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Hamilton Oliveira Alves - Programa de Pós-Graduação em ...

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HAMILTON OLIVEIRA ALVESA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ARITMÉTICOS PARTINDO DE PRÁTICASADAPTADAS ÀS PEÇAS DO JOGO DE DOMINÓDissertação apresentada como prérequisitopara conclusão parcial doCurso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Educação, linha<strong>de</strong> pesquisa: Cognição, Aprendizag<strong>em</strong> eDesenvolvimento Humano, Setor <strong>de</strong>Educação – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doParaná.Orientadora: Profª Drª Araci Asinelli daLuzCuritiba2008


UM POUCO SOBRE MIMMotivado pelas frustrações como professor <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática há <strong>de</strong>z anos, retornei àAca<strong>de</strong>mia na tentativa <strong>de</strong> rever minha epist<strong>em</strong>ologia <strong>de</strong> conhecimento. Logo nas primeirass<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> aula, fui convidado pela minha orientadora, a visitar o campo da pesquisa como objetivo <strong>de</strong> constituir vínculo com os sujeitos. Inicialmente, tudo parecia estranho. A visão<strong>de</strong> mundo enraizada <strong>em</strong> mim, fazendo parte da minha i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como professor mudava<strong>de</strong> cenário, uma vez que <strong>de</strong>ixava a experiência <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e partia para uma nova, <strong>em</strong>outros t<strong>em</strong>pos, diretamente com os sujeitos no seu ambiente. Confesso que me perguntei:será que tal experiência <strong>de</strong>ve ser abandonada? Ora, o que seria <strong>de</strong> mim, s<strong>em</strong> a experiência<strong>de</strong> professor naquele momento? Como me aproximar dos sujeitos da pesquisa? Então parei,refleti sobre o assunto e novamente me perguntei: como conduzir uma metodologia <strong>de</strong>ensino <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática com sujeitos vulneráveis socialmente? Isso só po<strong>de</strong>ria acontecerpartindo dos meus conhecimentos prévios. Então concluí que tal visão <strong>de</strong> mundo precisavaser revista, porém, não necessariamente, <strong>de</strong>veria ser abandonada.Uma conversa aqui, uma brinca<strong>de</strong>ira ali, me leva a “conquista” dos sujeitos a ponto<strong>de</strong> dizer<strong>em</strong>: “você é um cara legal”. Isso me enriqueceu profundamente, pois, elogio comoesse, não me é muito comum. O vínculo afetivo se esten<strong>de</strong>u tomando uma dimensão maior.A imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> professor marcada <strong>em</strong> mim aos poucos foi, aparent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>saparecendo.“Você v<strong>em</strong> amanhã tiuzinho?”, “Dá-me uma carona até o ponto?”, “Você me ajuda numadúvida?”Quando me <strong>de</strong>i conta, estava comendo pizza com os meninos e, po<strong>de</strong>m acreditar,levando alguns para dormir na minha casa. Boa parte do t<strong>em</strong>po que estiv<strong>em</strong>os juntos,nossos assuntos foram relacionados ao ensino da mat<strong>em</strong>ática. Diga-se <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>, eunão conseguia me libertar da visão <strong>de</strong> professor. Ao passarmos <strong>de</strong> carro pelos “batateiros”,surgia s<strong>em</strong>pre um probl<strong>em</strong>a mat<strong>em</strong>ático para ser dialogado, a ponto <strong>de</strong> afirmar: “não hálugar <strong>de</strong>finido para o ensino da mat<strong>em</strong>ática”, po<strong>de</strong> ser no carro, no tr<strong>em</strong>, na rua, no ônibus,no quarto, <strong>em</strong> qualquer lugar.Estas simples colocações sobre mim, <strong>em</strong>bora distorcidas do rigor literário, t<strong>em</strong> comoobjetivo, confessar que ao conduzir este trabalho <strong>de</strong> pesquisa assumo a visão <strong>de</strong>pesquisador s<strong>em</strong> abandonar a visão <strong>de</strong> professor, dada a inter<strong>de</strong>pendência das duas nomomento que apontam caminhos <strong>em</strong> vistas ao ensino no campo da Educação Mat<strong>em</strong>ática.


MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOSÀ nosso senhor Jesus Cristo, por ter me concebido força e esperança.À minha orientadora professora Drª Araci Asinelli da Luz, por acolher-me com suasabedoria e credibilida<strong>de</strong>.Aos sujeitos da pesquisa, pela colaboração.À minha querida amiga Marlene D’Aroz, pela ajuda e paciência.Ao meu querido amigo Rodrigo Reis Navarro, pela colaboração com os meninos.À minha estimável professora Drª Tânia Stoltz, pelas críticas e orientações.À professora Drª Neuza Bertoni Pinto, PUC-PR, pela participação na banca <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa.À minha querida colega <strong>de</strong> turma Professora Drª Ivanilda Higa, pelas correções,opiniões e colaborações.À minha querida amiga professora Drª Leila Kaló, pelos incentivos.Ao Fernando Francisco <strong>de</strong> Gois, Administrador da ONG, pela ajuda.Ao professor Dr° Rogério Andra<strong>de</strong> Mulinari, Diretor do Setor <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>da UFPR, pela colaboração com a filmadora, gravador e outros materiais.À professora Drª Denise Siqueira <strong>de</strong> Carvalho, Chefe do Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Comunitária do Setor <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> da UFPR, pela análise <strong>de</strong> mérito.Aos professores do Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa do Setor <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> daUFPR, pela aprovação.À minha querida filha, Caroline Carvalho <strong>Alves</strong>, pela transcrição dos dados.Ao meu querido enteado Cristiano Bran<strong>de</strong>l Peixer, pela ajuda com as filmagens.À minha cunhada Marilda Carvalho dos Santos, pelo <strong>em</strong>préstimo <strong>de</strong> uma filmadora.À minha querida esposa Erli Salete Carvalho <strong>Alves</strong>, por me dar força para acreditarque através da luta, esperança e fé, era possível concluir este trabalho.


SUMÁRIOLISTA DE QUADROS .................................................................................................7LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..........................................................................................8RESUMO.....................................................................................................................9ABSTRACT ...............................................................................................................10INTRODUÇÃO ..........................................................................................................111 APRESENTAÇÃO DO CAMPO DA PESQUISA ....................................................162 CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA ESTA PESQUISA ........................213 ASPECTOS COGNITIVOS E METACOGNITIVOS NA RESOLUÇÃO DEPROBLEMAS MATEMÁTICOS.................................................................................274 ALGUMAS ABORDAGENS SOBRE PROBLEMAS ARITMÉTICOS .....................355 O JOGO DE DOMINÓ COMO INSTRUMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DAAPRENDIZAGEM MATEMÁTICA .............................................................................406 METODOLOGIA.....................................................................................................476.1 Probl<strong>em</strong>a da pesquisa.........................................................................................476.2 Objetivos .............................................................................................................486.2.1 Geral.................................................................................................................486.2.2 Específicos.......................................................................................................486.3 Pressuposto ........................................................................................................486.4 Seleção dos Sujeitos...........................................................................................486.4.1 Características dos sujeitos..............................................................................486.4.2 Escolha dos sujeitos.........................................................................................496.5 Procedimentos <strong>de</strong> coleta dos dados ...................................................................496.5.1 Estudo piloto.....................................................................................................506.5.2 Entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada..............................................................................546.5.3 Pré-teste – estudo principal..............................................................................546.5.4 Intervenções dialogadas – estudo principal......................................................556.5.5 Pós-teste – estudo principal .............................................................................566.6 O jogo <strong>de</strong> dominó ................................................................................................566.7 Procedimentos <strong>de</strong> análise dos dados..................................................................597 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS-ESTUDO INICIAL......................................617.1 Levantamento das categorias, subcategorias e conteúdos associados..............61


7.1.1 Análise qualitativa das categorias e subcategorias antes dos sujeitos estar<strong>em</strong>abrigados na ONG ....................................................................................................637.1.2 Análise qualitativa das categorias e subcategorias <strong>de</strong>pois dos sujeitos estar<strong>em</strong>abrigados na ONG ....................................................................................................658 ESTUDO PRINCIPAL ............................................................................................708.1 Pré – teste...........................................................................................................708.1.1 Análise quantitativa – resultado pré-teste.........................................................719 INTERVENÇÕES, ANÁLISE E DISCUSSÃO - GRUPOS “A”, “B”, “C” e “D”..........749.1 Grupo “A”.............................................................................................................779.2 Grupo “B”.............................................................................................................879.3 Grupo “C” ............................................................................................................979.4 Grupo “D” ..........................................................................................................10610 Pós-teste ...........................................................................................................11810.1 Análise quantitativa – resultado do pós-teste..................................................12010.2 Análise quantitativa – comparação pré-pós-testes..........................................12011 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................12412 REFERÊNCIAS..................................................................................................133APÊNDICESVerificação da aprendizag<strong>em</strong> I – apêndice IVerificação da aprendizag<strong>em</strong> II – apêndice IIMo<strong>de</strong>lo da entrevista – apêndice IIIMo<strong>de</strong>lo dos probl<strong>em</strong>as propostos – apêndice IVOutras possibilida<strong>de</strong>s com o jogo <strong>de</strong> dominó – apêndice V


LISTA DE QUADROSQuadro 01: Resultado do pré-teste/estudo piloto......................................................50Quadro 02: Resultado do primeiro pós-teste/estudo piloto .......................................52Quadro 03: Resultado do segundo pós-teste/estudo piloto.......................................53Quadro 04: Perfil dos sujeitos participantes da entrevista.........................................61Quadro 05: Categorias, subcategorias e conteúdos associados...............................62Quadro 06: Perfil dos sujeitos participantes do pré-teste - apêndice I ......................70Quadro 07: Sist<strong>em</strong>atização dos percentuais relativos ao pré-teste...........................70Quadro 08: Sist<strong>em</strong>atização dos grupos ....................................................................72Quadro 09: Lista <strong>de</strong> indicadores................................................................................76Quadro 10: Perfil dos sujeitos participantes do pós-teste apêndice II.....................118Quadro 11: Sist<strong>em</strong>atização dos percentuais relativos ao pós-teste........................118Quadro 12: Resultado final – comparação pré-teste e pós-teste ............................120


LISTA DE ILUSTRAÇÕESIlustração 01: Probl<strong>em</strong>as dispostos sobre as peças do jogo <strong>de</strong> dominó....................51Ilustração 02: Sujeito procurando a resposta dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo......51Ilustração 03: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Jesus & Fini (2001)............................................................57Ilustração 04: Jogo <strong>de</strong> dominó modificado criado pelo pesquisador..........................58Ilustração 05: Interpretação e procura das respostas dos probl<strong>em</strong>as após a leituraindividual.....................................................................................................................58


RESUMOEsta pesquisa investiga a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as aritméticos partindo <strong>de</strong> práticas adaptadas às peças do jogo <strong>de</strong> dominócom adolescentes <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social. A pesquisa foi<strong>de</strong>senvolvida, com oito adolescentes institucionalizados <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s entre treze e<strong>de</strong>zessete anos, <strong>de</strong> 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental, abrigados numa ONG,localizada na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mandirituba, Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba. Dentre osobjetivos da pesquisa foi previsto: conhecer a história <strong>de</strong> vida dos sujeitos, nocontexto escolar, para posterior encaminhamento das ativida<strong>de</strong>s; contribuir para o<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo dos adolescentes a partir da resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asaritméticos; verificar a familiarida<strong>de</strong> com o domínio das operações básicas damat<strong>em</strong>ática; verificar o uso <strong>de</strong> estratégias para resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos;analisar a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos e analisar opotencial <strong>de</strong> adolescentes para resolver probl<strong>em</strong>as utilizando as peças do jogo <strong>de</strong>dominó. Parte-se do pressuposto <strong>de</strong> que as intervenções feitas pelo pesquisador,por meio <strong>de</strong> questionamentos, interfer<strong>em</strong> nos processos cognitivos, uma vez queessa prática leva o sujeito à reflexão e a revisão das ações durante o processo <strong>de</strong>resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos. A metodologia da pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida<strong>em</strong> duas etapas: a primeira etapa contou com uma entrevista s<strong>em</strong>i-estruturadaindividual, utilizando o Método Clínico <strong>de</strong> Piaget, <strong>de</strong> duração aproximada <strong>de</strong> vint<strong>em</strong>inutos. A entrevista foi gravada e transcrita <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> narrativa, on<strong>de</strong> os sujeitosrelataram suas histórias na vida escolar. Isto foi <strong>de</strong> fundamental importância paraque o pesquisador pu<strong>de</strong>sse direcionar as ativida<strong>de</strong>s propondo probl<strong>em</strong>as“compatíveis” ao cotidiano dos sujeitos. A segunda etapa da pesquisa contou comuma fase piloto, uma verificação da aprendizag<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> um pré-teste escrito eindividual, uma sessão <strong>de</strong> intervenções por grupo mediada pelo pesquisadorresolvendo probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos adaptados às peças do jogo <strong>de</strong> dominó e umaverificação da aprendizag<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> um pós-teste. As sessões <strong>de</strong> intervençõesenvolveram a resolução <strong>de</strong> oito probl<strong>em</strong>as aritméticos por grupo. A coleta dos dadosdurante as intervenções foi feita com base no Método Clínico <strong>de</strong> Piaget. Cadasessão, <strong>em</strong> dupla, teve duração aproximada <strong>de</strong> 20 a 30 minutos. A análise dosdados, <strong>em</strong> ambas as etapas, foi feita adotando a técnica da Análise <strong>de</strong> Conteúdo <strong>de</strong>Laurence Bardin (1977). Obtiveram-se os seguintes resultados: presença/ausênciado raciocínio hipotético-<strong>de</strong>dutivo, presença/ausência do raciocínio concreto,presença/ausência no domínio das operações reversíveis, presença/ausência nodomínio do pensamento verbal e formal, presença do pensamento egocêntrico,ausência do uso <strong>de</strong> caminhos algébricos, familiarida<strong>de</strong> com manipulação do materialconcreto.Palavras-chaves: Probl<strong>em</strong>as aritméticos; resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as; jogo <strong>de</strong> dominó;adolescentes; crianças <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social.


ABSTRACTThis research investigates the possibility of learning with arithmetic probl<strong>em</strong>s solvingworking from practices adapted to domino game bones with teenagers in situation ofsocial vulnerability. The research was <strong>de</strong>veloped with eight institutionalizedteenagers, aged between thirteen and seventeen years, attending 5 th to 8 th classes ofEl<strong>em</strong>entary School, sheltered by a NGO located in Mandirituba, a city in CuritibaMetropolitan Area. Among the research objectives it was foreseen to know thesubjects’ life background, in school context, for later direction of activities;contributing to the teenagers cognitive <strong>de</strong>velopment on the basis of arithmeticprobl<strong>em</strong>s solving; ascertaining the familiarity with the basics of math<strong>em</strong>aticaloperations; verifying the use of strategies to solve math<strong>em</strong>atical probl<strong>em</strong>s; analyzingthe skill in math<strong>em</strong>atical probl<strong>em</strong>s interpretation and analyzing teenagers potential tosolve probl<strong>em</strong>s using dominoes game bones. Starting from the presupposition thatinterventions carried out by the researcher, using questionnaires, interfere incognitive processes, because this practice leads the subject to reflect upon andreview actions during the math<strong>em</strong>atical probl<strong>em</strong>s solving process. The researchmethod was <strong>de</strong>veloped in two stages: the first stage consisted in an individual s<strong>em</strong>istructuredinterview, using Piaget’s Clinical Method, lasting twenty minutesapproximately. The interview was recor<strong>de</strong>d and transcribed in narrative format, wherethe subjects reported their school life stories. This was basically important in or<strong>de</strong>rthat the researcher could direct the activities, proposing probl<strong>em</strong>s “compatible” withthe subjects’ daily life. The research second stage had a pilot phase, a learningverification using an individual writing pre-test, an intervention session by group,mediated by the researcher, solvind math<strong>em</strong>atical probl<strong>em</strong>s adapted to the dominoesgame bones, and a learning checking based on a post-test. Intervention sessionscomprised math<strong>em</strong>atical probl<strong>em</strong>s solving by group. Data collection during theinterventions was carried out based on Piaget’s Clinical Method. Each session, withtwo persons, lasted approximately 20 to 30 minutes. In both stages, data analysiswas performed using Laurence Bardin’s Content Analysis (1977). The followingresults were gotten: presence/absence of hypothetic-<strong>de</strong>ductive reasoning,presence/absence of concrete reasoning, presence/absence of reversible operationsdomain, presence/absence of verbal and formal thinking, presence of egocentricalthinking, absence of algebraic ways usage, familiarity with concrete materialhandling.Key words: Arithmetical probl<strong>em</strong>s; probl<strong>em</strong>s solving; dominoes game; teenagers;children in social vulnerability situation.


INTRODUÇÃOEsta dissertação discute como se <strong>de</strong>senvolve a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asaritméticos a partir <strong>de</strong> práticas adaptadas às peças do jogo <strong>de</strong> dominó com sujeitosvulneráveis socialmente. Os procedimentos adotados na metodologia foramutilizados tendo como base um dos possíveis caminhos, <strong>de</strong>ntre uma gama, que ojogo <strong>de</strong> dominó oferece.As ativida<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>senvolvidas <strong>em</strong> duplas com adolescentes abrigadosnuma ONG - Organização Não Governamental, localizada <strong>em</strong> Mandirituba, RegiãoMetropolitana <strong>de</strong> Curitiba. O estudo ficou restrito aos conhecimentos mat<strong>em</strong>áticosinerentes ao Ensino Fundamental. Foi um <strong>de</strong>safio no campo pedagógico <strong>em</strong> setratando <strong>de</strong> sujeitos com históricos escolares distorcidos e com dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong>conteúdos el<strong>em</strong>entares da mat<strong>em</strong>ática.Acreditamos, porém, que as ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> duplas, com o jogo <strong>de</strong> dominómodificado, contribuíram para uma aprendizag<strong>em</strong> cooperativa, consi<strong>de</strong>rando osvalores, as atitu<strong>de</strong>s e o respeito pela opinião do próximo, num exercício concreto <strong>de</strong>alterida<strong>de</strong>.Fiz<strong>em</strong>os intervenções dialogadas a fim <strong>de</strong> que os sujeitos <strong>de</strong>senvolvess<strong>em</strong>flexibilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seus pontos <strong>de</strong> vistas, diante da resolução dos probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos dispostos sobre as peças do jogo <strong>de</strong> dominó.Acreditamos que uma ativida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> questionamentos dialogados,tendo como ponto <strong>de</strong> partida a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos envolvendo olúdico, po<strong>de</strong> estimular a reflexão, a criativida<strong>de</strong>, a cooperação, a reciprocida<strong>de</strong>, odomínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e a afetivida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>, também, levar os sujeitos a vivenciar<strong>em</strong>novas experiências, sentimentos, aptidões e possibilida<strong>de</strong>s.Uma ativida<strong>de</strong> <strong>em</strong> grupo po<strong>de</strong> conduzir a experiências novas, como tambémpossibilitar a organização e representação dos conhecimentos com novos grupos.Bronfenbrenner (1996) expressa tais possibilida<strong>de</strong>s ao afirmar: “Quando umapessoa, num ambiente, presta atenção à ativida<strong>de</strong> da outra, ou participa <strong>de</strong>ssaativida<strong>de</strong> com ela, vai existir uma relação entre ambas”. (BRONFENBRENNER,1996, p. 47)Uma relação, segundo esse autor, é a condição que <strong>de</strong>fine a existência <strong>de</strong>uma dupla. Uma dupla ou día<strong>de</strong> é formada s<strong>em</strong>pre que duas pessoas realizam


12ativida<strong>de</strong>s juntas prestando atenção uma na ativida<strong>de</strong> da outra. Uma día<strong>de</strong> constituium contexto crítico para o <strong>de</strong>senvolvimento.Esta pesquisa se <strong>de</strong>senvolve na direção da día<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> conjunta.Esse tipo <strong>de</strong> día<strong>de</strong> se configura quando duas pessoas se perceb<strong>em</strong> fazendoativida<strong>de</strong>s juntas. Não significa fazer<strong>em</strong> a mesma ativida<strong>de</strong>, mas sim, as ativida<strong>de</strong>sque cada um faz, sendo diferentes, se compl<strong>em</strong>entam. “Uma día<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>conjunta apresenta condições especialmente favoráveis não só para aaprendizag<strong>em</strong> no curso da ativida<strong>de</strong> comum, mas também para uma crescent<strong>em</strong>otivação para buscar e completar a ativida<strong>de</strong> quando os participantes nãoestiver<strong>em</strong> mais juntos”. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 47).A importância <strong>de</strong> uma día<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> conjunta para o autor, é que elacomo qualquer outra, contém certas proprieda<strong>de</strong>s:1- A reciprocida<strong>de</strong>, isto é, a ativida<strong>de</strong> que um sujeito (A) faz, influencia na ativida<strong>de</strong>que o sujeito (B) faz, e, reciprocamente. Quando o sujeito (A) é solicitado a ler <strong>em</strong>voz alta um probl<strong>em</strong>a mat<strong>em</strong>ático, o sujeito (B) precisa estar atento, pois ele é parteintegrante do processo. O sujeito (A) coor<strong>de</strong>na sua ativida<strong>de</strong> com a do sujeito (B), e,vice-versa. Para o autor “a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta coor<strong>de</strong>nação não só favorece aaquisição <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s interativas, como também estimula a evolução <strong>de</strong> umconceito <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência, um passo importante no <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo”.(BRONFENBRENNER, 1996, p. 47).A reciprocida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> caracterizar um feedback mútuo entre osel<strong>em</strong>entos nas relações <strong>em</strong> duplas, ela “motiva” os sujeitos a persistir<strong>em</strong> eengajar<strong>em</strong> <strong>em</strong> padrões <strong>de</strong> interação progressivos e mais complexos;2- Equilíbrio do po<strong>de</strong>r, isto é, mesmo que a reciprocida<strong>de</strong> seja evi<strong>de</strong>nte na dupla, umsujeito po<strong>de</strong> ser mais influente que o outro. Um sujeito (A) po<strong>de</strong> ser mais experienteque um sujeito (B), neste caso, o sujeito (A) po<strong>de</strong> dominar o sujeito (B), istocaracteriza o domínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> (A) sobre (B).Na resolução dos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s, os sujeitos que têmmais facilida<strong>de</strong>s ajudam os que têm menos facilida<strong>de</strong>s, caracterizando o domínio <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um sobre o outro. O equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r acontece quando o sujeito (A)entra <strong>em</strong> acordo/<strong>de</strong>sacordo com o sujeito (B) nas relações dialogadas. Sobre oassunto o autor coloca:


13A participação numa interação diádica oferece a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r a conceitualizar e a lidar com relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rdiferenciais, esta aprendizag<strong>em</strong> contribui simultaneamente para o<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e social, uma vez que as relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r caracterizam os fenômenos físicos e sociais encontrados pelapessoa <strong>em</strong> crescimento numa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambientes ecológicosdurante toda a sua vida. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 47);3- Relação afetiva, isto é, na medida <strong>em</strong> que os participantes interag<strong>em</strong> <strong>em</strong> relaçõesrecíprocas, resolvendo probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos po<strong>de</strong>m ocorrer sentimentos maisprofundos um <strong>em</strong> relação ao outro. Esses sentimentos po<strong>de</strong>m ser mutuamentepositivos, negativos, ou assimétricos. O sujeito (A) po<strong>de</strong> gostar do sujeito (B), porémo (B) po<strong>de</strong> não gostar do (A). Nesta pesquisa as relações afetivas entre os sujeitosdas duplas aparentaram-se “saudáveis”, caso contrário, teríamos que permutar ossujeitos formando novas duplas.Nosso ponto <strong>de</strong> vista focado na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong>duplas, utilizando o lúdico, t<strong>em</strong> como centro <strong>de</strong> atenção, além da aprendizag<strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática, as relações interpessoais que levam a essa aprendizag<strong>em</strong>. Para Piaget(1973), cooperar na ação é operar <strong>em</strong> comum, ajustar por meio <strong>de</strong> novas operações<strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> as operações executadas por cada um dos parceiros.Para aten<strong>de</strong>r os objetivos previstos na pesquisa planejamos experimentosou probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos “compatíveis” o mais próximo do cotidiano dos sujeitos.Para isso, partimos <strong>de</strong> uma entrevista a fim <strong>de</strong> conhecer o terreno <strong>em</strong> queestávamos pesquisando. Adotamos um padrão <strong>de</strong> comportamento <strong>em</strong> contextosdiversificados que pu<strong>de</strong>sse possibilitar o fazer e o compreen<strong>de</strong>r, a partir da leitura eda interpretação.Compreen<strong>de</strong>r, para Piaget (1978), “consiste <strong>em</strong> isolar a razão das coisas,enquanto que o fazer é somente utilizá-las com sucesso, o que é certamente, umacondição preliminar da compreensão, mas que esta ultrapassa, visto que atinge umsaber que prece<strong>de</strong> a ação” (p. 179).Buscar caminhos alternativos e facilitadores do ensino <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática,utilizando-se <strong>de</strong> estratégias lúdicas, t<strong>em</strong> sido objeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> váriospesquisadores, tais como Jesus e Fini (2001), Brenelli (1996), Macedo (1997) e Zoia(2004), entre outros.Trabalhar maneiras, caminhos, métodos inovadores <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, partindo <strong>de</strong> situações motivadoras e <strong>de</strong>safiadoras,


14po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> estímulo para a compreensão <strong>de</strong> conteúdos importantes enecessários para a evolução escolar dos nossos estudantes. É isto que nas palavras<strong>de</strong> Freire (1996), leva-nos:De um lado, à crítica e à recusa ao ensino “bancário”, <strong>de</strong> outro, acompreen<strong>de</strong>r que, apesar <strong>de</strong>le, o educando a ele submetido não estáfadado a fenecer; <strong>em</strong> que pese o ensino “bancário”, que <strong>de</strong>forma anecessária criativida<strong>de</strong> do educando e do educador, o educando aele sujeitado po<strong>de</strong>, não por causa do conteúdo cujo “conhecimento”lhe foi transferido, mas por causa do processo mesmo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r,dar, como se diz na linguag<strong>em</strong> popular, à volta por cima e superar oautoritarismo e o erro epist<strong>em</strong>ológico do bancarismo (p.25)Conforme Calsa (2002), fazer experiências físicas com material <strong>em</strong>situações experimentais, vivenciadas pelos sujeitos durante a realização dosexperimentos, po<strong>de</strong> surgir fatores que influenciam o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos gruposenvolvidos nos experimentos. A experiência física está relacionada à interaçãosujeito-material utilizado e, situações experimentais refer<strong>em</strong>-se à interação entre opesquisador (experimentador) e o sujeito da investigação mediada pelo materialutilizado, b<strong>em</strong> como, às questões a ser<strong>em</strong> resolvidas e as respostas dadas.Intervir pedagogicamente, com ativida<strong>de</strong>s adaptadas às peças do jogo <strong>de</strong>dominó po<strong>de</strong> ser um procedimento útil para o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>raciocínio e das capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resolver probl<strong>em</strong>as aritméticos. Para isso,procuramos criar situações mat<strong>em</strong>áticas que tenham relações próximas ao cotidianodos sujeitos envolvidos.Esses pressupostos, muitas vezes, são <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados no ensinotradicional po<strong>de</strong>ndo contribuir para que o sujeito não avance no aprendizado, não sóescolar, como também, na vida particular.Ao resolver um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática o sujeito po<strong>de</strong>rá ter uma visãoprópria que muitas vezes é ignorada pelo professor, quando não imposta outra,<strong>de</strong>scontextualizada do seu universo e, <strong>em</strong> conseqüência, incapaz <strong>de</strong> ser assimilada.Neste sentido, o sujeito revela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r o que é ensinado e tão poucofaz algo para apren<strong>de</strong>r.Pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas por Carraher & Schli<strong>em</strong>ann (1994), apontam que aresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos está presente na vida das pessoas, ou seja,faz parte da ativida<strong>de</strong> do sujeito quando compra, quando ven<strong>de</strong>, quando me<strong>de</strong>,quando constrói pare<strong>de</strong>s, quando faz o jogo da esquina.


15Porém, na aula, o sujeito faz contas para ganhar boas notas, para passar <strong>de</strong>ano, o que torna o ensino da mat<strong>em</strong>ática distante da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scontextualizado,s<strong>em</strong> aplicação real.O papel do professor é <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a relevância no ensino, dada apotencialida<strong>de</strong> que possui no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar das ativida<strong>de</strong>s pedagógicas utilizando omaterial didático a<strong>de</strong>quado e monitorando as ativida<strong>de</strong>s. Porém, ao resolverprobl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, muitas vezes o professor negligencia os processos mentaisrelacionados ao aprendizado, ficando preso à exploração <strong>de</strong> conteúdos mat<strong>em</strong>áticosespecíficos. De acordo com Freire (1996), o respeito à natureza do ser humanoimplica no ensino <strong>de</strong> conteúdos que não “po<strong>de</strong> dar-se alheio à formação moral doeducando” (p. 33). Para Freire (1996), ensinar não é “transferir conhecimento, mascriar as possibilida<strong>de</strong>s para a sua produção ou sua construção” (p. 22)O ensino da mat<strong>em</strong>ática a partir <strong>de</strong> tarefas como a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>ast<strong>em</strong> sido objeto <strong>de</strong> estudo constante. Taxa (2001), salienta que uma psicopedagogiada mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>veria focar esforços <strong>em</strong> estudos das estratégias <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as aritméticos, tais como probl<strong>em</strong>as envolvendo adição, subtração,multiplicação e divisão.Por outro lado, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) apregoam quea resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>ve ser ponto <strong>de</strong> partida da ativida<strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática.Trabalhos como os <strong>de</strong> Brito et al., (1998); Fini e Taxa (1998-2000) e Taxa(2001), <strong>de</strong>monstram que a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as aritméticos verbais está distante<strong>de</strong> ser uma mera aplicação <strong>de</strong> fórmulas mat<strong>em</strong>áticas. Esses tipos <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as,quando trabalhados <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, supõ<strong>em</strong> um processo da construção <strong>de</strong>conceitos.Esta pesquisa envolve sujeitos com históricos escolares distorcidos, <strong>em</strong>função <strong>de</strong> não ter<strong>em</strong> tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> na escola na ida<strong>de</strong> correta. Noentanto, são sujeitos que possu<strong>em</strong> seus valores, crenças, dificulda<strong>de</strong>s, diferenças,capacida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s próprias.Esses valores merec<strong>em</strong> o reconhecimento no meio social. A participaçãodos sujeitos, suas experiências acumuladas e suas manifestações nas ativida<strong>de</strong>sprecisam ser respeitadas, uma vez que não somos portadores <strong>de</strong> todas as verda<strong>de</strong>s.


161 APRESETAÇÃO DO CAMPO DA PESQUISAA pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida numa ONG – Organização Não Governamental,localizada no Município <strong>de</strong> Mandirituba, Estado do Paraná. A base da metodologia<strong>de</strong> trabalho da ONG perpassa todos os seus objetivos, metas, <strong>de</strong>cisões e ativida<strong>de</strong>s.A ONG foi criada oficialmente <strong>em</strong> 1991. Antes disso, o grupo <strong>de</strong> fundadorespartilhou anos <strong>de</strong> trabalho voluntário <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s carentes e nas ruas. Faziamparte <strong>de</strong>sse grupo, moradores das comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> o trabalho teve início.Pessoas simples, que conheciam b<strong>em</strong> as dificulda<strong>de</strong>s geradas pela exclusão epossuíam uma gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> para perceber necessida<strong>de</strong>s ainda maiores doque as suas. Amor, solidarieda<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>alismo e <strong>de</strong>dicação foram os gran<strong>de</strong>sfundamentos do trabalho que <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> à ONG.Quando iniciou as primeiras ativida<strong>de</strong>s, na década <strong>de</strong> 1980, o grupo nãopossuía experiência ou formação específica. Sua intenção inicial era acolher econviver com meninos e meninas que viviam nas ruas <strong>de</strong> Curitiba. Junto <strong>de</strong>les, foiconstruída a proposta <strong>de</strong> um abrigo com características <strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong> suasnecessida<strong>de</strong>s.Foram os primeiros meninos atendidos, por ex<strong>em</strong>plo, os responsáveis pelaescolha <strong>de</strong> uma ONG, a partir dos argumentos <strong>de</strong> que isso proporcionaria:O resgate das raízes familiares – a maioria dos meninos pertencia a famíliasvindas <strong>de</strong> áreas rurais; logo, sentiam falta do contato com a terra.A convivência com a natureza e com os animais – os meninos s<strong>em</strong>preafirmavam que se sentiam mais seguros entre as árvores e animais, porque estes,ao contrário da socieda<strong>de</strong>, não os machucavam.A distância das drogas – os meninos queriam ficar longe dos pontos <strong>de</strong> fácilacesso às drogas para suportar melhor as crises <strong>de</strong> abstinência e ampliar aschances <strong>de</strong> superar o vício. Diante do <strong>de</strong>safio, o grupo se fortaleceu, dando início auma importante re<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaboração, entrando <strong>em</strong> contato com diversos setores dasocieda<strong>de</strong> para realizar este sonho <strong>de</strong> crianças e adolescentes que era, antes <strong>de</strong>tudo, um direito fundamental.Através <strong>de</strong> doações a ONG foi criada. A construção da primeira casa, assimcomo todos os trabalhos seguintes, contou com a participação ativa dos meninosque formaram a primeira turma. A convivência fraterna e a celebração <strong>de</strong> cada


17conquista foram marcantes nessa etapa, on<strong>de</strong> ainda se enfrentava enormesdificulda<strong>de</strong>s.Os <strong>de</strong>safios seguintes foram a aceitação da comunida<strong>de</strong>, o apoio do po<strong>de</strong>rpúblico e a formação constante dos educadores para a tarefa <strong>de</strong> resgatar meninoscom históricos <strong>de</strong> negligência, abandono, violência, exploração e <strong>de</strong>pendênciaquímica.Para o êxito do trabalho, percebeu-se também a importância da abordag<strong>em</strong><strong>de</strong> rua – obtendo a a<strong>de</strong>são dos meninos para a permanência livre e espontânea naONG, assim como do apoio às famílias – que necessitavam <strong>de</strong> orientação eformação <strong>em</strong> muitos aspectos – e da reconstrução dos vínculos familiares dosmeninos. Finalmente, sentiu-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>atizar o aprendizado e asexperiências <strong>de</strong> todos numa proposta pedagógica sensível à realida<strong>de</strong> dos meninose coerente com suas necessida<strong>de</strong>s.O estudo dos princípios da Constituição Fe<strong>de</strong>ral Brasileira e do Estatuto daCriança e do Adolescente foi importante nessa etapa, mostrando que a criança e oadolescente <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser priorida<strong>de</strong>s máximas <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>.Gradativamente, a ONG conquistou também o apoio <strong>de</strong> professores einstituições <strong>de</strong> ensino. A parceria com a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná e outrasinstituições <strong>de</strong> ensino superior, trouxeram novas contribuições para a proposta quevinha sendo construída. As raízes estavam firmes na experiência e nos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong>garantir a autonomia e a cidadania dos meninos, entendidos como o centro <strong>de</strong> todasas ações e <strong>de</strong>cisões. Veio compl<strong>em</strong>entá-las, a fundamentação teórica, a partir <strong>de</strong>autores como Paulo Freire e Jean Piaget. O processo resultou numa propostapedagógica avançada <strong>de</strong> acordo com os pilares indicados abaixo:Apren<strong>de</strong>r a ser: O <strong>de</strong>senvolvimento integral (físico, intelectual, <strong>em</strong>ocional,moral e espiritual) do menino é uma das gran<strong>de</strong>s preocupações <strong>de</strong> todo o trabalhorealizado pela ONG. Envolve duas linhas <strong>de</strong> ação:Garantia <strong>de</strong> condições para uma sobrevivência digna – moradia, alimentaçãoa<strong>de</strong>quada, cuidados com a saú<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong>s físicas e contato com a natureza, entreoutros;Formação <strong>de</strong> uma personalida<strong>de</strong> saudável, com potencial para a realizaçãoe a felicida<strong>de</strong> do menino – através <strong>de</strong> muita afetivida<strong>de</strong>; acompanhamentopsicológico; construção da auto-estima e da autoconfiança; estímulo à autonomia e


18ao protagonismo (<strong>de</strong>ntro da ONG e na socieda<strong>de</strong>, tornando-o agente <strong>de</strong> sua própriapromoção); educação preventiva no âmbito da sexualida<strong>de</strong> e <strong>em</strong> relação à violênciae ao uso <strong>de</strong> drogas lícitas ou ilícitas (b<strong>em</strong> como a reversão dos quadros <strong>de</strong><strong>de</strong>pendência já existentes); formação <strong>de</strong> valores para balizar as escolhas e açõesindividuais dos meninos; participação <strong>em</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s lúdicas artísticas ecomunitárias.O apoio aos educadores e <strong>de</strong>mais m<strong>em</strong>bros da equipe, com respeito àsdiferenças e individualida<strong>de</strong>s, oferecendo as condições para o pleno<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus potenciais também é cont<strong>em</strong>plado pela metodologia <strong>de</strong>trabalho.Apren<strong>de</strong>r a conviver: Quando chegam à ONG, os meninos já enfrentaramgraves situações <strong>de</strong> negligência, abandono, exploração, violência e exclusão, tantona família, quanto na socieda<strong>de</strong>. Portanto, necessitam da aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> novasformas <strong>de</strong> convivência familiar e comunitária. Daí a preocupação da equipe <strong>em</strong>resgatar os vínculos familiares, oferecendo-lhes orientação e formação, além <strong>de</strong>trabalhar com o menino a construção <strong>de</strong> valores humanos, a <strong>de</strong>scoberta dos limites,a afetivida<strong>de</strong>, a superação dos vícios e a resiliência.Há também o cuidado com o relacionamento e a solução <strong>de</strong> conflitos, pormeio do diálogo e da mútua responsabilida<strong>de</strong>. Nesse ambiente, o menino convive comuma ampla diversida<strong>de</strong> humana, pois divi<strong>de</strong> o espaço com muitos outros meninos, <strong>de</strong>diferentes locais, realida<strong>de</strong>s, comportamentos e valores – hoje eles t<strong>em</strong> ida<strong>de</strong>s entre 6e 18 anos.Os meninos também apren<strong>de</strong>m regras, participando ativamente <strong>de</strong> suaelaboração e aplicação, num processo <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> valores humanos com vistasà paz e à cidadania. Além disso, a proposta <strong>de</strong> inclusão t<strong>em</strong> ênfase na convivênciacomunitária, levando os meninos e a equipe a participar <strong>de</strong> iniciativas dascomunida<strong>de</strong>s vizinhas, além <strong>de</strong> receber seus m<strong>em</strong>bros para compartilhar benefíciossociais (como a clínica médica e odontológica, entre outros), <strong>de</strong>bater probl<strong>em</strong>as nabusca <strong>de</strong> soluções <strong>em</strong> conjunto, participar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s esportivas, lúdicas eformativas, <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> integração e confraternização.O relacionamento da equipe entre si e com os meninos é outra preocupaçãoda entida<strong>de</strong>, que favorece o diálogo e a mediação <strong>de</strong> conflitos como instrumentos


19para fortalecer os laços <strong>de</strong> afeto, companheirismo e solidarieda<strong>de</strong> entre os seusm<strong>em</strong>bros e colaboradores.Apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r: Educação é priorida<strong>de</strong> máxima da ONG, que enten<strong>de</strong>a inclusão no ensino formal como requisito básico para a promoção <strong>de</strong> crianças eadolescentes, garantindo-lhes o exercício da cidadania. Entretanto, o difícil históricodos meninos que abriga resulta <strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong>s para acompanhar o ritmo <strong>de</strong> estudosnas escolas, <strong>de</strong>vido a aspectos como: escolarização tardia, má nutrição, abuso <strong>de</strong>drogas, marcas <strong>de</strong> violência, experiências frustrantes, etc. Uma vez inseridos noensino formal, dificulda<strong>de</strong>s, cognitivas e sociais interfer<strong>em</strong> significativamente nosprogressos escolares, o que pe<strong>de</strong> ações diferenciadas, como ativida<strong>de</strong>spedagógicas motivadoras, que atendam suas necessida<strong>de</strong>s específicas, através <strong>de</strong>afetivida<strong>de</strong>, respostas às dificulda<strong>de</strong>s individuais, acesso a instrumentos <strong>de</strong><strong>em</strong>ancipação social e situações criativas <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.Diante <strong>de</strong>sse quadro, <strong>de</strong>sejando a permanência e o êxito dos meninos nasescolas, a ONG promove o acompanhamento escolar, que se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong> váriasações. Além <strong>de</strong> momentos para esclarecer dúvidas <strong>em</strong> relação aos conteúdosescolares (<strong>de</strong> diversas disciplinas, com ênfase <strong>em</strong> Língua Portuguesa eMat<strong>em</strong>ática), ele inclui ativida<strong>de</strong>s pedagógicas lúdicas, variadas, criativas ereflexivas, recorrendo a músicas, literatura e contação <strong>de</strong> histórias, jogos, vivênciase outros caminhos para atingir seus objetivos. As instalações da ONG contam combiblioteca, laboratório <strong>de</strong> informática, salas <strong>de</strong> estudos e ví<strong>de</strong>o, além <strong>de</strong> educadoressociais, professores com formação específica, voluntários e contratados, pedagoga,professores e bolsistas da UFPR (contratados através <strong>de</strong> programas e projetos <strong>de</strong>extensão universitária).A pedagoga da ONG é ainda responsável por visitas periódicas às 05 (cinco)escolas freqüentadas pelos meninos, a fim <strong>de</strong> conversar com professores e equipespedagógicas sobre a aprendizag<strong>em</strong> e o comportamento <strong>de</strong> cada um.Também faz<strong>em</strong> parte da concepção <strong>de</strong> educação integral o aconselhamento,as ativida<strong>de</strong>s lúdicas dirigidas e não dirigidas, que estimulam a criativida<strong>de</strong>, o sensocrítico, a autonomia e o trabalho <strong>em</strong> equipe. Em todas as etapas, os meninosparticipam <strong>de</strong> avaliações do processo, junto aos <strong>de</strong>mais atores envolvidos. Alémdisso, privilegia-se a atualização e a formação continuada dos educadores, contandocom a equipe multidisciplinar e a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio à proposta pedagógica <strong>em</strong> grupos <strong>de</strong>


20estudo, cursos e eventos internos direcionados à linguag<strong>em</strong>, às necessida<strong>de</strong>s epotenciais da equipe.Existe ainda o apoio no retorno <strong>de</strong> alguns ao ensino formal, b<strong>em</strong> como aparticipação <strong>em</strong> cursos, eventos e outras ativida<strong>de</strong>s externas <strong>de</strong> formação, <strong>em</strong>parceria com universida<strong>de</strong>s, movimentos sociais e outros. S<strong>em</strong> esquecer a suaparticipação ativa e direta <strong>em</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s realizadas.Com essa metodologia, que parte <strong>de</strong> objetivos claros e concretos, a equipeda ONG, que ainda conta com m<strong>em</strong>bros e colaboradores que ajudaram a criá-la,po<strong>de</strong> avaliar constant<strong>em</strong>ente a sua trajetória e realizar os ajustes que se faz<strong>em</strong>necessários, não t<strong>em</strong> a pretensão <strong>de</strong> acertar s<strong>em</strong>pre, mas a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>melhorar cada vez mais, através do diálogo e da participação <strong>de</strong> todos osenvolvidos. Um dos parâmetros que indicam ser este um bom caminho, é dado porum significativo número <strong>de</strong> ex-meninos b<strong>em</strong> sucedidos <strong>em</strong> novas etapas <strong>de</strong> vida,com <strong>de</strong>staque para a presença <strong>de</strong> alguns como educadores na ONG, além <strong>de</strong> suaparticipação nesta e <strong>em</strong> outras entida<strong>de</strong>s sociais que procuram melhorar a realida<strong>de</strong>das nossas crianças e adolescentes.


