• Implementar no serviço público programa de combate aoracismo institucional;• Implementação do Estatuto da <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>;• Inclusão de disciplina escolar (5ª – 8ª série) de Direitos Humanoscom ênfase nos direitos notoriamente “desrespeitados” emespecial gênero e raça/ pela diversidade em todos os âmbitos;• SUS – O Serviço Único de Saúde, deveria oferecer gratuitamenteapoio/atendimento psíquico para trabalhadores vítimas dediscriminação no ambiente de trabalho, uma vez que esse serviçohoje e oferecido apenas de forma privada;• FAT – Fundo Nacional de Amparo ao Trabalhador – deveriaadotar um módulo de formação que explique e oriente ostrabalhadores negros(as) sobre esse tema (discriminação/assédiomoral/mecanismos) permitindo assim que eles fiquem maispreparados para enfrentar situações de discriminação emprocessos seletivos ou em seu local de trabalho;• Implantar a dimensão de raça, gênero e juventude nas políticaspúblicas de trabalho, renda e empreendedorismo; formaçãoprofissional; programas de emprego de emergência; e microcrédito.• Instituir cotas e metas para inserção de jovens índios(as) enegros(as) no Programa Primeiro Emprego, de acordo com aproporcionalidade de cada município da federação. Fiscalizar,mediante a comissão permanente do Ministério do Trabalho eEmprego, as empresas beneficiadas pelo referido programa.• Estabelecimento de parceria com escolas públicas paraestimular os alunos negros e de baixa renda a melhorarem seusrendimentos nos estudos, uma vez que há possibilidade de estágioem empresas públicas e privadas;• Garantir em empresas públicas e estimular nas privadas estágiospara estudantes negros(as), indígenas e demais etniasdiscriminadas• Metas para as empresas em relação à inclusão de jovens negros;


• Regras e cláusulas sócias nas licitações como exigências paraprestação de serviços para o Estado/Governos. Ou seja, quandoo Governo iniciar um processo de licitação publica, que aspectoscom a composição racial das empresas, ou existência ou não depolítica de diversidade sejam levados em consideração nomomento de selecionar as propostas vencedores ou como critériode desempate ;31• Divulgar e otimizar as atividades, objetivos e resultados dosnúcleos de combate a discriminação das Delegacias regionais doTrabalho - DRT;• Exigir das empresas o correto preenchimento da Rais/Caged• Campanha de massa pela identificação racial em todos osespaços (saúde pública, empresas; cultura; esporte etc...). Emespecial realizar um Censo <strong>Racial</strong> Brasil Mundo do Trabalho –formal e informal;• Criar um grupo interministerial voltado para a defesa dasquestões de gênero e raça, para acompanhar os fóruns dediscussão das reformas sindicais e trabalhistas;• Realizar parcerias entre as ONGs e empresas de mídia paraprodução de programas voltados para a discussão e difusão dosdireitos humanos, com objetivo de vinculá-los nas TVs públicas –utilizando, na medida do possível, os recursos oriundos da LeiRuanet.;• Estimular as empresas públicas à divulgarem suas açõesafirmativas de promoção da igualdade racial e gênero;• Criar medidas de ação afirmativa para as populações negras,indígenas e remanescentes quilombolas em todos os concursospúblicos e nos contratos para cargos de direção, assessoramentoe recrutamento amplo, inclusive para profissionais terceirizados(as);• Incluir as populações negras, indígenas, ciganas e remanescentesquilombolas em programas de capacitação e permanência noemprego;• Estabelecer critérios diferenciados de contratação de pessoalpor parte dos governos para atuação nas comunidades indígenas,priorizando a qualificação e contratação de índios e índias paraque esses possam trabalhar em suas comunidades, preservando,por conseguinte, suas tradições e culturas;• Ampliar a participação de lideranças indígenas, quilombolas edemais interessados, no processo de elaboração e planejamentode quaisquer programas, proporcionando o envolvimento nagestão e acompanhamento do desenvolvimento do projeto. Essa


