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Portugal, uma nação marítima - Marinha de Guerra Portuguesa

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<strong>Portugal</strong>, <strong>uma</strong> nação marítimaA História portuguesa po<strong>de</strong> resumir-se a <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> esforços para oaproveitamento das possibilida<strong>de</strong>s atlânticas do território.Jaime CortesãoA globalização e o marA globalização é o fenómeno <strong>de</strong> maior influência na H<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>neste princípio <strong>de</strong> século XXI. Dela <strong>de</strong>corre a permanentemultiplicação das relações internacionais, que originam um sistemapolítico, económico, social e militar inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, caracterizadopela troca crescente <strong>de</strong> bens e informações. É característica<strong>de</strong>terminante <strong>de</strong>ste sistema, o facto da economia mundial assentarno livre tráfego, particularmente no efectuado por via marítima, que éresponsável por cerca <strong>de</strong> 90% do comércio mundial. Por isso, a valiada posição estratégica ocupada por <strong>Portugal</strong>, traduz-se, entre outrosaspectos, no facto <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 53% do comércio externo da UE passarem águas jurisdicionais portuguesas. Além disso, cerca <strong>de</strong> 60% <strong>de</strong>todo o comércio externo português ocorre por via marítima e cerca <strong>de</strong>70% das importações nacionais usa a mesma via, incluindo atotalida<strong>de</strong> do petróleo e quase 2/3 do gás natural que consumimos.Nestas circunstâncias, a estabilida<strong>de</strong> global e portuguesa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mlargamente da segurança marítima. Porém, as ameaças directas aouso do mar e as que do mar tiram partido, têm-se multiplicado eapresentam-se <strong>de</strong> diferentes formas, entre as quais, o terrorismo, apirataria, a proliferação <strong>de</strong> armamento, o narcotráfico, o tráfico <strong>de</strong>seres h<strong>uma</strong>nos, a imigração ilegal, a <strong>de</strong>predação <strong>de</strong> recursos vivos enão vivos e a poluição do mar.A dimensão marítima <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> actuação no mar, para garantir o seu uso a<strong>de</strong>quado,é particularmente relevante num país cujos espaços marítimos têm<strong>uma</strong> extensão extraordinária. Com efeito, <strong>Portugal</strong> possui <strong>uma</strong> área2terrestre <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 91.763 km , o que correspon<strong>de</strong> ao 110º lugar naor<strong>de</strong>nação dos países em termos <strong>de</strong> dimensão. No entanto, possuisoberania ou jurisdição sobre <strong>uma</strong> extensíssima área marítima, da2or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 1.720.560 km , incluindo águas interiores, mar territorial eZona Económica Exclusiva (ZEE). Esta área marítima correspon<strong>de</strong> acerca <strong>de</strong> 18,7 vezes a área terrestre nacional.Áreas do território e dos espaços marítimos <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> (km 2)<strong>Portugal</strong> possui a 11ª maior área mundial <strong>de</strong> águas jurisdicionais,incluindo mar territorial e ZEE, à frente <strong>de</strong> países como a Índia e aChina. No âmbito da UE, é o país com maior vastidão <strong>de</strong> águasjurisdicionais, se exceptuarmos as zonas marítimas dos territóriosultramarinos da França e do Reino Unido.Além disso, o Estado Português comprometeu-se, por acordosinternacionais, a assegurar a busca e o salvamento marítimo, SearchAnd Rescue (SAR) na expressão inglesa, n<strong>uma</strong> área <strong>de</strong>2responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quase 6 milhões <strong>de</strong> km , correspon<strong>de</strong>ndo a cerca<strong>de</strong> 63 vezes a superfície do território nacional.O mar português encontra-se no centro <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s das principais rotasmarítimas e é diariamente atravessado por elevado número <strong>de</strong> navios(Fonte: Atlas mondial <strong>de</strong>s <strong>de</strong>nsités <strong>de</strong> trafic <strong>de</strong> commerce)Todas estas ameaças