RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>os outros indicadores. A China ain<strong>da</strong> está tipicamente emuma fase de alcançar os outros: seu pesado investimentoem P&D ain<strong>da</strong> não foi devi<strong>da</strong>mente recompensado, mas,naturalmente, sua estrutura econômica segue domina<strong>da</strong>por ativi<strong>da</strong>des de tecnologia não intensiva.Os vieses nacionais na Figura 5 também mostram algumasimplicações <strong>da</strong> migração internacional de pesquisadores e, demodo mais amplo, de capital humano, para os países. Não é dese estranhar que haverá uma forte emigração para fora de paísescomo a Rússia, e uma forte imigração em direção aos EUA,<strong>da</strong>dos os atuais vieses dos seus sistemas nacionais de inovação.A RECESSÃO ECONÔMICA GLOBALPREJUDICA A GERAÇÃO DECONHECIMENTO?A recessão econômica poderá ter um duro impacto <strong>sobre</strong>o investimento em conhecimento em torno do globo.Muitos indicadores de conhecimento descritos em 2007 eantes podem ter sido afetados no processo, e, assim,podem ser pouco confiáveis para antecipar a situação de2009 ou <strong>2010</strong>. Os orçamentos de P&D, principalmente,tendem a ser vulneráveis a cortes em tempos de crise. Aspatentes e as publicações, por sua vez, serão afeta<strong>da</strong>s pelaque<strong>da</strong> nos gastos de P&D, mas isso provavelmenteocorrerá em longo prazo e afetará a produção científica demodo menos direto, em função de efeitos em linha queabafam flutuações bruscas. Em relação às tendências emtermos de educação e força de trabalho, esse setor tendea ser menos afetado por distorções de curto prazo.Existem alguns indicadores de curto prazo que podemiluminar o impacto <strong>da</strong> recessão até o momento. Aqui,fazemos uso do indicador composto avançado (CLI) <strong>da</strong>OCDE, que está facilmente disponível. Esse indicador fazuso de <strong>da</strong>dos mensais (sem identificação de tendências)<strong>sobre</strong> a produção industrial como representantesaproximados <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômica. É um indicador dedestaque porque a produção industrial se recuperarapi<strong>da</strong>mente em um ciclo econômico. Um marco de vira<strong>da</strong>Figura 6. Produção industrial nos BRICs, EUA e zona do Euro, 2006-<strong>2010</strong>120Zona do Euro (16 países)EUAChinaRússiaBrasilÍndia100101,7101,7101,6101,6101,398,0104,3103,1102,7102,2101,0100,980J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M2006 2007 2008 2009 <strong>2010</strong>Fonte: OECD, Composite Leading Indicators (Amplitude adjusted series) 20
O crescente papel do conhecimento na economia globalno CLI assinala que se pode esperar um marco de vira<strong>da</strong> nociclo de negócios dentro de seis a nove meses. A Chinamostrou isso tão cedo quanto novembro de 2008, e,consequentemente, uma vira<strong>da</strong> para cima no ciclo denegócios em maio-agosto de 2009, como esperado.A partir <strong>da</strong>s informações <strong>da</strong> Figura 6, também podemosinterpretar que o Brasil estava 10% acima do seu nívelde longo prazo na produção industrial de 2007, antes decair radicalmente para cerca de 85% desse valor noprimeiro mês de 2009. A produção industrial na Índia ena zona do Euro teve apenas um tropeção, caindo decerca de 103% para 90%. Espera-se que a recuperaçãoseja forte o suficiente para elevar o nível <strong>da</strong> produçãoindustrial acima do seu patamar de longo prazo.Porém os <strong>da</strong>dos dos meses mais recentes (junho de <strong>2010</strong>)revelam que a taxa de recuperação está diminuindo,e isso provoca questionamentos quanto a um possívelduplo mergulho.Em suma, podemos dizer que entre outubro de 2008 emarço de 