212 CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA ESTA PESQUISAÉ possível argumentar quais implicações a obra Pedagogia da Autonomia <strong>de</strong>Paulo Freire (1996), contribui para esta pesquisa, na medida <strong>em</strong> que nos colocamosna posição <strong>de</strong> professor quando conduzimos nossa metodologia <strong>de</strong> trabalho. Cabefazer correlação, inicialmente, entre o que o autor chama <strong>de</strong> rigorosida<strong>de</strong> metódica eas práticas adotadas por professores quando conduz<strong>em</strong> o ensino.Muitos professores, particularmente no ensino da mat<strong>em</strong>ática, adotam umapostura <strong>em</strong>pirista, ao conduzir o saber, tendo como base uma perspectiva diretiva,centrada <strong>em</strong> si, que monopoliza o conhecimento.O sujeito da aprendizag<strong>em</strong>, nessa visão, é visto como “tábula rasa” segundoBecker (1993). O ensino e visto como bancário por Freire (1996). Outros acham queo sujeito já t<strong>em</strong> consigo o conhecimento, bastando apenas explorá-lo. Estaconcepção inatista ou apriorista transfere a responsabilida<strong>de</strong> da aprendizag<strong>em</strong> aosujeito, sendo assim o professor nada t<strong>em</strong> a fazer. No entanto, há aqueles queacreditam na concepção construtivista on<strong>de</strong> sujeito e professor são partesintegrantes <strong>de</strong> um mesmo processo <strong>de</strong> ensino e aprendizag<strong>em</strong>.Ensinar com rigorosida<strong>de</strong> metódica, exige “quebra” <strong>de</strong> saberes enraizados,impregnados, produzidos historicamente pelos professores, que não po<strong>de</strong>m serarbitrariamente modificados. Porém, o que não <strong>de</strong>ve acontecer, é que esses saberes<strong>em</strong>píricos, historicizados, sejam simplesmente transferidos aos educandos.Ao adotar uma metodologia centrada no diálogo, a rigorosida<strong>de</strong> metódica évista no sentido <strong>de</strong> ser cuidadoso ao construir o saber, caminhando lado a lado como educando igualmente sujeitos do processo.É uma postura diferente da postura epist<strong>em</strong>ológica com base apenas nasubjetivida<strong>de</strong>, ou, na experiência própria dos professores. Porém, o importantenesse contexto, é o reconhecimento do educando como sujeito da aprendizag<strong>em</strong> edos educadores como fundamental. No momento <strong>em</strong> que o educador tomaconsciência <strong>de</strong> que sua tarefa como docente não é apenas o ensino <strong>de</strong> conteúdospré-estabelecidos, mas também toma consciência <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ensinar o sujeito apensar certo.O pensar certo do ponto <strong>de</strong> vista crítico, segundo Freire (1996), estárelacionado ao ciclo gnosiológico, on<strong>de</strong> a curiosida<strong>de</strong> ingênua submetida àrigorosida<strong>de</strong> metódica passa à curiosida<strong>de</strong> epistêmica.


22A curiosida<strong>de</strong> ingênua, <strong>de</strong> que resulta indiscutivelmente certo saber,não importa que metodicamente <strong>de</strong>srigoroso, é a que caracteriza osenso comum. O saber <strong>de</strong> pura experiência feito. Pensar certo, doponto <strong>de</strong> vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comumno processo <strong>de</strong> sua necessária superação quanto o respeito e oestímulo à capacida<strong>de</strong> criadora do educando. Implica o compromissodo educador com a consciência crítica do educando cuja “promoção”da ingenuida<strong>de</strong> não se faz automaticamente (p. 29).Os sujeitos <strong>de</strong>sta pesquisa traz<strong>em</strong> nas suas histórias <strong>de</strong> vida, crenças,valores, saberes, limitações, construídos socialmente, que precisam ser respeitadospelos educadores. O pensar certo aqui seria tentar correlacionar esses saberes como ensino dos conteúdos a ser<strong>em</strong> aprendidos. Por que não discutir com os alunos arealida<strong>de</strong> concreta associando os conteúdos <strong>de</strong> forma contextualizada com base nasexperiências <strong>de</strong> vida dos alunos?Cabe aqui uma pergunta <strong>de</strong> Delval (2001): “Será que a aprendizag<strong>em</strong>escolar é eficiente tanto quanto a aprendizag<strong>em</strong> do cotidiano dos alunos?” (p. 6).Ensinar para Freire exige criticida<strong>de</strong>. O autor não vê na diferença e nadistância existente entre ingenuida<strong>de</strong> e criticida<strong>de</strong> e entre saber <strong>em</strong>pírico e saberrigoroso metodicamente, uma ruptura, mas sim, uma superação. Para ele a“superação e não a ruptura se dá na medida <strong>em</strong> que a curiosida<strong>de</strong> ingênua, s<strong>em</strong><strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser curiosida<strong>de</strong>, pelo contrário, continuando a ser curiosida<strong>de</strong>, se criticiza”(p. 31).É esse saber do senso comum que os alunos traz<strong>em</strong> nas suas histórias <strong>de</strong>vida que precisa ser submetido à crítica.A curiosida<strong>de</strong> ingênua relacionada ao saber do senso comum é a mesmacuriosida<strong>de</strong>, que submetida à crítica, aproxima-se, a partir do rigor metódico(cuidadoso) ao objeto cognoscente, tornado-se assim, curiosida<strong>de</strong> epist<strong>em</strong>ológica,mudando <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, mas prevalecendo sua essência. “(...) a promoção daingenuida<strong>de</strong> para a criticida<strong>de</strong> não se dá automaticamente, uma das tarefasprecípuas da prática educativo-progressista é exatamente o <strong>de</strong>senvolvimento dacuriosida<strong>de</strong> crítica, insatisfeita, indócil” (p. 32).Ensinar exige respeitar as diferenças, as dificulda<strong>de</strong>s, a natureza do serhumano, suas capacida<strong>de</strong>s cognitivas e metacognitivas, é um procedimento ético.Não dá para pensar o ser humano longe, da ética, muito menos fora <strong>de</strong>la. “(...)transformar a experiência educativa <strong>em</strong> puro treinamento técnico é amesquinhar o


23que há <strong>de</strong> fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráterformador” (p. 33).Nossa proposta psicopedagógica, para o ensino da resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos a partir do lúdico, está longe <strong>de</strong> caracterizar verda<strong>de</strong> absoluta, muitomenos t<strong>em</strong> como intenção substituir outros procedimentos <strong>de</strong> ensino. No entanto,procura levar <strong>em</strong> conta as capacida<strong>de</strong>s que os sujeitos disponibilizam <strong>de</strong>ntro dospossíveis para solucionar<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos propostos. Até por que, oque é probl<strong>em</strong>a para uma pessoa, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é para outra, isso caracteriza orespeito às diferenças.Pensar certo, para Freire (1996), <strong>de</strong>manda a existência <strong>de</strong> sujeitospensadores mediados por objetos on<strong>de</strong> irão incidir o pensar.A reflexão crítica sobre a prática <strong>de</strong>manda uma relação dinâmica e dialéticaentre o fazer e o pensar sobre o fazer, é um procedimento metacognitivo. “Opensamento certo que supera o ingênuo t<strong>em</strong> que ser produzido pelo próprioaprendiz <strong>em</strong> comunhão com o(a) professor(a). É preciso, por outro lado, reinsistir <strong>em</strong>que a matriz do pensar ingênuo como a do crítico é a curiosida<strong>de</strong>” (FREIRE, 1996, p.39).“Ensinar exige respeito, bom senso e autonomia do ser do educando”(FREIRE, 1996, p. 59 - 61). O professor que não respeita a curiosida<strong>de</strong> do aluno, asua inquietação, sua linguag<strong>em</strong>, que o ironiza, que o minimiza, que age com falta <strong>de</strong>educação, tanto quanto o professor que não cumpre o seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> educador, <strong>de</strong>propor limites à liberda<strong>de</strong> dos alunos, que acha que o aluno <strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r sozinho,que não está presente nas suas experiências, está transgredindo os princípios éticosfundamentais do exercício <strong>de</strong> professor.Freire nega o aprendizado a partir da m<strong>em</strong>orização mecânica, nesse caso oaprendiz é mais paciente da transferência do conteúdo do que sujeitos críticos,curiosos e epist<strong>em</strong>ológicos, àquele sujeito que constrói o conhecimento participandoativamente com o objeto. É essa “habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a substantivida<strong>de</strong> doobjeto que nos é possível reconstruir um mau aprendizado, o <strong>em</strong> que o aprendiz foipuro paciente da transferência do conhecimento feita pelo educador” (p. 69).“Ensinar exige a convicção <strong>de</strong> que a mudança é possível”. (FREIRE, 1996,p. 76):


24(...) Ninguém po<strong>de</strong> estar no mundo, com o mundo e com os outros<strong>de</strong> forma neutra. Não posso estar no mundo <strong>de</strong> luvas nas mãosconstatando apenas. A acomodação <strong>em</strong> mim é apenas caminho paraa inserção, que implica <strong>de</strong>cisão, escolha, intervenção na realida<strong>de</strong>.Há perguntas a ser<strong>em</strong> feitas insistent<strong>em</strong>ente por todos nós e que nosfaz<strong>em</strong> ver a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar por estudar. De estudar<strong>de</strong>scomprometidamente como se misteriosamente, <strong>de</strong> repente, nadativéss<strong>em</strong>os que ver com o mundo, um lá fora e distante mundo,alheado <strong>de</strong> nós e nós <strong>de</strong>le (ibid. p.77).“Ensinar exige curiosida<strong>de</strong>”. (FREIRE, 1996, p. 84). O conhecimento <strong>de</strong>algum objeto <strong>de</strong>manda curiosida<strong>de</strong>, criticida<strong>de</strong>, observação, <strong>de</strong>limitação do objeto,aproximação metódica, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer comparação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indagação.É importante que alunos e professores saibam que suas posturas comoeducador(a) e educando(a) t<strong>em</strong> base no diálogo, e que esse processo dialógico, éaberto, curioso, indagador enquanto falam e ouv<strong>em</strong>.Professores e alunos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se assumir como seres epist<strong>em</strong>ológicoscuriosos. Nessa visão freireana, o bom professor é aquele que, ao falar provoca oaluno na sua intimida<strong>de</strong>, apresenta aulas <strong>de</strong>safiantes, provocativas, promove acuriosida<strong>de</strong> espontânea à curiosida<strong>de</strong> epist<strong>em</strong>ológica:Como professor não me é possível ajudar o educando a superar suaignorância se não supero permanent<strong>em</strong>ente a minha. Não possoensinar o que não sei. Mas, este, repito, não é saber <strong>de</strong> que apenas<strong>de</strong>vo falar e falar com palavras que o vento leva. É saber, pelocontrário, que <strong>de</strong>vo viver concretamente com os educandos.(FREIRE, 1996. p. 95).Nesta frase, Freire chama atenção quanto à capacida<strong>de</strong> do(a) professor(a)<strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar b<strong>em</strong> os conteúdos, porém o(a)professor(a) não <strong>de</strong>ve reduzir a prática docente somente ao ensino dos conteúdos,esse é um procedimento funcional pedagógico.Há outras consi<strong>de</strong>rações que o professor precisa estar atento: ocomportamento ético do ensino dos conteúdos, a <strong>de</strong>cência <strong>em</strong> ensiná-lo, o ponto<strong>de</strong> vista científico envolvido, o respeito ao educando(a), suas experiências, seussaberes, cuja busca <strong>de</strong> superação o cabe. Porém, professores ou professorasinsist<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>positar os conteúdos nos alunos, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> estimular os <strong>de</strong>safios, aapren<strong>de</strong>r a substantivida<strong>de</strong> dos mesmos.


25Meu papel como professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não éapenas o <strong>de</strong> me esforçar para, com clareza máxima, <strong>de</strong>screver asubstantivida<strong>de</strong> do conteúdo para que o aluno o fixe. Meu papelfundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é incitar o aluno afim <strong>de</strong> que ele, com os materiais que ofereço, produza acompreensão do objeto <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> recebê-la, na íntegra, <strong>de</strong> mim.Ele precisa se apropriar da inteligência do conteúdo para que averda<strong>de</strong>ira relação <strong>de</strong> comunicação entre mim, como professor, eele, como aluno se estabeleça. (FREIRE, 1996, p. 118).Mais uma vez, Freire <strong>de</strong>ixa claro que ensinar não é transferir conteúdos aoseducandos. Da mesma forma que apren<strong>de</strong>r não t<strong>em</strong> nada que ver com am<strong>em</strong>orização dos conteúdos transferidos pelo professor. Ensinar e apren<strong>de</strong>r exigeum esforço metodicamente crítico do(a) professor(a) que ten<strong>de</strong> a ir <strong>de</strong> encontro aoesforço crítico do aluno como sujeito da aprendizag<strong>em</strong>.Ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando(a), mas instigálono sentido <strong>de</strong> que, como sujeito cognoscente, seja capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ecomunicar o que compreen<strong>de</strong>u. “É neste sentido que se impõe a mim escutar oeducando(a) <strong>em</strong> suas dúvidas, <strong>em</strong> seus receios, <strong>em</strong> sua incompetência provisória”.(FREIRE, 1996, p. 119).No entanto, o educando(a) precisa assumir o papel <strong>de</strong> produtor(a) da suaprópria inteligência como sujeito cognoscente e não apenas o <strong>de</strong> receptor(a) daquiloque é transferido pelo professor(a). “Quanto mais me torno capaz <strong>de</strong> me afirmarcomo sujeito que po<strong>de</strong> conhecer tanto melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho minha aptidão para fazêlo”.(FREIRE, 1996, p. 124).Tais contribuições <strong>de</strong> Freire são <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância para esta pesquisa,no momento que, na visão <strong>de</strong> professor, procuramos conhecer o sujeito no mundo<strong>em</strong> que vivia e vive, para <strong>de</strong>pois, com muita cautela, pensarmos num procedimento<strong>de</strong> ensino, que a nosso ver, po<strong>de</strong> ser apropriado.Ao trazer uma metodologia <strong>de</strong> ensino partindo <strong>de</strong> práticas pedagógicas como jogo <strong>de</strong> dominó modificado, o pesquisador tenta: assumir o papel <strong>de</strong> mediador daaprendizag<strong>em</strong>; promover um aprendizado mais autônomo <strong>de</strong>senvolvendo acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo entre os sujeitos; explorar as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reflexão sobreo fazer do outro, respeitando as diferenças e seus pontos <strong>de</strong> vistas, buscandoatravés <strong>de</strong> um aprendizado <strong>de</strong> dupla via uma forma cooperativa para apren<strong>de</strong>r osconteúdos mat<strong>em</strong>áticos que preten<strong>de</strong> ensinar.


26Como professor, procuro conhecer as dimensões caracterizadas pela minhaexperiência, o que me parece tornar mais seguro e preciso durante a prática <strong>em</strong>conjunto. Procuro também, conhecer as características gerais e particulares dossujeitos para proporcionar um aprendizado mais significativo.O ensino voltado ao aprendizado técnico, à m<strong>em</strong>orização mecânica, estálonge <strong>de</strong> garantir a aprendizag<strong>em</strong>. Nossa intenção é proporcionar um aprendizadoon<strong>de</strong> o sujeito possa ser visto como participante ativo no processo, refletindo sobresuas ações, isso é <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a relevância para o <strong>de</strong>senvolvimento do potencial parao avanço da aprendizag<strong>em</strong> escolar.


273 ASPECTOS COGNITVOS E METACOGNITVOS NA RESOLUÇÃO DEPROBLEMAS MATEMÁTICOSQualquer tipo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática po<strong>de</strong> ser dividido <strong>em</strong>componentes <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> informação (STERNBERG, 1992). Essescomponentes são as operações mentais, as habilida<strong>de</strong>s e os conhecimentos que osujeito necessita para resolver um <strong>de</strong>terminado probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática.A solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática po<strong>de</strong> ser dividida <strong>em</strong> duas partes:representação do probl<strong>em</strong>a ou a conversão para uma representação interna e asolução do probl<strong>em</strong>a através da aplicação das operações mat<strong>em</strong>áticas àrepresentação interna para obter a resposta <strong>de</strong>sejada (STERNBERG, 1992).A Resolução <strong>de</strong> Probl<strong>em</strong>as t<strong>em</strong> sido um campo <strong>de</strong> investigação on<strong>de</strong>concentra muitos estudos: Pozo (1998), Krulik e Reys (1997), Polya (1995), Borralho(1994), Vieira (2001), Loos (2004), Sternberg (1992). No entanto, uma questão muitodiscutida nas pesquisas está relacionada com a prática <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asno ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática. Essa questão exige tanto do professorquanto do estudante o domínio <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s relacionadas às capacida<strong>de</strong>scognitivas, metacognitivas e afetivas subjacentes ao processo (BORRALHO, 1994).Dos aspectos cognitivos e afetivos influentes na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>mat<strong>em</strong>ática, <strong>de</strong>stacam-se no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Charles e Lester (citado por BORRALHO,1994): capacida<strong>de</strong> espacial, capacida<strong>de</strong> lógica, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, pressão,motivação, interesse, stress, resistência aos bloqueios pr<strong>em</strong>aturos, perseverança,familiarida<strong>de</strong> com o contexto e o conteúdo do probl<strong>em</strong>a, ida<strong>de</strong> e familiarida<strong>de</strong> com odomínio das estratégias <strong>de</strong> resolução.São variáveis que po<strong>de</strong>m influenciar negativamente no processo, cabendoao sujeito auto-regular, controlar e monitorar ativamente as ações cognitivas eafetivas durante a tarefa. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monitorar a ativida<strong>de</strong> está ligada àcapacida<strong>de</strong> que o indivíduo t<strong>em</strong> <strong>de</strong> auto-avaliar aquilo que faz enquanto resolve umprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> acordo com uma instrução dada.As capacida<strong>de</strong>s metacognitivas estão relacionadas aos conhecimentos queo aluno possui acerca dos seus processos <strong>de</strong> pensamentos; como <strong>de</strong>screve e tomaconsciência dos seus próprios pensamentos; como auto-regula e auto-controla o queestá por fazer e como conduz as ações durante a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>mat<strong>em</strong>ática (BORRALHO, 1994).


28Para Boruchovitch e Bzuneck (2004), um estudante se torna auto-regulado,quando apren<strong>de</strong> a perseguir seus objetivos, quando age com motivação intrínseca,prioriza a meta, se envolve motivacional e afetivamente com a tarefa, planeja,<strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, age com autonomia, sabe utilizar as estratégias cognitivas e metacognitivas,avalia cada situação, antecipa situações e implicações.São os processos cognitivos, afetivos e <strong>de</strong> auto-regulação que dão garantiaao sujeito para se ter êxito na aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as. Aaprendizag<strong>em</strong> auto-regulada permite que o sujeito tenha um comportamentoproativo, que seja regulador dos seus próprios processos <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, quesejam participantes ativos <strong>de</strong>sse processo e sejam promotores do próprio<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho.Utilizando-se da metacognição, para Vieira (2001), o sujeito que resolveprobl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática t<strong>em</strong> informações sobre seu próprio processo <strong>de</strong>resolução, po<strong>de</strong>ndo supervisionar o resultado encontrado.Para compreen<strong>de</strong>r os mecanismos utilizados pelos sujeitos nas tarefas, “épreciso, <strong>em</strong> primeiro lugar, observar e acompanhar suas tendências cognitivas, <strong>de</strong>maneira a reconhecer seus próprios julgamentos e os el<strong>em</strong>entos sobre os quais elesse apóiam para justificar sua metacognição”. (VIEIRA, 2001, p. 2).O controle dos processos cognitivos ocorre através das interações entreconhecimento metacognitivo; experiências metacognitivas; objetivos influenciadospor essas experiências e as ações ou estratégias utilizadas para atingir os objetivos<strong>de</strong>sejados.É importante ressaltar que há sujeitos que resolv<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticosque são experientes e há também, os principiantes. De modo geral, a diferença entreos dois é que o experiente sabe melhor escolher o caminho a<strong>de</strong>quado para asolução do probl<strong>em</strong>a, sabe reconhecer o que é importante no probl<strong>em</strong>a,<strong>de</strong>scartando o que é acessório, abandonando aquilo que nada t<strong>em</strong> a oferecer eoptando por caminhos promissores.Segundo Boruchovitch e Bzuneck (2004), as dificulda<strong>de</strong>s surgidas durante aresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, não se <strong>de</strong>ve a falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> dos sujeitos, ou asdificulda<strong>de</strong>s relacionadas ao conteúdo, mas sim, porque o pensamento dos sujeitosse mantém truncado, <strong>de</strong>sarticulado e que o impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> resolver o probl<strong>em</strong>a ou <strong>de</strong>manifestar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocinar.


29Garcia, citado por Vieira (2001), salienta que as dificulda<strong>de</strong>s daaprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática po<strong>de</strong>m afetar diferentesáreas envolvidas no processo tais como: atenção, impulsivida<strong>de</strong>, linguag<strong>em</strong>, leitura eescrita, m<strong>em</strong>ória, auto-estima e habilida<strong>de</strong>s sociais.Frente à concepção <strong>de</strong>sse autor, po<strong>de</strong>-se dizer que a falta <strong>de</strong> compreensão“estrutural” da linguag<strong>em</strong> trazida no enunciado do probl<strong>em</strong>a, ou seja, como oprobl<strong>em</strong>a é apresentado ao resolvedor, po<strong>de</strong> refletir <strong>em</strong> uma representação mentalina<strong>de</strong>quada e, com isso, o insucesso nos objetivos.Outro fator relevante a ser consi<strong>de</strong>rado é a variável afetiva motivação. Amotivação po<strong>de</strong> ser intrínseca ou extrínseca. Se o sujeito não estiver “motivado”para a ativida<strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as ou tiver uma atitu<strong>de</strong>negativa face ao probl<strong>em</strong>a, o processo po<strong>de</strong> ser afetado.É necessário que o professor tente formar nos estudantes uma relação ativae favorável. Uma atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá ser obtida proporcionando a correta organização eexecução do ensino e da ativida<strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática. Porém isso não se obtém <strong>de</strong> formadireta e espontânea, mas sim, através da criação consciente e planificadainfluenciadas pelas condições pedagógicas. Para compl<strong>em</strong>entar, Borralho (1994)acrescenta:A inclusão ativa do aluno na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>áticarequer, acima <strong>de</strong> tudo, que se incuta, por parte do professor, umpapel ativo ao aluno durante o ensino, isto é, concebê-lo como narealida<strong>de</strong> é: um agente ativo sujeito do seu próprio ensino. Assim, aparticipação do professor <strong>de</strong>ve ser dosada, <strong>de</strong> modo a aumentar aativida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do aluno na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as.(BORRALHO, 1994, p. 102).Mas que fatores po<strong>de</strong>riam estar relacionados à “motivação” para a resolução<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática? “As respostas a essa questão po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> acuriosida<strong>de</strong> individual até o medo das conseqüências se a solução não for entregueamanhã, mas uma consi<strong>de</strong>ração fundamental <strong>de</strong>ve ser a maneira como o probl<strong>em</strong>aé formulado”. (BUTTS, 1997, p. 32).Na concepção <strong>de</strong> Butts (1997), a aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>manda que o professor, principal envolvido no processo, proporcioneaos estudantes, caminhos alternativos, tais como: escolher bons probl<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong>


30resolvidos, probl<strong>em</strong>as interessantes, que cham<strong>em</strong> a atenção, que provoque ointeresse, que faça o aluno “ficar a fim”.Sobre o assunto Polya (1995) coloca: “o probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> ser mo<strong>de</strong>sto, masse ele <strong>de</strong>safiar a curiosida<strong>de</strong> e puser <strong>em</strong> jogo as faculda<strong>de</strong>s inventivas, qu<strong>em</strong> oresolver por seus próprios meios, experimentará a tensão e gozará o triunfo da<strong>de</strong>scoberta”. (POLYA, 1995, p. 5).Para Freire (1996), uma das tarefas essenciais do professor é:Trabalhar com os educandos a rigorosida<strong>de</strong> metódica com que<strong>de</strong>v<strong>em</strong> se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosida<strong>de</strong>metódica não t<strong>em</strong> nada que ver com o discurso “bancário”meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. Éexatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento”do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga àprodução das condições <strong>em</strong> que apren<strong>de</strong>r criticamente é possível. Eessas condições implicam ou exig<strong>em</strong> a presença <strong>de</strong> educadores e <strong>de</strong>educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamentecuriosos, humil<strong>de</strong>s e persistentes (p. 26)Loos (2004) consi<strong>de</strong>ra a ansieda<strong>de</strong> uma variável afetiva que po<strong>de</strong> interferirno processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática. A ansieda<strong>de</strong> está ligada às:Dificulda<strong>de</strong>s que os indivíduos enfrentam para dominar a tarefa, masque po<strong>de</strong> passar a interferir, tanto nas relações interpessoais, comonas próprias construções cognitivas. O nível <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> serámaior ou menor <strong>de</strong> acordo com as propensões individuais e<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, também, da maneira com que cada um representa parasi a situação que está sendo vivenciada. A ansieda<strong>de</strong> interferiráquando os conflitos cognitivos entram <strong>em</strong> ação, sobretudo namaneira <strong>de</strong> gerenciar tais conflitos e <strong>de</strong> conduzir a discussão a umfechamento (p. 565).De acordo com C<strong>em</strong>en (1987), a ansieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> estar relacionada a umestado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto que ocorre diante das situações envolvendo as tarefasmat<strong>em</strong>áticas que po<strong>de</strong>m se manifestar como tensão, sentimento <strong>de</strong> impotência,medo, aflição, vergonha, perda <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s frente à tarefa e falta <strong>de</strong>concentração.Dentre os fatores intelectuais, C<strong>em</strong>en (1987), relaciona: os estilos <strong>de</strong>aprendizag<strong>em</strong>, as atitu<strong>de</strong>s, a falta <strong>de</strong> persistência nas tarefas, as incertezas quantoao próprio potencial, a falta <strong>de</strong> confiança na habilida<strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática e a ausência <strong>de</strong>percepção da utilida<strong>de</strong> da mat<strong>em</strong>ática.


31Cabe ressaltar o que alguns autores apresentam a respeito do conceito“probl<strong>em</strong>a”: um probl<strong>em</strong>a existe quando estamos diante <strong>de</strong> uma situação<strong>de</strong>safiadora e que precisamos superar algum obstáculo da vida a fim <strong>de</strong> atingir um<strong>de</strong>terminado objetivo (PCN, 1998). O que é probl<strong>em</strong>a para uma pessoa n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>preé para outra, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do conhecimento que cada uma das pessoas possui.Borralho (1994, p. 70), consi<strong>de</strong>ra um probl<strong>em</strong>a como sendo: ”Um obstáculoque se encontra entre a situação dada e a meta, obrigando o sujeito a consi<strong>de</strong>rar ospossíveis caminhos para a resolução”.Morgan (citado por BORRALHO,1994, p. 70), apresenta outra <strong>de</strong>finição: “Umindivíduo está perante uma situação probl<strong>em</strong>ática quando exist<strong>em</strong> alguns el<strong>em</strong>entosou condições conhecidas e outros el<strong>em</strong>entos ou condições <strong>de</strong>sconhecidas, e aquestão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir como tratar os fatores <strong>de</strong>sconhecidos da situação”.Lester (citado por BORRALHO, 1994, p. 71) enten<strong>de</strong> que: “probl<strong>em</strong>a é umatarefa na qual o indivíduo ou grupo se confronta com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontraruma solução, não possuindo um procedimento diretamente acessível que garanta asolução”.Cit<strong>em</strong>os um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uma situação probl<strong>em</strong>ática muito comum no campodo ensino mat<strong>em</strong>ático. Se, ao invés <strong>de</strong> pedir aos alunos que resolvam a seguinteexpressão mat<strong>em</strong>ática: b + 10 = 15, pedíss<strong>em</strong>os que respon<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>: “antes eu tinha<strong>de</strong>z figurinhas agora tenho quinze quantas eu ganhei?”, nas duas situações t<strong>em</strong>osum probl<strong>em</strong>a a ser resolvido, só que a diferença entre elas é que, no segundo caso,o estudante é obrigado a realizar a interpretação do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umacontextualização, para <strong>de</strong>pois apresentar a solução.Quando b<strong>em</strong> feita a interpretação do probl<strong>em</strong>a, não há necessida<strong>de</strong> daconstrução <strong>de</strong> fórmulas ou <strong>de</strong> algum algoritmo, a resposta po<strong>de</strong> vir com maisfacilida<strong>de</strong>.Salmon (1995) <strong>de</strong>staca a analogia como sendo um fator importante para aresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática. Ao fazer analogia, o sujeito busca asrelações s<strong>em</strong>elhantes entre os objetos <strong>em</strong> comparação, as relações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>dos objetos <strong>de</strong> estudo.Concluir alguma coisa por analogia implica que o sujeito auto-regule,controle e monitore tudo o que está ao redor da tarefa a ser resolvida. Nesse sentidoestá buscando as relações <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhanças existentes entre os objetos a ser<strong>em</strong>comparados, <strong>de</strong>ssa forma, a analogia po<strong>de</strong> ser forte ou fraca.


32Por sua vez, Leblanc, Proudfit, Putt (1997), dão suas contribuições aoapontar<strong>em</strong> que um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ve exigir do aprendiz o uso <strong>de</strong> estratégias nãoalgorítmicas para sua solução, os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>v<strong>em</strong> permitir a curiosida<strong>de</strong> dosalunos, o <strong>de</strong>senvolvimento da sua criativida<strong>de</strong>, iniciativa e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s. Além disso, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>:Fornecer aos alunos uma oportunida<strong>de</strong> para inventar métodoscriativos <strong>de</strong> solução, para compartilhar seus métodos com os colegase para criar confiança na resolução. Alguns probl<strong>em</strong>as propiciamtambém aos alunos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentir<strong>em</strong> o prazer do trabalhocom resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos. (LEBLANC; PROUDFIT;PUTT, 1997, p. 150).A resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, no entanto, <strong>de</strong>manda algumas consi<strong>de</strong>raçõesadicionais: a) a experiência do aprendiz; b) a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação doprobl<strong>em</strong>a; c) o contexto <strong>em</strong> que o probl<strong>em</strong>a está inserido; d) as capacida<strong>de</strong>scognitivas dos alunos, etc.Para Polya (1995), a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>manda, ainda que oprofessor colabore com o aprendiz <strong>de</strong> forma natural, colocando-se <strong>em</strong> seu lugar,indicando um passo ou fazendo uma pergunta, procurando conhecer seu ponto <strong>de</strong>vista para, assim, perceber o grau <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>ste <strong>em</strong> relação ao probl<strong>em</strong>aproposto. Propõe quatro fases durante a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática: a)a compreensão do probl<strong>em</strong>a; b) o estabelecimento <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> resolução; c) aexecução do plano e d) uma retrospectiva da solução apresentada.Ao tentar compreen<strong>de</strong>r o probl<strong>em</strong>a, o estudante <strong>de</strong>ve perceber com clarezao objetivo que preten<strong>de</strong> atingir. Para isso é indispensável que analise<strong>de</strong>talhadamente o enunciado até encontrar a incógnita pretendida. Além <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>ro probl<strong>em</strong>a o estudante precisa querer resolvê-lo; por isso, o professor <strong>de</strong>veescolher probl<strong>em</strong>as interessantes e que não sejam difíceis e n<strong>em</strong> fáceis <strong>de</strong>mais.Para Deguire (1997) é importante que o professor apresente o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>forma <strong>de</strong> história, isto facilitaria a compreensão possibilitando o “ataque” <strong>de</strong> imediatoà solução do probl<strong>em</strong>a.O plano <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>manda as operações mat<strong>em</strong>áticas, os cálculos, queprecisam ser feitos para obter a incógnita. O professor <strong>de</strong>ve provocar discretamenteuma “idéia luminosa”, ajudando os estudantes, fazendo perguntas como: Você sabe


33a reposta do probl<strong>em</strong>a? Que tipo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a é esse? Há outra maneira <strong>de</strong> fazeresse cálculo?A execução do plano consiste <strong>em</strong> percorrer o caminho que se <strong>de</strong>cidiu seguire, portanto, precisa ser muito b<strong>em</strong> entendido e pensado <strong>de</strong> modo que não restenenhum ponto obscuro.Após o resultado, o trabalho não <strong>de</strong>ve ser dado como pronto. É precisoverificar se há outros caminhos para chegar ao mesmo resultado. É o momento queo aluno t<strong>em</strong> <strong>de</strong> refletir sobre o que fez. Fazer uma revisão crítica, tentar perceber aresolução do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> imediato.Polya (1995, p. 29-89) consi<strong>de</strong>ra importantes no processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as: “o uso da analogia; as condições que o probl<strong>em</strong>a apresenta; oconhecimento do aluno frente ao probl<strong>em</strong>a; as incógnitas; os caminhos a ser<strong>em</strong>percorridos; os el<strong>em</strong>entos auxiliares; e as heurísticas”.É comum na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as não sabermos como “atacá-lo” <strong>de</strong>imediato. Uma indagação do tipo: “conhece um probl<strong>em</strong>a parecido?” visa recordar oconhecimento que o aluno possui frente ao probl<strong>em</strong>a a ser resolvido.A incógnita do probl<strong>em</strong>a é o que se quer <strong>de</strong>scobrir, o objetivo a seralcançado. Quando <strong>de</strong>sejamos alguma coisa, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os buscar caminhos para obtêla.Quais são os caminhos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os percorrer para atingir tal objetivo? Quais ascausas que nos ajudariam a alcançar o resultado procurado? É possível chegar aoresultado por um caminho diferente?A heurística t<strong>em</strong> por objetivo enten<strong>de</strong>r a prática das formas adotadas para<strong>de</strong>scobrir a resolução <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a. Subenten<strong>de</strong> os procedimentos adotadosdurante o processo <strong>de</strong> resolução, <strong>em</strong> particular, os aspectos cognitivos queenvolv<strong>em</strong> o processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a.Visa, ainda, o comportamento do educando face ao probl<strong>em</strong>a e pressupõe odiálogo harmônico entre professor e estudante. Implicitamente, <strong>de</strong>screve opensamento como um discurso mental, ou seja, o diálogo do pensador com elepróprio. O raciocínio heurístico não se consi<strong>de</strong>ra acabado, apenas provisório. Aresposta final <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a, contudo, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do resultado provisório.Na tentativa <strong>de</strong> correlacionar o que foi exposto neste capítulo ao probl<strong>em</strong>ada pesquisa, foi necessário i<strong>de</strong>ntificarmos os fatores pertinentes aos objetivospropostos e aos indicadores ou variáveis <strong>em</strong>ergentes na discussão. Os fatorescognitivos inerentes ao processo com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as foram discutidos


34<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gama <strong>de</strong> variáveis que surgiram a partir das intervenções dialogadascom os grupos.A resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> duplas permite ir além da observação dasações recíprocas (BRONFENBRENNER, 1996). Permite também verificar o tipo <strong>de</strong>estratégia que o sujeito usa para justificar a resposta dada ao probl<strong>em</strong>a.Esses procedimentos <strong>de</strong> procura da solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação, do domínio da linguag<strong>em</strong> e da escrita,da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-regular o pensamento e gerenciar o que é possível.Para Piaget (1985), quando <strong>de</strong>sejamos atualizar uma idéia é,necessariamente, preciso supor que a mesma seja possível. Para ele, o possível“não é algo observável, mas o produto <strong>de</strong> uma construção do sujeito, <strong>em</strong> interaçãocom as proprieda<strong>de</strong>s do objeto” (p.7).Quando propomos analisar o potencial para resolver probl<strong>em</strong>as com aspeças do jogo <strong>de</strong> dominó, inspiramos uma aprendizag<strong>em</strong> cooperativa aspirandoconstruir a compreensão, daquilo que o sujeito consegue dominar <strong>em</strong> pensamento ese é capaz <strong>de</strong> explicitar tais pensamentos após as interações sociais mediadas.Para Piaget (1978), compreen<strong>de</strong>r “é conseguir dominar, <strong>em</strong> pensamento, asmesmas situações até po<strong>de</strong>r resolver os probl<strong>em</strong>as por elas levantados” (p. 176).De acordo com Teixeira (2005), as concepções dos estudantes se tornammenos estereotipadas se vivenciar<strong>em</strong> um conjunto <strong>de</strong> situações diferentesenvolvendo objetos e relações mat<strong>em</strong>áticas. Nesse sentido é necessário observarcomo os educandos trabalham e se relacionam com os objetos mat<strong>em</strong>áticos. Isso épossível por meio da análise e discussão dos comentários e das representações quetraz<strong>em</strong> quando resolv<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.Em síntese: resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos é <strong>de</strong> fundamental importânciapara o <strong>de</strong>senvolvimento dos processos cognitivos e metacognitivos dos sujeitos; aresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos é um campo <strong>de</strong> pesquisa muito estudado naEducação Mat<strong>em</strong>ática; quando os sujeitos resolv<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos têmoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> testar<strong>em</strong> suas habilida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> auto-regulação dosprocessos <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>; a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos numa visãointeracionista está distante da concepção “bancária” muito presente no ensinotradicional <strong>de</strong>ssa disciplina na escola.


