13.07.2015 Views

Satisfação de indivíduos atingidos pela hanseníase a ... - IESC/UFRJ

Satisfação de indivíduos atingidos pela hanseníase a ... - IESC/UFRJ

Satisfação de indivíduos atingidos pela hanseníase a ... - IESC/UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

M ARIA DE JESUS FREITAS ALENCAR, JAQUELINE CARACAS BARBOSA,C ARMELITA RIBEIRO OLIVEIRA, ALBERTO NOVAES RAMOS JR .,P IETER A. M. SCHREUDER, RICARDO CÉSAR GARCIA AMARAL, JORG HEUKELBACHtemporárias ou permanentes, como observado também em outros estudos (Eidt,2004; Ebenso et al., 2007). Por exemplo, a perda sensitiva das mãos afeta ativida<strong>de</strong>scomo abotoar roupas, calçar sapatos ou escrever (Eidt, 2004). Quando pés epernas são <strong>atingidos</strong>, ativida<strong>de</strong>s como dirigir um automóvel, guiar uma bicicletaou caminhar ficam prejudicadas (Eidt, 2004; Ebenso et al., 2007).Além disso, a dor influencia não somente <strong>de</strong> forma direta a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidadas pessoas atingidas, mas também <strong>de</strong> forma indireta, ou seja, <strong>pela</strong> redução dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s como trabalhar ou passar roupa (Claro, 1995;Galvan, 2003). Esse é um aspecto importante da cirurgia em virtu<strong>de</strong> da possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> retorno ao trabalho Fica evi<strong>de</strong>nte que os benefícios da neurolise, como oretorno dos <strong>indivíduos</strong> em uma faixa etária produtiva ao mercado <strong>de</strong> trabalho esua inserção na socieda<strong>de</strong>, passam por mudanças nem sempre tão fáceis, porfatores como baixa auto-estima. Prevenir incapacida<strong>de</strong>s significa modificarcomportamento consi<strong>de</strong>ravelmente, o que claramente é difícil, mormente setratando <strong>de</strong> adultos (Duerksen & Virmond, 1997).A intervenção cirúrgica melhora em muitos casos a função sensitiva e motorado nervo. Mesmo quando não há evi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>ssa melhora funcional, o fator “dor”continua importante na avaliação dos benefícios da cirurgia (Chaise & Roger, 1985;Said et al., 1973; Debray et al., 2001; Nores et al, 1989; Husain et al., 1998). De fato,no presente estudo, o alívio da dor foi um dos aspectos principais relatados pelospacientes. A dor comumente é uma indicação para a neurolise, além da perdasensitiva e muscular (Nores et al, 1989; Husain et al., 1998). O alívio da dor é umresultado marcante da neurolise também em outros estudos, mesmo se o benefício arespeito <strong>de</strong> melhora sensitivo-motora não foi muito evi<strong>de</strong>nte (Chaise & Roger, 1985;Nores et al., 1989; Husain et al., 1998).Esse benefício foi observado também em <strong>indivíduos</strong> operados vários anos após oprimeiro episódio <strong>de</strong> neurite (Husain et al., 1998). Em estudo realizado no Estado <strong>de</strong>Rondônia, a melhora da função motora foi observada até dois anos após a neurolise(Debray et al., 2001). Entretando, um trabalho relatou, em contraste aos resultados dopresente estudo, que o benefício a respeito <strong>de</strong> melhora <strong>de</strong> dor e a melhora da perdasensitivo-motora foi melhor quando pacientes foram operados em um períodomenor do que seis meses após o aparecimento <strong>de</strong> sintomas (Nores et al., 1989).A melhora da cicatrização <strong>de</strong> feridas após a cirurgia foi referida por doisentrevistados, mas a presença <strong>de</strong> cicatriz cirúrgica causou incômodo estéticosomente em um entrevistado. Entre as pessoas que foram atingidas <strong>pela</strong> <strong>hanseníase</strong>,a ocultação do corpo emergiu como uma tentativa <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r suas lesões <strong>de</strong>pele e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s físicas para evitar explicações que pu<strong>de</strong>ssem revelar a doença.Isso evi<strong>de</strong>ncia o conflito vivido em contar ou ocultar a <strong>hanseníase</strong> <strong>de</strong> familiares eamigos (Eidt, 2004).212 – CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 16 (2): 205 - 216, 2008


