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Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAExpedienteO MONITOR DE MÍDIA é um grupo depesquisa do curso de Comunicação Social–Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí(UNIVALI). Desde agosto de 2001, o grupoproduz nas dependências do Centro de CiênciasSociais Aplicadas - Comunicação, Turismo eLazer o material para o website:http://www.univali.br/monitorProfessores pesquisadoresLaura SeligmanRogério ChristofolettiSandro GalarçaValquíria JohnRobson SouzaAlunos pesquisadoresCamila GuerraJoel MinusculiKaris Regina Brunetto CozerRoberta WatzkoStephani Luana LoppnowTaiana Steffen EberleTécnico de Apoio - Bolsista do CNPqGabriela Azevedo ForlinProfessor responsávelRogério ChristofolettiÉTICA E MERCADO NO JORNALISMOCATARINENSE é um produto para consultae pesquisa científica, sem fins comerciais,produzido pelo grupo de pesquisa MONITORDE MÍDIA.Projeto Gráfi c o e CapaJoel MinusculiDiagramaçãoGabriela Azevedo ForlinFelipe da CostaJoel MinusculiEdição e RevisãoEquipe Monitor de MídiaContatos:Rua Uruguai, 458Bloco 12 - sala 205Univali - Itajaí (SC)CEP: 88302-202Telefone: (47) 3341-7888Email: monitordemidia@yahoo.com.brWebsite: http://www.univali.br/monitorApoio:Coordenadora do Curso de JornalismoJane Janete Cardozo da SilveiraDiretor do CeciesacomCarlos Alberto TomelinLicença de Usohttp://www.univali.br/monitor3


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIASumárioÉTICA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 06]Aspectos técnicos e discussões éticas na cobertura do 1º turno das eleições ---------------------------------- [p. 07]Uma semana de anúncios para os fi l hos --------------------------------------------------------------------- [p. 14]Uma carta de (boas) intenções -------------------------------------------------------------------------------- [p. 16]SC lança cartilha para telespectador ------------------------------------------------------------------------- [p. 19]Um precedente perigoso --------------------------------------------------------------------------------------- [p. 22]Jogo dos sete erros ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 23]A política ameaça o Jornalismo? ------------------------------------------------------------------------------ [p. 26]Faltou jornalismo na Arena ----------------------------------------------------------------------------------- [p. 28]Conselho do leitor do Santa já mostra serviço --------------------------------------------------------------[p. 30]Um estelionato jornalístico ------------------------------------------------------------------------------------ [p. 32]Com a máquina toda ------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 34]Participação sim, controle não -------------------------------------------------------------------------------- [p. 37]Campanha contra a baixaria na TV: SOU CONTRA! ---------------------------------------------------- [p. 38]Por um controle menos remoto ------------------------------------------------------------------------------- [p. 39]Nepotismo e Jornalismo --------------------------------------------------------------------------------------- [p. 40]Duelo à moda brasileira ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 42]Pelo seu direito de decidir ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 44]Sobre segredos e sobre confiança ---------------------------------------------------------------------------- [p. 46]Precisamos de qual código? ------------------------------------------------------------------------------------ [p. 51]Foco na ética ----------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 54]Dez propostas para o ensino de Ética em Jornalismo ----------------------------------------------------- [p. 55]O silêncio e o cinismo ------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 57]Enviados nada especiais ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 60]Por um novo código, por uma nova ética -------------------------------------------------------------------- [p. 62]Globo pode revisar critérios e princípios -------------------------------------------------------------------- [p. 66]O cavalo do comissário ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 67]O Código da Al Jazeera ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 69]A foto ou a vida? ------------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 71]Violência, cotidiano e as soluções que procuramos ----------------------------------------------------------- [p. 74]O caso Gabrielli em duas perspectivas ----------------------------------------------------------------------- [p. 76]Imprensa ainda é pressionada --------------------------------------------------------------------------------- [p. 79]A Mídia Brasileira e o Papa XVI ----------------------------------------------------------------------------- [p. 80]Mídia transforma desaparecimento em novela ------------------------------------------------------------- [p. 83]Revisão bem-vinda, mas insuficiente ------------------------------------------------------------------------ [p. 85]http://www.univali.br/monitor 4


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMERCADO ---------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 88]Informação entre quatro paredes ----------------------------------------------------------------------------- [p. 89]Um pente fi n o nos jornais ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 91]Jornais ainda relutam em admitir erros --------------------------------------------------------------------- [p. 95]As vítimas da tortura no Estado ------------------------------------------------------------------------------ [p. 98]O jornalismo catarinense em pesquisa --------------------------------------------------------------------- [p. 100]Em SC e na rede ----------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 103]Preocupação com a cobertura ------------------------------------------------------------------------------- [p. 104]Por aqui pouco espaço ---------------------------------------------------------------------------------------- [p. 105]Ignorando candidatos a vereador --------------------------------------------------------------------------- [p. 107]Marketing e irresponsabilidade social confundem o eleitor ---------------------------------------------------------------------------- [p. 109]Leitores um pouco mais perto ------------------------------------------------------------------------------- [p. 111]Três datas de um passado recente nos jornais ------------------------------------------------------------- [p. 113]Um balando do Conselho do Leitor ------------------------------------------------------------------------ [p. 115]O que há de especial nas páginas do jornal? -------------------------------------------------------------- [p. 118]Onde foi parar a reportagem? ------------------------------------------------------------------------------- [p. 120]Todos querem ser repórter vesgo ---------------------------------------------------------------------------- [p. 122]Erros e acertos -------------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 123]A farra do garantido ------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 125]Impasse Brasil – Bolívia -------------------------------------------------------------------------------------- [p. 127]E os negros nos jornais? --------------------------------------------------------------------------------------- [p. 131]Erros clássicos (ou seriam crassos?) --------------------------------------------------------------------------[p. 132]O tamanho da coisa ------------------------------------------------------------------------------------------- [p. 133]O que muda para o leitor ------------------------------------------------------------------------------------- [p. 134]E agora? Como fi c a? ------------------------------------------------------------------------------------------ [p. 135]Os maiores anunciantes de SC ------------------------------------------------------------------------------ [p. 136]Editorial de A Notícia: “Compromisso com os leitores”------------------------------------------------------- [p. 138]Assessoria de Imprensa ou puxa-saquismo escancarado? ------------------------------------------------------ [p. 140]Tendências em Itajaí -------------------------------------------------------------------------------------------[p. 142]Solidariedade, que nada -------------------------------------------------------------------------------------- [p. 144]Uma amostra da blogosfera em SC ------------------------------------------------------------------------- [p. 145]Cultura popular não é cultura ------------------------------------------------------------------------------ [p. 146]Um mundo que fala a mesma língua ----------------------------------------------------------------------- [p. 149]http://www.univali.br/monitor5


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAÉTICAReunião dos artigos que tratam sobre a responsabilidadee os preceitos do jornalismohttp://www.univali.br/monitor 6


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAspectos técnicose discussões éticas na coberturado 1º turno das eleiçõesEquipe MONITOR DE MÍDIA em 01/11/2002Em outubro de 2002, 3,8 milhões de eleitorescatarinenses foram às urnas, depois de um primeiroturno disputado na rua e na preferência dovoto. No estado, 473 candidatos se acotovelavamno horário eleitoral gratuito no rádio e na TVpara apresentar suas propostas e cravar seu nomee número na memória do eleitor. Nas páginas dosjornais, anúncios funcionavam como “santinhos”de largo alcance, na esperança de fixar a imagemdos candidatos e garantir sua presença na mídia.Há décadas, a política já não se faz apenasnas ruas e nos palanques, e a sua arena mais concorridae privilegiada é mesmo a mídia. Ser notícianos jornais, ser entrevistado na TV ou falar,pelo rádio, a milhares de eleitores é preocupaçãoque rivaliza com as definições mais importantesde uma plataforma eleitoral.A equipe de pesquisadores do projeto MO-NITOR DE MÍDIA acompanhou as ediçõesdos três maiores jornais catarinenses – Jornal deSanta Catarina, A Notícia e Diário Catarinense -durante todo o primeiro turno das eleições 2002,observando o que caracterizou a cobertura destaetapa do pleito. Tais resultados auxiliam na consideraçãode uma crítica mais consistente da qualidadedo noticiário produzido regionalmente, epossibilitam – num momento posterior – o aprimoramentodas práticas profissionais no Estado.Claude-Jean Bertrand (2002) afirma que a mídiaé uma indústria e um serviço público ao mesmotempo, e, portanto, precisa se revestir da sua responsabilidadesocial. Poucos não foram os episódiosrecentes em que os meios de comunicaçãointerferiram na defi n ição do quadro democráticonacional, e Bernardo Kucinski (1998) lembrade, pelo menos, três disputas presidenciais: 1989,1994 e 1998. É imperativo despertar para a necessidadede se avaliar os meios de comunicação e suapresença na vida social, para que o público possadeixar sua posição passiva e tornar-se agente noprocesso comunicativo (Christofoletti, 2001).Primeiro problema: a TV e as agendaspautam os jornaisEm Santa Catarina, a campanha começoumesmo com o horário gratuito na TV. Foi a partirdo dia 20 de agosto que os jornais passaram a dedicarmais espaço ao tema, editando cadernos especiaise trazendo um material mais amplo sobrea disputa. Para além de deflagrar a cobertura nosmeios impressos, a TV pautou os jornais, conformese pôde observar nas edições de 18 de agosto a11 de setembro.No Diário Catarinense, por exemplo, estefenômeno fi c ou evidente pela superfi c ialidadeno tratamento das temáticas, uma característicado meio televisivo. Poucas não foram as vezes emque o jornal fez síntese dos programas exibidos nohorário gratuito, transcrevendo a fala dos candidatos,sem retrancas que apurassem a viabilidadedas propostas ou sua consistência. Foi assim, porexemplo, na edição de 21 de agosto. O fato de ojornal pertencer a um grupo empresarial que tambémdetém emissoras de televisão pode ajudar aexplicar a proximidade e semelhança das coberturasnos meios impressos e televisivos. Entretanto,http://www.univali.br/monitor7


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEm outubro de 2002, 3,8 milhões de eleitorescatarinenses foram às urnas, depois de um primeiroturno disputado na rua e na preferência dovoto. No estado, 473 candidatos se acotovelavamno horário eleitoral gratuito no rádio e na TVpara apresentar suas propostas e cravar seu nomee número na memória do eleitor. Nas páginas dosjornais, anúncios funcionavam como “santinhos”de largo alcance, na esperança de fixar a imagemdos candidatos e garantir sua presença na mídia.Há décadas, a política já não se faz apenasnas ruas e nos palanques, e a sua arena mais concorridae privilegiada é mesmo a mídia. Ser notícianos jornais, ser entrevistado na TV ou falar,pelo rádio, a milhares de eleitores é preocupaçãoque rivaliza com as definições mais importantesde uma plataforma eleitoral.A equipe de pesquisadores do projeto MO-NITOR DE MÍDIA acompanhou as ediçõesdos três maiores jornais catarinenses – Jornal deSanta Catarina, A Notícia e Diário Catarinense -durante todo o primeiro turno das eleições 2002,observando o que caracterizou a cobertura destaetapa do pleito. Tais resultados auxiliam na consideraçãode uma crítica mais consistente da qualidadedo noticiário produzido regionalmente, epossibilitam – num momento posterior – o aprimoramentodas práticas profissionais no Estado.Claude-Jean Bertrand (2002) afirma que a mídiaé uma indústria e um serviço público ao mesmotempo, e, portanto, precisa se revestir da sua responsabilidadesocial. Poucos não foram os episódiosrecentes em que os meios de comunicaçãointerferiram na defi n ição do quadro democráticonacional, e Bernardo Kucinski (1998) lembrade, pelo menos, três disputas presidenciais: 1989,1994 e 1998. É imperativo despertar para a necessidadede se avaliar os meios de comunicação e suapresença na vida social, para que o público possadeixar sua posição passiva e tornar-se agente noprocesso comunicativo (Christofoletti, 2001).Primeiro problema: a TV e as agendaspautam os jornaisEm Santa Catarina, a campanha começoumesmo com o horário gratuito na TV. Foi a partirdo dia 20 de agosto que os jornais passaram a dedicarmais espaço ao tema, editando cadernos especiaise trazendo um material mais amplo sobrea disputa. Para além de deflagrar a cobertura nosmeios impressos, a TV pautou os jornais, conformese pôde observar nas edições de 18 de agosto a11 de setembro.No Diário Catarinense, por exemplo, estefenômeno fi c ou evidente pela superfi c ialidadeno tratamento das temáticas, uma característicado meio televisivo. Poucas não foram as vezes emque o jornal fez síntese dos programas exibidos nohorário gratuito, transcrevendo a fala dos candidatos,sem retrancas que apurassem a viabilidadedas propostas ou sua consistência. Foi assim, porexemplo, na edição de 21 de agosto. O fato de ojornal pertencer a um grupo empresarial que tambémdetém emissoras de televisão pode ajudar aexplicar a proximidade e semelhança das coberturasnos meios impressos e televisivos. Entretanto,isso não pode ser considerado como a motivaçãoprincipal desta linha editorial.Em A Notícia, onde não há propriedadecruzada, a televisão também foi a grande pauteirado AN Eleições, suplemento especial editadodiariamente no primeiro turno. Aliás, a primeiraedição circulou no dia 18 de agosto, domingo queantecedia a estréia do horário eleitoral gratuito naTV. Os programas exibidos não só orientaram asreportagens, como também estas, muitas vezes, selimitavam a definir o desempenho do candidatona TV. A matéria “Programa estréia sem ino-http://www.univali.br/monitor 8


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAvações”, na capa da edição de 22 de agosto, porexemplo, reconta o que foi dito pelos candidatosno horário eleitoral gratuito. A superficialidadedo conteúdo conflitava com uma das metas dosuplemento, conforme texto da página 2 da primeiraedição: “O caderno priorizará a apresentaçãoe discussão dos programas de governo dos seiscandidatos ao Palácio de Santa Catarina e textosde serviços ao eleitor catarinense”. Entretanto, dasedições analisadas, apenas “Eleitor aponta prioridadesem SC” (25 de agosto) dizia respeito maisdiretamente aos anseios da população catarinense.Em formato tablóide, com oito páginas, e textosbem curtos, o caderno não chegou a garantiruma cobertura eleitoral mais aprofundada, nemindependente da bússola televisiva.Mas a cobertura jornalística se apoiou aindaem outro pólo de atração: as agendas dos candidatos.Ao longo do primeiro turno, o leitor do Jornalde Santa Catarina acompanhou uma série de notassobre os compromissos dos candidatos. Exemplonotório é a edição de 5 de setembro (“Aminpercorre a região”) ou a do dia seguinte (“Amincumpre roteiro no vale do Itajaí”). Tendo emmente que a seção de Política ocupa apenas umapágina e meia do jornal, essas notas acabaram espremendoas matérias que poderiam ter ido alémda rotina de campanha, buscando aspectos maisobscuros e relevantes para o eleitor. O jornalismofi c ou a reboque da agenda dos candidatos, refémdos compromissos e das viagens. Reportagensmais investigativas, denúncias, apurações maisdetalhadas ficaram suspensas...Se alguém recém-chegado ao país comprasseum dos jornais catarinenses, fatalmente, nãosaberia que em 6 de outubro aconteceriam tambémeleições para vagas na Assembléia Legislativae para a Câmara Federal. Isso porque os diárioslocais sistematicamente ignoraram a disputa,concentrando seu espaço nas eleições majoritáriase alguma coisa ao Senado. Num levantamento de13 dias (de 12 a 25 de setembro), verificou-se otratamento insuficiente dado para o assunto.Nas páginas do Diário Catarinense, foi comumencontrar matérias sobre presidenciáveis ecandidatos ao governo do estado; os senadores tiveramalgum destaque, mas apenas quando “brigavam”,ou quando saía uma pesquisa eleitoral. Jáos candidatos a deputados... estes só apareceramem anúncios no jornal. A quantidade de matériassobre os postulantes à câmara federal e estadualfoi mínima, e muitas vezes se restringiu a pequenasnotas, como no dia 18 de setembro, página 10,onde apareceu o relato da decisão do deputado federalFernando Agostini, o Coruja, de não apoiaras decisões de seu partido, o PDT.Com a clara e compreensível difi c uldade dedar cobertura a todos os candidatos – eram maisde 450 -, os jornais resolveram o assunto “banindo”aqueles que buscavam uma vaga na AssembléiaLegislativa ou na Câmara Federal. É evidente quenão foi uma expulsão grosseira. Funcionou maiscomo um conjunto de delicadas omissões. Comohá pouco insuficiente para tratar de cada candidatoisoladamente, os jornais apelaram para o expedientede fazer matérias mais gerais, evitando deprivilegiar este ou aquele partido. Mesmo assim,as matérias genéricas foram raras, e pela próprianatureza, superfi c iais. No Diário Catarinense,até 1º de outubro, contou-se apenas duas reportagensdeste tipo: “A infl u ência da formação” (18 desetembro), abordando o fato de que a maioria doscandidatos não possui nível superior, e “Mosaicode fé na Assembléia” com a sub-retranca “Evangélicosquerem ampliar bancada federal” (20 desetembro).No Jornal de Santa Catarina, repetiu-se ahttp://www.univali.br/monitor9


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIApouca profundidade no tratamento das campanhasdos candidatos parlamentares. Entretanto,o tema foi mais abordado que no outro jornal doGrupo RBS – o Diário Catarinense: em trezeedições, de 12 a 25 de setembro, foi matéria emcinco dias.Em A Notícia, para não ficar de fora daspáginas do suplemento especial, os aspirantes adeputado deveriam enviar seus materiais para ojornal. Esta foi a saída encontrada para cobrir adisputa nas proporcionais, e que constava dasinstruções na seção “Espaço do Candidato”. Parasair na AN Eleições, o candidato tinha que enviartexto de até 500 caracteres, com suas propostas,mais o nome, o partido, o cargo postulado e a regiãoque representa. Em média, cinco concorrenteseram apresentados, mas mesmo assim, a ediçãoda seção não se deu todos os dias. Em treze dias, o“Espaço do Candidato” saiu quatro vezes (13, 14,17 e 24 de setembro), e afora isso, A Notícia trouxe,no mesmo período, outras três matérias sobreos futuros deputados, apenas.http://www.univali.br/monitor 10


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIANa corrida presidencial, novo descolamentodos números da pesquisa A Notícia/Brasmarketde 5 de outubro e os números das urnas no dia seguinte.Comparando-se os percentuais, em todosos quatro principais candidatos, houve discordância,que variou de 1,2 a 6,6 pontos percentuais. Amargem de erro era de 2 pontos. No universo dosvotos, a variação encontrada ganha mais dimensãose for observado que, em Santa Catarina, AnthonyGarotinho teve 36,6% a mais de votos, ouseja, diferença superior a um terço (ver o quadroabaixo).É certo que não são os jornais quem elaborame aplicam as pesquisas de opinião, e que, namelhor das hipóteses, as encomendam. As pesquisasde opinião, conforme se observou, foramdiversas vezes as vedetes do noticiário local, e apartir delas, chegou-se a planejar pautas e coberturas.Desta forma, seu papel não foi meramentedecorativo. No entanto, a questão que se colocaé se as estruturas jornalísticas locais dispõem demecanismos de controle e de segurança para quenão se enredem em armadilhas como a observadano primeiro turno. Afinal, a credibilidade de umjornal é arranhada se ele publica uma pesquisaque acaba não retratando a realidade.Mas quem deve pautar os jornais?O monitoramento da imprensa catarinenseapontou que os jornais se deixaram pautarpela TV e pela agenda dos candidatos, mas estessão critérios defensáveis? Do ponto de vis-http://www.univali.br/monitor11


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAta técnico, não. Já que os noticiários no jornalimpresso, na televisão ou no rádio seguem linguagense características distintas. Se televisãopode transmitir imagens e sons ao vivo, o jornalpode lançar de outros meios para se valer comoveículo de informação. Análises e matériasmais aprofundadas são dois exemplos de comoisso pode se dar. Nos dias atuais, o eleitor temmuitas formas de acesso à informação: assistirao telejornal, ler revistas e jornais, ouvir boletinsradiofônicos ou consultar portais noticiososda internet... Cada meio tem seus formatos,suas linguagens e suas exclusividades. Os sítiosda web são rápidos, ágeis, mas publicam relatosincompletos e com erros de informação – porpressa, geralmente. Rádio e televisão têm a facilidadeda instantaneidade, mas sofrem compouco tempo para as matérias, já que os custossão sempre muito altos. Os jornais e as revistassempre chegam às bancas depois dos meioseletrônicos, mas podem oferecer um materialmais contextualizado, mais completo, maisaprofundado.Do ponto de vista ético, é admissível queos jornais se influenciem por outros meios – jáque as mídias se cruzam e não podem se ignorar-, mas injustificável que se guiem pelas assessoriasde campanha. O jornalismo precisa pautarsua própria atividade, definir critérios maisabrangentes e menos dependentes dos compromissosdos políticos. À medida em que se limitaa relatar o cotidiano dos candidatos, os jornaisperdem seu tempo e consomem seu espaço como conteúdo que já é tratado com maior eficiênciapela televisão, por seu ritmo e agilidade.Os jornais renunciam às suas linhas editoriaise passam a ser ditados pelas conveniências decampanha. O jornalismo de profundidade dálugar a exaustivos (e inofensivos) relatórios autorizados.Como cobrir tantos candidatos?Mesmo nas estruturas mais consolidadas eramificadas da indústria jornalística, é difícil empreendera cobertura dos candidatos nas eleiçõesproporcionais. Como eles concorrem à maioria dasvagas em disputa, também são muitos, e dar contade suas propostas, suas estratégias e os fatos que oscercam é uma tarefa complexa também na sua logística.Embora reserve dificuldades técnicas, esteaspecto oculta também questões éticas: como darvisibilidade a todos se há pouco espaço? Como fazerum jornalismo equilibrado nesta área da cobertura?Como não servir de mero divulgador de promessas?É legítimo receber material do candidato epublicá-lo sem qualquer checagem?Jornalistas precisam encontrar mecanismosque facilitem o seu serviço e que otimizem suascoberturas, conferindo a elas mais qualidade. Destacarrepórteres especiais para cobrir comícios– eventos em que os candidatos se concentram -,para correr os diretórios partidários – onde se conseguemvaliosas informações – pode ser uma saídapara o problema. Limitar-se a reproduzir o materialoficial, não. É evidente que chega às redações muitainformação das assessorias de campanha e queestas não podem ser ignoradas. No entanto, pressreleasessão pontos de partida para as reportagens,são relatórios autorizados dos candidatos e precisamser conferidos, averiguados, porque este é otrabalho do repórter. Gilberto Dimenstein (1990)lembra que é o comum é o jornalista buscar a informação,a fonte. E quando esta procura o jornalista,deve-se pelo menos desconfiar dos interesses que amotivaram. É um procedimento de segurança.Porque encontra difi c uldades de cobrir adisputa nas proporcionais, o jornalismo não podehttp://www.univali.br/monitor 12


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAsimplesmente resolver o problema, empurrando-ode lado, livrando-se dele, deixando de cobrir. Asleis nascem nos parlamentos, a vida civil é legisladalá, e só isso já bastaria para sinalizar a importânciados deputados dentro do sistema político nacional,motivo mais do que claro para a cobertura dos fatosque vão anteceder o preenchimento das cadeiras naCâmara Federal e na Assembléia Legislativa.Como na campanha majoritária, o jornalismonão pode se ater apenas aos relatos dos compromissosrotineiros dos candidatos. É preciso realizarmatérias investigativas, comparativas, de profundidade.Avaliar os postulantes à reeleição, enfocar osfenômenos eleitorais, levantar a vida pregressa dosaspirantes.Pesquisas: publicar ou não?É evidente que os jornais não podem se furtarde publicar as pesquisas de opinião, mas estasprecisam estar enquadradas em critérios jornalísticosmais rígidos. As redações precisam estar maisaptas a interpretar os resultados e tratar estas informaçõescom o peso merecido. As pesquisas não podemorientar o noticiário, até porque uma enxurradadestas consultas torna inviável esta escolha.que dêem mais consistência à frieza dos númerose que tornem mais claras as razões para a definiçãodo quadro relatado. É preciso mais análise e aprofundamento,opções que apenas os jornais impressos– entre os demais meios – podem oferecer.Referências Bibliográfi casBERTRAND, Claude-Jean. O arsenal da democracia.Bauru: Edusc, 2002CHRISTOFOLETTI, Rogério. Monitores deMídia: como os jornalistas catarinenses percebemseus deslizes éticos. Florianópolis e Itajaí: Ed. Univali/Edufsc,2002, no prelo.DIMENSTEIN, Gilberto. As armadilhas do poder.Bastidores da imprensa. São Paulo: Folha deS.Paulo-Summus, 1990KUCINSKI, Bernardo. A síndrome da antena parabólica.Ética no jornalismo brasileiro. São Paulo:Editora Fundação Perseu Abramo, 1998Pesquisas precisam ser entendidas comofl a grantes de intenções eleitorais, momentâneasfotografias de um cenário dinâmico e facilmentedistorcido por diversos fatores externos. O eleitorpode se deixar influenciar por um número grandede variáveis, o que torna a pesquisa cada vez maisum instrumento delicado e instável. O que o jornalismonão pode é ficar a reboque desta imprecisão,sustentando-se por uma objetividade insustentável.Além disso, deve investir na interpretação dos percentuais,das curvas de crescimento, nas quedas dasintenções. Ao lado dos gráficos, precisam fi g urartextos que contextualizem a evolução dos dados,http://www.univali.br/monitor13


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUma semanade anúncios para os fi lhosRogério Kreidlow, jornalista ex-acadêmico de jornalismo da Univali, em 15/05/2003Dia das Mães é dia de festa. Mas ao contráriodo imaginado, o volume de anúncios publicitáriosem função da data não foi tão festivo, comomostra esta análise de sete edições do Jornal deSanta Catarina. Aliado ao diagnóstico sobre a coberturado Dia das Mães nos jornais catarinenses,este Em Foco procurou dar conta do aspecto visuale do volume de comerciais no Santa, entre osdias 5 e 11 de maio. De qualquer jeito, apesar damodesta quantidade de propagandas, o apelo e otamanho mais do que visível das mesmas não têmcomo passar despercebidos.Se em 5 de maio, uma edição de 20 páginas,o leitor se depara com um único anúncio, na ediçãode sábado e domingo (10 e 11), este númeronão ultrapassa seis comerciais nas 24 páginas doexemplar. Na sexta, antevéspera da esperada data,o número de propagandas é o mesmo: seis, porémem uma edição de 26 páginas.Entretanto, o que mais chama a atençãonão é nem a pequena quantidade de anúncios emfunção da efeméride que é a mais rentável para ocomércio depois do Natal. Chama, sim, a atençãoas dimensões e o destaque recebido pelos poucoscomerciais que aparecem ao longo das páginas.De modo comercial, poder-se-ia brincar que, obviamente,pelo tamanho das propagandas, o ganhofinanceiro proporcionado pelas mesmas devecompensar a pouca quantidade de anunciantes.Os casos são extremos, e de longe se podeafirmar, com os números, que foram a empresasde telefonia celular que pagaram a conta do expedienteneste Dia das Mães. Em 5 de maio, a únicapropaganda que há é da Tim. O comercial ocupaa metade inferior da página 1B, a primeira da editoriade Geral. É colorido, traz um celular maiordo que em tamanho real, apresenta as condiçõesde pagamento para a aquisição do mesmo e, no péda página, uma frase discreta: “O melhor presentepara a sua mãe”.A propaganda da Tim repete-se, pode-sedizer, dentro de uma outra propaganda, das lojasPonto Frio, na página 5A da edição de 8 demaio. Trata-se da oferta de celulares Tim em talloja. Embora desta vez o comercial seja em preto ebranco, continua ocupando a metade inferior dapágina. Não bastasse, a Vivo celulares (ex-GlobalTelecom) anuncia na página 12A, em um espaçoque ocupa praticamente 75% da página. Fenômenointeressante, aqui o comercial é colorido emuma página onde o conteúdo editorial apareceem preto e branco. No comercial, uma frase simples,mas enorme: “A melhor escolha no Dia dasMães”. Esta mesma ocorrência de comerciais coloridosem páginas em preto e branco se dá, aliás,em outra propaganda das lojas Ponto Frio, aindana mesma edição, página 6B, seção de Polícia. Oanúncio é de um aparelho de som e não de celulares;ao contrário do anterior da mesma loja, écolorido e ocupa 1/3 da página.De chamar a atenção mesmo, no entanto,é a propaganda que aparece já na edição do dia9. Volta a repetir-se a presença de comercialcolorido em páginas em preto e branco — e,mais do que um colorido discreto, o quadrohttp://www.univali.br/monitor 14


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAtem um chamativo fundo cor-de-rosa comdestaques em vermelho, cor bastante predominanteaos olhos. Mais ainda: não bastasseuma página, a propaganda ocupa o centroinferiordas páginas 6A e 7A, novamente emuma proporção de 75% de espaço em cada.Ao menos não se trata de celulares e sim, emmaior conformidade com o Dia das Mães, deofertas de eletrodomésticos. O comercial é dasCasas Bahia.Seja como for, os celulares não passam esquecidos.Outra vez, aparecem dentro de outrapropaganda, como no caso das Lojas PontoFrio e Tim celulares. Agora, é o hipermercadoBig que anuncia oferta de celulares, em propagandacolorida na metade inferior da página1B, editoria de Geral, ainda em 9 de maio. Aoinvés de celulares da Tim, porém, a vez agoraé dos aparelhos Vivo. Mesmo assim, como aconcorrência parece se grande, a Tim não ficade fora da edição: a metade inferior da página6B volta a anunciar outro modelo de telefone,seguido da frase: “O melhor presente para asua mãe”. Repare-se com isto, também, certapredominância de comerciais em páginas ímpares,ou seja, as de visibilidade mais imediata.E para não dizer que “exagero” é um termoexacerbado de nossa parte, em se tratandode anúncios, vale voltar à edição do dia 6, precisamenteà página 7B. Toda a página é ocupadapor um informe comercial. O título é: “Dia dasMães”. Abaixo: “Dicas de presentes”, que vão delapiseiras de maquiagem a lençóis. Por último, éde se ressaltar que até comercial de carro, mais especificamentedo modelo Classe A, da Mercedes-Benz, cabe como anúncio de presente para o Diadas Mães.As homenagens, ao contrário, sem necessariamenteter um apelo comercial, são poucoexpressivas. A da empresa de transportes Catarinenseé uma das maiores em tamanho. É colorida,divide a página 7A com o comercial da BrasilTelecom, na edição de 10 e 11 de maio, e ocupapraticamente 1/3 da página. Mais modestamente,na página seguinte, em preto e branco e na parteinferior, uma pequena elipse de 9 cm de largurapor 6 de altura, com palavras em corpo minúsculo,expressa o amor singular de uma filha pela suamãe. Ternura à parte, a verdade é que se trata deum espaço comercial, ou seja, um espaço pago.Para não dizer que celulares são unânimesem anúncios, há ainda outros comerciaisque também chamam a atenção pelo tamanhoe pelo destaque. Companhias de telefonia, paranão fugir completamente ao assunto, têm a suavez. No domingo 11, metade inferior da página7A, a Brasil Telecom traz uma propaganda relacionadaao Dia das Mães em que aparece apenasum quadro e, ao centro, a distância “2.143km”.Uma seta acima, apontando todo o número,diz: “Estes números separam Sérgio Soares damãe dele”. Abaixo, uma seta sublinhando apenaso dígito 14: “Estes números aproximam”.http://www.univali.br/monitor15


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUma carta de (boas) intençõesRogério Christofoletti em 13/02/2004RBS reforça compromissosEm tempos de iniciativas socialmente saudáveis,o maior grupo de comunicação do Sul dopaís - a Rede Brasil Sul (RBS) - lançou no fi n al dejaneiro um documento que tenta aprimorar o jáultrapassado Manual de Ética, Redação e Estiloda Zero Hora, editado nos anos 90. Sintético nassuas 42 páginas, não comercializável e disponívelaos leitores na internet, o Guia de Ética e ResponsabilidadeSocial da RBS apresenta alguns doscompromissos da corporação que responde porgenerosas fatias do mercado de comunicação noRio Grande do Sul e em Santa Catarina. E emboranão traga nenhuma menção neste sentido, oguia funciona como uma carta de boas intençõesendereçada à sociedade que deixa claro como deveser o procedimento dos veículos e jornalistas nasmais diversas situações cotidianas em que éticanão é apenas uma bela palavra.Logo na apresentação do livreto, Jayme eNelson Sirotsky, presidente do Conselho de Administraçãoe diretor-presidente do grupo, respectivamente,afi r mam que as normas expressasali não são “regras imutáveis e impositivas, coma pretensão de contemplar e resolver todos os dilemaséticos da atividade”, mas devem ser observadasno dia-a-dia “sempre com o propósito deaplicar a responsabilidade social da empresa e osdireitos do público”.O Guia apresenta a missão e os valores daRBS: ética e integridade, liberdade e igualdade,desenvolvimento pessoal e profissional, responsabilidadeempresarial, satisfação do cliente ecompromisso social e comunitário, responsabilidadee compromisso social. O grupo estrutura ocumprimento das suas condutas éticas em quatroesferas: a ética para todas as suas atividades, éticaeditorial, nas relações internas e nas externas.Mas quanto a seguir as normas, o documento étachativo: todos os colaboradores assumem a responsabilidadede cumprir e defendê-las.Neste sentido, o livreto da RBS é clarono que tange alguns procedimentos da práticajornalística, recomendando a postura a seradotada. Não pairam dúvidas, por exemplo,quando há conflito de interesses entre veículose fontes ou mesmo quando o repórterrecebe mimos que acarretem vantagens pessoais.Embora muito se diga pelas redações,apontar a maneira como agir em momentoscomo esses ajuda jornalistas novatos e veteranos,sem distinção. Assim, a empresa demonstrapublicamente que se preocupa coma situação, orienta seus funcionários e tentaevitar futuros transtornos. Porém, entre a recomendaçãoe o pleno cumprimento de umanorma ética, há uma boa distância que nenhumcódigo ou guia satisfazem completamente.Nos verbetes relacionados ao que chamade Ética Editorial, o guia enumera situaçõesdelicadas em que os funcionários daRBS podem se ver cotidianamente: Comolidar com acusações ou ameaças? Deve-se citaro concorrente quando ele traz a informa-http://www.univali.br/monitor 16


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAção primeiro? De que forma serão feitas ascorreções quando houver erro? Quem pagaas despesas nas reportagens? Como mantera imparcialidade, a privacidade e a precisãono jornalismo? Alguns destes questionamentossão respondidos com presteza, mas outrosorientam ações no mínimo questionáveis.Por exemplo, a RBS recomenda que seus colaboradoresnão participem de eventos relacionadosa disputas em entidades de classe ououtras organizações. Seja em serviço ou defolga (p.17). O motivo não é externado, maspressupõe-se que a empresa esteja preocupadacom a independência e a credibilidade.Mas pergunta-se: não é exagero gerenciar asvontades dos empregados fora do tempo deserviço? Os funcionários são propriedades daRBS ou estão a serviço dela?Na página 19, a norma diz que “os jornalistasda RBS não devem manifestar publicamentesua preferência partidária ouinclinação ideológica, a menos que essa informaçãoseja parte das características pelasquais o profissional é amplamente reconhecidopelo público”. Mas pergunta-se: não seriamais honesto dizer ao público de que lado seestá? Não é mais transparente?Duas páginas adiante (p.21), no verbeteDocumentos e Identificação, o guia maisconfunde do que esclarece: “A RBS não forjadocumentos para a realização de reportagemou notícia. Eventualmente, os profissionaisserão autorizados a recorrer a situações ounomes fictícios, desde que o artifício se destineà comprovação de ato ilícito”. A que situaçõesse pode recorrer? O documento não diz.E se tais recursos forem ilícitos? Usar nomesfictícios não é usar de falsidade ideológica?Pergunta-se: é legítimo usar expedientes ilícitospara comprovar uma ilegalidade?Debate maiorNebuloso em alguns trechos, o Guia daRBS ilumina discussões importantes em outros.Quando o tema é precisão, por exemplo, a normavaticina que “a simples publicação de versõesconfl i tantes não é sinônimo de imparcialidade”,cabendo ao veículo “apurar a verdade, com isençãoe na sua plenitude” (p. 26). A afi r mação abreum campo amplo de reflexões acerca dos limitesda atuação dos veículos de comunicação e mesmoas fronteiras do próprio ato narrativo jornalístico.Quanto à privacidade, o grupo entende que“informações sobre a vida privada de pessoas públicaspassam a ser assunto jornalístico quandoajudam a compor a personalidade de pessoas queos leitores têm o direito de conhecer em sua inteireza”(p.28). A posição é mais defi n ida do que emmuitas empresas maiores no ramo, mesmo fora dopaís...O guia prossegue ditando regras de condutapara as relações externas ao grupo e internas.Quanto a essas últimas, percebe-se mais um escorregãoda empresa no item Privacidade, à página33: “A empresa respeita a opção política e religiosados colaboradores, desde que isso não interfir a no ambiente de trabalho e não comprometao desempenho das atividades”. Como é? Respeitaa diversidade desde que ela não atrapalhe o bomandamento das coisas? Ao impor condições paraaceitar um direito que é inalienável e previsto naConstituição Federal (bem como em outras importantesconvenções internacionais), a RBS coloca-senuma posição amoral, além do bem e domal. Nessas condições, a privacidade que o grupodiz reconhecer é um direito sob tutela, um direitocondicionado à aprovação da corporação. Umterreno perigoso esse...Semelhante contradição acontece nas NormasGerais, na página 14, onde se pode ler a proi-http://www.univali.br/monitor17


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAbição ao uso de “drogas ilícitas nas dependênciasda RBS”. A orientação vem logo seguida do vetoa qualquer forma de discriminação. Pode-se perguntar:e se um repórter é dependente químicoe acaba caindo em tentação. Se for demitido porisso, a empresa não estará discriminando o adicto,transformando a vítima em culpado? Não seriamais responsável socialmente orientar o funcionárioa um programa de reabilitação ou facilitarum outro encaminhamento?Contra-sensos como este são até certo pontonaturais e esperados em códigos deontológicos,ainda mais quando são editados por empresas. Ascorporações têm interesses que muitas vezes sechocam com os do jornalismo como prática social.Quando isso acontece, é difícil sair ileso dosestilhaços conceituais. Como já disse antes, umguia como o da RBS é uma carta de intenções,uma proposta pública de como agir. A iniciativa édigna de elogios na medida em que profissionalizao mercado, elevando o nível das discussões sobre aética jornalística e convidando a concorrência a sepreocupar com tais temáticas. Mas editar listas deprincípios não garante bom jornalismo ou bomcaráter. Não assegura a existência de empresas éticase corretas. Na verdade, elas são resultado deesforços coletivos, de uma reunião de seres humanoscom convicções distintas, interesses variadose consciências próprias. As pessoas orientam suascondutas por valores morais pessoais e coletivos;suas atitudes são frutos de escolhas, de opções,que só surgem a partir da reflexão. Disso não sepode escapar. Homens e mulheres pensam e seemocionam, raciocinam e julgam. Mesmo comtanto avanço tecnológico e com razoável complexificaçãodas sociedades, algumas coisas continuamcomo sempre foram: razão e sensibilidade nãopodem constar de guias, não são mercadorias nasprateleiras da vida.http://www.univali.br/monitor 18


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 15/03/2004SC lança cartilhapara telespectadorA resposta é sempre a mesma: Se você nãoestá satisfeito com a programação da TV aberta,que troque de canal! Entretanto, o argumento liberalnão resolve o problema já que as opções sãopoucas e a qualidade que se vê por aí está nivelada.Por baixo. Há quase dois anos, a sociedade decidiuexigir com mais força uma melhora dos conteúdosveiculados na TV brasileira e o resultadofoi o lançamento da campanha “Quem financia abaixaria é contra a cidadania”, que recebe denúnciasdos telespectadores sobre os abusos na televisãoe intercede junto aos patrocinadores para quesequem a fonte de financiamento dos programasapelativos.Atrelada à Comissão de Direitos Humanosda Câmara Federal, a campanha já recolheumais de 11 mil manifestações da população desde2002. Geralmente, as denúncias estão ligadas àapresentação de cenas de sexo e violência em horáriosinadequados, à incitação ao crime e a atosviolentos, ao reforço de preconceitos e ao incentivoà discriminação. Em suma, a baixaria que a campanhase refere é o atentado aos direitos humanosdo cidadão comum, que se sente impotente frenteà tela da TV. Toda pessoa que se sente constrangida,ofendida ou oprimida por qualquer conteúdotransmitido pelas emissoras de TV aberta podefazer denúncias através do site da campanha oupor um telefone gratuito (0800-619619). Os casosrelatados vão compor um ranking dos pioresprogramas da TV, e esta lista é divulgada publicamentepara que a pressão popular faça o seu papel.A idéia é inteligente: que empresa séria vai querervincular seus produtos e sua marca a um programaque é considerado ruim pelo próprio público?Além da organização do ranking dos piores, oComitê de Acompanhamento da Programação(CAP) monitora os programas mais citados e elaborapareceres que fundamentem jurídica e tecnicamentea classificação.Os pioresAté agora, já foram divulgados cincorankings, e os campeões da baixaria foram: JoãoKleber (Rede TV! – por exploração humana epornografia), Domingo Legal (SBT – por apelosexual e sensacionalismo), Canal Aberto e Eu vina TV (com João Kleber da Rede TV! – por exposiçãode pessoas ao ridículo, por discriminaçãopor orientação sexual, por vocabulário impróprioe por incitação à violência), Programa do Ratinho(do SBT – por exposição de pessoas ao ridículo,por desrespeito às religiões afro-brasileiras, pordesrespeito aos valores éticos e morais da famíliae por incitação à violência) e Kubanacan (da RedeGlobo – por apelo sexual, incitação à violência epor ser veiculada em horário impróprio ao classific ado).Esses foram os primeiros nomes das listas,mas é importante saber que todas as emissoras deTV comercial foram citadas por veicular baixariasnas sistematizações. Não escapou ninguém!No início, a campanha não foi levada muitoa sério pelas emissoras. Entretanto, com a veiculaçãodos rankings em jornais impressos nacionais,http://www.univali.br/monitor19