354 ALGUMAS ABORDAGENS SOBRE PROBLEMAS ARITMÉTICOSA aritmética estuda os números e suas combinações através da adição,subtração, multiplicação e divisão. A operação aritmética da adição é indicada com osinal positivo (+); a subtração é representada pelo sinal negativo (-), é a operaçãoinversa da adição. O cálculo da subtração aritmética po<strong>de</strong> tornar-se fácil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quese tenha o subtraendo maior do que o minuendo. Mas, se a operação for inversa,não é tão simples, visto ser percebida a partir do conceito <strong>de</strong> números negativos.Aritmética, segundo Michaelis (1998), mo<strong>de</strong>rno dicionário da LínguaPortuguesa, “é a Ciência que estuda as proprieda<strong>de</strong>s dos números e as operaçõesque com eles se po<strong>de</strong>m realizar” (p. 213).Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> aritmética, po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asaritméticos, aqueles probl<strong>em</strong>as que, para sua solução, os sujeitos precisammanipular os dados numéricos, trabalhando com eles, para se chegar à soluçãonumérica. No entanto, os dados numéricos, po<strong>de</strong>m não estar explícitos ao probl<strong>em</strong>a,cabendo ao aprendiz sua i<strong>de</strong>ntificação. São probl<strong>em</strong>as cujas informações estãorelacionadas, geralmente, a uma quantida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ssa forma, a estratégia <strong>de</strong> resoluçãoestá baseada no cálculo mat<strong>em</strong>ático, na compreensão dos dados ou na utilização <strong>de</strong>fórmulas (Pozo et al., 1998).É comum encontrarmos alunos com dificulda<strong>de</strong>s para operar com probl<strong>em</strong>asenvolvendo operações el<strong>em</strong>entares como adição e subtração. Muitas vezes,atribu<strong>em</strong> à operação <strong>de</strong> adição o sentido <strong>de</strong> “ganhar” alguma coisa, e, à operação<strong>de</strong> subtração, o sentido <strong>de</strong> “perda” <strong>de</strong> alguma coisa. Para os alunos, a resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as aritméticos significa fazer conta envolvendo o enunciado, seja ele,entendido ou não.É interessante perceber como as crianças resolv<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos,muitas segu<strong>em</strong> uma seqüência numérica <strong>de</strong> maneira or<strong>de</strong>nada, levando <strong>em</strong> conta aor<strong>de</strong>m das operações mat<strong>em</strong>áticas: fazendo primeiro a adição, <strong>de</strong>pois a subtração,e, por último, a multiplicação e a divisão. Algumas crianças escolh<strong>em</strong> caminhos aoacaso na procura da solução dos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, revelando possuír<strong>em</strong>experiências próprias quando quer<strong>em</strong> resolver seus probl<strong>em</strong>as.A título <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>, cit<strong>em</strong>os um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> um “probl<strong>em</strong>a” adaptado daRevista Educação e Mat<strong>em</strong>ática, n° 14, no artigo <strong>de</strong> Costa (1990, p. 7). “A mãe <strong>de</strong>


36João comprou três metros <strong>de</strong> tecido a cento e trinta e cinco escudos o metro. Queida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> a mãe <strong>de</strong> João?”Numa experiência feita <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, uma aluna da 6ª série do EnsinoFundamental, apresentou uma “resposta” a esse “probl<strong>em</strong>a” como segue abaixo:a) 3 x 135, dá 405. Uma pessoa não po<strong>de</strong> viver 405 anos; b) 135 + 3, dá138. É uma ida<strong>de</strong> bastante gran<strong>de</strong> para uma pessoa viver; c) 135 – 3, dá 132.Também é bastante gran<strong>de</strong>; d) 135 ÷ 3, dá 45. “Resposta”: A mãe <strong>de</strong> João t<strong>em</strong> 45anos.Se levarmos <strong>em</strong> conta que num probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>ve existircoerência entre seus dados e a pergunta a ser respondida, po<strong>de</strong>mos dizer que essaquestão, <strong>de</strong>ntro do contexto mat<strong>em</strong>ático, não constitui um verda<strong>de</strong>iro probl<strong>em</strong>a, umavez que a pergunta, nada t<strong>em</strong> a ver com os dados fornecidos. Porém, po<strong>de</strong>-se dizerque existe aí, uma situação probl<strong>em</strong>ática proposta aos alunos.A aluna, ao ver-se numa situação <strong>de</strong> “ansieda<strong>de</strong>”, e querendo livrar-se <strong>de</strong>la,procurou resposta para aquilo que a “incomodava”. O fato <strong>de</strong> ter encontrado onúmero 45 não significa ser a ida<strong>de</strong> correta. Quarenta e cinco anos é uma ida<strong>de</strong>possível para uma pessoa viver, mas, nesse caso, não po<strong>de</strong>mos afirmar nada.Se mudáss<strong>em</strong>os os dados do “probl<strong>em</strong>a” para 15 metros <strong>de</strong> tecido a 135escudos o metro, provavelmente a aluna, ao fazer o cálculo 135 ÷ 15 = 9, po<strong>de</strong>riaconcluir, que 9 anos, po<strong>de</strong>ria ser a ida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> João, e, talvez, não se <strong>de</strong>sseconta do absurdo <strong>de</strong> ser uma pessoa mãe, com tão pouca ida<strong>de</strong>.A tentativa da aluna ao “resolver” o “probl<strong>em</strong>a” proposto revela, <strong>de</strong>ntreoutras coisas, algumas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> raciocínio efetivadas ao <strong>de</strong>scartarsoluções, enquanto que a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecer uma resposta operando com osdados incompatíveis po<strong>de</strong> estar relacionada a falta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com probl<strong>em</strong>ason<strong>de</strong> os dados não sejam a<strong>de</strong>quados.Retom<strong>em</strong>os a pergunta clássica <strong>de</strong> Butts (1997, p. 32), “o que é que levariaalguém a querer resolver um probl<strong>em</strong>a”?. Muitos fatores po<strong>de</strong>m estar presentes, noentanto, um <strong>de</strong>les, é a forma com que o probl<strong>em</strong>a é apresentado aos alunos.Os estudos <strong>de</strong> Carraher & Schli<strong>em</strong>ann (1995), <strong>de</strong>monstram que crianças <strong>de</strong>famílias <strong>de</strong> baixa renda utilizam os conhecimentos mat<strong>em</strong>áticos para solucionar seusprobl<strong>em</strong>as na vida cotidiana com muito sucesso. Porém, essas mesmas crianças,apresentam dificulda<strong>de</strong>s na escola quando se trata <strong>de</strong> formalizar o que fizeram, ouseja, têm dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrever o que fizeram na prática.


37A mat<strong>em</strong>ática aí é utilizada, segundo essas pesquisas, como meio <strong>de</strong>sobrevivência. Isso evi<strong>de</strong>ncia que as crianças sa<strong>em</strong>-se melhor porque estãovivenciando uma situação real, que, para elas po<strong>de</strong> ser essencial. O contraste, noentanto, está na maneira convencional utilizada pela escola quando utiliza lápis epapel.Carraher et al. (1982), citada por Guimarães (1998), chama atenção, <strong>em</strong>seus estudos com crianças <strong>de</strong> 9 a 15 anos, com escolarida<strong>de</strong> entre 3ª e 8ª séries doprimeiro grau, quanto ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos estudantes na escola ser<strong>em</strong> inferior ao<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho fora <strong>de</strong>la, a partir <strong>de</strong> testes formais e informais, envolvendo probl<strong>em</strong>asverbais <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática, num contexto <strong>em</strong> que as crianças já viviam (transaçõescomerciais), por ex<strong>em</strong>plo.Essas pesquisas tinham por objetivo <strong>de</strong>scobrir os processos utilizados pelossujeitos para chegar<strong>em</strong> às respostas dos probl<strong>em</strong>as. Os resultados apontaram paraa diferença entre as formas <strong>de</strong> resolução dos probl<strong>em</strong>as utilizadas pelos estudantesnos diferentes contextos. Os sujeitos utilizavam métodos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asque, <strong>em</strong>bora corretos, não eram consi<strong>de</strong>rados pela escola.É <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância proporcionar reflexões sobre resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as aritméticos na escola. É também, necessário, que o(a) professor(a) saibacriar bons probl<strong>em</strong>as para ser<strong>em</strong> resolvidos pelos estudantes, probl<strong>em</strong>as queaguc<strong>em</strong> a curiosida<strong>de</strong>, que exijam a criação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> solução. Isso po<strong>de</strong>proporcionar estímulos para a evolução na aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.Os probl<strong>em</strong>as do tipo sentença lingüística, para ser<strong>em</strong> resolvidos, não bastauma simples manipulação <strong>de</strong> algum algoritmo mat<strong>em</strong>ático, é necessário que o alunoleia o probl<strong>em</strong>a e interprete-o para <strong>de</strong>pois arriscar uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solução.Dentro <strong>de</strong>sse contexto, a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as contribui para a importância do<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s fundamentais na produção <strong>de</strong> conceitos e criação<strong>de</strong> outros repertórios mat<strong>em</strong>áticos.Para resolver um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática na forma <strong>de</strong> sentença lingüística,o aprendiz necessita, saber correlacionar a linguag<strong>em</strong> escrita à linguag<strong>em</strong>padronizada ou específica da mat<strong>em</strong>ática, i<strong>de</strong>ntificando a incógnita, manipulando asvariáveis relevantes e efetuando as operações pertinentes para se chegar à solução<strong>de</strong>sejada.


38Se, por ex<strong>em</strong>plo, quiséss<strong>em</strong>os comparar duas situações probl<strong>em</strong>as: a) aexpressão mat<strong>em</strong>ática: y + 5 = 15, quanto vale y? e b) a sentença lingüística: “anteseu tinha cinco bolinhas <strong>de</strong> gu<strong>de</strong>, agora tenho quinze. Quantas bolinhas eu ganhei”?Os probl<strong>em</strong>as são os mesmos, no entanto, o primeiro caso, representa o segundo,através da linguag<strong>em</strong> padronizada formada por símbolos.As pesquisas <strong>de</strong> Hiebert in: Haydu, et al., (2005), analisaram o padrão <strong>de</strong>comportamento <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> 1ª série na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> adição esubtração <strong>em</strong> relação à posição da incógnita. Por ex<strong>em</strong>plo: posição a, x + 2 = 7,posição b, 2 + x =7, posição c, 2 + 5 = x. Os resultados <strong>de</strong>monstraram, que nessetipo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a, as crianças criavam estratégias específicas, particularmente,quando a incógnita localizava na posição b e c. O que não acontecia, quando aincógnita aparecia na posição a. As estratégias <strong>de</strong> solução dos probl<strong>em</strong>as quando aincógnita estava na posição b e c eram as mesmas, porém diferentes quando osprobl<strong>em</strong>as tinham a incógnita na posição a. O autor conclui que:A complexida<strong>de</strong> relativa <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a, para o grupo <strong>de</strong>participantes que investigou, estava relacionada com a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> representar o probl<strong>em</strong>a por meio <strong>de</strong> objetos, e esta possibilida<strong>de</strong>era <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da or<strong>de</strong>m das informações. A or<strong>de</strong>m dasinformações no enunciado <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong>termina, por sua vez, aposição que a incógnita ocupa (p.45).Outra estratégia utilizada na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as aparece na pesquisa<strong>de</strong> Sk<strong>em</strong>p in Haydu, et, al., (2005), on<strong>de</strong> o autor utilizou o mo<strong>de</strong>lo da balança 1 paraa solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as com estudantes da pré-escola e do ensino fundamental.Os resultados apontaram aumento no número <strong>de</strong> respostas corretas na solução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as aritméticos <strong>de</strong> adição e subtração, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>monstraram diminuiçãona diferença do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho quando os estudantes resolviam probl<strong>em</strong>asenvolvendo a posição da incógnita.Capovilla, César, Capovilla e Haydu, et al., (2005), concluíram <strong>em</strong> seusestudos com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as aritméticos envolvendo adição e subtração“que as estratégias utilizadas para chegar à solução dos probl<strong>em</strong>as apresentados1 É possível utilizar uma balança <strong>de</strong> dois pratos para solucionar probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> multiplicação, divisão, adição e <strong>de</strong>subtração, envolvendo equações. Por ex<strong>em</strong>plo: a equação 5.x = 10, po<strong>de</strong> ser representada por um peso <strong>de</strong> 10 kg<strong>em</strong> um dos pratos equilibrando com 5 pesos <strong>de</strong> 2 kg no outro prato. O que caracteriza o cálculo da incógnita xnuma situação abstrata s<strong>em</strong> utilizar o procedimento tradicional <strong>de</strong> isolamento da incógnita <strong>de</strong> um lado daigualda<strong>de</strong>.


39na forma <strong>de</strong> balança difer<strong>em</strong> daquelas utilizadas para os apresentados sob a forma<strong>de</strong> sentença lingüística” (p.45).Os estudos <strong>de</strong> Haydu, Mazzo, Isquierdo, Pires e Batista, <strong>de</strong> acordo comHaydu, et al., (2005), sobre resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as do tipo sentença lingüística e<strong>de</strong> balança, on<strong>de</strong> a posição da incógnita foi manipulada, <strong>de</strong>monstraram que aforma <strong>de</strong> apresentação dos probl<strong>em</strong>as e a posição da incógnita são variáveis queinterfer<strong>em</strong> no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos participantes.Verificou-se que nos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> sentença lingüística, o maior índice <strong>de</strong>acertos ocorreu quando os estudantes resolviam os probl<strong>em</strong>as cuja incógnitaestava na posição c. Enquanto que para os probl<strong>em</strong>as cuja incógnita se encontravana posição a e b, o resultado não foi muito diferente.Nos probl<strong>em</strong>as aritméticos <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> sentenças lingüísticas quepropomos, estão implícitas, às incógnitas nas posições a, b e c, no entanto, comoum dos nossos objetivos é verificar o uso <strong>de</strong> estratégias para resolver probl<strong>em</strong>as,não necessariamente, pelo o uso <strong>de</strong> procedimentos algébricos, então reconhecer ovalor <strong>de</strong>sconhecido dos probl<strong>em</strong>as por estratégias algébricas não é relevante, nestecaso.Os probl<strong>em</strong>as propostos permit<strong>em</strong> perceber a posição das incógnitas, porémqualquer estratégia utilizada para explicar a solução do probl<strong>em</strong>a é consi<strong>de</strong>rada pelopesquisador. Nesta pesquisa, o sujeito é livre para apresentar a solução dosprobl<strong>em</strong>as, seja escrita literalmente, seja escrita mat<strong>em</strong>aticamente. No entanto, acriação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma que o sujeito interpreta o probl<strong>em</strong>a a serresolvido. Os sujeitos resolv<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as como os enten<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> acordo comcaminho dos possíveis, conforme aponta Piaget (1985).Em síntese: a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as envolve a manipulação <strong>de</strong> variáveisnuméricas; os sujeitos resolv<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos atribuindo-lhes umaforma or<strong>de</strong>nada <strong>em</strong> seus pensamentos; ao resolver um probl<strong>em</strong>a do tipo sentençalingüística o sujeito apresenta uma predisposição <strong>em</strong> vistas da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>concentração e interpretação, a fim <strong>de</strong> perceber a ligação entre os dadosapresentados literalmente e os apresentados <strong>em</strong> forma algébrica.


405 O JOGO DE DOMINÓ COMO INSTRUMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DAAPRENDIZAGEM MATEMÁTICAEste capítulo t<strong>em</strong> a intenção <strong>de</strong> articular o que alguns autores relatam sobrea importância do jogo <strong>de</strong> dominó como instrumento para aprendizag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática.O jogo <strong>de</strong> dominó 2 , na sua característica tradicional, é b<strong>em</strong> popular no Brasil.É muito utilizado para brinca<strong>de</strong>iras com adultos e crianças. Sua orig<strong>em</strong> é milenar. Háindicações <strong>de</strong> que foi criado aproximadamente há 300 anos pelos chineses.Há uma analogia entre o jogo <strong>de</strong> dominó e o jogo <strong>de</strong> dados. Ambos têmrepresentações numéricas <strong>em</strong> suas faces. São <strong>de</strong>pressões que representamnúmeros. Cada peça do jogo <strong>de</strong> dominó correspon<strong>de</strong> ao lançamento <strong>de</strong> dois dados.Existe uma gran<strong>de</strong> variação quanto ao número <strong>de</strong> peças do jogo <strong>de</strong> dominó,os dominós brasileiros têm vinte e oito peças, cada peça contém dois números eestão distribuídas da seguinte forma: 0-0 0-1,0-2,0-3,0-4,0-5,0-6; 1-1,1-2,1-3,1-4, 1-5,1-6; 2-2,2-3,2-4,2-5,2-6, 3-3,3-4,3-5,3-6; 4-4,4-5,4-6; 5-5,5-6 e 6-6.O jogo <strong>de</strong> dominó po<strong>de</strong> ser utilizado <strong>de</strong> várias maneiras, além da sua formatradicional, dada sua riqueza. O material dominó possibilita uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s que ajudam no <strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio lógico e aritmético dascrianças (MACEDO, 1997). No entanto, sua utilização no contexto educacional<strong>de</strong>manda haver planejamento e organização. Sua utilida<strong>de</strong> é muito importante seja<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> individual ou grupal.Dada a diversida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong>sse material pedagógico como instrumentocompl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong> ensino, uma maneira é propor situações probl<strong>em</strong>as que possamser resolvidas a partir dos valores das peças. O investigador cria probl<strong>em</strong>as,estabelecendo uma lógica, entre os resultados e os números <strong>de</strong> 0 a 6,correspon<strong>de</strong>ntes às peças do jogo.Macedo (1997) coloca que ao utilizar jogos como instrumento <strong>de</strong> ensino, oprofessor po<strong>de</strong> escolher qualquer tipo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que consiga transformá-lo <strong>em</strong>situações <strong>de</strong>safiantes para os alunos. Para ele, o jogo <strong>de</strong> dominó é útil não somentena sua forma tradicional, mas também nas mais variadas situações para produção<strong>de</strong> conhecimentos.2 Fonte: MACEDO, L., PETTY, A . L. S.; PASSOS, N. C.; (1997).


41O jogo <strong>de</strong> dominó permite a observação e análise do sujeito do que po<strong>de</strong> sermantido ou modificado nas estratégias adotadas pelo jogador, para se chegar aoresultado mais preciso <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a.Sendo assim, po<strong>de</strong> funcionar como “regulador” do seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho.Macedo acredita que “o dominó po<strong>de</strong> ser utilizado, não somente na sua formatradicional, mas po<strong>de</strong> também apresentar situações das mais variadas, que po<strong>de</strong>mservir como instrumento para a produção <strong>de</strong> conhecimentos”. (MACEDO, 1997, p.122).O jogo <strong>de</strong> dominó não só <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado na maneira tradicional, mastambém como um material que po<strong>de</strong> ser transformado <strong>em</strong> situações <strong>de</strong>safiantes esignificativas para que os estudantes integr<strong>em</strong> seus conhecimentos intuitivos e<strong>em</strong>píricos a um saber do ponto <strong>de</strong> vista mais abstrato <strong>de</strong>sejado pela escola.Reconhecer o jogo <strong>de</strong> dominó para a resolução das situações probl<strong>em</strong>as noensino, po<strong>de</strong> ser um recurso <strong>de</strong> interesse para incr<strong>em</strong>entar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sala <strong>de</strong>aula valorizando mais o processo <strong>de</strong> aquisição do conhecimento dos estudantes.Macedo, citado por Brenelli (1996), levanta a hipótese <strong>de</strong> que jogos sãoinstrumentos po<strong>de</strong>rosos para a análise dos processos <strong>de</strong> pensamento e construçãodo conhecimento consi<strong>de</strong>rando os limites <strong>de</strong> cada um. Jogos, particularmente os <strong>de</strong>regras, são característicos por propor<strong>em</strong> aos educandos uma situação probl<strong>em</strong>acomo objetivo a ser alcançado, no entanto, para isso, um conjunto <strong>de</strong> regras <strong>de</strong>veser cumprido.Sob o ponto <strong>de</strong> vista da psicopedagogia a importância <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong>“permitir, ainda que indiretamente, uma aproximação do mundo mental da criança,pela análise dos meios, dos procedimentos utilizados ou construídos durante o jogo”.(BRENELLI, 1996, p. 25).Os jogos po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como meios para a compreensão dosprocessos cognitivos dos estudantes. De acordo com Piaget (2006), os jogos<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> as percepções e a inteligência da criança, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> também, suastendências a fazer experimentações, b<strong>em</strong> como, seus instintos sociais.O jogo, para ele, é consi<strong>de</strong>rado um meio po<strong>de</strong>roso para a aprendizag<strong>em</strong>, épor esse motivo que “<strong>em</strong> todo lugar on<strong>de</strong> se consegue transformar <strong>em</strong> jogo ainiciação à leitura, ao cálculo, ou à ortografia, observa-se que as crianças seapaixonam por essas ocupações comumente tidas como maçantes”. (PIAGET, 2006,p.158-159).


42Esta colocação <strong>de</strong> Piaget sugere um aprendizado na relação do sujeito como meio, seja ele físico ou social, mas não <strong>de</strong> maneira isolada, é preciso agir sobre omeio, estimulá-lo, modificá-lo. Sugere também que aulas expositivas e explicaçõesdo tipo verbal normalmente são maçantes, causando o <strong>de</strong>sprazer na aprendizag<strong>em</strong>e, conseqüent<strong>em</strong>ente, insuficiente para garantir a construção do conhecimento.Jesus e Fini (2001) apresentam uma alternativa para a aprendizag<strong>em</strong>significativa <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática através do jogo <strong>de</strong> regra dominó, proporcionandocondições para que os sujeitos pratiqu<strong>em</strong> mentalmente as operações mat<strong>em</strong>áticascom números naturais. Para esses autores, os sujeitos envolvidos com o jogo <strong>de</strong>dominó estão propiciando ajuda mútua no processo educativo, no contexto <strong>de</strong> suainteração social. Além disso, esse jogo proporciona aos estudantes com dificulda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, motivações e estímulos à participação.Os recursos ou materiais <strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong> todo o tipo, <strong>de</strong>stinadosa atrair o aluno para o aprendizado mat<strong>em</strong>ático, po<strong>de</strong>m fazer comque ele focalize com atenção e concentração o conteúdo a seraprendido. Estes recursos po<strong>de</strong>rão atuar como catalisadores doprocesso natural <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, aumentando a motivação eestimulando o aluno, <strong>de</strong> modo a aumentar a quantida<strong>de</strong> e aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus estudos. (JESUS & FINI, 2001, p. 139).Brenelli (1996) coloca que a aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados conteúdos damat<strong>em</strong>ática não se constitui através <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> m<strong>em</strong>orização. Neste caso, qual éentão, o melhor caminho que possa permitir um aprendizado significativo dosconteúdos essenciais da mat<strong>em</strong>ática?Uma resposta a essa questão po<strong>de</strong> ser adotando o jogo <strong>de</strong> dominó <strong>em</strong>situações <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> que proporcion<strong>em</strong> a evolução da compreensão e dodomínio <strong>de</strong> conteúdos mat<strong>em</strong>áticos a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios. As situações <strong>de</strong>safiantes ao“mexer” com o cognitivo do sujeito po<strong>de</strong>m proporcionar um aprendizado maissignificativo. Quando um sujeito age sobre um material concreto, o aprendizadopo<strong>de</strong> se tornar agradável e prazeroso, os sujeitos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar interesse <strong>em</strong>apren<strong>de</strong>r.Conforme aponta Moreira (citado por BRENELLI,1996), trabalhar aeducação mat<strong>em</strong>ática numa perspectiva <strong>de</strong> jogos, não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rá-la comobrinca<strong>de</strong>ira, mas sim, a brinca<strong>de</strong>ira como suporte para a evolução <strong>de</strong> conteúdossist<strong>em</strong>atizados.


43Nessa concepção está implícita a idéia <strong>de</strong> que jogos são bons instrumentospara o ensino <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática. Se levados a sério, po<strong>de</strong>m servir para a introdução <strong>de</strong>novas dinâmicas <strong>em</strong> salas <strong>de</strong> aulas, promovendo motivações para os estudantes epara os professores, servindo <strong>de</strong> experiências gratificantes.Nesta visão, o trabalho do professor a partir <strong>de</strong> jogos, consiste numprocesso <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> que interliga pensamentos abstratos a partir <strong>de</strong> umcontexto <strong>em</strong>pírico, socialmente construído, correlacionando trocas <strong>de</strong> experiências<strong>em</strong> busca do conhecimento e da tomada <strong>de</strong> consciência das abstrações pertinentes.Piaget (1978) se refere a duas abstrações: a abstração <strong>em</strong>pírica que se dá apartir dos objetos, permitindo que o sujeito perceba alguma particularida<strong>de</strong> do objetoe a abstração reflexiva que se refere às coor<strong>de</strong>nações das ações dos sujeitos sobreos objetos. Por ex<strong>em</strong>plo: um cálculo a ser feito envolvendo diretamente o objeto,refere-se à abstração <strong>em</strong>pírica, já a utilização dos processos transitivos necessáriosà conclusão do cálculo, refere-se à abstração reflexiva.A abstração reflexiva para Piaget (1978) correspon<strong>de</strong> aos “momentossucessivos da tomada <strong>de</strong> consciência e da compreensão” (p. 134) e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> donível cognitivo que o sujeito está.Zoia (2004) coloca que se o professor souber elaborar materiais concretos efizer perguntas a<strong>de</strong>quadas, está criando alternativas para que as crianças chegu<strong>em</strong>à solução até mesmo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as consi<strong>de</strong>rados complexos. “A utilização <strong>de</strong>material concreto e as solicitações <strong>de</strong> justificativas da solução <strong>de</strong> cada probl<strong>em</strong>aapresentam-se como recursos eficientes para permitir acompanhar e reconhecer oraciocínio dos alunos”. (ZOIA, 2004, p. 54).Um ex<strong>em</strong>plo disso po<strong>de</strong> ser encontrado na proposta <strong>de</strong> Jesus e Fini (2001),tal como segue: qual é o valor <strong>de</strong> x na expressão: x + 3 = 9? Ao invés <strong>de</strong> pedir paraque os alunos indiqu<strong>em</strong> a resposta <strong>de</strong> x + 3 = 9, po<strong>de</strong> ser pedido que respondam: “játive três anos, agora tenho nove”, quantos anos se passaram?Ambas são situações probl<strong>em</strong>as, que po<strong>de</strong>m ser adaptadas ao jogo <strong>de</strong>dominó e que exig<strong>em</strong> raciocínio. “A diferença é que, no segundo caso, o alunoobriga-se a realizar uma interpretação da linguag<strong>em</strong> falada, para <strong>de</strong>pois, transformálana linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática”. (ECHEVERRÍA 3 apud POZO, 1998, p. 49).3 Tipos <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no ensino <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática: Departamento <strong>de</strong> Psicologia Básica, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Psicologia daUniversida<strong>de</strong> Autônoma <strong>de</strong> Madrid.


44Se a interpretação for b<strong>em</strong> feita, a resposta do probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> surgir porcaminhos diferentes daqueles que exig<strong>em</strong> a construção <strong>de</strong> algoritmos ou necessitamda utilização <strong>de</strong> fórmulas específicas.Para Macedo (1997), a compreensão <strong>de</strong> uma situação apresentada porescrito po<strong>de</strong> ser até mais difícil do que solucionar o próprio probl<strong>em</strong>a, no sentido <strong>de</strong>que “ao ler, ainda que apenas uma frase, é necessário um trabalho <strong>de</strong> interpretação<strong>de</strong> texto, s<strong>em</strong> o qual não é possível sequer arriscar uma resposta”. (MACEDO, 1997p. 108). Essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar o jogo <strong>em</strong> texto implica:(...) interpretar as informações nele contidas, fazendo <strong>de</strong>ssa situaçãoalgo que, por correspondência, po<strong>de</strong> substituir o jogo, tornando-opassível <strong>de</strong> repetição. Todo esse processo dá, aos alunos,professores e psicopedagogos condição <strong>de</strong> rever os procedimentosadotados, visando melhorar a qualida<strong>de</strong> das ações executadas.(MACEDO, 1997, p.108-109).Nesta perspectiva, a partir da leitura, o conhecimento novo e a assimilação<strong>de</strong>sse conhecimento ficam condicionados às habilida<strong>de</strong>s e as dificulda<strong>de</strong>s expressaspelos sujeitos. Os sujeitos utilizam suas próprias habilida<strong>de</strong>s para resolver<strong>em</strong> seusprobl<strong>em</strong>as, respon<strong>de</strong>m para si mesmos às perturbações provocadas pelaassimilação do novo conhecimento.Becker (1993) aponta que o conhecimento se constitui a partir da interaçãoentre sujeito e meio, mas não <strong>de</strong> forma isolada. O meio precisa ser estimulado,modificado, pois, por si só, não se caracteriza estímulo. N<strong>em</strong> o sujeito, sozinho, secaracteriza como sujeito. É preciso que haja a inter-relação entre sujeito e meio parahaver conhecimento.A observação <strong>de</strong> Becker (1993) nos permite proce<strong>de</strong>r a uma avaliação <strong>em</strong>nível da interpretação e da compreensão que os alunos <strong>de</strong>monstram durante oprocesso <strong>de</strong> ensino e aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática: Asfamiliarida<strong>de</strong>s com a linguag<strong>em</strong>, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação e a apropriação dosaber proposto pelo material po<strong>de</strong>m implicar na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as.As dificulda<strong>de</strong>s apresentadas pelos alunos diante <strong>de</strong> uma situação probl<strong>em</strong>apo<strong>de</strong>m estar relacionadas à Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Proximal expressa porVygotsky (1991). Esse autor coloca que a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento está relacionadacom a distância entre o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real (o que sujeito é capaz <strong>de</strong> fazersozinho) e o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial (aquilo que o sujeito po<strong>de</strong>


45<strong>de</strong>senvolver com a ajuda ou a orientação <strong>de</strong> um companheiro ou <strong>de</strong> uma pessoamais velha).Quando se <strong>de</strong>seja trabalhar conteúdos mat<strong>em</strong>áticos utilizando as peças dojogo <strong>de</strong> dominó como instrumento <strong>de</strong> ensino, o professor t<strong>em</strong> uma série <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s e variações que po<strong>de</strong>m ser utilizadas. No entanto, é importante quesaiba transformá-las <strong>em</strong> situações <strong>de</strong>safiadoras e prazerosas para os educandos.Piaget (1972) quando argumenta sobre os processos <strong>de</strong> reversibilida<strong>de</strong> dasoperações básicas da mat<strong>em</strong>ática, tal como: a operação inversa da adição é asubtração, a da multiplicação é a divisão, enten<strong>de</strong> que esses processos estãoligados ao caráter específico da inteligência do aluno.É possível pensar que ao adaptar as operações mat<strong>em</strong>áticas às peças dojogo <strong>de</strong> dominó através <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os estar contribuindo para que osalunos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penh<strong>em</strong> o conhecimento das operações reversíveis da mat<strong>em</strong>áticadurante a interação com seu parceiro. Nesse ponto <strong>de</strong> vista, Piaget (1972),reconhece que os alunos po<strong>de</strong>m “construir hipóteses e <strong>de</strong>pois afastá-las para voltarao ponto <strong>de</strong> partida, percorrer um caminho e refazê-lo no sentido inverso”. (PIAGET,1972, p. 25). O pensamento segundo Piaget (1972) é livre para fazer opções <strong>de</strong>escolha, <strong>de</strong>sta forma o sujeito po<strong>de</strong> chegar a um mesmo resultado utilizandocaminhos diversificados.Os trabalhos <strong>de</strong> Kamii (1992, 1994 e 1995), citados por Guimarães (1998),apontam à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar o ensino da Mat<strong>em</strong>ática:Os professores <strong>de</strong>veriam propor mais <strong>de</strong>safios às crianças,permitindo que, por meio <strong>de</strong> suas experiências, <strong>de</strong>scobertas,questões e representações, possam passar da ação à operação,construindo seus conhecimentos. Com isso, a Mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>ixaria<strong>de</strong> valorizar os procedimentos mecânicos que, do ponto <strong>de</strong> vistapiagetiano, não garant<strong>em</strong> que houve realmente construção (p. 17).Quando se <strong>de</strong>seja analisar capacida<strong>de</strong>s para resolver probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos a partir <strong>de</strong> situações adaptadas às peças do jogo <strong>de</strong> dominó, énecessário propor caminhos alternativos que lev<strong>em</strong> os sujeitos a se envolver<strong>em</strong> comuma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos. Não basta saber resolver um probl<strong>em</strong>apara se ter capacida<strong>de</strong> como resolvedor, mas, compreen<strong>de</strong>ndo os caminhos, po<strong>de</strong>ser que algum sujeito tente a solução <strong>de</strong> outros probl<strong>em</strong>as, <strong>em</strong> outros contextos.


46Sternberg (1992) diz que um método que po<strong>de</strong> ser útil para avaliar àimportância <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s estratégicas é instruir os educandos para utilizar b<strong>em</strong>essas estratégias. Como nosso <strong>de</strong>sejo é analisar o potencial dos sujeitos pararesolver<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as adaptados às peças do jogo, uma boa estratégia é fazer usoda intervenção dialogada.Tais intervenções interfer<strong>em</strong> nas capacida<strong>de</strong>s cognitivas dos sujeitos, umavez que necessitam rever suas ações quando solicitados a explicar<strong>em</strong> osprocedimentos <strong>de</strong> resolução adotados. As estratégias proporcionadas pelo materialserv<strong>em</strong> <strong>de</strong> estímulos no momento que, após as intervenções, os sujeitos retornamao seu ponto <strong>de</strong> partida para tomar<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões individualizadas (procurar asrespostas dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó).As intervenções po<strong>de</strong>m ser um meio que possibilite aos sujeitos exteriorizaras representações internas que possu<strong>em</strong> dos objetos discutidos, manifestandoatravés da comunicação verbal e <strong>de</strong> símbolos ou notações que são expressõesusuais da mat<strong>em</strong>ática. Sobre o assunto, Teixeira (2005) acrescenta: “a apreensãoconceitual dos objetos mat<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> vários registros <strong>de</strong>representação s<strong>em</strong>iótica e mediante essa coor<strong>de</strong>nação ocorre dissociação entreobjetos e suas representações possíveis” (p. 23).Em síntese: as dificulda<strong>de</strong>s apresentadas pelos sujeitos da pesquisarequer<strong>em</strong> novos procedimentos <strong>de</strong> ensino no campo da Educação Mat<strong>em</strong>ática; umapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> trocando conhecimentos a partir da interação com o meioconcreto é viável tendo <strong>em</strong> vista a importância dada pelos autores citados; umambiente <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática com foco no jogo <strong>de</strong> dominó modificado érelevante dada às diversas possibilida<strong>de</strong>s que o jogo permite; as intervençõesdialogadas são procedimentos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> dupla via on<strong>de</strong> pesquisador-alunopesquisadorinterag<strong>em</strong> através <strong>de</strong> ações recíprocas num ambiente agradável,incluindo saberes e valores manifestados no processo.


476 METODOLOGIAPara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa foi feito um estudo, parcialmente<strong>de</strong>scritivo, no momento que apresentamos estatisticamente, os percentuais <strong>de</strong>acertos dos sujeitos no pré-teste e no pós-teste. Segundo Sampieri (1998), nessetipo <strong>de</strong> estudo o pesquisador po<strong>de</strong> selecionar uma série <strong>de</strong> questões, medir cadauma <strong>de</strong>las, no sentido <strong>de</strong> precisar um valor, para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>screver o que <strong>de</strong>seja.Por outro lado, trata-se <strong>de</strong> um estudo parcialmente correlacional, uma vezque apresentamos uma série <strong>de</strong> indicadores, que se manifestam <strong>em</strong> “grau maior oumenor”, diante da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos discutidos com os sujeitos.A parte <strong>de</strong>scritiva enquadra-se numa análise quantitativa, enquanto que acorrelacional, faz parte <strong>de</strong> uma análise qualitativa.Adota-se o conceito <strong>de</strong> pesquisa qualitativa na visão <strong>de</strong> Lüdke (1986),levando <strong>em</strong> conta que: são apresentadas com freqüência, citações dos sujeitos paraesclarecer um ponto <strong>de</strong> vista; nossa preocupação é o processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> enão o produto; o foco <strong>de</strong> atenção são os diferentes pontos <strong>de</strong> vistas e significadosque os sujeitos atribu<strong>em</strong> às intervenções do pesquisador, ou seja, como os sujeitosencaram as questões que estão sendo tratadas.Não se trata <strong>de</strong> uma pesquisa experimental e n<strong>em</strong> quase experimental, esim, <strong>de</strong> intervenções, no sentido <strong>de</strong> estar presente, dialogando com os sujeitosorganizados <strong>em</strong> duplas. Tais intervenções implicam numa série <strong>de</strong> indicadores queforam analisados, discutidos e justificados a partir <strong>de</strong> citações relativas aos pontos<strong>de</strong> vistas dos sujeitos diante dos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> discussão.Os resultados das intervenções não foram quantificados estatisticamente,nosso interesse não é o número <strong>de</strong> acertos ou erros dos sujeitos, e sim, a forma comque se manifestam na presença do pesquisador e do seu parceiro quando seexpressam e formalizam suas manifestações resolvendo probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.6.1 PROBLEMA DA PESQUISAEsta pesquisa teve a intenção <strong>de</strong> buscar resposta ao seguinte probl<strong>em</strong>a:Como se <strong>de</strong>senvolve a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as adaptados às peças do jogo <strong>de</strong>dominó com crianças <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social?


486.2 OBJETIVOS6.2.1 Geral• Contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo resolvendo probl<strong>em</strong>asaritméticos <strong>em</strong> duplas.6.2.2 Específicosa. Conhecer a história <strong>de</strong> vida dos sujeitos, no contexto escolar, paraposterior encaminhamento das ativida<strong>de</strong>s mat<strong>em</strong>áticas;b. Verificar a familiarida<strong>de</strong> com o domínio das operações básicas;c. Verificar o uso <strong>de</strong> estratégias para resolver probl<strong>em</strong>as;d. Analisar a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos;e. Analisar o potencial para resolver probl<strong>em</strong>as utilizando as peças dojogo <strong>de</strong> dominó <strong>em</strong> duplas.6.3 PRESSUPOSTOPartimos do pressuposto <strong>de</strong> que: as intervenções feitas pelo pesquisadoratravés <strong>de</strong> questionamentos, interfer<strong>em</strong> nos processos cognitivos, uma vez que essaprática leva o sujeito à reflexão e a revisão das ações durante o processo <strong>de</strong>resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.6.4 SELEÇÃO DOS SUJEITOS6.4.1 Características dos sujeitosOs sujeitos <strong>de</strong>sta pesquisa são:• Adolescentes do sexo masculino abrigados na ONG;• Regularmente matriculados nas escolas <strong>de</strong> 5ª a 8ª séries do EnsinoFundamental;• As ida<strong>de</strong>s variam entre 13 e 17 anos;• Apresentam históricos escolares distorcidos <strong>em</strong> função da ida<strong>de</strong> e série;• Apresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> conteúdos el<strong>em</strong>entares da mat<strong>em</strong>ática naescola;


49• São sujeitos vulneráveis socialmente que sofreram negligência,abandono, conflito com a lei, abuso <strong>de</strong> drogas, etc.6.4.2 Escolha dos sujeitos.• O critério <strong>de</strong> escolha dos sujeitos foi aleatório, consi<strong>de</strong>ramos apenas aida<strong>de</strong> e a série <strong>em</strong> que estavam matriculados na escola;• Foram escolhidos 10 (<strong>de</strong>z) sujeitos para o estudo inicial – 02 <strong>de</strong> 13anos, 5ª série, 03 <strong>de</strong> 14 anos, 6ª série, 01 <strong>de</strong> 15 anos, 5ª série, 01 <strong>de</strong>15 anos, 8ª série, 01 <strong>de</strong> 16 anos, 5ª série, 01 <strong>de</strong> 16 anos, 7ª série e 01<strong>de</strong> 17 anos, 6ª série;• Dos 10 (<strong>de</strong>z) participantes acima, ficaram 08 (oito) para o estudoprincipal, 02 (dois) <strong>de</strong>sistiram da pesquisa - 01 <strong>de</strong> 13 anos, 5ª série, 03<strong>de</strong> 14 anos, 6ª série, 01 <strong>de</strong> 15 anos, 8ª série, 01 <strong>de</strong> 16 anos, 7ª série,01 <strong>de</strong> 17 anos, 6ª série e 01 <strong>de</strong> 16 anos, 5ª série.6.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOSA coleta dos dados <strong>de</strong>u-se da seguinte maneira:• Um estudo piloto com quatro sujeitos on<strong>de</strong> mensuramos os erros nasoperações básicas <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática envolvendo a resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as;• Uma entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada utilizando o Método Clínico <strong>de</strong> Piaget;• Um pré-teste individual contendo quatro probl<strong>em</strong>as aritméticos – anexoI;• Uma sessão <strong>de</strong> intervenções por grupo, on<strong>de</strong> dialogamos oitoprobl<strong>em</strong>as diferentes para cada grupo, adaptados às peças do jogo <strong>de</strong>dominó utilizando o Método Clínico <strong>de</strong> Piaget;• Um pós-teste individual imediatamente após o término da sessão <strong>de</strong>intervenções por grupo - anexo II.


506.5.1 Estudo piloto 4O pesquisador distribuiu 56 probl<strong>em</strong>as individualmente para quatro sujeitos:(JF) 13 anos, 6ª série, (LAEL) 14 anos, 6ª série, (WAL) 12 anos, 5ª série e (RSS) 14anos, 6ª série. Os sujeitos (LAEL) e (WAL), só participaram do piloto, enquanto que(JF) e (RSS), continuaram fazendo parte da pesquisa. O pré-teste individual e escritoteve por objetivo verificar a capacida<strong>de</strong> do domínio das operações <strong>de</strong> adição,subtração, multiplicação e divisão. Os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos que foramdisponibilizados aos sujeitos no piloto, são os mesmos probl<strong>em</strong>as dialogados nasintervenções. O resultado está <strong>de</strong>monstrado no quadro abaixo.QUADRO 01 - RESULTADO DO PRÉ-TESTE/ESTUDO PILOTO.------------- Wal Lael JF RSSoperação Erros Erros Erros Erros+ 0 0 1 4- 1 1 8 5× 3 1 3 6÷ 2 0 10 8total 6 2 22 23O quadro 01 <strong>de</strong>monstra o número <strong>de</strong> erros dos sujeitos nas operações <strong>de</strong> adição,subtração, multiplicação e divisão.Após feita a correção dos 56 probl<strong>em</strong>as apresentados aos sujeitos, <strong>de</strong>acordo com o anexo IV, mostramos no quadro acima, a operação mat<strong>em</strong>ática qu<strong>em</strong>ais erros apresenta. A operação <strong>de</strong> divisão, está <strong>em</strong> primeiro lugar, seguida pelasoperações <strong>de</strong> subtração e <strong>de</strong> multiplicação. De acordo com (PIAGET, 1985, p. 72),essas construções “são sintetizadas numa composição simultânea ao invés <strong>de</strong>ser<strong>em</strong> efetuadas sucessivamente”.Os dois sujeitos que mais apresentaram erros nas contas <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>áticaforam (JF) 13 anos, 6ª série e (RSS) 14 anos, 6ª série. Com esses dois sujeitospraticamos 03 sessões experimentais e 02 pós – testes.4 O estudo piloto foi discutido no IX EPREM – Encontro Paranaense <strong>de</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> AssisChateaubriand <strong>em</strong> 2007 e t<strong>em</strong> como titulo: “O Jogo <strong>de</strong> Dominó Como Espaço Para a Construção doConhecimento Mat<strong>em</strong>ático” e está publicado <strong>em</strong> mídia – CD.


