santas ou sedutoras? mães de heróis na bíblia hebraica ... - UEM
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quebrando princípios morais <strong>ou</strong> religiosos que <strong>de</strong>veriam ser contor<strong>na</strong>dos, <strong>ou</strong> sofrendo<strong>de</strong> algum conflito interior.Pelo contrário, minha interpretação é a <strong>de</strong> que elas estavam resolvidas a cumprirseu <strong>de</strong>ver consi<strong>de</strong>rando-o uma honra que superava alguma motivação egoísta do pai,bem como entendo que elas estavam agindo segundo o conceito moralmente correto,seguindo princípios legais <strong>ou</strong> tradições estabelecidas como códigos morais.Narrativas contendo relatos <strong>de</strong> relações incestuosas para obtenção <strong>de</strong> filhosher<strong>de</strong>iros são confirmadas pela evidência arqueológica <strong>de</strong> textos que relatam tradiçõessemelhantes entre povos relacio<strong>na</strong>dos aos israelitas.Nas tradições da Mesopotâmia, a relação entre os <strong>de</strong>uses e as próprias filhasera conhecida entre seus mitos conforme <strong>de</strong>scrito no Código Hamurabi 8 .No antigo Egito, para on<strong>de</strong> Abraão e o próprio Ló se refugiaram da fome <strong>na</strong>terra, o casamento entre pai e filha era admitido e praticado com o fim <strong>de</strong> preservação<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> uma vez que estas se transmitiam da mãe para a filha mais velha 9 .Então po<strong>de</strong>mos afirmar que as filhas <strong>de</strong> Ló ao tomarem sua iniciativa nãoestavam acometidas <strong>de</strong> culpas que as pu<strong>de</strong>ssem intimidar, mas tinham certeza <strong>de</strong> serisso mesmo que <strong>de</strong>veria ser feito <strong>de</strong> acordo com tradições por elas conhecidas,segundo as quais, filhas po<strong>de</strong>riam e <strong>de</strong>veriam em algumas circunstâncias, gerar<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, mesmo que através do pai para fins <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> herança,garantia da continuida<strong>de</strong> do clã <strong>ou</strong> a sobrevivência da família e da humanida<strong>de</strong>.Se argumentarmos que tiveram que usar o álcool e o engano para <strong>de</strong>rrubar asresistências e possibilitar a relação com o próprio pai, pois ele teria motivos legais,morais <strong>ou</strong> religiosos, para se negar ao ato, também po<strong>de</strong>mos argumentar que esseexpediente <strong>de</strong>ve ter sido necessário em função <strong>de</strong> não haver por parte <strong>de</strong> Ló, porqualquer motivo, a mesma responsabilida<strong>de</strong> social que havia <strong>na</strong>s filhas, transformandoessa <strong>na</strong>rrativa num exemplo <strong>de</strong> negligência masculi<strong>na</strong>, em que as mulheres é que<strong>de</strong>sempenham o papel <strong>de</strong>cisivo para o sucesso fi<strong>na</strong>l da <strong>na</strong>rrativa.Ló, em vários momentos é pintado como alguém gratuitamente procrasti<strong>na</strong>dor,in<strong>de</strong>ciso até mesmo em questões <strong>de</strong> seu interesse, como, por exemplo, no esforço doanjo para retirá-lo <strong>de</strong> Sodoma apressadamente, em função <strong>de</strong> sua lentidão <strong>ou</strong>incredulida<strong>de</strong>.8 Embora o código Hamurabi relate o ato <strong>de</strong> incesto entre <strong>de</strong>uses e suas filhas, ele o proíbe explicitamente entre paise filhos humanos.9 Gerald A. Larue, Sex and the Bible, Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1983, 91; em Kirsch, As Prostitutas <strong>na</strong>Bíblia.