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAcom a adesão de entidades representativas e com ogrande volume das denúncias, a campanha pegoupra valer. Tanto que se espalhou por pelo menosmais seis estados, entre eles, Santa Catarina,Por aquiEm Santa Catarina, a campanha funcionadesde o segundo semestre de 2003. Uma audiênciapública na Assembléia Legislativa foi o gatilho damobilização local, o que fez com que diversas entidadesse associassem à Comissão de Educação daAssembléia e iniciassem os trabalhos. De lá para cá,foi criado o Fórum Catarinense de Acompanhamentoda Mídia que já elaborou uma metodologiade análise baseada na da campanha nacional e produziuuma cartilha dirigida aos telespectadores.A cartilha, de linguagem fácil e num formatoque muito lembra o encarte de CD, será oficialmentelançada no dia 17 de março e distribuída inicialmentenas escolas. O objetivo inicial é atingir jovense adolescentes que ficam muitas horas diáriasexpostos à TV e que podem inserir a discussão dosabusos no núcleo familiar. Inédita nacionalmente,a cartilha já foi apresentada ao comando da campanhaem Brasília, recebendo diversos elogios.Com a criação do Fórum Catarinense deAcompanhamento da Mídia (FCAM), Santa Catarinavai poder indicar um representante no comandonacional, que será renovado em abril próximo.Os membros serão eleitos e existe possibilidadede o Estado fazer parte do Comitê de Acompanhamentoda Programação.Os telespectadores catarinenses que quiseremdenunciar programas locais devem usar omesmo telefone e o website da campanha nacional(0800-619619). As denúncias relativas à gradelocal serão remetidas ao Estado para acompanhamentodo FCAM.Controle PúblicoMas o telespectador pode se perguntar: otrabalho dessa campanha não é uma forma decensura? Não, na verdade, esta é uma campanhacidadã, que promove o exercício dos direitos humanose incentiva o telespectador a exigir qualidadena programação de TVs que dependem deconcessões públicas. Logo, não é censura, mascontrole público dos conteúdos veiculados.Também não é falso moralismo ou classificaçãoideológica porque a campanha tem comoparâmetros instrumentos jurídicos, como a ConstituiçãoFederal, o Estatuto da Criança e do Adolescente,o Código Civil, Lei de Imprensa, leis quepreservam os direitos dos deficientes e que definemos crimes discriminatórios, além de tratadosinternacionais e outros dispositivos legais.O deputado estadual Paulo Eccel reitera quese trata de controle social da comunicação. “A televisãono país sempre teve grande importância,emvários momentos da história brasileira, e algunsprogramas realmente estãovoltados com os princípios estabelecidos naConstituição Brasileira, artigo221: capítulo 1 - preferência a finalidadeseducativas, artísticas, culturais e informativas”.Para o jornalista, Celso Vicenzi, da Comissãode Ética do Sindicatodos Jornalistas de Santa Catarina e tambémmembro do Fórum, não é o telespectador quedeve desligar a TV, mas sim a programação quedeve ser melhorada. “Nossas crianças passam emmédia quatro horas em frente a TV - o mesmotempo que permanecem em sala de aula. Em fa-http://www.univali.br/monitor 20


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAvelas, não é raro as casas terem aparelhos de TV enão possuírem geladeira”. Estima-se que, no Brasil,50 milhões de crianças e adolescentes consumamo produto TV, formando conceitos, idéias eopiniões.O país ainda não aprovou um código de éticada programação televisiva e por isso, a sociedadeprecisa se mobilizar e lutar pelos direitos. Éassim que se garantem as conquistas históricas. Éassim que se faz um país democrático. E uma televisãode qualidade.http://www.univali.br/monitor21


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUm precedente perigosoRogério Christofoletti em 01/08/2004No dia 12 de julho, os leitores da Tribuna doDia, jornal de Criciúma, viram uma imagem quenem mesmo o fotógrafo responsável por ela haviavisto quando revelou o filme: o atacante MárcioGoiano, do Figueirense, a poucos centímetros decabecear a bola, prestes a fazer o primeiro gol contrao Criciúma, abrindo caminho para uma derrotado time local no Campeonato Brasileiro. O lanceaconteceu, milhares de torcedores foram testemunhasdele, e mesmo o fotógrafo acompanhou a jogada.Entretanto, terminado o jogo, na redação daTribuna, aconteceu uma outra jogada: a imagem,que registrou o lance e que merecia ir para a primeirapágina, trazia três jogadores disputando a bola. Masa bola não havia sido “congelada” pela fotografia. Insatisfeito,o jornalista que baixava a primeira páginanão hesitou: tascou na imagem uma bola, retiradade algum outro lugar. Em poucos minutos, e como auxílio de soft w ares de editoração eletrônica e detratamento de imagem, a Tribuna do Dia colocavana sua capa uma fotografia inédita até mesmo parao seu autor.É evidente que há aí um problema ético: a manipulaçãode uma imagem jornalística, a interferênciasobre um registro que se pretende ser do real. Mashá um outro aspecto torna a situação mais perigosaainda: a foto em questão havia sido comprada daAgência RBS e seu autor, o repórter fotográfi c o JúlioCavalheiro, nem foi consultado sobre a alteraçãodo produto de seu trabalho. No mesmo dia, o DiárioCatarinense estampou a foto, aberta com destaqueem duas páginas de esportes. Ali no DC, a imagemvinha evidentemente sem a tal bola alienígena.Com a inserção de um elemento que não faziaparte da paisagem, a Tribuna do Dia cometeu uma sériainfração ética, ao manipular imagens e vender aosseus leitores uma foto montada, e provocou um incidenteque pode se converter em processo na Justiça pordesrespeito à lei de direitos autorais.No dia seguinte, a terça-feira 13, a Tribuna trouxeuma errata, reconhecendo o equívoco, mas não o justificando:“A foto utilizada na capa da edição de ontemda Tribuna do Dia, cedida pelo Diário Catarinense, dofotógrafo Júlio Cavalheiro, foi modificada graficamente,ou seja, não havia a bola na cabeça do jogador MárcioGoiano. A fotografi a original é esta que aparece aolado”.Claro que a mera publicação de uma nota retificadoranão compensa o erro, nem reverte a situação. Écompreensível que o editor da primeira página queriaoferecer aos leitores uma foto “perfeita”, com uma boacomposição, bem enquadrada e que fl a grasse uma fraçãode segundo antes do gol. Mas a artimanha não justifica.Esse é um precedente perigoso que não só revoltaa profissionais e leitores, como também atinge a credibilidadedo jornal criciumense. Em nome da “foto perfeita”não se pode montar outras; em busca da “melhordeclaração”, não se pode inventar palavras para rechearuma fala. Essa linha não pode ser cruzada, sob pena dese sair fora do campo...http://www.univali.br/monitor 22


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAJogo dos sete errosRogério Christofoletti em 12/08/2004A polêmica sobre a criação do Conselho Federalde Jornalismo (e suas extensões regionais)tem mostrado o quanto há de desinformação edeformação na área. Tem muita gente que sequerleu o anteprojeto de lei (disponível no site da Fenaj)e já começou a disparar seu rancor e ódio portodo lado. Há os que até se preocuparam em conhecera proposta, mas movidos pelos interessespróprios, receios incontidos, miopia política ouauto-suficiência ética descartaram qualquer bomsenso e espírito coletivo, derramando uma espessalava de críticas.Para que tudo fique às claras, devo de antemãome manifestar a favor da proposta. Soua favor dos conselhos de jornalismo tanto comoprofi s sional da área, quanto como professor edirigente sindical. Feito o esclarecimento, querodemonstrar que a condução do assunto vem se revelandomais como um jogo dos sete erros do queuma cobertura jornalística.Erro nº 1 – O projeto é uma proposta do governo LulaO anteprojeto de lei surgiu na própria categoria,com discussões ocorridas nos congressosbrasileiros realizados pela Federação Nacional dosJornalistas (Fenaj). Sua redação fi n al foi concluídaem setembro de 2002 e só neste ano, foi entregueao governo. Por quê? Porque é atribuição diretado Poder Executivo mandar para o CongressoNacional projetos de lei que criem autarquias.Embora o anteprojeto seja de uma categoria profis sional, criar esse órgão de auto-regulamentaçãoé papel da presidência da República.Erro nº 2 - O projeto é recente, apressado, sigilosoe oportunistaHá pelo menos vinte anos se discute o assunto.E a proposta de criação dos conselhos de jornalismosó foi pra frente mesmo quando a categoriapercebeu que essa seria a única forma de autoregulara profissão. Durante o segundo mandatode Fernando Henrique Cardoso, o CongressoNacional aprovou uma lei que transferia do Ministériodo Trabalho para a Fenaj a prerrogativade conceder registros profissionais de jornalistas.O projeto passou por todas as instâncias da Câmarae do Senado e foi para a sanção presidencial.Chegando à mesa do Executivo, o projeto recebeuveto a pedido do então ministro da área, FranciscoDorneles, visivelmente preocupado com a perdade poder sobre os profissionais da imprensa.Logo após o episódio, o Congresso Brasileiro deJornalistas decidiu que a saída era a criação de umórgão que absorvesse as atribuições pretendidas ea idéia dos conselhos de jornalismo deslanchou,sendo debatida pela categoria em pelo menos doiscongressos nacionais. Portanto, a proposta não érecente, já foi sufi c ientemente debatida e não setrata de matéria oportunista.Considerar que o processo de sua elaboraçãofoi sigiloso é uma miopia estúpida. Além dosdebates nos congressos brasileiros de jornalistas,o projeto foi amplamente divulgado. Durantemeses, a Fenaj manteve em sua página na internetcópias da proposta para que a sociedade conhecesseo teor do documento. Não bastasse isso,no último dia 7 de abril, Dia do Jornalista, de-http://www.univali.br/monitor23


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAzenas de representantes dos jornalistas reuniramsecom o presidente da república para a entregaoficial do projeto. A mídia toda soube do episódio,desprezou o motivo principal da audiência epreferiu noticiar que o ministro Gushiken pedirapara a imprensa falar também das coisas boas dogoverno. O anteprojeto dos conselhos, portanto,era fato sabido pelos jornalistas e pelos meios decomunicação: não há segredo nenhum, portanto.Erro nº 3 – O projeto é uma proposta da minoriaDesde o 30º Congresso Brasileiro dos Jornalistasque aconteceu em Manaus em 2002, já háuma manifestação clara e pública da Fenaj e dos 31sindicatos que lhe dão sustentação sobre o projetodos conselhos. O que significa dizer que a maiorparte dos jornalistas brasileiros está consciente daproposta e que concorda com ela. Todos os sindicatosparticiparam dos debates e ajudaram a redigiro anteprojeto. Isto é, os jornalistas articuladose politicamente organizados conhecem a proposta,concordam com ela e a defendem. O projeto éuma idéia da categoria e não de um grupo menor.Para se ter uma idéia, a Fenaj representa cerca de30 mil profissionais em todo o país.Erro nº 4 – O projeto é uma reação à “onda dedenuncismo”O envio do projeto de criação dos conselhosao Congresso Nacional foi anunciado durante ocongresso dos jornalistas na Paraíba, no começodeste mês. Na mesma época, pululavam na imprensadenúncias contra os presidentes dos bancosCentral e do Brasil, fato que motivou o ministroda Justiça, Marcio Thomaz Bastos, a reagir em defesados companheiros atacando a mídia. São doisepisódios distintos, separados, mas contemporâneos.Setores conservadores e mal-intencionadosda mídia querem fazer crer que eles seguem a mesmalógica. Mas não. A manifestação do ministroda Justiça foi infeliz, a exemplo de outras já dadas.Os conselhos são tema de debates há anos e nãoservem a uma teoria conspiratória de retaliaçãodo governo.Erro nº 5 – O projeto é uma forma de censura oucerceamentoOs conselhos serão órgãos de auto-regulamentaçãoda profi s são. Serão ocupados por jornalistase não pelo governo. Vão trabalhar pelo pluralismoe pela liberdade de imprensa, pela qualidadedos profi s sionais e pela sua boa formação:basta ler o anteprojeto. Os conselhos não serãoórgãos censores, assim como a Ordem dos Advogadosdo Brasil não impede o desenvolvimento dajustiça. Não dá para confundir as coisas: exercícioprofi s sional é uma coisa, liberdade de expressãoé outra. Os conselhos vão se ocupar do campoprofi s sional e não do cerceamento das formas deexpressão. A mesma confusão vigora na discussãosobre o diploma de Jornalismo: ao desobrigar aformação superior na área, quer-se assegurar a liberdadede expressão. Ora, o que tem uma coisa aver com outra?Os conselhos serão instrumentos da sociedadepara acompanhar a qualidade dos produtosjornalísticos e a conduta dos profissionais.Assim como temos os conselhos de enfermagem,de engenharia e de medicina, porexemplo. Eles regulam o mercado, observamo campo de atuação daqueles trabalhadores.Erro nº 6 – O projeto é redundante, pois a Lei deImprensa já bastaDizem que a imprensa é o quarto poder e,por isso, deve vigiar os demais poderes. Concordocom a atribuição, é preciso fiscalizar os demaiscentros de poder. Mas quem fi s caliza os fiscais?Eles não precisam disso? Estão acima do bem ehttp://www.univali.br/monitor 24


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAdo mal? Pois os conselhos de jornalismo podematuar nessa sintonia, zelando pela profissão, disciplinandoo exercício e servindo à sociedade comouma instância de equilíbrio e sensibilidade.Eugênio Bucci, em seu Sobre ética e imprensa,já havia diagnosticado: em geral, o jornalistasofre de síndrome de auto-suficiência ética. Istoé, ele pensa se bastar eticamente, não discute suascondutas e sequer tolera que alguém o faça. Quandoavançam sobre esse terreno, o jornalista logolevanta a voz e denuncia estar sendo censuradoou cerceado em sua liberdade. Pois é o comportamentoque vem se evidenciando ultimamente.(Isso aconteceu com os semi-deuses da Justiça quese arrepiaram ao ouvir a proposta de controle externodo Judiciário)Diante da proposta dos conselhos, muitosapontam para a Lei nº 5250/67, a Lei de Imprensa,dizendo ser ela sufi c iente para dar conta de possíveisabusos dos meios de comunicação. Cinismo.Até bem pouco tempo atrás, esses mesmos defendiamque a lei era desnecessária, já que o próprioCódigo Penal previa as penalidades para os crimesde imprensa. Na verdade, o que se quer é terrenolivre, nenhuma obstrução para fazer o que bem sequiser. A Lei de Imprensa prevê penas indenizatóriase até mesmo detenção de jornalistas, emboraeu mesmo não conheça um único caso em queisso se deu. E mesmo quando condenado em processo,o jornalista fica livre para reincidir. Comos conselhos de jornalismo, devem ser avaliadasquestões éticas e não legais, e as sanções podemchegar à cassação dos registros profissionais.Jornalistas não estão acima dos demais cidadãos;eles precisam também de limites, de mecanismosde controle social de suas atividades. Issonão é censura, é permitir que o público – nossoreal foco – acompanhe efetivamente o nosso trabalho.Se jornalismo é prestação de serviço público,não é demais se submeter ao crivo do público.Erro nº 7 – O mercado pode ocupar o lugar dosconselhosA voz do mercado tem o timbre dos proprietáriosdos meios de comunicação. No Brasil,há concentração dos meios em poucas mãos, hápropriedade cruzada, há coronelismo eletrônico,há desmandos e precariedades no interior do país.Quem deve regular o campo profissional são ospróprios jornalistas. Os conselhos podem servira esse propósito: reunir os profissionais para queestes zelem pela qualidade e pelas condições dosjornalistas em seus campos de trabalho.Deixar que o mercado faça uma triagem,uma separação darwinista dos melhores é acreditarque o empresariado tenha consciência plena edomínio da qualidade no ramo; é acreditar que osempresários sejam proprietários também do jornalismo;é acreditar que os jornalistas não sejamcapazes de se organizarem e se auto-regularem; écrer que a sociedade se permita ser refém do podereconômico sobre todas as forças. Inclusive suaconsciência.http://www.univali.br/monitor25


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 15/09/2004A Política ameaçao Jornalismo?Desde o começo de agosto, os leitores de ANotícia contam com um ilustre articulista nasedições de domingo: o governador Luiz Henriqueda Silveira, que volta a escrever no jornal apósum intervalo de quase dois anos. A história dacolaboração do político com o diário de Joinvilleé antiga, já que o governador passou a escreverregularmente em 1982 e só parou vinte anos depoispor ocasião do período eleitoral que impediaa função para candidatos.O retorno de Luiz Henrique à página 3do AN foi comunicado aos leitores na edição de08/08, data que já trouxe o primeiro artigo de lavrado político, “A cultura e o desenvolvimento”.Na página A11, o jornal não só anuncia o retornoàs teclas, mas também enaltecia os aspectos maisintelectuais do governador, como o gosto pela leitura– e LHS se reconhece um “rato de biblioteca”– e a autoria de quatro livros, um dos quais umacoletânea de artigos publicados em A Notícia.Na mesma matéria, Luiz Henrique segreda “estarpreparando uma nova publicação”, obra que trouxessealguns episódios que viveu e presenciou navida política.A exemplo de qualquer cidadão, o governadordo estado também tem o direito de se manifestarnos jornais, escrevendo artigos ou cartas edando opiniões sobre fatos, circunstâncias e pessoas.Entretanto, o que se pode questionar é a posiçãode um jornal que convida um político na ativaa escrever regularmente em suas páginas, já quea proximidade que uma colaboração como essapode cercear eventuais críticas ao mandato do escriba.O leitor mais exigente pode perguntar: se ogovernador escreve no jornal, como os jornalistasde lá poderão fiscalizar as ações do governo na suaplenitude? Haverá independência suficiente parao jornal nas coberturas mais delicadas?É evidente que o governador não vem escrevendosobre assuntos tão polêmicos em seu espaçodominical. No artigo de estréia, tratou do Festivalde Dança de Joinville e da Tomada de Laguna; nodia 15 de agosto, defendeu um pacto federativopara dar mais autonomia aos municípios; na ediçãode 22/08, voltou a defender uma de suas bandeiraspolíticas, a descentralização; e uma semanadepois, lembrou os 50 anos do suicídio de GetúlioVargas. Mas é evidente também a ocupação de umespaço como esse num dos maiores jornais locais éuma oportunidade imperdível para qualquer político.Ainda mais em período eleitoral...Pode-se argumentar que outros jornais comprestígio e credibilidade fazem o mesmo, e atéconvertem certos nomes em colunistas titulares.O exemplo mais conhecido é o da Folha deS.Paulo, que tem o senador José Sarney e o deputadofederal Delfim Netto entre seus colaboradoresmais notórios. Mas tanto no caso da Folhaquanto de A Notícia, o cuidado deve ser o mesmocom a manutenção de um exercício independentedo jornalismo. Nos dois casos, e em todos osdemais, a empresa jornalística precisa garantir aosseus jornalistas as condições necessárias para quese mantenha o trabalho de fiscalização dos poderespela imprensa. Para o bem de todos: do leitor,que precisa de um meio de comunicação parahttp://www.univali.br/monitor 26


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAconfi a r; da empresa, que tem na sua credibilidadeum patrimônio imprescindível; e para a democracia,que vê na imprensa um aliado para a suamanutenção. A Política não pode ser uma ameaçaao Jornalismo, mas o Jornalismo pode funcionarcomo uma resistência à má Política. É assim nasmelhores democracias...Mas, então, o governador Luiz Henrique daSilveira precisa deixar de escrever nas edições dominicaisde A Notícia? Claro que não. É um canalimportante entre a autoridade e os (e) leitores.O que o jornal não pode perder de vista é a suafunção social: fazer jornalismo mesmo que isso oindisponha com o governo local; mesmo que crieconstrangimentos internos; mesmo que resvalenos interesses de um forte anunciante. A credibilidadetem um preço alto, mas quem a possui nãose arrepende de tal investimento.http://www.univali.br/monitor27


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAFaltou jornalismo na ArenaRogério Christofoletti em 29/09/2004Os cidadãos joinvillenses, os torcedores doJoinville Esporte Clube e os leitores de A Notíciaviveram dias de festa por causa da inauguração deum novo estádio de futebol na cidade no últimosábado de setembro. A abertura da Arena Joinvillerecebeu ampla cobertura do diário local, quenão se limitou a apenas noticiar o evento, mas dedicougenerosos espaços em pelo menos três dias.Nada contra se o destaque não tivesse sido excessivo,como percebeu o leitor mais atento.No dia da inauguração, 25, A Notícia deu apágina A4 ao tema e trouxe um suplemento especialde nada menos que 16 páginas! Isso mesmo:dois cadernos com textos, fotos e anúncios, especialmenteproduzidos para a ocasião. Na matériada A4, a chamada para o evento era clara, com boxdetalhando a programação e foto – de divulgação– ocupando cinco das seis colunas do jornal.O suplemento encartado na mesma ediçãonão foi produzido por A Notícia, mas pela EditoraFuncional, que usou os serviços de alguns profis sionais do jornal, conforme se viu no expedienteda publicação. Mesmo não respondendo totalmentepelo conteúdo, o AN tem responsabilidadesobre o produto, já que esse leva consigo a rubricado veículo. E aí é que está um ponto importantea se discutir. Embora assuma formato de cadernojornalístico especial, o suplemento não bebeapenas nas águas da reportagem, mas também domarketing e da publicidade. Os títulos dos textosatestam essa proximidade que em nada contribuipara o jornalismo e uma melhor informação doleitor: “Sonho que está virando realidade” (p.2),“Espaço para a realização de grandes eventos”(p.4), “Dirigentes esportivos enaltecem a obra”(p.7), “Bairros próximos têm novas perspectivas”(p.12), “Joinville passa a viver uma nova realidade”(p.13), “Futebol é paixão de multidões” (p.14)e “Maior obra do gênero em Santa Catarina” (p.15).Algumas perguntas ajudam a pensar esseterreno pantanoso onde afundam o senso crítico,o senso de realidade e as devidas proporções: Parao leitor comum, fica clara a distinção do que é exclusivamentejornalístico e aquilo que se desviapara o lado promocional? A quem interessa tantopositivismo e festejos? O tom ufanista adotadona publicação é bem recebido pelo público leitor?Esse tom ajuda a entender melhor a obra que estásendo inaugurada? Essas estratégias funcionamcomo instrumento de divulgação da obra? Satisfazemos investidores? Agradam os leitores?No interior do suplemento, duas ocorrênciasque podem trazer à discussão acima aspectos maispolíticos. Na página 10, artigo do governadorLuiz Henrique da Silveira relata a “idéia fi x a” dese construir o novo estádio. Numa volta ao passadorecente quando era o prefeito da cidade, LuizHenrique conta como o projeto foi evoluindo, eaí, o estádio é deixado de lado: o vice-prefeito àépoca assumiu a obra, “assumiu a função comoum guerreiro. Viajou, foi conhecer os melhoresestádios do mundo. Não descansou, enquantonão defi n iu o terreno (...) e iniciou a construção.O Governo do Estado entrou com R$ 10 milhõesde reais, mas o Tebaldi entrou com tudo nessehttp://www.univali.br/monitor 28


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAprojeto”. Diante de um trecho como o citado, oexigente leitor pode achar que mais do que daros devidos créditos ao atual prefeito de Joinville,Luiz Henrique estaria dando um empurrãozinhoà campanha pela reeleição de Marco AntonioTebaldi no dia 3 de outubro. A última frase doartigo do governador – tal qual uma prudente advertência- reforça essa impressão: “Mas, não nosesqueçamos, devemos isso ao Tebaldi!”Na página ao lado, 11, uma longa entrevistacom o prefeito Tebaldi, “feliz por entregar obra àpopulação”. Em plena campanha eleitoral, a publicaçãopromoveu algum ranger de dentes dosdemais candidatos, que chegaram a protestar juntoà justiça.É só alegria!Em 26 de setembro, um dia depois da aberturado estádio, com chamada na capa – foto e legenda-, a inauguração foi assunto para mais duaspáginas: na A16 e A19, os títulos davam tons épicosao ocorrido (“Donizete marca 1º gol na Arena”e “Arena já faz parte da história de Joinville”).E em ambas as páginas, figuravam fotos do governadorLuiz Henrique da Silveira, ora abraçadocom os operários da obra no gramado, ora abraçadoa autoridades como o presidente da FederaçãoCatarinense de Futebol, Delfi m de Pádua Peixoto.Pairava pelo jornal um clima de confraternização,de congraçamento pela conquista de um bemesperado há muito tempo, e sem o qual a vida emcomunidade não tinha a menor graça.equipe forte, que possa representar a cidade. Ilustradacom duas fotos – uma das quais do governadorcom a senadora Ideli Salvatti -, a matéria lembraque a obra ainda não foi concluída, restandoboa parte do complexo de lazer. Mesmo assim, ojornal foi em frente, comemorando, festejando oequipamento.E como a ocasião era de festa, o público queassistiu à partida de abertura nem ligou para o resultado.O amistoso reuniu os craques da SeleçãoBrasileira de Masters e um combinado do timelocal. O Joinville perdeu por 3 a 1, mas ninguémse queixou, mesmo o JEC devendo bom desempenhohá tempos (o time acabou de cair para a terceiradivisão do Campeonato Brasileiro, ficandona antepenúltima colocação). E entre os leitores,será que todos fi c aram satisfeitos com tantos festejosem detrimento do jornalismo?Na terça-feira, 27, adivinhem! O jornal voltoua falar do novo estádio, agora, ocupando meiapágina – na outra metade, um anúncio de umarevenda de automóveis. Sob o título “Arena podeajudar o futebol de Joinville”, o texto repercuteentre ex-jogadores a excelência da obra, mas reafirmaa necessidade da região contar com umahttp://www.univali.br/monitor29


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAConselho do Leitordo Santa já mostra serviçoRogério Christofoletti em 11/11/2004O Jornal de Santa Catarina marcou um golquando criou, no final de setembro, o Conselhodo Leitor. O conselho é um grupo de pessoas quese reúne quinzenalmente para avaliar o jornal epropor mudanças. A idéia não é nova, mas emSanta Catarina a iniciativa é pioneira. No RioGrande do Sul, desde 1999, a Zero Hora tem oseu conselho, e de lá para cá, diversas alteraçõesforam feitas no jornal por sua sugestão. Conselhossemelhantes existem na Folha da Região, em Araçatuba(SP), em O Liberal, de Americana (SP), noCorreio Braziliense e em O Povo, em Fortaleza(CE). A idéia é muito positiva do ponto de vistados esforços para um aumento da participação dosleitores no processo de produção do jornal e nabusca do seu aperfeiçoamento. Na edição nº 59, oMONITOR DE MÍDIA elogiou a iniciativa doSanta, que não deixa de ser inteligente e corajosa,já que oxigena de idéias a redação e a própria empresa,mesmo na exposição pública de eventuaisproblemas. É mais um canal de comunicação coma comunidade leitora, o que pode acarretar benefíciospermanentes à publicação.Em funcionamento desde 22 de setembro, oConselho do Leitor é composto por nove pessoas:um servidor público estadual, um industriário,uma estilista da moda, uma estudante de jornalismo,uma auxiliar de escritório, um assessor deimprensa, um microempresário, um empresário eum consultor. Com idades que variam de 21 a 67anos, são moradores de Blumenau, Gaspar e Ibirama,e foram escolhidos pelo jornal após análise decurrículos e entrevistas. A atividade é voluntária,sem qualquer remuneração, e o Santa apenas concedeuma assinatura ao conselheiro para que esteacompanhe a publicação diariamente. O mandatodos conselheiros é de um ano, e nem todos sãoassinantes do jornal, medida que ajuda a garantirum grupo heterogêneo de leitores na avaliação doproduto.AtuaçãoPreste a completar dois meses, o Conselho doLeitor já mostra serviço. Em sua coluna dominical, jáapontou deslizes, enalteceu iniciativas e sugeriu ajustes.Na edição conjunta dos dias 9 e 10 de outubro, porexemplo, os conselheiros criticaram a publicação deanúncios publicitários com pesquisas eleitorais durantea campanha deste ano (procedimento também questionadoneste MONITOR em outubro). O jornal, pormeio do editor, defendeu-se logo abaixo, propiciandoaos leitores comuns um aperitivo das dific uldades diáriasde se fazer um jornal. Em 23 e 24 de outubro, oConselho do Leitor criticou a publicação de uma fotoem que um jovem aparecia com uma camiseta considerada“de mau gosto, desnecessária, exagerada e pejorativa”.O editor reconheceu os argumentos e considerouque “o jornal equivocou-se na abordagem e superexpôsa imagem”.Em 6 e 7 de novembro, o conselho sugeriu que ficassemmais claros os critérios de participação dos leitoresnas seções interativas do jornal. O editor-chefe, EdgarGonçalves Jr., explicou a política editorial do Santae as condições que a empresa se reserva para assegurarcredibilidade e independência. Atendendo ao conselhodo Conselho, o jornal fez os ajustes necessários.http://www.univali.br/monitor 30


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAs intervenções do Conselho do Leitor não sãoapenas negativas, à cata de problemas. Na edição de 30e 31 de outubro, por exemplo, os conselheiros elogiam acoluna Informe Econômico pela clareza da linguageme por sua estrutura.DerrapadaÀs vezes, o tiro sai pela culatra. Tentandoampliar a participação do leitor no processo produtivodo jornal, o Santa derrapou ao cometerum grave erro numa matéria sugerida por um leitor.Na quinta, 23/09, o jornal estampou a capa equase toda a página 17 com o título “Este homemestá morto desde 2003”, relatando a história deum pedreiro que não recebia benefício do INSSporque este o considerava morto. Uma semanadepois, o jornal reconheceu o erro, trazendo matériade página inteira, contando a verdadeira história:o processo do personagem trazia o carimboda repartição pública com uma inscrição queera, no mínimo, dúbia. O benefi c iário não estavamorto, mas seu caso estava guardado no arquivomorto.Para retificar a informação, o Santa veiocom matéria tentando desfazer o equívoco e boxassinado pelo editor-chefe Edgar Gonçalves Jr.admitindo o erro cometido pelo jornal e pedindodesculpas por transtornos decorrentes da reportageminicial.http://www.univali.br/monitor31


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUm estelionato jornalísticoRogério Christofoletti em 29/03/2005É antigo o golpe do jornal que traz na capamanchete com duplo sentido. A chamada apontapara uma situação, mas o texto nas páginas internasse remete à outra. Quando passa pela banca e vê acapa alarmante, o leitor é levado a acreditar que temdiante de si uma grande novidade, uma “bomba”,uma informação da qual não pode prescindir. Correaté o balcão e compra o jornal, levando gato por lebre.Esse tipo de golpe é antigo, mas ainda funciona.Foi o que aconteceu em 11 de março com os leitoresdo Independente, jornal editado em Itapema e quese espalha pelas cidades da chamada Costa Esmeralda,no litoral norte catarinense.Quem avistou o tablóide naquela sexta, leu amanchete “Itapema vibra com o fim do prefeito corrupto”.A chamada em letras garrafais em cor brancafazia alto contraste com um fundo preto. Abaixodela, uma foto alterada digitalmente, de forma a dific ultar a identificação do homem que passava a mãona testa. Sua expressão – olhos fechados, cenho franzido,boca entreaberta – poderia ser de felicidade oude desespero. Mas a sua legenda logo “informava”:“O fi n al reservado ao bandido contentou a comunidade”.Aquela poderia ser mais uma edição comumdo Independente, não estivessem os leitores e eleitoresde Itapema em estado de alerta desde agostode 2004. Naquela época, em plena campanha pelareeleição, o prefeito Clóvis José da Rocha (PFL) foiafastado do cargo por decisão do Tribunal de Justiçade Santa Catarina, suspeito por irregularidades administrativas.Mesmo fora da prefeitura, Rocha venceuas eleições e uma liminar o reconduziu ao cargoem dezembro passado. De lá pra cá, ouve-se pela cidadeque o prefeito pode cair a qualquer momento,já que as ações contra ele estariam próximas do seujulgamento.O Independente entra nesse contexto. O jornal,que existe desde setembro de 2001, é um dosmaiores opositores ao político, atacando abertamenteRocha. Em diversas ocasiões, o editor e proprietáriodo jornal, André Gobbo, escreveu, professando aindependência da linha editorial em relação ao poderpúblico. Em outras tantas, permitiu que os leitorespercebessem claramente a postura de oposição doveículo. Quando o prefeito foi afastado pela Justiçae o presidente da Câmara assumiu a vaga, um editorialdo Independente saudava a chegada do novomandatário da cidade, enaltecendo as qualidades dovereador e enxergando nele a “encarnação de um eloentre todos os que estavam, por longo tempo, excluídos,perseguidos e humilhados”.Se em algumas vezes o jornal foi para o ataquefrontal, ultimamente, a estratégia tem sido outra: irpelos fl a ncos. Na edição passada, do início de março,a manchete era “Biribinha é candidato a prefeito deItapema”. Acontece que o tal candidato é o palhaçode um circo mambembe, instalado na cidade desdeo ano passado. Não bastasse a ironia que a manchetefora de hora provoca – as eleições municipais sódevem acontecer novamente daqui a quatro anos -, a abertura do texto é um confronto direto com oatual prefeito Clóvis Rocha: “Se Itapema já está fartade palhaçadas no poder público, um palhaço a mais,um palhaço a menos não fará muita diferença. Porémas expectativas sobre a gestão do novo ‘prefeito-pa-http://www.univali.br/monitor 32


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAlhaço’ parecem ser grandes por parte da comunidadelocal”. A matéria aproveitava o gancho oferecidopelo próprio Biribinha, já que o palhaço estrela umnúmero circense em que interpreta um candidato aprefeito, e estimulava a comparação entre Rocha e oartista.A mudança de estratégia nos disparos do Independentecontra a prefeitura pode ser percebidatambém na alteração do slogan que o jornal traziaabaixo de seu logotipo. Se antes era “A notícia semcensura, feita por quem sabe!”, agora o tom é marcadamentepopulista: “A notícia do povo para o povo”.A edição de 11 de março, que alardeia o final trágicodo prefeito corrupto, carrega consigo um verdadeiroestelionato jornalístico. Lançando mão de umexpediente condenável, o Independente joga com asexpectativas do leitor à medida que chega às bancascom uma manchete enganosa. Na verdade, conformese percebe no texto das páginas internas, o prefeitocorrupto a que se refere o jornal é o personagemvivido por Eduardo Moscovis na telenovela Senhorado Destino, da Rede Globo. Personagem que foi enfrentadopor seus eleitores e apedrejado por um populara ponto de morrer, evidente metáfora do poderdo povo que se conscientiza de seus direitos.Populares. Sorrateiramente, o jornal ataca o prefeito,mas provoca outras vítimas também: os leitores, quepagaram por uma informação e – na verdade - tiveramum resumo do penúltimo capítulo da novela.Não há problemas no fato do Independentefazer oposição ao prefeito da cidade. Muito pelocontrário, espera-se que a mídia fiscalize mesmo ospoderes constituídos. O que não dá pra aceitar é queessa resistência atropele as regras do bom jornalismo,a ética e a responsabilidade social que os meios devemter. O estelionato jornalístico promovido pelo jornalna edição de 11 de março é um contra-exemplo decomo se deve fazer jornalismo. Millôr Fernandes jádisse que “imprensa é oposição, o resto é armazémde secos e molhados”, mas certamente as estratégiasdo Independente não passam nem perto do que ojornalista pensara. A tática do duplo sentido deve terrendido ao Independente boa vendagem em bancana sexta, 11 de março. Mas é certo que o episódio traráoutros dividendos, não passíveis de se contabilizar.Ao enganar o leitor, ao manipular a opinião públicae ao atropelar a ética jornalística, o jornal de Itapemacolhe também sérios danos à sua credibilidade. Assimcomo é capaz de avaliar o prefeito da cidade, opovo saberá julgar também os jornais que lê.O leitor que passou pela banca e foi atraído pelaapelativa manchete só descobrirá bem depois que otexto se refere aos capítulos fi n ais de uma telenovela.Mas o engano não reside apenas aí. A legenda daprimeira página é mentirosa também, já que se referea um contentamento da população difícil de se averiguar.A foto que serve de referência à legenda traz umdetalhe do ator – nos trajes do personagem – agonizando.Mas a foto foi deliberadamente manipuladapara que não fosse fácil a identificação de Moscovis,e assim, a remissão ao prefeito verdadeiro pudesse serfeita. A artimanha reforça o duplo sentido, e torna aescolha da manchete uma ação de sensacionalismobarato, digna do já extinto jornal paulistano Notíciashttp://www.univali.br/monitor33


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIACom a máquina todaRogério Christofoletti em 28/04/2005Foi uma festa pra lá de comentada. Na internet,no rádio, em jornais e revistas foi o que maisse falou na semana passada: os 40 anos da RedeGlobo. Como não poderia deixar de ser, na TV,o que se viu foi uma avalanche de chamadas, devinhetas, de lembretes ao longo dos programase até mesmo de matérias nos telejornais da casa.Uma operação bem orquestrada, a celebração dos40 anos da Globo mobilizou todos os esforços daempresa na tentativa de envolver o telespectador,gerando nele aquela sensação esquisita de “nãoposso deixar de ver isso”, “não posso perder”. Sea operação foi bem sucedida ou não, pouco importaaqui. Interessa mais é perceber, em câmeralenta e com zoom, os principais movimentos queajudaram a fazer esse processo.Todos a bordoNão é novidade nenhuma dizer, então, quea Globo usou o seu imenso poder mediático para“agendar” os festejos no imaginário do cidadãocomum. Em outras ocasiões mais prosaicas, issojá aconteceu, como no caso da quase-comoção socialno nascimento de Sasha. O expediente vem setornando freqüente nos últimos anos, deixando– muitas vezes – de ser estratégia de comunicaçãopara se tornar cacoete. Não foi o caso nos 40 anos.O ataque foi programado, e a convocação foi geral:além do milionário casting e dos apresentadores,os jornalistas também entraram na dança. Participaramaté mesmo da cantoria na vinheta ondetodos “convidam” o telespectador a dizer “bomdia!”. Esbanjando alegria e gestos largos, repórteresde rua e de bancada se misturaram aos artistas.Nada contra, jornalista também é gente, e fica atémenos hipócrita a relação que estabelecem com aempresa. A idéia por trás do heterogêneo coral éapresentar unidade, coletividade, e um compromissocomum.Todos os telejornais da casa exibiram sériesde reportagens alusivas aos 40 anos. Algumasmuito bem produzidas, evidenciando recuperaçãode material de arquivo, realização de novasentrevistas, alocação dos mesmos repórteres emépocas distintas no período, entre outros esforços.Outras, por sua vez, mais pareciam ter sido encaixadasapressadamente na programação. Outrasainda despiram-se de qualquer pudor para “mostraros bastidores” da festa, da casa e da sua rotina.Tudo muito natural, tudo muito tranqüilo.Nas concorrentes, nem um segundo de lembrança,nada sobre o aniversário. Tudo muito natural,tudo muito tranqüilo também.Tudo a verFora do Rio de Janeiro – onde o Brasil é maisBrasil -, as emissoras afi l iadas produziram vinhetashomenageando a Vênus Platinada. Em SantaCatarina e Rio Grande do Sul, a RBS vem veiculandoa vinheta com bastante freqüência. Nela, oolhar do telespectador sobrevoa um mar de aparelhosde TV, em cujas telas aparecem diversasimagens. Em off, uma voz declina um texto. Oolhar do telespectador evolui para um plano emque se vê um mapa do Brasil formado pelos televisorese, no exato momento em que o locutor falaem diversidade, as telas piscam simultaneamente,http://www.univali.br/monitor 34


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAabandonando suas imagens originais e mostrandoapenas o Plim-Plim da Globo. Epa! Em seguida,voltam a exibir diversas imagens, compondo ummosaico sem defi n ição.Velas no boloA semana de festejos dos 40 anos tentousintetizar a produção da emissora, ressaltandoas especialidades da casa (como o jornalismo e ateledramaturgia) e as atuais apostas (como o cinemae os musicais ao vivo). Tanto num pontocomo no outro, os investimentos são pesados, oque demanda resultados expressivos e motivos decomemoração.Geralmente, celebrações como esta têm pelomenos três funções:a) festejar a data, pois estabelecer marcos éimportante em qualquer atividade. Isso ordena ahistória, racionaliza processos e justifica momentosque devem ser lembrados positivamente. Detentorade um acervo invejável, a Rede Globo nãose faz de rogada e despejou sobre os telespectadoresuma generosa geléia brasileira;b) envolver as pessoas no mesmo ritmo, apaziguandomomentaneamente divergências, reunificandoo que está disperso e permitindo ummaior controle da história interna. Essa funçãoajuda a arregimentar novos contingentes de fãs ea agregar outras forças aliadas. A estratégia levaem conta alcançar quem está fora dos limites docelebrável, convidá-lo a fazer parte da festa, absorvendo-oe naturalizando a sua presença;c) demonstrar força e prestígio. Celebraçõescomo essa garantem largos espaços de exibiçãodas vitórias e conquistas, beirando a ostentação,inclusive. No caso da Globo, a semana dos 40anos destacou pelo menos três aspectos: iniciou acomemoração, exibindo um filme produzido poruma das empresas do grupo a partir de um sucessoda TV (“Os Normais”), prosseguiu esbanjando osêxitos nas telenovelas e ainda sublinhou o abismoque separa a sua estrutura jornalística da concorrência.Celebrações como essa servem para mandarrecados ao mercado... Para se ter uma idéia dadesproporção: das 780 novelas, minisséries e seriadosde produzidos na TV brasileira de 1963 a2005, 356 são da Globo. Ou seja, 45%, conformeo site Teledramaturgia.Torta na caraMas embora se queira estabelecer um climade otimismo e de congraçamento, nem todoo mundo embarcou desarmado nos 40 anos daGlobo. Vozes divergentes na internet brasileirachiaram alto na mesma semana. Foram protestos,manifestos, artigos coléricos e denúncias contra aemissora, o clã dos Marinhos e as empresas poreles controladas.O informativo “CMI Na Rua”, editadomensalmente pelo Centro de Mídia Independente,troçava com um slogan da emissora: “Invente,tente, faça uma mídia diferente!”. O texto lembravaque “apenas sete grupos controlam 80% doque é visto, lido e ouvido no nosso país e a Globo éo maior desses grupos”, que a emissora “nasceu coma ditadura militar, aproveitou esse período de concentraçãode poder para fortalecer as amizades comesses governantes e assim desenvolver o seu poderio”.A recordação veio acompanhada da repetitivadenúncia de manipulação da opinião pública. Porfi m , o “CMI Na Rua” convidava o leitor para umato pela democratização da comunicação e eventosparalelos.Para o Coletivo Brasileiro de ComunicaçãoSocial – Intervozes, o dia 26 de abril de 2005 nãohttp://www.univali.br/monitor35


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAreserva motivos para comemoração. Em artigo publicadoem diversos sites, a ONG manifesta preocupaçãocom a propagação de uma “versão oficialda história” que não condiz com a verdade, porconta dos festejos. E a paulada veio forte: “Porque,após 40 anos, é preciso que alguém diga, para quetodos saibam, que a Rede Globo não é uma empresacuja marca é a produção de um jornalismoisento e imparcial (...) Muito menos é um grupoque – como eles próprios reivindicam – defende oconteúdo brasileiro do perigo estrangeiro. A RedeGlobo é, acima de tudo, uma organização políticaque atua nos bastidores dos governos brasileiros(sejam eles democráticos ou ditatoriais) em buscade garantir a execução de seus interesses. E que,não uma ou outra, mas muitas vezes, jogou contraa vontade da maioria da população para garantiro seu quinhão (...) não temos nada para comemorarna data em que a Globo comemora 40 anos.Temos muito a questionar, muito a protestar, porquequeremos uma comunicação mais democráticano Brasil. E isso só vai ocorrer quando a faceobscura do monopólio dos Marinho vier à tonae quando a comunicação for encarada como umdireito de todos e todas”.Salgadinhos no bolsoDo emaranhado do que se disse e do que seviu na semana de festejos dos 40 anos da Globo, sobraalguma coisa. Primeiro, a badalação acerca doaniversário reverte bons dividendos para a homenageada.Não só financeiros, mas também de imagem.Segundo, a gritaria ao redor da aniversariantepouco modifica a festa. Mais parece o penetra quecanta atravessado o “parabéns”, despertando a irados amigos mais chegados. Terceiro, a festa de agoratestou até onde a empresa pode ir em celebraçõesdo tipo. Daqui a dez anos, tem o cinqüentenário.Até lá, o Brasil pode ter mudado muito; a tv brasileiratambém; e o público idem. Entretanto, o compromissoda Globo de manter sua hegemonia nessecenário não é algo de que se desista assim, do diapara a noite. A cúpula dirigente da emissora deveavaliar o que deu certo e o que naufragou. Tudopara que a próxima festa seja maior e inesquecível.Isso mais lembra o convidado que – mesmo fartode tanto bolo e refrigerante -, se garante, levandosalgadinhos pra casa. No bolso.Não tão virulento foi o pessoal do FazendoMedia , um grupo de alunos fl u minenses queestudam as relações e os processos que envolvemos meios de comunicação. No “Especial Globo”, o coletivo oferece um “contraponto” à “verdadeúnica” disseminada pela emissora no momento,dando links a onze artigos atribuídos a Romeroda Costa Machado, autor de “Afundação RobertoMarinho”. Segundo o Fazendo Media, Machadoteria trabalhado dez anos na Fundação RM eteria sido assessor especial de José Bonifácio Sobrinho,o Boni. É esta condição credenciada queajuda no “intuito de constituir uma fonte de consultasegura sobre a verdadeira história dessa empresa”,informa o site.http://www.univali.br/monitor 36