51O primeiro pós-teste aconteceu imediatamente após as sessõesexperimentais e o segundo, uma s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong>pois. Na discussão dos resultados foiverificado uma melhora que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada significativa no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong>(JF) e <strong>de</strong> (RSS) <strong>em</strong> comparação ao pré-teste, o que motivou a continuida<strong>de</strong> dapesquisa.As sessões experimentais foram feitas utilizando os probl<strong>em</strong>as adaptados àspeças do jogo e o tablado do jogo <strong>de</strong> dominó. Os sujeitos liam os probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong>silêncio e procuravam as respostas no tablado do jogo. Observe as figuras abaixo.Ilustração 01: probl<strong>em</strong>as dispostos sobre as peças do jogo <strong>de</strong> dominó.Ilustração 02: Sujeito procurando a resposta dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo.


52Após o término <strong>de</strong> cada sessão o pesquisador anotava <strong>em</strong> uma planilha asoperações mat<strong>em</strong>áticas erradas.Na primeira sessão (JF) errou, 1 operação <strong>de</strong> subtração, 1 <strong>de</strong> multiplicaçãoe 2 <strong>de</strong> divisão, enquanto que (RSS) não errou nenhuma das operações, num total <strong>de</strong>14 probl<strong>em</strong>as para cada sujeito, isto é, 02 probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> cada peça do jogo.Na segunda sessão (JF) errou, 2 operações <strong>de</strong> divisão e (RSS) errou, 1 <strong>de</strong>multiplicação e 1 <strong>de</strong> divisão; na terceira sessão (JF) errou, 4 operações <strong>de</strong> divisão e(RSS) errou, 1 <strong>de</strong> divisão.O quadro abaixo <strong>de</strong>monstra o resultado do primeiro pós-teste, que foi feitocom os quatro sujeitos imediatamente após as três sessões experimentais. Foramresolvidos os mesmos 56 probl<strong>em</strong>as do pré-teste individualmente.QUADRO 02 – RESULTADO DO PRIMEIRO PÓS-TESTE/ESTUDO PILOTOOperação Wal Lael JF RSSMat. erros erros erros erros+ 0 0 0 0- 0 0 4 2× 0 0 3 0÷ 1 0 7 3Total 1 0 14 5Fazendo a correlação entre o pré-teste e o primeiro pós-teste é possívelobservar uma diferença no número <strong>de</strong> erros das operações mat<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong> todos ossujeitos. Esse resultado po<strong>de</strong> ter sido influenciado pelas sessões experimentais. Oque po<strong>de</strong> caracterizar que os sujeitos se sentiram familiarizados aos procedimentosadotados pelo pesquisador.No segundo pós-teste que foi feito uma s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong>pois e que estárepresentado no quadro seguinte, também foram resolvidos os mesmos 56probl<strong>em</strong>as do pré-teste.


53QUADRO 03 – RESULTADO DO SEGUNDO PÓS-TESTE/ESTUDO PILOTOOperação Wal Lael JF RSSMat. erros erros erros erros+ 2 0 2 0- 1 0 2 0× 2 0 2 2÷ 1 4 2 2Total 6 4 8 4Comparando o primeiro com o segundo pós-teste, observa-se um avançosignificativo. Os sujeitos <strong>de</strong>monstraram que é possível dominar as operaçõesbásicas da mat<strong>em</strong>ática, <strong>em</strong>bora para Micotti (2001), resolver probl<strong>em</strong>as com asquatro operações não é suficiente para garantir o domínio das mesmas.Para Piaget (1978) o conhecimento só se constitui por tomada <strong>de</strong>consciência posterior a ação e que as ações caracterizam:Um conhecimento (savoir faire) autônomo, cuja conceituaçãosomente se efetua por tomadas <strong>de</strong> consciência posteriores e queestas proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> acordo com uma lei <strong>de</strong> sucessão que conduz daperiferia para o centro, isto é, partindo das zonas <strong>de</strong> adaptação aoobjeto para atingir as coor<strong>de</strong>nações internas das ações (PIAGET,1978, p. 172).Os resultados apontam que os sujeitos souberam utilizar as estratégiasproporcionadas pelo material concreto, agindo sobre o mesmo, <strong>em</strong>bora fosse umanovida<strong>de</strong> para eles.Sternberg (1992) coloca que um método útil para avaliar a importância <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s estratégicas é instruir os educandos para utilizar b<strong>em</strong> essas estratégias.No nosso caso, uma boa maneira <strong>de</strong> fazer isso foi observar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong>indivíduos que não conheciam o material e comparar esse <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho com arealização <strong>de</strong> tarefas após a utilização das estratégias adaptadas ao material.O estudo piloto foi <strong>de</strong> fundamental importância para o encaminhamento<strong>de</strong>sta pesquisa, pois <strong>em</strong>bora tenha sido apresentado no IX Encontro Paranaense <strong>de</strong>Mat<strong>em</strong>ática como mencionamos anteriormente, permitiu também a discussão <strong>em</strong>odificações apontadas pela banca <strong>de</strong> qualificação que acompanhou a pesquisa doprincípio ao fim.


546.5.2 Entrevista s<strong>em</strong>i-estruturadaA entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada se <strong>de</strong>senvolve, segundo Lüdke (1986), por via<strong>de</strong> um esqu<strong>em</strong>a básico que não necessariamente precisa ser aplicado <strong>de</strong> maneirarígida, além <strong>de</strong> permitir que o pesquisador possa fazer as adaptações necessárias.Já a estruturada por sua vez, visa à obtenção <strong>de</strong> resultados imediatos, geralment<strong>em</strong>ediante tratamentos estatísticos.A entrevista teve como objetivos: conhecer a história <strong>de</strong> vida dos sujeitos,participantes do estudo inicial, no contexto escolar, particularmente o contextomat<strong>em</strong>ático, antes <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados na ONG e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados naONG; conhecer as concepções dos sujeitos <strong>em</strong> relação à mat<strong>em</strong>ática, à resolução<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as e as dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r os conteúdos el<strong>em</strong>entares;perceber a “auto-estima” para enfrentar os estudos na escola; dar vez e voz paraque pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> expressar suas concepções a respeito da mat<strong>em</strong>ática.A entrevista foi <strong>de</strong> fundamental importância para que pudéss<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir o probl<strong>em</strong>ada pesquisa e elaborar os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos a ser<strong>em</strong> discutidos. Com base naentrevista, procuramos criar os probl<strong>em</strong>as o mais próximo da realida<strong>de</strong> dos sujeitos.A entrevista foi gravada <strong>em</strong> fita k7 e transcrita <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> narrativa. A análise dosdados da entrevista está inserida no capítulo 06.6.5.3 Pré-teste - estudo principalFoi feita uma avaliação com os 08 sujeitos participantes do estudo principal,objetivando verificar o conhecimento das operações <strong>de</strong> adição, subtração,multiplicação e divisão. Foram sorteados 04 probl<strong>em</strong>as dos 56 constantes no anexoIV.A avaliação foi escrita e individual. Foi solicitado aos sujeitos queresolvess<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as (apêndice I) explicando como fizeram para resolverutilizando lápis. Foi dito aos sujeitos que evitass<strong>em</strong> a resposta mental, exigindo queapresentass<strong>em</strong> alguma outra forma <strong>de</strong> esclarecer as respostas dadas aosprobl<strong>em</strong>as.Os probl<strong>em</strong>as foram corrigidos pelo pesquisador adotando o seguintecritério: cada resposta apresentada e explicada, através <strong>de</strong> algum procedimentomat<strong>em</strong>ático, teria peso <strong>de</strong> 25%, enquanto que as respostas, somente por escrito,


55s<strong>em</strong> a utilização <strong>de</strong> algum símbolo mat<strong>em</strong>ático, o peso seria <strong>de</strong> 12,5%. Este critériovai ao encontro <strong>de</strong> um dos objetivos da pesquisa que é a verificação da capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> dominar as operações básicas da mat<strong>em</strong>ática.Se o sujeito escreve e justifica a resposta do probl<strong>em</strong>a por meio <strong>de</strong> algumalgoritmo, po<strong>de</strong> sinalizar alguma familiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio das operaçõesel<strong>em</strong>entares, numa perspectiva diferente da constatada no estudo piloto. Salienta-seque no estudo piloto, os sujeitos resolviam os probl<strong>em</strong>as s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>explicação dos caminhos percorridos.Após as correções, o pesquisador apresenta os percentuais <strong>de</strong> acertos nopré-teste, que não foram consi<strong>de</strong>rados como critérios para excluir ou incluir o sujeitona sessão mediada pelo pesquisador. Esses percentuais foram inseridos para ser<strong>em</strong>comparados com o pós-teste que ocorreu <strong>de</strong>pois das intervenções. Todos ossujeitos participaram <strong>de</strong> uma sessão <strong>de</strong> intervenções <strong>em</strong> dupla, envolvendo 08probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos diferentes por dupla.6.5.4 Intervenções dialogadas - estudo principalLogo <strong>de</strong>pois da avaliação inicial (pré-teste), o pesquisador constituiu 04grupos, <strong>de</strong> 02 sujeitos, para participar<strong>em</strong> das intervenções. Não houve critério paraformação dos grupos. Eles escolheram seus pares.Foram disponibilizados aos sujeitos: lápis, folhas <strong>de</strong> papel <strong>em</strong> branco, umtablado <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira contendo as representações das peças do jogo <strong>de</strong> dominóidêntico ao do estudo piloto e 25 peças do jogo contendo 02 probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticoscolados <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong>las.Retiramos as 03 peças do jogo que continham os probl<strong>em</strong>as resolvidos naavaliação inicial para não ser<strong>em</strong> repetidos. Cada grupo trabalhou com probl<strong>em</strong>asdiferentes durante as intervenções, evitando repetição, visto tratar-se <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asel<strong>em</strong>entares. O pesquisador solicitou que cada el<strong>em</strong>ento do grupo sorteasse duaspeças do jogo com os probl<strong>em</strong>as adaptados para ser<strong>em</strong> discutidos.Solicitou também, ao iniciante, que lesse <strong>em</strong> voz alta, um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cadavez, dos escolhidos, e, apresentasse a resposta. Caso o iniciante não soubesse aresposta, o pesquisador solicitava que seu parceiro o ajudasse.


56Após ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>batidos os probl<strong>em</strong>as, o pesquisador solicitava ao sujeito queestivesse com a peça na mão, que encontrasse a resposta no tabuleiro do jogo <strong>de</strong>dominó. Esta solicitação fez com que o sujeito retornasse a posição inicial,retomando o processo <strong>de</strong> leitura e interpretação para <strong>de</strong>pois procurar a respostacorreta ou errada no tabuleiro do jogo.Durante as intervenções o pesquisador solicitou aos sujeitos queexplicass<strong>em</strong> como fizeram para resolver os probl<strong>em</strong>as, transcrevendo osprocedimentos na folha. As intervenções foram gravadas <strong>em</strong> fita k7, filmadas etiveram duração aproximada <strong>de</strong> 20 a 30 minutos. O método utilizado foi o MétodoClínico <strong>de</strong> Piaget. O capítulo 08 <strong>de</strong>screve na íntegra como se <strong>de</strong>senvolveram asdiscussões.6.5.5 Pós-teste – estudo principalAssim que encerrou a sessão <strong>de</strong> intervenções por grupo, foi realizada umasegunda avaliação (pós-teste), apêndice II, contendo quatro probl<strong>em</strong>as aritméticosdiferentes dos aplicados no pré-teste. Acrescentamos nesta etapa um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>maior dificulda<strong>de</strong>, que para ser resolvido, necessitou o envolvimento <strong>de</strong> duasoperações mat<strong>em</strong>áticas ao mesmo t<strong>em</strong>po. Após apuradas as correções <strong>de</strong>staavaliação fiz<strong>em</strong>os a comparação dos resultados.6.6 O jogo <strong>de</strong> dominóA idéia <strong>de</strong> trabalhar com probl<strong>em</strong>as adaptados às peças do jogo <strong>de</strong> dominó,foi fundamentada nos trabalhos <strong>de</strong> Jesus & Fini, que consta na obra Psicologia daEducação Mat<strong>em</strong>ática organizada por Brito et. al. (2001). A proposta <strong>de</strong>sses autoresera levar os alunos a dominar<strong>em</strong> as quatro operações básicas através do cálculomental do termo <strong>de</strong>sconhecido <strong>de</strong> uma equação mat<strong>em</strong>ática. O público alvo envolviaalunos da 5ª série do ensino fundamental. Para conhecer a proposta dos autores,observe a ilustração 03 5 .5 É necessário observar que no jogo <strong>de</strong> dominó não existe o n° 8, caso <strong>em</strong> que m=8, na expressão m + 4 = 12 ou16 : m = 2. O que po<strong>de</strong>ria ser questionado pelos jogadores. No entanto a proposta dos autores po<strong>de</strong>ria limitar osvalores no máximo até o número 6, como respostas das expressões, visto que os valores do jogo variam <strong>de</strong> 0 a 6.


57Ilustração 03: Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Jesus & Fini (2001)No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa, contextualizamos os probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos, isto é, substituímos as incógnitas x, y, z, m, etc, que se encontram <strong>de</strong>forma abstrata, por probl<strong>em</strong>as escritos. É uma maneira diferente da apresentadapelos autores. Não se trata <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> regras na sua característica tradicional,mas sim, da construção <strong>de</strong> um material concreto que serviu <strong>de</strong> apoio para que ossujeitos pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> testar suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> familiarização com o objeto concreto,após ter<strong>em</strong> <strong>de</strong>batidos os probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> uma situação virtual.Há um momento da pesquisa que o objeto concreto é esquecido, pois ossujeitos estão envolvidos numa dimensão social com o pesquisador. Porém quandosolicitados que ach<strong>em</strong> as respostas no tablado do jogo, as ações virtuais passam aser reais. No entanto, a maneira como apresentamos o material concreto, po<strong>de</strong> sertrabalhada como jogo <strong>de</strong> regra. Para isso é suficiente que os sujeitos domin<strong>em</strong> asoperações básicas e se habilit<strong>em</strong> a resolver os probl<strong>em</strong>as propostos adotando umestilo <strong>de</strong> competição.Por ex<strong>em</strong>plo: dois sujeitos po<strong>de</strong>m escolher sete peças cada um e apostarqu<strong>em</strong> resolve os quatorze probl<strong>em</strong>as primeiro. As regras po<strong>de</strong>riam ser estipuladasda seguinte forma: os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> adição val<strong>em</strong> 1 ponto, os <strong>de</strong> subtração 2pontos, os <strong>de</strong> multiplicação 3 pontos e os <strong>de</strong> divisão 4 pontos. No material completoexist<strong>em</strong> 14 probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cada tipo <strong>de</strong> operação mat<strong>em</strong>ática, cujas respostas estãoinseridas num intervalo <strong>de</strong> [0 – 0] a [6 – 6].Esta forma <strong>de</strong> trabalhar é viável tendo <strong>em</strong> vista a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s que o jogo permite.


58Ilustração 04: Jogo <strong>de</strong> dominó modificado criado pelo pesquisador.Acreditando que os sujeitos da pesquisa pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r aresolução dos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, foi criado um jogo com probl<strong>em</strong>as aritméticosna forma contextualizada, cujas respostas são os números das peças do jogo <strong>de</strong>dominó como segu<strong>em</strong>: 0-0 0-1,0-2,0-3,0-4,0-5,0-6; 1-1,1-2,1-3,1-4, 1-5,1-6; 2-2,2-3,2-4,2-5,2-6; 3-3,3-4,3-5,3-6; 4-4,4-5,4-6; 5-5,5-6 e 6-6.Ilustração 05: Interpretação e procura das respostas dos probl<strong>em</strong>as após a leitura individual.


59Esta perspectiva permite ao sujeito a reflexão através da leitura, antes <strong>de</strong>,efetivamente, fazer algum cálculo mat<strong>em</strong>ático. Isto é compatível às dificulda<strong>de</strong>s efalta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as apresentadas pelos sujeitos.O jogo criado com probl<strong>em</strong>as escritos facilitou ao pesquisador acontextualização dos mesmos na tentativa <strong>de</strong> aproximar-se do cotidiano dossujeitos. Foram elaborados cinqüenta e seis probl<strong>em</strong>as e colados nas peças do jogo<strong>de</strong> dominó conforme a figura acima. São probl<strong>em</strong>as el<strong>em</strong>entares envolvendo asquatro operações básicas da mat<strong>em</strong>ática.Para verificar a valida<strong>de</strong> do jogo, foi realizado um estudo piloto, ao qual jános referimos anteriormente, com quatro sujeitos, on<strong>de</strong> dois <strong>de</strong>les faz<strong>em</strong> parte doestudo principal da pesquisa. Porém, no estudo piloto foi avaliado somente aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erros nas operações <strong>de</strong> adição, subtração, multiplicação e divisão.Este procedimento foi substituído pelas intervenções, on<strong>de</strong> discutimos asações dos sujeitos numa dimensão virtual <strong>em</strong> conjunto com uma dimensão real,tendo <strong>em</strong> vista a importância que damos ao processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e não,necessariamente, ao produto ou resultados <strong>de</strong> operações mat<strong>em</strong>áticas.6.7 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOSA análise dos dados da entrevista foi feita numa perspectiva qualitativa pormeio da Análise <strong>de</strong> Conteúdo <strong>de</strong> Bardin (1977), a partir da construção <strong>de</strong> categoriase subcategorias conforme os t<strong>em</strong>as <strong>em</strong>ergiram.Os dados das intervenções foram analisados também, através da Análise <strong>de</strong>Conteúdo numa abordag<strong>em</strong> qualitativa, porém, levamos <strong>em</strong> conta três categorias <strong>de</strong>análise. Os dados do pré-teste e pós-teste foram analisados e discutidos numaabordag<strong>em</strong> quantitativa. Enten<strong>de</strong>-se por abordag<strong>em</strong> quantitativa o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dossujeitos no pré-teste e pós-teste; e qualitativa, as manifestações apresentadas pelossujeitos na entrevista, as ações dos sujeitos durante as intervenções, asformalizações por escrito e as reações diante do pesquisador.Para a análise e discussão dos dados o pesquisador seguiu os passosabaixo:


60• Levantamento <strong>de</strong> categorias e subcategorias que foram transcritas <strong>em</strong>forma <strong>de</strong> narrativa a partir das respostas dos sujeitos na entrevista –conforme mo<strong>de</strong>lo apêndice III;• Construção <strong>de</strong> quadro comparativo contendo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dossujeitos no pré-teste;• Levantamento <strong>de</strong> categorias e <strong>de</strong> indicadores estabelecidos a partir dainterpretação das ações dos sujeitos durante as intervenções mediadaspelo pesquisador;• Construção <strong>de</strong> quadro comparativo contendo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dossujeitos no pós-teste;• Construção <strong>de</strong> quadro comparativo contendo o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dossujeitos no pré-teste e pós-teste;• Anotações dos sujeitos durante as intervenções;• Interpretação dos dados consi<strong>de</strong>rando o referencial teórico apropriado.


617 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS – ESTUDO INICIALQUADRO 04 – PERFIL DOS SUJEITOS PARTICIPANTES DA ENTREVISTAN° Sujeitos Ida<strong>de</strong> Sexo Escolarida<strong>de</strong>01 LJS [16,1] M 7ª série02 JPL [14,0] M 6ª série03 EJLM [13,3] M 5ª série04 ASD [16,5] M 5ª série05 DVG [17,8] M 6ª série06 DJP [15,7] M 5ª série07 RFA [13,2] M 5ª série08 FMS [15,4] M 8ª série09 RSS [14,11] M 6ª série10 JF [14,4] M 6ª sérieOs <strong>de</strong>z sujeitos participantes do estudo inicial (entrevista) estão matriculadosnas escolas da periferia da Região <strong>de</strong> Mandirituba, nas séries do ensinofundamental. São sujeitos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s variando entre 13 e 17 anos que não tiveramoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> estudando na fase i<strong>de</strong>al. Destes <strong>de</strong>z sujeitos (RSS) e (JF)participaram do estudo piloto e do estudo principal. (DJP) e (RFA) <strong>de</strong>sistiram <strong>de</strong>continuar na pesquisa.7.1 LEVANTAMENTO DAS CATEGORIAS, SUBCATEGORIAS E CONTEÚDOSASSOCIADOS.A partir da interpretação dos dados da entrevista, foi possível constituir oquadro 05 contendo as categorias, subcategorias e os conteúdos associados queforam analisados consi<strong>de</strong>rando dois momentos: a história <strong>de</strong> vida dos sujeitos antes<strong>de</strong> abrigados na ONG e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> abrigados na ONG. A importância dolevantamento e análise <strong>de</strong>sses instrumentos se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> função da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>conhecer os sujeitos da pesquisa, seus probl<strong>em</strong>as escolares, particularmente osrelacionados à mat<strong>em</strong>ática e serviram <strong>de</strong> base para que pudéss<strong>em</strong>os darprosseguimento à pesquisa.


62QUADRO 05: CATEGORIAS, SUBCATEGORIAS E CONTEÚDOS ASSOCIADOS.Categorias Subcategorias ConteúdosPercepção <strong>de</strong> si Auto-estima Concepção <strong>de</strong> si, auto -estima,angústias,ansieda<strong>de</strong>, conflitos, valores,motivação, reconhecimento<strong>de</strong> si.Percepção da escola Desinteresse pela escola Concepção <strong>de</strong> escola,estímulos,gosto,<strong>de</strong>sinteresse, importância,valor, professores.Concepção da mat<strong>em</strong>ática Não gostar da mat<strong>em</strong>ática Interesses, imag<strong>em</strong>,raciocínio, dificulda<strong>de</strong>s,superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s,esforços, formas <strong>de</strong> ensino.Resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as Pouca familiarida<strong>de</strong> Familiarida<strong>de</strong>, elaboração <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as, importância,aplicação.Operações mat<strong>em</strong>áticas Ausência <strong>de</strong> domínio Operações básicas,dificulda<strong>de</strong>s, domínio,cálculos, tabuadas.Jogos pedagógicos Não familiarida<strong>de</strong> Pouco conhecimento,importância, percepção,inteligência, aulas maçantes,jogo <strong>de</strong> dominó.A análise das categorias, subcategorias e dos conteúdos, que foi feita combase no método <strong>de</strong> Bardin (1977), constitui-se basicamente das citações dossujeitos <strong>em</strong> resposta às perguntas do pesquisador seguindo uma abordag<strong>em</strong>qualitativa. A discussão dos dados da entrevista ficou restrita à literatura científica <strong>de</strong>Freire (1996), Bronfenbrenner (1996) e Piaget (2006).


637.1.1 ANÁLISE QUALITATIVA DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS ANTESDOS SUJEITOS ESTAREM ABRIGADOS NA ONG.Ao dar vez e voz às crianças para que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> expressar suas angústiasantes <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados na ONG, a categoria “percepção <strong>de</strong> si” permitiu umamaior aproximação e conhecimento dos sujeitos. Seus valores, seus probl<strong>em</strong>as,suas ansieda<strong>de</strong>s e sua auto-estima, o que nos proporcionou uma profunda reflexão,no sentido <strong>de</strong> dar encaminhamento às ativida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> se tratando <strong>de</strong> um terrenofrágil e sensível.Para enriquecer a análise <strong>de</strong>sta categoria segu<strong>em</strong> os <strong>de</strong>sabafos <strong>de</strong> algunssujeitos diante da solicitação: [...] Conte a história da sua vida antes <strong>de</strong> vir para aONG.“[...], eu morava com minha mãe, minha mãe era drogada, daí não <strong>de</strong>u certopra mim ficar com ela, eu fiquei até os cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com ela, daí eu fui morarnum Lar, num Abrigo que ficava ali na Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba” (JF);“Eu morava na rua, fumava droga, cherava cola, robava bolsa, nãoestudava” (RFA); “Eu era um menino, b<strong>em</strong> dizê, maloquero, assim [...] eu andava narua, eu usava drogas assim [...]” (DJP); “Era difícil porque meu pai e minha mãe,tipo, eles brigavam né, daí [...] eu ficava com raiva assim [...] e ia pra rua e na rua agente apren<strong>de</strong>u muitas coisas assim [..] apren<strong>de</strong>u a robá a usá drogas” (FMS); “[...]meu pai mandou eu pra casa da minha tia, porque ele tinha probl<strong>em</strong>as com a minhamãe, daí separô da minha mãe” (RSS).Os sentimentos expressos nos <strong>de</strong>sabafos seguintes estão relacionados àsubcategoria “auto-estima”. Nota-se que os fatores conflitantes no seio familiarestimulam os sujeitos a saír<strong>em</strong> das suas casas e ir<strong>em</strong> para a rua.“Meu pai e minha mãe, [...], eles brigavam né, daí [...], eu ficava com, [...],com raiva assim, e ia pra rua, e na rua a gente apren<strong>de</strong>u muitas coisas assim,apren<strong>de</strong>u a robá, a usá drogas” (FMS); “Meu pai chegava bêbado <strong>em</strong> casacomeçava batê na minha mãe, daí eu comecei a fugi <strong>de</strong> casa” (DVG); “Eu ficava <strong>em</strong>casa, daí minha mãe me batia assim [...], quase todo dia, daí eu fugia <strong>de</strong> casa diretoassim [...], daí eu robava” (JPL).Ao perguntarmos aos sujeitos: como era a escola antes <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> vivendona ONG? Suas manifestações são <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sinteresse” o que po<strong>de</strong>ria estar atrelado àfalta <strong>de</strong> estímulos para estudar<strong>em</strong>. “[...] eu não estudava porque minha mãe não


64matriculava” (DVG); “Eu estudava uns dois meis e parava, estudava e parava”(ASD); “A escola antes pra mim era uma coisa ruim que, sei lá, eu não gostava <strong>de</strong> irpra escola” (LJS); “A escola pra mim? Não me importava” (DJP).As representações trazidas pelos sujeitos com relação à “mat<strong>em</strong>ática” estãorelacionadas às concepções <strong>de</strong> que, mat<strong>em</strong>ática existe para resolver probl<strong>em</strong>as efazer contas. Há interesses isolados pela mat<strong>em</strong>ática, esses interesses po<strong>de</strong>m estarligados à necessida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> cálculo que tiveram que fazer nocotidiano.“Mat<strong>em</strong>ática? Acho que é dos probl<strong>em</strong>as, [...], o que eu entendo é isso”(RFA); “A mat<strong>em</strong>ática faz parte do nosso dia a dia” (DVG); “É uma matéria que agente precisa, a gente precisa muito na vida da gente” (FMS).Por outro lado, o fator “não gostar da mat<strong>em</strong>ática”, constitui a imag<strong>em</strong> ruimque os sujeitos apresentam da mat<strong>em</strong>ática. Isto po<strong>de</strong> estar ligado à falta <strong>de</strong>familiarida<strong>de</strong> e da percepção <strong>de</strong> que a mat<strong>em</strong>ática é essencial para o<strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio.Diante da pergunta: você gosta <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática? Surg<strong>em</strong> as manifestações:“Mais ou menos, pra não dizer que eu não gosto, eu gosto mais ou menos” (DJP);“Eu não gosto tanto porque é muito complicado” (LJS); “Não gosto <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>áticaporque não sei resolver” (RFA); “Não! Não muito, gosto um pouquinho” (JF); “Ah!Mat<strong>em</strong>ática pra mim é massa, assim [...], tá ligado? Pelo menos é a matéria que euaprendo” (RSS); “Mais ou menos, antigamente eu gostava, agora não gosto muito”(JPL).Quando nos referimos à questão “resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as”, tínhamosintenção <strong>de</strong> buscar se os sujeitos possuíam alguma familiarida<strong>de</strong> com resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos antes <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados na ONG, é uma categoriarelevante, no momento que possibilitou nossa reflexão no sentido <strong>de</strong> criar probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos aproximando do cotidiano dos sujeitos. Percebe-se nas suasmanifestações, “pouca familiarida<strong>de</strong>” <strong>em</strong> situações mat<strong>em</strong>áticas envolvendoresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as. Você sabia resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos antes <strong>de</strong> virpara a ONG?“[...] só sabia contas, mais probl<strong>em</strong>as nada, n<strong>em</strong> me interessava muito antes<strong>de</strong> vim para cá” (LJS); “Alguns não, alguns sim, [...], alguns <strong>de</strong> subtrações” (FMS);“Quase tudo não, eu aprendi fazê também umas continhas [...], fáceis [...] <strong>de</strong> trêsnúmeros” (DJP); “Ah...só sabia conta, mais probl<strong>em</strong>a nada, n<strong>em</strong> me interessava


65muito antes <strong>de</strong> vim pra cá” (LJS); “não, pior que não [...], acho que usava, mais nãome tocava” (DVG).Indo mais adiante, perguntávamos se os sujeitos sabiam fazer contas <strong>de</strong>somar, subtrair, multiplicar e dividir antes <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> na ONG? Nossa intenção eranecessariamente, observar nas suas falas, se <strong>em</strong> algum momento sabiam utilizar asoperações mat<strong>em</strong>áticas. Os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>monstram, isoladamente, “algumconhecimento” com o uso das operações el<strong>em</strong>entares da mat<strong>em</strong>ática.Observe as respostas: “Sabia, [...], acho que sabia” (JPL); “Eu sabia mais oumenos” (EJLM); “Não!” (ASD); “Não! Eu não sabia nada” (DVG); “Sabia mais oumenos” (FMS); “Sabia mais ou menos, [...], o que eu mais sabia era conta <strong>de</strong> mais e<strong>de</strong> menos, mais <strong>de</strong> dividir, um pouco, eu tinha dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> tabuada” (LJS); “Antes<strong>de</strong> vim pra cá eu n<strong>em</strong> sabia o que era mat<strong>em</strong>ática” (DVG); “Antes eu não sabia fazerisso [...], essas coisas” (RFA).Nos <strong>de</strong>poimentos abaixo os sujeitos manifestam pouco envolvimento comativida<strong>de</strong>s relacionadas à “jogos pedagógicos”, falam freqüent<strong>em</strong>ente que, quandoestudavam, seus professores utilizavam poucos instrumentos lúdicos para ensinarmat<strong>em</strong>ática. Piaget (2006) chama atenção quanto à importância do uso <strong>de</strong>ssesinstrumentos <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Para ele o lúdico substitui as aulas maçantes,cansativas, além <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento das percepções e dainteligência das crianças.“Meu professor só <strong>de</strong> 1ª a 4ª que ensinava com essas brinca<strong>de</strong>iras” (LJS);“[...] meu professor usava jogos só <strong>em</strong> Português” (RSS); “Não, não conhecianenhum tipo” (FMS); “[...] aquele dos palitinhos que a gente somava e dividia” (JPL);“Ele pegava as garrafinhas, [...], daí dava para nós montar” (RSS).7.1.2 ANÁLISE QUALITATIVA DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DEPOISDOS SUJEITOS ESTAREM ABRIGADOS NA ONG.Diante da pergunta: o que mudou na sua vida <strong>de</strong>pois que você veio para aONG? Os sujeitos manifestam seus sentimentos <strong>de</strong> maneia diferente <strong>em</strong> relação aomomento anterior. A categoria “percepção <strong>de</strong> si” toma uma direção nova. Observealguns <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les: “Minha vida mudou completamente, [...], aqui éaté melhor que <strong>em</strong> casa” (LJS); “Tá melhor pra mim não tô mais usando drogas”


66(DJP); “Meu tio começou a dar mais valor pra mim” (EJLM); “As pessoas me olham<strong>de</strong> outro jeito agora” (FMS).Embora não tenha ficado claro ser negativa, as manifestações <strong>de</strong> “autoestima”evi<strong>de</strong>nciadas no momento anterior, neste momento, constatam-se apresença <strong>de</strong> uma nova perspectiva <strong>de</strong> vida, ou seja, “auto-estima positiva”. Ossujeitos se sent<strong>em</strong> motivados, valorizados, reconhecidos. Observe os <strong>de</strong>poimentos:“[...] eu parei <strong>de</strong> usá drogas, comecei a tentá me esforçá no estudo” (RSS);“[...] agora eu tô mais, [...], tô apren<strong>de</strong>ndo mais coisas, [...], tô apren<strong>de</strong>ndo estudámelhor” (JF); “Agora eu tô estudando, tenho a chance <strong>de</strong> sair daqui trabalhando”(RFA); “Ah! Mudô muitas coisas, tipo, dos lugares que eu vô agora não sou excluído,[...], agora eu tô apren<strong>de</strong>ndo coisas novas” (FMS).Relativamente à escola, os sujeitos atribu<strong>em</strong> significados <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong>importância, acham que a escola precisa ser vista como algo interessante e bom.Observe algumas das respostas diante da pergunta: e a escola como é hoje?“[...] a escola hoje é melhor os professores agora ensinam melhor” (JF); “[...]é bom, t<strong>em</strong> bastante amiza<strong>de</strong>, não é igual antigamente, que eu não tinha quaseninguém <strong>de</strong> amigo” (JPL); “[...] me sinto b<strong>em</strong> à vonta<strong>de</strong>, t<strong>em</strong> bastante amigo, osprofessores respeitam, quando a gente t<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> eles tentam ajudá” (DVG);“Ah! É bom, mais [...] direto t<strong>em</strong> que escutá o que a professora assim, [...] fala”(EJLM); “Melhor agora, eu tô mais interessado nos estudos” (DJP); “A escola pramim, hoje, é algo que eu vejo como bom, [...], me ajuda pra ter a profissão que vocêquer” (LJS); “Agora é bom, eu tô apren<strong>de</strong>ndo mais coisas” (ASD); “Vô pra escola,respeito os professores, tô indo b<strong>em</strong> <strong>em</strong> quase todas as matérias” (RFA).Quando o assunto é a mat<strong>em</strong>ática, nota-se que os sujeitos procuramsuperar suas dificulda<strong>de</strong>s ao tentar<strong>em</strong> se adaptar aos estilos <strong>de</strong> ensino dosprofessores. Observe como se expressam frente à pergunta: você vai b<strong>em</strong> <strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática na escola?“Vo rasuável, s<strong>em</strong>pre na média, [...], t<strong>em</strong> que ser muito inteligente acho, tirarnota boa <strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática e a mat<strong>em</strong>ática é muito difícil” (LJS); “Não, porque eu errotudo, [...], às vezes consigo colando” (DJP); “Não! vô muito ruim, [...], por causa queeu não gosto da matéria, é muito difícil, nas provas eu se enrrolo muito, e as contassão difícil” (JF); “não vô dizer que vou b<strong>em</strong>, mais eu vô mais ou menos, dá pra podêpassar <strong>de</strong> ano” (FMS);


67Os <strong>de</strong>poimentos seguintes implicam que os sujeitos dão alguma importânciaaos estilos <strong>de</strong> ensino adotados pelos professores. “Ela dá os exercícios, eu faço, eeu vejo o que tá certo” (ASD); “[...] Ela vê que tenho uma dificulda<strong>de</strong>, ela tentaajudá, [...], eu faço um esforço pra aprendê mat<strong>em</strong>ática, vigi, e a professora é b<strong>em</strong>legal ainda com a gente” (DVG); “[...] eles vão falando, eu vô fazendo, daí elesfaz<strong>em</strong> eu fazê tudo <strong>de</strong> novo pra mim aprendê” (JF).Quando se trata da resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos os sujeitosatribu<strong>em</strong> uma importância maior, consegu<strong>em</strong> fazer correlação com a aplicação<strong>de</strong>sse conteúdo no cotidiano.Quando perguntávamos: Você acha importante saber resolver probl<strong>em</strong>asenvolvendo soma, subtração, multiplicação e divisão? Segu<strong>em</strong> algumas repostas:“Eu acho que sim, porque se a gente quiser ser um Arquiteto ou algumacoisa parecida a gente precisa saber muito b<strong>em</strong> os números” (FMS); “Achoimportante sim, porque você arruma um trabalho, vai que você precise fazer umaconta” (DVG); “Eu acho importante sim, agora até pra arrumá um <strong>em</strong>prego t<strong>em</strong> quesabê essas contas” (JF); “Acho, porque é bom, eu vô no mercado, daí eu não sei sea mulher vai me dá o troco certo, daí eu vejo [...], daí se t<strong>em</strong> menos ou mais” (JPL);“Sim, porque [...], você não precisa ficar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos outros pra fazê, assim,você po<strong>de</strong> fazê sozinho” (EJLM).Quando perguntávamos sobre a tabuada, ou seja, a operação <strong>de</strong>multiplicação, obteve-se as seguintes repostas: P. Você sabe a tabuada? Não!(JPL); Mais ou menos (EJLM); Sim! Não <strong>de</strong> cor, mais sei sim! P. 7 x 7? Nossa!Agora eu não sei! (DVG); P. 7 x 7? Não sei! (DJP); Mais ou menos! (RJA); Sei maisou menos! (FMS); Não! Não! (RSS).Para Micotti (2001), as dificulda<strong>de</strong>s com tabuada estariam resolvidas“através <strong>de</strong> ditados <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> separar, juntar ou distribuir coisas. Por ex<strong>em</strong>plo,diante da sentença 7 x 7 = 49, os alunos comporiam sete grupos <strong>de</strong> sete objetos eapresentariam o total equivalente” (MICOTTI, 2001, p. 64).Para finalizar nos referimos à pergunta: você sabe resolver probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>soma, subtração, multiplicação e divisão utilizando o jogo <strong>de</strong> dominó? Observe asrespostas: “Através do dominó? N<strong>em</strong> ouvi falar” (LJS); “Eu já ouvi falar, mas nuncajoguei até agora” (JPL); “Conheço mais nunca tentei fazê” (DVG); “[...] Eu joguei umavez já, quando eu tava no reforço” (DJP); “ Não! (ASD); “Não, nunca vi” (JF).