participação tem por finalidade permitir que os projetos desdea concepção, observe as especificidades de cada comunidade;• Aumentar a fiscalização em segmentos que se utilizam mão deobra imigrante, estabelecendo relação de trabalho ilegal e cárcereprivado;• “Restabelecimento” de programas de Frente de Trabalho, paraque as populações em situação de risco ou em desemprego abertopossam participar de algum programa, mesmo que temporário,de geração de renda; associar esse trabalho com programas dequalificação;32III. A .4) Uma perspectiva para a informalidade : fomentado oEmpreendedorismo NegroO acesso a terra, em especial a regulamentação e reconhecimentodas diversas comunidades Quilombolas, possibilitam uma nova seara deatuação dos movimentos negros e sociais no processo de fixação nocampo, re-apropriando-se das terras e das formas de produtividadedela provenientes. Esse universo de atuação, apesar de muito intensano Brasil, via movimento dos trabalhadores rurais, ainda não acolheuum recorte racial e de gênero que fomentasse uma transformação dasrelações de gênero e raça no campo. No momento atual, muitas açõesforam adotadas e os resultados em breve poderão ser avaliados oumensurados. Algumas idéias podem ser apontadas como novos caminhosnesse campo de inclusão e promoção do empreendedorismo negro.A proposta de retornar ao campo não está associada a umanoção bucólica de viver na natureza. Esse processo deve ser pautar nasinúmeras possibilidades que a posse de terra no Brasil pode originar,mesmo em pequenas propriedades. Muitas atividades desenvolvidasatualmente não atendem as demandas do mercado nacional einternacional, são exemplos disso o aumento da demanda por carne deavestruz, carne, pele e colágeno de rã, mata cultivada para produçãode carvão vegetal, dentre outras.Essas atividades por si só já poderiam absorver um contingente grandede trabalhadores e de novos empreendedores. Mas além dessa atividade fim,outras modalidades necessárias começam a surgir, como a construçãode frigoríficos para abate e armazenamento de aves, rã e peixes,logística de transportes, criação e produção de novos maquinários, etc.


A construção de um programa de revalorização do trabalho nocampo e não nos grandes centros urbanos é uma tendência posta eapontada por especialistas em agronegócios 18 como uma das maioresvantagens competitivas do Brasil em função das dimensões continentaisdo País e do clima favorável para o desenvolvimento de diversasatividades. Para dar suporte as essas ações pode-se estruturar diversasiniciativas governamentais:331. Criação de Cooperativas de Créditoa. Possibilitar alocar recursos disponíveis no BNDES, a título defundo perdido, para fomentar a criação de cooperativas deprodução de diversos produtos, em especial dos enumeradosanteriormente.b. Possibilitar o oferecimento de crédito para manutenção eampliação dos negócios, com juros compatíveis com a realidadedesses grupos;c. Fomentar a instalação de pequenas indústrias demaquinários, voltados para atender a demandas dessascooperativas de produção;d. Fomentar a formação técnica dessas populações paraatuarem tanto na produção quanto na negociação ecomercialização dos insumos e produtos finais;e. Fomentar a formação e capacitação técnica para odesenvolvimento, aperfeiçoamento e produção de maquinários;2. Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias ouprodução de equipamentos necessários para a exploração de novosnichos de mercado, como Biodisel, produção de carvão vegetal,aqüicultura, dentre outros caminhos ainda em processo de exploraçãoinicial no Brasil;a. Criar cursos específicos no sistema “S” para desenvolveresses projetos e alocar os (as) jovens negros (as) de baixa rendanesses cursos;3. Incentivo aos jovens negros (as) nascidos (as) ou que vivemem áreas urbanas e periferias a ingressarem em escolas técnicasagrícolas. Observa-se que essas escolas são freqüentadas na sua maiorparte por filhos de sitiantes, fazendeiros ou trabalhadores de áreas18Atualmente, o segmento que mais cresce no Brasil o dos agronegcios, noentanto, ele est na sua maior parte, voltado para o mercado externo de consumode comodities, e sob o comando de grandes corporações.


urais. Poucos jovens de áreas urbanas buscam essa formação equalificação.4. O Biodiesel tornará o Brasil um dos maiores produtores deenergia a partir de fontes renováveis e menos poluentes. O programade Biodiesel já está sendo desenvolvido/implementado, o Governodeveria desde já fazer o recorte de gênero e raça para possibilitaruma maior diversidade nos grupos que futuramente estarão produzindoesse combustível, bem como os equipamentos de produção do mesmoe os equipamentos que farão uso desses combustíveis nas suas diversasaplicações.34III. B -Ações possíveis no âmbito da iniciativa privadaPensar ações afirmativas no âmbito do trabalho e em especial nouniverso das iniciativas privadas pode parecer audacioso, mas é umdesafio importante a ser colocado. Segundo o Mapa da População noMercado de Trabalho (1998) 19 , a situação do trabalhador negro é semprepior do que a do branco, de qualquer ângulo de análise do qual partamos.Outrossim, racismo se soma ao machismo, fazendo com que a situaçãodas mulheres negras seja sempre pior do que a dos homens negros edas mulheres brancas. A conseqüência é de que as negras acabam pordesempenhar, em geral, trabalhos que exigem menor ou nenhumaqualificação, como os chamados serviços gerais (de apoio) ou funçõesde operação de máquinas - que estão entre os trabalhos de mais baixarenda.Neste sentido, o esforço exigido é o da permanente busca acercado entendimento dos conceitos de identidade e alteridade, diversidadee desigualdade, cooperação e hierarquização. O tema em geral, remetea uma reflexão sobre valores e comportamentos sócio-culturaismarcados historicamente pelo passado escravista. Significa considerarque carregamos essa herança histórica que ainda hoje caracterizadiferenciações no tratamento entre brancos e negros e os privilégiosde uns em detrimento de outros.19Publicado em 1998 pelo Instituto Sindical Interamericano Pela <strong>Igualdade</strong> <strong>Racial</strong>– INSPIR, em parceria com o Centro de Solidariedade - AFL-CIO e o DepartamentoIntersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE, com apoio doCentro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades – (CEERT).