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAParticipação sim, controle nãoFernando Arteche Hamilton em 30/08/2005As mensagens da mídia são parte integranteda vida de todos nós. De forma maisou menos intensa, são capazes de definir oque vemos do mundo e o que pensamos sobreele. Essas mensagens, no entanto, são geradasa partir da nossa própria existência; isto é, amídia divulga, em parte, o que fazemos. Damesma forma que escolhemos o que fazer empúblico e o que diz respeito a nossa privacidade,também devemos escolher quais histórias- e como - serão contadas sobre nós. Em outraspalavras, temos o direito de participar dasmensagens veiculadas pela mídia de acordocom nossos interesses.Iniciativas como a campanha contra abaixaria na tv, da Comissão dos Direitos Humanosda Câmara dos Deputados, têm o méritode chamar a atenção da população e oferecerum canal de expressão da vontade popularem relação ao conteúdo da mídia. O problemaé a excessiva centralização das decisões sobre oque é ou não adequado aos olhos e ouvidos dopúblico, a manipulação do que ver e mostrarde nós mesmos.Assim dito, pode parecer pragmático demais.Mas ainda é melhor que cada um tenhaa possibilidade de interferir no conteúdo damídia do que ter que acatar as decisões de umgrupo de pessoas que decidam o que deve sermostrado ou não da nossa existência imperfeita.Por mais bem intencionados que sejamos integrantes desse grupo de decisão sobre oconteúdo midiático, não darão conta de lidarcom a diversidade de interesses e com a mutabilidadedas condições sociais. O risco é adeterminação de regras e normas que excluamgrupos de pressão e desejos legítimos dosmeios de comunicação – o que já acontece,principalmente por interesses econômicos.http://www.univali.br/monitor37


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIACampanha contra a baixariana TV: SOU CONTRA!Laura Seligman em 30/08/2005Sou contra, veementemente contra qualquercampanha que venha a exercer qualquerforma de controle sobre o conteúdo midiático,exceto, é claro, o que fi r a a lei ou os costumes nohorário impróprio. A programação televisiva éuma opção e não uma imposição ao consumidor.Todos têm, em princípio, o direito e a chance dedizer não a qualquer programa com o simplesclique de desligar o televisor.Como já disse, é claro que não apóio programasracistas, discriminatórios, que interfiramsem autorização na individualidade. Estes estãofora da lei. Mas quanto à categorização de determinadosprogramas como baixaria a pontos dedefender que sejam banidos, isso não posso admitir.Trata-se de censura e de subdimensionar acapacidade do telespectador de discernir entre oque julga certo ou errado. O público não precisade tutela, precisa de mais opções.Há outro agravante nesta categorização deprogramas como “baixaria”. Quem seria o encarregadode carimbar os programas como inapropriadosao público? Quem vai dizer o que é baixaria?Prefiro a opção popular, que transformouo programa do Ratinho, que antes era recheadode aberrações, num programa de calouros; quefez o Fantástico falar de Ciência e Filosofia; quepode fazer com que o Pânico na TV, um festivalde asneiras cultuado até no meio acadêmico,mude de vez e pare de bater em anões(a mudançajá começou quando o quadro “A Hora da Morte”,que aterrorizava velhos e crianças saiu do ar).O povo é sábio: quando erra, se revolta equer reparo ao dano. A revolta, neste caso, podeser virar o canal ou, quem sabe, na melhor dashipóteses, abrir um livro.http://www.univali.br/monitor 38


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAPor um controle menos remotoRogério Christofoletti em 30/08/2005Todo tipo de poder precisa de limites. Dealgum tipo de controle. Nas democracias, o Legislativo,o Executivo e o Judiciário – pelo menosem tese – são fi s calizados por um quarto poder,a imprensa. É o conjunto dos meios de comunicaçãoque acompanha o andamento dos trabalhos,faz denúncias, exerce um papel crítico. Nasúltimas décadas, a potência dessas ações cresceutanto que muita gente coloca a mídia como oprincipal poder, ajudando a eleger políticos, fixandouma pauta para a votação de leis, pressionandojuízes e promotores. Essa expansão podeter trazido efeitos positivos para as sociedadesna medida em que permite maior transparênciana vida social e monitoramento mais direto dasações dos representantes públicos. Mas e quandoesse poder exagera? E quando há abusos?Não basta apenas que o cidadão troque decanal quando se sente constrangido ou lesado.Quem deve trocar a programação é a emissora,já que, por lei, tem contrapartidas sociais e devesatisfação ao Estado e à população. Isso não é censura,é controle público de qualidade.Foi essa preocupação que motivou um conjuntode cidadãos e organizações a criar a campanhaQuem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania.Atentos à intensa penetração da televisãono cotidiano brasileiro, eles perceberam queuma forma de atuação cidadã seria agir no terrenodo imaginário social. Traduzindo: o abusode poder da TV se dá na violação de direitoshumanos, na imposição de padrões de consumoe na redução às opções de informação e entretenimento.Para combater isso, só mesmo monitorandoas programações, destacando exagerose chamando a atenção da sociedade, através deum ranking da baixaria. Assim, pressiona-se osanunciantes desses programas para que deixemde fi n anciá-los.http://www.univali.br/monitor39


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIANepotismo e JornalismoRogério Christofoletti em 15/09/2005No domingo, 4 de setembro, o programaEstúdio Santa Catarina, veiculado pela RBS-T V,trouxe uma reportagem bem interessante sobreum brasileiro que está pesquisando segredos douniverso junto à NASA, a agência espacial norte-americana.A matéria ficou bem centrada nafi g urada de João Rodrigo Leão – que viveu durantemuitos anos no estado – e que agora fazseu doutorado no exterior. Bem articulado e didáticonas suas falas, o astrofísico preocupava-se(a cada pergunta) com os detalhes e a clareza dainformação. Fôssemos julgar pela história em si– um brasileiro que desde criança esteve com acabeça na Lua e que agora investiga os mistériosdo espaço nos Estados Unidos -, já valeria a penafazer a matéria. Fôssemos julgar pela qualidadedo conteúdo colhido nas falas da fonte, maisainda.Tudo ia bem na reportagem até o seu fi n al.Não bastasse a longa duração da matéria – mesmopara os padrões do programa dominical queé veiculado altas horas da noite -, um problemade ordem ética comprometeu todo o trabalhojornalístico. Quem assinava a matéria era ninguémmais nem menos que a irmã do entrevistado:a jornalista Luciana Leão.Em jornalismo, isso é um problema. E hárazões para explicar isso. O jornalismo é umaatividade que tenta organizar as informaçõescotidianas. Para isso, os jornalistas vão buscardados com fontes diversas. Entretanto, para quese tenha um relato não-dislumbrado do fato, ojornalista tenta manter uma distância segura desua fonte, de maneira que não contamine suamatéria com preferências pessoais, adesões oufi l iações diversas. Nesse sentido, tudo caminhapara um esforço de isenção, de objetividade nanarrativa jornalística. O que se quer passar é quea matéria foi feita atendendo a critérios diversos,seguindo os interesses públicos e não apenasparticulares ou pessoais. Assim, a entrevista vaiao ar porque interessa à coletividade e não apenasaos parentes do repórter ou mesmo da pessoaouvida.É evidente que não existe uma objetividadetotal, uma isenção completa, afi n al estamos tratandode seres humanos, de pessoas e não robôs.Entretanto, os esforços para que não haja partidarismo,privilégios de uma pessoa em detrimentode outras, busca-se uma relação mais crítica,mais cuidadosa com as fontes. Costuma-sedizer nas redações a seguinte frase: “O jornalistadeve estar próximo da fonte o suficiente paraconseguir a informação e distante o necessáriopara não se misturar a ela”. O dito não é fácil deser alcançado diariamente, mas daí a entrevistaro próprio irmão, é muito diferente.No exemplo que tomo por base - volto a dizer- a história vale a pena ser contada e a fonte éapropriada e deve ser ouvida. Entretanto, é a jornalistaque não pode fazer aquela reportagem, jáque é próxima demais da fonte, o que pode tornara reportagem uma “ação entre amigos” e nãoalgo jornalístico. O melhor teria sido repassar apauta para outro profissional, o que garantiria aexecução do trabalho sem esses riscos.http://www.univali.br/monitor 40


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAVeja, não se está discutindo se a reportagemfoi bem produzida ou não. O problemanão é técnico, mas ético. De conduta. A exemplode outros profissionais, jornalistas regemsuas condutas por valores, e o parentesco nãopode influenciar nem ditar as atividades de umprofissional na sua lida diária. É só olhar outroscasos. Na classe médica, um cirurgião não podeoperar um familiar. No Poder Judiciário, sechegar às mãos de um juiz um caso que envolvaalgum parente seu, ele deve se declarar incompetentepara a análise por conflitos de interesse.Ele sabe que não julgará a ação da mesmaforma que o faria com um desconhecido.Alguém pode pensar que me refiro a nepotismo,essa prática de beneficiar parentes.Mas penso que não se trate disso. Até porqueesse conceito faz sentido apenas no setor público,onde as práticas devam ser transparentese onde as oportunidades devam ser iguaispara todos. A disputa de um cargo público nãopode priorizar laços sangüíneos, afinal estamosnuma república e não numa monarquia.Tecnicamente, o jornalismo não é umserviço público. Mas presta sim um serviçopúblico na medida em que informa as pessoas,ajuda a gerar um senso crítico da realidade e interfereno cotidiano dos cidadãos. Em muitosmomentos, o que se espera no jornalismo é quevigorem regras semelhantes às do poder público:a transparência, a eqüidade e o interessepúblico. Todas mediadas pelo bom senso e poruma constante preocupação com a qualidadedo produto final. Quando isso não ocorre, algonão cheira bem. Nem no poder público, nemno jornalismo.http://www.univali.br/monitor41


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIADuelo à moda brasileiraJoel Minusculi e Caroline Leal em 14/10/2005Estamos na guerra entre o SIM e o NÃO.Para resolver um problema devemos estar semprearmados, de bons argumentos. O arsenal de idéiasde ambos é vasto, mas desse lado da trincheira estáquem não larga mão de um direito. Esta será apenasmais uma lei a ser desrespeitada pelos bandidose que o poder público não dará conta de fazercumprir.A questão vai além de uma simples pergunta,entre um SIM ou NÃO. Desigualdade social éa causa principal de tanta violência, um problemaa se resolver antes de qualquer referendo, esta discrepânciaentre ricos e pobres, entre os que têmmuito e os que têm pouco é que resulta nos trágicosacontecimentos que presenciamos diariamente.Proibir uma pessoa de ter uma arma legalmenteregistrada não implica necessariamenteimpedir a prática de crime inter-pessoal. Toliceimaginar que o assassinato por motivo passional,por exemplo, perde sua motivação com a interdição.Sejamos coerentes, uma bala não chega a algumlugar por acaso. Uma mão e um cérebro friopossuem a mira. A arma, inerte, nada faz.Informação é o que não falta. Todos osmeios de comunicação comentam isso, desde osmais sérios programas da TV Globo até os mais“barracos”. Discussões dignas de gladiadores.Mas o caso é que o lado que vota pelo SIM tentadissimular aquilo que o lado do NÃO tenta convencer,e vice-versa. Mas pelo que se nota, o grandedestaque está para o SIM, com propagandas etemas mais elaborados. As indústrias bélicas, interessadasem apoiar o lado do NÃO, pelas taxasque foram submetidas, não têm de onde tirar dinheiropara a campanha.Os dados são muito importantes, principalmenteno Brasil, em que muitos acreditam que“aquilo que passa na TV é verdade”. Isso fica estranho,quando cada um dos meios divulga dadosgerais diferentes uns dos outros. Por exemplo, aGlobo que divulga 81% da população a favor dodesarmamento, se opõe à Band que divulga que90% da população é contra. Isso faz com que aspessoas não saibam para onde correr nesse fogocruzado. Muitos, em meio da poeira levantadapelas discussões, buscam um caminho na luz desuas televisões. E na maioria desses casos, com umadicional sonoro “plim-plim” para atrair melhor.O que o governo e a campanha do “sim” nãocitam é o valor do investimento do governo federalcom o referendo: cerca de 270 milhões de reais.Isto equivale a 100 milhões de reais a mais do quefoi gasto com segurança pública no ano passado.Esse montante poderia ser investido em medidasde assistência social, fomento ao emprego ou aindagasto com melhorias em nossa segurança, em educação,na polícia e, aliás, o que não faltam são setorespara se investir neste país.Em uma idéia muito interessante da revistaVEJA (edição 1926, de 12 de outubro de 2005):“Um cuidado nos referendos é apresentar ao povopropostas que o Estado possa cumprir. A proibiçãodo comércio de armas de fogo depende dehttp://www.univali.br/monitor 42


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAfatores alheios ao poder do Estado - como o mercadonegro e o contrabando. Não se pode tambémusar a democracia direta para dar ao Estadoo direito de subtrair direitos das pessoas”.Essa discussão, que foi capaz de até mesmotirar do foco a crise política e a recente crise dofutebol, desperta os “instintos mais primitivos”,como diria Roberto Jeff e rson. Uma pessoa usaqualquer coisa para causar mal, seja físico ou deoutro jeito, quando quer. O problema então quedeveria ser resolvido é a educação e a consciênciada população. Mesmo as armas não tendo nenhumautilidade além de dispararem projéteis, porenquanto são necessárias até que a mentalidadede parte da sociedade mude.http://www.univali.br/monitor43


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAPelo seu direito de decidirValquíria Michela John em 14/10/2005Eu poderia iniciar este artigo de muitasmaneiras e tentar convencer você, leitor, da importânciade votar SIM no referendo do próximodia 23. Embora um artigo seja um textopessoal, focado justamente na opinião de seuautor, como jornalista acredito que, mesmo defendendonossas idéias, não temos o direito deimpô-las. Sim, direito, esta tem sido a principalpalavra ou argumento pelo voto do Não. Aoproibir o comércio de armas, estaríamos supostamenteperdendo um direito. Mas, caro leitor,eu lhe pergunto: que direito seria esse?Nós temos sim o direito à Segurança Públicacomo um dever do Estado. Se cada um denós pode comprar uma arma, qual a necessidadedeste serviço? Se todos podemos prover nossaprópria segurança (afinal, este é o principalargumento da frente pelo Não - o de que armado,o cidadão consegue “vencer os bandidos”),não há motivos para cobramos do Estado a garantiado direito à Segurança Pública. Seremosos próprios juízes e executores da lei. Aliás,para quê lei? Para quê poder judiciário? Cadaum de nós poderá ser seu próprio juiz e aplicara lei, conforme achar mais conveniente, certo?E voltamos todos ao “olho por olho, dente pordente”.Mas, se este é o seu desejo, caro leitor, ésim seu direito votar pelo Não. O que mais mepreocupa em toda a repercussão do referendoé a atitude de alguns meios de comunicação.Estes sim estão lhe negando um direito fundamental:o da liberdade de opinião.Como definir a edição da revista Veja dodia 05 de outubro, que estampou em sua capa os“7 motivos para votar não”? O exercício ético dojornalismo é o de levar ao cidadão as informaçõesde que necessita para compreender e posicionar-sequanto ao mundo a sua volta, mas nunca o de determinaressa posição. Que os jornalistas, editores,donos da revista Veja e do grupo Abril tenham oseu posicionamento, não é o caso, cada um de nóso tem, o problema é a parcialidade, impor umaopinião a todo país, ignorando o princípio básicodo jornalismo - ouvir e narrar as várias versões dofato. A Veja é indiscutivelmente a principal revistasemanal brasileira, portanto, seu compromissosocial é ainda maior.Não há de ser mero acaso, caro leitor, que arevista Veja posicione-se favorável ao Não, vistoque esta frente é “encabeçada” pelo PFL. Há interessespolíticos e econômicos por trás do referendo?Certamente que sim, em ambas as frentes,cabe a você leitor, analisar de modo crítico os doisposicionamentos e não permitir que lhe imponhamo seu voto. Analise os argumentos, leia otexto da Lei do Desarmamento, pois ao contráriodo que argumenta a frente pelo Não, você nãoestará perdendo um direito ao apoiar a proibiçãodo comércio de armas, ao contrário, estará dandoimportante passo para exigir do Estado que estesim não deixe de lhe garantir o seu direito à segurançapública.Leia a Declaração Universal dos DireitosHumanos, leia a Constituição Brasileira e verifiq ue se nesses documentos, algum artigo noshttp://www.univali.br/monitor 44


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAconfere o direito de colocar a vida alheia em risco.Pergunte-se, caro leitor, o que a posse de umaarma representa, para quê realmente você precisadela. Certamente não é para lhe garantir algumdireito. De todo modo, como você pôde perceber,eu votarei Sim no dia 23, por todos os motivosque aqui deixei expostos. Mas esta, caro leitor, é aminha opinião e eu deixo claro isso, não a “vendo”como o exercício da verdade plena, mas como umponto de vista. Você pode concordar comigo ounão, este é seu direito. Não permita que o tirem,não permita que tomem a decisão por você.http://www.univali.br/monitor45


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIASobre segredose sobre confi ançaRogério Christofoletti em 11/11/2005Parecia um trote, mas era verdade. Quandoa revista Vanity Fair de 30 de maio chegouàs bancas trazia uma notícia-bomba: a revelaçãodo maior segredo jornalístico da imprensa norteamericana.A reportagem de John D. O’Connorapontava a identidade do Garganta Profunda, afamosa fonte de informação do Washington Postna série de reportagens que ajudou a derrubar opresidente Nixon na metade da década de 70.O Garganta Profunda era ninguém menosdo que o nº 2 do FBI, W. Mark Felt. E o título damatéria era impactante: “Sou o cara que chamaramde Garganta Profunda”. A edição da revistacausou alvoroço no meio jornalístico norte-americano(e por tabela de todo o mundo), que esperavauma confi r mação da informação. Isso só veiono dia seguinte, na capa do próprio WashingtonPost, com textos dos dois repórteres imortalizadospelo episódio do Watergate: Carl Bernstein eBob Woodward. Um segredo de 33 anos ruía...Entretanto, desde 2002, Woodward cogitavaacabar com ele. O repórter havia sido o únicoa tratar com a misteriosa fonte durante as investigaçõesem 1972. Conforme mostra “Todos oshomens do presidente”, filme de Alan J. Pakula,ambos se encontravam secretamente na calada danoite numa deserta garagem subterrânea. Trocavaminformações, e Felt sinalizava onde os repórteresdo Post poderiam confirmar as informaçõesvazadas pelo oficial do FBI. Após trinta anos desigilo absoluto sobre a identidade da fonte, Woodwardse atormentava ainda com o destino quedaria a essa preciosa informação: revelar ou não?E quando? Após a morte de Felt? Levar o segredopara o próprio túmulo. Woodward preparava háalguns anos os originais do que em 2005 tornouse“O homem secreto”, relato que não apenas organizavaas informações que rondaram a sua relaçãocom o Garganta Profunda, mas que dava algunssentidos e motivações às personagens de um dosepisódios mais ruidosos da democracia ocidental.Assim que Mark Felt resolveu confessar suaidentidade secreta à Vanity Fair, uma montanhade responsabilidade saiu das costas de Woodwardque se apressou a finalizar o livro. Em dez dias,conta, a história estava pronta para ir às rotativasda Simon & Schuster, e poucos meses depois, chegouao Brasil pela Editora Rocco.O que poderia ser considerado um lançamentooportunista mostra-se como um importantedepoimento sobre a própria condição dosjornalistas frente a suas fontes de informação.“O homem secreto” não se ocupa da revelaçãodo nome por trás dos vazamentos ofi c iais, mas sedebruça sobre como se deu o relacionamento deWoodward e Felt nesse tempo todo. E isso nãoé pouco, já que há dados importantes para umareconstituição desses laços. Não é pouco tambémporque não são freqüentes os relatos jornalísticosque expõem as vísceras de nosso métier. Nestesentido, Woodward se mostra tão sincero quantoSamuel Wainer em “Minha razão de viver”, emboraseu estilo seja mais elegante e racional. Se ojornalista da Última Hora confessa “ter se corrompidoaté a medula” para ter o próprio jornal,o colega norte-americano reconhece que foi bemhttp://www.univali.br/monitor 46


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAlonge para manter o segredo e a fonte: “Fui insistentedemais, dissimulado, usei Mark Felt e mentipara um colega”.Com isso, caem alguns chavões que sustentarama maior história do jornalismo investigativo dosEstados Unidos. Woodward era um jovem repórter,ainda inseguro, com uma grande história e uma fonte(bem informada e disposta a colaborar). Ambos seconheciam desde o final dos anos 60, antes mesmo deWoodward tornar-se jornalista. Felt tinha a idade deseu pai, e em muitos momentos, sente-se que a relaçãode ambos beirou uma certa paternidade na medidaem que o repórter buscava no agente um ponto deaconselhamento e confiança. O relacionamento descritodá uma dimensão muito próxima do que realmentese dá nas lidas jornalísticas cotidianas: o repórterse aproxima demais da fonte, perigosamente. E ospapéis de ambos se misturam, confundindo a quemservem.Credibilidade e confiançaUma fonte é um trunfo, uma segurança, umagarantia. Jornalistas não vivem sem elas. Nem mesmoo jornalismo se edifica sem as fontes de informação.E mesmo apesar dessa evidente dependência, o jornalismose condicionou a tratar as fontes com distância,com uma certa arrogância e nem sempre com respeito.Inicialmente, as fontes são encaradas também comincredulidade, e precisam se mostrar fidedignas, confiáveis.No jargão das redações, ouve-se que é precisoestar próximo o bastante da fonte a ponto de extrairinformações relevantes, mas distante o suficiente paranão se contaminar com ela. A orientação de condutaassume ares de fórmula impossível na rotina profi s -sional. Afi nal, como se mede a distância de segurançaque protege o jornalista dos interesses da fonte e lhepermite ao mesmo tempo sugar o que interessa ao público?Essa orientação funciona como um dispositivode segurança para que o jornalista não se deixeusar, mas não impede que o contrário ocorra.Na verdade, o que se vê é o repórter rondando afonte sorrateiramente, chegando a ela com interessesnem sempre declarados e deixando o terrenoassim que estiver saciado. É uma espécie devampirismo. Mas dos dois lados, não nos deixemosenganar. Há fontes interessadas na projeção,na notoriedade e na ampla difusão de versões quelhe interessam que a mídia pode proporcionar. Osvazamentos de Felt, no caso Watergate, não se derampor civismo ou patriotismo do nº 2 do FBI.Seus encontros com Woodward nas madrugadasforam movidos por rancor e inveja, pelodesejo de controlar os passos de outros atoresda política. Basta ler o relato de “O homem secreto”,já decantado pela História. E por essadimensão, os personagens do épico que foi Watergaterevelam-se santos-com-pés-de-barro.São imperfeitos, trazem fraquezas nos bolsosde seus ternos, escondem mesquinharias emsuas pastas e crachás. Perdem a estatura de mocinhose bandidos. Woodward e Felt estão ancoradospor boas intenções, nutrem sentimentoscivilizados, mas não são imaculados. Seusperfis tornam-se mais porosos, após a leitura dorelato do repórter.http://www.univali.br/monitor47


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO jornalismo e as fontesMas jornalistas precisam de fontes, e fontesprecisam de jornalistas para fazer circular suas versões.O jornalismo se equilibra sobre isso também.E essa gangorra é dinâmica. Há uma expressãoque sintetiza uma preocupação recorrente entrejornalistas: “cultivar a fonte”. Isto é, aproximar-sedela, ganhar sua confiança, extrair as informaçõesnecessárias e manter um bom relacionamento demodo a que, num outro momento oportuno, sepossa voltar a ela e novamente se abastecer comoutros dados. Nesse sentido, o nome que demosaos nossos entrevistados e consultados – “fonte”– é mais do propício, afi n al é deles que bebemos(ou sugamos) a substância que serve de matériaprimapara nossos relatos.A relação entre fontee repórter é regida por algumaporção de confiança mútua.A fonte acredita que suaversão não será distorcida oupervertida. O profissional crêque as falas de seu entrevistadoestão próximas do queconvencionamos chamar de “verdade”. Confi a nçaé um vaso que não se cola. Isto é, assim que ela équebrada, juntar seus cacos é uma tarefa complexae nem sempre totalmente restaurativa.Os laços que mantiveram Woodward e Feltdurante 33 anos vedaram a identidade do GargantaProfunda. E é evidente que esses laços eramde extrema confiança. O relato do repórter deixaentrever até mesmo um tipo particular de amizadeentre eles. Não freqüentavam as próprias casas;não tinham contatos constantes; mas compartilhavamde um segredo capaz de fazer desmoronara cúpula da República. Tanto para o ofi c ial do FBIquanto para o setorista de Política é um motivoque estremece... Com o circo armado por causade Watergate, muita lama respingou em gentegraúda do FBI e do governo, e Felt chegou a serperseguido, responsabilizado (dada a sua posiçãono Bureau) e até mesmo condenado. Não foi fácilpara o ofi c ial, e Woodward sentiu remorso e desconfortodiversas vezes nesses anos tantos, malestarque reforçava a necessidade de se calar sobreo Garganta Profunda. Parecia haver uma dívidacontraída e que deveria ser honrada.Nesse sentido, Woodward não apenas guardao segredo, mas protege a fonte a ponto de espalharpistas falsas ao longo dos anos, de formaa desviar o olhar e as apostas dos que queriamadivinhar o nome por trás do Garganta. Para orepórter, proteger Felt “era uma questão do meutrabalho, uma questão de honra”. Esse compromissoexemplar de proteção à fonte e de manutençãode um sigilo por décadas talvez hoje sejaimpossível, basta comparar ao caso Judith Miller,a repórter do New York Times. Jamais contar foia lei que Woodward se impôs. Fora o repórter ea fonte, apenas mais cinco pessoas conheciam averdade.Parece cristalino que Woodward foi bemlonge no relacionamento com sua fonte, podendo,inclusive, ter errado, poupando-a de julgamentosmais críticos. Mas como proceder nesse caso? Quetipo de pacto se firma com um informante? Atéonde se pode ir com isso? Woodward justifica:“Garganta Profunda era alguém que sabia – uminformante do lado de dentro – mas era igualmenteuma pessoa que dramatizava os limites dojornalismo. Não há soro da verdade. Informantesjogam com suas próprias regras. Os melhores informantesnão dizem quais são essas regras”. Masoutro questionamento se impõe: Para conseguir ainformação, até onde se deve aceitar que a fontedê as cartas?http://www.univali.br/monitor 48


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIA“O homem secreto” permite perceber commais nitidez e maiores contornos um relacionamentoprofi s sional que não delimita muito bemas fronteiras que o circunscrevem. O livro possibilitatambém entender algumas das condições desustentaram o fôlego do Washington Post na investigaçãodo caso. No depoimento de Bernsteinno fi n al do volume, uma revelação importante: osrepórteres – sem saber ainda ao certo onde estavamescavando – percebem que a série de reportagenspoderia sim abalar irreversivelmente o governoNixon. “Oh, meu Deus! Esse presidente vaiser derrubado”, alarma-se Bernstein que é compreendidopelo colega. Eles combinam de nuncafalar em impeachment na redação por uma razãosimples: “Nossos editores podiam pensar que tínhamosuma meta estabelecida, ou que nossasreportagens eram megalômanas, ou até que estivéssemospassando dos limites. Qualquer sugestãosobre o futuro do mandato de Nixon podiaprejudicar nosso trabalho e o esforço do Post paraser imparcial”, lembra Bernstein.Preocupações como essas têm sido cada vezmais raras. Repórteres, hoje, pré-julgam, tratamindícios como provas, perseguem, tensionam paraum dos lados. Fazem de suas reportagens o atestadode óbito de reputações e concentram poderquase ilimitado na condução de alguns casos.Certamente, o jornalismo de hoje não é o detrinta anos atrás. Mas o que mudou? O público?Os valores que nos acompanham? Os jornalistasou a forma de fazer jornalismo?http://www.univali.br/monitor49


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Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAPrecisamos de qual código?Rogério Christofoletti em 30/03/2006Faz pouco mais de vinte anos que temos oatual Código de Ética dos Jornalistas. De lá pracá, muita coisa mudou nas redações e no mundofora delas. Tivemos avanços tecnológicos que deveriamtornar os fechamentos das edições tarefasmais fáceis e descomplicadas. Tivemos mudançasnos hábitos de consumo de informação, fazendodespencar tiragens e crescer a segmentação. Temoshoje rotinas que não prevêem mais fechamentoou mesmo reuniões de pauta. É assim nossites de informação: se a cada segundo, há novasatualizações de matérias, o prazo final para fechamentodas edições é a todo momento e a reuniãopara levantar novos assuntos deixou de ter importânciadurante o dia...O tempo mudou, o jornalismo também,mas e os jornalistas?Estes também já não mais os mesmos e algunsdos valores que escoravam suas práticas (ediscursos) esfacelam-se a cada dia. É o caso daisenção total, da objetividade, cada vez mas contestada...Se a profissão mudou, novas condutas humanasse impõem, e é claro, há novos pactos doque é certo ou errado, bom ou ruim. Códigos deética servem um pouco para isso: estabelecer marcosde orientação de conduta, sinalizar rotas. Maspara além de salientar linhas de limites intangíveis,códigos de ética funcionam como cartas deintenção à sociedade. Esses documentos chegamao grande público como uma demonstração deque a categoria em questão se preocupa com retidão,honestidade e caráter, e que os profi s sionaissignatários comungam de valores nesta direção.Pode não ser lá muito eficiente, mas é importante.Pode não ser um instrumento forte depressão para uniformizar atitudes, mas códigosde ética são necessários sim.Debruçado sobre as víscerasEsse trelê-te-tê todo me permite introduzira questão: que tipo de código de ética esperao público quando se trata de jornalistas? E mais:que tipo de documento os profissionais podemformular?Essas indagações se impõem agora, quandoa categoria passa a revisar seu código. Agora, navirada de março para abril, acontece em Londrinao 1º Seminário Nacional de Ética no Jornalismo,ocasião que propostas ao código serão apresentadase debatidas. É um ensaio para uma discussãomais ampla e aprofundada, que ocorre em OuroPreto (MG) em julho, quando a Federação Nacionaldos Jornalistas (Fenaj) promove mais umcongresso brasileiro desses profissionais.Acho que é um momento oportuno prasentar e se virar sobre si mesmo, investigando emcada dobra das vísceras o que vale e o que deixoude valer entre os princípios que balizam essa prática.Parece uma cena exagerada a sugerida, masnão consigo pensar de outra forma. É um exameque precisa ser minucioso, atento, sem pressa. Sempiedade também.http://www.univali.br/monitor51


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAA sociedade precisa de um código de éticaque zele pelo bom jornalismo e saliente a urgênciade jornalistas corretos, íntegros e comprometidos?É evidente que o seminário de Londrina nãodará conta de todas as questões. Mas perguntarnão ofende, não é mesmo?Será que mencionar o direito do público àinformação num código de ética garante essa condição?Será que um código só se sustenta por obrigaçõese deveres?Se há poucas brechas para punições mais severasaos faltosos, que caminhos buscar?Além do apego à verdade, à diversidade e àpluralidade, que outros valores cabem num códigocomo este?As comissões de ética são as instâncias maiseficientes para julgar processos profi s sionais? Senão elas, quem pode fazê-lo?Que novas demandas a sociedade alimentaquando o assunto é jornalismo e comunicação?Uma reforma no código altera a nossa realidade?A quem servimos?A expressão “interesse público” ainda temalgum sentido?http://www.univali.br/monitor 52


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAFoco na éticaRogério Christofoletti em 12/04/2006Já era hora dos órgãos de classe dos jornalistaspromoverem um evento para discutiramplamente a ética na profissão. Isso sedeu entre os dias 31 de março e 1º de abril emLondrina (PR) com o 1º Seminário Nacionalde Ética em Jornalismo, realizado pela FederaçãoNacional dos Jornalistas (Fenaj) e pelosindicato local.Na pauta, alguns dos principais temasque rondam o fazer jornalístico – uso de câmerasocultas, o dever de informar e a formaçãoética nas escolas de comunicação. Mas oseminário também foi o início do processo derevisão do Código de Ética da categoria, cujaversão atual está completando vinte anos.Meses atrás, a Fenaj fez um chamado aossindicatos para que encaminhassem sugestõespara a reformulação do documento. Poucosatenderam ao pedido a tempo, e outras propostasforam apresentadas no meio do Seminário,em cima da hora, o que tumultuou umpouco a sistematização dos trabalhos.Com diversos pontos díspares, não sechegou a uma nova versão consensual do código.Uma comissão foi formada para reordenaras informações e reapresentar as propostasem julho, durante o Congresso Nacionaldos Jornalistas, em Ouro Preto (MG). Oevento deve definir um novo código de éticapara os jornalistas. Será o quarto código dacategoria, após o de 1949, o de 1968 e o de1986.Confl ito de interessesA discussão mais palpitante do SeminárioNacional de Ética em Jornalismo se deu justamentesobre um ponto do atual código de ética.O jornalista Eugenio Bucci, presidente da Radiobrase um dos palestrantes do evento, identifi -cou o que considera uma impostura à sociedade.“Nosso código de ética repousa sobre um conflitodos interesses. Jornalistas versus assessores deimprensa. Somos autores dessa impostura porquepassamos às pessoas que eles têm os mesmos valorese que são o mesmo ofício. Isso desinforma asociedade”.O posicionamento de Bucci, cristalino àmesa, colide com o da Fenaj que advoga uma sinonímiaentre as funções. Para além de conceitual,este entendimento tem razões corporativas, afinal60% das vagas ocupadas por jornalistas estão nasassessorias.Bucci sabia da posição de Fenaj. A federaçãotambém conhecia a opinião do jornalista, e mesmoassim o convidou para a discussão.PúblicoO 1º Seminário de Ética no Jornalismo, aexemplo de outros eventos que envolvem jornalistas,reuniu mais estudantes que profissionais.Entre os mais de 300 participantes, a maior parteera de alunos dos cursos de comunicação do interiordo Paraná e de delegados sindicais. Profissionaisde redação e de assessorias eram escassos.http://www.univali.br/monitor53


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEssa tendência é um problema de organização doseventos ou de desarticulação da categoria? A pensar...A voz da vítimaOutro ponto alto do evento de Londrinafoi o painel que discutiu erros jornalísticos, deslizeséticos e a espetacularização da notícia. Nãopelos debates que a mesa incitou, nem pelos seuspalestrantes, mas pela presença de duas vítimasde erros da imprensa. A jornalista Vania MaraWelte fez um minucioso relato do caso das Bruxasde Guaratuba, que incriminou duas mulheresno interior do Paraná por suposto envolvimentocom seqüestro, tortura, mutilação e morte de ummenino de cinco anos num ritual de magia negra.O caso chacoalhou a mídia local em 1992 eresultou na condenação e prisão por sete anos dasduas acusadas, Celina e Beatriz Abagee. A jornalistadetalhou a sucessão de erros no processo evícios na condução. Mas o que tomou o públicode assalto não foi a proporção e o desenho de umcrime de imprensa, mas sim a presença das vítimaslá no evento. Celina e Beatriz foram à mesa,e com o auditório lotado, contaram a sua versãodo caso, as violências a que foram submetidas eas conseqüências em suas vidas. Um depoimentoarrepiante, emocionante, aterrorizador.Que liberdade?A Fenaj aproveitou a ocasião e apresentou oseu Relatório sobre Liberdade de Imprensa 2005.O levantamento é resultado de uma pesquisa emtodos os estados brasileiros, na tentativa de oferecerum perfil das violências a que foram submetidosos jornalistas no ano passado. De acordo como presidente da entidade, Sergio Murillo de Andrade,esta é uma versão preliminar do relatório,pois “espera-se que, com essa divulgação, as pessoasse motivem e novos casos sejam denunciados”.O documento descreve 64 casos de violênciacom base em informações em sites e boletinseletrônicos e nos relatos de sindicatos filiados.Destrinchados, os números apontam para 21agressões físicas e verbais, dois assassinatos, duasprisões, sete atentados, dois desrespeitos a sigilode fonte, um caso de lesão corporal em coberturade risco, seis ameaças, seis episódios de censura edezessete assédios judiciais.O estado de São Paulo foi o que mais registroucasos de violência, 12. Em 79% dos casos, asvítimas são homens, e são os homens os maioresagressores também, respondendo por 65% dasocorrências. Quatro em cada dez casos são ocasionadospor políticos ou seguindo motivaçõespolíticas.Segunda ediçãoBem organizado, o evento reuniu alguns dosnomes mais proeminentes no debate sobre a éticajornalística. Estavam por lá Bernardo Kucinski,Eugenio Bucci, Carlos Alberto Di Franco e FranciscoJosé Karam, entre outros. Os debates foramconcorridos e a sensação geral foi bastante positiva.Satisfeito com os resultados, o Sindicato dosJornalistas de Londrina já anunciou um segundoSeminário Nacional de Ética no Jornalismo, em2008.http://www.univali.br/monitor 54


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIADez propostas para o ensinode Ética em Jornalismo**Texto apresentado originalmente no Seminário de Ética no Jornalismo - Março-abril de 2006 em Londrina (PR)Rogério Christofoletti em 27/04/2006As rápidas mudanças no jornalismo e a aindagrande quantidade de deslizes éticos na imprensame permitem concluir que ainda não somos efi c a-zes na formação de nossos jovens jornalistas.Os cursos universitários não têm muito claroquando devem oferecer a disciplina e os conteúdosque tratam da ética profissional. Poucossão no começo, outros são no meio da trajetória eoutros ainda no final do curso.A disciplina ainda é acessória, tratada compouca atenção na grade. Geralmente, é tida comoapêndice da disciplina de Legislação em Comunicaçãoou Legislação do Jornalismo.Não há ainda clareza, por parte das instituiçõesde ensino, sobre que tipo de profi s sional/professor deve ministrar a disciplina.• A Compós tem 12 GTs e nenhum de Éticaem específi c o. Tem um de Criação e Poéticas Digitais.• A Alaic tem 22 Grupos Temáticos, um deÉtica e Derecho de la Comunicación• A International Association for Mediaand Comunication Research (Iamcr) mantém 14working groups, e tem um de Ethics of Societyand Ethics of CommunicationOutro fato que reforça a tese é que não háperiódicos científicos que se especializem nessatemática. Segundo o sistema Qualis, de avaliaçãode periódicos da Capes, existem revistas científic as de diversas áreas da comunicação, como asemiótica e a análise de linguagens, mas nada deética...(Em alguns lugares, são advogados, peritosem Direito, formados em Filosofi a , padres e teólogos...)As discussões sobre ética na comunicaçãoainda não gozam de um espaço específico napesquisa científi c a. Basta observar que as principaisassociações do gênero - Intercom e Compós- sequer dispõem de grupos de trabalho para aárea.• A Intercom mantém hoje 19 Núcleos dePesquisa, e nenhum deles trata especifi c amentede Ética na Comunicação. Há NP de Ficção Seriadae de Comunicação e Esporte, mas de Éticanão.As propostas1. A disciplina e os conteúdos de Ética Jornalísticadevem compor o eixo de sustentação docurso de Jornalismo e não mera disciplina acessória.É necessário assumir a centralidade do debatesobre a conduta profissional na formação de novosjornalistas. Os conteúdos podem ser transversais,conforme prevêem as Diretrizes Curriculares doMinistério da Educação, mas é imprescindívelque disciplinas específicas de 4 ou mais créditossejam oferecidas nos cursos de Jornalismo.2. Defendo a oferta de 8 créditos obrigatóriosde conteúdos que tratem de ética, legislação eencaminhamento ao mercado de trabalho. Meta-http://www.univali.br/monitor55


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAde desta carga deve ser ministrada já no início docurso, nos primeiros semestres. Embora se contecom turmas ainda muito imaturas para esse debatee com visão bastante romântica da profissão,a oferta ajuda a formar profi s sionais com atençãopara a ética desde o princípio. No final do curso,outros quatro créditos deveriam ser oferecidoscom ênfase na legislação do setor e no encaminhamentoao mercado (obtenção de registro profi s sional,sindicalização e sentido de classe/corporação,etc.). Como se trata de eleger a Ética Jornalísticacomo eixo do curso, outras disciplinas colateraisoptativas deveriam ser ofertadas, como ComunicaçãoComparada, Crítica de Mídia e TópicosAvançados em Deontologia.3. Para lecionar a disciplina, o professordeve ter formação e experiência em Jornalismo,condições que o habilitam e o capacitam não apenasà transmissão dos conteúdos mas também àcondução de debates que reflitam a condição jornalística.4. Os conteúdos da disciplina não podemser abstratos, etéreos, distantes do cotidiano dosjornalistas, mas deve refl e ti-los. Fundamentos deética geral auxiliam, mas não devem se constituira maior parte dos conteúdos. A disciplina deveauxiliar a compreender a complexa condição dojornalista em seu cotidiano de ação.5. A disciplina não deve “ensinar ética”, masmotivar os alunos a refletirem eticamente, mobilizaremvalores para a avaliação de condutas dejornalistas em situações factíveis. Neste sentido,a disciplina não é teórica, mas instrumental, refle xiva.academia. As exposições e debates devem levar emconsideração também as experiências do mercado,os argumentos dos envolvidos, entre outros detalhesque auxiliem mais amplamente as circunstâncias.7. A disciplina precisa estar vinculada a pesquisaspara gerar novos conteúdos, de maneira a seretroalimentar. Atualmente, o cadastro de gruposde pesquisa do CNPq registra 9 menções a gruposque tratam de ética e jornalismo e 29 de ética e comunicação.8. Professores e profissionais precisam gerarmais massa crítica na área, publicando livros e artigosem periódicos. Cresceu o lançamento de títulossobre ética jornalística nos últimos 20 anos,ocupando o espaço de livros sobre a legislação dosetor. De 1985 para cá, foram lançados pelo menos20 títulos no mercado nacional.9. É preciso criar um fórum permanente dediscussões sobre ética nos cursos, seja através deeventos, do encontro com profissionais, de debatesnos sites e publicações internas ou em atividadeslaboratoriais.10. A discussão sobre a ética nos meios de comunicaçãonão pode ficar restrita aos cursos universitáriose às redações jornalísticas. É necessáriocriar mecanismos de aproximação do público emgeral, motivando a reflexão, a discussão e a leituracrítica da mídia.6. A condução da disciplina pelos professoresnão deve se pautar por uma postura moralista,prescritiva, como se todas as verdades residissem nahttp://www.univali.br/monitor 56