68No que diz respeito às manifestações relativas à mat<strong>em</strong>ática, Piaget (2006)discute dois pontos: para ele, o ensino da mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>ve aguçar os estudantes nosentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir por si mesmos as proprieda<strong>de</strong>s mat<strong>em</strong>áticas e <strong>de</strong>ve assegurara aquisição das noções e dos processos operatórios antes da introdução doformalismo. Nota-se nas falas dos sujeitos falta <strong>de</strong> envolvimento com a mat<strong>em</strong>áticana vida cotidiana o que necessita o uso <strong>de</strong> estratégias diferenciadas para o ensino<strong>de</strong>ssa ciência por parte dos professores.Para Piaget (2006) o indispensável é fazer com que os estudantes adquiramexperiências mat<strong>em</strong>áticas aguçando o raciocínio <strong>de</strong>dutivo, que sejam estimulados aconstrução <strong>de</strong>dutiva, à resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as e se <strong>de</strong>diqu<strong>em</strong> à investigaçãoheurística dos probl<strong>em</strong>as.O ensino precisa valorizar os erros dos estudantes, a fim <strong>de</strong> ver neles apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer o pensamento mat<strong>em</strong>ático, treinar a prática da autocorreçãoe dar priorida<strong>de</strong> à reflexão e ao raciocínio.Para Freire (1996) a reflexão crítica sobre a prática é <strong>de</strong> fundamentalimportância, no momento que é a partir da reflexão crítica, que a curiosida<strong>de</strong>ingênua se torna curiosida<strong>de</strong> crítica. “Quanto melhor faça esta operação tanto maisinteligência ganha da prática <strong>em</strong> análise e maior comunicabilida<strong>de</strong> exerce <strong>em</strong> tornoda superação da ingenuida<strong>de</strong> pela rigorosida<strong>de</strong>”. (FREIRE, 1996, p. 39).Os <strong>de</strong>poimentos dos sujeitos na entrevista que fiz<strong>em</strong>os são suficientes econtribu<strong>em</strong> na busca <strong>de</strong> respostas ao probl<strong>em</strong>a a ser pesquisado, uma vez que ossujeitos apresentaram pouca familiarida<strong>de</strong> com o uso <strong>de</strong> instrumentos lúdicos noensino, t<strong>em</strong> sentido dar continuida<strong>de</strong> à investigação nesse caminho.Bronfenbrenner (1996) enfatiza a importância da pesquisa a partir <strong>de</strong>experimentos ecológicos sobre as inferências ambientais que vão além do ambienteimediato que contém a pessoa <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento; enfatiza também, o processo<strong>de</strong> acomodação entre a pessoa e o meio ambiente, o que ele chama <strong>de</strong> “Núcleo <strong>de</strong>uma Ecologia do Desenvolvimento Humano”. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 31).A análise dos dados <strong>de</strong>monstrou as concepções dos sujeitos antes e <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados na ONG. A entrevista focou mais precisamente as ativida<strong>de</strong>sescolares relacionadas ao ensino da mat<strong>em</strong>ática.As citações dos sujeitos <strong>de</strong>monstram o terreno frágil e sensível queestávamos envolvidos. Sua auto-estima para enfrentar os estudos, as perspectivas


69<strong>de</strong> mudanças, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão dos assuntos, são fatores queinfluenciaram na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e encaminhamento da nossa investigação.A entrevista apresenta as concepções que os sujeitos têm da escola, ospossíveis <strong>de</strong>sinteresses pela escola, <strong>de</strong>sinteresse pela mat<strong>em</strong>ática, a falta <strong>de</strong>familiarida<strong>de</strong> com os assuntos relacionados à mat<strong>em</strong>ática, suas dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong>cálculos simples envolvendo operações el<strong>em</strong>entares.A entrevista mostra, também, que os sujeitos aspiram a uma novaperspectiva <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> abrigados na ONG. Sent<strong>em</strong>-se motivados,valorizados, reconhecidos, dão mais importância à escola e aos professores, lutampara superar as dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática, tentam adaptar-se aos estilos <strong>de</strong>ensino dos professores, atribu<strong>em</strong> importância à aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, uma vez que relacionam a mat<strong>em</strong>ática com a vida real.Na concepção <strong>de</strong> Bronfenbrenner (1996), o <strong>de</strong>senvolvimento humano jamaisocorre no vácuo. Está s<strong>em</strong>pre inserido e expresso num comportamento <strong>em</strong> um<strong>de</strong>terminado contexto ambiental, ou seja:O <strong>de</strong>senvolvimento humano é o processo através do qual a pessoa<strong>de</strong>senvolvente adquire uma concepção mais ampliada, diferenciadae válida do meio ambiente ecológico, e se torna mais motivada <strong>em</strong>ais capaz <strong>de</strong> se envolver <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s que revelam suasproprieda<strong>de</strong>s, sustentam ou reestruturam àquele ambiente <strong>em</strong> níveis<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhante ou maior <strong>de</strong> forma e conteúdo.(BRONFENBRENNER, 1996, p. 23).As manifestações dos sujeitos foram <strong>de</strong> fundamental importância para quepudéss<strong>em</strong>os <strong>de</strong>limitar os objetivos, os pressupostos e a elaboração dos probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos. Pu<strong>de</strong>mos refletir sobre uma metodologia <strong>de</strong> ensino numa abordag<strong>em</strong>qualitativa, focando o processo e não o produto da aprendizag<strong>em</strong>.Adotamos uma característica <strong>de</strong> ensino diferente da tradicional, <strong>em</strong> oposiçãoà concepção bancária e <strong>em</strong> reconhecimento aos valores manifestados.Freire (1996) chama atenção relativamente a esse tipo <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong>respeito aos educandos. Para ele ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição aqualquer forma <strong>de</strong> discriminação. “A aceitação do novo que não po<strong>de</strong> ser negado ouacolhido só porque é novo, assim como o critério <strong>de</strong> recusa ao velho não é apenas ocronológico”. (FREIRE, 1996, p. 35).


708 ESTUDO PRINCIPAL8.1 PRÉ-TESTEQUADRO 06 – PERFIL DOS SUJEITOS PARTICIPANTES DO PRÉ-TESTE – APÊNDICE IN° Sujeitos Ida<strong>de</strong> Sexo Escolarida<strong>de</strong> % <strong>de</strong> acertosno pré-teste01 LJS [16,1] M 7ª série 25%02 JPL [14,0] M 6ª série 37,5%03 EJLM [13,3] M 5ª série 37,5%04 ASD [16,5] M 5ª série 25%05 DVG [17,8] M 6ª série 62,5%06 FMS [15,4] M 8ª série 100%07 RSS [14,11] M 6ª série 100%08 JF [14,4] M 6ª série 50%QUADRO 07 – SISTEMATIZAÇÃO DOS PERCENTUAIS RELATIVOS AO PRÉ-TESTEPercentuais <strong>de</strong> 25% 37,5% 50% 62,5% 100%acertosPercentuais <strong>de</strong>alunos poracertos25% 25% 12,5% 12,5% 25%Para dar continuida<strong>de</strong> ao estudo foi realizada uma avaliação daaprendizag<strong>em</strong> envolvendo quatro probl<strong>em</strong>as (apêndice I), com os oito sujeitosparticipantes nesta etapa. Os resultados <strong>de</strong>monstrados nos quadros 06 e 07, nãoserviram como critério <strong>de</strong> exclusão para a escolha dos grupos. Todos os sujeitosparticiparam <strong>de</strong> uma sessão <strong>de</strong> intervenção <strong>em</strong> dupla resolvendo oito probl<strong>em</strong>asdiferentes adaptados às peças do jogo <strong>de</strong> dominó por dupla. Os quadros acima<strong>de</strong>monstram os percentuais <strong>de</strong> acertos no pré-teste. Dois sujeitos que tinhamparticipado da entrevista <strong>de</strong>sisitram <strong>de</strong>sta etapa, um <strong>de</strong>les foi por evasão, o outronão quis continuar fazendo parte da pesquisa.


718.1.1 ANÁLISE QUANTITATIVA – RESULTADO DO PRÉ-TESTEO quadro 07 sintetiza os resultados do pré-teste apêndice I. Dos 08 (oito)participantes, 02 (dois) sujeitos acertaram 25% dos probl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a25% dos participantes; 02 (dois) sujeitos acertaram 37,5% dos probl<strong>em</strong>as, o quecorrespon<strong>de</strong> a 25% dos participantes; 01 (um) sujeito acertou 50% dos probl<strong>em</strong>as, oque correspon<strong>de</strong> a 12,5% dos participantes; 01 (um) sujeito acertou 62,5% dosprobl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a 12,5% dos participantes e 02 (dois) sujeitosacertaram 100% dos probl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a 25% dos participantes.Para a correção do pré-teste, foi consi<strong>de</strong>rado como critério: se o sujeitoapresentou a resposta do probl<strong>em</strong>a por meio <strong>de</strong> algum procedimento mat<strong>em</strong>ático,obteve acerto <strong>de</strong> 25% na questão; se o sujeito apenas escreveu alguma coisa quetivesse alguma aproximação da resposta do probl<strong>em</strong>a, obteve acerto <strong>de</strong> 12,5%;porém, se o sujeito escreveu algo que não t<strong>em</strong> sentido lógico para a solução doprobl<strong>em</strong>a, consi<strong>de</strong>ramos a resposta errada.Como no pré-teste t<strong>em</strong> quatro questões para ser<strong>em</strong> resolvidas, <strong>de</strong>finimos opercentual <strong>de</strong> 25% para cada uma das corretas, e <strong>de</strong> 12,5% para as aproximações,<strong>em</strong>bora as argumentações <strong>de</strong> Micotti (2001), apont<strong>em</strong> que o fato dos alunos fazer<strong>em</strong>cálculos, ou dar<strong>em</strong> respostas às questões mat<strong>em</strong>áticas, não é suficiente paraafirmar se houve compreensão das operações mat<strong>em</strong>áticas.Apresentamos <strong>em</strong> seguida as respostas dos probl<strong>em</strong>as propostos naavaliação da aprendizag<strong>em</strong> pré-teste apêndice I, as quais consi<strong>de</strong>ramosina<strong>de</strong>quadas. Probl<strong>em</strong>a 01: “Se o preço <strong>de</strong> uma lata <strong>de</strong> leite <strong>em</strong> pó é três reais, porquantos <strong>de</strong>ve ser multiplicado esse valor para que eu possa gastar <strong>de</strong>zoito reais”?Observe as respostas: “3 + 15 = 18” (LJS); “por 4, porque 4 x 3 é 12” (JPL); “18 ÷ 3 =8” (EJLM); “3 x 18 = 24” (ASD) e “3 + 15 = 18, eu peguei 3 e coloquei mais 15” (JF).Probl<strong>em</strong>a 02: “Uma caixa continha algumas bolinhas, Lucas retirou duas e acaixa ficou vazia. Quantas bolinhas tinham na caixa”? “2 - 0 = 2” (LJS).Pobl<strong>em</strong>a 03: “Por quantas pessoas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser divididos oito quilos <strong>de</strong>alimentos para que cada uma receba quatro quilos”? “8 ÷ 4 = 2” (LJS).Probl<strong>em</strong>a 04: “Eu tinha um número <strong>de</strong> bolinhas <strong>de</strong> gu<strong>de</strong>, ganhei duas domeu colega e fiquei com três. Quantas bolinhas eu tinha”? “2 pessoas” (ASD).As respostas apresentadas acima indicam a falta <strong>de</strong> experiências comresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>ssa natureza. A interepretação ina<strong>de</strong>quada implica na


72escolha <strong>de</strong> caminhos obscuros e a criação <strong>de</strong> estratégias que não levam a soluçãodos probl<strong>em</strong>as. Nota-se que as “soluções” apresentadas, não ligam os pressupostosàs implicações <strong>de</strong> maneira lógica, o que leva às respostas incorretas.Para Piaget (1978), a ação do sujeito sobre o meio constitui um saber fazerautônomo, cuja conceituação se caracteriza por tomada <strong>de</strong> consciência que po<strong>de</strong>não acontecer imediatamente após a ação.As dificulda<strong>de</strong>s apresentadas po<strong>de</strong>m estar vinculadas à maneira com que osprobl<strong>em</strong>as foram escritos, o que, a nosso ver, exigiu leitura e interpretaçãoantecipada. Para Butts (1997), um dos fatores que motivam os alunos a criar<strong>em</strong>estratégias <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as é a maneira com que os probl<strong>em</strong>as sãoformulados pelos professores, como também as experiências e familiarida<strong>de</strong>s comativida<strong>de</strong>s relacionadas à resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no cotidiano.Para Polya (1995), os professores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> criar estratégias proporcionandocaminhos que provoqu<strong>em</strong>, cham<strong>em</strong> atenção e <strong>de</strong>senvolva a curiosida<strong>de</strong> dos sujeitospara o saber mat<strong>em</strong>ático. Para ele não é suficiente que o sujeito queira resolveralgum probl<strong>em</strong>a mat<strong>em</strong>ático, é necessário “<strong>de</strong>sejo” o que envolveria também osfatores afetivos.Para Freire (1996), as condições <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos educandos étransformá-los <strong>em</strong> reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado,ao lado do educador, que é parte integrante do processo. Desta forma o saberensinado e o objeto a ser aprendido pelo sujeito se constitu<strong>em</strong> na sua verda<strong>de</strong>irarazão <strong>de</strong> ser. Nesse contexto o reconhecimento do papel do educador éfundamental. No entanto o educador <strong>de</strong>ve tomar consciência <strong>de</strong> que sua tarefacomo docente não é apenas o ensino <strong>de</strong> conteúdos pré-estabelecidos, mas sim o<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ensinar os sujeitos a pensar e refletir sobre seus pensamentos avançandopara outros contextos.QUADRO 08 – SISTEMATIZAÇÃO DOS GRUPOS------------- GRUPO A GRUPO B GRUPO C GRUPO DSujeitos JF e RSS LJS e FMS JPL e ASD EJLM e DVGPara <strong>de</strong>finir os grupos não levamos <strong>em</strong> conta o resultado do pré-teste, isto é,as respostas corretas ou erradas dos sujeitos, eles mesmos escolheram os seuspares. Perceb<strong>em</strong>os, no entanto, uma boa relação afetiva entre os pares, o que


73contribuiu para o sucesso da pesquisa, caso contrário, teríamos que fazer apermutação dos sujeitos nos grupos o que traria maiores dificulda<strong>de</strong>s.As relações afetivas nas ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> duplas são <strong>de</strong> fundamentalimportância, pois constitui uma possibilida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong> uma aprendizag<strong>em</strong><strong>em</strong> parceria, através <strong>de</strong> um ensino <strong>de</strong> “mão dupla”, ou seja, um sujeito ajudando ooutro no processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.A partir <strong>de</strong> intervenções <strong>em</strong> duplas, Bronfenbrenner (1996), chama atençãopara três proprieda<strong>de</strong>s importantes na aprendizag<strong>em</strong>, a reciprocida<strong>de</strong>, o equilíbrio<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e relação afetiva. Estas três proprieda<strong>de</strong>s foram observadas na discussãocom os grupos “A”, “B”, “C” e “D” durante o processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos.


749 INTERVENÇÕES, ANÁLISE E DISCUSSÃO - GRUPOS “A”, “B”, “C” E “D”Apresentamos, neste capítulo, as intervenções dialogadas com os grupos,as formalizações dos sujeitos quando justificam suas respostas aos probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos propostos pelo pesquisador, a análise e a discussão dos dados. Foramdialogados oito probl<strong>em</strong>as diferentes para cada grupo. Os probl<strong>em</strong>as foramnumerados <strong>de</strong> 01 a 56 e colados, <strong>de</strong> dois <strong>em</strong> dois, nas peças do jogo <strong>de</strong> dominó.Antes do inicio <strong>de</strong> cada sessão, o pesquisador solicitou que os participantesescolhess<strong>em</strong>, cada um da dupla, 02 peças do jogo <strong>de</strong> dominó, contendo 02probl<strong>em</strong>as cada peça, isto é, 04 probl<strong>em</strong>as para o sujeito (A) e 04 probl<strong>em</strong>as para osujeito (B), explicou os procedimentos e <strong>de</strong>u-se o inicio das ativida<strong>de</strong>s. A cada doisprobl<strong>em</strong>as dialogados na dupla o pesquisador solicitava que o sujeito que estivessecom a peça na mão procurasse as respostas no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó 6 .As informações coletadas com base nas intervenções dialogadas surgiram apartir do uso do método clínico <strong>de</strong> Piaget, citado por Delval (2002). As sessõesforam filmadas e gravadas <strong>em</strong> fita k7 e contêm informações suficientes pararespon<strong>de</strong>r o probl<strong>em</strong>a da pesquisa. A transcrição das intervenções dialogadas éuma cópia fiel das falas dos sujeitos.Apresentamos, também quadro que sintetiza os indicadores <strong>em</strong>ergentes dasintervenções dialogadas, coletados a partir dos objetivos da pesquisa que serviram<strong>de</strong> base para análise e discussão dos resultados.Estabelec<strong>em</strong>os três perguntas chaves: Você po<strong>de</strong> escrever como pensou nopapel?, Como você fez para resolver o probl<strong>em</strong>a? , T<strong>em</strong> outro jeito <strong>de</strong> fazer essaconta? Analisando a essência das perguntas acima, levantamos três categorias <strong>de</strong>análise e alguns indicadores importantes, que foram discutidos num contexto único:Expressar idéias – indicadores: (interpretam, verbalizam, formalizam, discut<strong>em</strong>,concordam/discordam, cooperam, persist<strong>em</strong>); utilizar estratégias – indicadores:(criam, dominam) e usar caminhos alternativos – indicadores: (modificam, usam osreversíveis, usam os algoritmos, coor<strong>de</strong>nam).O quadro foi construído tendo como base a proposta <strong>de</strong> (BARDIN, 1977, p.51-63). A análise, os resultados e as discussões aparec<strong>em</strong> <strong>de</strong> maneira6 O sujeito retoma a leitura do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> silêncio e marca a resposta certa ou errada no tablado do jogo. É ummomento <strong>de</strong> “revisão” das ações dialogadas, isto é, o sujeito pára por um momento <strong>de</strong> discutir o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>voz alta e age diretamente no material concreto sozinho.


75contextualizada, formando um todo organizado, consi<strong>de</strong>rando o referencial teóricoapropriado. Não foi apresentada a análise individual <strong>de</strong> todos os probl<strong>em</strong>asdialogados com os grupos, na sua íntegra. Escolh<strong>em</strong>os os probl<strong>em</strong>as cujoscomentários dos sujeitos mereceram maior atenção.A análise <strong>de</strong> conteúdo, segundo Bardin (1977), permite a exploração <strong>de</strong>variáveis <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psicológica, por meio <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução com base <strong>em</strong>indicadores reconstruídos <strong>de</strong> amostra <strong>de</strong> mensagens particulares (p.44).Consi<strong>de</strong>rando o exposto por Bardin (1977), organizamos o quadro, on<strong>de</strong>preten<strong>de</strong>mos articular um jogo <strong>de</strong> indicadores analíticos, adaptados à natureza donosso material e aos objetivos que preten<strong>de</strong>mos atingir.Colocamos <strong>em</strong> evidência citações relativas às falas dos sujeitos <strong>de</strong> modo aenriquecer os resultados. Aspiramos uma interpretação fundamentada nas obras <strong>de</strong>Piaget para justificar as <strong>de</strong>duções lógicas às mensagens expressas pelos sujeitosquando ocupam a posição <strong>de</strong> <strong>em</strong>issor da mensag<strong>em</strong>.Consiste à análise <strong>de</strong> conteúdo qualquer iniciativa que, consi<strong>de</strong>rando umconjunto <strong>de</strong> técnicas, procure explicitar e sist<strong>em</strong>atizar o conteúdo das mensagenscom a contribuição <strong>de</strong> indicadores passíveis ou não <strong>de</strong> quantificação Bardin (1977).Tentamos, por meio da análise <strong>de</strong> conteúdo, compreen<strong>de</strong>r o ambiente on<strong>de</strong>utilizamos os procedimentos com o jogo <strong>de</strong> dominó, <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado momentoda pesquisa, para resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, levando <strong>em</strong> conta as partesobserváveis. Tentamos, também, evi<strong>de</strong>nciar as opiniões e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões,“conscientes” dos indivíduos a partir das atitu<strong>de</strong>s frente aos <strong>de</strong>safios propostos.Para interpretar as <strong>de</strong>duções dos sujeitos fiz<strong>em</strong>os inferências aosconhecimentos que produziram e apresentaram, ou seja, quais as conseqüênciasque um <strong>de</strong>terminado probl<strong>em</strong>a provocou no processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática.


76QUADRO 09 – LISTA DE INDICADORES 7IndicadoresInterpretaVerbalizaFormalizaDiscuteConcorda/discordaCooperaPersisteCriaDominaModificaUsa os reversíveisUsa os algorítmicosCoor<strong>de</strong>naSujeitosJF X X X X X X XRSS X X X X X X X X X XLJS X X X X X X X X XFMS X X X X X X X X X X X X XJPL X X X X X X X X X X X XASD X X X X X X X X XEJLM X X X X X X X XDVG X X X X X X X XNossa análise indica que os sujeitos formalizam suas reflexões ou açõesadotando, <strong>em</strong> alguns casos, um padrão <strong>de</strong> compreensão diferente para o mesmoprobl<strong>em</strong>a mat<strong>em</strong>ático. Isto quer dizer que as representações internas sobre omesmo objeto pensante, se manifestam externamente, através <strong>de</strong> símbolos, <strong>de</strong>forma diferente.Por outro lado, há momentos <strong>em</strong> que as representações externas são iguais,ou seja, os sujeitos segu<strong>em</strong> uma mesma lógica <strong>de</strong> compreensão das ações.No campo das expressões verbais, os caminhos são diversificados. Bastasolicitar aos sujeitos que express<strong>em</strong> outra maneira <strong>de</strong> solucionar os probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos para percebermos as diversas opiniões.7 Tais indicadores surgiram a partir das interpretações dialogadas com os grupos. Os quadrinhos <strong>em</strong> brancoindicam que o sujeito <strong>de</strong>monstrou alguma dificulda<strong>de</strong> durante os questionamentos, uma vez que estes exigiramque o sujeito revisasse as ações tomadas durante o processo.


77Enten<strong>de</strong>-se por lógica, o conjunto <strong>de</strong> operações que interatuam e relacionamas ações dos sujeitos aos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos durante o processo <strong>de</strong> resoluçãona prática. Os sujeitos, quando justificam suas ações, as apresentam segundológicas ou pensamentos, que, na maioria dos casos, são coerentes com osprobl<strong>em</strong>as discutidos. De acordo com a literatura <strong>de</strong> Piaget (1976), po<strong>de</strong>-se dizerque os pensamentos lógicos <strong>de</strong>stes adolescentes são egocêntricos.Segundo Piaget (1976), diante <strong>de</strong> uma lógica egocêntrica (no campo dasubjetivida<strong>de</strong>), o sujeito ignora a multiplicida<strong>de</strong> das perspectivas dos objetos, ouseja, o sujeito não observa o mesmo objeto através <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vistas distintos,enquanto que no campo da objetivida<strong>de</strong>, há uma diferenciação e uma coor<strong>de</strong>naçãodos diversos pontos <strong>de</strong> vista.Para Piaget (1986), quando um sujeito respon<strong>de</strong> a uma pergunta <strong>de</strong> umadulto a resposta não constitui a linguag<strong>em</strong> espontânea do sujeito. Piaget (1986)coloca que entre 7 e 11 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, a lógica egocêntrica não influencia mais ainteligência perceptiva, mas reaparece na inteligência verbal (p.35).9.1 GRUPO “A” {JF e RSS}9.1.1 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {15}Probl<strong>em</strong>a 15: Dividindo seis cabeças <strong>de</strong> bois entre alguns irmãos, cada um receberáum boi. Quantos são os irmãos?P 8 . Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JF. JF 9 leu pausadamente. P. Que tipo <strong>de</strong>conta é essa JF? É <strong>de</strong> mais [...], não, é <strong>de</strong> divisão. P. Você sabe a resposta doprobl<strong>em</strong>a JF?Sei! P. Sabe? Como você fez para resolver JF? JF respon<strong>de</strong>: Peguei e vique dividindo 6 cabeças <strong>de</strong> bois entre alguns irmãos cada um receberá 6, então daíeu peguei [...], vi que cada um ia receber um, então eles estavam <strong>em</strong> 6. P. Vocêpo<strong>de</strong> escrever como pensou no papel JF? Claro! [pausa para explicação]. P. Leianovamente o probl<strong>em</strong>a JF. JF aten<strong>de</strong> a solicitação!8 P = refere-se ao pesquisador9 JF: cada sujeito é i<strong>de</strong>ntificado pelas letras iniciais correspon<strong>de</strong>ntes ao seu nome.


78P. Você sabe a resposta RSS? RSS diz: é 6! P. Como você fez pararesolver RSS? RSS respon<strong>de</strong>: seria 6, por que 6 para dar 1 teria que dar 6 para serigual! P. Explique na folha <strong>de</strong> papel como você ajudou seu colega a resolver oprobl<strong>em</strong>a. RSS [pausa para explicação].9.1.2 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {16}Probl<strong>em</strong>a 16: Devia duzentos reais para meu colega, hoje <strong>de</strong>vo quatrocentos. Porquanto foi multiplicada minha dívida?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JF. JF leu pausadamente. P. Qual é aresposta do probl<strong>em</strong>a JF? JF diz: o resultado do probl<strong>em</strong>a é 2. P. Por que? JFrespon<strong>de</strong>: antes ele <strong>de</strong>via 200, daí não sei o que ele fez que <strong>de</strong>veu mais 2, ele <strong>de</strong>via200 <strong>de</strong>pois ficou <strong>de</strong>vendo 400. P. Mais dois o quê? Se ele <strong>de</strong>via 200 e <strong>de</strong>ve mais 2,então ele <strong>de</strong>ve 202. E daí o que aconteceu? JF : ah! Eu não sei. P. Que tipo <strong>de</strong>conta é essa? De mais, <strong>de</strong> menos? JF diz: <strong>de</strong> mais! P. Essa conta é <strong>de</strong> mais? JFficou pensando. P. Leia <strong>de</strong> volta o probl<strong>em</strong>a JF. JF repete. P. Essa conta é <strong>de</strong> mais?JF diz: não! É <strong>de</strong> multiplicação. P. Qual é a resposta da conta? JF 200!P. Você sabe RSS resolver o probl<strong>em</strong>a? Sei! 400. Essa conta foi dobrada.Ele <strong>de</strong>via 200, ele fez alguma coisa que dobrou para 400. P. Essa conta é do queentão? RSS respon<strong>de</strong>: é <strong>de</strong> mais. P. A pergunta é por quanto foi multiplicada essaoperação? RSS fala: por 2! P. Explique como fez para resolver na folha <strong>de</strong> papel.RSS [pausa para explicação].P. Ache as respostas dos probl<strong>em</strong>as (15 e 16) no tablado do jogo JF. JFrepensa os 2 probl<strong>em</strong>as individualmente e procura as repostas no tablado sozinho.[6:2]. P. Comentário: as respostas corretas são [6: 2].9.1.3 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {09}Probl<strong>em</strong>a 09: O senhor Antonio t<strong>em</strong> três cabeças <strong>de</strong> porcos e três filhos. O que ele<strong>de</strong>ve fazer para evitar briga entre os filhos?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta RSS. RSS leu pausadamente. P. Qual é aresposta do probl<strong>em</strong>a RSS? RSS diz: divisão, 3 dividido por 3 que vai dar 1. 1 para


79cada filho. P. Você concorda com ele JF? JF: não entendi a pergunta! P. Repete, porfavor, RSS! RSS repete pausadamente para o colega. JF respon<strong>de</strong>: concordo! P.Você concorda que a resposta é <strong>de</strong> divisão? Quanto vai dar a divisão? JF diz: 3dividido por 3 <strong>de</strong>u 1.P. Expliqu<strong>em</strong> como fizeram para resolver na folha <strong>de</strong> papel. [pausa paraexplicação]. Acharam a resposta então? JF e RSS [pausa para explicação].9.1.4 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {10}Probl<strong>em</strong>a 10: Marcos gosta <strong>de</strong> cavalos, ele tinha três e agora resolveu ven<strong>de</strong>r todos.Com quantos cavalos Marcos ficará?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta RSS. RSS leu pausadamente. P. Qual é aresposta do probl<strong>em</strong>a RSS? RSS diz: nenhum! P. Essa conta é <strong>de</strong> mais ou <strong>de</strong>menos ou <strong>de</strong> divisão? Mont<strong>em</strong> a conta no papel e ponham a resposta. RSS e JF[pausa para explicação].P. Encontre as respostas dos probl<strong>em</strong>as (09 e 10) no tablado do jogo. RSSrepensa os 2 probl<strong>em</strong>as individualmente e procura as respostas no tablado do jogo <strong>em</strong>arca [1 : 0]. P. Comentário: as respostas corretas são [1: 0]9.1.5 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {43}Probl<strong>em</strong>a 43: Qual é a quantida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser somada com seis para se ter <strong>de</strong>z?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JF. JF leu pausadamente. P. Qual é aresposta JF? JF diz: 3!, Não 4!. P. Que tipo <strong>de</strong> conta é essa? JF diz: <strong>de</strong> mais! P.Concorda com ele RSS? RSS diz: tenho 6 e preciso obter 10? Concordo! P.Represent<strong>em</strong> na folha <strong>de</strong> papel como fizeram. [pausa para explicação]9.1.6 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {44}Probl<strong>em</strong>a 44: Eu tinha quatro figurinhas agora tenho <strong>de</strong>z. Quantas eu ganhei?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JF. JF leu e respon<strong>de</strong>u <strong>de</strong> imediato: ganhei6! P. Essa conta é <strong>de</strong> mais, <strong>de</strong> menos, <strong>de</strong> vezes ou <strong>de</strong> dividir? JF diz: <strong>de</strong> mais!. P.Arme a conta e dê a resposta. [Pausa para explicação]. P. Você concorda RSS com


80a resposta <strong>de</strong>le? RSS: concordo! P. Marque as respostas dos probl<strong>em</strong>as (43 e 44)no tablado do jogo.JF repensa individualmente e coloca a peça no seu <strong>de</strong>vido lugar [4: 6]. P.Comentário: as respostas corretas são [4: 6]9.1.7 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {05}Probl<strong>em</strong>a 05: Eu tinha <strong>de</strong>z reais no bolso, <strong>em</strong>prestei sete para meu colega. Quantosme restaram?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta RSS. RSS leu pausadamente. P. Qual é aresposta JF? JF [fica pensando] - RSS diz: 3! P. Concorda com ele JF? JF diz:concordo! P. Por que é 3 JF? JF diz: se eu tenho 10 tiro 7, fico com 3. essa conta é<strong>de</strong> menos! P. Represent<strong>em</strong> no papel a operação mat<strong>em</strong>ática. RSS e JF [pausa parareflexão].9.1.8 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {06}Probl<strong>em</strong>a 06: Qual é o número que multiplicado por três unida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> comoresposta nove?P. Leia voz alta o probl<strong>em</strong>a RSS. RSS leu pausadamente. P. Qual é aresposta JF? JF diz: não entendi! É 6! P. Seis? T<strong>em</strong> certeza? JF fica pensando! P.Essa conta é <strong>de</strong> multiplicação, <strong>de</strong> divisão, <strong>de</strong> mais? JF continua pensando! P. Leianovamente RSS. RSS – leu <strong>de</strong>vagar.P. Expresse o exercício que RSS falou no papel. Como você imaginou paradar o 6. JF [pausa para a explicação]. P. Procure as respostas dos probl<strong>em</strong>as (05 e06) no tablado do jogo RSS. RSS repensa individualmente nas respostas dos doisprobl<strong>em</strong>as e marca no tablado [3: 6]. P. Comentário: as respostas corretas são [3: 3].


9.1.9 Formalizações das respostas dos probl<strong>em</strong>as – grupo “A”81


82A explicação <strong>de</strong> (JF) diante da pergunta: Como você fez para resolver oprobl<strong>em</strong>a? Referindo-nos ao probl<strong>em</strong>a 15: “Dividindo seis cabeças <strong>de</strong> bois entrealguns irmãos, cada um receberá um boi. Quantos são os irmãos”? Embora“distorcida”, caracteriza a representação externa que (JF) “processou” internamenteno seu pensamento e explicitou verbalmente. Observe: “Peguei e vi que dividindo 6cabeças <strong>de</strong> bois entre alguns irmãos cada um receberá 6, então daí eu peguei [...],vi que cada um ia receber 1, então eles estavam <strong>em</strong> 6”O pensamento comunicável verbalizado 10 pelo sujeito está coerente com oprobl<strong>em</strong>a discutido, <strong>em</strong>bora haja uma falta <strong>de</strong> organização das pr<strong>em</strong>issas, isto é, osujeito não organiza os antece<strong>de</strong>ntes, as hipóteses, que, através das implicaçõeslógicas, levam à conclusão do probl<strong>em</strong>a. É um pensamento hipotético-<strong>de</strong>dutivo.10 Pensamento comunicável verbalizado refere-se àquilo que o sujeito fala diante das perguntas do pesquisador.


83Sobre o assunto, Piaget (1976), coloca que o pensamento formal éhipotético-<strong>de</strong>dutivo. Para ele, o sujeito nesta fase, <strong>de</strong>ve possuir capacida<strong>de</strong> paraperceber as ligações entre as suposições, e <strong>de</strong>las <strong>de</strong>duzir as conseqüênciasnecessárias para se chegar à resposta <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a.Nossos indicadores apontam que (JF) teve dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> coor<strong>de</strong>nar taisações ao ser surpreendido pela pergunta do pesquisador.Ao perguntarmos a (JF): qual é a resposta do probl<strong>em</strong>a?, Fazendoreferência ao probl<strong>em</strong>a 16: “Devia duzentos reais para meu colega, hoje <strong>de</strong>voquatrocentos. Por quanto foi multiplicada minha dívida”?, (JF) respon<strong>de</strong>corretamente: “o resultado do probl<strong>em</strong>a é 2!”, De fato. Po<strong>de</strong>ríamos ter parado poraqui. No entanto, ao insistirmos: por quê?, (JF) se vê diante <strong>de</strong> uma dificulda<strong>de</strong> e seexpressa da seguinte maneira: “Antes ele <strong>de</strong>via 200, daí não sei o que ele fez que<strong>de</strong>veu mais 2, ele <strong>de</strong>via 200 <strong>de</strong>pois ficou <strong>de</strong>vendo 400” .Tal pensamento comunicável verbalizado pelo sujeito é incoerente com oprobl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> discussão. A inteligência comunicável para Piaget (1986) exige dosujeito o raciocínio <strong>de</strong>dutivo, tornando explícitas as ligações entre as proposições, os“se..., então....,” O ato <strong>de</strong> convencer o outro e convencer a si mesmo, a eliminaçãodos esqu<strong>em</strong>as <strong>de</strong> analogia, substituindo-os pelo raciocínio <strong>de</strong>dutivo.Para o autor, o pensamento comunicável processa-se <strong>de</strong> modo interativo,através <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> partilhada. A linguag<strong>em</strong> é que permite que o pensamentose expresse e seja reconhecido pelos outros, porém o <strong>de</strong>sejo da comunicação só fazsentido na presença <strong>de</strong> um ouvinte. A comunicabilida<strong>de</strong> ou incomunicabilida<strong>de</strong> “nãosão para o pensamento, atributos que se obtenham do exterior, mas traçosconstitutivos que mo<strong>de</strong>lam profundamente a estrutura do raciocínio”. (PIAGET, 1986,p. 35).Quando perguntávamos ao sujeito (JF): você po<strong>de</strong> escrever como pensouno papel? Probl<strong>em</strong>a 15. T<strong>em</strong>-se a seguinte resposta: “Eu vi que no probl<strong>em</strong>a diziaque tinham alguns irmãos e 6 cabeças <strong>de</strong> boi, então cheguei à conclusão quetinham 6 irmãos”.O pensamento comunicável formalizado 11 pelo sujeito está incoerente com oprobl<strong>em</strong>a discutido, uma vez que as pr<strong>em</strong>issas (alguns irmãos e 6 cabeças <strong>de</strong> bois),que estão na posição <strong>de</strong> hipóteses, po<strong>de</strong>m não levar à resposta apontada pelo11 Pensamento comunicável formalizado refere-se àquilo que o sujeito escreve a pedido do pesquisador.


84sujeito. (JF) apresentou dificulda<strong>de</strong> para formalizar a resposta do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>discussão.Da mesma forma, fazendo inferência ao probl<strong>em</strong>a 16, citado anteriormente,t<strong>em</strong>-se a resposta formalizada no papel como segue: “Eu pensei que 200 reais mais200 ia dar 400, então eu fiz a conta <strong>de</strong> multiplicação”.O pensamento comunicável formalizado pelo sujeito está <strong>de</strong> acordo com oprobl<strong>em</strong>a discutido, visto que, conforme Piaget (1971), as operações aditivas <strong>em</strong>ultiplicativas são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, logo, fazer: 200 x 2 = 400 é o mesmo quefazer: 200 + 200 = 400.Com relação ao probl<strong>em</strong>a 06: “Qual é o número que multiplicado por trêsunida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> como resposta nove”? Diante das questões: Qual é a resposta doprobl<strong>em</strong>a? (JF) respon<strong>de</strong>: Não entendi! É 6! Seis? T<strong>em</strong> certeza? Essa conta é <strong>de</strong>multiplicação, <strong>de</strong> divisão, <strong>de</strong> mais? (JF) continua pensativo. Leia o probl<strong>em</strong>anovamente para ele (RSS) e express<strong>em</strong> na folha <strong>de</strong> papel como fizeram. Segu<strong>em</strong>abaixo as respostas dos dois sujeitos: “Eu imaginei que tinha 3 unida<strong>de</strong>, para chegarao nove faltava 3, então eu conclui que 6 vezes 3 é 9” (JF) e “3 x 3 = 9” (RSS).O pensamento comunicável formalizado pelo sujeito (JF), indica falta <strong>de</strong>familiarida<strong>de</strong> com o domínio da operação <strong>de</strong> multiplicação, como também, apontadificulda<strong>de</strong> na organização dos antece<strong>de</strong>ntes que levam aos conseqüentes.Do ponto <strong>de</strong> vista da lógica das proposições caracterizada no pensamentoformal, os antece<strong>de</strong>ntes organizados pelo sujeito não têm nada a ver com oconseqüente concluído. Enquanto que o pensamento <strong>de</strong> (RSS), indica, neste caso,familiarida<strong>de</strong> com o domínio da operação <strong>de</strong> multiplicação por 3: “3 x 3 = 9”.Piaget (1973) coloca que quando o sujeito fala do seu pensamento para simesmo e para os outros, <strong>de</strong>manda organização das estruturas lógicas oumat<strong>em</strong>áticas.Na nossa interpretação, é possível estabelecer conexão à argumentaçãológica <strong>de</strong> (JF), quando nos referimos à resposta do probl<strong>em</strong>a 06: “Qual é o númeroque multiplicado por três unida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> como resposta nove”? “Eu imaginei que tinha3 unida<strong>de</strong>, para chegar ao nove faltava 3, então eu conclui que 6 vezes 3 é 9” (JF),ao que Piaget (1986) chama <strong>de</strong> lógica egocêntrica.Para ele “a lógica egocêntrica é mais intuitiva que <strong>de</strong>dutiva o que significaque seus raciocínios não são explícitos. O julgamento vai <strong>de</strong> uma só vez das


85pr<strong>em</strong>issas às conclusões, pulando etapas. Tal lógica insiste pouco na <strong>de</strong>monstração,e mesmo no controle das proposições” (p. 34).O uso das operações lógicas necessárias para a resolução dos probl<strong>em</strong>as,<strong>de</strong> forma cooperativa (o que caracteriza uma etapa <strong>de</strong>sta pesquisa), <strong>de</strong>manda, aonosso olhar, o que Piaget (1973), chama <strong>de</strong> a passag<strong>em</strong> da ação irreversível àsoperações reversíveis que se acompanha <strong>de</strong> uma socialização das ações (açõesdialogadas), proce<strong>de</strong>ndo ela mesma do egocentrismo à cooperação.É possível afirmar que não há clareza na <strong>de</strong>cisão tomada por (RSS), quandose refere ao probl<strong>em</strong>a 16, quanto ao principio da multiplicação. Observamos isso,quando o sujeito formalizou a resposta do probl<strong>em</strong>a. B<strong>em</strong> como é possível inferirque as dificulda<strong>de</strong>s surgidas aparent<strong>em</strong>ente estão ligadas à própria noção <strong>de</strong>número. A noção <strong>de</strong> número implica a noção das operações aritméticas e estas secompletam com as operações aditivas e multiplicativas, <strong>de</strong> tal forma que a conquista<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las implica na conquista da outra (Piaget & Sz<strong>em</strong>inska, 1971).Uma adição <strong>de</strong> classes implica uma multiplicação lógica <strong>de</strong>ssas mesmasclasses. O fracasso das operações aditivas se dá por falta das operaçõesmultiplicativas, e vice-versa (Piaget & Sz<strong>em</strong>inska, 1971).Po<strong>de</strong>-se perceber na argumentação <strong>de</strong> (RSS), a falta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> nodomínio dos processos reversíveis que constitu<strong>em</strong> as operações aditivas <strong>em</strong>ultiplicativas, o que implicaria no domínio das operações básicas (um dos objetivos<strong>de</strong>sta pesquisa), quando se refere ao probl<strong>em</strong>a 16, conforme segue: “Primeiro eutinha pensado que o probl<strong>em</strong>a era <strong>de</strong> mais, <strong>de</strong>pois eu fui ver que na verda<strong>de</strong> era <strong>de</strong>multiplicação, então eu fui e fiz 200 x 2 = 400 “.Observe a frase na citação acima: “Eu tinha pensado que o probl<strong>em</strong>a era <strong>de</strong>mais”. De fato. Po<strong>de</strong>ria ser: 200 + 200 = 400, como (JF) fez anteriormente. O queestaria <strong>de</strong> acordo com as operações aditivas e multiplicativas colocadas por (Piaget& Szminska, 1971). No entanto (RSS), não se convenceu, que sua intuição inicial,também estaria correta. Para esses autores, a passag<strong>em</strong> da composição aditiva àmultiplicativa dá-se com a conservação da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas partes consi<strong>de</strong>radasunida<strong>de</strong>s e estabelecendo a soma das partes formando um todo inicial. Disso<strong>de</strong>corre:Uma multiplicação aritmética é uma eqüidistribuição tal que, se n xm, t<strong>em</strong>-se n coleções <strong>de</strong> m termos, ou m coleções <strong>de</strong> n termos, quese correspon<strong>de</strong>m biunivocamente entre si. Des<strong>de</strong> logo, a adição A 1 +A 2 = 2 A é, por isso mesmo, uma multiplicação, multiplicação que


86significa que a coleção A 1 é duplicada por uma outra coleção A 2 , acorrespon<strong>de</strong>r-lhe <strong>de</strong> maneira biunívoca e recíproca. [....], dissodiscorre a divisão aritmética 2 A : 2 = A. (PIAGET & SZMINSKA,1971, p. 271).Em se tratando <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo a partir daresolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as aritméticos, b<strong>em</strong> como, verificar o uso <strong>de</strong> estratégias ehabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação para a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, po<strong>de</strong>-se dizer que ospensamentos socializados, discutidos nas categorias <strong>em</strong> questão, originários dastrocas <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> forma cooperativa, envolvendo os diálogos entre ossujeitos (JF e RSS) - grupo “A”, variam <strong>de</strong> acordo com os probl<strong>em</strong>as trabalhados,<strong>em</strong> grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> maior ou menor, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do probl<strong>em</strong>a envolvido.Neste grupo “A”, dos indicadores <strong>em</strong>ergentes, perceb<strong>em</strong>-se as maioresdificulda<strong>de</strong>s do sujeito (JF) <strong>em</strong>: verbalizar as idéias; formalizar as idéias; dominar asoperações; modificar os caminhos para solucionar os probl<strong>em</strong>as; utilizar asoperações reversíveis e coor<strong>de</strong>nar as ações (proposicionais) constituídas na lógicaformal, conforme Piaget (1976).Para esta conclusão, consi<strong>de</strong>ramos tanto as informações verbalizadas,quanto as formalizadas, na presença do pesquisador.No entanto, nas relações com o material concreto (tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisãoindividual), on<strong>de</strong> (JF) retoma sua lógica verbal, após o diálogo harmônico com seuparceiro (RSS), para marcar as respostas dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo,individualmente, não perceb<strong>em</strong>os dificulda<strong>de</strong>s. O que po<strong>de</strong> caracterizar um melhorrelacionamento entre as ações ligadas ao objeto concreto (peças do jogo <strong>de</strong> dominó)do que as ligadas ao virtual (ações dialogadas).Piaget (1976) <strong>de</strong>staca as operações concretas como sendo <strong>de</strong> primeirapotência, pois suas relações se refer<strong>em</strong> diretamente aos objetos. O pensamentooperatório concreto é caracterizado por uma “extensão do real na direção do virtual”(p.187). Disto <strong>de</strong>corre a importância <strong>em</strong> apresentar aos sujeitos objetosmanipuláveis que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> apoio para a construção <strong>de</strong>ssas operações econtribua na direção do pensamento formal.O sujeito (RSS) não <strong>de</strong>monstrou as mesmas dificulda<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>boraprevaleçam algumas <strong>em</strong>: utilizar as operações reversíveis; modificar os caminhospara solucionar os probl<strong>em</strong>as; coor<strong>de</strong>nar as ações relacionadas ao pensamentoformal (hipóteses e proposições).


