Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41286poeta futurista Filippo Marinetti, o pintor surrealista Francis Picabia, que edita suarevista Cannibale em 1920, o poeta Blaise Cendrars, entre outros. Certamente o autordialoga com o movimento europeu, mas confere a imagem originalidade quando atransforma em metáfora de um procedimento criativo, ativo e crítico, gerador deuma arte brasileira moderna e autônoma.No caso de Tarsila do Amaral, oprocedimento poético de sua pintura, dita antropofágica (1928 a ca.1929) - que alémdo Abaporu, compreende também O Ovo [Urutu], 1928,Figura 1: O Ovo UrutuEntre outras, e da qual A Negra, 1923;Figura 2: A Negra, 1923É considerada precursora - caracteriza-se pela "desarticulação da formaconstrutiva", mediante a submersão na "materialidade cultural" brasileira. Sem
Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41287esquecer o aprendizado moderno de redução formal e planificação do espaçopictórico, a artista cria, com o uso estilizado de formas arredondadas e coresemblemáticas (principalmente tons fortes de amarelo, verde, azul, laranja e roxo), umalegre universo "selvagem", que se liga a um mundo onírico, mágico (das lendasindígenas e africanas), primitivo, profundamente enraizado na cultura popularbrasileira. Entretanto, vale lembrar, seguindo a argumentação de Sônia Salzstein, quea fase "antropofágica" de Tarsila não deve ser considerada como simples ilustraçãode uma teoria. Seu próprio desenvolvimento artístico a teria levado a esse momentode relação crítica com o aprendizado francês, de certa forma antevendoplasticamente a plataforma antropofágica oswaldiana.A ideia de antropofagia como procedimento estético só é conscientementeretomada, em meados dos anos 1960, com a montagem da peça O Rei da Vela, peloTeatro Oficina, e o movimento tropicalista de 1967-1968. A institucionalização desseconceito dá-se em 1998 quando a 24ª Bienal Internacional de São Paulo, de maneiradiscutível, é organizada segundo o tema "Antropofagia e Histórias de Canibalismo",propondo a construção de uma outra história mundial da arte, ou seja, uma históriaque adotasse um ponto de vista não-eurocêntrico. Propõe-se então a atualização e,curiosamente, a internacionalização da antropofagia.CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIASÉ nessa perspectiva que defendemos a ideia de que somos antropófagosnatos – haja vista, que deglutimos toda uma cultura alheia que permeia até hoje emnosso cotidiano. Daí advém às dores desse instinto “que atropelava a verdade. Oimpermeável entre o mundo interior e o mundo exterior”. O Manifesto de Oswaldcorrobora com a nossa defesa de que sem esse sentimento de deixar-se seduzir-sepela cultura da qual ainda não possuíamos, estaríamos fadados a uma Colônia pósconquistadae de olhos atados, engavetados na Caverna. Todos são convidados a sair