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO silêncio e o cinismoRogério Christofoletti em 23/05/2006Sempre bato nesta tecla: a mídia não cobrea mídia. Isto é, parece vigorar uma miopia nasredações quando a pauta envolve veículos de comunicação,jornalistas ou os dois. Ou pior: parecehaver um acordo tácito, um pacto de silêncioquando o assunto é mídia. Raras são as vezes emque saem matérias que tratem deste que é um dossetores econômicos mais poderosos e influentesdo mundo. Geralmente, elas saem em tom de autopromoçãoou fustigação de concorrentes... Namídia fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, essaojeriza fica até mais evidente.Em meados de maio, aconteceu de novo.Veio à tona nas páginas da Veja um fato pouco conhecidodo público em geral: parlamentares catarinensesdistribuem passagens aéreas a jornalistaslocais, usando bilhetes a que têm direito por seusmandatos. A revelação veio com uma entrevistaque o deputado federal Paulo Bauer (PSDB) deuà revista, com a maior naturalidade, defendendoa “prioridade da mídia”. “A mídia do meu estadotambém tem o direito de conhecer o Congresso.Eles me acompanham em audiências e, depois, fazemmatéria a respeito. É uma forma de dar maistransparência ao meu mandato”, disse o deputadoà Veja.A distribuição dos bilhetes teria acontecidodurante um jantar no dia 28 de abril em Joinville.Este é o terceiro ano seguido que o evento acontece.Mas o que há de errado?, podem perguntaros mais desavisados. Ora, os deputados dão aspassagens que sobram e não usam, retorquiriamos mais cínicos. Errado é usar recursos públicosque deveriam ser destinados ao transporte dosparlamentares para outros fins. Errado é transformaressas passagens em brindes de um sorteionuma festa. Errado é político dar presentes parajornalistas. Errado é jornalista receber presentesde suas fontes de informação, podendo comprometersua relação de distanciamento. Se levado àsúltimas conseqüências, um fato como esse podeser encarado como uma forma branda de aliciamentode jornalistas, de cooptação ou corrupção.Afinal, que jornalista teria tranqüilidade e desprendimentopara ser crítico a um político quelhe deu uma passagem aérea para Brasília?Para confirmar o comportamento-padrão,nenhum colunista da grande imprensa catarinensecomentou o assunto dado por Veja. Nenhum.A Notícia e Jornal de Santa Catarina ounão leram a revista ou ignoraram solenementeo fato. O Diário Catarinense não silenciou etrouxe matérias na terça e quarta-feiras (16 e 17de maio) repercutindo o assunto. “Deputadosassumem a ‘festa’ das passagens” foi o título damatéria sobre a denúncia que foi parar, inclusive,no Ministério Público Federal (MPF). Nareportagem, são ouvidos 13 dos 16 parlamentaresque representam Santa Catarina na CâmaraFederal e no Senado. Todos os deputados federais,conforme a matéria de apoio “Assunto tratadocom tranqüilidade”, admitiram que usamseus créditos de passagem para doar a terceiros.Ao lado dos textos e fechando a página, o Di-http://www.univali.br/monitor57


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAário Catarinense reproduz num box os nomesde todos os deputados federais do estado. Ora,o DC não se calou, não é mesmo? A matéria retomao assunto com coragem, certo? Errado. Amatéria tem um assumido tom de indignação,mas é permeada pelo mais absoluto cinismo, jáque nomeia os parlamentares e silencia sobre osjornalistas que teriam recebido os presentes.É verdade que os deslizes são diferentes.No caso dos representantes políticos, se se configurardesvio de recursos públicos, teremos aíum ato ilegal. Quanto aos jornalistas que aceitaramos bilhetes, estes não estão ilegais, maspodem ter incorrido em transgressão ética. OCódigo de Ética dos Jornalistas aponta no artigo13 que os profissionais não podem usar a suacondição para obter vantagens pessoais ou outrosbenefícios. Para além disso, aceitar um presentedesses é permitir que se estabeleça umarelação de dependência do jornalista em relaçãoa sua fonte de informação. O jornalista ficacom as mãos atadas, refém da situação. E tratara fonte com rispidez ou com um tom um poucomais crítico pode trazer constrangimentos delado a lado. Em suma, um terreno perigoso...Na quarta, 17 de maio, o DC voltou à cargacom matéria no rodapé da página: “Passagensficam sem análise”, onde confirma melancolicamenteque o caso pode não passar de um“desconforto moral”. A Corregedoria da Câmarasó poderá entrar no assunto se for provocadapelo Ministério Público Federal que aindanão deu um passo além de receber a denúncia.Mesmo assim, ainda empunhando a bandeirada transparência, o Diário Catarinense republicao box, dando nome aos bois. Não os nomesdos jornalistas que receberam as passagens,mas dos deputados que assumem distribuir oscréditos.http://www.univali.br/monitor 58


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAA coisa fica nisso. Um deputado federal –que já foi vice-governador do Estado, ao lado deEsperidião Amin – faz sorteio de passagens parajornalistas de Joinville. O maior jornal de Joinville,A Notícia, não escreve uma linha sobre isso.O maior jornal do Estado, o Diário Catarinense,veste a túnica de paladino da justiça e vai atrás doassunto, lembrando o leitor (e eleitor) de todos osrepresentantes na Câmara Federal. Só esquece detrazer à tona os nomes dos jornalistas que embolsaramos bilhetes. Entre o silêncio e o cinismo, averdade dos fatos se dilui.EM TEMPO: Depois que escrevi este texto,fui alertado pelo professor Juciano Lacerda,do Ielusc, que a denúncia partiu originalmente daGazeta de Joinville e a Veja apenas deu repercussãonacional ao fato.http://www.univali.br/monitor59


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEnviados nada especiaisRogério Christofoletti em 13/06/2006Não é exagero dizer que milhares de jornalistasse acotovelam nas ruas da Alemanha caçando notíciaspara a cobertura da Copa do Mundo. Do Brasil, centenasde profissionais afivelaram suas malas e cruzaramo Atlântico atrás da redondinha. De Santa Catarinamesmo, quase ninguém foi, mesmo o estado se gabandode ser o mais alemão do país... Pra não dizer que aimprensa catarinense deixou de cobrir a Copa, dois nomesconhecidos da imprensa local se deslocaram paraa Europa: Roberto Alves, comentarista esportivo derádio e TV e colunista do Diário Catarinense, e CacauMenezes, colunista social do mesmo jornal...Devidamente instalada em terras germânicas,a dupla passou a fazer das suas. Cacau “deu sorte” eencontrou na fila de credenciamento algumas celebridadesdo esporte bretão. O ex-técnico argentinoCesar Luiz Menotti e o craque do Barcelona SamuelEto’o. Gostou do primeiro, mas torceu o nariz para osegundo. “Eto’o é extramente mascarado. Não faloucom ninguém, não olhou pra ninguém, sequer devolveuos cumprimentos. Quando muito deixou que euo fotografasse. Parecia um rei” (DC, 5/6). Mas umapergunta me assalta: Por que Eto’o deveria demonstrartanta simpatia, se não conhece o colunista?Desde o domingo, 4, os dois abastecem os veículosdo grupo com o que se espera que seja uma coberturacom sotaque catarinense. Entretanto, a se julgar pelomaterial que vêm mandando para os telejornais locais epara suas colunas, o público vai sofrer. Provincianismo,amadorismo e deslumbramento gratuito permeiam falase textos dos enviados, nada especiais.Antes de embarcar para a Alemanha, CacauMenezes despediu-se dos colegas de trabalho com umtexto em sua coluna diária. Lembrou que na Copa anteriorse sentiu injustiçado por não ter sido convocadopara a cobertura. “Sem mover um palito, fui chamado,agora (...) Surpreso? Não. Trabalhei para isso”. Mesmonão sendo repórter da área nem especializado no tema,o colunista foi chamado e, nitidamente agradecido,prometeu empenho aos colegas que ficaram. Ainda em3 de junho, Roberto Alves não deixou por menos: “Vamosna certeza de fazer o melhor, trazendo a visão deSC na Copa”.***Roberto Alves relatou sua chegada a Frankfurt.“Já encaramos um desafi o desta monta, e estaserá mais uma cobertura diferenciada. Nos preparamospara isso”. Acho que não. Em uma de suasparticipações no Jornal do Almoço, na TV, o jornalistamostrava um show popular com dançarinasbrasileiras. Roberto Alves estendeu um microfonepara uma anônima e perguntou: “O que você estáachando?”. A entrevistada respondeu em alemão, e orepórter arregalou os dois olhos. Ele retorquiu numinglês macarrônico: “Beautifol, não?” A entrevistadafalou mais algumas frases e Roberto Alves voltou-separa a câmera e chamou o estúdio. Isso é que é preparo:vai à Alemanha sem falar alemão nem inglês.***No terceiro dia em Königstein, Roberto Alvesnão pôde mais se conter: “Estou me sentindo poderoso.Por onde passamos, com traje de cor amarela, com Brasilescrito, é uma correria. Autógrafos? Estou começandoa ficar cansado”. Subiu à cabeça, rapidinho...http://www.univali.br/monitor 60


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMais contido, Cacau Menezes se limitou a cobriro centro de imprensa em Munique. Conversacom jornalistas, mostra a construção de cenários deoutras emissoras, focaliza crachás e plaquinhas nasportas. Detalhes realmente imprescindíveis...***Qual a distância entre jornalismo e tietagem?Para Cacau Menezes, pouco separa as duas coisas.Na edição de 7 de junho do Diário Catarinense,voltou a falar que deu sorte ao testemunhar a chegadado presidente da Fifa, Joseph Blatter, no centrode imprensa. Não se conteve desta vez e enviou umafoto do momento. Mesmo absolutamente desfocada,o DC reproduziu. Ê, beleza!No dia 9, Cacau Menezes clicou o comentaristada Rede Globo e ex-jogador, Casagrande. Masprecisava ir até a Alemanha pra fezr isso?se pensar do que depende uma boa cobertura internacional.O que os enviados estão produzindode material especial? Qual o diferencial de seuscolegas que por aqui acompanham as agências denotícias? Cadê o sotaque catarinense nas matérias?Por que só se resumem a cobrir o centro deimprensa e a movimentação dos demais jornalistas?Por que não entrevistam os jogadores nacionaisou de outras seleções? Que tipo de acréscimoseus trabalhos trazem aos suplementos esportivosveiculados diariamente por aqui? Houve planejamento?Cobertura internacional é coisa séria. É coisacara. E custa muito mais do que passagens aérease diárias em euro. Pode custar a credibilidadede jornais e jornalistas... Mandar enviados nadaespeciais pode custar muito, muito caro mesmo...No dia 11, clicou Galvão Bueno e Falcão almoçando.O estilo da fotografia pode ser chamadode fl a grante-norturno-desfocado. O DC tambémpublicou o registro...***Os enviados especiais da RBS de Santa Catarinanão se dão por vencidos e sequer se envergonhamdas gafes que cometem por lá. Roberto Alves ouvea sirene da Polícia e saca o passaporte e ensaia um“desculpe” em alemão. Era engano. Cacau Menezesconta que cumprimentou a mãe do tenista Gugaduas vezes, jurando que era Alice Kuerten. Tambémera engano.***Uma semana apenas de leitura das colunasdesses profissionais na Europa é o bastante parahttp://www.univali.br/monitor61


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 27/06/2006Por um novo código,por uma nova éticaCódigos de Ética são importantes. Se elessão eficientes ou não, esta é uma outra questão. Ofato é que esses documentos, além de sinalizaremcondutas adequadas, são manifestações públicasdos valores que regem certas atividades humanas.Neste sentido, quando um grupo profissional elaboraum conjunto de regras para orientar as condutasde seus membros, não há ali tão somenteum esforço para normatizar atitudes mas tambémmostrar à sociedade que aquela categoria cultiva ese apóia em alguns valores. Que se preocupa comisso e que torna público esse cuidado.Entre os jornalistas, o código de ética profis sional está em sua terceira edição. A primeirasurgiu em 1949, provocado e conduzido pela FederaçãoNacional dos Jornalistas (Fenaj), criadatrês anos antes. Documento longo e com textoprolixo, o primeiro código vigorou até 1968,quando uma segunda versão veio à tona. Redigidoem tempos turbulentos, o código absorveu muitada atmosfera local, transferindo para os artigos amesma efervescência política das ruas e redações.A terceira versão do Código de Ética do JornalistaBrasileiro foi aprovada pela categoria em 1986,e de lá pra cá, tanto o jornalismo quanto os jornalistase a própria sociedade se transformaram.Assim, a rotina produtiva tornou-se mais intensae massacrante, os meios de comunicação de massaocuparam um lugar decisivo na vida cotidiana, atecnologia ampliou a atuação dos jornalistas, e opróprio público reconfi g urou a imagem que tinhada mídia e dos profissionais do ramo.Diante desse cenário movimentado, nadamais justo do que permitir que as regras deontológicastambém acompanhem a dinâmica social.Um novo código de ética é preciso porque umanova ética é necessária. Uma ética que considereo público não mais uma massa amorfa no processode comunicação; que reafirme valores que sãoessenciais ao exercício do jornalismo; que recordeà mídia suas funções informativa, cidadã e educativa;que possibilite à sociedade um debate maisamplo e verdadeiro sobre o processo de comunicação.Após duas décadas de vigência, o Códigode Ética do Jornalismo Brasileiro deve mudar.Em julho, o 32º Congresso Nacional da categoriairá discutir as propostas apresentadas para umanova redação do documento. Essas sugestões foramreunidas no 1º Seminário Nacional de Éticaem Jornalismo, em março e abril deste ano, emLondrina (PR). Na ocasião, não foi possível umdebate sobre as teses até porque muitas delas foramjustamente apresentadas em cima da hora. Areflexão e o calor das discussões ficam para OuroPreto, onde acontecerá o congresso.Se eu pudesse participar desse evento, defenderiaa redação de um documento mais enxutoque o atual; mais voltado ao reforço dos valoresespecífi c os da ética jornalística; mais claro e afi r-mativo; e menos explicativo do funcionamentodas comissões de ética, afinal seu regime internodá conta desses detalhes. A proposta que apresenteiao Seminário de Londrina segue essas orientações,na tentativa de oferecer contribuições ao debate.Que o Congresso Nacional dos Jornalistashttp://www.univali.br/monitor 62


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAse constitua num encontro efetivo, produtivo epositivo. Que os jornalistas possam discutir e elaborarum novo código de ética e que, no horizontede suas expectativas, esteja um jornalismo maisético e responsável, voltado para as necessidades easpirações da sociedade.Código de Ética do Jornalista Brasileiro:uma propostaI - Do JornalismoArt. 1º - O Jornalismo é uma atividade de finalidadepública, independente da natureza do controleda empresa jornalística.Art. 2º - A verdade e a fidelidade aos fatos sãovalores essenciais ao Jornalismo.Art. 3º - A liberdade de imprensa é condiçãode base para o exercício do Jornalismo e esta deve tercomo contrapartida a responsabilidade social inerenteà profissão.II - Do Jornalistad) Apresentar relatos tendenciosos ou quesobre-valorizem uma versão em detrimento de outras;e) Contribuir para a censura e a opressão devozes, corpos e consciências;f) Frustar a manifestação de opiniões divergentesou impedir o livre debate;g) Concordar com a prática de perseguiçãoou discriminação por motivos sociais, políticos, religiosos,raciais ou de sexo;h) Acumular as funções de jornalista e assessorde imprensa em situações onde haja confl ito deinteresses;i) Contribuir para o aviltamento salarial e aprecarização das condições de trabalho.Art. 7º - O jornalista pode resguardar a origeme a identidade de suas fontes de informaçãopara preservar a sanidade e integridade de seus relatos,das fontes ou mesmo do próprio profissional.Art. 4º - O jornalista é um agente social e devepautar sua condição para o amplo desenvolvimentoda sociedade, para a justiça social e para a ética em todosos níveis.Art. 5º - O jornalista deve respeitar suas fontesde informação, seu público e os colegas profissionais.Art. 6º - O jornalista não deve:a) Distorcer os fatos em seus relatos;III - Do Exercício ProfissionalArt. 8º - O exercício do Jornalismo deve contribuirpara a informação, orientação e educaçãodos cidadãos em geral.Art. 9º - Os relatos jornalísticos devem buscaro equilíbrio de versões, a pluralidade e diversidadede vozes, e a não-parcialidade, sempre fazendo prevalecerno profissional e no seu trabalho o senso deutilidade pública.b) Usar sua condição para obter vantagens financeirasou quaisquer outras;c) Fazer do Jornalismo uma prática que incite àviolência, à intolerância, ao arbítrio e ao crime;Art. 10 - A opinião manifesta em meios deinformação deve ser exercida com responsabilidadee plena consciência das conseqüências que podeprovocar.http://www.univali.br/monitor63


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAArt. 11 - O jornalista é responsável por todaa informação que divulga, desde que seu trabalhonão tenha sido alterado por terceiros.IV - Da Ética JornalísticaArt. 12 – O exercício pleno do Jornalismo seequilibra sobre rigor técnico, apuro estético e atitudeséticas.Art. 13 – A consciência ética do jornalistadeve levar em consideração os critérios técnicos daprofi s são, os valores morais da atividade jornalísticae os contextos sócio-históricos vigentes.Art. 14 – O jornalista deve observar o direitoà privacidade do cidadão.Art. 15 – O jornalista deve levar em consideraçãoque o interesse público suplanta os direitosindividuais, desde que não se incorra em delito oucrime.Art. 16 – O jornalista deve combater e denunciartodas as formas de corrupção, principalmentequando exercida com o objetivo de controlara informação.Art. 17 – O erro é inerente à natureza humana,mas o profissional deve se esforçar para evitá-lo.Quando identificada falha, igual esforço deve serdespendido para as retificações necessárias e a ampladifusão da versão mais precisa e correta.V - Das sanções aos deslizes éticosArt. 18 - As transgressões a este Código deÉtica serão apuradas e apreciadas pelas Comissõesde Ética do Sindicato (primeira instância) ou daFenaj (segunda instância de julgamento), eleitas emAssembléia Geral da categoria.Art. 19 – A Comissão de Ética receberá denúnciapor escrito e identificada de qualquer cidadãoque observar deslize ético de jornalista.Art. 20 - Recebida a denúncia, a Comissão deÉtica decidirá sua aceitação fundamentada ou, senotadamente incabível, determinará seu arquivamento,tornando pública a decisão, se necessário. Anotória intenção de prejudicar algum profissional,em caso de representação sem fundamentos, seráobjeto de censura pública contra o seu autor.Art. 21 – A Comissão de Ética ouvirá denunciantese denunciados, dando amplo direitopara manifestarem suas posições, inclusive promovendoacareações. Caso alguma das partes nãoparticipe dessas audiências, o processo tramitaráà revelia.Art. 22 – A Comissão de Ética terá 30 diaspara concluir o processo ético, a contar do protocoloda apresentação da denúncia.Art. 23 - Os jornalistas que incorrerem emdeslizes éticos no exercício profissional estão sujeitosàs seguintes sanções:a) Advertência em Caráter Privado da Comissãode Ética, em caso de falha consideradaleve;b) Reprimenda Pública da Comissão de Ética,em caso de falha grave;c) Repreensão Pública do Sindicato e da Fenaj,em caso de falha gravíssima.Art. 24 - Os jornalistas condenados por falhasgraves podem recorrer à Comissão de Éticada Fenaj no prazo máximo de cinco dias de suacomunicação; os condenados por falhas gravíssimaspodem recorrer à Assembléia Geral da categoriano prazo máximo de dez dias.http://www.univali.br/monitor 64


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAArt. 25 - Qualquer modifi c ação neste Códigode Ética só pode ocorrer em Congressos Nacionaisde Jornalistas, mediante proposição subscritapor 10 delegações representantes de Sindicato deJornalistas, no mínimo.http://www.univali.br/monitor65


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAGlobo pode revisarcritérios e princípiosRogério Christofoletti em 14/08/2006Há exatos cinco anos, um seqüestro chacoalhavaa mídia nacional. Um não, dois. Crimesem série. Primeiro, Patrícia Abravanel sumiu;depois, após retornar do cativeiro, o inesperadoaconteceu: foi a vez de seu pai, o comunicadorSilvio Santos. O circo midiático se estendeu porsemanas, não apenas por mostrar a fragilidade nasegurança dos famosos, mas também por discutirlimites à atuação dos meios de comunicação. Issoporque, no primeiro crime, Silvio Santos chegoua pedir aos veículos que se mantivessem distantesdo caso e não alardeassem notícias na tentativa depreservar a vida da filha. Muitas empresas jornalísticasatenderam ao apelo. A Globo não.Em agosto de 2001, Ana Paula Padrão – entãona emissora do Rio de Janeiro – explicou publicamentede sua bancada no Jornal da Globoas razões para furar o bloqueio do silêncio: “Nãodivulgar só beneficiaria os seqüestradores. Nãodivulgar é como dar uma aspirina a um doenteterminal”. Em alto e bom som: a Globo não negociacom criminosos.Mas o tempo passa e mudam as vontades. Orecente seqüestro de dois profissionais da Globopor criminosos da facção Primeiro Comando daCapital revelou uma nova forma de reagir a esseseventos. A emissora não apenas atendeu à chantagemdos seqüestradores – divulgou um vídeocom reivindicações – como deu pleno conhecimentodo que estava acontecendo. Não se furtoua divulgar o fato, mas não demonstrou a onipotênciae arrogância, anteriormente exibidas.Gota d’água?Se a grande imprensa estava precisando de umpretexto, já não precisa mais esperá-lo. Já tem. Nãopode mais ignorar que setores da vida urbana sofremcom práticas terroristas. O assassinato do jornalistaTim Lopes, em 2002, foi tratado como uma ação ignóbil,mas isolada de chefões do narcotráfico. Os constantesataques à Polícia paulista vêm sendo consideradosofensivas orquestradas. Mas parecia estagnar notopo da garganta a palavra “terrorismo”.Agora, com o seqüestro de profi s sionais da mídiapara forçar a divulgação massiva do discurso do crime,a tendência de midiatizar as ações do PCC atingiu umnível inédito. Não porque envolva jornalistas, mas porqueforce as empresas de comunicação a dar suporte– mesmo sob coação – aos criminosos.Após a morte de Tim Lopes, a Globo reviu seusprocedimentos acerca do uso de câmeras ocultas. Aliás,a morte do jornalista é o clichê mais lembrado quandoesses recursos são discutidos. Após os ataques em SãoPaulo, a Polícia alterou sua rotina? E os jornalistas?Com o seqüestro de seus funcionários, muda a posturada Globo frente ao crime? Muda o jornalismo ou mudaa empresa? Modifi c am-se os critérios de cobertura? Osjornalistas fi c arão mais distantes dos fatos? Arriscar-seainda fará parte de suas rotinas? Os princípios da Globovão se manter os mesmos?http://www.univali.br/monitor 66


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO cavalo do comissárioLaura Seligman em 21/09/2006Em quem devemos apostar numa corrida?No cavalo que corre na frente, é claro. Apostamosgrande soma nele, então queremos que ganhe.No Rio Grande do Sul, costuma-se usaressa analogia quando um candidato a qualquertipo de eleição se anuncia como seguidor do chefe,como o escolhido pelo atual mandante. É ocavalo do comissário – é claro que ele ganhará aeleição, seja qual for o resultado.Em boa parte do Brasil é assim que escolhemosnossos candidatos – a mídia apresentaquem são os cavalos do comissário, e gentilmentecomungamos da mesma falta de voz ao reelegê-los.Para reforçar essa condição de submissãoaos resultados já pré-defi n idos das corridas eleitorais,as pesquisas encomendadas e divulgadaspor veículos de comunicação se tornaram umaentidade misteriosa a ser desvendada. Algunscandidatos se vangloriam por algumas, refutamoutras; muitos não acreditam em pesquisa algumae as anunciam como instrumento de manipulaçãodos votos dos eleitores incautos.Em fevereiro deste ano, a revista Veja publicoureportagem sob o titulo Sem o Peso daCrise, na qual anunciava “fraudes comuns noBrasil” no que se trata de pesquisas eleitorais. AAssociação Brasileira de Empresas de Pesquisa- ABEP saiu imediatamente em defesa de seus180 associados anunciando que o país havia alcançadonível técnico equivalente ao de países delonga tradição democrática, como os europeus.Não se quer aqui discutir o nível técnico, ametodologia usada ou as intenções dos institutosde pesquisa espalhados pelo território brasileiro– alguns já tradicionais, outros de procedênciaduvidosa. Até porque a melhor das metodologiasde pesquisa já elaboradas terá de passar por etapasque as tornam falíveis – será que o pesquisador,na rua, segue os meticulosos passos determinadospor seu coordenador? Duvido muito que essa sejauma constante. Mas há um problema anterior aesse.Para quê são feitas pesquisas eleitorais? Afi n alidade das pesquisas em países de longa tradiçãodemocrática, como quer a comparação daABEP, serve como fiel da balança para candidatose partidos políticos. Mais do que as sondagensquantitativas, que medem em números a intençãoe a decisão pelo voto, são as chamadas pesquisasqualitativas que podem guiar os rumos de umaeleição. Instrumentos e técnicas como o grupofocal, que reúne proporcionalmente eleitores representandocada segmento do eleitorado, podemouvir melhor o que os eleitores decidiram – nãoapenas quem, mas principalmente por quê? Assim,candidatos podem adaptar seus planos de governoe sua propaganda no rádio, TV, folheteria.Não é assim que funciona por aqui. Numpaís de 180 milhões de habitantes, pesquisas nacionaisouvem os brasileiros por uma amostragemínfima e muitas vezes aleatória, não respeitando aestratificação deste Brasil-continente. Da mesmaforma, sua divulgação em nada contribui para ovoto consciente e para eleições justas.http://www.univali.br/monitor67


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO clima de hipódromo só é reforçado e asmais importantes questões são deixadas de forado debate que fica impregnado por gritos de “vitória,já ganhou, o povo sabe, o povo quer”. Odiscurso se esvazia e as eleições feitas às cegas dãomargem para crises políticas como a que vivemoshoje. Ninguém lembra em quem votou, todos estãorevoltados, a sujeira parece não acabar.Abaixo as pesquisas? Nada disso. São importantesinstrumentos de medição que obedecem acritérios científicos. Vivam as pesquisas. Mas arecente reforma eleitoral e a regulamentação daspesquisas para as eleições do mês que vem, publicadaem março deste ano pelo Tribunal SuperiorEleitoral, poderiam ajudar eleitores e candidatosa jogar de forma mais limpa. A regulamentaçãoprevê fi s calização e punições, mas nada fala sobreas questões éticas implicadas nesse processo.Quando o poder legalmente instituído se cala,tudo é possível de acontecer, principalmente a vitóriados cavalos dos comissários.http://www.univali.br/monitor 68


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO Código da Al JazeeraRogério Christofoletti em 20/11/2006Para muitos, foi surpresa a ampliaçãodos serviços da rede de TV árabe Al Jazeerae a oferta de conteúdos em língua inglesa. Aabertura dessa janela para o Ocidente aconteceuno último dia 15 de novembro, uma estratégiaque pretende consolidar um públicomundial de 40 milhões de pessoas. Não é poucopara uma rede de apenas dez anos, surgidaapós o boom provocado pela CNN e sediadano Oriente Médio. Daí o espanto de alguns.Os mais atentos perceberam antes queesse movimento para oeste era uma conseqüêncianatural da expansão de uma rede televisiva,fosse de qualquer natureza ou latitude.Afinal, em tempos de globalização, não se podeignorar metade do mundo. Foi exatamenteessa preocupação – estar onde os concorrentesnão estão – que fez da CNN o fenômeno televisivodos anos 90, quando ofereceu intensacobertura da primeira Guerra do Golfo.A ofensiva midiática árabe é bem articulada:montou escritórios em Londres e Washington,mesclou profissionais dos quatrocantos do mundo e, a partir de janeiro, suaprogramação vai consolidar 24 horas diáriasde notícias. Assim, a pequena emissora do Qatarse coloca como concorrente direta de gigantesdo ramo como a BBC e a CNN.ValoresA estratégia árabe se pavimenta também sobreoutros terrenos que não a tecnologia. No sitedo serviço em inglês, a Al Jazeera anuncia comdestaque seu código de ética, conjunto de princípiosque orienta a sua atuação em escala internacional.Aliás, é assim mesmo que a rede se defi n e:um serviço de mídia globalmente orientado (trocadilho?).A missão e a visão da rede estão apoiadas emdez preceitos comuns a qualquer meio de comunicaçãodo Ocidente. Aliás, conhecer o Códigode Ética da Al Jazeera poderia ser um segundosusto aos incautos, já devidamente doutrinados ajulgar os árabes como rudes, primitivos, imoraise cúmplices dos grupos extremistas. O Códigomenciona valores como honestidade, coragem,equilíbrio, independência, credibilidade e diversidade;afi r ma que a rede não prioriza aspectoscomerciais e políticos em detrimento dos critériosjornalísticos, e se esforça para encontrar a verdade;manifesta respeito aos públicos e o compromissode dar notícias com exatidão e factualidade, apresentandopontos de vista diferentes sem polarizaçãoou parcialidade. Neste sentido, o Código daAl Jazeera reforça o empenho no reconhecimentoda diversidade das sociedades, retratando-as comisenção. O documento orienta a rede a reconhecerum erro quando ele ocorre, corrigindo-o prontamente,e a ser transparente no trato das informaçõese das fontes, distinguindo – inclusive – notínottinguindo - inclusive le ocorre, corrigindo-oprontamente, e a ser transparente no trato dasinformaçcias de análise e de opinião, e evitandoconteúdos propagandísticos e especulativos. Porfi m , o Código bate na tecla da solidariedade aoscolegas de profissão em situações de agressão ouhttp://www.univali.br/monitor69


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAhostilidade, e prega a cooperação entre as corporaçõesjornalísticas árabes e internacionais paradefender a liberdade de imprensa.Como já disse, o documento apresentadopela rede do Qatar poderia ter sido redigido emqualquer país da Europa ou nas Américas. Os valoresque sustentam o meio são idênticos aos propaladosnessas cercanias. Poderíamos inferir quea deontologia jornalística é a mesma mundo afora,que os valores são universais e não poderia serdiferente. Mas não penso assim. Os valores nãosão universais e não são dados. Eles são construçõeshumanas e, portanto, culturais, subjacentesa contextos histórico-sociais, a dimensões geográfic as. Os valores que vigoram por aqui podem teranálogos acolá, mas não são os mesmos nunca.Ou quase nunca.Como a estratégia da Al Jazeera é romperfronteiras e chegar a todo o mundo, nada maisnatural do que apresentar alguns dos valores dosseus futuros públicos. Mas não penso que seja apenasum movimento comercial. É preciso lembrarque a rede tem sede no Qatar, uma monarquiado Golfo que está em algumas das vanguardas daregião. É preciso lembrar que o Qatar está muitomais aberto ao Ocidente do que outros territóriosdo Oriente Médio. Não se pode esquecer tambémque muitos dos valores expressos no Código nãocolidem com a moral oriental, e não afrontam suareligiosidade. Em alguns casos, poderiam causarproblemas para regimes fechados, mas isso nãoapenas no Golfo Pérsico...vídeos da Al Qaeda em outras ocasiões trouxenão apenas notoriedade à pequena rede do Qatar.Trouxe ainda inimigos - como as parcelasconservadoras dos Estados Unidos - e um rótulode emissora que dá guarda a terroristas. Aqui noBrasil, a influência norte-americana ajuda a fazera cabeça nesse sentido. Mas convenhamos, é muitoraso pensar assim, é muito conspiratório imaginarque uma rede televisiva seja só porta-voz deum grupo extremista. (Na verdade, as redes - emtodo o mundo - servem a muitos grupos, não aum só). Seria um suicídio midiático, um suicídiocomercial...Com a Al Jazeera, ampliam-se os olharesque dispomos sobre o Oriente Médio, região quesempre povoou nossa imaginação com magia epreconceito. Ainda confundimos libaneses comturcos, palestinos com israelenses, iraquianoscom iranianos; ainda torcemos nossos narizesquando vimos um líder religioso de lá; consideramosas mulheres objetos de opressão, imaginamosque aqueles países são imensos desertos habitadospor povos primitivos e que apenas as nossas crenças,os nossos valores e as nossas organizações sãosadias, genuínas e verdadeiras. A Al Jazeera podenos oferecer uma visão diferente dessa. Quemtem medo disso? Quem não quer se abrir a essapossibilidade?OlharesA chegada da Al Jazeera no espectro televisivoocidental causa tremores mais nas empresasconcorrentes e em alguns governos do que emseus potenciais telespectadores. A teledifusão dehttp://www.univali.br/monitor 70


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAA foto ou a vida?Rogério Christofoletti em 05/01/20072007 mal começou e já temos uma avalanchede imagens que rechearão qualquer retrospectiva nofi n al do ano. Mas, modestamente, penso que já temosuma das imagens do ano, talvez a mais forte, amais dramática, a mais humana, a mais pungente.Falo da seqüência que o repórter-fotográfi c o TiagoBrandão, do jornal Comércio da Franca, fez da mãesalvando seu filho do afogamento.A seqüência tira o fôlego quando se percebe aprecariedade do local, um poço cheio de água encardida,rodeado de barras de ferro retorcidas, numa autênticaarapuca. A mãe, uma sapateira humilde, semsaber nadar se atirou para salvar um dos gêmeos, quese debatia na água. Populares ajudaram, inclusive omotorista do jornal. Ele e o fotógrafo faziam matériasde rescaldo das chuvas em Franca (SP). Tiago,que não sabe nadar, não pulou na água. Ficou emterra, clicando. Suas imagens foram (e estão sendo)repetidas em jornais, emissoras de TV e portais dainternet pelo Brasil afora.Claro que a atitude do fotógrafo chamou aatenção de muita gente. A pergunta que não caloufoi: por que, ao invés de fotografar, ele não ajudouaquela mãe desesperada?O G1 trouxe matéria com o profissional, tangenciandoinclusive prováveis rendimentos dele comas fotos. No próprio Comércio da Franca, na seçãode comentários às notícias, uma guerra entre defensoresda atitude de Tiago Brandão e seus críticos. Osxingamentos mais frequëntes ressaltavam suas qualidadesde desumano, de mercenário, de anti-ético.Era justamente nisso que eu queria chegar...O episódio lembra muito uma crítica que JamesFallows, ex-editor do Th e New York Times, fezcerta vez, ao questionar: Jornalista é gente? O focode Fallows era uma foto - já clássica - em que colocanum mesmo enquadramento uma criança esquálidaem algum país perdido na África e um abutre. Afragildade da criança e o olhar fixo da ave de rapinanos fazem pensar que é tudo uma questão de tempo,apenas isso. A foto famosa foi feita pelo fotógrafosul-africano Kevin Carter no Sudão. O trabalholhe rendeu um prêmio Pulitzer nos anos 90,e pelo que consta, Carter teria se suicidado temposdepois, deprimido com a violência mundial e coma morte de um amigo. Consta também que Carterteve que responder centenas de vezes à perguntaque Tiago Brandão ouve nesses dias: por que nãoajudou a criança antes de clicar na máquina? Carterrespondeu que espantou o abutre após a fotoe ficou horas a fio observando a criança esquálidaque morria. Nada podia fazer. Era uma questão detempo. Ficou ali “chorando a fumando”. Fez as fotose o mundo se emocionou e se indignou com afome na África, com as guerras civis que dizimampaíses inteiros naquele continente esquecido e comas dinastias de ditadores-vassalos que escravizamseus povos em troca de migalhas atiradas por paísesmais ricos ou corporações transnacionais.http://www.univali.br/monitor71


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAFoi graças aos cliques de Kevin Carter quetivemos - pelo menos num segundo - a dimensãomais clara de uma tragédia humana que, se nãodesconhecíamos, ignorávamos.É graças aos cliques de Tiago Brandão quepudemos ter - mais uma vez - a dimensão do amorhumano, da tragédia da natureza, do descaso doshumanos com os mais pobres, etc, etc.Não estou endeusando nem Carter nemBrandão. Não. Eles também são humanos. E estavamno local e na hora onde a vida acontecia.Poderia haver mais gente. Deveria haver. Mas elesregistraram de algum modo aquilo. Perpetuaramaqueles instantes de vida e de morte.Eu penso que o jornalismo deve se ocupardisso também: registrar nossas passagens pelavida. A função de jornalistas não é se precipitarsobre o acidentado, tentando confortá-lo. Enquantoos profissionais do resgate não chegam, hátrabalho a se fazer. O registro precisa ser feito. Se oeditor vai usar ou não a foto do ensangüentado nacapa é outra história. Mas o fotojornalista (nem ocinegrafista) pode perder o momento, o timmingda vida, o pulso do fato. Tem que registrar, temque perpetuar. É isso que esperam de nós. Queestejamos diante dos acontecimentos e possamosnarrá-los, dando conta de como tudo se deu.Talvez Carter até quisesse salvar a criançaesquelética deitada sobre a relva. Mas quantoscuidados alguém em alto estado de desnutriçãonecessita? Como agir? Entupir-lhe a boca de comida?Dar água até saciar-lhe a vontade? O quefazer quando não se sabe como agir a não ser testemunharaquilo?http://www.univali.br/monitor 72


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIATalvez Tiago Brandão até quisesse mergulhare salvar a criança que se afogava. Talvez, porque Tiagoafirmou não saber nadar. E se isso for verdade, ele deveriadeixar de fotografar e se atirar, podendo inclusive morrer?Sei de muita gente que responderia que sim. E aí, talvez,não tivéssemos um mais dois cadáveres. E nenhuma foto,nenhum vestígio de como tudo aconteceu.É evidentemente uma questão de ética. A foto oua vida? Abrir mão do fato e intervir nos rumos dos acontecimentos?Assistir ou participar? É claro que eu nãotenho nem a metade das respostas às questões que lançoaqui. De qualquer forma, sei que não existe uma fórmulatambém. É preciso pensar rápido nessas situações. Consideraros acontecimentos e as possíveis conseqüências.Ler o cenário ao seu redor. Medir as conseqüências eantecipar os desdobramentos de uma ação ou outra. Seitambém que muita gente dirá: mas não há tempo parapensar, é necessário agir. Sim, e aí, nos deixamos conduzirpelo chamado Instinto. (Aliás, o episódio de Francatrouxe à tona duas dimensões do instinto: o da mãe, quese arrisca para preservar a prole, e o do jornalista, que nãose desvia do seu compromisso profissional).Desculpem, mas eu recuso a ladainha do instinto.Reforço a necessidade de pensar, de considerar, de raciocinarrápido. É preciso refletir para fazer escolhas, e agir.Optar entre uma ação ou outra não pode ficar a cargo donosso instinto. Friso que é necessário cada vez mais quenós, jornalistas, pensemos, discutamos, argumentemosnossas escolhas e caminhos. Seja na redação, seja junto àsociedade. Seja depois de episódios como este, seja em outrassituações. Quanto mais pensarmos e falarmos sobreisso, mais preparados estaremos para refletir rápido e agircom segurança e confiança. Eu rechaço o instinto nessahora. E me lembro de frase de um jornalista americanoque dizia: É necessário agir por reflexão e não por reflexo.http://www.univali.br/monitor73


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAViolência, cotidianoe as soluções que procuramosLaura Seligman em 15/02/2007A sociedade se move por demandas quemesmo que pareçam justas, muitas vezes se perdemno calor de discussões que não se aprofundam.Quem deve ir para cadeia por crimes quecometa? O restante da pergunta poderia ser:maiores de 16 ou de 18 anos de idade, mas talvezseja melhor que todos se questionem sobre aeficiência dos sistemas de segurança pública e daaplicação de leis.A discussão sobre a maioridade penalvoltou com pressa após o brutal assassinato domenino João Hélio Fernandes, de seis anos, noRio de Janeiro. Arrastado por sete quilômetros,morreu de traumatismo craniano porque quemroubava o automóvel de sua mãe, não permitiuque ela soltasse o cinto de segurança que prendiao menino no banco traseiro.O crime bárbaro choca, revolta, a gentechora em casa na frente da televisão. Mas depoisde uma semana, se conforma, entra na roda vivano dia-a-dia, e para a maioria, nem sabe se houverealmente alguma mudança eficaz que garantaruas mais seguras, dias tranqüilos, noites empaz. Só não esquecem as vítimas que sobrevivema esse tipo de tragédia. Essas seguem esperandouma solução.As emoções, a consternação social, são importantessímbolos de solidariedade, um sinal deque ainda somos humanos. Mas para quem legisla,executa, administra o bem público, apesar daemoção ou da indignação provocadas pelas tragédias,a preocupação deveria ser permanente.Está errado, concordo, um menino de 16 ou17 anos ser encarcerado num outro tipo de prisão(que na verdade não se diferencia em nada) e voltarao convívio social após no máximo três anos,sem que qualquer medida educativa tenha sidotomada. Aliás, o poder público chama esse encarceramentode “medida sócio-educativa”.Quanto as cidades brasileiras se tornarammais seguras com as leis que deveriam punir osmaiores de idade? De que forma eles têm se recuperadodurante o período em que estão presos?Com quais condições retornam às ruas?O site da Human Rights Watch, organizaçãode direitos humanos, registra da seguinte maneiraas condições de nossos presídios:“Os presos brasileiros são normalmente forçadosa permanecer em terríveis condições de vidanos presídios, cadeias e delegacias do país. Devidoà superlotação, muitos deles dormem no chão desuas celas, às vezes no banheiro, próximo ao buracodo esgoto. Nos estabelecimentos mais lotados,onde não existe espaço livre nem no chão, presosdormem amarrados às grades das celas ou penduradosem redes. A maior parte dos estabelecimentospenais conta com uma estrutura física deteriorada,alguns de forma bastante grave.Forçados aconseguir seus próprios colchões, roupas de cama,vestimentas e produtos de higiene pessoal, muitospresos dependem do apoio de suas famílias oude outros fora dos presídios. A luta por espaço e afalta de provisão básica por parte das autoridadesleva à exploração dos presos por eles mesmos. As-http://www.univali.br/monitor 74


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAsim, um preso sem dinheiro ou apoio familiar évítima dos outros presos.”Não há aprendizado ou recuperação emcondições como essas. Não há sistema que protejaa sociedade do cidadão revoltado que sai desseambiente. Não que o Estado deva mimar quemcometeu crimes, mas tentar diminuir os elementosque provocam o caos social. Quem sabe comtrabalho, educação e condições dignas dentro efora dos presídios, a violência diminua. Quemsabe com responsabilidade social por parte de todos,em cada pequeno ato, a situação melhore eas tragédias se tornem somente uma péssima lembrançado passado.http://www.univali.br/monitor75


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAJoel Minusculi em 17/03/2007O caso Gabrielliem duas perspectivasDentre os tópicos de maior repercussão nosjornais, a violência está em alta. As manchetes refle tem uma realidade com requintes de crueldadee elementos só vistos em literatura de terror.Cada episódio desses desperta uma torrente desentimentos em todos os envolvidos, inclusive naimprensa.Casos como o da menina Gabrielli têm osprincipais tópicos relevantes para a imprensa:com os catarinenses, tem o caráter da proximidade;pelas descrições, possui o impacto; pelo fatode estar relacionado com segurança e pela procurado público pelo desdobramento, há o interessepúblico; e, o principal, o caráter negativo, oqual os manuais de jornalismo pregam como umdos mais relevantes neste tipo de notícia - porém,como abordado no diagnóstico da Edição 108,esta tendência não predominou nos jornais.Dois tipos de abordagemGabrielli Cristina Eicholz foi uma das vítimasrecentes da violência. A menina, com apenasum ano e oito meses, foi violentada e estranguladaem 03/03. Além da brutalidade, outro pontochamou a atenção: o corpo foi encontrado dentrode uma pia batismal, em uma igreja, na cidade deJoinville.Os jornalistas são humanos e, como tais,não são isentos de sentimentos. O problema entãosurge em como publicar o caso, entre ser totalmentefrio em um lead padrão ou pontuar odiscurso com o máximo de detalhes, para colocaro leitor na atmosfera dos envolvidos. O primeiroé o mais prático, porém o menos enriquecedor. Jáo segundo, sem cuidado, pode chegar ao extremodo sensacionalismo.Pela peculiaridade e violência do caso, todaa mídia local, nacional e, até mesmo, internacionalabordou o caso. Mas foi através da análise dosdois principais jornais da cidade onde o fato ocorreu– A Gazeta de Joinville (semanal) e A Notícia(diário) - que a diferença de tratamento foi perceptível.BarbárieA Gazeta de Joinville carrega em seu slogan“informação com isenção”. Porém, em sua ediçãosemanal de 07 a 11/3, logo na primeira página,trata o acontecido como “Barbárie” - uma claratomada de posição. Na chamada de capa, da formacomo os verbos foram conjugados, houve umanarração detalhada, ao estilo do jornalismo literário.Além disso, a matéria interna “Criança vaià igreja e é morta” é um texto sem vozes, em quenão foi citada nenhuma fonte de informações.ViolênciaO jornal A Notícia, em sua edição de 04/03,publicou o caso de “violência” numa pequena chamadade capa. Na parte interna, tratou o assuntona forma de uma matéria padrão, do “quem, oque, como, quando e onde”. Na edição do dia 05,o periódico dedicou manchete e destaque parao caso. Nesta ocasião, os textos foram baseados,http://www.univali.br/monitor 76