87Pu<strong>de</strong>mos observar, nas ações do (RSS), a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rfrente ao seu parceiro, o que caracteriza uma proprieda<strong>de</strong> importante nas relações<strong>em</strong> duplas segundo Bronfenbrenner (1996).Relativamente ao uso do material concreto, (RSS) cometeu apenas um“<strong>de</strong>slize”, apesar <strong>de</strong> formalizar corretamente a resposta do probl<strong>em</strong>a 06 na folha <strong>de</strong>papel, marcou errada no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó. Isto po<strong>de</strong> caracterizar influênciadas ações dialogadas pelo seu parceiro, ou falta <strong>de</strong> atenção no momento <strong>de</strong> marcara resposta no tablado do jogo.Em relação as representações formalizadas na folha <strong>de</strong> papel, os sujeitos<strong>de</strong>monstraram, algumas idênticas e outras diferentes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo doprobl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> discussão. Sobre o assunto Teixeira (2005) contribui:Os sujeitos apresentam compreensões diferentes sobre o mesmoconceito ou estrutura mat<strong>em</strong>ática porque suas representaçõesmentais têm conteúdos diferentes. Sendo assim, as representaçõesinternas e externas são a chave para o estudo do fenômeno dacompreensão (p. 20).Para Freire (1996) o pensar certo é um ato comunicante, que não po<strong>de</strong> sertransferido mas co-participado. Pensar implica a existência <strong>de</strong> “sujeitos que pensammediados por objeto ou objetos sobre que inci<strong>de</strong> o próprio pensar dos sujeitos”.(FREIRE, 1996, p. 37).9.2 GRUPO “B” {LJS e FMS}9.2.1 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {33}Probl<strong>em</strong>a 33: Doze moedas <strong>de</strong> um real serão divididas por um número <strong>de</strong> pessoas<strong>de</strong> modo que cada uma receba seis moedas. Quantas pessoas estão envolvidas?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta LJS. LJS leu pausadamente. FMS respon<strong>de</strong>2! 12 dividido por 2 igual a 6! P. Então são 2 pessoas? Concorda com ele LJS? LJSrespon<strong>de</strong>: sim! P. Como você fez essa conta LJS? LJS diz: eu fiz 12 dividido por 2!P. Então arme a expressão e represente no papel para mim. [Pausa paraexplicação].


88P. Você fez uma operação <strong>de</strong> divisão LJS? LJS disse: sim! P. Por que é <strong>de</strong>divisão essa conta FMS? FMS respon<strong>de</strong>: porque t<strong>em</strong> 12 moedas e quer dividir paraduas pessoas, então dá 2, 4, 6, 8, 10, 12. Conta nos <strong>de</strong>dos. P. T<strong>em</strong> outro jeito <strong>de</strong>fazer essa conta FMS?FMS diz: claro que t<strong>em</strong>! P. Qual é? Mostre! FMS disse: 2 vezes 6. P.Concorda com ele LJS? Essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> vezes também? LJS diz: po<strong>de</strong>. P.Por quê? LJS [reflete <strong>em</strong> silêncio]. P. Que operação é essa? LJS diz: vezes edivisão.9.2.2 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {34}Probl<strong>em</strong>a 34: Eu tinha <strong>de</strong>zesseis figurinhas da copa do mundo, agora tenho <strong>de</strong>zoito.Quantas eu ganhei?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta LJS. LJS leu pausadamente. P. Enten<strong>de</strong>u oprobl<strong>em</strong>a LJS? LJS reflete: 16, 17, 18, conta nos <strong>de</strong>dos. P. Essa conta do que éLJS? LJS diz: é <strong>de</strong> mais. P. Represente no papel. LJS [pausa para explicação]. P.Ache as respostas dos 2 probl<strong>em</strong>as (33 e 34) no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó. LJS diz:não t<strong>em</strong> aqui.P. Você está procurando o 18? Leia o probl<strong>em</strong>a novamente. Qual é aresposta? LJS diz: 2. P. E a resposta do probl<strong>em</strong>a anterior? LJS diz: 6!. P. Logovocê está procurando? LJS marca as respostas dos probl<strong>em</strong>as (33 e 34) [2 : 6] notablado. P. Comentário: as respostas corretas são [2 : 2]9.2.3 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {37}Probl<strong>em</strong>a 37: Eu tinha cinco figurinhas, colecionei mais algumas e completei <strong>de</strong>z.Por quanto foi multiplicada a quantida<strong>de</strong> que eu tinha?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta LJS. LJS leu pausadamente. FMS dá aresposta imediatamente: 5! E explica: foi multiplicado? Dobrou! P. Ta correta ainformação <strong>de</strong>le LJS? LJS [fica pensando]. P. Represente o que LJS falou no papelFMS. FMS [fica pensando]. P. O que o probl<strong>em</strong>a está pedindo? Por quanto foimultiplicado? FMS respon<strong>de</strong>: foi multiplicado por 2. P. Representou qual é a


89resposta FMS? FMS falou: 10! P. Concorda com ele LJS? LJS [fica pensativo] erespon<strong>de</strong>: concordo!9.2.4 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {38}Probl<strong>em</strong>a 38: Eu tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas, <strong>em</strong>prestei todas para meu colega,com quantas fiquei?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta LJS. LJS aten<strong>de</strong> o solicitado. FMS respon<strong>de</strong><strong>em</strong> seguida: eu tinha nada, <strong>em</strong>prestei nada, não tenho nada. E continua seexpressando: ele tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas, tinha que saber o tanto que eletinha. É x igual a [...]. Não, mais tinha que ter pelo menos um número <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plopara resolver o x.P. Concorda com ele LJS? LJS [fica pensando]. P. Como você estárepresentando isso FMS? FMS diz: tenho x, como po<strong>de</strong> ser s, z ou qualquer outraletra, outro número vezes ele. P. Ponha no papel como você está pensando. FMS[fica pensando] e escreve X.0 = 0.P. Você acha que está certo esse exercício LJS? Como você representaria?LJS [fica pensativo]. P. T<strong>em</strong> certeza que esse probl<strong>em</strong>a está correto LJS? LJSrespon<strong>de</strong>: ah! Não sei. P. Quer ler novamente? LJS argumenta: se você não tinhanada vai ficar com nada.P. É isso que o probl<strong>em</strong>a está falando? LJS diz: não! Ele tinha um tanto <strong>de</strong>figurinhas, mas <strong>de</strong>via ter o número <strong>de</strong> figurinhas que ele tinha. P. Marque asrespostas dos probl<strong>em</strong>as (37 e 38) no tablado do jogo LJS. LJS procura asrespostas e marca [5: 0]. P. Comentário: as respostas corretas são [2: 0].9.2.5 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {21}Probl<strong>em</strong>a 21: Se um termômetro marcava um grau negativo e se a t<strong>em</strong>peraturasubiu um grau. Qual a t<strong>em</strong>peratura que marca o termômetro atualmente?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta FMS. FMS leu pausadamente e argumentou:se tinha 1 grau negativo e agora t<strong>em</strong> 1 grau positivo, porque subiu 1 grau. P.Concorda com ele LJS? LJS: concordo! P. Explique porquê a resposta vai dar 1positivo LJS. LJS diz: Porque tinha 1 negativo! Está negativo para chegar ao positivo


90[pausa]. P. Quanto é LJS? LJS diz: 1! P. Represente no papel essa idéia LJS.[pausa para explicação].P. Você está pensando a mesma coisa que ele está pensando FMS? O queé ser negativo e positivo? FMS diz: regra <strong>de</strong> sinais. P. On<strong>de</strong> envolve regra <strong>de</strong> sinaisaí FMS? FMS explica: tinha 1 negativo e agora t<strong>em</strong> 1 positivo, quer dizer que subiu 1positivo. P. Qual é a t<strong>em</strong>peratura que o termômetro marca atualmente FMS? FMSdiz: 1 grau Ceusius! P. Concorda com ele LJS? LJS respon<strong>de</strong>: concordo! P.Conclusão então? FMS diz: 1 grau positivo.P. Represente o outro tipo <strong>de</strong> conta quevocê imaginou FMS.Nessa conta dá um grau positivo FMS? FMS pensa e representa: dá zero.Menos com mais [...] dá zero. P. Represente o cálculo que você está imaginado.FMS [pausa para explicação].9.2.6 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {22}Probl<strong>em</strong>a 22: Hoje eu tenho na minha coleção um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z figurinhas, antes eusó tinha quatro. Quantas eu arrumei?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta FMS. FMS leu o probl<strong>em</strong>a e respon<strong>de</strong>u <strong>em</strong>seguida: resposta 6. P. Essa conta é <strong>de</strong> mais ou subtrair FMS? De mais! P.Represente no tablado do jogo as respostas dos dois probl<strong>em</strong>as (21 e 22). [Pausapara reflexão]. FMS marca as respostas no tablado [1: 6]. P. Comentário: asrespostas corretas são [0: 6]9.2.7 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {25}Probl<strong>em</strong>a 25: Tenho atualmente quatorze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, logo terei <strong>de</strong>zenove,quantos anos <strong>de</strong>vo somar para chegar a essa ida<strong>de</strong>?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta FMS. FMS leu cuidadosamente.Imediatamente LJS <strong>de</strong>u a resposta: 14 mais 5 igual 19. P. Arme a operaçãomat<strong>em</strong>ática e represente na folha <strong>de</strong> papel. FMS e LJS [pausa para representação].


919.2.8 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {26}Probl<strong>em</strong>a 26: Certo time <strong>de</strong> futebol tinha <strong>de</strong>zesseis pontos no campeonato, agorat<strong>em</strong> doze pontos. Isto quer dizer que o time per<strong>de</strong>u?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta FMS. FMS: leu. LJS repon<strong>de</strong>: per<strong>de</strong>u 4pontos. P. Essa conta é <strong>de</strong> mais, ou <strong>de</strong> menos, ou <strong>de</strong> vezes? LJS: <strong>de</strong> menos! 16menos 4 igual a 12. P. Concorda com ele FMS? FMS [pausa para respon<strong>de</strong>r]. P.Está <strong>em</strong> dúvida? T<strong>em</strong> outra maneira <strong>de</strong> fazer s<strong>em</strong> ser essa operação? FMS: po<strong>de</strong>riaser 4 menos <strong>de</strong>zesseis igual a menos doze.P. Aí dá negativo! Porque não po<strong>de</strong>ria dar resultado negativo FMS? FMSexplica: porque o primeiro número é positivo e o outro é negativo. P. Porque énegativo FMS? FMS respon<strong>de</strong>: porque é menos. P. T<strong>em</strong> certeza que o outro númeroé menos FMS?O que você acha LJS? LJS [fica pensando]. FMS tenta explicar: eu tinha 16pontos, daí eu <strong>de</strong>via 4, dá 12. Porque esse 4 que eu tinha era menos, porque eu<strong>de</strong>via, agora tenho 12. Paguei minha dívida. P. Mas dívida não é um fato negativo?É! Respon<strong>de</strong>. Eu estou falando que <strong>de</strong>via 4. P. Sim, mais neste caso o que estamospensando? Estamos falando <strong>em</strong> pontos <strong>de</strong> futebol. Exist<strong>em</strong> pontos <strong>de</strong> futebolnegativo? Não! Disse LJS.P. Então, qual é a conclusão <strong>de</strong> vocês dois? Ele ficou com 12 pontos disseLJS. Porque per<strong>de</strong>u 4 pontos completou FMS.P. Marque as respostas dosprobl<strong>em</strong>as (21 e 22) no tablado FMS. FMS [pensa individualmente procura e marca:[5: 4]. P. Comentário: as respostas corretas são [5: 4].


9.2.9 Formalizações das respostas dos probl<strong>em</strong>as – grupo “B”92


93A análise dos dados relativamente aos probl<strong>em</strong>as discutidos pelos sujeitos(LJS e FMS), grupo “B”, nos permite inferir, inicialmente, ao probl<strong>em</strong>a 33: “Doz<strong>em</strong>oedas <strong>de</strong> um real serão divididas por um número <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> modo que cadauma receba seis moedas. Quantas pessoas estão envolvidas”? A característica<strong>de</strong>ste probl<strong>em</strong>a é a mesma do probl<strong>em</strong>a 15, discutido com os sujeitos (JF e RSS).Quando perguntamos a (FMS), porque é <strong>de</strong> divisão essa conta? A respostafoi a seguinte: “porque t<strong>em</strong> 12 moedas e quer dividir para 2 pessoas, então dá: 2, 4,6, 8, 10 e 12- contando nos <strong>de</strong>dos” A resposta <strong>de</strong> (FMS), indica uma tentativa <strong>de</strong>


94explicação, a partir da verificação da “quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vezes que um número cabe<strong>de</strong>ntro do outro”. Essa possibilida<strong>de</strong> é permitida pela operação <strong>de</strong> divisão.Além da explicação acima, que é pertinente e correta, (FMS) apresentou asseguintes respostas às próximas perguntas: t<strong>em</strong> outro jeito <strong>de</strong> fazer essa contaFMS? Claro que t<strong>em</strong>! Qual é? Mostre! 2 x 6 é 12! . A explicação <strong>de</strong> (FMS), <strong>de</strong>nota oconhecimento <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> importante do pensamento concreto, segundoPiaget (1976), que são as operações reversíveis. (FMS) <strong>de</strong>monstrou, neste caso,reconhecer a reversibilida<strong>de</strong> entre uma operação <strong>de</strong> divisão e uma <strong>de</strong> multiplicaçãono mesmo objeto <strong>em</strong> discussão.Embora (LJS) estivesse <strong>de</strong> acordo com as explicações verbais apresentadaspor (FMS), marcou errada a resposta do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão no tablado do jogo <strong>de</strong>dominó. (LJS), marcou a resposta 6, ao invés <strong>de</strong> 2, o que, parece ter permanecidouma sombra <strong>de</strong> dúvida na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> (LJS), já que a responsabilida<strong>de</strong> daprocura da resposta do probl<strong>em</strong>a, no tablado do jogo, cabe ao sujeito que está compeça na mão. No caso, tal responsabilida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> (LJS). Para melhor compreensão<strong>de</strong>sta passag<strong>em</strong>, o leitor <strong>de</strong>verá recorrer às intervenções dialogadas - probl<strong>em</strong>as 33e 34 - grupo “B”.Apesar <strong>de</strong> (FMS) ter apresentado, relativamente ao probl<strong>em</strong>a 33, umadiscussão verbal que envolve a compreensão dos processos reversíveis,característicos do pensamento concreto, conforme Piaget (1976), a formalização (arepresentação simbólica) do probl<strong>em</strong>a foi apresentada somente <strong>de</strong> uma forma: 12 ÷2 = 6. Para Piaget (1976), “n<strong>em</strong> todo pensamento verbal é formal” (p. 189).Relativamente aos probl<strong>em</strong>as 37 e 38 t<strong>em</strong>-se: probl<strong>em</strong>a 37: “Eu tinha cincofigurinhas, colecionei mais algumas e completei <strong>de</strong>z. Por quanto foi multiplicada aquantida<strong>de</strong> que eu tinha”? Após a leitura do probl<strong>em</strong>a feita por (LJS), (FMS) dá aseguinte resposta: 5! E explica: foi multiplicado! Dobrou! Por quanto foimultiplicado? Foi multiplicado por 2! Qual é a resposta FMS? É 10! , e formaliza: 5 +5 = 10. Enquanto (LJS) presta atenção na conversa.A argumentação <strong>de</strong> (FMS) po<strong>de</strong> constituir o que Piaget (1971) aponta arespeito das operações constitutivas do número (a correspondência termo a termo)que possui a característica <strong>de</strong> conservar a equivalência mesmo envolvendomudanças <strong>de</strong> disposição dos objetos. Por ex<strong>em</strong>plo: 1 + 1 = 2; 2 + 1 = 3; 3 + 1 = 4, nocaso, 5 + 5 = 10, o que constitu<strong>em</strong> os agrupamentos aditivos <strong>de</strong> classes.


95Com relação ao probl<strong>em</strong>a 38 t<strong>em</strong>-se: “Eu tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas,<strong>em</strong>prestei todas para meu colega com quantas fiquei”? Segue a argumentação <strong>de</strong>(FMS): “Eu tinha nada, <strong>em</strong>prestei nada, não tenho nada. Ele tinha certo número <strong>de</strong>figurinhas, tinha que saber o tanto que ele tinha. É x igual a [...]. Não! Mais tinha queter pelo menos um número <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo para resolver o x. [..], tenho x, como po<strong>de</strong> sers, z ou qualquer outra letra, outro número vezes ele. [...], x.0 = 0” (FMS).Consi<strong>de</strong>rando os indicadores <strong>em</strong> questão, afirma-se que (FMS) apresentoudificulda<strong>de</strong> ao interpretar o probl<strong>em</strong>a da forma que foi escrito, apesar <strong>de</strong> terarriscado uma estratégia (caminho alternativo) <strong>de</strong> representação algébrica nas suasargumentações: “tenho x, como po<strong>de</strong> ser s, z ou qualquer outra letra, outro númerovezes ele. X . 0 = 0”.O sujeito (LJS), apesar <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ciso, acaba sendo induzido pelas idéias <strong>de</strong>(FMS) e se expressa <strong>de</strong> maneira idêntica, diante das indagações: T<strong>em</strong> certeza queesse probl<strong>em</strong>a está correto LJS? Ah! Não sei. Se você não tinha nada vai ficar comnada. Não! Ele tinha um tanto <strong>de</strong> figurinhas, mais <strong>de</strong>via ter o número <strong>de</strong> figurinhasque ele tinha”(LJS). (LJS) também <strong>de</strong>monstra dificulda<strong>de</strong> para interpretar esseprobl<strong>em</strong>a.Po<strong>de</strong>-se afirmar com base na literatura <strong>de</strong> Bronfenbrenner (1996), quandose refere ao equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s diádicas, que nas relações dialogadasnesta dupla, não prevaleceu o equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas sim o domínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dosujeito (FMS) <strong>em</strong> relação ao parceiro. Po<strong>de</strong>-se afirmar também, que tal domínio <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r, contribuiu negativamente nas <strong>de</strong>cisões individualizadas do parceiro (LJS),quando da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão frente às respostas dos probl<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong>encontradas no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó.Tais respostas foram apresentadas como segu<strong>em</strong>: as respostas dosprobl<strong>em</strong>as 33 e 34 são [2 : 2], (LJS) marcou no tablado do jogo [2 : 6]; as respostasdos probl<strong>em</strong>as 37 e 38 são [2 : 0], (LJS) marcou no tablado [5 : 0]; as respostas dosprobl<strong>em</strong>as 21 e 22 são [0 : 6], (LJS) marcou no tablado [1 : 6]. Para compreen<strong>de</strong>rmelhor esta passag<strong>em</strong> o leitor <strong>de</strong>verá recorrer às intervenções dialogadasenvolvendo tais probl<strong>em</strong>as - grupo “B” .As colocações <strong>de</strong> (LJS), se levarmos <strong>em</strong> conta os pressupostos dapesquisa, dada a reflexão que fez diante das intervenções, leva-nos a duas direçõesque precisam ser consi<strong>de</strong>radas:


96Em primeiro lugar, o papel do material disponibilizado pelo pesquisador; e<strong>em</strong> segundo, as ações e coor<strong>de</strong>nações das ações do sujeito, que não estãovinculadas somente ao material disponível, e sim, num jogo entre egocentrismo ecomunicabilida<strong>de</strong>. Há um momento na pesquisa, <strong>em</strong> que o objeto concreto (jogo <strong>de</strong>dominó) é substituído por probl<strong>em</strong>as verbais, ou seja, o momento das intervençõesdialogadas.Para Freire (1996) a tarefa do educador é “exercer a prática <strong>de</strong> inteligir,<strong>de</strong>safiar o educando com qu<strong>em</strong> se comunica e a qu<strong>em</strong> comunica e produzir suacompreensão do que v<strong>em</strong> sendo comunicado”. (FREIRE, 1996, p. 38).Para Piaget (1976), a relação objeto real e probl<strong>em</strong>as verbais, superpõ<strong>em</strong>uma nova lógica, a lógica das proposições (característica do pensamento formal),que supera <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s operatórias a lógica das classes e relaçõescaracterísticas dos agrupamentos.A lógica das proposições supera a manipulação do objeto que, por um lado,é utilizado na busca <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> operações mat<strong>em</strong>áticas. Repetir ou darresultados imediatos não expressa necessariamente domínio das operaçõesmat<strong>em</strong>áticas. Micotti (2001). A lógica das proposições age sobre as operaçõespossíveis e se manifesta tanto diante <strong>de</strong> situações experimentais, como diante <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as verbais (Piaget, 1976). Para melhor compreensão <strong>de</strong>ssa passag<strong>em</strong>recorr<strong>em</strong>os às argumentações <strong>de</strong> Piaget, como segu<strong>em</strong>:Neste caso, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> o raciocínio se voltar para os dadosinteiramente formulados, o sujeito é levado a propor seus probl<strong>em</strong>ase a criar seus métodos pessoais, [...], <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o contato com osprobl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> fato, o pensamento formal parte <strong>de</strong> hipótese, isto é, dopossível, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> limitar-se a uma estruturação direta dos dadospercebidos. Portanto, o característico da lógica das proposições, [...]é, antes <strong>de</strong> tudo, uma lógica <strong>de</strong> todas as combinações possíveis dopensamento, tanto no caso <strong>em</strong> que tais combinações aparec<strong>em</strong> comprobl<strong>em</strong>as experimentais, quanto no caso <strong>em</strong> que aparec<strong>em</strong> diante<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as puramente verbais. S<strong>em</strong> dúvida, tais combinações sesuperpõ<strong>em</strong>, graças às hipóteses, à simples leitura dos dados.(PIAGET, 1976, p. 190).O ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> (LJS), se nos referirmos aos indicadores, confere falta<strong>de</strong> domínio das operações mat<strong>em</strong>áticas, tendo <strong>em</strong> vista que o sujeito necessita lerindividualmente, interpretar e achar as respostas dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo.Além <strong>de</strong>sta passag<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciada, há outras dificulda<strong>de</strong>s tais como: a procura <strong>de</strong>


97caminhos alternativos para resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos; o uso <strong>de</strong> caminhosreversíveis, além das coor<strong>de</strong>nações das ações no sentido <strong>de</strong> levantar hipóteses e<strong>de</strong>duzir as respostas a partir <strong>de</strong> proposições.9.3 GRUPO “C” {JPL e ASD}9.3.1 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {41}Probl<strong>em</strong>a 41: Se <strong>de</strong>z latas <strong>de</strong> leite <strong>em</strong> pó custam trinta reais. Quanto custa umalata?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JPL. JPL: leu pausadamente. P. Você sabe aresposta do probl<strong>em</strong>a JPL? Sei! P. Qual é a reposta? 3! P. Você explica por quê?Se 10 lata custa 30, porque 1 só custa 3, porque 10 vezes 3 dá 30. P.Concorda com ele ASD? ASD: fica pensativo. P. Prestou atenção no probl<strong>em</strong>a ASD?Preste atenção que ele vai ler novamente pra você. JPL leu pausadamente. ASDcontinua pensativo. P. Qual é a resposta ASD? ASD [<strong>de</strong>mora].P. Leia <strong>de</strong>vagar para ele JPL, quero ver se ele consegue captar amensag<strong>em</strong>. JPL leu pausadamente. ASD respon<strong>de</strong>: 30 reais. P. Trinta reais? JPLrebate: se 10 custa 30 então quanto custa 1? P. Você está pensando no probl<strong>em</strong>aASD? ASD pergunta: como que é? P. Como que é! Isso é importante vai! Explicapara ele como você fez essa conta JPL. JPL repete: se 10 lata custa 30, 1 custa 3,porque 3 vezes 10 dá 30.P. Certo? Você consegue fazer essa conta no papel explicandomat<strong>em</strong>aticamente como fez JPL? Como você representa isso <strong>em</strong> termos <strong>de</strong>mat<strong>em</strong>ática? [pausa para explicação <strong>de</strong> JPL]. P. Você concorda com ele ASD que étrês reais cada uma? ASD não respon<strong>de</strong>. P. concorda? Sim ou não? Não concordo!P. Porque não concorda? Se você não concorda explique para mim como<strong>de</strong>ve ser a conta. ASD diz: não sei! E tenta escrever alguma coisa. P. O que vocêacha ASD? Ta certo? Coloque no papel como fez o probl<strong>em</strong>a. Você também JPL.[pausa para explicação].9.3.2 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {42}Probl<strong>em</strong>a 42: Em uma prova <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, Lucas acertou cinco questões das <strong>de</strong>zexistentes. Quantas ele errou?


98P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JPL. JPL leu <strong>de</strong>vagar. ASD respon<strong>de</strong>rapidamente: 5! P. Cinco? JPL e ASD confirmam. P. Têm certeza? ASD balança acabeça dizendo sim. P. porque é 5? ASD rebate: ele acertou 10, não! Ele acertou 5!JPL completa: 10 dividido por 2 dá 5. P. Pe<strong>de</strong> para JPL esperar o colega pensar.P. Como que era o probl<strong>em</strong>a mesmo? JPL leu novamente. ASD confirmasua resposta: 5! P. Por quê? ASD: era 10 perguntas e ele acertou 5. P. Essa conta é<strong>de</strong> mais, ou <strong>de</strong> menos, ou <strong>de</strong> vezes ou <strong>de</strong> divisão? ASD [fica pensando] e respon<strong>de</strong>:<strong>de</strong> divisão. P. Essa conta é <strong>de</strong> divisão JPL? JPL concorda balançando a cabeça ecompleta: po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais também. Se ele acertou 5, daí das 10, ele soma até aquantia dá 10, daí dá 5.P. Concorda com ele ASD que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais? Como essa conta po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong> mais? ASD [fica pensando]. P. Por que essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais JPL?Por que se ele acertou 5 das 10 ele po<strong>de</strong> somar até dá 10. P. Essa conta po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong> menos? JPL respon<strong>de</strong>: não! Só se for 10 menos 5. Dá também! P. Essa contapo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> divisão ASD? ASD: po<strong>de</strong>! P. Por quê? ASD [fica pensando]. P. Nãosabe?P. Essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> vezes JPL? JPL respon<strong>de</strong>: não! P. Conseguerepresentar no papel como ficaria escrita essa conta ASD? [fica pensando]. P. Leianovamente o probl<strong>em</strong>a para ele JPL. ASD tenta escrever alguma coisa comdificulda<strong>de</strong>. P. Quer que leia <strong>de</strong> volta o probl<strong>em</strong>a ASD? Eram 10 questões na tuaprova <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, você errou 5, quantas você acertou? ASD respon<strong>de</strong>: 5! Erepresenta a conta <strong>de</strong> subtração: 10 – 5 = 5.P. Qual é a resposta do probl<strong>em</strong>a 41? e do 42 JPL? JPL diz: a do o 41 é 30!E a do 42 é 5. P. Então ache as repostas dos 2 probl<strong>em</strong>as no tablado. Existe 30 e 5no dominó? T<strong>em</strong> certeza que é o 30 e o 5 que você procura? JPL estava confusopara marcar o resultado dos probl<strong>em</strong>as no tablado do jogo.P. Leia novamente os probl<strong>em</strong>as e apresente as respostas separadamente.JPL leu pausadamente e achou as respostas: [3: 5]. P. Comentário: as respostascorretas são [3: 5].9.3.3 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {51}Probl<strong>em</strong>a 51: Faltavam seis meses para o meu aniversário, agora só falta um.Quantos meses se passaram?


99P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JPL para o colega. JPL aten<strong>de</strong> o solicitado –ASD <strong>de</strong>mora a respon<strong>de</strong>r. P. JPL leia novamente. Quantos meses se passaramASD?ASD [fica pensando]. P. Qual é a resposta? ASD <strong>de</strong>mora. P. Leia novamentepara ele JPL. JPL leu <strong>de</strong> novo pausadamente. ASD respon<strong>de</strong>: 5 meses. P. Concordacom ele JPL? Concordo! P. Então façam no papel a conta para mim. [pausa paraexplicação]9.3.4 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {52}Probl<strong>em</strong>a 52: José t<strong>em</strong> três reais no bolso, por quanto <strong>de</strong>ve ser multiplicado essevalor para que José fique com quinze reais?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JPL. Resposta do probl<strong>em</strong>a ASD? JPL leu<strong>de</strong>vagar. ASD fica pensando para respon<strong>de</strong>r. P. Como <strong>de</strong>ve ser feita à conta ASD?ASD fica t<strong>em</strong>po pensando. P. Leia novamente para ele JPL. ASD tenta escreveralguma coisa. P. Qual é a resposta? ASD respon<strong>de</strong>: 15! P. Por quanto vocêmultiplicou 3 para dar 15? Por 3! Não, vezes 5. Respon<strong>de</strong>.P. Tá certo isso JPL? Sim! Diz: JPL. P. Essa conta po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> divisão?Não! Diz: JPL. P. Não? T<strong>em</strong> certeza? Não! Respon<strong>de</strong> novamente JPL. P. Concordacom ele ASD? ASD não respon<strong>de</strong>. P. Quais são as respostas dos dois probl<strong>em</strong>as(51 e 52) JPL? Procure no tablado. JPL procura e marca [5: 5]. P. Comentário: asrespostas corretas são [5: 5].9.3.5 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {39}Probl<strong>em</strong>a 39: Ont<strong>em</strong> eu tinha <strong>de</strong>z reais no bolso, hoje tenho cinqüenta. Por quantofoi multiplicado o valor anterior?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta ASD. Qual é a resposta? ASD aten<strong>de</strong> osolicitado <strong>de</strong>mora um pouco e respon<strong>de</strong>: 40! P. Quarenta? Concorda que é quarentaJPL? Não! P. Não por quê? Explique para seu colega. JPL diz: foi multiplicada por 5,porque 5 vezes 10 é 50.P. Ta certo o que ele pensou ASD? ASD respon<strong>de</strong>: não sei, porque n<strong>em</strong> eusei! P. Então agora vamos inverter: Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta JPL. ASD


100respon<strong>de</strong>u: 5! P. 5? Você consegue armar a conta e fazer pra mim? [pausa paraexplicação]. ASD formaliza no papel: 10 x 5 = 50.9.3.6 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {40}Probl<strong>em</strong>a 40: Ao tentar fazer uma multiplicação a resposta dá s<strong>em</strong>pre zero. Porquanto estou multiplicando?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta ASD. ASD leu <strong>de</strong>vagar. P. Por quanto estámultiplicando? ASD fica pensativo e diz: não sei! P. Sabe a resposta JPL? Sei! Porzero. P. Por quê? Qualquer número multiplicado por zero dá zero! P. Ta certo issoASD? Ta! P. Concorda com ele ASD? Concordo! Balançando a cabeça. P. Escrevalá no papel como você vai fazer essa conta dar zero. ASD escreve: 50 x 0 = 0.P. Qual é a resposta do probl<strong>em</strong>a 39 ASD? L<strong>em</strong>bra? 50! P. Cinqüenta oucinco? Não! É 5. P. E a resposta do probl<strong>em</strong>a 40? 0!. P. Então encontre no tabladoas respostas dos dois probl<strong>em</strong>as. ASD procura e marca: 5 e 0. P.Comentário: asrespostas corretas são [5 : 0].9.3.7 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {45}Probl<strong>em</strong>a 45: José t<strong>em</strong> nove cavalos <strong>de</strong> corrida e quer <strong>de</strong>ixá-los como herança paraseus três filhos. Aju<strong>de</strong> José resolver o probl<strong>em</strong>a.P. Leia <strong>em</strong> voz alta o probl<strong>em</strong>a ASD. Sabe a resposta do probl<strong>em</strong>a? ASDleu e respon<strong>de</strong>u: José t<strong>em</strong> 3 filhos e quer <strong>de</strong>ixar 9 cavalos para eles. Vai dar 3cavalos para cada um. P. Ta certo o que ele pensou JPL? Ta! P. Por que? Porque ésó multiplicar 3 vezes 3 ou dividir 9 por 3. P. Explique então no papel como você vaiarmar essa conta. [pausa para explicação].P. Concorda com ele ASD? ASD balança a cabeça concordando. P. Então aconta é do que ASD? De divisão! P. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> vezes essa conta ASD? JPLinterfere: dá! 3 vezes 3, nove! ASD respon<strong>de</strong>: po<strong>de</strong>! P. Como ficaria se fosse <strong>de</strong>vezes? Ficava 3! P. Três o quê? 3 cavalos para cada um! P. Mais três é [...]?3dividido por 9! P. Três dividido por 9? 3 x 3! P. Três vezes três? Então ponha nopapel para mim. [pausa para explicação]. ASD escreve: 9 ÷ 3 =3 e 9 x 3 = 9.


1019.3.8 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {46}Probl<strong>em</strong>a 46: Ont<strong>em</strong> eu tinha uma moeda, perdi no jogo para meu amigo. Comquantas eu fiquei?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta ASD. ASD aten<strong>de</strong>u a solicitação. JPL pediupara o colega ler novamente. P. Qual é a resposta ASD? 0! P. Ta certo isso JPL?Ta!P. Essa conta é <strong>de</strong> mais, <strong>de</strong> menos, <strong>de</strong> divisão JPL? De menos! P. Arme a contae faça para mim. [pausa para explicação]. P. 1 menos 1 é zero? É isso que oprobl<strong>em</strong>a está falando ASD? Não! Mais dá para ser! Fica zero. Então a resposta ézero! E escreve: 1 – 1 = 0.P. O probl<strong>em</strong>a 45 dava quanto à resposta? Zero! E o 46? Zero! P. Marqueas respostas no tablado do jogo. ASD procura as respostas e marca [0: 0]. P.Comentário: as respostas corretas são [3:0].


9.3.9 Formalizações das respostas dos probl<strong>em</strong>as – grupo “C”102


103


104Segu<strong>em</strong>-se às argumentações <strong>de</strong> (JPL e ASD) – grupo “C”, primeiramentefazendo referência ao probl<strong>em</strong>a 41: “Se <strong>de</strong>z latas <strong>de</strong> leite <strong>em</strong> pó custam trinta reais.Quanto custa uma lata?” Ao perguntarmos: você sabe a resposta do probl<strong>em</strong>a(JPL)? T<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> imediato: sei! Qual é a resposta? 3! Você explica por quê? “Se 10lata custa 30, porque 1 só custa 3, porque 10 vezes 3 da 30”. Qual é a resposta doprobl<strong>em</strong>a (ASD)? 30 reais!. Trinta reais? Explique para ele como você fez essaconta (JPL). (JPL) repete: “se 10 lata custa 30, 1 custa 3, porque 3 vezes 10 dá 30”.Nota-se que (JPL) assume o comando <strong>em</strong> relação ao parceiro<strong>de</strong>monstrando cooperação e solidarieda<strong>de</strong>.Na verda<strong>de</strong>, esperávamos que (JPL), fosse apresentar a operação <strong>de</strong>divisão: 30 ÷ 10 = 3, visto estar<strong>em</strong> explícitos no probl<strong>em</strong>a a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> latas (10)e o valor total (30,00 reais). No entanto (JPL), mostrou a possibilida<strong>de</strong> da solução doprobl<strong>em</strong>a por vias diferentes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da or<strong>de</strong>m: 10 x 3 = 30 e 3 x 10 = 30,<strong>de</strong>notando conhecimento da proprieda<strong>de</strong> comutativa da multiplicação. Numamultiplicação se invertermos os fatores o produto não se altera. A proprieda<strong>de</strong>comutativa é característica do grupo comutativo Piaget (2003).Piaget (2003) se refere às estruturas <strong>de</strong> grupo como forma lógicomat<strong>em</strong>ática<strong>de</strong> abstração. A abstração reflexiva que caracteriza o pensamentológico-mat<strong>em</strong>ático é retirada não dos objetos, mais sim, das ações e coor<strong>de</strong>naçõesdas ações sobre os objetos, tais como or<strong>de</strong>nar, correspon<strong>de</strong>r, etc., São essascoor<strong>de</strong>nações que se encontram no grupo, ou seja, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar aoponto <strong>de</strong> partida (operação inversa) e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir o mesmo objetivopor caminhos diferentes.O sujeito (ASD) <strong>de</strong>monstrou dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r as colocações doseu parceiro (JPL), discordando da sua resposta. Você concorda (ASD) que é trêsreais cada uma das latas? Não concordo! Por que não concorda? Explique paramim como <strong>de</strong>ve ser a conta. (ASD) diz: não sei! No entanto escreve no papel o que(JPL) tinha argumentado: “3 x 10 = 30”.Relativamente ao probl<strong>em</strong>a 42: “Em uma prova <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, Lucasacertou cinco questões das <strong>de</strong>z existentes. Quantas ele errou”? Após a leitura quefoi feita por (JPL), (ASD) respon<strong>de</strong> rapidamente: 5! . No entanto, ao perguntarmos:por que é cinco? (ASD) rebate: ele acertou 10! Não, ele acertou 5. (JPL) completa:“10 dividido por 2 dá 5”. Essa conta é <strong>de</strong> mais, ou <strong>de</strong> menos, ou <strong>de</strong> vezes ou <strong>de</strong>divisão? Perguntávamos a (ASD). De divisão! Respon<strong>de</strong>. Essa conta é <strong>de</strong> divisão


105(JPL)? “Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais também, se ele acertou 5, daí das 10, ele soma até aquantia dá 10, daí dá 5”. Essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> menos (JPL)? “Não! Só se for 10menos 5. Dá também”!.Em resumo: (JPL) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u sua posição até o final do diálogo e formalizou oresultado do probl<strong>em</strong>a apresentando a operação <strong>de</strong> divisão: 10 ÷ 2 = 5, <strong>em</strong>bora, <strong>de</strong>imediato, o probl<strong>em</strong>a não pareça ser <strong>de</strong> divisão. Percebe-se na atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> (JPL),uma visão para “além das aparências”. A propósito, o probl<strong>em</strong>a leva <strong>de</strong> imediato auma operação <strong>de</strong> subtração.Enquanto que (ASD) apesar <strong>de</strong> concordar com o colega, formalizou suaresposta apresentando a operação <strong>de</strong> subtração: 10 – 5 = 5. Para compreen<strong>de</strong>r naíntegra as relações dialogadas com os dois sujeitos o leitor <strong>de</strong>verá recorrer ao grupo“C” .Vale fazer referência ao probl<strong>em</strong>a 52: “José t<strong>em</strong> três reais no bolso, porquanto <strong>de</strong>ve ser multiplicado esse valor para que José fique com quinze reais”? Aoapresentar a leitura do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta, feita por (JPL) se dirigindo ao colega,observa-se diante das indagações: Qual é a resposta do probl<strong>em</strong>a? (ASD) ficapensando. O pesquisador pe<strong>de</strong> à (JPL) para que leia novamente o probl<strong>em</strong>a. (ASD)respon<strong>de</strong>: 15! Por quanto você multiplicou 3 para dar 15? (ASD) respon<strong>de</strong>: Por 3!Não, vezes 5! Ta certo isso (JPL)? Sim! Essa conta po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> divisão? Não!Disse (JPL), Concorda com ele (ASD)? (ASD) não respon<strong>de</strong>.Do exposto acima, percebe-se o domínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r centrado no sujeito (JPL)<strong>em</strong> relação ao colega. O sujeito não só dominou o contexto geral do assunto <strong>em</strong>discussão, como <strong>de</strong>monstrou ser solidário, ajudando o parceiro nas suasdificulda<strong>de</strong>s. Dos indicadores <strong>em</strong> análise, prevalece pen<strong>de</strong>nte ainda, a organização,no momento <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar as ações, quando explica verbalmente ao pesquisador osprobl<strong>em</strong>as por vias diversificadas.Por outro lado, o sujeito (ASD), <strong>de</strong>monstra dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong>: dominar asoperações mat<strong>em</strong>áticas; modificar ou inovar os caminhos para resolver osprobl<strong>em</strong>as; dominar as operações reversíveis; coor<strong>de</strong>nar as ações utilizando-se dasproposições lógicas mat<strong>em</strong>áticas. No entanto, como ser pensante, o sujeito assumesuas dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> relação ao parceiro. Freire (1996) coloca que uma das “tarefasmais importante da prática educativo-crítica é proporcionar as condições para que oseducandos <strong>em</strong> suas relações uns com os outros e todos com o professor ensai<strong>em</strong> aexperiência profunda <strong>de</strong> assumir<strong>em</strong>-se”. (FREIRE, 1996, p. 41).