obrigam a <strong>uma</strong> atençãoredobrada e a <strong>uma</strong> actuação constante eproactiva <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ros interesses nacionais e <strong>de</strong> contribuir para aestabilida<strong>de</strong> global.Na ausência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> autorida<strong>de</strong> supranacionalque garanta a segurança marítima, esta resultados esforços <strong>de</strong> cada país, por si só ou noâmbito das acções promovidas pororganizações internacionais.Km 212000000100000008000000600000040000002000000Importância do mar para <strong>Portugal</strong>111% do Produto Interno Bruto (PIB)12% do emprego1117% dos impostos indirectos90% das receitas <strong>de</strong> turismo2Fontes:1 - Universida<strong>de</strong> Católica <strong>Portuguesa</strong>, 20042 – Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística, 20040EUAFrançaAustráliaRússiaCanadáÁguas JurisdicionaisJapãoNova ZelândiaReino UnidoBrasilChile<strong>Portugal</strong>ÍndiaMadagascarArgentinaEUAFrançaAustráliaRússiaCanadáJapãoNova ZelândiaReino UnidoBrasilChile<strong>Portugal</strong>ÍndiaMadagascarArgentinaChinaPaíses com maior área <strong>de</strong> águas jurisdicionais.Acresce ainda que está em curso o processo <strong>de</strong>estabelecimento dos limites exteriores daplataforma continental portuguesa, com aparticipação activa da <strong>Marinha</strong>, o qual constitui<strong>uma</strong> oportunida<strong>de</strong> para o país aumentar aindamais a extensão dos fundos marítimos sobsoberania nacional.China


<strong>Portugal</strong>, <strong>uma</strong> nação marítima<strong>Portugal</strong> é, assim, um país com <strong>uma</strong> superfície terrestre mo<strong>de</strong>sta,mas com um mar imenso sob sua jurisdição. Esse mar <strong>de</strong>ve serprotegido, vigiado, explorado e <strong>de</strong>fendido, <strong>de</strong> forma a salvaguardar osinteresses nacionais. Porém, isso implica, não só a <strong>de</strong>fesa dosdireitos soberanos, mas, também, a assumpção dasresponsabilida<strong>de</strong>s nacionais para a manutenção da estabilida<strong>de</strong> emque assenta a vida globalizada dos nossos dias. Para isso, o país <strong>de</strong>vepossuir <strong>uma</strong> <strong>Marinha</strong> mo<strong>de</strong>rna, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar, comeficiência e eficácia, três funções fundamentais no uso singular quefaz do mar:· Defesa militar e apoio à política externa;· Segurança e autorida<strong>de</strong> do Estado;· Desenvolvimento económico, científico e cultural.A <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong> duplo usoFragata da classe “Vasco da Gama”Em alguns países estas funções são <strong>de</strong>sempenhadas por diversasorganizações distintas: Armadas, estruturadas para a <strong>de</strong>fesa militare o apoio à política externa; Guardas Costeiras, vocacionadas para asegurança e autorida<strong>de</strong> do Estado; e ainda outros organismosempenhados em tarefas específicas, como a busca e salvamentomarítimo, a investigação científica do mar ou a cultura marítima.Noutros países, entre os quais <strong>Portugal</strong>, a <strong>Marinha</strong> assegura asfunções típicas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Armada e as <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Guarda Costeira, o quepermite racionalizar o emprego dos recursos nacionais. Assim, a<strong>Marinha</strong> <strong>Portuguesa</strong>, cujo comandante é, simultaneamente, aAutorida<strong>de</strong> Marítima Nacional, assegura a actuação militar na função<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e apoio à política externa, e a actuação não militar nasfunções <strong>de</strong> segurança e autorida<strong>de</strong> do Estado, e <strong>de</strong> apoio ao<strong>de</strong>senvolvimento económico, científico e cultural, dando corpo aoparadigma da <strong>Marinha</strong> <strong>de</strong> duplo uso.Uma <strong>Marinha</strong> com estas características permite a economia doesforço e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sinergias resultantes da partilha <strong>de</strong>conhecimentos e recursos, n<strong>uma</strong> lógica funcional <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong>complementarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s. Desta forma, assegura <strong>uma</strong>mais eficiente aplicação dos recursos públicos na consecução <strong>de</strong>finalida<strong>de</strong>s que, <strong>de</strong> outro modo, exigiriam estruturas diversificadas epotencialmente redundantes, não proporcionando melhoresresultados globais.A qualida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sempenho operacional da <strong>Marinha</strong> tem sidoatestada em rigorosos processos <strong>de</strong> treino e avaliação, e éconstantemente comprovada, por exemplo, pela elevada taxa <strong>de</strong>sucesso no âmbito da busca e salvamento marítimo.Articulação com outros órgãos do EstadoO ambiente estratégico actual tem obrigado a envolver cada vez maisagências e <strong>de</strong>partamentos governamentais em actuaçõescoor<strong>de</strong>nadas e articuladas nos espaços marítimos sob soberania ejurisdição nacional. Compreensivelmente, nenhum órgão do Estadoconsegue, por si só, dar resposta aos múltiplos <strong>de</strong>safios que sãocolocados no imenso mar português. Neste enquadramento, a<strong>Marinha</strong> adopta e preconiza <strong>uma</strong> postura proactiva <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>abertura, assumindo um papel <strong>de</strong> charneira na articulação <strong>de</strong>variadas áreas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> do Estado no mar, apoiando, através <strong>de</strong>protocolos operacionais, outros <strong>de</strong>partamentos do Estado, como, porexemplo, a Polícia Judiciária (PJ) no combate ao tráfico <strong>de</strong>estupefacientes, o Serviço <strong>de</strong> Estrangeiros e Fronteiras (SEF) nocombate à imigração clan<strong>de</strong>stina, e o Instituto Portuário e dosTransportes Marítimos, IP (IPTM, IP) na inspecção <strong>de</strong> naviosestrangeiros.Essa articulação inter-agências reforçou-se com a criação do CentroNacional Coor<strong>de</strong>nador Marítimo (CNCM). Este órgão coor<strong>de</strong>nador daacção no mar utiliza as instalações e as facilida<strong>de</strong>s disponíveis noCentro <strong>de</strong> Operações Marítimas (COMAR), no Comando Naval, emOeiras, e tem por objectivo eliminar potenciais duplicações <strong>de</strong>esforços e garantir a permanente articulação entre os diversosintervenientes, primeiramente, ao nível nacional, mas também aonível internacional.Autorida<strong>de</strong> Nacional<strong>de</strong> Protecção CivilForça AéreaServiço <strong>de</strong>Estrangeirose FronteirasInstituto Portuário edosTransportes MarítimosCOMARCNCMGuarda NacionalRepúblicanaAutorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> NacionalDG Alfân<strong>de</strong>gas e impostosespeciais sobre o consumoAutorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Segurança Alimentare EconómicaPolícia JudiciáriaInstituto da ÁguaUma <strong>Marinha</strong> firme na <strong>de</strong>fesa, empenhada nasegurança e parceira no <strong>de</strong>senvolvimentoA geografia <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, os vastos espaços marítimos <strong>de</strong> soberania e<strong>de</strong> jurisdição originados pela faixa continental e por treze ilhasatlânticas, e os interesses nacionais permanentes, são factores queditam o entrosamento da <strong>Marinha</strong> com a Nação. A actuaçãointegrada e complementar dos meios da <strong>Marinha</strong> (unida<strong>de</strong>s navais,<strong>de</strong> fuzileiros e <strong>de</strong> mergulhadores, e agentes da Polícia Marítima), no<strong>de</strong>sempenho das funções <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa militar e apoio à política externa,<strong>de</strong> segurança e autorida<strong>de</strong> do Estado e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoeconómico, científico e cultural, garante <strong>uma</strong> judiciosa utilização dosrecursos existentes e cria sinergias <strong>de</strong> emprego vitais para o país,permitindo que a <strong>Marinha</strong> se afirme e evolua n<strong>uma</strong> procura contínua<strong>de</strong> excelência, adoptando <strong>uma</strong> postura firme na <strong>de</strong>fesa, empenhadana segurança e parceira no <strong>de</strong>senvolvimento, essencial para que opaís continue a usar o mar com o grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> compatível com osseus interesses.

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