Habitualmente as organizações empresariais apresentamambientes de trabalho competitivos, estruturas burocráticas eprocedimentos imprecisos, sendo que os processos de tomada de decisãomuitas vezes não são nítidos e públicos, justamente porque estão, comfreqüência, apoiados em valores individuais. E a conjunção desses fatoresé que sustenta e reproduz as práticas discriminatórias nas empresas.35Não obstante, a visão moderna da administração ainda relutaem reconhecer e enfrentar a questão da discriminação que atinge osempregados. O estudo e a intervenção na relação que se estabeleceentre trabalhadores e empregadores se tornam fundamentais emsociedades nas quais a dominação e a exploração não se resumem àscaracterísticas de classe, mas também às de raça, gênero e outras.Nesse contexto, a realidade de trabalho em empresas nacionaise multinacionais tem como ambiente de trabalho algumas situações jádetectadas por estudos anteriores e que permeiam as relações raciaisno local de trabalho, são elas:• As práticas gerenciais no tocante a avaliação de funcionáriosestão impregnadas por componentes subjetivos dando maiorabertura para a reprodução de atitudes discriminatórias.• As empresas, em geral, elaboram seus programas de gestãomotivada mais por uma preocupação com a sua imagem do quepropriamente com a elaboração de políticas afirmativas quepromovam a igualdade de oportunidade.• Na sua maior parte, as empresas ao adotarem políticasafirmativas, não buscam apoio nos movimentos sociais envolvidoscom os temas – movimento negro e movimento de mulheres;• A maior parte dos programas têm inicio na inclusão deportadores de deficiência física e demoram muito tempo parainiciar outras frentes de ações afirmativas, partindo em seguidapara a inclusão de mulheres, deixando a questão racial como últimaparte a ser desenvolvida. Isso pode levar a um desgaste do processode envolvimento dos funcionários nos programas de ações afirmativas.Partindo da referência da Convenção 111 da <strong>OIT</strong>, das diretrizesda OCDE e do Global Compact, é possível traçar algumas linhas deatuação das empresas para que possam de forma satisfatório promovero processo de inclusão e igualdade de oportunidade.


Abaixo segue algumas sugestões que podem ilustrar algumasações que podem e devem ser adotadas por empresas e outrasinstituições fora do âmbito governamental, incluindo Organizações NãoGovernamentais - ONGs, Fundações e todas e quaisquer cooperativa.36III.B1 - Aspectos da inclusão da inclusão racial : perspectivas para amudança empresarialA partir das recomendações contidas na Convenção 111 daOrganização Internacional do Trabalho, pode-se pensar esferas e estágiosvariados de atuação das empresas visando o combate às discriminações.A Convenção apresenta cinco níveis de atuação: a) acesso eformação profissional; b) acesso e permanência no emprego; c) acessoà diferentes funções e ocupações; d) condições dignas de trabalho eremuneração justa. A partir desses níveis, apresentamos algumassugestões que podem ser efetivadas:• Acesso e formação profissional:• Nessa esfera as empresas podem rever os processos de seleçãoe recrutamento dos seus quadros. Ampliando os locais dedivulgação de vagas, bem como solicitando de forma direta àsempresas de Recursos Humanos profissionais de diversas etniase experiência de vida ou trajetórias;• Programas de orientação profissional, reciclagem,especialização, treinamento com recorte racial. Inclusive commetas de realização dos mesmos por parte das suas gerências,possibilitando um monitoramento da participação desses grupose dos resultados alcançados;• Estímulo igualitário ao desenvolvimento profissional e ascensãodentro da empresa;• Políticas de investimentos específicos voltados para acapacitação de trabalhadores negros - Ação Afirmativa.• Elaboração e divulgação de plano de desenvolvimento decarreira ou Ação Afirmativa e de uma política de diversidade;•Produzir e acompanhar os dados estatísticos com recorte racial;•Possibilitar que todos os trabalhadores possam ter um maiorconhecimento da realidade da empresa;


