RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Quadro1: Política de compras governamentais para o desenvolvimento de vacinas essenciaisAs políticas de compras públicascompõem um dos mecanismosusados globalmente para a promoção<strong>da</strong> ciência e a apropriação social doconhecimento. As políticas brasileirasde vacinação e compras públicastiveram um impacto indiscutível nadéca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>, tanto em termos depesquisa básica quanto de produçãode vacinas. Essas políticas promovema autossuficiência imunobiológica e oacesso universal às vacinas, que sãoofereci<strong>da</strong>s gratuitamente à população.Duas instituições centenárias – oInstituto Butantan e o InstitutoOswaldo Cruz – construíraminstalações paralelas de pesquisas,desenvolvimento e produção devacinas para permitirem que o Brasilseja competitivo tanto em termoscientíficos quanto tecnológicosnesse campo.O quadro jurídico responsável porestimular a produção de vacinas poressas instituições gêmeas baseia-seno Artigo 24 <strong>da</strong> Lei nº 8.666 de junhode 1993. Esse artigo regulamenta oArtigo 37, inciso XXI <strong>da</strong> ConstituiçãoFederal e institui normas para oprocesso de licitações públicas e acelebração de contratos pelaadministração pública, entre outrasmedi<strong>da</strong>s. O artigo 24 afirma que alicitação no processo de compraspúblicas pode ser dispensa<strong>da</strong> se umaenti<strong>da</strong>de pública adquirir bens eserviços de outra enti<strong>da</strong>de ou órgão<strong>da</strong> administração pública, contantoque esses bens ou serviços sejamcriados com esse propósito específicoanteriormente à promulgação <strong>da</strong> Leinº 8.666, e contanto que o preço docontrato seja compatível com opreço do mercado. Essa decisãoestimulou tanto o Instituto Butantanquanto o Instituto Oswaldo Cruz adesenvolver plantas-piloto paraprodução de vacinas, tendo oMinistério <strong>da</strong> Saúde como seuparceiro central. O ministériodesempenhou um papel vital, namedi<strong>da</strong> em que ele garantiu aosinstitutos um comprador principal eum volume mínimo de produção.Ficou evidente, desse modo, queessas instalações precisariam seracompanha<strong>da</strong>s por uma expansãoem paralelo <strong>da</strong> ciência básicarelaciona<strong>da</strong> às vacinas.A realização de uma análiseinteiramente cientométrica paraanalisar o progresso nessa área <strong>da</strong>ciência básica é um exercíciointrincado, uma vez que muitossetores biológicos estão relacionadosàs vacinas. Apesar disso, uma buscapor publicações produzi<strong>da</strong>s no Brasilusando vacina como um tópico revelaque, ao longo dos cinco últimos anos,a contribuição <strong>da</strong>s ciências básicasrelaciona<strong>da</strong>s a este tema no Brasilsaltou de uma participação de 2%para 3% <strong>da</strong> literatura mundial. Ain<strong>da</strong>mais importante, os dois produtoresde vacinas, os institutos Butantan eOswaldo Cruz, têm sido responsáveispor cerca de 30% de to<strong>da</strong> a produçãocientífica do Brasil no campo dodesenvolvimento de vacinas desde2004. Em 2009, o Instituto Butantanproduziu mais de 200 milhões dedoses de vacinas usando tecnologiaprópria, incluindo as vacinas contradifteria, tétano e coqueluche (DTC),e hepatite B. No mesmo ano ainstalação Bio-Manguinhos, associa<strong>da</strong>ao Instituto Oswaldo Cruz, produziumais de 170 milhões de doses devacinas contra febre amarela,Hemophilus influenza tipo B epoliomielite oral Sabin, entre outras.Ambos os Institutos Butantan eOswaldo Cruz estão desenvolvendotecnologia a partir <strong>da</strong> produçãoprópria de ciência básica e estãobuscando ativamente colocar nomercado brasileiro e exportar vacinasmodernas de nova geração, por meiode acordos de transferência detecnologia com empresas