S ATISFAÇÃO DE INDIVÍDUOS ATINGIDOS PELAHANSENÍASE A RESPEITO DE NEUROLISE NO ESTADO DE RONDÔNIAUma limitação do estudo foi a forma <strong>de</strong> documentação dos dados resultandodas perguntas abertas. As respostas foram anotadas pelos entrevistadores emfrases curtas, o que não possibilitou o emegir dos significados para as pessoasoperadas, mas uma opinião <strong>de</strong>las sobre o fato. Também não foram avaliadas asrestrições à participação (através da escala <strong>de</strong> participação) (Van Brakel et al.,2006). Uma das causas da restrição po<strong>de</strong> incluir incapacida<strong>de</strong>/limitação dasativida<strong>de</strong>s e as doenças auto-estigmatizantes como a <strong>hanseníase</strong>. Além disso, nãofoi dimensionada a melhora objetiva em termos do grau <strong>de</strong> dor percebido.Futuros estudos são necessários para avaliar esses aspectos em maiores <strong>de</strong>talhes.Além da avaliação objetiva da perda sensitivo-motora antes e após cirurgia,a satisfação do usuário <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como uma medida <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfechoimportante na avaliação do benefício da neurolise e, certamente, <strong>de</strong> qualquerintervenção cirúrgica em pessoas vivendo com <strong>hanseníase</strong>.Em conclusão, evi<strong>de</strong>ncia-se por meio <strong>de</strong>sse estudo que a neurolise foi bemvista pelos pacientes operados, em virtu<strong>de</strong> da redução <strong>de</strong> dor e da melhora dasensibilida<strong>de</strong> dos nervos <strong>atingidos</strong> e da motricida<strong>de</strong>. Os benefícios se referiamprincipalmente às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária e ao trabalho. Somente poucospacientes relataram aspectos negativos da neurolise. A neurolise <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>radacomo uma alternativa terapêutica em pacientes com neurite crônicaresistente à corticoterapia.* Agra<strong>de</strong>cimentos: Agra<strong>de</strong>cemos aos <strong>indivíduos</strong> <strong>atingidos</strong> <strong>pela</strong> <strong>hanseníase</strong> que participaramno estudo, permitindo-nos penetrar em suas vidas, compartilhando alguns momentos datrajetória do tratamento e cura para a <strong>hanseníase</strong>; às equipes da Policlínica OswaldoCruz (Porto Velho, Rondôna) e aos profissionais dos centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> envolvidos napesquisa. A Associação NLR do Brasil foi financiadora principal <strong>de</strong>sta pesquisa.R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBERNARDIN, R.; THOMAS, B. Surgery for neuritis in leprosy: indications for andresults of different types of procedures. Leprosy Review. v. 68, n. 2,p. 147 - 154, 1997.BOUCHER, P.; MILLAN, J. ; PARENT, M. ; MOULIA-PELA, J. P. Essai comparérandomisé du traitement médical et médico-chirurgical <strong>de</strong>s névriteshanséniennes. Acta Leprologica. v. 11, n. 4, p. 171 - 177, 1999.BRANDSMA, J. W.; NUGTEREN, W. A.; ANDERSEN, J. B.; NAAFS, B. Functionalchanges of the ulnar nerve in leprosy patients following neurolysis. LeprosyReview. v. 54, n. 1, p. 31 - 38, 1983.C AD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 16 (2): 205 - 216, 2008 – 213


M ARIA DE JESUS FREITAS ALENCAR, JAQUELINE CARACAS BARBOSA,C ARMELITA RIBEIRO OLIVEIRA, ALBERTO NOVAES RAMOS JR .,P IETER A. M. SCHREUDER, RICARDO CÉSAR GARCIA AMARAL, JORG HEUKELBACHBRASIL. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Área técnica <strong>de</strong> Dermatologia Sanitária - Manual<strong>de</strong> Cirurgias. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Reabilitação em Hanseníase. Brasília, n. 3, 2002. 96p.Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2007.BRITTON, W. J.; LOCKWOOD, D. N. Leprosy. Lancet. v. 363, n. 9416,p. 1209 - 1219, 2004.CARAYON, A.; VAN, DROOGENBROECK, J.; COURBIL, J.; BOUCHER, P.; NAAFS, N.Treatment of leprotic neuritis. Exclusive medical treatment or combined with <strong>de</strong>compression.Médicine Tropicale. v. 53, n. 4, p. 493 - 504, 1993.CHAISE, F.; ROGER, B. Neurolysis of the common peroneal nerve in leprosy. Areport on 22 patients. Journal of Bone and Joint Surgery. v. 67, n. 3, 426 - 429, 1985.CLARO, L. B. L. Hanseníase - representações sobre a doença. 1 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Editora Fiocruz; 1995. 110p.CROFT, R. P.; NICHOLLS, P. G.; STEYERBERG, E. W.; RICHARDUS, J. H.; CAIRNS, W.;SMITH, S. A clinical prediction rule for nerve-function impairment in leprosypatients. Lancet. v. 355, n. 9215, p. 1603 - 1606, 2000.DEBRAY, M.; HANSLIK, T.; AVANSI, M. A.; PABION, B.; LORTHOLARY O.Traitement chirurgical <strong>de</strong> décompression <strong>de</strong>s névrites lépreuses à l’hôpital BomPastor (Amazonie brésilienne). La Revue <strong>de</strong> Médicine Interne. v. 22, n. 12,p. 1188 - 1195, 2001.DUERKSEN, F.; VIRMOND, M. Cirurgia reparadora e reabilitação em <strong>hanseníase</strong>. Bauru:Talmilep, 1997. 362p.EBENSO, J.; FUZIKAWA, P.; MELCHIOR, H.; WEXLER, R.; PIEFER, A.; MIN, C. S.;RAJKUMAR, P.; ANDERSON, A.; BENBOW, C.; LEHMAN, L.; NICHOLLS, P.;SAUNDERSON, P.; VELEMAN, J. P. The <strong>de</strong>velopment of a short questionnaire forscreening of activity limitation and safety awareness (SALSA) in clients affectedby leprosy or diabetes. Disability & Rehabilitation. v. 29, n. 9, p. 689 - 700, 2007.EIDT, L. M. Ser hanseniano: sentimentos e vivências. Hansenologia Internationalis.v. 29, n. 1, p. 21 - 27, 2004.FINE, P. E. Leprosy: what is being “eliminated”? Bulletin of the World HealthOrganization. v. 85, n. 1, p. 2, 2007.GALVAN, A. L. Hanseníase (lepra) - que representações ainda se mantêm? Canoas: Editorada ULBRA, 2003. 143p.214 – CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 16 (2): 205 - 216, 2008