•Criar mecanismo mais transparentes nos processos de seleçãointerno para altos postos e maiores salários, divulgando asqualificações e habilidades necessárias para a execução dastarefas ou responsabilidades do cargo;• Acesso e permanência no emprego e acesso à diferentes funçõese ocupações• Revisão dos processos de recrutamento e seleção, com a participaçãoe monitoramento realizado pelos representantes dos trabalhadoresnegros ou sindicato;• Observar se há um processo de segregação vertical ou horizontaldos grupos discriminados, ou seja, se eles estão concentrados emalgumas funções ou se estão concentrados em níveis hierárquicosespecíficos. As empresas devem buscar uma distribuição eqüitativados vários grupos étnicos pelos diversos setores da empresa. Adivulgação do organograma da empresas entre os trabalhadores é umcaminho importante para garantir que todos saibam onde estão epara onde podem ir .• Os anúncios de vagas devem apresentar critérios objetivos deseleção para os cargos em questão;• No processo de demissão ou reestruturação das empresas, observaros critérios de demissão, impedindo que grupos menos favorecidossejam mais penalizados;• É preciso garantir que tanto brancos quanto negros, homens emulheres tenham equivalência entre os tempos médios depermanência no emprego, bem como tenham o retorno deinvestimento pessoal em cursos e qualificação reconhecidos deforma eqüitativa e igualitária;• Faz-se necessário que o corpo de Recursos Humanos daempresa, façam um processo de revisão de discurso e deavaliação e definição do valor do trabalho. De forma a garantirque as funções semelhantes ou cargos similares tenhamremunerações equivalentes.• Divulgação em todos os documentos da empresa da postura depromoção da diversidade racial. Inclusão nos diversos documentosda empresa dessa diretriz de forma a associar a marca daempresa com uma clara intenção de combater as discriminaçõese promover a igualdade de oportunidades;37• Condições dignas de trabalho• Analisar a presença de negros em áreas de maior periculosidadeou insalubridade, buscando reverter o quadro, redirecionando


maiores investimentos para que as condições de trabalho sejammelhoradas e os efeitos nocivos sejam minimizados;• Comparar a jornada de trabalho, turnos de trabalho,quantidade de horas extras entre os grupos de trabalhadoresnegros e brancos, visando garantir um tratamento maisigualitário desses grupos em relação as esses aspectos docotidiano do trabalho.• Em relação a estabilidade e segurança no emprego, as empresasdevem observar as formas de contratação, se por tempo limitado,com ou sem carteira de trabalho, se terceirizados ou não.. Emmuitos casos a reversão dos processo de terceirização não geramaiores custos para a empresa, no entanto possibilita uma maiorsituação de segurança e estabilidade nos trabalhadores;• Outro aspecto importante é o monitoramento dos dados deacidente do trabalho. Muitos acidentes ocorrem por falta deacompanhamento dos trabalhadores e em alguns casos os cargosque ocupam estão mais susceptíveis a acidentes, no entanto, ostrabalhadores são deixados para que controlem seus processoscom pouco acompanhamento. Os dados do Instituto Nacional dePrevidência Social apontam que a maior dos que têm problemascom LER, contaminações por substâncias tóxicas, pressão alta,saúde metal – assédio moral – e mortalidade ocupacional sãonegros e negras. Faz-se então importante monitorar esses grupos.• Remuneração com eqüidade, como já mencionado garantiruma igualdade salarial para funções iguais ou equivalentes, semque as remunerações indiretas sejam um fator de desequilíbriodessas remunerações.38III.B. 2_ Aspectos da responsabilidade social : perspectivas para o fomentodo empreendedorismo negro.Esse aspecto é de extrema importância para o processo dedesenvolvimento econômico da população negra. As empresas privadaspodem ter uma papel muito importante pois suas ações podem reforçarum rede de investimentos muito grande. Em especial no tocante aosseus fornecedores e parceiros comerciais.Inicialmente as empresas podem divulgar suas ações afirmativase política de diversidade junto às empresas que fazem parte da suacadeia produtiva, desde o fornecedor até o consumidor final. Aindajunto aos fornecedores, essas empresas podem adotar cláusulas sociaisnos contratos de trabalho, visto que muitos fornecedores buscariam se