106Relativamente às apresentações das soluções dos probl<strong>em</strong>as no tablado dojogo <strong>de</strong> dominó, (ASD) marcou as repostas dos probl<strong>em</strong>as 45 e 46 erradas. Asrespostas corretas são [3 : 0]. (ASD) marcou [0 : 0]. Para compreen<strong>de</strong>r melhor estapassag<strong>em</strong> o leitor <strong>de</strong>verá recorrer às intervenções dialogadas com os probl<strong>em</strong>as –grupo “C”.9.4 GRUPO “D” {EJLM e DVG}9.4.1 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {13}Probl<strong>em</strong>a 13: Se uma dúzia correspon<strong>de</strong> a doze unida<strong>de</strong>s, então meia dúziacorrespon<strong>de</strong> a?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta EJLM. EJLM leu. DVG não compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>imediato. P. Leia novamente EJLM. DVG respon<strong>de</strong>: 1 dúzia a 12, ½ dúzia a 6. P. Tacerto ou ta errado EJLM? Ta certo! P. Ta certo isso DVG? Claro! ½ dúzia é 6, euacho. P. Essa conta é <strong>de</strong> mais, ou menos, ou <strong>de</strong> divisão EJLM? De menos!P. É <strong>de</strong> menos EJLM? DVG rebate: é <strong>de</strong> dividir! P. Porque é <strong>de</strong> dividir? DVGdiz: Não sei! [fica pensando] e pergunta para EJLM: por que é <strong>de</strong> dividir? EJLM diz:não sei! P. É <strong>de</strong> dividir essa conta EJLM? EJLM fica pensando por alguns minutos erespon<strong>de</strong>: é! P. Por quê? Por que é só dividir por 12.P. Escrevam como fizeram para resolver. [pausa para explicação]. DVGapresenta dificulda<strong>de</strong> para formalizar seu pensamento e pergunta: t<strong>em</strong> que ser dojeito <strong>de</strong>le? P. Não necessariamente! Você l<strong>em</strong>bra do probl<strong>em</strong>a quando EJLM leu?Não! Respon<strong>de</strong>!P. Leia novamente EJLM. DVG respon<strong>de</strong>: 6! P. Tudo b<strong>em</strong>! Expresse nopapel como fez para dar seis. DVG escreve alguma coisa e pergunta: po<strong>de</strong> serassim? P. Você acha que é assim? Essa conta po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> multiplicação EJLM?EJLM fica pensando. DVG respon<strong>de</strong>: po<strong>de</strong>! P. Po<strong>de</strong>? Por que po<strong>de</strong>? Po<strong>de</strong>! Por qu<strong>em</strong>ultiplicando por 6 dá 6!P. Multiplicar quanto por seis? EJLM interfere: multiplicar o 6 duas vezes! P.Se multiplicar seis duas vezes vai dar o doze? EJLM diz: dá! E balança a cabeçaconfirmando. P. Seria seis vezes quanto então? EJLM respon<strong>de</strong>: 6 vezes 2. DVGcompleta: 6 vezes 2 doze!


107P. Então qual é a resposta <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a DVG? 6! E escreve: 12 ÷ 6= 6.P. Concorda com ele EJLM? Sim!9.4.2 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {14}Probl<strong>em</strong>a 14: Meia dúzia <strong>de</strong> banana correspon<strong>de</strong> a seis unida<strong>de</strong>s, por quanto <strong>de</strong>vomultiplicar meia dúzia para obter <strong>de</strong>zoito unida<strong>de</strong>s?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta EJLM. EJLM leu. DVG respon<strong>de</strong>rapidamente: 6! P. Sabe a resposta DVG? Espera aí! DVG diz: 3! P. É três DVG?Eu acho! P. É três EJLM? EJLM respon<strong>de</strong>: não balançando a cabeça. P. Qual é aresposta EJLM? T<strong>em</strong> que fazer a conta! P. Você vai fazer a conta <strong>de</strong>? D<strong>em</strong>ultiplicação!P. É <strong>de</strong> multiplicação a conta que ele vai fazer DVG? Não sei, acho que é! P.Por que você acha que é? DVG fica pensando. P. Explique! Não sei explicar! P.Sabe explicar EJLM? EJLM pensa um pouco e diz: por que vai ter que multiplicar praver quanto vai dá. Se eu for fazer <strong>de</strong> menos, não vai dá pra saber.P. De menos não vai dar para saber? DVG rebate: <strong>de</strong> mais não dá não! P.De mais não dá DVG? Acho que dá! P. Como que dá? É <strong>de</strong> mais essa conta DVG?Esqueci a pergunta! P. Leia novamente o probl<strong>em</strong>a EJLM. DVG fica pensando.P. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais essa conta DVG? EJLM fala baixinho: <strong>de</strong> multiplicação!DVG diz: multiplique então! P. Porque que é <strong>de</strong> multiplicação? EJLM diz: porqueaqui já fala multiplicar. P. Porque o probl<strong>em</strong>a já está falando da multiplicação! Entãoagora expresse no papel o que você vai fazer. Coloque no papel a forma <strong>de</strong> fazerdar <strong>de</strong>zoito. DVG pergunta: multiplicar é?P. Ajuda: multiplicar é fazer conta <strong>de</strong>? [...] vezes! É a mesma coisa. DVGpergunta: <strong>de</strong>zoito vezes seis? P. É <strong>de</strong>zoito vezes seis? DVG pe<strong>de</strong> para EJLM lernovamente o probl<strong>em</strong>a. EJLM aten<strong>de</strong>. DVG coloca: é 8! É 6 caixas! P. Expresse nopapel DVG o teu pensamento. Meu pensamento? Eu vou fazer menos!P. Esqueceu do probl<strong>em</strong>a DVG? Não! E tenta se expressar. P. EJLM leianovamente o probl<strong>em</strong>a. Por quanto <strong>de</strong>vo multiplicar? EJLM diz: por 12! P. É pordoze DVG? Não! P. Por quê? DVG respon<strong>de</strong>: não é por doze porque doze [...],espera aí: há eu não sei!


108P. Por que não é por doze? DVG respon<strong>de</strong>: porque passa! P. Ajuda: por quepassa da resposta do <strong>de</strong>zoito? Para chegar ao <strong>de</strong>zoito, o seis, quanto falta? Porquanto t<strong>em</strong> que multiplicar o seis para dar <strong>de</strong>zoito? P. Observa o que EJLM escrevee pergunta: t<strong>em</strong> certeza EJLM? DVG mostra para o colega 3 <strong>de</strong>dos.P. Expresse no papel o que você está querendo fazer EJLM. DVG diz: conteaí, 3 vezes 6, cara! Você não apren<strong>de</strong>u a tabuada? P. É isso EJLM? EJLM diz: é por3! P. Concorda com ele DVG? Concordo! P. Então ponha no papel! Ponha lá: seisvezes quanto igual a? [pausa para explicação].P. Po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> divisão essa conta? EJLM diz: dividir? P. Dividindo por?DVG respon<strong>de</strong>: 6! P. Concorda com ele EJLM? Sim! P. Qual é a resposta doprobl<strong>em</strong>a 13 e do 14? EJLM fala 6 e 3! DVG diz: 18! P. Então você vai encontraraqui no tablado? EJLM diz: 3 e 6. P. Então vá lá no tabuleiro do jogo e marque!EJLM procura as respostas e marca [6 e 3]. P. Comentário: as respostas corretassão [6: 3].9.4.3 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {49}Probl<strong>em</strong>a 49: Tenho quinze reais na poupança, quantos <strong>de</strong>vo <strong>de</strong>positar pra ficarcom vinte?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta EJLM. EJLM leu pausadamente. DVGrespon<strong>de</strong> rapidamente: 5! P. Por que é 5 DVG? Porque se interar mais 5 fica com20! P. Você t<strong>em</strong> quanto na poupança? Quinze reais! Disse EJLM. P. Quanto vocêt<strong>em</strong> que <strong>de</strong>positar? Cinco! Disse DVG. P. Ta certo isso EJLM? Ta!P. Essa conta é <strong>de</strong> mais, ou <strong>de</strong> menos, ou <strong>de</strong> vezes? EJLM disse: é <strong>de</strong> mais!DVG reforça: é <strong>de</strong> mais! P. Essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> menos? DVG diz: po<strong>de</strong>! Se vocêcolocar 25 e tirar 5!P. Colocar vinte e cinco e tirar cinco? DVG diz: aí fica vinte. P. Concordacom ele EJLM? EJLM discorda! Balançando a cabeça. P. Por que não ta certo?EJLM diz: por que não é 25! P. Não é o que o probl<strong>em</strong>a está pedindo? Certo ouerrado? Certo! Disse EJLM.P. Ponha no papel o que o probl<strong>em</strong>a está pedindo. EJLM argumenta: tapedindo a conta! P. Então façam a conta! [pausa para se expressar<strong>em</strong>]. P. Aresposta <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a é? EJLM diz: 20! P. Vinte ou cinco?


109EJLM diz: 5! DVG completa: 5!9.4.4 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {50}Probl<strong>em</strong>a 50: Tenho doze reais na poupança, quantos <strong>de</strong>vo retirar para ficar com<strong>de</strong>z?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta EJLM. DVG respon<strong>de</strong> imediatamente:2! Eu tinha 12 né! É 12? Então é 2! P. Dois? Como você fez essa conta? Por que émenos! Tirei 2, ficou 10! P. Está certo isso EJLM? Ta! Concordo! P. Essa conta po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong> mais? DVG diz: não! EJLM diz: não balançando a cabeça.P. Por quê? DVG respon<strong>de</strong>: passa do resultado, daí vai pra 14! P. É issoEJLM? Acho que dá mais confun<strong>de</strong> mais! P. Dá mais confun<strong>de</strong>? DVG: não dá! EJLMdiz: sei lá se dá! DVG rebate: não dá piá! Como você vai colocar 12 mais 2 cara?Fica 14!P. Então essa conta é <strong>de</strong> menos? DVG disse: é! P. T<strong>em</strong> certeza? Tenho! P.Concorda com ele EJLM? Concordo! P. Qual é a resposta <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a? EJLMdiz: 2! P. 2? DVG reforça: 2! P. Então ache lá as respostas dos dois probl<strong>em</strong>as (49 e50) EJLM. EJLM procura no tablado e marca [2: 5]. P. Comentário: as respostascorretas são [2 : 5]9.4.5 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {03}Probl<strong>em</strong>a 3: Por quantas pessoas <strong>de</strong>vo dividir vinte quilos <strong>de</strong> alimentos para quecada uma receba cinco quilos?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta DVG. EJLM não enten<strong>de</strong>u a princípio aforma que DVG leu. P. Leia novamente o probl<strong>em</strong>a. EJLM respon<strong>de</strong>: 4! P. Quatro éa reposta EJLM? É 4! P. É 4 a resposta DVG? É! DVG pergunta para EJLM: comovocê chegou nisso?P. Responda a pergunta do colega! Como você chegou nisso? EJLM diz: ésó dividir 20 por 5! P. Vinte por 5? EJLM fica <strong>em</strong> dúvida e diz: por 4! P. Para quecada uma receba 5 ou 4? EJLM diz: 5!. DVG rebate: 4 piá! E se corrige: é 5! É 5!


110P. Para que cada uma receba 5 você pega o 20 e vai fazer o que com ele?EJLM diz: dividir por 4! P. Então ponha a divisão no papel! DVG pergunta: é 20divididos? P. É isso que o probl<strong>em</strong>a está falando DVG? DVG leu <strong>em</strong> voz alta paraele mesmo. [por quantas pessoas <strong>de</strong>vo dividir 20 quilos <strong>de</strong> alimento], então é <strong>de</strong>dividir!P. 20 divididos por? 4! Respon<strong>de</strong> DVG. Não! É 5! P. É quatro ou é cinco?DVG se confun<strong>de</strong> ao escolher o divisor. Lê novamente o probl<strong>em</strong>a e tenta seexpressar. P. É por quatro ou é por cinco EJLM a divisão? Por 4! P. Por quatro?Então quanto que dá vinte dividido por 4? DVG diz: 5!, EJLM rebate: 4!P. Quatro ou cinco? Entraram num acordo? DVG: 5!, EJLM: 5! P. Ponhamno papel a reposta. [pausa para explicação].9.4.6 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {04}Probl<strong>em</strong>a 4: Eu tinha c<strong>em</strong> reais na poupança, hoje tenho trezentos reais, por quantofoi multiplicado o valor antigo?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta DVG. Enten<strong>de</strong>u o probl<strong>em</strong>a EJLM? EJLMfica calado. DVG leu novamente. EJLM continua calado. P. Esclarece: DVG leu oprobl<strong>em</strong>a às duas vezes errado, trocando c<strong>em</strong> por seis. P. Diz: Eu tinha c<strong>em</strong> reaisna poupança! DVG: sorri, admitindo o erro! EJLM respon<strong>de</strong>: por 3! DVG rebate: por2! P. Por dois ou por três? EJLM diz: por 2!P. Insiste: por três ou por dois? EJLM reforça: por 2! P. Por 2? T<strong>em</strong> certezaque é por DVG? DVG disse: tenho! P. T<strong>em</strong>? DVG respon<strong>de</strong>: não sei! P. T<strong>em</strong> ou nãot<strong>em</strong>? DVG pensa um pouco e diz: tenho! P. T<strong>em</strong> certeza que é por dois EJLM?EJLM balança a cabeça dizendo não.P. Não t<strong>em</strong> certeza? DVG pergunta: por que você não t<strong>em</strong> certeza EJLM? P.Leia <strong>de</strong> volta DVG. EJLM tinha entendido: por quanto foi aumentado o valor antigo.DVG fala: por quanto foi multiplicado o valor antigo. E argumenta: você queenten<strong>de</strong>u errado! P. Por quanto foi multiplicado o valor antigo? Como que faz essaconta? Foi multiplicado ou foi somado? O que foi feito aí? DVG e EJLM ficamcalados.P. Argumenta: você tinha c<strong>em</strong> reais hoje t<strong>em</strong> trezentos, o que aconteceucom o c<strong>em</strong> para chegar no trezentos? DVG respon<strong>de</strong>: aumentou! P. Aumentou


111quanto? Aumentou 200! Disse. P. Aumentou duzentos, mais o probl<strong>em</strong>a estáfalando por quanto foi multiplicado o valor anterior. EJLM respon<strong>de</strong>: por 2! P. C<strong>em</strong>vezes dois? EJLM rebate: não! Vezes 3! P. c<strong>em</strong> vezes três? Quanto é c<strong>em</strong> vezestrês? 300 diz: EJLM! P. Então as respostas <strong>de</strong> vocês são 100 x 2 ou 100 x 3? DVGdiz: 3! , e EFLM diz: 3!P. Coloqu<strong>em</strong> no papel como fizeram para resolver. [pausa para explicação].P. Essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> divisão DVG? DVG fica pensando. P. Não sabe? Essaconta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> divisão EJLM? EJLM diz: 300 dividido por 3! P. Po<strong>de</strong> ser 300dividido por 3 DVG? DVG diz: po<strong>de</strong>!P. Quais respostas você vai marcar no tablado probl<strong>em</strong>as 03 e 04 DVG?DVG diz: 3 e 5! Procura e marca. P. Comentário: as respostas corretas são [4: 3]9.4.7 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {55}Probl<strong>em</strong>a 55: Repartir duas dúzias <strong>de</strong> ovos entre duas pessoas, quantas dúziascaberá a cada pessoa?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta DVG. EJLM respon<strong>de</strong> imediatamente: 1dúzia. P. 1 dúzia? Concorda com ele DVG? Concordo! P. Que conta é essa? D<strong>em</strong>ais, <strong>de</strong> menos, <strong>de</strong> multiplicação? EJLM diz: <strong>de</strong> dividir! P. Ta certo isso DVG? Ta! É<strong>de</strong> dividir! P. Consegu<strong>em</strong> dividir no papel?Ponham no papel como vocês vão fazer. [pausa para se expressar<strong>em</strong>], DVGpergunta: 2 dúzias é 12? EJLM respon<strong>de</strong>: é 24! P. Interfere: não consegue passarno papel DVG? Aju<strong>de</strong>-o fazer EJLM! Aju<strong>de</strong>-o falando. EJLM diz: 24 dividido por 2!DVG diz: por que não falou antes cara!P. Da quanto 24 por 2? DVG diz: da 12! P. 12? 12 é uma dúzia ou meiadúzia? É uma dúzia diz: DVG. P. Então a resposta é 1 ou 12? EJLM diz: 1! P.Insiste: qual é a resposta do probl<strong>em</strong>a? DVG diz: a resposta é 12! Não! É 1! P.Insiste: é 1 ou 12? É 1, respon<strong>de</strong>m! P. Você disse que era 12 DVG. DVG, rindo,falou: eu “<strong>de</strong>sconcordo”!


1129.4.8 Intervenções dialogadas envolvendo o probl<strong>em</strong>a {56}Probl<strong>em</strong>a 56: Ont<strong>em</strong> o termômetro marcava trinta graus, hoje marca vinte e nove,isto quer dizer que a t<strong>em</strong>peratura caiu quantos graus?P. Leia o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> voz alta DVG. EJLM diz: 1! P. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais essaconta EJLM? EJLM [fica pensando] e respon<strong>de</strong>: passa do resultado. P. Passa doresultado? Sim! P. A conta está falando aumentou ou diminuiu? Diminuiu! P. Vocêconsegue fazer um <strong>de</strong>senho? [pausa]. P. Você conhece o termômetro DVG?Conheço!P. O termômetro me<strong>de</strong> o que? 30, respon<strong>de</strong>u! P. Para que serve o aparelhotermômetro? Medir t<strong>em</strong>peratura disse DVG! P. Se a t<strong>em</strong>peratura é 30 graus, quandose fala caiu ela vai? Diminuir! P. Isto quer dizer 30 menos? EJLM diz: 29! P. Aresposta então é? EJLM diz: 1! P. Ta certo ou ta errado EJLM? EJLM reforça: Certo!P. Têm certeza? Tenho! Diz: DVG. P. Então marque ali no tablado do jogoas respostas dos probl<strong>em</strong>as (55 e 56). DVG leu novamente os dois probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong>arcou as respostas [2: 1] no tablado. Comentário: as respostas corretas são [1: 1].


9.4.9 Formalizações das respostas dos probl<strong>em</strong>as – grupo “D”113


114


115Finalmente apresentamos, <strong>de</strong> forma sintetizada, o diálogo com os sujeitos(EJLM e DVG) – grupo “D”. Referindo-nos ao probl<strong>em</strong>a 13: “Se uma dúziacorrespon<strong>de</strong> a doze unida<strong>de</strong>s, então meia dúzia correspon<strong>de</strong> a”? Após a leitura quefoi feita <strong>em</strong> voz alta pelo sujeito (EJLM), o sujeito (DVG) respon<strong>de</strong>: “uma dúzia a 12,½ dúzia a 6”. Nota-se que (DVG), não apresentou, aparent<strong>em</strong>ente, nenhumadificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> solucionar o probl<strong>em</strong>a. O probl<strong>em</strong>a permite o uso direto daproposição lógica se p, então q. O que (DVG) po<strong>de</strong> ter levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração“inconscient<strong>em</strong>ente”. Segundo Piaget (1976), tais proposições se constitu<strong>em</strong> nopensamento formal.Ao fazermos a pergunta: Essa conta é <strong>de</strong> mais, ou <strong>de</strong> menos ou <strong>de</strong> divisão(EJLM)? A resposta é: <strong>de</strong> menos! , (DVG) rebate: é <strong>de</strong> dividir! Por que é <strong>de</strong> dividiressa conta (DVG)? Não sei! Respon<strong>de</strong>. É <strong>de</strong> dividir essa conta (EJLM)? É! Porque ésó dividir por 12!. Escrevam como fizeram para resolver. (DVG) <strong>de</strong>monstradificulda<strong>de</strong> e escreve: 12 ÷ 6 = 6 e (EJLM) escreve: 12 ÷2 = 6.Nota-se que (EJLM) verbalizou <strong>de</strong> forma errada, porém formalizoucorretamente. O que <strong>de</strong>nota com base nos indicadores, ausência <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong><strong>em</strong> verbalizar as idéias, neste caso.Enquanto que (DVG) fez ao contrário: verbalizou corretamente a resposta,porém, formalizou errada. O que implicaria, na ausência <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> <strong>em</strong>formalizar as idéias, neste caso.Sobre o assunto Piaget (1976) acrescenta: “[...] n<strong>em</strong> todo pensamento verbalé formal, e é possível conseguir raciocínios corretos que se refer<strong>em</strong> a enunciadossimples <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nível 7-8 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esses enunciados correspondam arepresentações suficient<strong>em</strong>ente concretas” (p. 189).Com relação ao probl<strong>em</strong>a 50: “Tenho doze reais na poupança, quantos <strong>de</strong>voretirar para ficar com <strong>de</strong>z”? Solicitamos ao (EJLM) fazer a leitura <strong>em</strong> voz alta para ocolega. A resposta <strong>de</strong> (DVG) foi imediata: É 2!. De fato, o que (DVG) fez, foi a conta<strong>de</strong> subtração explicitada no probl<strong>em</strong>a pelo verbo “retirar”.Po<strong>de</strong>ríamos ter parado por aqui. No entanto, o que nos interessa é oprocesso <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, e não, necessariamente, abusca <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> operações mat<strong>em</strong>áticas.Até porque, resolver probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> respostasimediatas <strong>de</strong> operações não constitui aprendizag<strong>em</strong> das operações (Micotti, 2001).


116Sendo assim, perguntamos: essa conta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mais? (DVG) diz: não!,(EJLM) completa: não balançando a cabeça! Por quê? (DVG) respon<strong>de</strong>: passa doresultado, daí vai pra 14! (EJLM) argumenta: acho que dá, mais confun<strong>de</strong> mais. Dámais confun<strong>de</strong>? (DVG) diz: não dá! (EJLM) diz: sei lá se dá! (DVG) rebate: não dápiá! Como você vai colocar 12 mais 2 cara? Fica 14!.O que nos chama atenção nas argumentações dos sujeitos, neste caso, é afalta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com as operações aditivas e subtrativas, o que nos leva àsinterpretações <strong>de</strong> Piaget (1971). Para esse autor, a adição <strong>de</strong> números, quecorrespon<strong>de</strong> à reunião das partes <strong>em</strong> um mesmo todo, compõe-se com a subtração,construções reversíveis, <strong>de</strong>sta forma afirmam-se <strong>em</strong> termos operatórios.Ao fazer referência ao probl<strong>em</strong>a 03: “Por quantas pessoas <strong>de</strong>vo dividir vintequilos <strong>de</strong> alimentos para que cada uma receba cinco quilos”? Após a leitura feita por(DVG), o colega (EJLM) respon<strong>de</strong>: 4! Como você chegou nisso? (EJLM) diz: É sódividir 20 por 5!. Para que cada um receba 5 ou 4? (EJLM) diz: 5! (DVG) rebate: 4piá! E se corrige: é 5! 5!. Embora haja uma confusão <strong>em</strong> <strong>de</strong>cidir qual é o divisor e oquociente da operação mat<strong>em</strong>ática, após a discussão, os sujeitos formalizaram oprobl<strong>em</strong>a corretamente.Dando ênfase ao probl<strong>em</strong>a 55: “Repartir duas dúzias <strong>de</strong> ovos entre duaspessoas, quantas dúzias caberão a cada pessoa”? (EJLM) respon<strong>de</strong> imediatamentea pergunta <strong>de</strong> (DVG): 1 dúzia! No entanto, ao perguntarmos: você não conseguepassar no papel? (EJLM) diz: 24 dividido por 2! Dá quanto 24 por 2? (DVG)respon<strong>de</strong>: 12!. Então a resposta é 1 ou 12? (DVG) diz: a resposta é 12! Não, é 1!Na verda<strong>de</strong>, 1 dúzia <strong>de</strong> ovos e 12 ovos é a mesma coisa, porém, como nãohá resposta 12, no jogo <strong>de</strong> dominó, esperávamos que os sujeitos foss<strong>em</strong> escrever: 2÷ 2 = 1. O que não ocorreu, pois, formalizaram: 24 ÷ 2 = 12. O que implicou nadificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> (DVG) <strong>em</strong> marcar a resposta correta no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó.Relativamente ao material concreto disponibilizado pelo pesquisador, comoponto <strong>de</strong> referência das ações dialogadas, constatou-se: as respostas dosprobl<strong>em</strong>as 03 e 04 são [4 : 3], no entanto (DVG) marcou [5 : 3]; as respostas dosprobl<strong>em</strong>as 55 e 56 são [1 : 1], no entanto (EJLM) marcou [2 : 1].Para melhor compreensão <strong>de</strong>sta passag<strong>em</strong> o leitor <strong>de</strong>verá recorrer àsintervenções dialogadas com os probl<strong>em</strong>as – grupo “D”.Neste grupo, o equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ficou evi<strong>de</strong>nciado, além das dificulda<strong>de</strong>s<strong>em</strong>: dominar as operações el<strong>em</strong>entares; modificar ou inovar os caminhos para


117solução dos probl<strong>em</strong>as; utilizar os caminhos reversíveis; coor<strong>de</strong>nar as açõesconsi<strong>de</strong>rando proposições, hipóteses e implicações lógicas mat<strong>em</strong>áticas, além <strong>de</strong>(EJLM) apresentar dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> verbalizar suas idéias (probl<strong>em</strong>a 13) e (DVG) <strong>em</strong>formalizar a resposta do probl<strong>em</strong>a 13.Tínhamos proposto, na primeira parte <strong>de</strong>ste capítulo, inter-relacionar, trêscategorias <strong>de</strong> análise e seus indicadores, com o discurso constituído pelos sujeitosda pesquisa resolvendo probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> duplas.A categoria expressar idéias está presente <strong>em</strong> toda discussão, e s<strong>em</strong>anifesta <strong>de</strong> diferentes formas: seja <strong>de</strong> maneira verbal ou formal; seja correta ouerrada; seja concordando ou discordando; cooperando; discutindo; criando; sendosolidário; sendo persistente; envolvendo po<strong>de</strong>r; envolvendo reciprocida<strong>de</strong> eafetivida<strong>de</strong>. De várias maneiras estão presentes as proprieda<strong>de</strong>s expressas porBronfenbrenner (1996).A categoria utilizar estratégias se manifesta, necessariamente, viaformalização das idéias, quando os sujeitos apresentam suas representaçõesatravés <strong>de</strong> símbolos mat<strong>em</strong>áticos ou na linguag<strong>em</strong> corrente (forma <strong>de</strong> texto),<strong>de</strong>monstrando domínio ou falta <strong>de</strong> domínio das operações mat<strong>em</strong>áticas. Observa-seaqui, que as representações simbólicas <strong>de</strong>ram-se, geralmente, <strong>de</strong> maneira única,com exceção do grupo “A”.A categoria usar caminhos alternativos, se confun<strong>de</strong>, <strong>em</strong> parte, com acategoria anterior, no momento que os sujeitos escrev<strong>em</strong> os algoritmos, ou seja, asadições, subtrações, multiplicações e divisões, constituindo os resultados dosprobl<strong>em</strong>as. No entanto, foi possível observar, que os caminhos utilizados pelossujeitos, são, especificamente, os algorítmicos. Não foi presenciado, com poucasexceções, o uso <strong>de</strong> caminhos alternativos, tais como, apresentar a mesma respostapor dois caminhos diferentes, ou utilizar-se <strong>de</strong> procedimentos algébricos.Em síntese: as intervenções dialogadas com os grupos possibilitaram aorganização <strong>de</strong> um conhecimento <strong>em</strong> parceria, que po<strong>de</strong> servir para ampliar osconhecimentos escolares dos sujeitos. É um momento inovador na medida <strong>em</strong> quevaloriza os conhecimentos expressos através das falas e da escrita, estabelecendouma ponte entre saberes construídos socialmente, e saberes construídosindividualmente. Para Freire (1996) somos seres inconclusos e inacabados eestamos s<strong>em</strong>pre num processo social <strong>de</strong> busca constante. Para ele o educador queensina os conteúdos <strong>em</strong> nome da eficácia e da m<strong>em</strong>orização mecânica, “tolhe a


118liberda<strong>de</strong> do educando e a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aventura-se”. (FREIRE, 1996, p. 56-57).Os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos elaborados <strong>de</strong> forma simples, serviram <strong>de</strong> basepara <strong>de</strong>tectar on<strong>de</strong> havia falta <strong>de</strong> domínio do conhecimento mat<strong>em</strong>ático. Ascategorias <strong>de</strong> análise e seus indicadores foram necessárias para facilitar acompreensão dos dados e a discussão dos resultados. O referencial teóricoutilizado, a análise e a discussão são suficientes para <strong>de</strong>monstrar novasnecessida<strong>de</strong>s metodológicas no ensino e aprendizag<strong>em</strong>, visto que há evidências <strong>de</strong>sujeitos com dificulda<strong>de</strong>s nos conteúdos el<strong>em</strong>entares da mat<strong>em</strong>ática.10 PÓS -TESTEApós o término das intervenções dialogadas com os grupos, foi aplicado umpós-teste (apêndice II) <strong>em</strong> todos os sujeitos da pesquisa envolvendo quatroprobl<strong>em</strong>as diferentes dos aplicados no pré-teste, acrescentou-se aqui um probl<strong>em</strong>aque envolve duas operações mat<strong>em</strong>áticas para ser resolvido. As exigências no póstesteforam as mesmas do pré-teste, ou seja, os sujeitos <strong>de</strong>veriam explicar na folha<strong>de</strong> papel como fizeram os cálculos dos probl<strong>em</strong>as.QUADRO 10 – PERFIL DOS SUJEITOS PARTICIPANTES DO PÓS-TESTE – APÊNDICE IIN° Sujeitos Ida<strong>de</strong> Sexo Escolarida<strong>de</strong> % <strong>de</strong> acertosno pós-teste01 LJS [16,1] M 7ª série 87,5%02 JPL [14,0] M 6ª série 87,5%03 EJLM [13,3] M 5ª série 87,5%04 ASD [16,5] M 5ª série 50%05 DVG [17,8] M 6ª série 87,5%06 FMS [15,4] M 8ª série 75%07 RSS [14,11] M 6ª série 87,5%08 JF [14,4] M 6ª série 50%QUADRO 11 – SISTEMATIZAÇÃO DOS PERCENTUAIS RELATIVOS AO PÓS-TESTEPercentuais <strong>de</strong> acertos 50% 75% 87,5%Percentuais <strong>de</strong> alunospor acertos25% 12,5% 62,5%


119Nos quadros 10 e 11 estão <strong>de</strong>monstrados os percentuais <strong>de</strong> acertos no pósteste.Os critérios <strong>de</strong> correção que adotamos foram os mesmos do pré-teste, ouseja, atribuímos o percentual <strong>de</strong> 25% para as respostas corretas, on<strong>de</strong> o sujeito faziao cálculo mat<strong>em</strong>ático utilizando o algoritmo correto, ou justificava por escrito ocaminho adotado e o percentual <strong>de</strong> 12,5% para as respostas aproximadas, isto é, osujeito apresenta somente o resultado do probl<strong>em</strong>a s<strong>em</strong> explicitar o caminho.Observe o ex<strong>em</strong>plo 1: “Eu tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas, <strong>em</strong>prestei todaspara meu colega, com quantas fiquei?” – probl<strong>em</strong>a n° 03, apêndice II. A resposta <strong>de</strong>(FMS) foi “0”. De fato, a resposta é zero. No entanto, quando o sujeito tentou explicarcomo chegou à resposta zero, fez o seguinte: “0 – 0 = 0”. Neste caso, consi<strong>de</strong>randoque o sujeito respon<strong>de</strong>u a pergunta do probl<strong>em</strong>a, porém explicou <strong>de</strong> forma errada, éque atribuímos o percentual <strong>de</strong> 12,5%, pois o probl<strong>em</strong>a está parcialmente correto.Ex<strong>em</strong>plo 2: “Dobrei certo valor que eu tinha no bolso e fiquei com oito,quantos eu tinha no bolso?” – probl<strong>em</strong>a n° 02, apêndice II. A resposta <strong>de</strong> (EJLM) foia seguinte: “4 + 4 = 8”. De fato, o único número no jogo <strong>de</strong> dominó cujo dobro é 8 sópo<strong>de</strong> ser o 4!. Além do mais, o sujeito <strong>de</strong>monstrou alguma possibilida<strong>de</strong> doconhecimento da operação aditiva como sendo inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da operaçãomultiplicativa. Sendo assim, atribuímos o percentual <strong>de</strong> 25% para este probl<strong>em</strong>a,consi<strong>de</strong>rando não só a resposta como correta, como também a explicação dada pelosujeito como plausível <strong>de</strong> aceitação.Este critério <strong>de</strong> correção tanto do pré-teste quanto do pós-teste é digno <strong>de</strong>viabilida<strong>de</strong>, pois, qualquer resposta apresentada pelos sujeitos é “aceitável”, mesmosendo tímida. Isto caracteriza um ato <strong>de</strong> inclusão e valorização das ações dossujeitos diante do processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.Ensinar para Freire (1996) exige respeito ao educando. O professor <strong>de</strong>verespeitar a curiosida<strong>de</strong> do aprendiz, a sua inquietação, sua linguag<strong>em</strong>. Deve estaratento às experiências do educando. O professor que respeita à autonomia, àdignida<strong>de</strong> e à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do educando leva à criação <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s s<strong>em</strong> as quais osaber vira “inautêntico, palavreado vazio e inoperante”. (FREIRE, 1996, p. 62).O exercício do bom senso, com o qual só t<strong>em</strong>os o que ganhar, se faz no“corpo da curiosida<strong>de</strong>” (p. 62).


12010.1 ANÁLISE QUANTITATIVA – RESULTADO DO PÓS-TESTEO quadro 11 sintetiza os resultados do pós-teste. Dos 08 (oito) participantes02 (dois) acertaram 50% dos probl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a 25% dosparticipantes, 01 (um) acertou 75% dos probl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a 12,5% dosparticipantes e 05 (cinco) acertaram 87,5 % dos probl<strong>em</strong>as, o que correspon<strong>de</strong> a62,5% dos participantes.Apresentamos na seqüência os probl<strong>em</strong>as propostos no pós-teste, b<strong>em</strong>como, as soluções que consi<strong>de</strong>ramos incorretas. O que nos chamou atenção foramas colocações <strong>de</strong> (JF) e <strong>de</strong> (FMS) relativamente aos probl<strong>em</strong>as 01, 02 e 03.Probl<strong>em</strong>a 01: “Hoje eu tenho na minha coleção um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z figurinhas, antes eusó tinha quatro. Quantas eu arrumei”? “10 + 04 = 14. Agora eu tenho 14 figurinhas”(JF). Probl<strong>em</strong>a 02: “Dobrei certo valor que eu tinha no bolso e fiquei com oito.Quantos eu tinha no bolso”? “0 + 8 = 8. Fiquei com 8 porque só tinha 8” (JF);Probl<strong>em</strong>a 03: “Eu tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas, <strong>em</strong>prestei todas para meucolega, com quantas fiquei”? “ 0 – 0 = 0” (FMS).10.2 ANÁLISE QUANTITATIVA – COMPARAÇÃO PRÉ - PÓS-TESTESQUADRO 12 – RESULTADO FINAL - COMPARAÇÃO PRÉ-TESTE – PÓS-TESTEN° Sujeitos Ida<strong>de</strong> Sexo % <strong>de</strong> % <strong>de</strong>Resultado finalacertos nopré-testeacertos nopós-teste01 LJS [16,1] M 25% 87,5% Acréscimo <strong>de</strong> 62,5%02 JPL [14,0] M 37,5% 87,5% Acréscimo <strong>de</strong> 50%03 EJLM [13,3] M 37,5% 87,5% Acréscimo <strong>de</strong> 50%04 ASD [16,5] M 25% 50% Acréscimo <strong>de</strong> 25%05 DVG [17,8] M 62,5% 87,5% Acréscimo <strong>de</strong> 25%06 FMS [15,4] M 100% 75% Decréscimo <strong>de</strong> 25%07 RSS [14,11] M 100% 87,5% Decréscimo <strong>de</strong> 12,5%08 JF [14,4] M 50% 50% InvariávelO quadro número 12, sinaliza o resultado comparativo entre o pré-teste e opós-teste. Dos 08 participantes da pesquisa o que revelou melhora mais significativafoi o sujeito (LJS), 62,5% <strong>em</strong> relação ao pré-teste. É curioso observar que nasintervenções <strong>em</strong> grupo seu parceiro (FMS) <strong>de</strong>monstrou maior conhecimento nas


121tarefas. No entanto, errou o probl<strong>em</strong>a número 03 no pós-teste, apêndice II, que tinhasido discutido anteriormente <strong>em</strong> dupla. Ver probl<strong>em</strong>a 38 – grupo “B”. Por outro lado(LJS) argumentava nas relações <strong>em</strong> dupla, sobre o mesmo probl<strong>em</strong>a, concordandocom o companheiro (FMS), porém individualmente, apresentou no pós-teste, aresposta do probl<strong>em</strong>a 03, parcialmente correta.Como foi discutido anteriormente nas relações <strong>em</strong> duplas – grupo “B”, osujeito (LJS) foi influenciado por (FMS) que <strong>de</strong>monstrou domínio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>em</strong>relação ao colega. Ficaram evi<strong>de</strong>nciadas nesta passag<strong>em</strong> as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nasativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s segundo Bronfennbrenner (1996). No entanto quando se trata<strong>de</strong> resolver probl<strong>em</strong>as individualmente o percentual <strong>de</strong> acertos <strong>de</strong> (FMS) caiu 25% ,enquanto que o <strong>de</strong> (LJS) subiu 62,5%.Parece que, a maior dificulda<strong>de</strong> no pós-teste, foi o probl<strong>em</strong>a 03: “Eu tinhacerto número <strong>de</strong> figurinhas, <strong>em</strong>prestei todas para meu colega, com quantas fiquei”?observe as respostas: “nenhuma, se ele <strong>em</strong>prestou todas, logicamente ele ficou s<strong>em</strong>nenhuma” (RSS); “0 – 0 = 0” (FMS); “0” (LJS); “10 -10 = 0, se eu tivesse 10 ficariacom 10 -10” (JF); “nenhuma” (EJLM); “0” (DVG); “0 porque eu <strong>de</strong>i tudo” (JPL); “10fiquei com 10” (ASD).É importante salientar que o pesquisador solicita que os sujeitos resolvam osprobl<strong>em</strong>as explicando como fizeram para resolver. Isto vale para todos osprobl<strong>em</strong>as. Nosso critério <strong>de</strong> correção valoriza com peso maior, os procedimentosexplicativos, que envolv<strong>em</strong> alguma representação simbólica, utilizando símbolosmat<strong>em</strong>áticos, consi<strong>de</strong>rando que os probl<strong>em</strong>as são apresentados na liguag<strong>em</strong>escrita, na esperança <strong>de</strong> que sejam transformados para linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática,antes <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> resolvidos.Este procedimento é muito utilizado na resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, além <strong>de</strong>,como diz Echeverria (1998), proporcionar a reflexão através da leitura para <strong>de</strong>pois oeducando partir para a solução propriamente dita. Foi com base nas argumentaçõesacima que consi<strong>de</strong>ramos parcial a resposta <strong>de</strong> (RSS) no probl<strong>em</strong>a 03, levando ao<strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> 12,5% <strong>em</strong> relação ao pré-teste.Com referência aos outros sujeitos: (DVG), (EJLM), (JPL) e (ASD), o quadronúmero 12, mostra variação positiva <strong>em</strong> comparação ao pré-teste, com exceção <strong>de</strong>(JF) que manteve o percentual <strong>de</strong> 50%.Os resultados relativos ao quadro 12, não são suficientes para afirmarmosse as intervenções dialogas <strong>em</strong> duplas, interferiram no processo <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>


122probl<strong>em</strong>as individuais. Nossa proposta nas intervenções <strong>em</strong> duplas, não tiveramintenção <strong>de</strong> mensurar dados estatísticos, <strong>de</strong>sta forma não apresentamosquantitativamente, a correlação entre pré-teste, intervenções e pós-teste.Isto é viável se levarmos <strong>em</strong> conta que a aprendizag<strong>em</strong> não se constitui naconcepção <strong>de</strong> que o sujeitos só apren<strong>de</strong>m se for<strong>em</strong> capazes <strong>de</strong>, conforme apontaMachado (2006), aplicar as informações adquiridas com sucesso <strong>em</strong> outrassituações. O sucesso <strong>em</strong> uma ativida<strong>de</strong> não, necessariamente, garante que o sujeitoapren<strong>de</strong>u o que fez. Para Piaget (1974):O recurso à aprendizag<strong>em</strong> foi s<strong>em</strong>pre o argumento clássico do<strong>em</strong>pirismo, como se a aquisição <strong>de</strong> um conhecimento constituíssenecessariamente uma aprendizag<strong>em</strong> propriamente dita e como se aaprendizag<strong>em</strong> se explicasse exclusivamente pelos efeitos daexperiência compreendida no sentido da experiência física ou açãodos objetos e acontecimentos sobre os indivíduos. (PIAGET, 1974, p.10).Nosso <strong>de</strong>sejo nas intervenções foi a troca <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vistas para auxiliar o<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento mat<strong>em</strong>ático, tendo como foco a resolução <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as apoiando-se <strong>em</strong> uma situação concreta.As ações <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> construídas através das interações com osprobl<strong>em</strong>as po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> instrumentos lógicos que lhes permit<strong>em</strong> a compreensãodas proprieda<strong>de</strong>s dos probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos.Uma ativida<strong>de</strong> molar segundo Bronfenbrenner (1996), é caracterizada porum momento próprio, ou seja, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> tensão que possibilita a persistência aolongo do t<strong>em</strong>po e a resistência à interrupção até a ativida<strong>de</strong> ser completada. Porex<strong>em</strong>plo: as ativida<strong>de</strong>s envolvendo resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos entreoutras.O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer aquilo que a pessoa está fazendo, por si mesmaou como um meio para atingir um fim. A presença da intenção criaum motivo para o fechamento, que por sua vez conduz àperseverança e resistência à interrupção. (BRONFENBRENNER,1996, p. 38).Para Piaget (1978), a compreensão só se constitui por tomada <strong>de</strong>consciência das ações, ou seja, através das transformações <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as <strong>de</strong> ações<strong>em</strong> noções e <strong>em</strong> operações. Por outro lado essas transformações po<strong>de</strong>m nãoocorrer imediatamente após o êxito da prática, implicando a um retardamento ou


123atraso da conceituação sobre a ação, o que mostra que as ações se constitu<strong>em</strong>como autônomas <strong>em</strong> relação à conceituação.O <strong>de</strong>senvolvimento humano para Bronfenbrenner (1996) implica numamudança que não é meramente momentânea ou específica para uma situação:nesse sentido, não é suficiente mostrar apenas que uma variação no meio ambienteproduziu uma alteração no comportamento, é também necessário, <strong>de</strong>monstrar queessa mudança apresentou certa invariância através do t<strong>em</strong>po.Para <strong>de</strong>monstrar que o <strong>de</strong>senvolvimento humano ocorreu, énecessário estabelecer que uma mudança produzida nasconcepções e/ou ativida<strong>de</strong>s da pessoa seja transferida para outrosambientes <strong>em</strong> outros momentos. Essa <strong>de</strong>monstração é conhecidacomo valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimental. (BRONFENBRENNER, 1996, p.28).Nesta visão cabe observar a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no sentido <strong>de</strong>proporcionar avanços <strong>em</strong> ambientes diversificados, envolvendo outros grupos eespaços numa perspectiva <strong>de</strong> generalizações. Assim sendo, os sujeitos <strong>de</strong>stapesquisa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> submetidos às intervenções pedagógicas utilizando ojogo <strong>de</strong> dominó modificado como instrumento motivador, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver umatendência para a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> contextos diferentes dospropostos? Para verificar a resposta <strong>de</strong>ssa pergunta é necessário dar continuida<strong>de</strong> apesquisa.Para Freire (1996) o ensino <strong>de</strong>ve estar atrelado à convicção <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>udança é possível. Nesta pesquisa não po<strong>de</strong>mos estar satisfeito com asconstatações apenas, são necessárias outras intervenções às novas realida<strong>de</strong>s.Para Freire (1996) o conhecimento <strong>de</strong>manda nova curiosida<strong>de</strong>, observação,<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> um novo objeto, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer comparação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>indagação.Para esta pesquisa foi dada importância básica ao processo dialógico entreos sujeitos consi<strong>de</strong>rando as posturas e valores <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les. Esta possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> ensino envolveu curiosida<strong>de</strong>, indagação, provocação, <strong>de</strong>safios, dificulda<strong>de</strong>s,superação. Na visão <strong>de</strong> Freire (1996) esse processo permite aos sujeitosassumir<strong>em</strong>-se como sujeitos abertos enquanto falam e ouv<strong>em</strong>.