priva<strong>da</strong>s.Os produtos oferecidos pelo InstitutoButantan incluem vacinas contra raivaobti<strong>da</strong>s em cultura celular, dengue,rotavírus e influenza.Fonte: os autoreslógica (ABCR & THOMSON VENTURE ECONOMICS, 2003).Tendências em profissionais de P&DA carência de doutoresApesar de o Brasil ter conseguido aumentar o número dedoutorados finalizados a ca<strong>da</strong> ano para 10.711 em 2008, opaís ain<strong>da</strong> enfrenta uma situação de carência,especialmente em engenharia. O número de pessoas queterminam um doutorado pode parecer alto, mas ele setraduz em apenas 4,6 doutores para ca<strong>da</strong> 100 milhabitantes, uma relação 15% menor do que a <strong>da</strong>Alemanha e praticamente um terço <strong>da</strong> relação encontra<strong>da</strong>na República <strong>da</strong> Coreia (Capes, 2005). No nível degraduação, o Brasil enfrenta um enorme desafio, uma vezque apenas 16% dos jovens entre 18 e 24 anos estavammatriculados no ensino superior em 2008. Essapercentagem precisará triplicar se o Brasil quiser alcançaro degrau mais baixo <strong>da</strong> esca<strong>da</strong> dos países <strong>da</strong> OCDE. Até omomento, a estratégia do país tem sido a de aumentar onúmero de instituições priva<strong>da</strong>s oferecendo cursos dequatro a cinco anos, ao mesmo tempo em que amplia asinscrições nas universi<strong>da</strong>des públicas oferecendo cursos40
BrasilFigura 6: Pesquisadores no Brasil, 2008Os demais países são apresentados a título de comparaçãoPesquisadoresPesquisadores a ca<strong>da</strong> 1.000 pessoas na força de trabalho1 425 550EUA9,40221 928Rep. Coreia9,17Brasil254 599139 011215 755290 853Reino UnidoCanadáFrançaAlemanha8,297,877,596,98122 624Espanha5,5338 681Argentina2,021 423 381China1,83133 266Brasil1,3337 930 México 0,86Fonte: Base de <strong>da</strong>dos do Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, maio de <strong>2010</strong>com a mesma duração. Mas a estratégia não tem sidosuficiente para aumentar a taxa de matrícula a um nívelcompetitivo internacionalmente.A maioria dos pesquisadores brasileiros é compostapor acadêmicosA grande maioria <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de P&D é realiza<strong>da</strong> porinstituições acadêmicas no Brasil, como foi confirmadopela demografia (Figuras 6 e 7). Na maior parte dos casos,é mais fácil obter informações precisas <strong>sobre</strong> o número defuncionários do que <strong>sobre</strong> os gastos com P&D, especialmenteno setor privado. Os pesquisadores no Brasilocupam principalmente cargos acadêmicos em tempointegral: 57% são servidores de universi<strong>da</strong>des, e outros6%, de institutos de pesquisa. Os 37% restantes estão nosetor de negócios, o que é consistente com a porçãomenor de gasto privado com P&D, em comparação com ogasto público. O pequeno número de cientistas no setorprivado não deixa de ter suas consequências, tal como étestemunhado pela deficiência de patentes gera<strong>da</strong>s pelaindústria brasileira. Ele é também um dos principaisobstáculos ao desenvolvimento de laços mais fortes entreas universi<strong>da</strong>des e as indústrias. Ademais, apenas 15% dospesquisadores brasileiros no setor empresarial possuemmestrado ou doutorado. Na República <strong>da</strong> Coreia, essapercentagem é de 39%, sendo 6% dos profissionais comdoutorado e 33% com mestrado. As agênciasgovernamentais para o financiamento <strong>da</strong> P&D, como oCNPq, a Finep, a Fapesp e outras têm criado programas deFigura 7: Pesquisadores no Brasil por setor deativi<strong>da</strong>des, 2008 (%)Equivalente ao período de tempo integralNegócios37,3Institutosprivadosde P&D0,7Governo0,5Fonte: Base de <strong>da</strong>dos do Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia,junho de <strong>2010</strong>Universi<strong>da</strong>des56,841