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAprincipalmente, no depoimento da mãe de Gabrielli.Frases de impacto e de apelo estavam emevidência nos títulos e linhas de apoio.Durante a semana, entre 06 e 10/3, as investigaçõesacerca do crime abriram a editoria de“Segurança” no AN. Neste período, o jornal publicouno topo da página uma foto de Gabrielli,com sua data de nascimento e morte. As matériasdesse período cobriram todos os detalhes, desde aconcentração de esforços de toda a polícia do Estadoaté a mobilização nacional.Menores e a éticaEm duas situações, o jornal destacou um suspeitonos títulos: “Polícia pede exame de DNA aadolescente”, em 08/03, e “Polícia suspeita que ummenor matou Gabrielli”, em 09/03. Apesar de nãodivulgar o nome do acusado, a ação da imprensaem busca de um culpado não costuma surtir umefeito positivo – similar ao caso Juliana, objeto deanálise do diagnóstico 43. Prova disso é a matériapublicada no dia 14/03 no portal G1: “Menor contadrama de ter sido suspeito de matar menina”É delicado o fato de o jornal ter deixado explícitoem um título que um “menor” está envolvidono caso, pois a retomada da discussão sobre amaioridade penal ainda é recente no país – alémde já anunciar um provável culpado antes do fimdas investigações. O típico jornalismo que acusae condena. Em alguns casos, a resposta policial aessa atitude é o silêncio, como aconteceu no casode Gabrielli, quando as autoridades tentaram preservardados estratégicos.No domingo, dia 11/03, o assunto deixoude ser destaque no AN. O jornal relembrou outroscasos que envolveram crianças no Estado. Ocaso Gabrielli esteve presente numa pequena nota.Já na segunda-feira, dia 12/03, nada sobre o casoconstou no periódico.Com a prisão do pedreiro Oscar Rosário -réu confesso -, no dia 13/03, A Notícia dedicoumanchete e destaque em “Segurança”. O tratamentográfi c o da foto voltou, assim como um quadrocom a reconstituição do caso. De teor descritivo,o texto relatou como foi efetuada a prisão. Outramatéria abordou o sentimento de “alívio” dos paiscom a prisão do culpado.No dia seguinte, o AN detalhou a reconstituição.Em duas páginas, descreveu os trabalhos epublicou um infográfico do depoimento de Rosário.Além disso, mesmo com o caso resolvido pelaprisão do réu confesso, o jornal levantou 10 questõessem respostas do caso Gabrielli - um pontopositivo no jornalismo investigativo.Montanha russaNesta análise, foi possível perceber como umcaso “quente” repercute nos jornais e o tratamentodisposto. Quando o impacto inicial do sentimentodos envolvidos deu lugar à burocracia das investigações,foi nítido o processo de “esfriamento” danotícia, sendo substituída por outros casos “quentes”.Com a resolução do caso, o assunto voltou aser destaque e, consequentemente, ganhou evidênciano jornal – como em uma montanha-russa eseus picos de emoção.Já a discussão dos limites da linguagem literáriae do simples reportar pode ser conferido notexto Da crônica policial ao texto sensacionalista.Plim PlimEm Santa Catarina, a Rede Brasil Sul deTelevisão (RBS) é afi l iada à Rede Globo de Televisão.Nesta parceria, o caso da menina mortahttp://www.univali.br/monitor77


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAna igreja de Joinville ganhou repercussão nacional.Os principais telejornais divulgaram comdestaque a fatalidade, como o Bom Dia Brasil eno Jornal Nacional.Também na internet, todos osdias, desde o inicio até o termino oficial do caso,o portal G1 acompanhou com destaque na primeirapágina o caso catarinense. Um fato inusitado,já que, quase exclusivamente, os principaiscasos publicados nesse espaço são do eixo Rio-SãoPaulo. Só mesmo um caso de violência para SantaCatarina emplacar nacionalmente.http://www.univali.br/monitor 78


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAImprensa ainda é pressionadaJoel Minusculi em 07/05/2007Ninguém sabe defi n ir ao certo o que é liberdade,porém esse é um dos estados mais almejados pelahumanidade. Infelizmente, a repressão existe em todosos sentidos, sejam sociais, econômicos, políticosou até mesmo físicos e morais. A teoria é complicada,mas a prática é comum: o impedimento acontecequando a situação vê sua posição ameaçada por umaoposição. O poder rege o passo, enquanto outros tentamse ver livres desse círculo vicioso.Informação é poder e a prática mais relacionadacom esse conteúdo é a imprensa. Os jornalistas sãopessoas que podem, num mesmo dia, pela manhã fazeruma matéria na favela e pela noite participar umcoquetel da alta sociedade. Transitam entre mundostotalmente distintos e vêm seus detalhes e problemas.Sua opinião depende da posição ou, atualmente, dequem paga seu salário.Histórias de perseguições, ameaças, violênciase mortes com estes profissionais são conhecidas detodos, principalmente nas épocas de ditadura, comoaconteceu no Brasil. Um período complicado paratodas as formas de expressão e disseminação de idéias,em que para dizer o que se queria era preciso enganaros famigerados censores. E de lá para cá houve luta eevolução na sociedade.Não faltam resoluções, como a da ConferênciaGeral da Unesco em 1997, que instituiu “o direito àvida, à liberdade, à integridade e à segurança, assimcomo o direito à liberdade de expressão são direitoshumanos fundamentais que são reconhecidos e garantidospelas convenções e instrumentos internacionais”.As organizações em defesa dos direitos humanosficaram mais atuantes, a expressão ganhou viasdemocráticas como a internet, mas a realidade aindanão é animadora para a imprensa.Hoje, os índices de violência física diminuíram.O cerceamento da liberdade acontece agora por outrasvias, principalmente as econômicas, com a hegemoniade grupos que controlam a imprensa, e pelosinstrumentos judiciais, que, ao mesmo tempo em queprevêem a liberdade de expressão, possuem diversosartigos para os que se sentem feridos pelo dito.Diversas organizações, como os RepórteresSem Fronteiras e o Comitê de Repórteres para a Liberdadede Imprensa, publicam anualmente relatórioscom números e vítimas dos impedimentos queainda persistem. Centenas de sites e blogs levantama bandeira por uma mídia democrática. E nesse embateambas as partes, opressores e oprimidos, desenvolvemmeios para continuarem em seus respectivospapéis.Na prática, sem a união da classe, sem a preocupaçãopela isenção e, principalmente, sem a noção deresponsabilidade que a imprensa, as idéias serão somenteum discurso. Sem nada concreto, essa tal liberdade,tão cantada e lutada, parece jargão de idealistaou poesia de sonhador.http://www.univali.br/monitor79


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAA Mídia Brasileira e Bento XVITh iago Amorim Caminada em 21/05/2007A visita ao Brasil da maior autoridade da IgrejaCatólica, papa Bento XVI, de 9 a 13 de maio, nãomobilizou somente a comunidade cristã-católica daAmérica Latina, mas também toda a imprensa mundial.Aliás, as viagens papais sempre ganham espaçona mídia, seja quem for o sumo pontífi c e e qual seudestino, é um assunto sempre noticiado. E é sobre acobertura de tal “evento” que quero refl e tir.seu cargo, para que desse lugar a uma assessoria querepresentasse melhor a figura do novo papa. Para ostrabalhadores da mídia nacional, uma mídia com raízesesquerdistas, o cardeal Ratzinger foi aquele quereprimiu Leonardo Boff, a Teologia da Libertação esuas marcas marxistas na Igreja. Para a grande maioriados jornalistas brasileiros, é um retrocesso ter umpapa de direita e conservador.Para melhor tratamento do tema, quero comentara predisposição negativa da imprensa, e nãosó a nacional, para com a figura de Joseph Ratzinger.Desde o desfecho do conclave, no qual o cardeal alemãosaiu como líder da Igreja, seu papado vem sendovítima de interpretações maldosas por parte da populaçãoincitada pelos jornais. O primeiro grandecaso foi a aula magna de Bento XVI na Universidadede Resenburg, na Alemanha. Foi interpretado queuma das citações usada no texto agredia a fé islâmica.Fato este que instigou hostilidade e rendeu ao papauma viagem à Turquia como forma de retratação.Outro fato vem demonstrar, além da predisposiçãonegativa, o desconhecimento da língua italiana. Nãosouberam traduzir uma expressão e confundiramchaga (ferida) com praga (peste). No mínimo, faltouum dicionário.A má interpretação às palavras do papa vemde dois grandes motivos, um internacional e outronacional. Primeiro, a demissão de Joaquim NavaroVals, assessor de imprensa do Vaticano, homem degrande respeito e prestígio perante os jornalistas europeus.O espanhol foi durante vários anos o principalporta-voz da Santa Sé e por ter sua imagemmuito vinculada a de João Paulo II, foi exonerado deA coberturaPara esta visita do papa ao Brasil, os grandesmeios de comunicação tiveram de investir em chamadase reportagens com curiosidades, prevendoe motivando a população para a chegada do chefedos católicos. Toda essa mobilização por parte daimprensa, que muitas vezes transformou coisas fúteisem manchetes, demonstra o medo das grandesmídias. O medo de mobilizar uma grande equipe dejornalistas, destinar páginas de seu jornal ou revista,horas de sua programação para um evento que nãochame atenção da massa e consecutivamente nãoresulte em audiência. Preocupação esta que povoavaas mentes de concessionários, donos e diretores dasgrandes empresas de comunicação. Obviamente coubeaos jornalistas, com pouco gosto e sempre envolvendoalgumas ironias, fazer com que a popularidadedo papa Bento aumentasse. O jornal Folha de SãoPaulo, um dos maiores e mais respeitados jornais dopaís, desde abril, destinou, quase que todos os dias,alguma nota ou matéria relacionada à visita pastoralde Bento XVI.Quinta-feira, 10 de maio. Encontro dopapa com a juventude católica no estádio do Pa-http://www.univali.br/monitor 80


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAcaembu. (Minha análise sobre a mídia se manteráquase que exclusivamente sobre esse dia, pois estavapresente na ocasião). Jovens escolhidos pelasdioceses participaram de um momento de escutada autoridade católica. Na sexta, 11, estampava ojornal Diário Catarinense em sua capa “O papaé pop e casto”, já o jornal A Notícia “Bento 16prega a castidade dentro e fora do casamento”.Diga-se de passagem, que os dois citados não fugiram,em nenhum momento, da ótica dos demaismeios de comunicação no estado e no país.Porém, cabe dizer que o tema central da noitenão foi o publicado nas capas, nem o comentadonas páginas.Primeiramente, o papa refl e tiu com baseem um trecho do evangelho (Mateus 19, versículos16-22), onde um jovem rico encontra-se comJesus. Texto que não faz menção alguma à castidadeou ao matrimônio. A mensagem principalde Bento XVI, na noite do dia 10, foi adaptar apergunta do jovem “Que devo fazer para alcançara vida eterna?” (conforme o trecho bíblico jácitado), para questões que fazem parte dos atuaisdilemas juvenis. Comentou sobre os medosda juventude, entre eles destaco o “medo de ficardesconectado diante da estonteante rapidez dosacontecimentos e das comunicações”. O pontíficedeclarou que a vida nos jovens é “exuberantee bela”. Convidou os jovens ali presentes a serem“os apóstolos dos jovens” para poderem testemunhara fé em Jesus aos demais. E a grande fraseda noite foi: “A própria juventude é uma riquezasingular. É preciso descobri-la e valorizá-la”.Frase que daria uma grande manchete, porémpouco polêmica. Disse ainda que os jovens sãoo futuro, mas também o presente da Igreja e dahumanidade. Preocupou-se com a qualificaçãotécnica dos profi s sionais juvenis, o desemprego ea floresta Amazônica.De um discurso de sete páginas destinoutrês parágrafos à castidade. Justamente esses doisparágrafos foram reproduzidos milhares de vezespor todos os meios de comunicação. Quando opapa prega castidade dentro do casamento muitosse atemorizam. Esta colocação tem o sentidode que a Igreja pede a castidade antes do casamentoe fora dele, ou seja, condena o adultério.Nos jornais, frases de efeito retiradas docontexto, nos telejornais jornalistas em offinterpretavamou liam as frases proferidas, ou oque surtia um efeito mais devastador, as frasessendo cortadas e colocadas com a própria voz dopapa, repercutindo uma postura de ultra-conservadorismo.O papel do jornalista, neste caso,é ser um transmissor daquilo que foi dito. O queaconteceu foi a interpretação dos jornalistas sobreo que foi dito. O pior de tudo é que isso nãoacontece apenas com pessoas célebres, públicas.Muitas pessoas foram vítimas, literalmente crucificados,da edição de uns, ou da interpretaçãode outros. Este não é um caso isolado. Nesse casoo que mais escutamos é: “não foi isso que eu dissepara o jornalista”. Alguns por imperícia, falta detécnica e outros por maldade mesmo. A situaçãoacaba sendo colocada nos jornais da forma maispolêmica possível, ou a mais lucrativa possível.Não digo que o jornalista não tem o direito dedar sua opinião, mas é um erro grave mascararsua opinião em uma reportagem.Durante algum tempo, fi z o exercício deanotar o que o correspondente da Rede Globofala ao Fantástico sobre o pronunciamento dominicaldo papa, o Ângelus, e na outra semana lero texto, traduzido em português, no site do Vaticanoe comparar a versão original com a versãoglobal. A atribuição, pelo telejornal, do que foidisse o papa diverge da tradução disponibilizadano site da Santa Sé. Isto é prova que o papa sem-http://www.univali.br/monitor81


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIApre foi interpretado, e no Brasil sua verdadeiravoz não ecoa.Para concluir, quero fazer rápidas observaçõessobre alguns meios de comunicação quechamaram a atenção na cobertura desta viagem.Destaco a Rede Record por ter noticiado estavisita, dando mais um passo para desvincular odepartamento de jornalismo da igreja, que comandao meio. Os privilégios da Rede Globo,que na canonização de Frei Galvão, no Campodo Marte, tinha seu espaço exclusivo e preferencialcom sua cabine, enquanto os outros meiosde comunicação brigavam por espaço em umtendão ao lado do altar. Isso sem falar que ospróprios telões instalados no campo utilizavamas imagens da TV Globo. Nada surpreendentepara quem tem sua história marcada por nefastosprivilégios. Porém, no telejornalismo, as duasemissoras que melhor cobriram este acontecimentoforam a Rede TV e a Gazeta. Em SantaCatarina, o jornal mais responsável e que soubeevidenciar vários pontos dos discursos proferidosfoi A Notícia. O jornal Folha de São Paulodestacou a vinda do papa não só muito antes,como também depois. Durante toda a semanaque passou, trouxe comentários e avaliações sobreas reflexões de Bento XVI.Talvez, por ser católico, eu esteja sendomuito criterioso nesta análise da mídia brasileira,mas acredito analisar com bom senso. Se vocêduvida, pode conferir todos os textos no site doVaticano – http://www.vatican.va – e tirar suas conclusões.Ou melhor, seja imparcial e analise oque realmente é fato.http://www.univali.br/monitor 82


MONITOR DE MÍDIAÉtica e mercado no jornalismo catarinenseMídia transformadesaparecimento em novelaJoel Minusculi e Roberta Watzko em 28/09/2007Uma família britânica sai de férias paraPortugal. Pai e mãe deixam seus filhos, umcasal de gêmeos com dois anos e uma meninacom quase quatro, no quarto e saem parajantar em um restaurante no próprio hotel, amenos de 100 metros. Algum tempo depois,os pais voltam para o local, mas não encontramuma das crianças. A pequena MadeleineMcCann estava desaparecida e um dos maioresespetáculos midiáticos começou a ser apresentadoao mundo.A cobertura do caso da menina, desaparecidadesde 3 de maio, alcançou proporçõesglobais. Apenas três dias após o sumiço deMadeleine, a mídia do mundo inteiro mostravao drama vivido por Kate e Gerry Mac-Cann, pais aflitos que pediam para o rosto damenina ser divulgado. O fato chama a atençãonão só pelos detalhes do desaparecimento,mas também pela abordagem e exploração dapauta pela mídia.Desaparecimentos são comuns em muitaspartes do mundo. Tanto que o Portal G1 de notícias,no dia 21 de setembro, publicou que só oBrasil tem 40 mil “Madeleines” a cada ano. Já arevista Isto É, em sua edição 1978, afirma que“No Brasil isso é rotina e ninguém liga”. Dadosglobais, segundo a Unicef, contabilizam queno mundo 1,2 milhão de crianças desaparecemanualmente. Apesar disso, os detalhes do casodão requintes de um romance policial. O toquepeculiar se concentra num detalhe: na Europaocorrências assim não são comuns.O caso da menina britânica comoveu figurasimportantes, como o astro do futebol DavidBeckham, a escritora J.K. Rowling e até mesmo oPapa Bento XVI. Os pais, Kate e Gerry MacCann,são médicos, gozam de boa posição social e arrecadarampor meio de doações um valor suficientepara criar o fundo para encontrar Madeleine. Alémdisso, depois que os próprios pais viraram suspeitos,algumas pessoas começaram um fundo para provara inocência dos MacCann.Onde está a responsabilidade?Se no começo o mundo se comoveu com ahistória e todos estavam preocupados com o paradeiroda menina britânica, agora as pessoas queremsaber se os pais são culpados ou inocentes. Aintriga começou entre a imprensa portuguesa, quenoticiou informações antes de a polícia confirmar,e imprensa britânica, que defendeu os compatriotas.Enquanto todos procuram Madeleine, algunsmeios jornalísticos esqueceram-se de conferir detalhesimportantes em sua atuação.A imprensa lusitana empregou uma cruzadacontra os MacCann. Tanto que Kate e Gerryanunciaram um processo contra o jornal portuguêsTal&Qual. O periódico publicou duas semanas antesdo anúncio oficial, ocorrido em 7 de setembro,que a Polícia Judiciária (PJ, equivalente à Polícia Federalbrasileira) acreditava que o próprio casal tinhamatado Madeleine acidentalmente.A informação fez muitas pessoas repensaremsua posição diante do caso. Segundo consulta fei-http://www.univali.br/monitor83


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAta pelo instituto YouGov (uma espécie de institutoDatafolha da Europa), após a divulgação da suspeita,apenas 20% da pessoas acreditavam que os Mc-Cann eram totalmente inocentes, enquanto 48%suspeitavam que os pais poderiam ser responsáveispela morte de sua filha. Outros 32% admitiram nãoter certeza. Também depois do anúncio da publicaçãode Portugal, a rádio BBC, de Londres, teveque tirar do ar uma enquête sobre o apoio ao casaldevido ao número excessivo de ligações revoltadascontra os pais.De uma hora para outra, o sentimento dominantepassou a ser do tipo “nunca confi e i na históriadesses aí”. A teoria do Agenda Setting explica queas informações publicadas podem interferir, emmuito, na opinião pública. Além disso, pelo tempoque perdura nos meios, a condução da cobertura, sefeita de forma descuidada, pode induzir os leitores aum pré-julgamento injusto do caso.Uma das primeiras lições ensinadas nas academiasé que o jornalista não deve divulgar informaçõesnão confirmadas, justamente para que umconseqüente erro de publicação não afete a vida dosenvolvidos. O Brasil, infelizmente, tem o caso clássicoda Escola Base, que prova que a busca afobadapor culpados promove injustiças. Existe ainda umavertente do jornalismo que é baseada na investigação,tanto que é chamado de Jornalismo Investigativo.Porém, quando as evidências se tornam nebulosase qualquer informação pode ser crucial, épreciso haver ponderação.por novidades, devem continuar a divulgar teses quepodem se provar muito pouco relevantes?”, o siteabre uma discussão que deveria ser permanente naprática diária do jornalismo.Os meios de comunicação não devem divulgarteses inconsistentes, se isso interferir no rumodas investigações ou no tratamento da opinião pública.Os jornalistas devem ter noção do poder dainformação que têm em mãos antes de publicá-las.A polícia tem seus motivos para preservar informações,assim como o público tem ânsia por saber dodesdobramento. No caso das informações oficiaisserem escassas, os meios de comunicação devem serhumildes, ao ponto de considerar o lado dos envolvidose não só a venda do produto jornalístico – mesmoque isso contrarie a filosofia do “furo” buscadapela imprensa. A liberdade caminha lado a lado daresponsabilidade na publicação de conteúdos, e deveser acompanhada do respeito.O desdobramento do caso levanta questõesque instigam a curiosidade do público. O mundo foicomovido e quer o fim do caso, mesmo que seja comprovadauma fatalidade, para acabar com a agoniade pais e outros envolvidos. Não é de bom tom quea imprensa passe a forçar uma situação e, com isso,queira mover o mundo. Ela deve assumir o papel doespectador da realidade que transcreve os fatos emnotícias a partir de algo concreto, e não baseada emmeras especulações.A BBC Brasil criou um canal na internet paraa discussão da cobertura do caso Madeleine. É interessantenotar como um meio de comunicação questionaa prática jornalística de toda a imprensa. Atravésde provocações como “A imprensa tem exageradona cobertura do caso Madeleine?” ou “Os meios decomunicação, acostumados a uma grande demandahttp://www.univali.br/monitor 84


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 05/11/2007Revisão bem-vinda,mas insufi cienteA Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)concluiu em agosto passado o processo derevisão do Código de Ética do Jornalista Brasileiro.Durante seu Congresso Nacional Extraordinário,realizado em Vitória (ES), delegados de23 estados discutiram e formalizaram uma versãofinal do documento, que substitui um códigode vinte e um anos.A consulta à categoria, no entanto, começouem 2004, quando os sindicatos que compõema Fenaj passaram a discutir emendas aocódigo de ética. Num segundo momento, umacomissão de especialistas sistematizou as sugestõesencaminhadas e fez consulta pública nosite da federação. Com as decisões do congressonacional, os jornalistas chegaram a uma quartaversão de um código de ética de origem sindical.O primeiro surgiu em 1949, mas foi revisado em1968. Em 1986, veio à tona o documento queserviu de base para a atuação dos jornalistas noperíodo de redemocratização brasileira.Como os avanços no jornalismo e na tecnologiaforam muitos nessas últimas duas décadas, eramesmo necessário revisar o código, modernizandoalguns trechos e incluindo cláusulas e cuidados sobressalentes.Neste sentido, a adoção de um novocódigo de ética para os jornalistas brasileiros é muitobem-vinda, mas não resolve toda a problemáticada ética no país. Por duas razões fundamentais:a legislação profissional restringe as sanções quequalquer código deontológico possa prescrever, eum código – para mostrar eficácia – precisa contarcom instrumentos de implementação efetiva.O primeiro furoMesmo que bem intencionadas, as mudançasno Código de Ética dos jornalistas nãopuderam ir muito além no âmbito das sançõesaos profissionais que incorrem em falha ética.Diferente de outras profissões, os jornalistas –mesmo que causem o pior dos prejuízos morais,por exemplo – não correm o risco de perder seusregistros profissionais por agirem de forma antiética.As sanções chegam, no máximo, a umaadvertência pública ao profissional faltoso. Secomparado a outros casos, como o dos médicos,engenheiros e advogados – que podem ser impedidosde atuarem profissionalmente -, o códigodos jornalistas dispõe de poder limitado.Para que isso se modifi c asse seria necessárioalterar a legislação e passar do Ministério doTrabalho para a Fenaj a prerrogativa de concederos registros profissionais dos jornalistas. Comisso, aí sim, a Fenaj poderia cassar os documentosde quem transgride o código de ética.Como a reforma feita é um processo limitado,claro que essa fragilidade – sanções leves– não é exclusiva desta versão do código deontológicodos jornalistas. Mas esse detalhe reduz seuraio de alcance e sua eficácia punitiva.Uma segunda preocupaçãoDeve-se elogiar a forma como a Fenaj conduziuo processo da revisão do código, pois ostrâmites exaustivos de discussão apenas dão maishttp://www.univali.br/monitor85


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAlegitimidade e representatividade ao documento.Esses cuidados ampliam o trânsito do documento,mas não garantem o seu efetivo funcionamento.O código deve ser bem elaborado, bemdisseminado, aceito e assimilado pela categoria,mas é preciso ainda que haja formas de operacionalizá-lo.A mais importante é a comissão deética. Tanto as dos sindicatos quanto a da Fenaj,de âmbito nacional. São essas comissões queacolhem as denúncias de procedimentos duvidosos,ouvem as partes, e definem sanções ouo arquivamento do processo. Por serem estratégicas,as comissões de ética precisam ser preservadase fortalecidas, disporem de condiçõesmínimas para funcionamento. Não só para trabalharemem possíveis processos abertos, mastambém para atuarem como disseminadores deuma cultura jornalística responsável. As comissões,neste sentido, não precisam ocupar apenasa posição de órgãos repressores ou censores, mastambém promotores de valores do jornalismo.Por isso, não basta apenas a reforma docódigo. É preciso que as entidades classistas entendamque o fortalecimento das comissões éessencial para que o novo código se institucionalizejunto aos profissionais. Sem esse cuidado,um código deontológico – por mais bem intencionadoque seja – não passa de letra morta.Mas o que muda?À primeira vista, comparados o códigoatual e o de 1986, pode-se notar que a versãoque saiu de Vitória é mais enxuta, já que o documentopassou de 27 para 19 artigos. Vã ilusão.Na verdade, o novo código é mais amploque seu antecessor e combina conteúdos já listadosanteriormente, fundindo artigos, o que dáa impressão de uma peça mais sintética. O códigoaprovado em Vitória contempla as indicaçõeshistóricas da deontologia jornalística no Brasil eadiciona ao menos duas importantes novidades:a cláusula de consciência e preocupações mais nítidascom métodos heterodoxos de obtenção dainformação.No artigo 13, por exemplo, o código de éticafaculta ao jornalista “se recusar a executar quaisquertarefas em desacordo com os princípios desteCódigo de Ética ou que agridam as suas convicções”.A seguir, indica que tal direito não podeser usado como justificativa “para que o jornalistadeixe de ouvir pessoas com opiniões divergentesdas suas”. A chamada cláusula de consciência é omaior avanço do novo código, e ela permite que ojornalista não violente suas convicções em nomedos interesses da empresa para a qual trabalha.Polêmica, a novidade já é um direito conquistadoem países da Europa, por exemplo. Nocontexto nacional, a cláusula de consciência surgena evolução dos debates sobre o assédio moral nomundo do trabalho. Entre repórteres e editores,não é prática rara o hábito de pautar coberturasque não só contrariam as convicções individuaisdesses trabalhadores, mas também desviam-sedas defi n ições do bom jornalismo. Por isso, paracombater os “jabás” ou as “pautas 500”, a cláusulade consciência vem como fator positivo. Entretanto,sabe-se que o mercado e o empresariado dosetor são bastante refratários a tais posicionamentos,condição que deve dificultar a implementaçãodesse direito pra valer. É algo a se conferir nos próximosanos...A segunda grande novidade no novo códigode ética se ocupa dos avanços metodológicos etecnológicos no jornalismo. No artigo 11, o jornalistaé proibido de divulgar informações “obtidashttp://www.univali.br/monitor 86


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAde maneira inadequada, por exemplo, com o usode identidades falsas, câmeras escondidas ou microfonesocultos, salvo em casos de incontestávelinteresse público e quando esgotadas todas as outraspossibilidades de apuração”. A proibição – nomesmo artigo – é flexibilizada na medida em queadmite o uso daqueles meios quando impera o interessepúblico ou quando já se tentou de tudo. Ok,ok, mas é necessário criar regras mais específicaspara essas situações? Quem deve arbitrar isso? Asempresas, em normativas internas? As entidades declasse, como a Fenaj?Questionamentos como esses devem se multiplicarnos próximos anos, com a vigência do novocódigo e com a sua assimilação pela categoria, acomeçar pelas gerações em formação e as que desembarcamdiariamente no mercado de trabalho.Nada mal, já que o código de ética pode cumprirmais uma importante função profi s sional: motivarque os jornalistas refl itam e discutam seus limitesde atuação e seu próprio campo de trabalho.http://www.univali.br/monitor87


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMERCADOA forma que o jornalismo é realizadohttp://www.univali.br/monitor 88


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAInformação entre quatroparedesGislayne Aguiar - Ex-aluna do Curso de Comunicação Social – Jornalismo na UNIVA LI em 29/04/2002Estive analisando nas últimas semanas aquantidade de veículos de comunicação em Joinville,cidade sede do jornal A Notícia. Caso fosseproporcional ao número de acontecimentos querodeiam esta cidade, o contingente de empresasjornalísticas deveria ir muito além da realidadeque se apresenta no município.Atualmente, são dois grandes jornais: ANotícia e Diário Catarinense. O primeiro nãoconsegue abranger todo o Estado, destinandopequenas notas para inúmeros assuntos, ou seja,apenas se tem uma visão geral, muito superfi c ialda realidade de notícias de Santa Catarina.Este veículo ainda resumiu Joinville ao CadernoAN Cidade, limitando cada vez mais o destaquedo município dentro do contexto estadual.Recentemente, tivemos como manchete o “maníacoda bicicleta” que tomou conta do caderno. Odrama pessoal da vida deste criminoso ocupou oespaço de tudo que aconteceu em Joinville, paraleloao caso.Todavia, pior que a situação de A Notícia éa do Diário Catarinense, veículo do Grupo RBS.Em função das disputas por destaque entre a capitale Joinville, a cidade do norte catarinense fi c acada vez mais longe dos olhares da mídia. Nós, dasassessorias de imprensa da vida, não temos muitotrabalho ao procurarmos informações da cidadeno Diário Catarinense, vamos direto à páginada Estela Benetti ou nos boxes “etc.”, raramentenossas matérias são divulgadas e quando são nãoultrapassam estes espaços.Fora do universo dos jornais impressos, háos programas de rádios, um meio de comunicaçãodiversificado, em maior número e mais próximoda comunidade. Especifi c amente em Joinville,são inúmeros radialistas espalhados pelas AM eFM, que retratam um pouco mais a rotina de notíciasdo município. Quando não pertencem aospartidos ou às igrejas, pode-se dizer que os programasde rádio desempenham muito bem seupapel social. No entanto, é explícito que nossas“pobres” emissoras de rádio dependem dos anunciantespara manterem-se no ar. Contudo, eis quesurge uma boa notícia para as mesmas, dos R$400 milhões que serão investidos em mídia em2002, R$ 250 milhões vão para rádios AM. Paraa nossa classe, a dos profi s sionais de comunicação,esta é uma “mina” na qual devemos voltar nossasatenções.Por fim, resta à comunidade joinvilense a mídiaeletrônica, onde temos no total cinco emissorasque contêm programas jornalísticos. Paraleloàs duas maiores redes, RBS e SBT, que abrem umnorte maior de notícias e possuem mais recursosfi n anceiros, destacam-se duas empresas: a TV Cidadee a Rede TV Sul. No entanto, a TV Cidadeserve como espaço amostral para esta discussão.Vivendo de pequenos anunciantes e horáriosvendidos em forma de programas, a TV Cidadetorna mais fácil o acesso e a circulação de informações.Isto porque nos mais variados estilos,ela explora seu espaço para programas tanto jornalísticoscomo de entretenimento, aliando-os dehttp://www.univali.br/monitor89


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAforma descontraída com personagens tipicamentejoinvillenses.Abrem-se horários para quem quiser comprar,destes saem programas de música – evidenciandobandas locais com participação dos telespectadoresao vivo, beleza, coluna social, debate,jornais, entre outros. Eu mesma participei de umdestes que era produzido dentro de uma instituiçãode ensino de Joinville; tudo é feito em cimado amadorismo e com os escassos recursos que setem, no entanto o resultado é bom. Sabe-se que orisco de baixar a qualidade é grande. Porém, estaé uma forma de fazer programas com a cara domunicípio, desprendendo-se dos “empecilhos”convencionais.Vejo que faltam veículos dentro dos meiosregionais, ou seja, condições para que abordemsuas cidades de modo a informar os cidadãos darealidade de suas respectivas localidades.Usei Joinville porque este é o meu contexto,meu espaço amostral. No entanto, a realidade dosmeios de comunicação é circular: mudam-se ospersonagens, o cenário, mas o enredo é o mesmo.Cabe a nós, futuros jornalistas, lutar para a ampliaçãode veículos, por mais simples que sejam, epor regionalizá-los também.http://www.univali.br/monitor 90


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUm pente fi n o nos jornaisJefferson Puff , em 31/03/2003Olhando e comparando os primeiros diasde cobertura desta segunda Guerra do Golfo pelosjornais, é possível apontar diversos aspectos docomportamento da mídia local frente a urgência deinformar, mesmo estando muito distante do fato.Das 11 edições analisadas – 16 a 27/março -, deztiveram como manchetes o conflito no Iraque. Aúnica exceção se deu em 24/3, quando editores deramcomo mais importante a conquista do títulode campeão catarinense pelo Figueirense, da capital.Das edições acompanhadas, no Diário Catarinense,nove tiveram como foto principal de capao confronto no Oriente Médio (8 da Agência Reuterse uma da Associated Press). Dessas nove fotos,seis retratam soldados da coalizão anglo-americana(16/3), seus treinamentos (18/3), os mísseis (20/3),soldados escoceses dormindo depois de uma noitede combates (25/3) ou protegendo os poços de petróleo(26/3). Apenas duas mostram cenas de explosõesem Bagdá (21 e 22/3) e somente uma identificaos destroços nas ruas iraquianas, mostrandoa população atingida (27/3).A linha editorial transmitida pelas capas nãocondiz com o conteúdo dos editoriais do jornal,nem das matérias publicadas no mesmo período(16 a 27/3). As fotos de capa elucidam os soldadosda coalizão, seus armamentos, e chegam a passar aimpressão de “heróis”, através dos ângulos utilizados.Outros jornais que também utilizam a Reuterscomo fornecedora tinham outras fotos em suascapas, mostrando uma outra visão do que estavaacontecendo.As capas do Diário não deram conta darealidade geográfica do Iraque e da região doGolfo Pérsico, não mostraram o povo iraquianonem suas tropas, não retrataram as diversas manifestaçõesde paz (nacionais e internacionais) doperíodo... O jornal só foi mostrar como estavamas ruas de Bagdá no dia 27/3, enquanto seus concorrentes,A Notícia e Jornal de Santa Catarinapublicaram uma versão visual do conflito muitomais abrangente.O AN, de 12 edições analisadas, trouxe dezfotos principais de guerra, todas da Agência AFP.Dessas 12 edições, nove tiveram como mancheteo tema da guerra. Apesar do grande destaque, odiário joinvillense mostrou vários aspectos, nãose concentrando nas tropas anglo-americanas. Acapa do AN do dia 19/3 deu o outro lado, a resistênciairaquiana; em 20/3, mostrou os curdosiraquianos fugindo; em 22/3, um soldado da coalizãoem pleno ataque, além de uma panorâmicada região residencial de Bagdá atingida; forammostrados ainda uma criança iraquiana ferida recebendoatendimento (dia 25), os soldados americanosque foram parados por uma tempestadede areia (26) e os civis iraquianos recebendo aliementosenviados pelo Crescente Vermelho (27).Já o Jornal de Santa Catarina, não priorizoua guerra em suas capas, pois de onze edições analisadas,deu apenas duas manchetes sobre fatosinternacionais e nove sobre a realidade regional.O que demonstra a força local, a certeza de vendamesmo sem ter a guerra como manchete. Dessashttp://www.univali.br/monitor91


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAonze edições, cinco tiveram como foto principala guerra, três vindas da Reuters, uma da AP e outrada própria redação (27/3: manifestação emItajaí). Nessas fotos, o jornal foi quase na mesmaonda do colega de Grupo RBS, porém conseguiusegurar um pouco mais a sede de guerra e a “admiração”belicista nutrida pelo DC aos soldadosda coalizão anglo-americana. Nas edições de 19,20 21, e 22-23 de março, retratou os soldados eos ataques ao Iraque com cenas de explosões comunsa todos os periódicos. No dia 27, sua capafoi estampada com o protesto de paz realizadopor escolas da rede pública e privada e também daAPAE em Itajaí.Ao estabelecer uma correlação entre a mensagemtransmitida - a intenção de comunicação- exibida nas capas e a opinião descrita nos editoriaisdos três jornais, pode-se concluir que omenos coerente é o DC, que mesmo estampandosuas páginas com opiniões extremamente contráriasao conflito, optou por não identificar o outrolado, não mostrar o povo iraquiano (nem seu reale palpável sofrimento, nem sua resistência armada)e nem mesmo retratar os soldados dos aliadosem ação, “fazendo a guerra”, literalmente. As imagensescolhidas eram de soldados cinematográficos,como se tivessem sido retiradas de filmes,pois os mesmos eram sempre fl a grados parados,em pose, admirando seus mísseis, dormindo outreinando. Mesmo depois dos ataques iniciados,as cenas de explosão eram todas à distância. Sóno dia 27 o DC retratou a realidade da guerra dolado iraquiano.http://www.univali.br/monitor 92


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Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAJornais ainda relutam emadmitir errosEquipe do MONITOR DE MÍDIA em 01/10/2003Quando o leitor vai à banca comprar umjornal, o que espera encontrar são informações dequalidade, sem erros, sem distorções, sem incorreções.Mas nem sempre é isso o que ocorre. Levandoem conta a pressa inerente ao jornalismo,entende-se que alguns deslizes sejam cometidos.Assim como se espera que sejam corrigidos. Buscandoanalisar a natureza e incidência dos errosnos jornais catarinenses, este MONITOR DEMÍDIA acompanhou as edições do Diário Catarinense,Jornal de Santa Catarina e A Notíciadurante os meses de agosto e setembro. Além doacompanhamento do período, foi consideradoainda o diagnóstico realizado em 17 de setembrode 2001, que apontava para mesma questão: comoos deslizes são tratados nos jornais locais?Após uma verificação mais apurada das edições,o que se percebeu é que pouca coisa mudounos últimos dois anos com relação às erratas. Seantes, elas eram escassas, insuficientes e de poucavisibilidade, neste ano, as modificações se derambasicamente sobre o aspecto visual das retificações.Pelo menos em A Notícia. Entretanto, diariamente,poucas menções a erros aparecem nosjornais, como se estes não errassem.Trocando as bolasDas 57 edições do Diário Catarinense, 18apresentavam retificações (31,5%) – um aumentode 4,5% em relação a 2001. As correções são publicadasna página do “Diário do Leitor”, no fi n alda edição, em box intitulado “DC errou”. Muitasapresentavam erros signifi c ativos de dados. Umexemplo encontra-se na edição do dia 04/08 corrigindomatéria sobre a dívida do Estado publicadadois dias antes. Na correção, lê-se que “os restosa pagar deixados em dezembro de 1998 eram deR$ 808 milhões, e não de R$ 808 bilhões, comofoi equivocadamente redigido”. Na edição do dia19/09, o DC trouxe Lauro Junkes como o presidenteda Academia Catarinense de Letras - CarlosAlberto Silveira Lenzi havia sido colocado comorepresentante desta função e a correção não informaquando o erro aconteceu. Mas esse não foi oúnico cargo informado erroneamente pelo DiárioCatarinense. O ex-senador Casildo Maldaner foiconsiderado presidente do BNDES quando, naverdade, é presidente do BRDE – dado retificadoem 11/09.Os erros também podem surpreender. É oque deve ter acontecido com o governador emexercício Eduardo Pinho Moreira, ao ler no DCde 17/09 que havia estado na solenidade de inauguraçãodo museu Weg, em Jaraguá do Sul. Naverdade, não estava presente, como foi retificadona edição do dia 18/09. E até chamada de capateve seus deslizes. Na edição de 26/08, o DC retificoua notícia publicada um dia antes sobre olocal do jogo entre Figueirense e Coritiba: “ocorreuno Scarpelli, bairro Estreito, Florianópolis, enão na Ilha, como constou equivocadamente nachamada de capa de ontem”.Além de informações incoerentes, muitoserros só foram apontados dias depois da publicação.Foi o que aconteceu com o conselho dahttp://www.univali.br/monitor95


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAprofessora da Univali Valéria Ribeiro. Segundo amatéria “Uso de cartão cresce junto com a dívida”da edição de 17/08, ela aconselhava o uso docartão e do cheque especial para o parcelamentode dívidas. Quando a retifi c ação foi publicada, nodia 26, o leitor descobre que “os cartões de créditodevem ser utilizados como opção de realizaros pagamentos das compras, e jamais para adquiri-lasacima do limite de pagamento. E o chequeespecial só deve ser usado em extrema necessidade”,segundo a própria professora. Além dos novedias para o jornal apontar o equívoco, percebe-seque houve difi c uldade na interpretação das declaraçõesda entrevistada. Esse intervalo de tempoentre o deslize e a sua retifi c ação compromete afuncionalidade da errata, já que o leitor nem semprese recorda do que leu há tanto tempo nos jornais.Além do mais, o Manual de Ética, Redação eEstilo da Zero Hora – que se aplica para todos osjornais do Grupo RBS – estabelece prazos maiscurtos para a retificação.Informações que há muito tempo são tidascomo verdadeiras também apresentaram problemas.Assim, nem mesmo acontecimentos históricossaíram ilesos de erros, como aconteceu na ediçãodo dia 26/08, ao informar que o general Figueiredoassumiu a presidência da República em1983. No dia seguinte, a nova versão: “o correto éque o presidente reassumiu o posto naquela data(...)”. Além disso, pessoas presentes nas fotos nãoforam corretamente identificadas. Um exemplo éo tucano Dado Cherem, ao ser trocado pelo líderda bancada peemedebista, Rogério Peninha Mendonça.Erro apontado no dia 11/08, na coluna dePaulo Alceu.Afogando em númerosEm A Notícia, das 56 edições analisadas,15 continham retificações (26,7%) - incidênciamaior do que os 20% verifi c ados dois anos atrás.Por não possuir um espaço definido para as correções,o jornal tem a possibilidade de retificar oerro na editoria em que foi cometido. Essas correçõesaparecem em pequenos boxes em tons decinza, destacando-se na página por contraste.Com relação à natureza destes erros, a maior parterelaciona-se à troca de nomes e números. É oque se percebe na edição de 03/08: “A maior redeprivada de farmácias de Santa Catarina é o Sesi,com 80 lojas, e não a Drogaria Catarinense(...)”.E, mais adiante: “As cem demissões na indústrianaval ocorreram no estaleiro Premolnavi e não noDetroit(...)”. Por vezes pequenos, em outras nemtanto. Alguns deslizes podem modifi c ar - e muito- a interpretação das informações por parte do leitor.Dois casos merecem ser apontados. O primeiroé a correção feita no dia 15/08 onde se descobreque a ampliação da reserva de Duque de Caxiasvai afetar 400 famílias de agricultores e não 400mil como havia sido publicado no dia anterior.O segundo trata do título da reportagem “Fogodestrói 50 hectares de mata em Blumenau” queno dia 25/09 foi corrigido. “O incêndio atingiu50 mil metros quadrados” é o que traz a correção.Um número bem distante dos 50 hectares, ouseja, dos 500 mil metros quadrados a que o títulose refere.Em 26/08, AN traz a correção: “Ao contráriodo divulgado na página A5 de ontem,o ex-presidente Getúlio Vargas suicidou-se nodia 24 de agosto de 1954 e não no dia 29. IveteVargas, não era irmã de Getúlio, mas sua sobrinha-neta”.O caso mostra que até dados históricossão passíveis de erros nas redações locais.Mas engana-se o leitor que acreditar que essesdeslizes ocorrem apenas nos textos internos,uma vez que são mais difíceis de identificar. Háerros também em legendas. Dois destes foramesclarecidos no dia 30/08, página C3. A cor-http://www.univali.br/monitor 96