12411 CONSIDERAÇÕES FINAISA partir das manifestações dos sujeitos na entrevista, suas representaçõessimbólicas, o material disponibilizado e as intervenções dialogadas, s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong>vista o que tínhamos pressuposto e proposto, apresentamos as conclusões <strong>de</strong>stetrabalho <strong>de</strong> pesquisa, apontando caminhos para a aprendizag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática nocontexto da resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as e na metodologia adotada.De fato, o trabalho com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as envolvendo sujeitosvulneráveis pelo caminho que propus<strong>em</strong>os é <strong>de</strong>safiante, porém, não é impossível.As justificativas que apresentamos se baseiam nas relações observáveis envolvendotrocas <strong>de</strong> opiniões entre sujeitos e meio, num processo <strong>de</strong> interação social,resolvendo probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos por meio do lúdico.Por este caminho que percorr<strong>em</strong>os, apesar <strong>de</strong> ser longo e cansativo,pu<strong>de</strong>mos observar as interações entre sujeitos e meio s<strong>em</strong> reduzi-los a “tábula rasa”,nas palavras <strong>de</strong> Becker (2003). Procuramos fugir da tradicional pedagogia centradano <strong>em</strong>pirismo e no apriorismo para conduzir o ensino com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos cont<strong>em</strong>plando as manifestações evi<strong>de</strong>ntes dos sujeitos.A entrevista que fiz<strong>em</strong>os, antes do inicio das intervenções, caracteriza umaatitu<strong>de</strong> inovadora, no momento que permitiu acesso às informações das realida<strong>de</strong>sdos sujeitos. São informações que implicaram na mudança <strong>de</strong> postura dopesquisador e abriram perspectivas <strong>em</strong> vistas a um aprendizado com base nossaberes já vivenciados pelos sujeitos.O ensino <strong>de</strong> conteúdos básicos da mat<strong>em</strong>ática partindo <strong>de</strong> relaçõesdialogadas paralelamente ao jogo <strong>de</strong> dominó, é viável, na medida <strong>em</strong> que se apóia<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los propostos na Psicologia da Educação Mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> Jesus & Fini(2001), <strong>de</strong> maneira modificada.O mo<strong>de</strong>lo proposto pelos autores apresenta-se <strong>de</strong> forma abstrata, além <strong>de</strong>exigir que o aprendiz saiba calcular o termo <strong>de</strong>sconhecido <strong>de</strong> uma equação,representada pelas incógnitas x, y, z, etc., além <strong>de</strong> caracterizar um jogo <strong>de</strong> per<strong>de</strong> eganha.Embora não seja um objetivo da pesquisa, nossos sujeitos não utilizaram(com exceção <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> (FMS), probl<strong>em</strong>a n° 38) representaçõessimbólicas do tipo x, y ou z, para solucionar<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as propostos. Todos osprobl<strong>em</strong>as po<strong>de</strong>riam ser representados via equação algébrica do primeiro grau,


125envolvendo notações simbólicas daqueles tipos, antes <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> solucionados. Isto<strong>de</strong>nota falta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> <strong>em</strong> utilizar esse tipo <strong>de</strong> procedimento nos probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> questão.Por outro lado é uma oportunida<strong>de</strong> diferente no momento que po<strong>de</strong> sertrabalhada por dois caminhos: O caminho da busca <strong>de</strong> aptidões por on<strong>de</strong> é possívelverificar habilida<strong>de</strong>s dos sujeitos (o que po<strong>de</strong> ser entendido como tradicional – ação– sujeito – objeto - resposta), e o caminho da construção <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s por viasdialogadas.Estas duas facetas da nossa metodologia <strong>de</strong> trabalho se inter-relacionamcom os objetivos da pesquisa. A primeira <strong>de</strong>las é verificada nas relações entre osegundo, quarto e quinto objetivos. Ela se manifesta na ocasião <strong>em</strong> que o sujeitointerpreta, se familiariza com as operações mat<strong>em</strong>áticas e procura a resposta doprobl<strong>em</strong>a no tablado do jogo <strong>de</strong> dominó.Enquanto que a segunda, se manifesta na medida <strong>em</strong> que o sujeito trocapontos <strong>de</strong> vistas com seu parceiro, discute, entra <strong>em</strong> acordo/<strong>de</strong>sacordo <strong>de</strong> idéias, e,juntos resolv<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos e, por fim, procuram suas respostas notabuleiro disponibilizado.Nesta segunda faceta os sujeitos se compreen<strong>de</strong>m por meio da cooperação,nas relações recíprocas entre os parceiros, se ajudam nas dificulda<strong>de</strong>s, serespeitam, se conhec<strong>em</strong>; um t<strong>em</strong> acesso à estratégia do outro através dasmanifestações exteriorizadas. As respostas dos probl<strong>em</strong>as só se configuram após odiálogo ter sido encerrado <strong>em</strong> comum acordo entre ambos.É um processo que po<strong>de</strong> ser trabalhado <strong>em</strong> dupla, trio ou quarteto,avançando <strong>em</strong> vistas das generalizações. Para Bronfenbrenner (1996) as ativida<strong>de</strong>s<strong>em</strong> día<strong>de</strong>s constitu<strong>em</strong> a base do microssist<strong>em</strong>a e po<strong>de</strong>m avançar para outrasdía<strong>de</strong>s, trios ou quádruplas. No entanto, esse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>manda um bomconhecimento do conteúdo e um ótimo relacionamento entre os sujeitos, por partedo professor. Esta faceta da nossa pesquisa se configura, mais necessariamente,com o terceiro objetivo. Embora este objetivo possa ser verificado nos doismomentos.Mostramos a qualida<strong>de</strong> das manifestações entre os sujeitos, não no sentido<strong>de</strong> mensurá-las, atribuindo-lhes valores maiores ou menores nos seus êxitos, massim, no sentido <strong>de</strong> contribuir, para que o leitor possa compreen<strong>de</strong>r que tais


126manifestações se constitu<strong>em</strong> entre o meio real envolvendo sujeito, objeto, espaço et<strong>em</strong>po.O ambiente que propus<strong>em</strong>os foi necessário e contribuiu na qualida<strong>de</strong> dastrocas entre sujeito e meio. Pu<strong>de</strong>mos observar algumas <strong>de</strong>fasagens acentuadas nasrepresentações vivenciadas, pois, <strong>em</strong>bora haja uma organização da realida<strong>de</strong>, noplano das ações praticadas, essas organizações se manifestam, <strong>em</strong> alguns casos,diferentes no plano das ações conceituais ou refletidas. O que caracteriza o atrasoentre o plano da conceituação e o plano da ação, segundo Piaget (1978).Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos argumentar que as trocas entre sujeitos e meio seconstituíram segundo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> organização dos pensamentos nocaminho dos possíveis. Para Piaget (1985), os possíveis são “o produto <strong>de</strong> umaconstrução do sujeito, <strong>em</strong> interação com as proprieda<strong>de</strong>s do objeto” (p. 7). O autorcompleta ainda: “a formalização consiste num esforço retroativo para <strong>de</strong>terminar ascondições necessárias e suficientes <strong>de</strong> todas as asserções e <strong>de</strong>stacarexplicitamente todas as intermediárias e todas as conseqüências” (PIAGET, 2002,p.74).Observamos casos <strong>em</strong> que os sujeitos manifestam as situações vivenciadas,os acontecimentos, <strong>de</strong> maneira atabalhoada e s<strong>em</strong> precisão. Em hipótese algumaafirmamos tratar-se <strong>de</strong> déficit cognitivo. Para Montoya (1996), citado por Becker(2003), déficit não caracteriza ausência <strong>de</strong> saberes, como também, não significaincapacida<strong>de</strong>, “déficit significa uma forma <strong>de</strong> relação cognitiva com o meio,eventualmente cristalizada, que não é mediada por formas conceituais <strong>de</strong>pensamento” (p. 94).Po<strong>de</strong>-se dizer que há “déficit <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>”, caracterizado por questõessociais externas aos indivíduos. O fato <strong>de</strong> não estar<strong>em</strong> freqüentando a sala <strong>de</strong> aulana ida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, po<strong>de</strong> estar contribuindo para a <strong>de</strong>ficiência na aprendizag<strong>em</strong>.Sendo assim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estratégias educativas que permitam asuperação <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> é fundamental. Trata-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong>educacional e não <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> dos sujeitos.Os sujeitos estão <strong>de</strong>fasados, no entanto, essa <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> po<strong>de</strong> sersuperada, pois, eles não são <strong>de</strong>fasados. A <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> aqui é vista no ponto <strong>de</strong> vista<strong>de</strong> Montoya (1996), citado por Becker (2003), como uma causa externa ao sujeito,um probl<strong>em</strong>a social que interfere no sucesso da aprendizag<strong>em</strong>.


127Os sujeitos po<strong>de</strong>m superar essa <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> quando for<strong>em</strong> incitados a refletirsobre o que faz<strong>em</strong>, resolvendo probl<strong>em</strong>as que envolvam maior nível <strong>de</strong> abstração,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esses probl<strong>em</strong>as estejam voltados à prática. O papel do professor é <strong>de</strong>fundamental importância nesse processo.Constatamos, na nossa análise, presença do raciocínio hipotético <strong>de</strong>dutivonas manifestações dos sujeitos, tanto nas verbalizadas quanto nas formalizadas.Observe os ex<strong>em</strong>plos: 1) “Eu imaginei que tinha 3 unida<strong>de</strong>s, para chegar ao novefaltava 3, então eu conclui que 6 vezes 3 é 9” (JF) – probl<strong>em</strong>a 06 grupo “A”; 2) “Essaconta foi dobrada! Ele <strong>de</strong>via 200, ele fez alguma coisa que dobrou para 400” (RSS) –probl<strong>em</strong>a 16 grupo “A”.Os sujeitos quando falam ou escrev<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ixam claro o raciocínio hipotético<strong>de</strong>dutivo.Observe as frases: “eu imaginei que tinha 3 unida<strong>de</strong>s” e “ele fez algumacoisa que dobrou”. Segundo Piaget (1976) o raciocínio hipotético-<strong>de</strong>dutivo só seconstitui no pensamento formal. Sobre o assunto o autor acrescenta:O pensamento formal é, na realida<strong>de</strong>, essencialmente hipotético<strong>de</strong>dutivo:a <strong>de</strong>dução não mais se refere diretamente a realida<strong>de</strong>spercebidas, mas a enunciados hipotéticos, isto é, a proposições quese refer<strong>em</strong> a hipóteses ou apresentam dados apenas como simplesdados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> seu caráter real: a <strong>de</strong>dução consiste,então, <strong>em</strong> ligar entre essas suposições, e <strong>de</strong>las <strong>de</strong>duzir suasconseqüências necessárias, mesmo quando sua verda<strong>de</strong>experimental não ultrapassa o possível. É esta inversão <strong>de</strong> sentidoentre o real e o possível que, mais que qualquer outra proprieda<strong>de</strong>subseqüente, caracteriza o pensamento formal. (PIAGET, 1976, p.189).Becker (2003) <strong>de</strong>monstrou nos seus estudos, que a presença do raciocíniohipotético <strong>de</strong>dutivo, indica por si só, condições necessárias não só para alfabetizarse,mas também, as necessárias para dar conta da educação básica.Quando a escolarização não ocorre com êxito, não se po<strong>de</strong> atribuir esse fatoà falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> cognitiva e lógica dos sujeitos. Tal fato po<strong>de</strong> ser atribuído aoutras causas, entre elas, a incompetência da escola para provocar o aluno nocampo da mat<strong>em</strong>ática, conduzindo o ensino <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada.Educar para Piaget (2006), é adaptar a criança ao meio social adulto. De umlado, trata-se <strong>de</strong> um indivíduo <strong>em</strong> crescimento; <strong>de</strong> outro, trata-se dos valores sociais,intelectuais e morais nos quais o educador está encarregado <strong>de</strong> iniciá-lo. Noentanto, o adulto concebe a educação como simples transmissão dos valores


128coletivos <strong>de</strong> geração a geração. E, por ignorância, se preocupa com os fins daeducação muito mais relacionados à sua técnica, do que com a criança e com as leisdo seu <strong>de</strong>senvolvimento. Para Piaget (2006), não há como falar <strong>em</strong> educação s<strong>em</strong>se referir ao professor.Quando faz<strong>em</strong>os referência ao objetivo “analisar o potencial para resolverprobl<strong>em</strong>as utilizando o jogo <strong>de</strong> dominó”, cabe <strong>de</strong>stacar: os sujeitos não conheciam omaterial disponibilizado pelo pesquisador. As manifestações a respeito aparec<strong>em</strong> naentrevista. Nesse sentido, o material serviu <strong>de</strong> instrumento motivador durante asinterações. Os sujeitos <strong>de</strong>monstraram interesse <strong>em</strong> se envolver com o material e,<strong>em</strong> participar com as ativida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> função da novida<strong>de</strong>.Embora o material pedagógico, por si só, induza o sujeito a dar respostasimediatas, é preciso salientar que não é o material <strong>em</strong> si que possibilita aaprendizag<strong>em</strong> com probl<strong>em</strong>as daquela natureza. Mas sim, as ações dos sujeitossobre o material, isto é, o sujeito agindo sobre o material, retira as proprieda<strong>de</strong>s quelhes são importantes, <strong>de</strong>sta forma, o material é percebido e concebido <strong>em</strong> funçãodas ações dos sujeitos.Apontar caminhos que vis<strong>em</strong> à aprendizag<strong>em</strong> com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asmat<strong>em</strong>áticos necessita o envolvimento <strong>de</strong> três categorias importantes, na nossainterpretação:Em primeiro lugar a intencionalida<strong>de</strong> do pesquisador, isto é, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>disposição, vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>terminação para se fazer alguma coisa;Em segundo, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transcendência do pesquisador, ou seja, aaprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser vista como processo, ultrapassando a produção <strong>de</strong> condutasou respostas a uma necessida<strong>de</strong>;Em terceiro, o significado, isto é, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter um significadomotivacional, ou seja, se os sujeitos não for<strong>em</strong> provocados com ativida<strong>de</strong>satraentes, que cham<strong>em</strong> a atenção, que provoqu<strong>em</strong> a curiosida<strong>de</strong>, que os façam ficar“a fim”, o processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> fica vulnerável.Piaget (2006) coloca que a escola tradicional impõe aos estudantes a suatarefa, s<strong>em</strong> dar oportunida<strong>de</strong> para que a criança coloque sua parte <strong>em</strong> grau maior oumenor <strong>de</strong> interesse e <strong>de</strong> esforço pessoal. Na medida <strong>em</strong> que o professor é bompedagogo ele po<strong>de</strong> proporcionar colaboração entre os estudantes, nesse sentido ele<strong>de</strong>ixa uma marg<strong>em</strong> apreciável à ativida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira. Mas, <strong>de</strong>ntro da lógica do


129sist<strong>em</strong>a, a ativida<strong>de</strong> intelectual e moral dos estudantes permanec<strong>em</strong> heterônomaspor estar ligada à pressão contínua do professor.Esta pesquisa focou a resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no contexto das quatrooperações básicas da mat<strong>em</strong>ática, no entanto, é preciso esten<strong>de</strong>r para outroscontextos. Não é o jogo <strong>de</strong> dominó que vai caracterizar se o aluno apreen<strong>de</strong>u osconteúdos el<strong>em</strong>entares, mas sim, a aplicação <strong>de</strong>ssa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão <strong>em</strong>contextos diversificados. Preferencialmente que isso ocorra por <strong>de</strong>cisão dos própriossujeitos e não por imposição <strong>de</strong> terceiros.O mérito <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisa não se limita, necessariamente, <strong>em</strong>contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento das capacida<strong>de</strong>s cognitivas <strong>de</strong> maneira geral: asrepresentações verbais ou simbólicas, às vezes ina<strong>de</strong>quadas que os sujeitosestabelec<strong>em</strong> com o meio. O mérito maior está nos el<strong>em</strong>entos que aponta naconstrução <strong>de</strong> caminhos para soluções educativas no campo da mat<strong>em</strong>ática.Para uma perspectiva com resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s,Bronfenbrenner (1996), contribui da seguinte forma: Uma día<strong>de</strong> é importante para o<strong>de</strong>senvolvimento, no momento que “ela serve como o bloco construtor básico domicrossist<strong>em</strong>a, possibilitando a formação <strong>de</strong> estruturas interpessoais maiores,tría<strong>de</strong>s, tétra<strong>de</strong>s e assim por diante”. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 46).Esta pesquisa se <strong>de</strong>senvolveu <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> conjunta, dialogada,aberta entre os parceiros, no entanto, <strong>em</strong> se tratando <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s relacionadasespecificamente a jogos, a día<strong>de</strong> observacional, <strong>de</strong>stacada por Bronfenbrenner(1996) também é importante. Essa día<strong>de</strong> se configura quando um sujeito prestaatenção cuidadosamente à ativida<strong>de</strong> do outro, por ex<strong>em</strong>plo: o sujeito (A) prestandoatenção a uma jogada do sujeito (B).Este tipo <strong>de</strong> día<strong>de</strong> satisfaz as condições mínimas necessárias para aaprendizag<strong>em</strong> observacional, mas estipula uma exigênciainterpessoal adicional: a ativida<strong>de</strong> da outra pessoa não só <strong>de</strong>ve serum foco <strong>de</strong> atenção, como aquela pessoa também precisa daralguma resposta aparente à atenção sendo <strong>de</strong>monstrada. Quandoexiste uma día<strong>de</strong> observacional, ela facilmente evolui para seguinteforma diádica, mais ativa. (BRONFENBRENNER, 1996, p. 46).Com relação aos papéis como contextos do <strong>de</strong>senvolvimento humano,Bronfenbrenner (1996) aponta que, os diferentes papéis <strong>de</strong>senvolvidos pordiferentes pessoas, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo ambiente, po<strong>de</strong>m influenciar nos tipos <strong>de</strong>


130ativida<strong>de</strong>s e nos relacionamentos entre as pessoas po<strong>de</strong>ndo alterar o curso do<strong>de</strong>senvolvimento.O conceito <strong>de</strong> papel, para ele, abrange não somente as expectativas <strong>de</strong>como uma pessoa numa <strong>de</strong>terminada posição social <strong>de</strong>ve agir <strong>em</strong> relação às outraspessoas, abrange também, o caminho inverso, ou seja, como as outras pessoas<strong>de</strong>v<strong>em</strong> agir <strong>em</strong> relação àquela pessoa.Por ex<strong>em</strong>plo: quando o professor explica uma ativida<strong>de</strong> para um sujeito, eleespera que o sujeito fique atento. No nível do microssist<strong>em</strong>a, essa expectativa secomportaria como relações <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>. “Um papel é uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s erelações esperadas <strong>de</strong> uma pessoa que ocupa uma <strong>de</strong>terminada posição nasocieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> outras <strong>em</strong> relação àquela pessoa”. (BRONFENBRENNER, 1996, p.68).Tais expectativas não se restring<strong>em</strong> somente ao conteúdo da ativida<strong>de</strong>, mastambém às relações <strong>de</strong> ambas as partes. No comportamento <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s, s<strong>em</strong>anifestam <strong>em</strong> grau <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e afetivida<strong>de</strong>. No caso doex<strong>em</strong>plo do professor citado acima, enquanto o professor orienta o educando,espera-se que o educando, aceite a orientação e corresponda essa aceitação <strong>em</strong>alto nível <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, afeição mútua e equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r a favor do professor.Colocar pessoas <strong>em</strong> relações interpessoais <strong>em</strong> que se espera que ajam <strong>em</strong>competição ou <strong>em</strong> cooperação a tendência é “intensificar as ativida<strong>de</strong>s e relaçõesinterpessoais que são compatíveis com as experiências dadas” (p.81).É necessário acrescentar as contribuições <strong>de</strong> Freire (1996) para estapesquisa, no momento que estão relacionadas aos saberes necessários à práticaeducativa apontando el<strong>em</strong>entos importantes para soluções educativas.O ensino <strong>de</strong> qualquer ciência <strong>de</strong>manda “quebra” <strong>de</strong> saberes historicizados,impregnados nas posturas dos professores, que não po<strong>de</strong>m ser modificado <strong>de</strong>maneira arbitrário. Porém, esses saberes <strong>em</strong>píricos, historicizados, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> sersimplesmente transferidos aos educandos.Quando adotamos uma metodologia centrada nas relações dialogadas,procuramos estabelecer um rigor metódico no sentido <strong>de</strong> ser cuidadoso ao construiro saber, caminhando lado a lado com o educando igualmente sujeitos do processo.O importante nesse contexto é o reconhecimento do educando como sujeitoda aprendizag<strong>em</strong> e do educador/professor inserido no contexto. Construir opensamento do ponto <strong>de</strong> vista crítico, segundo Freire (1996), t<strong>em</strong> relação com o


131ciclo gnosiológico, on<strong>de</strong> a curiosida<strong>de</strong> ingênua após submetida ao rigor metódico<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser ingênua e passa a ser epist<strong>em</strong>ológica. A construção do pensamento doponto <strong>de</strong> vista do professor:Tanto implica o respeito ao senso comum no processo <strong>de</strong> suanecessária superação quanto o respeito e o estímulo à capacida<strong>de</strong>criadora do educando. Implica o compromisso do educador com aconsciência crítica do educando cuja “promoção” da ingenuida<strong>de</strong> nãose faz automaticamente (p. 29).Os sujeitos <strong>de</strong>sta pesquisa possu<strong>em</strong> valores, saberes, limitações,construídos socialmente, que não po<strong>de</strong>m ser modificados arbitrariamente. Opensamento crítico aqui seria estabelecer a correlação <strong>de</strong>sses saberes jávivenciados pelos sujeitos aos conteúdos a ser<strong>em</strong> aprendidos na escola. Para Freire(1996) a superação acontecerá na medida <strong>em</strong> que a “curiosida<strong>de</strong> ingênua, s<strong>em</strong><strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser curiosida<strong>de</strong>, pelo contrário, continuando a ser curiosida<strong>de</strong>, se criticiza”(p. 31).São os saberes do senso comum que os alunos traz<strong>em</strong> nas suas histórias<strong>de</strong> vida que foram submetidos à crítica.A curiosida<strong>de</strong> ingênua relacionada ao saber do senso comum trazida pelossujeitos é a mesma curiosida<strong>de</strong>, que submetida a critica, a partir do rigor metódicoaproxima-se do objeto cognoscente, tornando-se curiosida<strong>de</strong> epist<strong>em</strong>ológica,mudando <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, mas prevalecendo sua essência. “(...) a promoção daingenuida<strong>de</strong> para a criticida<strong>de</strong> não se dá automaticamente, uma das tarefasprecípuas da prática educativo-progressista é exatamente o <strong>de</strong>senvolvimento dacuriosida<strong>de</strong> crítica, insatisfeita” (p. 32).O pensamento crítico sobre a prática exige uma relação dinâmica e dialéticaentre o fazer e o pensar sobre o que se fez. O pensamento crítico que supera oingênuo <strong>de</strong>ve ser produzido pelo próprio sujeito <strong>em</strong> conjunto com o professor. “Épreciso, por outro lado, reinsistir <strong>em</strong> que a matriz do pensar ingênuo como a docrítico é a curiosida<strong>de</strong>”. (FREIRE, 1996, p. 39).Freire (1996) coloca que o aprendizado a partir da m<strong>em</strong>orização o sujeitofica paciente da transferência do conteúdo mais do que sujeitos críticos, curiosos eepist<strong>em</strong>ológicos, àquele sujeito que constrói o conhecimento participandoativamente com o objeto.


132As contribuições <strong>de</strong> Freire (1996) expostas acima são relevantes para estapesquisa na medida <strong>em</strong> que, como professor/pesquisador, consi<strong>de</strong>ramos os sujeitosno mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, para daí, estabelecermos os procedimentos metodológicosda pesquisa.Durante as práticas pedagógicas com o jogo <strong>de</strong> domino <strong>em</strong> día<strong>de</strong>s,procuramos assumir a postura <strong>de</strong> mediador da aprendizag<strong>em</strong>, promovendo oconhecimento <strong>em</strong> parceira num contexto dialógico entre os sujeitos, explorando ascapacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reflexão <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, respeitando as diferenças e limitações,estabelecendo o ensino <strong>de</strong> mão dupla <strong>de</strong> forma cooperativa na tentativa <strong>de</strong> superaras dificulda<strong>de</strong>s para a aprendizag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática.Como professores ou pesquisadores, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os conhecer as dimensõescaracterizadas pela nossa vivência, o que nos torna mais seguro e preciso durante aprática <strong>em</strong> comunhão com os meninos. Procuramos conhecer as característicasgerais e particulares dos sujeitos a fim <strong>de</strong> proporcionar um aprendizado maissignificativo.O ensino da mat<strong>em</strong>ática a partir <strong>de</strong> procedimentos mecanizados estádistante <strong>de</strong> garantir o conhecimento dos sujeitos. Proporcionar um aprendizadoon<strong>de</strong> os sujeitos, professores e pesquisadores possam ser vistos como agentes <strong>de</strong>um processo único é <strong>de</strong> fundamental importância para o <strong>de</strong>senvolvimento dopotencial e do avanço na aprendizag<strong>em</strong> escolar.


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138APÊNDICESApêndice I – Verificação da aprendizag<strong>em</strong> INome:................................................................Ida<strong>de</strong>:.........Meses:..........Série:.........Resolva os probl<strong>em</strong>as abaixo explicando como fez para resolver1. Se o preço <strong>de</strong> uma lata <strong>de</strong> leite <strong>em</strong> pó é três reais, por quantos <strong>de</strong>ve sermultiplicado esse valor para que eu possa gastar <strong>de</strong>zoito reais?2. Uma caixa continha algumas bolinhas, Lucas retirou duas e a caixa ficouvazia. Quantas bolinhas tinham na caixa?3. Por quantas pessoas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser divididos oito quilos <strong>de</strong> alimentos paraque cada uma receba quatro quilos?4. Eu tinha um número <strong>de</strong> bolinhas <strong>de</strong> gu<strong>de</strong>, ganhei duas do meu colega efiquei com três. Quantas bolinhas eu tinha?


139Apêndice II – Verificação da aprendizag<strong>em</strong> IINome:.................................................................Ida<strong>de</strong>:.........Meses:..........Série:........Resolva os probl<strong>em</strong>as abaixo explicando como fez para resolver1) Hoje eu tenho na minha coleção um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z figurinhas, antes eu só tinhaquatro. Quantas eu arrumei?2) Dobrei certo valor que eu tinha no bolso e fiquei com oito, quantos eu tinha nobolso?3) Eu tinha certo número <strong>de</strong> figurinhas, <strong>em</strong>prestei todas para meu colega, comquantas fiquei?4) João tinha vinte bolinhas <strong>de</strong> gu<strong>de</strong>, per<strong>de</strong>u cinco para seu amigo Paulo, oresto dividiu com três outros amigos. Quantas bolinhas couberam para cadaum dos novos amigos?


140Apêndice III – Mo<strong>de</strong>lo da entrevistaEntrevistador: <strong>Hamilton</strong> <strong>Oliveira</strong> <strong>Alves</strong>Protocolo:Data: -----/------/-------Fita nº:Nome:Ida<strong>de</strong>: Data <strong>de</strong> nasc.:Série:Local: ONG <strong>de</strong> Mandirituba - PRQuadro 1 – Entrevista sobre Aprendizag<strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática[...] - Conte a história da sua vida antes<strong>de</strong> vir para a ONG.- E a escola como era antes <strong>de</strong> vir para aONG?- O que mudou na sua vida <strong>de</strong>pois quevocê veio para a ONG?- E a escola como é hoje?- Qual matéria que você mais gosta naescola?- E a que menos gosta?- Fale um pouco sobre a mat<strong>em</strong>ática.- Você gosta <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática?- Você vai b<strong>em</strong> <strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática naescola?- Por quê?- Como você aprendia mat<strong>em</strong>ática antes<strong>de</strong> vir para a ONG?- E hoje, como seu (sua) professor (a)ensina mat<strong>em</strong>ática para você?- Você enten<strong>de</strong> b<strong>em</strong> da forma que seu(sua) professor (a) ensina?- O que você está apren<strong>de</strong>ndo <strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática?- Você t<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> apren<strong>de</strong>rmat<strong>em</strong>ática?- Em que assuntos?


141- Você sabia fazer contas <strong>de</strong> somar,subtrair, multiplicar e dividir antes <strong>de</strong> virpara a ONG?- Você sabia resolver probl<strong>em</strong>as comsoma, subtração, multiplicação e divisãoantes <strong>de</strong> vir para a ONG?- Você sabe hoje resolver probl<strong>em</strong>ascom soma, subtração, multiplicação edivisão?- Você acha importante saber resolverprobl<strong>em</strong>as envolvendo soma, subtração,multiplicação e divisão?- Por quê?- Você sabe a tabuada?- Seu (sua) professor (a) utilizava jogospara ensinar mat<strong>em</strong>ática antes <strong>de</strong> vocêvir para a ONG?- Seu (sua) professor (a) utiliza jogospara ensinar mat<strong>em</strong>ática na escola?- Que tipo?- Você gosta <strong>de</strong> brincar com jogos?- Quais?- Você sabe resolver probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>soma, subtração, multiplicação e divisãousando o dominó?


142Apêndice IV – Mo<strong>de</strong>lo dos probl<strong>em</strong>as propostosNuma cesta t<strong>em</strong> cincolaranjas. Quantas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser retiradas para que acesta fique vazia?José tinha cinco moedasiguais e tentou fazer umamultiplicação, só que oresultado não alterou, porquanto José multiplicou asmoedas?Dois litros <strong>de</strong> leitedivididos por duaspessoas. Caberá para cadauma?Se o preço <strong>de</strong> uma lata <strong>de</strong>leite <strong>em</strong> pó é três reais, porquantos <strong>de</strong>ve sermultiplicado esse valor paraque eu possa gastar <strong>de</strong>zoitoreais?Por quantas pessoas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser divididas doze maçãspara que cada uma <strong>de</strong>lasreceba duas maças?Qual é o número qu<strong>em</strong>ultiplicado por nove que dávinte e sete?Quinze figurinhas serãorepartidas por cinco pessoas.Quantas cada uma receberá?Por quantas pessoas <strong>de</strong>vodividir vinte quilos <strong>de</strong>alimentos para que cada umareceba cinco quilos?Se uma dúzia correspon<strong>de</strong> adoze unida<strong>de</strong>s, então meiadúzia correspon<strong>de</strong> a?Uma caixa continha algumasbolinhas, Lucas retirou duase a caixa ficou vazia.Quantas bolinhas tinham nacaixa?Eu tinha c<strong>em</strong> reais napoupança, hoje tenhotrezentos reais, por quantofoi multiplicado o valorantigo?Meia dúzia <strong>de</strong> bananacorrespon<strong>de</strong> a seis unida<strong>de</strong>s,por quanto <strong>de</strong>vo multiplicarmeia dúzia para obter<strong>de</strong>zoito unida<strong>de</strong>s?Se <strong>de</strong>z latas <strong>de</strong> leite <strong>em</strong> pócustam trinta reais, quantocusta uma lata?Em uma prova <strong>de</strong>mat<strong>em</strong>ática Lucas acertoucinco questões das <strong>de</strong>zexistentes. Quantas eleerrou?Faltavam seis meses para omeu aniversário, agora sófalta um. Quantos meses sepassaram?José t<strong>em</strong> três reais no bolso,por quanto <strong>de</strong>ve sermultiplicado esse valor paraque José fique com quinzereais?Uma lesma sobe por umposte um metro a cadauma hora. Quantos metrosela sobe <strong>em</strong> seis horas?Quantos ovos são a meta<strong>de</strong><strong>de</strong> uma dúzia?Qual é a quantida<strong>de</strong> que<strong>de</strong>ve ser somada com seispara se ter <strong>de</strong>z?Eu tinha quatro figurinhas,agora tenho <strong>de</strong>z, quantas euganhei?No primeiro bimestrefiquei com nota cinco <strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática, no segundofiquei com sete. Quantospontos aumentaram minhanota?Quantas vezes <strong>de</strong>v<strong>em</strong>osmultiplicar o númerocinqüenta para obtermos onúmero duzentos?Ont<strong>em</strong> eu tinha <strong>de</strong>z reais nobolso, hoje tenho cinqüenta,por quanto foi multiplicado ovalor anterior?Ao tentar fazer umamultiplicação a resposta dás<strong>em</strong>pre zero, por quantoestou multiplicando?Minha aprovação <strong>em</strong>português <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>somar alguns pontos comdois que eu tenho, quantospontos faltam para eu seraprovado se a média forsete pontos?Tenho <strong>de</strong>z chocolates paradividir com <strong>de</strong>z colegas,quantos caberá para cadaum?Tenho atualmente quatorzeanos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, logo terei<strong>de</strong>zenove, quantos anos <strong>de</strong>vosomar para chegar a essaida<strong>de</strong>?Um certo time <strong>de</strong> futeboltinha <strong>de</strong>zesseis pontos nocampeonato, agora t<strong>em</strong> dozepontos. Isto quer dizer que otime per<strong>de</strong>u?Tenho quinze reais napoupança, quantos <strong>de</strong>vo<strong>de</strong>positar para ficar comvinte?Tenho doze reais napoupança, quantos <strong>de</strong>voretirar para ficar com <strong>de</strong>z?Eu tinha <strong>de</strong>z reais no bolso<strong>em</strong>prestei sete para meucolega quantos me restaram?Qual é o número qu<strong>em</strong>ultiplicado por trêsunida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> como respostanove?Eu tinha cinco figurinhascolecionei mais algumas ecompletei <strong>de</strong>z, por quantofoi multiplicada aquantida<strong>de</strong> que eu tinha?Eu tinha um certo número <strong>de</strong>figurinhas, <strong>em</strong>prestei todaspara meu colega, comquantas fiquei?Por quantas pessoas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser divididos oito quilos <strong>de</strong>alimentos para que cada uma<strong>de</strong>las receba quatro quilos?Eu tinha um certo número <strong>de</strong>bolinhas <strong>de</strong> gu<strong>de</strong>, ganheiduas do meu colega e fiqueicom três. Quantas bolinhaseu tinha?


143Doze moedas <strong>de</strong> um realserão divididas por umnúmero <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>modo que cada umareceba seis moedas,quantas pessoas estãoenvolvidas?Eu tinha <strong>de</strong>zesseis figurinhasda copa do mundo, agoratenho <strong>de</strong>zoito, quantas euganhei?Dobrei um certo valor que eutinha no bolso e fiquei comoito, quantos eu tinha nobolso?Seu Pedro tinha cincogalinhas, ven<strong>de</strong>u as cincoquantas galinhas ele aindat<strong>em</strong>?Dividindo seis cabeças <strong>de</strong>bois entre alguns irmãos,cada um receberá um boi,quantos são os irmãos?Devia duzentos reais parameu colega, hoje <strong>de</strong>voquatrocentos, por quanto foimultiplicada minha dívida?Tenho um certo valor nobolso, se eu pagar um parameu amigo, fico s<strong>em</strong> nada.Quanto tenho no bolso?Somei uma certa quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> ovelhas com três que eu játinha, agora tenho sete. Qualé a quantida<strong>de</strong> somada?Num chiqueiro tinhaquatro galinhas, agora t<strong>em</strong><strong>de</strong>zesseis, isto quer dizerque a quantida<strong>de</strong> que tinhafoi multiplicada por?Atualmente estamos no mês<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007,quantos meses faltam parachegarmos no mês <strong>de</strong> junho?José t<strong>em</strong> nove cavalos <strong>de</strong>corrida e quer <strong>de</strong>ixá-loscomo herança para seus trêsfilhos. Aju<strong>de</strong> José resolver oprobl<strong>em</strong>a?Ont<strong>em</strong> eu tinha uma moeda,perdi no jogo para meuamigo, com quantas fiquei?O senhor Antonio t<strong>em</strong> trêscabeças <strong>de</strong> porcos e trêsfilhos. O que ele <strong>de</strong>vefazer para evitar brigaentre os filhos?Marcos gosta <strong>de</strong> cavalos, eletinha três, e agora resolveuven<strong>de</strong>r todos, com quantoscavalos Marcos ficará?Repartir duas dúzias <strong>de</strong> ovosentre duas pessoas, quantasdúzias caberá a cada pessoa?Ont<strong>em</strong> o termômetromarcava trinta graus, hoj<strong>em</strong>arca vinte e nove, isto querdizer que a t<strong>em</strong>peratura caiuquantos graus?Minha média <strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática é cincopontos, fiz uma prova enão certei nenhuma dasquestões, quantos pontosaumentou minha média?Eu tinha cinqüenta reis nobolso, <strong>em</strong>prestei tudo parameu irmão, quanto merestou?Se um termômetro marcavaum grau negativo e se at<strong>em</strong>peratura subiu um grau,qual a t<strong>em</strong>peratura qu<strong>em</strong>arca o termômetroatualmente?Hoje eu tenho na minhacoleção um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>zfigurinhas, antes eu só tinhaquatro. Quantas eu arrumei?


Apêndice V – Outras possibilida<strong>de</strong>s com o jogo <strong>de</strong> dominó144


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