adaptar as novas regras ou políticas para garantir o vínculo de clientela.Além disso, a empresa pode adotar, como o governo, critérios de seleçãode fornecedores onde a presença ou não de programas de promoção daigualdade racial e combate á discriminação sejam considerados napontuação e avaliação das mesmas.39Em outra vertente, as empresas privadas podem adotar metaspara o aumento de empresas dirigidas por negros e negras comofornecedores de produtos e serviços na sua cadeia produtiva.Muitas empresas realizam pesquisas de ponta para adequaçãoou melhorias nas metas de qualidade e produtividade. Em alguns casos,elas desenvolvem novos equipamentos ou procedimentos que necessitamde outra empresa, gerada dentro dela mesma, para desenvolver essasnovas tecnologias. Nesses casos, essas empresas podem fomentar oempreendedorismo negro possibilitando que negros e negras possamassumir esse papel e essa nova seara de produção. Ou seja, que asnovas empresas surgidas para atender às novas demandas da empresaprincipal possam ser empresas dirigidas por negros e negras.


40IV - Recomendações MetodológicasA promoção da igualdade racial ou da diversidade nas empresas,sejam elas públicas ou privadas, se traduz pela idéia de administrar adiferença/promover à igualdade/valorizar a diversidade. É umaconcepção específica de “gerenciar”, criando um ambiente seguro paraque pessoas desenvolvam todo seu potencial. Envolve a detecção e acompreensão dos variados elementos que impedem a criação de umambiente favorável a todas as pessoas. É um processo, não apenas umprograma. Esse processo tem início com a avaliação da cultura e dosistema de recursos humanos para revelar fatores impeditivos oufacilitadores. O processo é complexo, multifacetado e evolutivo. Abaixosegue algumas considerações para a implementação de um processo demudança de gestão, da adoção da gestão da diversidade:1 - A participação de profissionais de R.H. desde o princípio eao longo de todo o processo, dado ao seu papel na intermediaçãoda relação entre empregador e trabalhador;2 - A cultura organizacional e os sistemas não mudamrapidamente, ou seja, deve se estar consciente:• do tempo que esse trabalho exige;• do esforço necessário;


• do compromisso exigido de cada um;• dos riscos envolvidos.3 - Para a implantação de algum programa dessa dimensão,deve-se constituir um grupo de trabalho, diversificado. O grupoatua o tempo todo monitorando e impulsionando o processo;4 – Os dirigentes da organização devem ser envolvidos desde oprincípio do processo e manter-se vinculado ao trabalho durantetodo o percurso;5 - Constituir um fórum externo à organizaçãopara o acompanhamento do processo. O sindicato dostrabalhadores ou organizações compostas de maneira bipartitetambém podem ser bastante úteis para esse acompanhamento;6 - Persuadir gerentes e empregados para a criação de ambientepara trabalhar as diferenças e promover pessoas. Isto significa“um empoderamento” de membros de grupos até entãomarginalizados.7 - Muitas resistências surgem e se altas lideranças da organizaçãonão apoiarem de maneira firme essas iniciativas , a tendênciaé a paralisação do processo;8 - O trabalho deve se dar sempre no coletivo, evitando-se sempreo trato com situações individuais;9 - A ação educativa deve ser acompanhada da implantaçãogradativa de normas, procedimentos de uma legislação internaque coíba formalmente a discriminação e promova a igualdade.10 - É necessário uma média de 3 a 5 anos para que apareçamos primeiros resultados.11 -Políticas de promoção da igualdade intervêm diretamentena cultura da organização.41


42BibliografiaBENTO, Maria Aparecida Silva. “<strong>Igualdade</strong> e Diversidade no Trabalho”,In: Bento, Maria Aparecida da Silva (org.). Ação Afirmativa e Diversidade noTrabalho: desafios e possibilidades. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.___________. “Racismo e Mercado de Trabalho. Racismo emercado de trabalho. 50 anos depois: relações raciais e grupos,socialmente segregados”. Goiânia, 1999.____________. “<strong>Igualdade</strong> e Diversidade no Trabalho”, In: RevistaLatino-americana de Estudios del Trabajo: Trabalho e DesigualdadesÉtnico-Raciais, pg.- 89 - 120, Ano 5, Nº 10, São Paulo, 1999.__________. “Medidas Compensatórias e Reparação Frente aViolação dos Direitos da População Negra”, In: Bento, Maria AparecidaSilva e Marilda Castelar (orgs.). Inclusão no Trabalho: Desafios ePerspectivas, São Paulo: Conselho Regional de Psicologia, 2001.


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