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAreção traz que “Ao contrário do que informa alegenda na capa do Anexo de 27/08/2003, nãofoi o primeiro show que Paralamas do Sucessofez na Capital após o acidente de HerbertVianna. A banda esteve no X Music em 20 dejunho”. E no mesmo box: “Não é Mozart e simBeethoven que aparece na imagem da arte ‘Amúsica ao longo da história’, publicada na capade 25/08/2003”. E os erros na capa não ficaramrestritos à do “Anexo”, caderno de cultura e artesdo jornal. No dia 19/09, foi possível ler que“Diferentemente do que foi veiculado no textoda manchete ‘Queda dos juros devolve otimismoà economia’, na capa da edição de ontem, ataxa básica foi reduzida pelo Comitê de PolíticaMonetária (Copom) para 20%, e não para22%”. As colunas também não escaparam dascorreções. Na coluna “Canal Aberto”, assinadapor Cláudio Prisco, na edição de 20/09, lemosque “O colunista cometeu um deslize ao registrarque o PT da Grande Florianópolis elegeu asenadora Ideli Salvatti, mas nenhum deputadofederal, por isso que Jorge Boeira estaria entrandona região. Na verdade, o deputado MauroPassos é o legítimo representante do pedaço”.Há ainda retificações que não esclarecem o leitor.É o que se percebeu em 12/09, quando ojornal publica que “na matéria sobre os reflexosdo 11 de setembro (...) equivocadamente foi colocadoo cargo de Walter Marx como diretorda Ultramar”, mas não há definição do cargoque realmente ocupa. Correção relativa à publicidadeocorreu apenas uma vez no períodoanalisado e com uma estrutura diferenciadadas já citadas. Foi no dia 16/09, página A6:“No anúncio da empresa Casas da Água (domingo),publicado neste jornal (...) onde se lê‘Freezer Vertical Electrolux, com o preço totalde R$ 576,10’, deve ser lido ‘Freezer VerticalElectrolux, com preço total de 756,10”.Sem padrão de correçãoAo contrário do que ocorreu em seus concorrentes,no Jornal de Santa Catarina, a maior partedas correções refere-se à publicidade. Das 48 ediçõesanalisadas, apenas cinco possuem algum tipode retificação, sendo que destas três tratam de errosocorridos em anúncios. Assim, surpreende o índicede 10,42% que representa o número de edições comretificações, principalmente quando se comparacom os 23% contabilizados em 2001. As erratas doSanta que se referem a informações que foram dadasem matérias encontram-se nos dias 26/08 e 11/09.No primeiro, na página 6B, a correção explica quea tabela de classificação da série B do CampeonatoBrasileiro daquela edição é a correta – já que outra,com erros, havia sido publicada no dia anterior. Asegunda, na página 8A, traz que “A proprietária daAgência Portal dos Noivos é Ivanilde de Souza, e nãoDaniela Ziegler, como foi publicado na reportagemA Moda Agora é Casar em Setembro(...). A identificaçãodestes erros pode ter partido de fora da redação,conforme se percebe no detalhe da informaçãocomprometida. Pergunta-se: será que o jornal teveapenas estes dois erros de informação em dois mesesou muitos acabaram passando despercebidos?Monitoradas 161 edições dos três principaisjornais, o que se constata é que as retificaçõesainda carecem de mais atenção por parte dasredações. As erratas ainda são raras nos jornais;quando são publicadas difi c ilmente conseguemcorrigir os deslizes; e mesmo quando saem nas páginasdos diários, não é fácil enxergá-las em meioao mosaico de textos, fotos e anúncios. Precisão ecorreção são dois pilares do jornalismo. Ignorá-losé produzir um noticiário inconsistente e que podever sua credibilidade atingida. Por uma questãode ética e por uma questão de qualidade, os jornaisdeveriam atentar mais para isso. Até para nãoperderem mercado...http://www.univali.br/monitor97


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAs vítimas da tortura no EstadoEquipe do MONITOR DE MÍDIA em 15/04/2004Tortura e morte bem debaixo do nosso narizA Editora Insular lançou no último dia 31de março o livro “Assassinados pela ditadura”, dojornalista Luis Fernando Assunção. A obra contacomo os órgãos de repressão do regime militar,instaurado em 1964, atingiram militantes catarinenses.A data de lançamento do livro marcouos 40 anos do golpe de estado que derrubou opresidente João Goulart e, na entrevista abaixo,Assunção conta detalhes da produção de “Assassinadospela ditadura”. Luis Fernando Assunçãotem 37 anos e 14 de profissão. Graduou-se emJornalismo pela Universidade do Vale do Rio dosSinos (Unisinos), onde hoje faz mestrado em Comunicação.Trabalhou em jornais do Rio Grandedo Sul e Santa Catarina e é presidente do Sindicatodos Jornalistas de Santa Catarina.MONITOR DE MÍDIA - Como nasceu o livro?LUIS FERNANDO ASSUNÇÃO - Nasceude uma curiosidade de repórter. Depois de veruma foto de um desaparecido político - que casualmenteera catarinense - no jornal do Centro deDireitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo,decidi fazer um levantamento para mapear os catarinensesmortos ou desaparecidos durante o regimemilitar. Foi uma pré-pesquisa para verificarse a matéria seria viável. Percebi que, catalogados,havia dez catarinenses nas listas do Grupo TorturaNunca Mais e no Dossiê dos DesaparecidosPolíticos no Brasil. Daí, o próximo passo foi elaboraum projeto de feitio e convencer o jornal ANotícia da importância do tema.MM - Por que o interesse sobre esse tema?Algum motivo pessoal?ASSUNÇÃO - O interesse surgiu a partirda constatação da escassa bibliografia sobreos mortos e desaparecidos políticos nascidos emSanta Catarina. E um dos objetivos da reportagemfoi justamente esse: resgatar um pouco dahistória dessas pessoas que morreram por umacausa e continuam personagens desconhecidos dahistória contemporânea do Estado.MM - A apuração das informações trouxesurpresas? De que tipo?ASSUNÇÃO - Uma principal: a de que otema continua tabu na sociedade. Ouvir dos própriosfamiliares dos desaparecidos ou mortos políticosque até havia poucos anos eles ainda eramdiscriminados, é algo que soa inverossímil. E, deuma maneira geral, a sociedade ainda não despertoupara a importância negativa do golpe e suasfraturas na vida contemporânea brasileira.MM - O livro é a mera transposição da sériede entrevistas publicadas em A Notícia ou ele trazmais conteúdo, mais novidades?ASSUNÇÃO – Basicamente, são as matériaspublicadas no jornal. Há uma introdução, escritapelo jornalista Sílvio Melatti, a orelha, pelojornalista Sérgio Gadini, e um posfácio, onde relatoas atitudes do atual governo federal na conduçãodesse tema, tão delicado por envolver históriasde vidas.http://www.univali.br/monitor 98


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMM - Com que tipo de apoio você contoupara fazer a série de reportagens? E para fazer olivro?ASSUNÇÃO - O apoio logístico foi tododado pelo jornal A Notícia. Fomos liberados dapauta por algumas semanas para dar conta da pesquisafi n al e das entrevistas dos familiares, alémda redação do texto. O livro foi uma iniciativa daEditora Insular, que comprou a idéia depois dever a série de reportagens no jornal.MM - Que tipo de repercussão você esperacom essa obra?ASSUNÇÃO - A mais óbvia possível: a deque as pessoas entendam que todos os que morrerambrigando contra ao autoritarismo o fizeramem nome do que acreditavam, ou seja, de umacausa. E que por isso não devem ser esquecidosou rotulados de terroristas, como ainda acontecehoje, em alguns casos. É também uma homenagemàs famílias, que ainda lutam pelo reconhecimentoda importância histórica desse período ede seus personagens.social e político do País.MM - Como o jornalismo pode contribuirpara que episódios deste tipo não se repitam?ASSUNÇÃO - O jornalismo precisa sempreexercer a sua função social. Os repórteres têmo dever de levar à população uma informaçãoplural, honesta e que a contemple na necessidadepor informação. Infelizmente, na contramão dosuperficialismo e o objetivismo do jornalismo impressocotidiano, a grande reportagem perde cadavez mais espaço nos veículos de comunicação.Uma pena, já que é com esse tipo de matéria que ainformação chega com mais profundidade e comtextos mais trabalhados ao leitor.MM - Você tem menos de 40 anos e, portanto,não assistiu ao golpe. Mas que avaliação fazdesse período?ASSUNÇÃO - O golpe foi uma ruptura deum momento importante de efervescência políticavivida no Brasil e no mundo na década de 60.Infelizmente, a minha geração teve o direito à liberdadeceifado por meia dúzia de déspotas, quehoje bebe refresco à beira da piscina, de chinelos,à sombra, mas com a memória embevecida de sangue.Não tenho dúvida de que o Brasil hoje seriaoutro totalmente diferente se essas pessoas assassinadaspelos militares tivessem oportunidade deviver e, mais, contribuir para o desenvolvimentohttp://www.univali.br/monitor99


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO jornalismo catarinense empesquisaEquipe do MONITOR DE MÍDIA em 30/04/2004Estudos evidenciam aspectos da imprensacatarinenseAlém do acompanhamento sistemático dosprincipais jornais catarinenses, o MONITORDE MÍDIA também realiza pesquisas científicasenfocando aspectos da presença e importância daimprensa no mercado local. Recentemente, doisdesses estudos feitos por acadêmicos do curso deJornalismo da Univali foram concluídos: “Imprensae Desenvolvimento Social: presença dosjornais em dez municípios do Vale do Itajaí”, desenvolvidopela aluna Schayla Kurtz Jurk, e “OsDireitos Humanos nas páginas dos jornais catarinenses”,por Jeff e rson Puff , aluno do 7º período.Jornais ajudam no desenvolvimento?Beneficiada por uma bolsa do Probic-Univali,Schayla Jurk queria discutir o binômio queassocia o bom desenvolvimento das sociedadescom a presença de uma imprensa consolidadanaqueles contextos. Assim, a aluna indagava sedez cidades do Vale do Itajaí, escolhidas por seusindicadores sociais, tinham evoluído graças aosjornais ou a despeito de sua existência. “Em quemedida jornais e revistas auxiliam na promoçãosocial? Sociedades que consomem mais informaçãopela mídia são sempre mais desenvolvidas?Como isso se apresenta numa região onde os índicesde desenvolvimento são altos?”, perguntou apesquisadora.O estudo concentrou-se no Vale do Itajaípor ser a área de infl u ência da universidade financiadorae por ser a região que concentra os maioresíndices de desenvolvimento, conforme dados doIBGE e do governo do estado. Foram escolhidosos seguintes municípios: Blumenau (Populaçãode 261505 habitantes, índice de desenvolvimentosocial alto), Botuverá (População de 3757 habitantes,índice de desenvolvimento social médio),Brusque (População de 75798 habitantes, índicede desenvolvimento social alto), Gaspar (Populaçãode 46381 habitantes, índice de desenvolvimentosocial médio alto), Guabiruba (Populaçãode 12986 habitantes, índice de desenvolvimentosocial médio), Indaial (População de 40163 habitantes,índice de desenvolvimento social médioalto), Itajaí (População de 147395 habitantes, índicede desenvolvimento social alto), Navegante(População de 39299 habitantes, índice de desenvolvimentosocial alto), Rio do Sul (Populaçãode 51650 habitantes, índice de desenvolvimentosocial médio) e Timbó (População de 29295 habitantes,índice de desenvolvimento social alto).Após a tabulação dos dados, a pesquisadora seguiupara as cidades para observar as realidades locais elevantar dados do mercado de jornal nos municípios. Ocruzamento destas duas variáveis é que poderia apontarse existe uma estreita relação entre desenvolvimento sociale a presença dos jornais nas localidades. Percebeu-seque em Brusque, Indaial, Itajaí e Timbó, essa relação éexpressiva; em Rio do Sul e Gaspar, é pouco significativa;em Botuverá, Guabiruba e Navegantes, a relaçãoé pequena; a insuficiência de dados não permitiu quese concluísse sobre a correlação direta Presença dos Jornais-DesenvolvimentoSocial em Blumenau.http://www.univali.br/monitor 100


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIASchayla Jurk concluiu que pode-se supor queos municípios teriam atingido seus níveis sociaisda mesma forma como se apresentam hoje, mastais processos poderiam ter sido mais lentos. Paraalém das conjecturas, o que se tem é que não háum modelo único que aponte a influência da imprensanos planos locais de desenvolvimento dascidades analisadas. As características essenciaisque configuram a conjunção do binômio Mídia-Desenvolvimento não são uma regra, mesmo apesarde sua evidência em alguns municípios. Talconclusão motiva a questionar a premissa segundoa qual sociedades bem informadas sempre sedesenvolvem mais que suas semelhantes sem órgãoslocais de informação. No Vale do Itajaí, afirmartachativamente isso pode se configurar numerro de análise da conjuntura local. Por outrolado, indagar a premissa nos convida a repensar opapel da imprensa nessas localidades, motiva-nosa questionar o peso e o alcance desses jornais e suafunção social nesses territórios. Em tempos comoos nossos, com sociedades cada vez mais complexas,ter tais respostas pode ser imprescindível paradeterminar metas de crescimento econômico e,principalmente, social.A imprensa cobre os Direitos Humanos?Beneficiado por bolsa de estudos previstano artigo 170 da Constituição Estadual, o alunode Jornalismo Jefferson Puff concluiu no fi n alde 2003 a pesquisa “Os Direitos Humanos naspáginas dos jornais catarinenses”, que desejavatraçar um mapa da visibilidade e da presençados Direitos Humanos (DH) nos três principaisjornais catarinenses - A Notícia, Jornal de SantaCatarina e Diário Catarinense – entre agosto enovembro de 2003. Esse mapeamento ajudariaa revelar se o assunto é considerado enquantopauta jornalística e que tratamento tem no noticiáriolocal.O estudo observou aparição e ocorrência,nominação e repercussão dos direitos expressosna Declaração Universal dos Direitos do Homem,por meio do monitoramento sistemáticono período previsto. Das 349 edições analisadas,212 acabaram mencionando o tema, o que correspondea 60%. Esses números permitiram concluirque os DH aparecem com freqüência nos jornaiscatarinenses. Nas 212 edições, foram contabilizadas368 menções. A simples presença de mençõesaos DH demonstrou uma preocupação dos meiosde comunicação em pautar a temática e tambémum interesse do público em consumir informaçõesdo assunto, concluiu o pesquisador.Entretanto, um aspecto chamou a atençãodo pesquisador: o tema apareceu nas primeiraspáginas apenas 46 vezes (12,5% do total), rendendosó 7 manchetes (1,9%), o que relativiza sua importânciana hierarquização dos assuntos do diana capa dos jornais.A pesquisa apontou ainda que das 368menções, 300 (81,5%) foram noticiosas, das quaisapenas 14 reportagens (4,6%). Percebeu-se, então,que os jornais estão se esforçando para cobrir osDH, mas isso se mostra principalmente no gênerojornalístico “notícia”, com tratamento rápidoe superficial. Em termos opinativos, das 349 ediçõesanalisadas, em apenas 18, os DH motivarameditoriais dos jornais, o que revela pouca preocupaçãodas empresas com a discussão mais detidado assunto.Na análise das edições, percebeu-se umadistribuição mais ou menos uniforme das ocorrênciasao longo do período escolhido. Das 368menções, foram 82 em agosto (22,2%), 120 emsetembro (32,6%), 104 em outubro (28,2%) e 62em novembro (16,8%). O mês de Setembro concentrouo maior número, graças à convergênciahttp://www.univali.br/monitor101


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAdos episódios mais marcantes envolvendo DireitosHumanos, no período: o caso Chan Kim Chang,a abertura dos processos contra os ex-ditadoresargentinos, o caso da seita paraense que torturava,mutilava e matava crianças, o caso Gugu-PCC evisita da relatora da ONU Asma Jahangir ao Brasil.A conclusão aponta para o fato de que a presençados DH nos jornais refl e te a A pesquisa reiteraa afi r mação de que a realidade desses direitosna sociedade brasileira: ainda vigora um quadrolonge do ideal. Puffconclui que os DH são pautasdos jornais, mas ainda recebem tratamento instantâneo,superfi c ial. Falta aprofundamento dereportagens e empenho dos jornais em editorializarmais o assunto. Para o pesquisador, “pode-sedizer que os jornais catarinenses estão começandoa cumprir melhor o seu papel, mas ainda devempercorrer um longo caminho se pretendemrealmente auxiliar a sociedade na construção deuma cidadania real.”http://www.univali.br/monitor 102


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEm SC e na redeEquipe do MONITOR DE MÍDIA em 14/06/2004Veja alguns dos endereços da mídia catarinensemais visitados na internet.destaque a Tarcísio Mattos, um dos proprietáriosdo arquivo. Conheça.Paulo Alceu: o colunista político saiu do DiárioCatarinense e da RBS TV há dois meses einaugurou seu website no último dia 19 de maio.Ao navegar, o visitante vai encontrar colunas diáriascom comentários e informações políticas– no mesmo estilo adotado na imprensa e na TV,inclusive com o inconfundível bordão “A vida segue...”-, além de entrevistas e espaço para o leitor.Acesse.Raul Sartori: colunista do Anexo, de A Notícia,o jornalista reproduz em seu site as mesmasnotas de seu espaço no jornal. Não há outros conteúdosalém disso. Acesse.Marco Cezar: ex-fotógrafo dos principaisjornais do Estado, atua hoje fazendo cobertura defestas e eventos. Seu website é dos mais atraentes:têm navegação fácil e ágil, anunciantes e muitasfotos. Confira.Diário Catarinense: navegue pelo websitedo DCA Notícia: leia o jornal de Joinville na web.Jornal de Santa Catarina: veja aqui o conteúdodo diário blumenauense na internet.ClicRBS: tenha acesso aos conteúdos dosdiversos veículos do Grupo RBS em Santa Catarinae no Rio Grande do Sul. Aqui.Diário da Manhã: Leia um dos principaisjornais de Criciúma.Diário do Sul: Circulando em vinte municípiosdo litoral sul catarinense, o jornal tem a suaversão para navegação na internet. Leia.Adjori: website da Associação dos Jornaisdo Interior no estado.Silvio Costa Pereira: jornalista de texto, deimagem e de diagramação, apresenta em seu sitealguns dos trabalhos já realizados, além de recomendarbandas de Florianópolis. Veja.Jornalismo Policial: o repórter Marco AntonioZanfra elaborou um manual para os profissionaisque cobrem a área. Confira aqui.Acaert: website da Associação Catarinensedas Emissoras de Rádio e Televisão. Clique aqui.Sindicato: website do Sindicato dos Jornalistasde Santa Catarina.Tempo Editorial: um vasto catálogo de fotosproduzidas por profi s sionais catarinenses, comhttp://www.univali.br/monitor103


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAPreocupação com a coberturaSindicato dos Jornalistas de Santa Catarina em 15/07/2004NOTA OFICIALOs jornalistas e a cobertura das manifestaçõescontra o aumento das tarifas de ônibus07/07 - As manifestações populares ocorridasa partir do aumento das tarifas de ônibus urbanosem Florianópolis trouxeram duas preocupaçõespara o Sindicato dos Jornalistas de SantaCatarina.A primeira diz respeito ao trabalho dos profis sionais do jornalismo que estão cobrindo as manifestações.Diversos jornalistas, principalmenterepórteres fotográfi c os e cinematográficos, vemtendo seu trabalho cerceado por policiais militaresou manifestantes. Nesse sentido o SJSC enviouhoje, ao comandante-geral da Polícia Militare ao Secretário de Segurança estadual, um ofíciono qual solicita que garantam o pleno exercício daprofi s são, uma necessidade básica à livre circulaçãoda informação na sociedade, o que é princípionuma democracia.A segunda preocupação diz respeito à linhaeditorial adotada pelas empresas na cobertura dessesepisódios. Há uma grande carência de investigaçãojornalística, principalmente em fatos comoagressões ou depredações. Nota-se, também, umgrande distanciamento entre o que ocorre nasmanifestações populares e o que é divulgado.Os jornalistas não podem aceitar o cerceamentopor parte dos veículos. Querem cumpriro seu dever de atender o direito de informação dasociedade. Afi n al, esta é a função do jornalismodemocrático, ético, plural e cidadão, que a categoriadefende.O SJSC, por fi m , une-se à população fl o -rianopolitana na luta pela redução das tarifas dotransporte coletivo, reivindicação que considerajusta face aos repetidos aumentos realizados e àperda de poder aquisitivo dos trabalhadores.http://www.univali.br/monitor 104


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAPor aqui pouco espaçoEquipe do MONITOR DE MÍDIA em 31/08/2004Os principais jornais do Estado quase nemligaram para a polêmica do CFJ, concedendopoucos centímetros de suas páginas e alguns artigosou editoriais. Nos dez dias analisados - de 6a 16 de agosto -, o Diário Catarinense não investiuno tema, dando apenas notas sobre a criaçãodo Conselho. Nos dias 6 e 10, pequenos textosressaltaram o posicionamento favorável da entãopresidenta da Fenaj, Beth Costa, e do ministroda Justiça, Márcio Thomaz Bastos. No dia 11, ojornal trouxe o assunto à tona apenas para citara declaração do ministro da Comunicação LuizGushiken. Mais informações o leitor encontrouna coluna de Cacau Menezes, assinada interinamentepor Marcos Spíndola, onde o jornalistaponderou detalhes do projeto, atentando parapossível intervencionismo estatal. Quatro diasdepois, no dia 15, o DC faz novamente pequenareferência ao assunto, mas sem trazer esclarecimentosou opiniões a respeito do conselho.O Jornal de Santa Catarina, apesar de mencionara criação do Conselho Federal de Jornalismoem apenas três dias no período analisado,apresenta uma cobertura mais crítica do assunto evisivelmente contrária. No dia 13, veio com notaintitulada “Oposição se une contra Conselho deJornalismo”, ressaltando declarações dos senadoresJorge Bornhausen e José Agripino, líderes doPFL, sem esclarecer a função do CFJ, preferindodar destaque às alfinetadas da oposição.Na edição conjunta de 14 e 15, o “OpiniãoRBS” faz sérias críticas à criação do Conselhoe ao Governo Lula. Segundo o jornal,“a criação do Conselho Federal de Jornalismo,da Agência Nacional de Cinema e do Audio-Visual e o estabelecimento da Lei da Mordaçacomeçam a se transformar num conjunto deepisódios que se encadeia numa lógica assustadorae inadmissível”.No dia seguinte, o jornal voltou a mencionaro assunto de forma mais esclarecedorae abrangente, no entanto, sem abandonar seuposicionamento. A matéria intitulada “Liberdadede expressão volta a provocar debate”ressalta a discussão causada pelo projetode criação do Conselho, trazendo várias declarações.O Santa destaca que “as propostassão vistas com reservas até mesmo por aliadosdo governo”. O jornalista Carlos Alberto DiFranco, e o presidente do Sindicato dos JornalistasProfissionais do Estado de São Paulo,Fred Ghedini, opinam sobre o Conselho.A matéria traz ainda um box esclarecendo ofuncionamento do Conselho Federal de Jornalismo,Lei da “Mordaça”, Agência Nacionalde Cinema e AudioVisual e Código de Éticado servidor público federal, com um tópicoem cada um intitulado “Porque é polêmico”,onde o jornal apresenta pontos contrários eadversos dos projetos.Tom polêmico e contestador foi usado porA Notícia nos textos sobre o tema. Aliás, textosapenas opinativos (editoriais e notas na colunade Moacir Pereira), já que em nenhum momentonos dez dias analisados o diário joinvillensetrouxe matéria informando o seu leitor.http://www.univali.br/monitor105


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAVale citar um trecho do editorial “Ameaçasà informação”, de 12/08: “As reações são fortescontra o que vem sendo classificado como tentativade ‘dirigismo cultural’, pela criação de umórgão de controle pelo Estado da produção culturaldo País, de um lado, e pela intervenção deum eventual conselho para jornalistas, destinadoa fiscalizar, orientar e punir incorreções profi s sionais,de outro. A Associação Brasileira de Imprensa,um dos órgãos mais atuantes em defesa da liberdadede imprensa há décadas, já se posicionoufrontalmente contrária à criação de um conselhodestinado a fiscalizar jornalistas”. O periódicotambém deu voz para quem é a favor da criaçãodo CFJ: “O presidente da Federação Nacional dosJornalistas (Fenaj) apóia a criação do conselho, órgãoque na visão de muitos profi s sionais do setornão passa de instrumento para cercear a liberdadede informação e impedir o exercício da atividade”.Apesar disso, ficou evidente para o leitor quea opinião de Sérgio Murillo de Andrade se dissolvecom elementos negativos como o cerceamentoda liberdade de expressão. As críticas se mantêmno dia 12 de agosto, com a publicação de artigode Otávio Frias Filho, herdeiro do Grupo Folha,declaradamente negativo à proposta.http://www.univali.br/monitor 106


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARaffael do Prado em 30/09/2004Ignorando candidatos avereadorMais de 12 mil pessoas correndo pelascidades, distribuindo panfletos, fazendo discursos,dando tapinhas nas costas dos eleitores.Mais de 12 mil indivíduos em busca deuma vaga na Câmara Municipal. Bandeiras,santinhos, camisetas, brindes, promessas, enada disso nas páginas de dois dos principaisjornais diários do Estado. Pelo menos é o quese viu no período de 22 de agosto a 30 de setembrono Diário Catarinense e no Jornal deSanta Catarina. Nos jornais do Grupo RBS,os candidatos a vereador, simplesmente, nãoapareceram.Em 28/9, o DC iniciou uma série de doisdias de reportagens para contar “a trajetóriados nove candidatos que querem governar acapital”. Deu destaque ainda para a vida particulare pública dos candidatos e contou suashistórias “da infância ao palanque de Florianópolis”,com fotos e depoimentos.Em 16/9, o jornal informou na matéria“Aumenta a concorrência”, que “os candidatosà vaga de vereador de Joinville não estãomedindo esforços”, e que “os partidos ou coligaçõescalculam que precisarão no mínimocerca de 15 mil votos”. Apesar disso, o quese viu foi que não houve espaço para as propostasdos vereadores nas páginas do DC.Apenas matérias informativas de cálculospara vitória dos candidatos. Não é a primeiravez que o Diário Catarinense deixa de ladoos candidatos a uma vaga parlamentar. Em1º de outubro de 2002, este MONITOR DEMÍDIA verificou que o jornal havia tambémignorado a disputa por uma cadeira na AssembléiaLegislativa.No Jornal de Santa Catarina, aconteceuo mesmo: não havia espaço para os candidatosà vereança. O Santa publicou matérias comfuturos desafios para os candidatos à prefeitura,ignorando a corrida para o Legislativo.Em 23/8, “O dilema da balneabilidade” atentavapara os problemas de saneamento naspraias de Balneário Camboriú. No canto direitoda página, as propostas dos candidatos,muitas vezes, respondiam ou davam algumrespaldo à matéria, como se os problemas dacidade apenas se resolvessem sob a canetadado prefeito.Entre os grandes jornais locais, apenasA Notícia reservou espaço para quem se habilitavaa representar o cidadão nas CâmarasMunicipais. Só para citar, em 30 de agosto, 8,15, 20, 22 e 28 de setembro, o jornal abriu espaçopara os candidatos que quisessem enviarseus perfis, suas propostas e demais detalhes.Intitulado “Espaço do Candidato”, esta parteda editoria de Política recebia o material enviadopelas assessorias e publicava pequenostextos de até 700 caracteres, sem fotos. Destaquepara as edições de 22 e 28/9, onde ANotícia trouxe propostas de dez candidatosde nove cidades diferentes. Ficou claro queo AN publicou as propostas dos candidatosaleatoriamente, sem querer privilegiar coligações,partidos ou lideranças regionais.http://www.univali.br/monitor107


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIANão é fácil cobrir a disputa por uma das2691 cadeiras das câmaras locais, mas a imprensanão pode fingir ou ignorar essa corrida.O Legislativo é um poder essencial na estruturapolítica e as funções de um vereadorvão além da indicação de nomes de rua e daconcessão de comendas. Os jornais precisambuscar saídas criativas e eficientes para darconta das eleições proporcionais. A Notíciaoptou por uma solução, longe de ser definitiva,mas já é um começo.http://www.univali.br/monitor 108


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMarketing e irresponsabilidadesocial confundem o eleitorRafael Waltrick, acadêmico do Jornalismo-Univali e ex-pesquisador do MONITOR em 16/10/2004No decorrer da campanha eleitoral ao pleitomunicipal este ano, uma poderosa arma de marketingpessoal a favor de candidatos e partidos“invadiu” os principais veículos catarinenses. Aspesquisas eleitorais pagas, distribuídas nas páginasdos jornais tal qual anúncios e demais propagandaspolíticas, vieram ressaltar uma polêmicaquestão: Até que ponto os veículos encarregadosde informar e esclarecer o leitor se comprometemquando, a troco de suntuosas somas de dinheiro,apresentam pesquisas contraditórias e de origemduvidosa?No dia 30 de setembro, a três dias das eleiçõesmunicipais, o Diário Catarinense e o Jornalde Santa Catarina estamparam em suas capaspesquisas eleitorais referentes à eleição municipalem Itapema (litoral norte de SC). O Santa trouxeuma pesquisa, intitulada “Professor Sabino lideraem Itapema”, onde o candidato do PT, SabinoBussanelo, possuía a maioria das intenções de votos,26,72% no total, seguido de Clóvis José daRocha (PFL) e Antonio Russi (PSDB), empatadosem 22,75%. Para o leitor mais atento, no cantosuperior esquerdo, em letras minúsculas, podiase visualizar o termo “a pedido”. A pesquisa foirealizada pelo Instituto Pró-Marketing, contratadopelo Partido dos Trabalhadores.intenções de voto, seguido de Sabino Bussanelo,com 23,64%, e Clóvis da Rocha, com 19,88%. Apesquisa foi realizada pela empresa Tendência -Pesquisa de Opinião, e contratada por MK3 PropagandaLtda. Também em letras minúsculas, aexpressão “a pedido”, tão comum nos anúncios ematérias pagas enaltecendo candidatos.No dia 3 de outubro, o resultado real dopleito: Clóvis José da Rocha foi o candidato eleito,com 35,05% dos votos, seguido de SabinoBussanelo, com 28,03% e Antonio Russi, com11,23%. Vale ressaltar que também o candidatoeleito havia divulgado “sua pesquisa”, no própriodia das eleições, na capa do Santa, e, na véspera dopleito municipal, na capa do Diário Catarinense.Logicamente, o candidato do PFL aparecia emprimeiro lugar.Outro fato, também no Jornal de SantaCatarina, chama a atenção. A edição do dia 3 deoutubro trouxe na página 7 mais uma pesquisaeleitoral, intitulada “Pomerode sabe da verdade”,onde apresenta o candidato Paulo Pizzolatti (PP)em primeiro lugar. Ao virar a página, o leitor sedepara com uma outra pesquisa, também de Pomerode.No entanto, quem lidera a corrida eleitoralé Ércio Kriek (PFL).Já a pesquisa eleitoral que saiu na capa doDC do mesmo dia trazia uma situação bastantediferente, com o título “Nico Russi lidera pesquisarealizada em 27 de setembro em Itapema”. As percentagenscolocavam o candidato Antonio Russina liderança da corrida eleitoral, com 30,54% dasPercebemos, nos exemplos acima, uma claraintenção de confundir e menosprezar o leitor. Aodar destaque em suas capas e páginas às pesquisaseleitorais pagas por candidatos e partidos, osdiários acabaram por se contradizer mutuamente.O termo “a pedido” não isenta os veículos dahttp://www.univali.br/monitor109


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAresponsabilidade e comprometimento com o leitor.O Santa e o DC prestaram um desserviço, aooferecem espaço para a publicação das pesquisas.Afinal, o leitor é deparado, muitas vezes no mesmodia, com pesquisas diferentes, apresentandoresultados díspares no mesmo município. Isso,levando-se em conta ainda que as mesmas forampublicadas em jornais dotados de certa credibilidade,com circulação em todo o Estado.Diário Catarinense, Santa e A Notícia publicaramsuas respectivas pesquisas dos maiorescentros, como Florianópolis, Joinville e Chapecó,baseadas em institutos de renome ou encomendadaspelo próprio jornal. Já a infinidade de institutoscontratados por partidos e candidatos políticos,somente para apresentar ao eleitor seu marketingpessoal, só vem a atentar contra a imagemdos veículos. Deste modo, quem acaba pagando aconta não são os comitês financeiros partidários,mas sim o leitor. Isso, “a pedido” dos próprioscandidatos que deverão eleger.Podemos fazer uma análise mais aprofundadadas pesquisas eleitorais divulgadas, lembrandonão só o exemplo da cidade de Itapema, mas tambémde vários outros municípios que tiveram pesquisaspublicadas. Após os destacados percentuaise posições, era apresentada, em letras minúsculas,o que seria a grande armadilha ao eleitor confi a n-te nas pesquisas eleitorais: a margem de erro. Aedição do jornal A Notícia do dia 29 de setembrotrazia na capa uma pesquisa apresentando as intençõesde votos em São José, ressaltando a liderançado candidato Fernando Elias, do PSDB, seguidode Gervásio Silva, do PFL. Fernando tinha36% da preferência dos eleitores interrogados, enquantoGervásio somava 33%. A margem de erro,tímida, escondida, era de 4 pontos percentuais,para mais ou para menos. Deste modo, segundo apesquisa, ambos os candidatos poderiam vencer opleito. Contradição semelhante foi constante emvárias outras pesquisas, publicadas tanto em ANotícia, quanto no Diário Catarinense e Santa.O leitor, que ao mesmo tempo é também eleitor, éludibriado impunemente.http://www.univali.br/monitor 110


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIALeitores um pouco mais pertoRogério Christofoletti em 30/11/2004A todo momento existem as palavras damoda. Nos anos 80, algumas delas foram “desbunde”,“videomaker”, “moratória”, e “bem transado”.Nos 90, ouvia-se muito “ajuste fiscal”, “digital”,“lipoescultura” e “multimídia”, por exemplo.Ultimamente, fala-se muito em “transparência”,“ócio criativo” e “interatividade”. Afora os modismoslingüísticos, a escolha de palavras-chavereforça conceitos, defi n e contextos, enfi m , estabeleceagendas e programas de atuação humana.Pois uma expressão que vem ganhando corpo nomeio jornalístico é “espaço do leitor”. Isto é, estácada vez mais em evidência a idéia de ampliar aparticipação dos leitores nos produtos e na rotinado jornal.Com isso, as empresas do ramo vêm lançandomão de diversos artifícios para facilitar o acessodos leitores aos jornalistas, para permitir queos leitores “ajudem” a fazer a edição de amanhã.A idéia é o jornal se aproximar do seu público, eassim reforçar um conceito claro: o de identificação.Isto é, quando o sujeito lê no jornal as notíciasda sua cidade e observa ali a sua realidade, eletem mais motivos para continuar a se informarpor aquela publicação. Quando o leitor se vê naspáginas do jornal, e percebe que o periódico nãoestá tão distante quanto ele imaginava, o vínculose fortalece ainda mais. Esse parece ser um comportamentopadrão, muito embora alguns veículosnão invistam tanto nisso.O leitor distante... distanteUm passar de olhos rápidos pelas páginasde A Notícia mostra que o leitor tem ali poucoespaço. Afora a seção Cartas e a possibilidade deemplacar um artigo na página A3, o público emgeral não dispõe de nem mais uma possibilidadede expressar suas idéias no diário de Joinville. Emesmo o espaço para as correspondências recebidasé exíguo (14 X 14 cm, em duas colunas de jornal),pouco maior que o destinado à charge diária.São publicadas em média duas ou três cartas poredição, e as missivas devem ter, no máximo, 15 linhasou mil caracteres, adverte o jornal na notaabaixo da seção.A alternativa de publicar um artigo no jornaltambém é remota para o cidadão comum. Pordia, saem dois artigos na página de opinião de ANotícia, que são assinados quase que sempre porautoridades, representantes de classes ou de organizações.A Notícia não tem outros expedientespara a participação do leitor na edição diária. Ferramentasde interatividade não existem na versãoimpressa e, mesmo na da internet, restringemseao envio de emails aos setores competentes ea uma enquête dirigida aos internautas. Assim,entre o jornal e o leitor interpõe-se uma barreirainvisível que mantém a distância entre os pólos domesmo processo de comunicação.Apostando fi rme na participaçãoEntre os jornais catarinenses, o caso maisbem resolvido de relacionamento com o leitor éo do Jornal de Santa Catarina, que nos últimosanos vem intensificando as ferramentas de interatividadena publicação. Se os espaços tradicionais,http://www.univali.br/monitor111


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAcomo a seção de cartas e a de artigos enviados,são pequenos, o veículo tem oferecido outras formascriativas, como a Reportagem do Leitor, porexemplo.Diariamente, apenas um artigo enviadoé publicado, restringindo-se a textos assinadospor autoridades. A seção de cartas apresentalimitação de textos de até 10 linhas (ou600 caracteres), e são publicadas três delas acada dia. O leitor do Santa pode participarda edição sugerindo matérias – e o jornal publicareportagens desta natureza com um seloindicando a sugestão -, mandando fotografias– publicadas no Clique do Leitor – ou mesmoescrevendo histórias, como na recente Reportagemdo Leitor, publicadas na contracapa daedição.Na última página da editoria de Geral, ojornal disponibiliza ainda outros espaços: o cidadãocomum pode enviar informações para aseção Serviço, para o Obituário e para a Ondeanda você?, tudo sem custos e com submissãoao crivo dos editores. O Santa conta aindacom o Conselho do Leitor, colegiado compostopor nove pessoas que tem coluna semanalveiculada aos domingos em área privilegiadada edição, a página 3.Para aproximar os produtores dos consumidoresde informação, o Jornal de Santa Catarinase apóia em recursos largamente usadospelos demais títulos do Grupo RBS: todos oscolunistas têm suas fotos estampadas ao ladode seus espaços, sempre com o endereço eletrônicopara contato. O mesmo acontece naporção informativa do jornal, onde todas asmatérias assinadas trazem também os emailsde seus autores. Se o leitor gostar (ou não), seuacesso aos jornalistas é rápido e fácil.Interatividade e uma certa timidezPor fazer parte do rol de jornais do GrupoRBS, o Diário Catarinense repete boa parte dafórmula do Santa, mas de forma mais contida.Todas as matérias assinadas vêm com os contatosde seus autores e os colunistas têm suas fotinhoscarimbadas no alto de suas seções. Quando háconteúdo suplementar, o jornal disponibiliza emseu site e deixa essa possibilidade visível na formade um selo “ClicRBS – Leia mais”.Diariamente, o DC publica dois artigos enviadose reserva quase uma página inteira paraas cartas recebidas. Intitulada Diário do Leitor,a seção traz em média dez cartas por edição, limitandoos textos a 12 linhas ou 700 caracteres.Aos domingos, espremida numa coluna à direita,o jornal traz a seção do Conselho do Leitor. Ocolegiado se reúne a cada 20 dias e é formado pornove pessoas: dois advogados, um estudante universitário,três aposentados, uma servidora federal,um comerciante e um corretor de imóveis. Ainiciativa é recente, mas muito tímida, a se julgaro local onde sua coluna é editada e as poucas referênciasao seu trabalho. Para se ter uma idéia, acoluna sequer traz endereço, telefone ou qualquerforma de contato com os conselheiros. Talvez sejapor essa invisibilidade que até para o MONITORDE MÍDIA o Conselho do Leitor do DC tenhapassado tão despercebido...http://www.univali.br/monitor 112


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 15/08/2005Três datas de um passadorecente nos jornaisA crise política que envolveu o governo Lulavem crescendo nos últimos meses, afetando nãoapenas dirigentes do Partido dos Trabalhadores(PT), mas parlamentares de diversas siglas e aindapeixes grandes que circulam o Palácio do Planalto.Até a semana passada, a onda de escândalosera contida por uma barreira que cercava a presidênciada República, como se pudesse blindá-lafrente às acusações de lavagem de dinheiro, deuso de recursos públicos para interesses privados,de aparelhamento do Estado, de corrupção ativa,entre outros crimes. Até a semana passada, umapalavrinha ainda era travada na garganta de todos,mesmo da oposição: “impeachment”.Parecem claros alguns dos motivos que impediamque essa palavra circulasse livremente pelasbocas da nação. Primeiro porque é um assuntoextremamente sério, que envolve o destino de umpaís e a vida do seu povo; segundo porque é umamedida extrema, prevista na lei como o dispositivode controle da República em falhas gravíssimas;terceiro porque nossa memória recente ressuscitao desgaste político que o impedimento dopresidente Fernando Collor de Melo causou nocomeço dos anos 90; e quarto porque a biografiado presidente Lula é avessa às práticas denunciadas,contraste que choca a todos só de pensar napossibilidade de envolvimento direto do líder emcrimes tão repulsivos.Mas a palavra “impeachment” está cada vezmais vocalizada. Antes era um pensamento, tornou-seum sussurro, um zumbido, um rumor; ehoje já é falada sem constrangimentos; por algunsé até mesmo gritada, como palavra de ordem emprotestos. Mesmo nos jornais, a alternativa já étratada sem o pudor de antes. Aliás, é nos jornais– esses cronistas do tempo presente – que ascensãoe queda são sempre tão tematizadas à exaustão.Dois momentos me vêm à mente agora: o impeachmentde Collor e a posse de Lula.Quarta, 30 de setembro de 1992A primeira página da Folha de S.Paulo ébombástica. No alto, uma tarja vermelha comletras em branco (VITÓRIA DA DEMOCRA-CIA) e logo abaixo a manchete em quatro linhas,a primeira com uma só palavra ocupando todas ascolunas de largura:IMPEACHMENT!Câmara depõe Collor em votaçãohistórica; presidente aceita adecisão e Itamar assume hojeAbaixo uma foto do plenário da CâmaraFederal, onde dezenas de parlamentares erguemos braços, comemorando a abertura do processode impeachment do presidente e o conseqüenteafastamento de Fernando Collor de Melo. O tomeufórico dá a impressão de que a fatura já está encerrada.Explica-se: o jornal travou uma queda debraço pública com o presidente, não abastecendoo noticiário com denúncias, mas também estampandoeditoriais na primeira página pedindo acabeça de Collor e exortando a população a ir áshttp://www.univali.br/monitor113