S ATISFAÇÃO DE INDIVÍDUOS ATINGIDOS PELAHANSENÍASE A RESPEITO DE NEUROLISE NO ESTADO DE RONDÔNIAHUSAIN, S.; MISHRA, B.; PRAKASH, V.; MALAVIYA, G. N. Results of surgical<strong>de</strong>compression of ulnar nerve in leprosy. Acta Leprologica. v. 11, n. 2,p. 17 - 20, 1998.JOHN, A. S.; KUMAR, D. V.; RAO, P. S. Patients’ perceptions of reconstructivesurgery in leprosy. Leprosy Review. v. 76, n. 1, p. 48 - 54, 2005.LOCKWOOD, D. N. J.; SUNEETHA, S. Leprosy: too complex a disease for a simpleelimination paradigm. Bulletin of the World Health Organization. v. 83, n. 3,p. 161 - 240, 2005.NORES, J. M.; MERLE, F.; REDONDO, A.; VERNEREY, C.; GENTILINI, M. Surgicalmanagement of leprous neuritis: results of 114 operations. Annals of TropicalMedicine and Parasitology. v. 83, n. 2, p. 163 - 165, 1989.OLIVEIRA, C. R.; ALENCAR, M. J. F.; SENA NETO, S. A.; LEHMAN, L. F.;SCHREUDER, P. A. Impairments and Hansen’s disease control in Rondonia state,Amazon region of Brazil. Leprosy Review. v. 74, n. 4, p. 337 - 348, 2003.PENNA, M. L.; PENNA, G. O. Trend of case <strong>de</strong>tection and leprosy elimination inBrazil. Tropical Medicine & International Health. v. 12, n. 5, p. 647 - 650, 2007.PIMENTEL, M. I.; NERY, J. A.; BORGES, E.; GONCALVES, R. R.; SARNO, E. N.Impairments in multibacillary leprosy; a study from Brazil. Leprosy Review. v. 75,n. 2, p. 143 - 152, 2004.RABELLO, F. E. Questões em discussão sobre a classificação das formas da lepra.Arquivos <strong>de</strong> Higiene. v. 8, n. 1, p. 59 - 76, 1938.SAID, G. Z.; ZOHDY, A.; EL-AKKAD, I. N. External and internal neurolysis ofulnar and median nerves in leprous neuritis. Leprosy Review. v. 44, n. 1,p. 36 - 43, 1973.SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE RONDÔNIA. Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong>Agravos <strong>de</strong> Notificação. Relatório <strong>de</strong> situação. Ministério da Saú<strong>de</strong>, Brasília, 2006. 26p.TALHARI, S.; NEVES, R. G. Hanseníase. 3. ed. Manaus: Gráfica Tropical, 1997. 167p.VAN BRAKEL, W. H.; ANDERSON, A. M.; MUTATKAR, R. K.; BAKIRTZIEF, Z.;NICHOLLS, P. G.; RAJU, M. S.; DAS-PATTANAYAK, R. K. The participation scale:measuring a key concept in public health. Disability and Rehabilitation. v. 28, n. 4,p. 193 - 203, 2006.VIRMOND, M.; MARCIANO, L. H.; ALMEIDA, S. N. Resultados <strong>de</strong> neurolise <strong>de</strong> nervoulnar em neurite hansênica. Hansenologia Internationalis. v. 19, n. 1, p. 5 - 9, 1994.C AD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 16 (2): 205 - 216, 2008 – 215


M ARIA DE JESUS FREITAS ALENCAR, JAQUELINE CARACAS BARBOSA,C ARMELITA RIBEIRO OLIVEIRA, ALBERTO NOVAES RAMOS JR .,P IETER A. M. SCHREUDER, RICARDO CÉSAR GARCIA AMARAL, JORG HEUKELBACHWILLCOX, M. L. The impact of multiple drug therapy on leprosy disabilities.Leprosy Review. v. 68, n. 4, p. 350 - 366, 1997.WHO. World Health Organization. The international classification of functioning,disability and health. Geneva, 2001.______. World Health Organization. Global leprosy situation. WeeklyEpi<strong>de</strong>miological Record. v. 82, n. 25, p. 225 - 232, 2007. Disponível em:. Acesso em: 28 nov. 2007.216 – CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 16 (2): 205 - 216, 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!