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAruas de preto, na semana em que o presidente haviaconvocado os populares a vestirem-se de verdee amarelo. A edição da Folha no dia veio com 32páginas dedicadas ao assunto, e três cadernos, umdeles intitulado “Fim”, contando os 930 dias dogoverno Collor.Quarta, 30 de dezembro de 1992Exatos três meses depois, a manchete definitivada Folha de S.Paulo: “Senado mantém ojulgamento apesar da renúncia de Collor; Itamaré empossado presidente”.Há mais equilíbrio na edição do jornal. Adecisão histórica adquire as dimensões já exploradasnas semanas anteriores, e as previsões seconfi r mam. O tom de tranqüilidade é tanto quea maior parte do caderno principal do jornal éocupado por uma imensa tabela para cálculo doIPVA-93. O tema só será devidamente destrinchadonum segundo caderno, intitulado “Renúncia”,com 12 páginas.A política divide as manchetes do dia como noticiário policial, já que a atriz Daniela Pereztinha sido assassinada na véspera. Na Folha, fotoda atriz em beijos com o assassino confesso, o atorGuilherme de Pádua, carimba a página ao lado deuma foto em que Itamar Franco é cumprimentado.No sangrento Notícias Populares do mesmodia, a manchete é “Covarde retalha a linda Yasmin– Tudo sobre o crime que parou o país”. Sóno rodapé da primeira página é que vem a mençãoao destino de Collor: “Brasil fi c a livre para sempredo Fernandinho”.Quinta, 2 de janeiro de 2003Passados dez anos, dois presidentes e trêsgovernos, é a vez de Lula chegar ao Palácio doPlanalto. Os jornais exalam uma atmosfera deesperança e de alegria cívica. Não há exagero nostextos, mas o material fotográfi c o é farto para osiconoclastas. Lula aparece com a faixa da presidênciaem desfile de carro aberto; Fernando Henriquee Lula erguem os braços com as mãos dadas;o ex-metalúrgico sobe a rampa do Palácio; papelpicado, bandeiras e multidões de sorrisos.O Estado de S.Paulo não consegue disfarçaro ceticismo e deixa para o próprio recém-empossadodar o recado conservador, apreensivo: “Vamosmudar, sim. Mudar com coragem e com cuidado”.Logo embaixo, uma linha de apoio sinalizao temor de que o governo se revele uma aventurapassageira: “Empossado na Presidência, Lula defendemudanças com diálogo, ‘para que o resultadoseja duradouro’”. A manchete é reforçada pelafoto que ocupa toda a largura da página: Lula eFHC erguem os braços juntos, numa amostra decivilidade, continuidade, prosseguimento. O cadernoespecial, sob a rubrica “Posse”, é recatadoem suas 24 páginas.A concorrente Folha de S.Paulo dá tonsmais coloridos à posse. A manchete tenta baixarum pouco a bola do eleitor (“Lula assume Presidênciae pede ‘controle das ansiedades sociais’”),mas a primeira foto mostra o primeiro casal daRepública em carro aberto, num desfile concorrido,salpicado de confete. O caderno especial trazà capa foto muito semelhante à do concorrente:Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto, prestesa receber a faixa de Fernando Henrique. O catarinenseA Notícia não se ufana e dedica apenasduas páginas à posse, embora dê à manchete umclima de renovada esperança: “FESTA POPU-LAR MARCA POSSE DE LULA”, seguido dalinha “Novo presidente reafirma, em discurso,seu compromisso com mudanças”.http://www.univali.br/monitor 114


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIA***Algum leitor mais apressado já deve estarimaginando possíveis manchetes futuras, prevendotambém algum desfecho para a crise política.É cedo. Muitos fatos precisam vir à tona. Projetarmanchetes dos jornais para os próximos temposnão vai passar de exercício de futurologia. Mesmoque se considere a história da República no país.Uma história de 116 anos apenas e 39 presidentes(dez deles militares e seis civis que sequer puderamconcluir seus mandatos). Vitrine da véspera,a capa do jornal é uma janela no tempo. Para abrila,só esperando o dia amanhecer mesmo.http://www.univali.br/monitor115


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIARogério Christofoletti em 01/10/2005Em meados de setembro, terminou o mandatode um ano da primeira turma do Conselhodo Leitor do Jornal de Santa Catarina. O grupo– inicialmente formado por nove pessoas, depoispor oito – se reunia semanalmente para avaliar ojornal, discutir mudanças e propor melhorias aoproduto. Heterogêneo por natureza, o Conselhodo Leitor foi implantado junto à reforma gráficado jornal, que resultou na transposição do formatostandard para tablóide, e numa atenção maior àinteratividade do veículo com seu público.A adoção de um conselho de leitores se deuem outros jornais do Grupo RBS, como a ZeroHora, no Rio Grande do Sul, e o Diário Catarinense,em Florianópolis. Entretanto, neste períodoimediato de um ano de experiência, percebemsediferenças bem expressivas entre o Santa e seuirmão, o DC. Em ambos os casos, são publicadascolunas semanais dando conta das principais discussõesentre os conselheiros e os jornalistas convidadosa participar. Porém, no DC, a coluna doConselho sai na antepenúltima página da edição,espremida entre as cartas, o que prejudica a suavisibilidade e reflete a importância que o meio dáá iniciativa. No Jornal de Santa Catarina, o resumodos debates sai na página 3, logo no início daedição, com uma localização estratégica e privilegiada.É verdade que apenas esse critério não defin e se a experiência é bem sucedida ou não, ou seela tem a atenção que merece. No entanto, é umindício de como o instrumento é tratado.Um balanço doConselho do Leitorsetembro (p.26), o editor-chefe do jornal, EdgarGonçalves Jr., é incisivo em sua avaliação: “Aprendemosmuito com os conselheiros e procuramossempre implantar as soluções propostas por eles.Não consigo mais imaginar o Santa sem um Conselhodo Leitor crítico, fiscalizador e atuante aorientar nossos passos”. O posicionamento é diametralmenteoposto à direção do concorrente ANotícia, em 1997, quando o jornal não renovou omandato do seu ombudsman (o primeiro e únicono Estado) e extinguiu a função por considerar aexperiência mal-sucedida.No Santa, o trabalho continua e a fala deGonçalves Jr. evidencia essa compreensão de quea crítica é um processo intermitente, dinâmico,reformulador, indissociável da vontade de apresentarum produto jornalístico melhor a cada dia.A afi r mação do editor-chefe pode ser entendidatambém num universo hipotético, onde a críticatem seus limites e cabe ao próprio jornal escolherquais propostas implementar e em que medida.Isto é, a fala do editor não passaria de retórica.Mesmo que assim fosse, há um fato que transcendequalquer rasgo pessimista: o conselho deleitores existe e funciona. Os demais leitores podemrecorrer ao colegiado, enviando sugestões ecríticas. Há uma instância que se preocupa comuma leitura crítica e construtiva de um jornalismomelhor. E isso, para o momento, é o mais importante.Na “despedida” dos conselheiros do Santa,publicada na edição conjunta de 17 e 18 deAté porque raras são as oportunidades epoucos são os instrumentos que o leitor comumhttp://www.univali.br/monitor 116


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAtem para verbalizar seus desejos, exercendo suacrítica, deixando a mera posição passiva de consumidorde informação.Seria demais, encerrar o primeiro mandatode um instrumento como esse e concluir que tenhahavido revoluções no jornal por conta disso.Claro que não. O Conselho do Leitor do Santatende a ficar melhor a cada ano. Seja porque seinstitucionaliza, se consolida e passa a ser ouvidocom mais atenção pelos produtores do jornal;seja porque o próprio público passa a legitimá-locom mais evidência; seja porque a própria relaçãojornal-leitor amadurece, enraíza-se, ganha outroscontornos. Se em outubro de 2004, este MONI-TOR DE MÍDIA louvava a iniciativa do Jornalde Santa Catarina de constituir um conselho deleitores e em novembro, eu, particularmente, ressaltavaque ele já vinha trabalhando, agora reforçoa necessidade da continuidade dessa experiência.E mais: espero que o Diário Catarinense fortaleçao seu conselho e que A Notícia não deixe pormenos e também implante um instrumento paraaproximar leitores e jornais da qualidade da informação.Sempre tão almejada.http://www.univali.br/monitor117


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIALaura Seligman em 14/10/2005O que há de especial naspáginas do jornal?A reportagem especial sempre foi o ouro dequalquer veículo de comunicação. O nome já diz,é especial - foi dedicado um esforço da equipe,um investimento financeiro e pessoal, há sanguee alma naquele texto. Por onde anda a reportagemespecial no jornalismo catarinense?Os dois jornais de abrangência estadual dedicampáginas certas ao que consideram suas reportagensespeciais. No Diário Catarinense, páginasduplas do tablóide, a quatro e a cinco. NoJornal de Santa Catarina, não há mais este espaçodefinido. Em A Notícia, uma página do standarddiariamente com o nome “Destaque”. O que háde especial nas páginas destes jornais?Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari falamque as principais características de qualquer reportagemdeveriam ser a predominância da formanarrativa; a humanização do relato; um texto denatureza impressionista; e a objetividade dos fatosnarrados. Além disso, o que mais deveria apresentara reportagem para ser considerada especial?Em nossos diários, essas condições iniciaispara que a reportagem seja realmente reportagem,se tornaram o diferencial. O retrato humanizadodo fato, as longas descrições objetivas, o transportedo leitor ao local e ao tempo do fato, estes estão distantesda realidade cotidiana do jornalismo, tantoimpresso quanto digital ou eletrônico. Jornalismovirou motivo de pressa - ela pauta a hora de apurar,a de escrever, a de publicar. Nesta correria, perdem-seas características básicas da reportagem. Orepórter cumpre apenas um função burocrática eo texto não foge a essa condição. O resultado é umjornalismo sem graça (e nem nós, jornalistas, achamosmais graça em desempenhar tal papel) e umleitor descontente, cada vez mais longe das bancas.Ricardo Noblat, em seu impagável livro “AArte de Fazer um Jornal Diário” (impagável porquevale muito mais do que os trinta e poucos reaisque são necessários para a compra, não porqueseja de graça) fala com propriedade sobre as artesde apurar e de escrever uma reportagem. No capítuloinicial, descreve um encontro imaginário deum jornalista e um leitor numa banca de jornais.Conversa encerrada, o leitor acredita que haja umcomplô para que os jornais acabem - jornalistasescrevem uns para os outros, desconhecem a existênciade um leitor como destino de seu trabalho.Ele fala daquela pressa, do medo incontrolável dofuro (que acabou matando o furo - todos publicamas mesmas notícias), de um jornalismo fadado aofracasso.Se lançarmos um olhar de análise sobre asreportagens ditas especiais em nossos diários, veremosque neste espaço, estamos cumprindo aquelemínimo de exigência descrito por Muniz Sodré,mas nem sempre. Em sua maioria, os temas são deagenda e a abordagem, exclusivamente de serviço.Talvez fruto de uma imprensa que mascara sua linhaeditorial, as reportagem se tornam amorfas,sem ofertar ao leitor os elementos para uma análise.Em nome da objetividade, ficamos sem alma.Não devia ser essa a intenção de Muniz Sodré aodefendê-la.http://www.univali.br/monitor 118


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIACarlos Chaparro, recentemente, narrou umfato curioso em artigo no site Comunique-se.Leia o que ele disse: “Cinco meses atrás, RobertoCivita, diretor-presidente da Editora Abril, visitoua Escola de Comunicações e Artes, da USP,para uma conversa com professores. Foi para falar,principalmente, sobre o curso de jornalismo.Com ou sem razão, a visita não despertou grandeinteresse. Mas a conversa valeu a pena, se não pelotodo, ao menos pelo começo. O dono da Abriliniciou a sua fala com uma provocação - mais oumenos assim: ‘Os alunos que vocês nos mandamhoje não servem para a Editora Abril. Eles podematé ter bom domínio técnico das coisas do jornalismo.Mas nós estamos mais interessados emgente capaz de pensar.”Está certo o dono da Abril e todos os demaistodo-poderosos do jornalismo que decidiremachincalhar a mediocridade do jornalismo atual.Mas não está certa a política de cada redação quemanda jornalistas investigarem temas polêmicos,mas só até “a esquina”. Como disse antes, a reportagempara ser especial deve ter sangue e alma. Sóa alma do jornalista não basta. É necessário o sanguedo jornal, aqui traduzido em recursos fi n anceiros,dinheiro mesmo.Me lembro do Correio Braziliense quandocomeçou a ser reformulado. Na editoria de Economia,tinha um repórter especial - Ismar Cardona.Ao contrário dos demais repórteres, quecobriam a pauta diária, Cardona se dedicava aoespecial. Grandes temas, múltiplas fontes, outrasvisões - navegação fl u vial, fontes alternativas deenergia, temas que fugiam da correria do Planalto,mas que estavam ali, esperando alguém lançaraquele olhar. Cardona podia fazê-lo porque recebeuas condições necessárias para tanto na redação,mas também porque contava com algumasdécadas a mais de vida do que os demais repórteres.O resultado era ótimo, páginas inteiras naedição de domingo, substância. Minha mãe nãoquer mais assinar jornais, diz que “não tem nadapara ler”. Talvez seja a isso que Roberto Civita sereferia também. Espremendo o jornal, o substratorestante é pouco. O que era para ser especial é oque resta - neste sentido, é realmente especial.Esse investimento é raro, muitas vezes restritoapenas a grandes veículos nacionais - às vezes,nem lá. Gente capaz de pensar precisa de tempoe dinheiro para tanto - precisa ter visto o mundo,lido sobre outros mundos, visto outras paisagens,escutado outras idéias e, após tudo isso, aindacontar com uma formação que contempla a visãocrítica, que permita misturar todos esses elementose resultar numa visão muito particular.http://www.univali.br/monitor119


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAOnde foi parar a reportagem?Sandro Galarça em 31/10/2005A reportagem é, seguramente, um dos momentosmais marcantes da vida de um jornalistade redação. E também é um diferencial do próprioveículo que, quando se lança ao campo dotexto de maior fôlego, acaba exercitando o que éelementar no cotidiano jornalístico: a busca pelasinformações fora do ambiente onde o fato acontece,tentando novas significações, novas versões,múltiplas vozes, olhares distintos e que se complementamnuma costura interminável e sempre incompletaque é o texto impresso, registrado sobreuma superfície mágica: as páginas de um jornal.Com a transformação editorial dos jornais,principalmente a partir da década de 70, perdeusemuito do espaço ocupado pelas reportagensnos jornais diários. Textos com maior profundidade,reflexivos e críticos são raridade entre nossosveículos. Falando sobre a imprensa catarinense,especificamente, podemos dizer que esse não éum formato pelo qual nossos editores brigam nodia-a-dia da redação (aliás, os editores de hoje estãobrigando por cinco centímetros a mais de matériaem uma página de “geral”, já que a ousadiadas agências de publicidade e dos profi s sionais damídia fez com que os anúncios invadissem locaisaté pouco tempo impensáveis para se colocar umapropaganda).Preocupado com a falta de reportagens naspáginas dos jornais catarinenses, resolvi analisartrinta dias ininterruptos do Jornal de Santa Catarina,maior jornal da região em que está situadaa Universidade do Vale do Itajaí. Escolhi um períodobastante particular: 23 de setembro a 23 deoutubro de 2005, justamente os últimos 30 diasantes da realização do maior referendo já realizadono mundo (em número absoluto de eleitores).Parti do pressuposto que, em plena campanhapelo SIM e pelo NÃO em relação à proibiçãode comércio de armas de fogo e muniçãono Brasil, os jornais poderiam realizar reportagensdiscutindo e provocando a reflexão públicasobre o que estava em jogo na votação do referendo.Para analisar os textos publicados nesteperíodo, segui a definição proposta por MunizSodré e Maria Helena Ferrari, para quem umagenuína reportagem deve atender às seguintescaracterísticas:a) predominância da forma narrativa; b)humanização do relato; c) texto de naturezaimpressionista; e d) objetividade dos fatos narrados.Tratei de incluir uma característica geral,que é a contextualização e a interpretação dofato pela discursividade do jornalista, a partirdo que Ricardo Kotscho sugere como sendo afunção do repórter. Vale ressaltar que não foramanalisados quaisquer cadernos ou encartes especiaispublicados no período.Após a análise das 26 edições, foram encontradasoito reportagens que se enquadravamno perfi l procurado:1) uma reportagem política, apresentandoos primeiros candidatos relacionados às convençõespartidárias, veiculada na edição de fim-desemanaem 1º e 2 de outubrohttp://www.univali.br/monitor 120


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIA2) uma reportagem sobre a morte de quatropessoas em acidente em uma ponte na Av. Beira-Rio, em Blumenau, veiculada na edição de 3 deoutubro3) uma reportagem sobre o fim de exploraçãode pedras em Balneário Camboriú, veiculada em 5de outubro4) uma reportagem sobre o início da Oktoberfest,em Blumenau, veiculada no dia 7 de outubro5) uma reportagem sobre o aeroporto de Blumenau,veiculada na edição de 8 e 9 de outubro6) uma reportagem sobre a morte de umjovem que lutava contra a dependência às drogas,após uma tentativa de assalto a um taxista, em Blumenau,veiculada em 14 de outubro7) uma reportagem sobre envenenamento decães em Blumenau, veiculada em 18 de outubro8) uma reportagem sobre a realização do referendoem todo o Brasil, veiculada na edição de 22e 23 de outubro.A primeira consideração a ser feita aponta queo referendo, assunto nacional de maior repercussãodo mês de outubro, serviu como pauta para apenasuma reportagem, veiculada no fim-de-semana emque aconteceria a votação. Como primeira análise, aobservação quantitativa chama atenção, uma vez quenum intervalo de 30 dias foram veiculadas apenas oitoreportagens no corpo do jornal, o que corresponde auma reportagem a cada quatro dias. Com relação aotamanho, apenas duas coberturas ocuparam três páginas,outras duas utilizaram duas páginas e as quatrorestantes foram publicadas em apenas uma página.No total, em 30 dias de jornal, apenas 14 páginas foramocupadas com reportagens.No período analisado, o Jornal de Santa Catarinapublicou uma média de 30 matérias por dia,algo em torno de 780 matérias em um mês, consideradasas 26 edições existentes nos 30 dias. Asoito reportagens representam pouco mais de 1%do universo de textos informativos publicados noperíodo.Uma constatação importante pode ser feitaem relação ao destaque dado para as reportagensna hierarquia editorial do veículo, uma vez que dasoito reportagens seis foram citadas na capa – trêscom chamadas simples e três ganhando a mancheteprincipal (uma delas foi a referendo de 23 de outubro).Esses dados mostram que o veículo reconhecea importância da reportagem no contexto editorial,valorizando sua publicação com a presença detextos de capa quando ela está presente na edição.Entretanto, cabe lembrar que o referendo sobrea comercialização de armas no Brasil, amplamentedivulgado na mídia e discutido à exaustão em programasgratuitos no rádio e na tevê, recebeu apenas umareportagem no Jornal de Santa Catarina no períodoanalisado. Com a ausência de textos de maior fôlegona imprensa tradicional, fica prejudicada a qualidadeda informação que chega ao leitor, já que não há, namaioria dos casos, contextualização, aprofundamentoe interpretação dos fatos.Sem reportagem, o jornalismo impresso ficaprivado de sua maior virtude, que é a capacidade deprovocar o questionamento e a reflexão crítica emseus leitores, bombardeados diariamente com informaçõespicotadas, fragmentadas e sem a profundidadenecessária. O que se vê é um jornalismo raso, epidérmico,preso ao fato e sem a coragem de mergulharem suas entrelinhas, explicar os seus porquês e revelarseus segredos. Afinal, a quem isso interessaria?http://www.univali.br/monitor121


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIATodos querem serrepórter vesgoLaura Seligman em 30/11/2005Esta coluna do Monitor de Mídia vem discutindoaspectos relativos à reportagem, mas algumasalegorias televisivas vêm merecendo umcomentário a respeito da intenção da reportagem.Sim, todos querem ser repórter vesgo sem nemmesmo perceberem que não há reportagem nestetipo de intervenção.Para quem ainda não conhece, RepórterVesgo é o personagem de Rodrigo Scarpa no programaPânico na TV, na Rede TV. No quadro, elee um Silvio Santos bizarro “entrevistam” personalidadesem atuações pautadas por agressividade,humilhação, constrangimento e, está certo, umaboa dose de humor. A personagem é um sucesso,Scarpa já tem site oficial, blog oficial, comunidadeno orkut e uma legião de fãs. Até aí tudo bem. Oproblema é a legião de seguidores dentro do jornalismo,porque há um contra-senso. Scarpa nãofaz jornalismo na pele de Vesgo.Fazer gracinhas na programação jornalísticanão é novidade. Alguns repórteres usam esteartifício há um bom tempo na editoria de esportes,por exemplo. Se o futebol é o ópio do povo, acobertura de esporte parece ser regada a ópio emcertos momentos. A informação aparece anestesiadapor uma “graça” artificial e desnecessária.É o caso já antigo de Régis Rösing, que anda fazendoescola na cobertura de esporte amador deÍcaro de Paula. O Esporte Espetacular, da Globo,já anunciava em sua estréia “um repórter bem-humorado”para fugir das perguntas que são mesmices.Outros tantos programas nacionais, regionaise locais seguem essa linha. Anunciam jornalismo,mas oferecem outro produto, muitas vezes dequalidade duvidosa.Trocadilhos, piadinhas, um repórter-showmanque privilegia sua aparição ao invés da informaçãotem aumentado o distanciamento que háentre jornalistas e boas fontes, afinal de contas,não me consta que alguma delas aprecie ser ridicularizadaem rede nacional. O bom jornalismopode, é claro, considerar o fator humor na escolhadas notícias. Mário Erbolato, em seu históricoTécnicas de Codificação em Jornalismo, já lembravaque o homem procura também entretenimentona informação. Mas o equilíbrio foi alterado,a informação se tornou secundária, a piadaprevaleceu.Se esta é uma mudança, uma tendência, nãoé de se estranhar outras tantas alterações substanciaisque o jornalismo pode sofrer. É o casodo procurador da República Bruno Caiado Acioly,descoberto pelo jornal O Estado de São Pauloem sua intenção de mover ação judicial contrao direito do jornalista de manter suas fontes emsigilo. Acioly quer quebrar o sigilo telefônico dosjornalistas que escreveram sobre corrupção. Semdúvidas, vivemos um período de profundas transformações.Resta saber quem, ao final delas, aindaestará fazendo o legítimo jornalismo.http://www.univali.br/monitor 122


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAErros e acertosMarjorie Basso & Caroline Leal em 15/12/2005A exemplo de outros anos, 2005 foi um festivalde deslizes e pontos positivos nos jornais catarinenses.Vejam os principais:- Na Edição 70, o Monitor de Mídia descreveuo erro presente em matéria publicada nosjornais do Grupo RBS. A publicação do dia 15 demarço trouxe “alegria” como sendo uma das causasde doenças da profi s são. Tratava-se de “alergia”,claro. As matérias estavam encartadas noscadernos de empregos.- Causou estranhamento a matéria sobre ocampeonato de surfe “WCT” encartada no “InformePolítico” do DC de 14/05. Edição 70- Nossa nota “A síndrome da fada azul”(Edição 71) trouxe títulos do Santa que confundiramo leitor e comprometeram a edição. Nosdois títulos analisados, respectivamente dos dias1º e 2 de junho, “o editor acabou dando vida aseres inanimados” no caso, caminhões.- Outro título que deixou a desejar foi oencontrado em A Notícia dia 11/06. A matériaintitulada “Flagrado nu com menino ocupa celainterditada” discorria sobre um homem de 79anos que pagava meninos em troca de “serviçossexuais” (Edição 71).- Na edição de 6 de outubro, o Jornal deSanta Catarina apresentou a manchete “Fortunano lixão”. A análise do material, presente na Edição78, mostra que a publicação foi baseada emboatos: um bilhete premiado da Lotomania estariano lixão da cidade de Timbó. Mas nada dissoera verdade...- O jornal A Notícia cometeu deslize na ediçãode 5 de novembro, ao trocar a cifra de bilhõespara milhões. Grave erro já que publicado na Editoriade Economia (Edição 80).- Na Edição 77, o Monitor apresentou odiagnóstico “Rápido! Chamem o revisor!”. Nessaedição, foram analisados os exemplares da segunda-feira(19/09) dos três principais jornais catarinenses.Uma importante análise que mostra afalta de um revisor nas redações. Por conta dissoe de outros fatores, todos os dias, dezenas de errosescapam dos olhares atentos dos editores e chegamaos leitores nas páginas dos jornais.- No diagnóstico “Há acidentes nas páginasdos jornais” (Edição 81), o Monitor de Mídiamostrou que os principais jornais catarinensesprovocaram alguns acidentes em suas edições,atropelando informações e vitimando a fidelidadedos relatos jornalísticos.AcertosNão se pode deixar de mencionar os fatospositivos que aconteceram no decorrer do ano.Algumas coberturas superaram as expectativas...- O Grupo RBS, através do Jornal de SantaCatarina e do Diário Catarinense, divulgou apartir do dia 29 de abril sua campanha “Educar éTudo”. Em seu conjunto, foi uma bela iniciativa,http://www.univali.br/monitor123


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAque além de agradar aos olhos, teve o objetivo deincentivar os leitores a repensar a educação (Edição69).- A Edição 72 trouxe análise da manchete“Sombra de Dúvida” que estava inserida em umaimagem de Roberto Jefferson, no Santa de 15/06.Apresentou harmonia interessante entre imageme textos, além de uma excelente parceria entre ofotógrafo e o repórter da matéria.- No dia 24 de julho, a marca de carimbo nacapa: “Antes da Concorrência” indicou o furo dereportagem de A Notícia. O jornal revelou a identidadedo brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinadoem Londres. A análise encontra-se naEdição 73.- No dia 7 de agosto, o Diário Catarinenseanunciou a publicação do caderno especial “AForça SC”. Os cadernos mostraram um pouco dahistória e do poder da economia de cada um dos293 municípios do estado (Edição 74).- O Jornal de Santa Catarina lançou, no dia8 de agosto, a promoção “Seja jornalista por umdia”. Algumas matérias escritas por alunos forampublicadas no jornal, incentivando a produçãotextual da juventude. O reconhecimento pela iniciativaestá na Edição 74.- O jornal Diário do Litoral, mais conhecidopor Diarinho, surpreendeu seus leitores ao tomarpartido pelo “sim” frente ao referendo. A Edição79 mostrou que a surpresa se deu pelo perfil dojornal, marcadamente sensacionalista.http://www.univali.br/monitor 124


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAA farra do garantidoLaura Seligman em 30/03/2006A questão da farra do boi em Santa Catarinaganhou proporções que nem os estudos culturais,tampouco os ambientais poderiam prever.Outros componentes determinados pelo contextomidiático transformaram a polêmica em umaquestão multidisciplinar.A farra do boi é costume açoriano trazidopara o Brasil com os imigrantes e ganhou sotaquesdiferentes pelo país. No nordeste, a vaquejada;no norte, o Boi Bumba; por aqui, a farrado boi. Santa Catarina é um estado de grandediversidade cultural: ao contrário do que a mídianacional preconiza, a maior etnia imigrante nãosão os alemães. Por aqui chegaram italianos, africanos,portugueses e outras tantas que transformamo estado em um mosaico cultural, como secostuma dizer. Bem, mosaicos, como se sabe, sãodifíceis de encaixar. Mesmo terminados, pode-seperceber que há um encaixe forçado, as marcas ficamaparentes.É o que acontece em relação à aceitação oureprovação popular em relação à farra do boi e osmovimentos gerados pela cobertura jornalística.O mosaico está cada vez mais difícil de encaixar.Algumas peças rejeitam terminantemente a presençadas “vizinhas estranhas”.Um dos maiores jornais diários de circulaçãoestadual pertence à mesma rede que mantémas emissoras de rádio e televisão com maior audiência.A Rede Brasil Sul – RBS, afiliada da RedeGlobo de televisão, está presente há décadas noEstado. Originária do Rio Grande do Sul, ondenasceu, se consolidou e somente depois se estendeua outras localidades, a RBS enfrenta mesmoapós tanto tempo alguns sobressaltos de xenofobia.Na mídia a polêmica da farra do boi se dá deforma polarizada entre os que a defendem comoaspecto cultural e os que a condenam por considera-laselvageria e atentado contra o meio ambiente.Pouco se questiona sobre o que pode haver portrás disso tudo (ou o que deveria haver): políticaspúblicas, por exemplo.A reação do público não foi exatamente apretendida pelos atores; a polêmica foi acrescidade elementos não projetados: a xenofobia. Na regiãoonde a prática da farra do boi é mais forte,o litoral, esse tipo de reação não é novidade. Écomum ler inscrições em muros de Florianópolisneste sentido, como “Fora Haole” (seriam os estranhos,estrangeiros de pele branca no linguajardos surfistas do Havaí). Aos que vem de fora, aosdiferentes ou estranhos, se atribuem caracterizaçõesnegativas. São os responsáveis pelo surgimentode violência, tráfico de drogas, problemas comtrânsito. Nunca pelo progresso que vem acompanhadodesses aspectos negativos.Mas, neste caso, a violência discriminatóriase dirigiu ao sujeito que ousou discutir a práticaque vem sendo repassada através de gerações, um“estrangeiro”, portanto, sem direito a voz, muitomenos voto. A RBS, no olhar das comunidadesque se viram atingidas pelo questionamento daprática da farra do boi, é “Haole”. Ficou de ladohttp://www.univali.br/monitor125


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAqualquer discussão sobre maus tratos com animais,sobre preservação da cultura local. A discussãoperdeu força, ganhou traços que poucoenriquecem o Estado.Por falar em enriquecer, ano após ano esseproblema aparece...Mas depois desaparece, ficadormindo, latente, esperando o próximo ano, opróximo round. Enquanto isso, os cowboys brasileirosviram pop stars na novela das oito. O rodeiode Barretos vai muito bem, obrigada. E no norte,milhares de turistas disputam vôos e hotéis paratorcer: “olha o caprichoso, olha o garantido”. Poraqui, nenhuma manchete a respeito. Garantidomesmo, só o sentimento de aversão ao estranho.http://www.univali.br/monitor 126


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAImpasse Brasil - BolíviaJoel Minusculi, Patrícia Wippel da Silva, Gabriela Forlin e Marjorie Basso em 15/05/2006Questão de relações para o DCO Diário Catarinense acompanhou de pertoo episódio que estremeceu as relações entreBrasil e Bolívia. Desde o primeiro dia com a manchete(02/05) “Bolívia nacionaliza as refinariasda Petrobrás”, o jornal distribuiu nas páginas daReportagem Especial dados completos do caso.A partir do segundo dia de cobertura, adicionoutratamento gráfico especial. Durante a semanaanalisada, o periódico acompanhou e descreveu amovimentação, tanto na Bolívia como dentro doBrasil. Nas matérias, o que se viu foram os passose palavras dos envolvidos. O material explicativoapresentado foi completo: vários infográficos eboxes contribuíram para o melhor entendimentodo leitor.Além disso, a opinião dos jornalistas do DCmarcou presença nas páginas do jornal. No dia02/05, junto com os primeiros relatos do impasse,“Diplomacia sem visão” descreveu o caso em queo presidente da Bolívia expulsou a metalúrgicaEBX. No artigo, Euclides Lisboa relembrou que aatitude de Evo Morales, anterior ao caso, premeditavasua ação. Num tom de “eu já sabia”, o editorde Economia escreveu: “A diplomacia brasileira écaolha” e a “Estatização da Petrobrás pela Bolíviafoi um alerta ao governo brasileiro, que tanto torceupela vitória do indígena”. No mesmo dia, noInforme Econômico, Estela Benetti defendeu asdecisões de Lula e criticou o líder boliviano: “Ofato é que a atuação de Evo Morales mostra o estragoque um presidente despreparado pode fazerao assumir o comando de um país (...) A situaçãoda Bolívia e de outros países da América Latina éo refl e xo da má gestão pública durante anos”.“Lula reconhece a soberania da Bolívia” foimanchete do DC no dia 03/04. Esse foi o primeirodia em que a “Guerra do Gás” apareceucomo cartola no jornal, chamando a atenção dosleitores. Ocupando as páginas de destaque, a publicaçãonesse dia foi bastante completa. Boxes,infográficos e o mais interessante: a matéria deMarcelo Fleury da Agência RBS. O repórter entrevistouum dos soldados em frente à Petrobrásem Santa Cruz e uma dona-de-casa que criticoua posição do presidente boliviano. Com isso, amatéria transmitiu veracidade ao leitor, além desituá-lo no cenário boliviano. O Editorial “RetrocessoNacionalista” abordou a forma com que oPlanalto lidou com o impasse do gás: “ingenuidadee prepotência reservado até agora a esse riscopotencial pelo governo brasileiro”.Na sua edição de 04/05, o DC publicou“Constrangimento à esquerda”. Nesse artigo,Klécio Santos afi r mou que “Lula tentou vestir ofi g urino de líder da América Latina”. Além disso,escreveu sobre os conflitos dos governos deesquerda: “o que antes era sintonia ideológica setransformou em constrangimento”. Nos editoriasdo dia, “Rumo equivocado” discutiu as decisõesdos quatro presidentes na Tríplice Fronteira.Constava no texto: “A forte ideologização nas relaçõesentre os países sul-americanos, ao contráriodo que pregam estas lideranças, tem levado a acertosbaseados mais na visão de quem está no poder,do que em políticas de Estado”.http://www.univali.br/monitor127


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAinda como manchete no dia 05/04, a crisedo gás deixou de ocupar as páginas de destaquepassando à economia. Na página 16, a reuniãoentre os presidentes Evo Morales, Hugo Chávez,Nestor Kirchner e Lula foi tratada de forma expressivapor conta das fotos. Nelas, os líderes apareciamsorrindo dando tapinhas nas costas. Nodia 6, o assunto ainda foi manchete.No domingo, 07/04, a crise do gás apareceucomo chamada de capa. Nos editoriais, “Cúpulados panos quentes” relatou o encontro dos presidentesna Tríplice Fronteira esteve em pauta.Com a descrição das posições dos líderes, o textoabordou que “o Brasil, como país, tem interesses adefender e investimentos a preservar”. No cadernode Economia, a “Guerra do Gás” foi destaque.A matéria “Crise fragiliza mais o Mercosul” apresentouas relações entre os países da América dosul.No mesmo caderno, Marcelo Fleury relembraum antigo impasse entre Brasil e Bolívia. Emseu artigo “A questão do Acre, de novo”, o jornalistaafirma: “Soa como um exagero, mas diante as medidasnacionalistas de Evo Morales a hipótese de opresidente requerer o Acre não parece absurda”. FábioSchaffner mostrou dois momentos da crise: Em“Oposição aproveita o momento crítico” explicou asrelações internas dos políticos pelo período eleitoral;diferente de “Diplomatas do país divergem”, em quemostrou a posição dos diplomatas que apóiam e outrosque condenam a posição do governo brasileiroao fato.Ainda na edição dominical, o ex-ministro daFazenda e embaixador brasileiro, Rubens Ricupero,deixou suas considerações sobre o impasse do gás. Ocaso foi resumido no destaque da entrevista: “O problemaé a incapacidade brasileira de reagir à altura daação boliviana. E haverá um preço no futuro”.Em 8 de maio, o caso apareceu como chamadaacompanhado da cartola: “Brasil X Bolívia”.No dia seguinte, “Petrobrás vai propor reajustezero à Bolívia” foi também chamada parao assunto. Destaque no caderno de Economia, odesdobramento da crise do gás foi descrito, tantona repercussão nacional como em Santa Catarina.Na mesma edição, “Petrobrás irá buscara auto-sufi c iência” mostrou o novo empenho dopresidente Lula.Chovem críticas no ANA crise do gás boliviano foi tema constanteno jornal A Notícia na semana de 2 a 9/05. Comcobertura completa do tema, o periódico descreveupasso a passo a problemática da crise: as atitudesde Evo Morales, a reação da Petrobras, as decisõesdo governo brasileiro, as conseqüências naAmérica Latina, no Brasil e em Santa Catarina,bem como as “promessas” do presidente brasileiroaos cidadãos.Através das matérias, colunas, cartas e doeditorial “Opinião”, o jornal deixou clara sua posiçãoacerca das atitudes de Lula diante da novacrise. No editorial de 09/05, foi posto que “asnegociações entre os governos devem ser lentas,justamente para que nenhum impacto de novospreços alcance repercussão no Brasil antes daseleições de outubro”.O jornal evidencia que após o mês de outubrotudo pode acontecer, pois Lula estaria reeleitoe não daria grande importância se o aumento dogás fosse repassado aos consumidores brasileiros.No editorial de 04/05, foi afirmado que “é comum pouco mais de negociação e entendimentoque o Brasil continuará importando gás a preçosabaixo da cotação internacional e até mesmo emrelação a outros compradores do continente”.http://www.univali.br/monitor 128


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAlém disso, ao que parece, o jornal não é afavor da reeleição de Lula. Sobre as atitudes dopresidente, Aluízio Batista de Amorim, na ediçãode 07/05, chegou a fazer um apelo. Em seuartigo “Estatização é atentado à liberdade” escreveu:“Façamos, pois, bom uso deste restinhode democracia que ainda há por aqui, sonegandopatrioticamente o voto àqueles que viraramas costas para o Brasil”.O AN afirmou que a América Latina vemsendo tomada pelo ‘raciocínio medíocre’ de líderespopulistas, em especial, Argentina, Chile,Bolívia, Venezuela e Brasil. O exemplo maisevidente disso está em “Nacionalização na Bolívia”,no dia 03/05. No texto foi mostrado o queestá ocorrendo na Bolívia: a nacionalização nopaís nada mais é do que “a dramática necessidadede o presidente Evo Morales dar respostas àspressões populares para que cumpra as promessasde ‘grandes e históricas transformações’ naeconomia”.Os leitores também não medirampalavras para expressar que, diferente deLula, Evo Morales ao menos não rasga discurso.Em carta publicada, na edição de06/05, o jornal mostrou que Lula critica odiscurso alheio para vencer a eleição, masdepois segue os mesmos passos. Comoexemplo, o autor da carta citou como Lulaseguiu as diretrizes econômicas do PlanoReal e como despedaçou e jogou no ralo odiscurso da ética que levou os petistas aopoder. Ainda na carta, o autor expressou oque imagina em uma conversa entre Lulae Morales: “Caro companheiro Morales,esse negócio de nacionalizar serve sópara ganhar as eleições. No poder, temosde seguir as regras do jogo e ver o nossolado...”.Santa cobrou posição do governoA posição do Jornal de Santa Catarina foibem transparente em suas páginas. Entre opiniões,entrevistas, artigos e colunas, o periódicoafirmou que o Brasil está totalmente despreparadopara alguns riscos e não se precaveu contraisso. Cobrou uma posição mais fi r me de Lula ecriticou as decisões de Evo Morales. As matériastrabalharam com a descrição dos fatos, das açõese das citações de cada lado. O foco esteve direcionadoa partir do nacional, internacional, estaduale local (destaque de como a decisão refl e tiu emBlumenau).A nacionalização do gás boliviano surgiuno Santa de 02/04. A manchete: “Abastecimentode gás natural sofre duro golpe” fez referênciaao destaque do caderno de Economia. A colunaInforme Econômico, de Susan Liesenberg, trouxe“No gás até quando” e comentou o despreparo dogoverno aos riscos existentes.No dia seguinte, o jornal trouxe chamadade capa e manifestou-se na opinião: “Retrocessonacionalista” criticou as decisões de Evo Moralese tratou da ingenuidade do governo brasileiro denão se atentar aos riscos que correu e corre. NaEconomia abordou em três páginas a atitude dopresidente Lula de apoiar a soberania da Bolívia.Além disso, o Santa mostrou a reação dos consumidoresblumenauenses e apresentou um box tirandoas dúvidas mais freqüentes do leitores.Na mesma edição, a opinião de Klécio Santosfoi exposta também em “Ruptura anunciada”.Neste artigo havia uma crítica a pouca experiênciado governo ao enfrentar essa crise. Marcelo Rechesboçou sua opinião em “É grave a crise”, onde comentou:“Lula assistiu mudo e passivamente à expulsãode um investimento privado brasileiro” ehttp://www.univali.br/monitor129


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAainda, que Evo Morales isola a Bolívia do mundofazendo crer que “não se entrega dinheiro a aventureirosque o pegam e não devolvem”.No dia 4 de maio, a opinião “Rumo equivocado”afirmou que o atual caminho tomado é oideológico, que não prevê avanços para os povos docontinente e nem para o mercado externo e interno.O artigo “Moral de Morales”, escrito pelo professore pesquisador do Departamento de Matemática deFurb, Nelson Hein, mostrou que o presidente da Bolívianão se preocupa com sua população, somentecom seus interesses. Sobre Lula, disse que como haveriade ser, nunca sabe de nada. A coluna de VlatherOstermann trouxe: “O que é isso companheiro”, emque manifestou a idéia de que Lula nada fez. A editoriade Economia, assim como no dia anterior, fezabordagem local e nacional, com mais um Box determos da situação para ambientar o leitor.No dia 08/05, a seção política publicou umaentrevista com o embaixador brasileiro e ex-ministroda fazenda, Rubens Ricupero, feita pelaAgência RBS, intitulada: “Este é o momento doBrasil ter uma posição firme”. Já em economia,matérias sobre o apoio e elogios de Chávez a Morales.Em 09/05, havia somente uma entrevista naeditoria de Economia, com o advogado e juiz deapelação da OMC, feita pela Agência RBS. Nelaconstava: “A Bolívia tem de pagar para expropriar”onde aponta como a principal falha a embaixadaou o embaixador brasileiro, sem quererjulgar a atitude tomada pelo presidente Lula.Na edição de 05/05, a chamada de capa “Lularecua e Bolívia pede aumento do gás” e a opinião“Uma cúpula reveladora” deixaram claro que o Brasiltem interesses aos quais devem ser defendidos epreservados. No caderno de Economia, as matériasdemonstraram a atitude de Lula frente à situação.No fi n al de semana, 06-07/05, as matérias focaramas conseqüências estaduais. O jornal tambémpublicou o artigo escrito pelo diretor do InstitutoCatarinense de Pós-Graduação (ICPG), MalconTafner,. O texto, com o título “Soberania de quem”,apresentou os efeitos da atitude de Morales ao seupovo, que encara uma baixa credibilidade perantea comunidade internacional; e também sobre ainércia do governo brasileiro, “que apenas observa opaís perder bilhões de dólares investidos em terrasbolivianas”. Na coluna de Valther Ostermann, umanota divulgou que a Bolívia adotou o Ministério deHidrocarbonetos.http://www.univali.br/monitor 130


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAE os negros nos jornais?Marjorie Basso em 15/05/2006Comecei, no ano passado uma análise quantitativasobre a presença de negros nas fotos dosjornais: A Notícia, Jornal de Santa Catarina e DiárioCatarinense. O tema foi proposto com entusiasmopelo meu orientador professor RogérioChristofoletti devido a seu ineditismo. Aceito odesafio, os dados foram levantados da seguintemaneira: contabilizamos o número de fotos decada exemplar, em quantas dessas fotos apareceramnegros ou pardos, em quais editorias e de queforma.Iniciamos a contagem das fotos em maio de2005 a fim de terminá-la no mesmo mês de 2006,totalizando um ano de pesquisa. Mas isso não foipossível: problemas na obtenção de todas as ediçõesimpediram a observação de todo o período.Então, decidimos considerar a contagem ofi c ialde 01/08/05 a 13/05/06 totalizando 300 dias.essas razões saem jornais: esportes e música. Apresença maciça de afrodescendentes se dá, especialmente,nas editorias esportivas e culturais. Emreflexo à questão social a presença nos esportes érara em modalidades elitizadas como tênis, ciclismo,equitação, fórmula 1. Outro exemplo são ascolunas sociais, onde sua aparição está restrita adatas específi c as ou quando há proeminência dopersonagem.Assim, nossa perspectiva é mostrar que aindaque os afrodescendentes tenham espaço nosjornais catarinenses, a visibilidade a eles destinadaé desigual se comparada aos brancos. Representaçãoda forte desigualdade social brasileiraque atinge também Santa Catarina.A confecção das tabelas foi a parte mais fastidiosado trabalho, mas no decorrer da contagemfui me familiarizando com a tarefa. A leitura delivros e reportagens permitiu que eu me sentissemais envolvida com o tema e esses materiais provavelmenteirão me auxiliar na construção do artigoque finalizará a pesquisa. Amigos passarama se interessar tanto pelo “fazer pesquisa” quantopelo tema, me enviaram textos e comecei a servirde referência sempre que o assunto exclusão racialera debatido entre os colegas.Em poucos meses de análise, foi possível visualizarque a imprensa reforça o preconceito deque há duas coisas que os negros fazem bem e porhttp://www.univali.br/monitor131


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIALaura Seligman em 30/06/2006Erros crássicos(ou seriam crassos?)Jornalismo, já se disse, é literatura feita emcima da perna. Não se desmerece aqui o grandevalor que tem o texto jornalístico, mas é precisodeixar claro que nosso processo de escritura perdeem tempo e em variáveis para a Literatura. Perdemosmais ainda, é claro, na correção gramatical eortográfica.Se os erros, pequenos que sejam, podem serperdoados, a autocrítica dos jornalistas deve falarmais alto quando eles não são tão pequenos outão perdoáveis. Jornais de circulação nacional trabalhambem com isso. Um bom exemplo é o Estadode São Paulo, com boa seção de “erramos” eoutros tantos que dedicam seções ou profi s sionaisà correção de seus próprios erros. O ombudsman,profi s sional contratado só para essa função, já foimoda, deixou de ser, mas se mantém em algumasempresas.Não é preciso lançar um concurso: os errosfazem parte do jornalismo, estão em todas as edições.Mas é preciso deixar claro que, enquanto umlivro pode levar meses ou anos para ser concluído,o jornalismo tem pressa, trabalha com uma espadasobre a cabeça de seus protagonistas.De onde vem essa pressa toda? A aceleraçãodo processo de edição jornalística é fato recentena história. Passamos de uma profi s são boêmia eimprovisadora a um profissionalismo pautado poruma indústria poderosa, que lucra com a informaçãoe que assumiu compromissos com os quaisnão pode faltar. Um deles é o de conquistar o públicocom alguns atributos dos quais não abrimosmão: credibilidade, distanciamento dos fatos, aprestação de um serviço que pretende promovertransformação social. Para tudo isso e muito mais,o jornal tem que estar lá, na banca. Para chegar lána banca, tem que obedecer a prazos rígidos. Paraobedecer aos prazos, temos pressa. É não parecehaver uma saída simples.Aqui no Vale do Itajaí, o Jornal de Santa Catarinamantém o conselho de leitores como umaregulagem permanente de seu trabalho. Isso, porém,não impede que algumas manchetes sejampublicadas com uma excessiva dose de mau gostoe outros títulos com graves erros, como é o casoda fi g ura ao lado. Não há transformação socialque se promova se os fundamentos do jornalismo– que também estão na língua – tremem a cadaedição.http://www.univali.br/monitor 132


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO tamanho da coisa24/08/2006- 26 emissoras de televisão aberta- 2 emissoras locais de televisão- 7 jornais diários- 26 emissoras de rádio- 2 portais de internet- Operação orientada para o agronegócio- Editora- Gravadora- Empresa de logística- Empresa de marketing para jovensO tamanho da coisaA RBS é uma empresa de comunicação multimídiaque opera no sul do Brasil e é líder absolutaem todos os segmentos e mercados em que atua.Com a missão de “facilitar a comunicaçãodas pessoas com o seu mundo”, a RBS procuraatender as necessidades de colaboradores, clientes,acionistas e fornecedores mantendo-os informados,investindo sempre em novas tecnologiase estando sempre aberta à participação direta dacomunidade.- Fundação de responsabilidade socialAlém de atingir diariamente um público demilhões de pessoas, a Rede RBS está presente emseis estados brasileiros com veículos de comunicaçãode massa no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.Além de sucursais multimídia e escritórioscomerciais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina,Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e DistritoFederal, o que a torna o maior grupo de comunicaçãomulti-regional do Brasil.Fonte: Grupo RBSFundada em 1957, por Maurício SirotskySobrinho, a RBS tem em sua plataforma multimídia:http://www.univali.br/monitor133


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAO que muda para o leitorRogério Christofoletti em 24/08/2006É um clichê do capitalismo, mas vale nãoapenas para os players do mercado, mas tambémpara os consumidores: a concorrência sempre ésaudável. Isto é, setores dominados por poucasempresas (ou às vezes, até mesmo por apenas uma)são ruins, pois reduzem as opções de escolha, padronizamos produtos e sistemas e vitimizam osconsumidores ou usuários.Se isso é ruim no ramo de alimentos, porexemplo, não é menos pior no de bens simbólicos,como produtos culturais ou informação. Imagineentão um país onde opera apenas uma rede detelevisão. Que tipo de programação ela exibirá?Apenas aquilo que interessa aos seus controladoresou aquilo que não colida com esses valores.Onde ficam a crítica, a fiscalização dos centros depoder, a autocrítica nesses ambientes? Onde subistemo direito à diversidade da informação, opoder de escolha, a heterogeneidade das versões eabordagens?Por essas e outras, entidades classistas e movimentossociais defendem a democratização dascomunicações, pregam a necessidade de regrasclaras no setor e a urgência de leis que restrinjama oligopolização do mercado e o controle informativo.Por essas e outras, em alguns países, hárestrições à chamada propriedade cruzada, quepermite que uma mesma empresa atue no segmentode publicações impressas e radiodifusão,por exemplo. No Brasil, não há impedimentosnessas operações. O resultado é o fortalecimentode grandes grupos empresariais que engolem osmenores e ditam as regras no mercado.Ainda é cedo para dizer o que o leitor catarinensesofrerá com a compra de A Notícia pelosconcorrentes. Pode-se prever que o jornal se tornemais parecido com os rivais, que adote linhaseditoriais semelhantes, que não dispute mercadose que ofereça um noticiário muito parecido (senão o mesmo). Pode-se prever também que o setorse torne mais conservador e acomodado coma falta de concorrência. O tempo vai dizer. Essasprevisões insinuam um cenário pessimista, mas ahistória econômica mostra que em nenhum episódiode concentração, o mercado melhorou. Ascervejas brasileiras fi c aram melhores com a uniãoentre Brahma, Skol e Antarctica? Ficaram maisbaratas?Pois é. Se isso acontece com cerveja, imaginecom jornais...http://www.univali.br/monitor 134


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAE agora? Como fi ca?Rogério Christofoletti em 25/09/2006Agora que A Notícia foi incorporadapelo Grupo RBS e o setor de mídia catarinenseficou mais e mais concentado, uma sériede questões se impõem. Como perguntarnão ofende, eu reforço algumas delas:* O Grupo RBS vai mesmo tirar da webo Portal AN?Reformado há pouco mais de um ano,o site contém não apenas a versão on line dojornal de Joinville como mantém um dos maisexpressivos e importantes bancos de dados daimprensa local. O internauta pode fazer pesquisasno jornal desde 1997. Este amontoadode informações de quase dez anos vai para alixeira virtual com a transferência de A Notíciapara a RBS? A Notícia também estará online no ClicRBS?* A Notícia vai manter sua política ambiental?Durante anos, o jornal de Joinville sevangloriou de ser o primeiro no país a conseguira certificação ISO 14001, ligada aquestões ambientais. AN editava não apenasum caderno com matérias voltadas ao segmento,como alterou diversas etapas de seuprocesso industrial, adequando-se a emissõesmais controladas de poluentes. Nãoapenas isso: mudou uma cultura internaentre os funcionários, adotando um sistemarígido de conduta ambiental. O GrupoRBS vai se preocupar com esse programa?*A Notícia vai manter seus cadernos regionais?O jornal de Joinville circula em três cidades- Florianópolis, Joinville e Jaraguá do Sul- suplementos regionais diários: o ANCapital,o ANCidade e o ANJaraguá. Esses cadernos seconcentram numa cobertura mais localizada.A política de edição de suplementos da RBS vaimanter essas publicações? Elas continuarão a sairdiariamente?* E o ANEscola?A Notícia edita há anos um suplementomensal que atua no segmento de educação para asmídias e formação de novos leitores: o ANEscola.Interessa à RBS manter esse programa? Pretendeexpandir para seus outros sete jornais?* Haverá demissões, fechamento de sucursais,enxugamento da máquina?Esta pergunta é sempre a primeira a aparecerem processos semelhantes de aquisição ou fusãode empresas. O Grupo RBS prometeu anunciaros planos para A Notícia assim que terminassemas auditorias internas, em 21 de setembro. Issonão aconteceu. O que esperar então?http://www.univali.br/monitor135


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAOs maiores anunciantes de SCPatrícia Wippel e Gabriela Forlin em 02/10/2006Segundo Nelson Traquina, em seu livroTeorias do Jornalismo, o desenvolvimento da imprensaestá relacionado com a industrialização dasociedade e com o desenvolvimento de uma novaforma de fi n anciamento, a publicidade. Considerandoo modelo de jornalismo atual, o Monitorde Mídia analisou como andam as propagandasnos principais periódicos catarinenses nas publicaçõesdo período de 2 a 10 de setembro.Os cadernos “classificados”, “imóveis” e“veículos” foram desconsiderados na avaliaçãodos periódicos. O primeiro por ser um cadernoespecialmente destinado a anunciar e os dois últimospor trazerem somente anúncios relacionadosa seus respectivos anexos, o que desvia o foco daanálise dos maiores anunciantes.O anúncio de jornal é uma informaçãopublicada que faz uma propaganda, um pedido,ou outros tipos de comunicação que interesse aopúblico em geral, necessitando ou não de umaresposta para o autor. Métodos comuns paratransmitir mensagens de propaganda incluem osjornais impressos, que relacionem o produto ouserviço oferecido quanto as suas características ebenefícios.Em seu livro, Teorias do Jornalismo, NelsonTraquina dedica um capítulo à trajetória históricado jornalismo e conta porque, no final do séculoXIX, o jornal tornou-se cada vez mais importantecomo veículo para a publicidade. A partirdo momento em que ela por si só se tornou maiscentral numa economia em expansão, foi determinantena evolução e sobrevivência dos jornaisimpressos.O que mais se observa nos anúncios dosjornais é a comunicação promocional. São geralmentesedutoras, bonitas, informativas e temcomo principal objetivo convencer o consumidora comprar determinado produto ou serviço. Encontra-setambém algumas propagandas institucionais,que visam comunicar as característicasda instituição, promovendo o nome, a imagem, osprofi s sionais e iniciativas de uma empresa, organizaçãoou setor de atividades.Diário CatarinenseNo período analisado, o Diário Catarinenseapresentou 9 anunciantes que ocuparam os maioresespaços em suas páginas: Casas Bahia, Shopping Neumarket,Ponto Frio, Claro, Prefeitura de Florianópolis,RBS, Club Social Winter Lounge, Ford e BancoBanca. As Casas Bahia apresentam cerca de 10 vezesmais anúncios que os demais principais anunciantes;de seus 11 anúncios constatados, 9 eram o maioranúncio em toda a edição e os outros dois estavam nacapa do jornal.O DC possui anunciantes fi xos, dentre eles destacam-seos principais: Casablanca iates (na editoriaVisor e Indicadores), Coquetel (as famosas revistas depalavras-cruzadas, na editoria Variedades ou Lazer),Regente Imóveis, Carvidros, Quevedo Joalheria eÓtica, Clínica Veterinária Lovely Dog, 1 Real de Entrada(todos na coluna de Cacau Menezes) e RestauranteMirantes (que não tem editoria fixa).http://www.univali.br/monitor 136


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAJornal de Santa CatarinaO Jornal de Santa Catarina conta comanunciantes fi xos, dentre os quais se destacam:TW Tour, Timetec, 3M Distribuidora autorizada/Gotaadesivos e fitas e a Realtime (Informe),Coquetel (Lazer). Da mesma forma que o DC,o Santa têm como principal anunciante as CasasBahia, que tem cerca de 4 vezes mais anúnciosque os outros maiores anunciantes (em relação aespaço ocupado): Thom e Santa, Clube do assinanteSanta, RBS – Eleições, Claro, Banco Bancae Caderno de Viagens do Santa. Estes foram osanúncios que ocuparam a maior área nas ediçõesem que foram publicados.É muito visível a quantidade de anúnciosinstitucionais no Santa que cede grandes espaçospara publicidade própria e da RBS. O Santadivulga, também, anúncios promocionais deeventos culturais (shows, concertos, festas...) parademonstrar as vantagens do Clube do AssinanteSanta.A NotíciaO periódico A Notícia possui aunciantesfi xos (inclusive de editorias fi x as) que são: Brusmalhas(Esporte), Refrigeração Manchester – Arcondionado Split (Anexo), Centro Integrado deEstética Capilar (Contracapa) e Tigre, que aparecesempre duas vezes no jornal, uma na capa e outrana editoria de Esporte. Os anunciantes fixos,mas que nem sempre estão presentes na mesmaeditoria, são: Fredy Penus e o anúncio institucionaldo Governo de Joinville.Entre os maiores anunciantes estão: Breithauptque não anuncia todos os dias, mas seusanúncios sempre ocupam uma página inteira dojornal; Record, que anuncia seus pogramas; Governode Joinville e Beto Carrero. Há tambémanunciantes que saem em poucos dias, mas seusanúncios ocupam um signifi c ativo espaço no jornal.É o caso da Casas da Água, que saiu em somentedois dias do período analisado, e que perdeem termos de espaço somente para a Breithaupt,esta que aparece em 6 dos 8 dias analisados.Alguns fatos interessantes puderam ser percebidosno AN. No dia 2/9, a Renault Concessionáriaspublicou três anúncios, todos na editoriaEstado e com o mesmo tamanho. Cada um divulgouum carro da marca (Scénic, Mégane e Clio).Já o SBT, publicou no dia 3/9 dois anúncios, tambémna mesma editoria, com espaço diferenciadossobre o mesmo programa (Supernanny).Como podemos ver, a publicidade, comoforma de fi n anciamento da imprensa que despolitizouos jornais do século XIX, perdura até hoje.Não há condições de um jornal sobreviver sem apublicidade, pois isto implicaria ter que cobrarcaríssimo por edição ou acesso, tendo em vistaque é um estrutura muito cara. A publicidade égeradora de empregos na indústria da produçãode notícias e é ainda um dos principais meios desobrevivência da mídia impressa.http://www.univali.br/monitor137


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEditorial de A Notícia: “Compromissocom os leitores”EQUIPE DO MONITOR DE MÍDIA em 09/10/2006Em 1º de outubro, A Notícia publicou editorialna primeira página comunicando formalmenteque o Grupo RBS havia incorporado otradicional jornal de Joinville aos seus veículos.integridade, liberdade e igualdade, desenvolvimento pessoale profissional dos colaboradores, satisfação dos clientes,responsabilidade empresarial e compromisso social ecomunitário.Compromisso com os leitoresA RBS assume hoje a gestão e a operação de ANotícia S/A Empresa Jornalística, editora deste jornal.Assume, igualmente, o compromisso de preservar umahistória de 83 anos, reforçando a identificação e a parceriaque este veículo de comunicação mantém com a comunidadede Joinville e de Santa Catarina. Reafirma, aomesmo tempo, o seu propósito de continuar contribuindopara o desenvolvimento econômico, social e culturaldesta próspera região.Desde o início de suas atividades em Santa Catarina,há 27 anos, o Grupo RBS orgulha-se por manterfortes relações com a comunidade de Joinville através desua operação de televisão. Neste período de tempo, graçasà receptividade do povo catarinense, a empresa vemampliando sua atuação no Estado, onde opera atualmentecom rádio, televisão, jornal e internet. Agora, com a incorporaçãode A Notícia, acrescenta mais um título deprestígio e credibilidade ao conjunto de seus veículos, oque lhe permite qualificar ainda mais a cobertura editoriale publicitária que oferece a seu público.Neste primeiro contato com os leitores, a RBSenfatiza o seu compromisso de fortalecer ainda mais aimportância do jornal A Notícia no contexto da comunicaçãoem Santa Catarina. Esta tarefa será facilitada,pois os valores que sustentam a linha editorial da RBS,felizmente, estão presentes na história deste jornal: ética eAcreditamos que a observância destes princípioscontinuará garantindo aos leitores de A Notícia o mesmojornalismo responsável, pluralista e democrático a que estavamhabituados. Da mesma forma, o jornal continuarádefendendo os interesses locais, com ampla abertura deespaço para o público da região divulgar suas realizações esuas demandas – processo que receberá maior amplitudenuma rede de comunicação. Queremos manter e reforçaros vínculos desde jornal com seus leitores e anunciantes,com as autoridades e o povo catarinense. Queremosdefender, dar visibilidade e projeção às causas de Joinvillee de Santa Catarina, promovendo a melhoria da qualidadede vida, o fortalecimento das instituições e a defesada liberdade de informação – que consideramos uma dasmais preciosas conquistas das sociedades civilizadas.Acreditamos que uma empresa de comunicação,pela natureza de sua atividade, tem uma responsabilidadesocial diferenciada com o público atingido peloseu processo informativo. Para alcançar tal propósito, éimprescindível que A Notícia mantenha a sua independênciaeditorial e atue sempre com equilíbrio e transparência,oferecendo notícias objetivas, opiniões pluraise serviços úteis. Isso só pode ser feito num ambiente deplena liberdade de expressão e numa democracia como aque, felizmente, estamos vivendo.É neste contexto que a RBS integra A Notícia nasua missão de “facilitar a comunicação das pessoas com oseu mundo”.http://www.univali.br/monitor 138


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Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAAssessoria de Imprensa ou puxasaquismoescancarado?Fabricia Prado - jornalista da Tribuna Catarinense - em 16/10/2006Enquanto nós, jornalistas, lutamos tantopela qualidade e transparência nas informações,recebemos todos os dias nas redações um semnúmero de textos de assessores de imprensa queàs vezes parecem esquecer que são jornalistas. Épreciso saber construir a imagem do assessoradosem, para isto, tentar destruir a imagem de umaoutra pessoa.Os traços mais visíveis de uma assessoria deimprensa falha no Vale do Itajaí – salvo exceçõesque graças a Deus sempre existem – podem servistos nos materiais enviados pelas prefeiturasdesta região. Grande parte deste material chega àsredações com muito mais ofensas às gestões anterioresque as informações sobre as realizações daprópria administração assessorada. Uma prova deque o que vale neste meio não é encontrar a soluçãopara os problemas e nem informar a populaçãosobre coisa alguma, e sim, apontar o culpadonuma disputa política escancarada, na qual o quevale é desmoralizar o opositor.Falta de conhecimento do assessor, um vício,ou comodismo de quem prefere alisar o “patrão”e garantir seu lugar ao sol? Digo isso porqueacredito que estes mesmos materiais poderiam serenviados por estes mesmos assessores para estasmesmas redações, mas de uma forma bem diferente.Ninguém vai me convencer de que assessorarnão é puxar o saco. Acredito que a assessoria deveser utilizada para estreitar os laços do assessoradocom os veículos de comunicação e mostrar suasrealizações de uma maneira saudável, sem elogiosdescabidos ou ofensas gratuitas à pessoas (no casode políticos) que por estarem de fora de uma estruturade uma prefeitura, por exemplo, muitasvezes não tem sequer como se defender a altura.Neste caso não importa quem está com a razão, seutilizar de uma estrutura que é do povo para fazerde palanque político e decidir pelo eleitor quem écerto quem é errado é desleal.Coisas do tipo “ao contrário da administraçãoanterior”, “finalmente depois de quatro anosde total inércia do Município”, “fi n almente depoisde sofrer com a incompetência da administraçãoanterior” ou “numa tentativa de fazer comque a comunidade se volte contra administração”é que me fazem muitas vezes entrar em conflitocom colegas de profi s são quando eu questiono serealmente é o jornalista que deve desempenhar opapel de um assessor de comunicação, se ele é realmentepreparado para tal tarefa?Creio, que como já presenciei, grande partedo material enviado pelas assessorias deixam deser aproveitados nas redações porque os assessoresperdem o foco da pauta gastando mais da metadedo texto com estes absurdos que não acrescentamem nada e ainda continuem para que o repórterou o pauteiro simplesmente se desinteressem peloassunto, muitas vezes, simplesmente porque nãoconseguem entender o foco do material.Não critico os assessores que defendem osseus assessorados. O que eu critico é a falta deética com que alguns desempenham este papel.Assessoria puxa-saco é chata, é anti-ética, é feia.Se aproveitar da máquina pública para dissemi-http://www.univali.br/monitor 140


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAnar agressões a terceiros é sublimar o verdadeiropapel de uma assessoria de comunicação de umórgão público – que deveria servir para deixar aspessoas realmente informadas sobre o que é deinteresse público – é errado e também deveria sermonitorado.Portanto, acredito que deve partir das própriasredações e repórteres minar este tipo de material.O veículo que publica este tipo de materialé tão, ou mais, responsável que o mau assessor deimprensa por cercear o direito da comunidade deobter informações verdadeira sobre os rumos deseu dinheiro, de suas escolhas e de seus direitos.http://www.univali.br/monitor141


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIATendências em ItajaíLaura Seligman e Valquíria John em 12/02/2007Quando o verão vai chegando ao fi m , todasaquelas resoluções que se tomam na emoção do anonovo começam a voltar à memória. Desta forma,muita gente decide procurar o primeiro emprego ouaté uma melhor colocação no seu mercado profissional.Somados a esse movimento profi s sional, milharesde novos profissionais chegam ao mercado comas formaturas que os empurram à renovação.Em Itajaí, novos veículos e novos investimentospodem signifi c ar mais vagas para jornalistas.Com 15 anos de ensino superior de jornalismo nacidade, a Univali, segunda escola desta área no Estadoe hoje a maior universidade catarinense, podeter representado uma significativa colaboração paraesse incremento e para a profissionalização da atividadena região.Itajaí conta com três diários e mais uma sucursaldo Grupo RBS e seus diários, além de diversossemanários, jornais mensais e outros sem periodicidadefixa, mas que mal ou bem, vez por outra contratamjornalistas. Uma das publicações diárias, oDiário de Itajaí, abriu recentemente a partir de umatentativa mal-sucedida de compra do Diário da Cidade.A disputa pode ser vista como um bom sinalde aquecimento do mercado, mas ainda é cedo.O mesmo panorama se dá em relação àsemissoras de rádio que com poucas exceções,trabalham sem contratar jornalistas profissionaisdiplomados. Pode-se destacar entreelas a Rádio Educativa Univali FM, com amaior equipe de jornalistas em rádio da cidade.O maior número de profi s sionais trabalhandoem veículos de comunicação deve estar mesmonas emissoras de televisão. Neste caso, podemoscontar com uma sucursal da RBS TV, a própriaTV Univali que deverá operar em sinal abertopara toda a população ainda neste ano, mais aBrasil Esperança, que segue contratando de umlado, mas burlando a lei de outro, trabalhandocom mais estudantes do que profi s sionais. Entreas pequenas destacam-se o Canal X e a TV Itajaí,esta última com atrasos sistemáticos nos pagamentosde seus funcionários.Entre as emissoras de TV, o maior investimentoem jornalismo está na TV Record, com acontratação de profi s sionais e a veiculação de noticiárioslocais, seguindo uma tendência mundialde regionalização dos noticiários e que vem agradandoo público e conquistando audiência.Talvez seja essa a grande saída que muitosainda não enxergaram. Os jornais locais que se especializaramem coberturas frívolas, com seqüênciasintermináveis de “fotos sociais” ou que só empilhavamtextos copiados de grandes veículos oumais contemporaneamente, da Internet, podemver uma chance de crescer. Com a contrataçãode repórteres e editores profissionais, a qualidadeconstante mantém o público e só faz aumentar.Outra área cada vez mais em expansão comomercado de trabalho para os futuros jornalistas éa assessoria de comunicação. Por muito tempomarginalizada até mesmo pelos acadêmicos (porsua óbvia vinculação comercial), a comunicaçãohttp://www.univali.br/monitor 142


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAorganizacional tem absorvido cada vez mais umnúmero maior de nossos egressos. Essa tendênciase confi r ma pela procura intensa dos egressos dojornalismo nos cursos de pós-graduação na área e,inclusive, pela abertura de empresas de comunicaçãopor muitos de nossos ex-alunos. E esta não éapenas uma tendência de Itajaí e região e dos alunosda Univali, mas um panorama nacional. Desdeque as instituições perceberam a importânciade preservar e consolidar sua imagem e a influênciaque os meios de comunicação podem exercerna tomada de decisões por parte de seus clientes,o trabalho do jornalista e demais profi s sionais dacomunicação passou a ser muito mais valorizado.Claro que nem tudo são flores, há muitos jornalistastrabalhando fora do regime preconizadopela lei, principalmente no que se refere à jornadade trabalho, já que a maioria das empresas nãocontrata profi s sionais para cumprir as cinco horasrecomendadas. Para burlar a lei, muitas alteram afunção na hora de assinar a carteira dos jornalistas,atribuindo-lhes nomes diversos, menos “jornalista”.A obrigatoriedade do diploma em jornalismoe o intenso trabalho dos sindicatos e universidadesna fi s calização das empresas de jornalismoainda não é suficiente para impedir as irregularidades,o trabalho fora da lei, o que comprometenão apenas o mercado de trabalho, mas principalmentea qualidade da informação que chega aoscidadãos. Por isso, cabe a todos nós a fiscalização,a luta pelo exercício regular do jornalismo e, principalmente,o exercício constante do monitoramentoe leitura crítica da mídia.http://www.univali.br/monitor143


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIASolidariedade, que nadaLaura Seligman em 17/03/2007Nas últimas semanas, uma série de comerciaisda operadora de telefonia BrasilTelecomconvida o telespectador à desordem social. Numdeles, uma idosa tenta subir escadas com muitadificuldade, ao som de trilha melancólica. Eisque uma jovem se aproxima e oferece ajuda. Aidosa agradece num educado “por favor”. É aíque desanda a maionese. A moça responde quepor favor não dá, mas por uns 15 reais...No outro comercial da série, uma mulher,ao estilo executiva, caminha rapidamentequando tropeça e cai com violência ao chão. Asituação é constrangedora. Um homem, ternoe gravata, se aproxima e oferece ajuda. Quandoela, machucada, aceita, ele anuncia o preço:15 para socorrê-la, 30 se tiver que juntar o quecaiu ao chão.O consumidor mais desavisado deve seperguntar por que um anúncio desse tipo émantido no ar. Há pouco tempo, assistíamosaos belos filmes publicitários produzidos pelaFundação para Uma Vida Melhor (www.umavidamelhor.org),estimulando valores comoamizade, gratidão, integridade, caráter. O choqueentre o que norteia uma série e outra é inevitável.No Brasil, anúncios publicitários necessitamde denúncia e longos processos para saíremde circulação. O processo exige que alguém quese sentir ofendido faça a requisição junto aoConselho de Auto-regulamentação publicitária– CONAR (www.conar.org.br).Mais do que reclamar sobre a lentidão ea burocracia exigida para que se intervenha noconteúdo publicitário, é preciso criticar duramenteo vale-tudo usado por agências e clientespara vender qualquer tipo de peixe. Os comerciaisde cigarro no rádio e na televisão, proibidosdesde 1971 nos EUA, 1974 na Alemanha esomente desde 2003 no Brasil. Até então, tudoera permitido para vender tabaco: mostrar quequem fuma ficava bonito, charmoso, valente, heróico,inteligente.....nada disso.Comete o mesmo pecado a BrasilTelecomquando tenta dizer que nada é de graça hoje emdia, somente alguns de seus produtos (era essaa idéia da peça publicitária). Para melhorar suaimagem, mostra-se um mundo em que tudo valee tudo é permitido. É a esse conceito que o cidadãocomum fica exposto. Que as denúnciassejam feitas.http://www.univali.br/monitor 144


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAUma amostra dablogosfera em SCRogério Christofoletti em 04/05/2007A deflagração da Operação Moeda Verde,que prendeu servidores públicos, empresários eautoridades políticas em Florianópolis na quinta,3 de maio, pode ser vista como um teste para ojornalismo online em Santa Catarina. A investidada Polícia Federal sobre suspeitos de venda delicenças ambientais na capital resultou na prisãotemporária de peixes graúdos do empresariado epolíticos infl u entes na cidade. O anúncio do recolhimentodos acusados à sede da PF repercutiuimediatamente nas rodas populares, nos escritóriose nas redações. Portais na web e blogs dejornalistas deram uma amostra da rapidez dessesmeios no alastramento da notícia.Ao que tudo indica, a primeira matéria achegar na web catarinense veio do ClicRBS, oportal noticioso do maior grupo de comunicaçãodo sul do Brasil. O texto era o primeiro da páginana manhã da quinta, 3, já às 9h07, e o portal foiatualizando o noticiário ao longo do dia, dandoboas amostras de como se pode fazer jornalismoonline sem medo de “desperdiçar” notícias. Explica-se:mesmo tendo emissoras de rádio e TV ejornais, o Grupo RBS escoou as notícias em temporeal, não reservando as informações para seusboletins ou edições impressas. Diferente da seçãoANAgora, do site de A Notícia, que apenas trouxeum resumo do que seria a matéria, anunciandoa sua íntegra para a edição impressa do jornal,no dia seguinte. Para que ter um site jornalísticona internet, então? Apenas para ter aumentar oalcance do jornal em papel? Mesmo com essa estratégia,ANAgora chegou atrasado em termosde internet: chegou à web no fi n al daquele dia, às17h30.Mais tardio ainda foi o Portal da Ilha que sódeu a notícia às 17h45, conforme se pode ver aqui.Se o site é voltado às notícias de Florianópolis e sededica a isso apenas, a expectativa é de que fossemais ágil.A força dos pequenosEntre os blogs de jornalistas catarinenses,os considerados independentes deram um banhonos diários de grife. Os dois blogs mais conhecidosdo jornalismo catarinense – o de Paulo Alceue o De Olho na Capital, de César Valente – informaramseus leitores só no dia seguinte à devassada PF. O primeiro trouxe matéria na sua primeiraedição da sexta, 4, às 6 horas, conforme se podeverificar aqui.César Valente publicou às 2h03 de madrugadado mesmo dia. É importante lembrar quenesse caso, o jornalista republica no blog a colunaque mantém no Diário do Litoral, que circula naregião de Itajaí. O fato de o jornalista ter segurandoo texto dá a impressão de que ele não quis sefurar (?!!). Hipótese estapafúrdia...Em compensação, pelo menos outros cincoblogs de jornalistas da capital foram rápidosao dar a operação policial. Carlos Damião, porexemplo, esteve muito próximo do ClicRBS, epostou seus comentários já a partir das 9h31. Às10h05 da quinta, 3, o professor da UFSC, Orlan-http://www.univali.br/monitor145


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAdo Tambosi, já manifestava seu ceticismo de que acaça às bruxas em Florianópolis fosse longe. Contrastando,Dauro Veras comemorava a ação daPF e ainda oferecia link com a lista dos presos. Aexperiente Elaine Borges publicou um longo textosobre o caso ainda pela manhã, às 11h45. Vejaem seu Balaio de Sir. Pouco depois, às 12h41, oirascível Aluízio Amorin também comentava aprisão dos suspeitos. Veja aqui.Por essa prévia, e pelo menos neste episódio,os blogs dos jornalistas sem vinculação com grandesempresas do setor ou sem grife acabaram semostrando muito mais eficientes na repercussãodo assunto, reforçando a instantaneidade dessesmeios de comunicação. A blogosfera brasileiraainda é bastante incipiente se formos compararcom outros lugares, como o Japão e os EstadosUnidos. O jornalismo online de Santa Catarinaainda engatinha se formos observar outras experiências,principalmente entre os grandes centrosdo país. Mas o episódio da Operação Moeda Verdemostra que há muitas possibildades de atuaçãonesse campo, e basta mesmo senso de oportunidade,faro jornalístico e agilidade.http://www.univali.br/monitor 146


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIACultura popular não é culturaValquíria Michela John em 04/06/2007Gustavo Cortês, em seu livro Dança Brasil!explica que a Festa do Divino é uma comemoraçãoeuropéia. Sua origem, conforme o autor, foiinstituída pela rainha Isabel, casada com o reiDom Dinis, o lavrador, na cidade de Alenquer(Portugal), onde foi construída uma igreja em homenagemao Divino Espírito Santo, no início doséculo XIV.A Festa do Divino chegou ao Brasil comos imigrantes europeus, espalhando-se pelo país,principalmente no litoral, por meio dos imigrantesaçorianos. Está mais presente nos estados doRio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, RioGrande do Sul e Santa Catarina; é realizada noperíodo de pentecostes (entre maio e junho).Em Santa Catarina, a Festa do Divino estámais presente no litoral, com destaque para ascidades de Penha e Florianópolis, esta última, amais antiga do estado, com mais de 200 anos decelebração.No período que variou entre 20 e 28 demaio, as festividades do divino estiveram novamentepresentes no estado, mas, infelizmente,não estiveram presentes nos diários catarinenses.Apesar de demonstrarem a importância do legadoreligioso nas cidades com maior influência dacultura açoriana, o jornal A Notícia sequer mencionouas festas nos dias do auge da comemoração(26, 27 e 28/05), quando chegava ao final maisuma celebração. Nem mesmo a festa no Balneáriode Penha, com 171 anos de tradição, na área deabrangência do AN, mereceu destaque.No Jornal de Santa Catarina a situação nãofoi muito diferente. Com uma única matéria, publicadana edição de 26 e 27/05, o jornal apenasdescreveu a programação das festas em Blumenau,Penha e Camboriú. Embora o título da matériaprometesse ir além do agendamento, “Festasdo divino reúnem tradição e fé”, o enfoque ficoupara: “(...) os cantores de Deus, que acompanhamo padre Zezinho, se apresentarão em Blumenau”.Pois bem, mas pelo menos o jornal sediadona capital do estado haveria de trazer textos referentesa, senão todas as celebrações realizadas, pelomenos à festa em Florianópolis, com seus mais de200 anos de tradição, certo? Sim, o Diário Catarinensedestacou a Festa do Divino de Florianópolisno final de semana de seu encerramento. Pontopara o DC? Pela visibilidade sim, mas no que serefere ao enfoque, a cultura popular foi esmagadapelo caráter “consumista” da festa. Embora tenhatrazido como chamada de texto nos três dias emque abordou a festa o termo “tradição”, este aspectofoi o que menos apareceu nos textos do DC.No dia 26/05, na editoria de Geral, o título atépromete, “Festa do Divino é a atração do fim desemana na capital”, mas a linha de apoio entregao conteúdo: “A Divina festa do Divino animou anoite de ontem, com música, muita gastronomia,além de diversão para as crianças”. Destaque paraa foto de uma menina na pescaria, o enfoque ficounas “barraquinhas”.No dia 27/05, também na editoria de Geral,um breve mergulho na cultura popular. Com ohttp://www.univali.br/monitor147


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAtítulo “Festa do Divino, tradição na capital”, destacaos 231 anos da celebração e revela ao leitoralguns dados históricos, fornecidos pela entrevistacom a professora Lélia Pereira Nunes. Infelizmente,não fala de nenhuma outra festa, como ado município de Penha, nem aprofunda o históricoda festa na capital. No domingo (28/05), aFesta do Divino esteve na Geral e na Coluna deSérgio Costa Ramos (Caderno Variedades). Namatéria da editoria de Geral, o texto vem sob otítulo “Tradição”, mas enfoca, novamente, o aspectoeconômico, a diversão e não a tradição,como se percebe no trecho “(...) proporcionar umdomingo diferente às fi l has era o desejo do casalCristiane e HaLey Pires ao leva-las à Festa doDivino Espírito Santo, que terminou ontem, noCentro de Capital”. Ou ainda “Para a família deCristiane, no entanto, as barraquinhas de maçãdo amor e de pescaria já seriam suficientes paragarantir o sucesso do passeio do fim de semana”.A seguir, enfatiza a renda dos quatro dias de festacom as 30 barraquinhas, responsáveis por 70% doorçamento anual da Irmandade do Divino EspíritoSanto – entidade que organiza a festa e explicaque a renda será revertida para projetos sociaisque beneficiarão 1,2 mil crianças carentes. SérgioCosta Ramos fala da festa em sua coluna, que estáao lado de matéria sobre o filme Nossa Senhorade Caravaggio (Fábio Barreto). Menciona o livrode Lélia Pereira Nunes – Caminhos do Divino,sem mencionar nenhuma das outras celebraçõesno estado.anos da cidade da Penha, por exemplo. O quemais incomoda é que a cultura popular, que é oque a Festa do Divino representa, decididamentenão seja vista como cultura nos diários catarinenses.A escolha do título deste texto não é poracaso, é síntese de uma constatação. Veja, caroleitor, a Festa do Divino só teve uma menção emapenas um dos cadernos culturais dos três jornais.No mais, ela foi para a “Geral”. Esta refl e xão nãoé isolada uma vez que num estudo recém concluídosobre a inserção da cultura popular nos diárioscatarinenses, realizado com a colaboração das estudantesde jornalismo Caroline Leal e GabrielaForlin, identificamos exatamente esse aspecto:NÃO HÁ CULTURAL POPULAR NOS DI-ÁRIOS CATARINENSES!Por isso, caro leitor, a partir do levantamentode enfoques aqui apresentado quanto à Festa doDivino em seu último fi n al de semana de realização,somado ao estudo de seis meses de publicaçãodos cadernos Variedades, Lazer e Anexo podemosafirmar que, para os principais jornais diário catarinenses,cultura popular não é cultura. O que seperde? Em curto prazo, a possibilidade de realizarum jornalismo cultural mais consistente, atrativoe significativo. Em longo prazo, nossa memória eidentidade local.O que mais chama a atenção na cobertura(ou na inexistência dela) da Festa do Divino nosdiários catarinenses? Nem tanto o fato de ter sidopouco mencionada, afinal, ela se repete todos osanos e é mesmo difícil para qualquer jornalistabuscar um novo enfoque, um novo aspecto. Nemtanto por ter destacado apenas a festa da capitale ter simplesmente “esquecido” a tradição de 171http://www.univali.br/monitor 148


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAKaris Regina Brunetto Cozer em 04/10/2007Um mundo que falaa mesma línguaEngana-se quem ingressa em um curso dejornalismo fiel na convicção de que o principal aser feito é apenas transmitir informações. Talvezmais do que qualquer outra profi s são, o jornalistaprecise antes de tudo conhecer e se inserir nomeio em que atua - e preparar-se para evoluir juntocom ele.Antes dos anos 50, o jornalismo era bastantediferente, tanto na estrutura das redaçõesquanto na formação dos seus profi s sionais. As realidadesem que as pessoas viviam não eram tãodistantes e, apesar da menor tecnologia, em diversosaspectos a comunicação entre a população eramais fácil. Hoje, conforme avançamos tecnologicamente,fi c amos mais isolados; excluímos quemnão tem o mesmo poder de acesso à informação eaumentamos o abismo que existe entre as pessoas.Inclusão social não é uma das obrigações do jornalista,mas a falta dela é um problema com queele é obrigado a lidar. Além de informar, o jornalismodeve, neste momento da evolução, aproximara sociedade e facilitar a comunicação entreela. Informar, orientar e interpretar, as principaisfunções exercidas de uma maneira tal que, se nãofor beneficiar a todos, não priorize nenhum setorsocial, de modo que a difusão de informação nãoseja prejudicada.A comemoração do cinqüentenário do GrupoRBS, iniciada em 1o de agosto de 2007, foi planejadacom espírito de festa e ênfase nas mudançasque o jornalismo sofreu ao longo do tempo.O investimento da empresa, que em virtude doaniversário adotou uma nova logomarca, chegaaos quatro milhões de reais. Foi aberta ao públicouma exposição de 4,3 mil metros quadrados, naUsina do Gasômetro, em Porto Alegre, que retrata,nas palavras do presidente do grupo, NelsonSirotsky, a comunicação que a RBS promove.O site www.noar50anosdevida.com.br permiteuma visita virtual ao espaço físico da exposição epossui um álbum interativo, que contém notícias,fotos, vídeos e uma linha do tempo com os acontecimentosmais marcantes nos últimos 50 anos.A experiência interativa de um hotsite, presenteno evento, é uma tecnologia usada pela primeiravez no Brasil e objetiva inserir a profissão emmais esta novidade. Ainda, mostra a necessidadede um estudo constante, inclusive àqueles que járeceberam seu diploma, mas não devem parar deestudar.“Nossa vida, sua vida”, slogan da comemoração,traduz grande parte dos objetivos do grupo,que é a história da RBS fazendo parte do cotidianoda sociedade, “facilitando a comunicação daspessoas com o seu mundo”. A nova logomarca,adotada por todos os veículos da emissora, indicaum caminhar constante para a inovação, e carregao intuito de transmitir os cinco pilares da empresa,atuação multimídia, isenção e independência,valorização das pessoas, permanente inovação efoco local. Há um ano, contudo, com a comprado A Notícia - que tinha como proposta cobrir aregião norte de Santa Catarina - a RBS feriu umdos seus pilares, ao alterar o foco de cobertura dojornal, que passou a contar com fragmentos dematérias publicadas no Diário Catarinense, ante-http://www.univali.br/monitor149


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAriormente seu concorrente. A valorização das pessoastambém foi prejudicada, enquanto o grupootimiza suas operações no estado.O mercado local necessita que as emissorascom sede em suas regiões tenham um foco tambémlocal. Por isso, pautas em Santa Catarina eregião devem ser prioridade dos grupos de comunicaçãodaqui. A inserção do jornalismo e do públicono mundo digital também, pois serve paraaproximar o mercado e público catarinense doresto do mundo, permitindo que se fale, mesmocom todas as diferenças, um idioma só.Uma parceria de sucessoFundada em Porto Alegre e precursora daRBS (Rede Brasil Sul), a Rádio Gaúcha surgiu deum acordo firmado em agosto de 1957, quandoMaurício Sirotsky Sobrinho, a convite de ArnaldoBallvé, associou-se a mais nova empresa decomunicação. A porta aberta por Assis Chateaubriandem 1950, com a inauguração da televisãono Brasil, possibilitou ao grupo iniciar a criaçãoda TV Gaúcha em 1962, quando o irmão de Sirotsky,Jayme, também passou a fazer parte dapromissora sociedade. O projeto, que passou porintensas dificuldades em meados de 1964, constituiu-sebasicamente de várias negociações comoutras companhias jornalísticas, e os investimentosfeitos, 50 anos depois, apresentam resultados.Subsidiária da Rede Globo, a RBS é hoje amaior empresa de comunicação multiregional dopaís e conta com uma respeitável estrutura nosestados em que atua. O crescimento, provenienteprincipalmente do fi n al da década de 60, possibilitouà corporação, com redações e estúdios emSanta Catarina e Rio Grande do Sul, ter correspondentese colaboradores em estados de relevânciapolítica e econômica como: Paraná, São Paulo,Rio de Janeiro e Distrito Federal.Talvez perto, mas não em cima do muroEnquanto há muito ainda para ser feito econsertado, a indústria da informação comete váriosdelitos na produção e transmissão de notícias.Com a RBS não é diferente, principalmente ao seanalisar o cenário atual da comunicação em SC,em que o grupo detém o oligopólio, e/portanto,tem o total controle de difusão de informações.Isso pode levar a únicos posicionamentos, manipulação,omissão, censura. Assim, se torna simplesclassificar uma sociedade como passiva, recebendoas informações sem questionamento algum, jáque ela vive em um contexto que abre precedentespara fixar opiniões.A imparcialidade, permanecer em cima domuro, não é um preceito fácil de respeitar. É tênuea linha que separa o certo do errado, mas adistância entre a obrigação e a responsabilidade éimensa. Esses são desafios muitas vezes distorcidosno momento do impulso, quando a ética socialparece ter ficado perdida.As iniciativas da RBS têm, ao longo do tempo,atribuído mais valor e repercussão na vida eformação do público e dos profi s sionais que emprega.Como tal, carrega uma responsabilidadesocial quase imensurável, assim como os desdobramentosdos seus erros e acertos tendem a ser,por natureza, propositalmente maiores.Há mais coisas a serem comemoradas pelaRBS nestes 50 anos, além de uma história bemsucedida. A solidez em que está amparada, a aceitação,quase unânime em certos segmentos, apermissão para continuar trilhando seu caminhono jornalismo da maneira que desejar são, para obem ou para o mal, os verdadeiros presentes quehttp://www.univali.br/monitor 150


Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAa família Sirotsky ganhou de aniversário. Preocupar-seem usufruir deles de maneira responsável,correta e coerente é, por sua vez, a recompensaque a população merece.to, transcrevendo a fala dos candidatos, semretrancas que apurassem a viabilidade das propostasou sua consistência. Foi assim, por exemplo,na edição de 21 de agosto. O fato de o jornal pertencera um grupo empresarial que também detémemissoras de televisão pode ajudar a explicara proximidade e semelhança das coberturas nosmeios impressos e televisivos. Entretanto,http://www.univali.br/monitor151


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