2009, os primeiros sinais <strong>da</strong> recuperação setornaram visíveis. A Ásia em geral e a China em particularforam as primeiras a se recuperar. É improvável que osgastos de P&D na China tenham sido afetados pelarecessão econômica global, pois a produção industrialteve uma que<strong>da</strong> de apenas 7% abaixo do seu valortendencial de longo prazo por um período relativamentecurto. Entretanto as evidências circunstanciais <strong>da</strong>sempresas, apresenta<strong>da</strong>s pelo placar de investimento emP&D <strong>da</strong> UE em 2009 mostram que o esforço de P&D <strong>da</strong>China em 2008 aumentou, pelo menos no campo <strong>da</strong>stelecomunicações. Não há motivos para supor que 2009 e<strong>2010</strong> serão muito diferentes, uma vez que a economia <strong>da</strong>China cresceu mais de 7%, mesmo em 2007 e 2008.Por sua vez, para o Brasil e a Índia, é possível que osesforços totais de P&D tenham sido pressionados em2008 e 2009, em função do nível relativamente baixo deprodução industrial durante um período de tempoprolongado. De fato, entre julho de 2008 e março de<strong>2010</strong>, a produção industrial permaneceu abaixo do seunível tendencial de longo prazo. Por outro lado, como umdestaque positivo, esses países têm alcançado os paísesdesenvolvidos em termos de GERD por vários anos.Portanto, pode-se esperar mais uma perspectiva decalmaria na intensi<strong>da</strong>de crescente de P&D nesses paísesdo que uma que<strong>da</strong> significativa.Quanto às maiores empresas de P&D do mundo, asevidências circunstanciais para 2009 revelam que amaioria dos grandes financiadores de P&D nos EUAcortaram entre 5% e 25% de seus gastos com P&D noano, enquanto uma minoria aumentou os gastos entre6% e 19%. Porém, no geral, os EUA e a UE provavelmentemanterão a intensi<strong>da</strong>de total de sua P&D em torno dosníveis de 2007. Isso significa que tanto o PIB quanto osgastos com P&D diminuirão de modo proporcional,mantendo assim a intensi<strong>da</strong>de de P&D mais ou menosconstante ao longo de 2009-<strong>2010</strong> (BATTELLE, 2009).UM EXAME MAIS DETALHADO DEPAÍSES INDIVIDUAIS E REGIÕESA escolha dos países e regiões pelo Relatório <strong>UNESCO</strong><strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> reflete bem a heterogenei<strong>da</strong>demundial de C&T entre nações altamente desenvolvi<strong>da</strong>s<strong>da</strong> OCDE e os quatro grandes países emergentes quecompõem o grupo dos BRICs, e incluindo o grandenúmero de países em desenvolvimento que demonstramum crescente papel no esforço global de pesquisa. Aqui,resumimos as conclusões mais perspicazes queemergiram dos estudos regionais e de países individuais.Nos Estados Unidos <strong>da</strong> América (capítulo 2), os esforçosde P&D têm prosperado ao longo dos cinco últimos anos,e continuam a ser uma priori<strong>da</strong>de governamentalindiscutível. Um bom exemplo é o financiamento para aFun<strong>da</strong>ção Nacional de Ciência, que duplicou a pedido dogoverno Bush em 2007 e está em vias de duplicarnovamente durante o governo Obama. Ain<strong>da</strong> que arecessão gera<strong>da</strong> pela crise <strong>da</strong>s hipotecas tenha atingidoduramente a economia em 2009 e <strong>2010</strong>, as universi<strong>da</strong>dese os centros de pesquisa continuaram a recebergenerosos financiamentos tanto de fundos públicosquanto de fontes priva<strong>da</strong>s e industriais.O governo Obama incluiu um significativo investimentopontual em CTI que também beneficiou P&D no segundopacote de estímulo rumo ao final de 2009, mas agoraexiste o risco claro de que qualquer aumento no financiamentofederal será contrabalanceado por reduções nofinanciamento tanto pelos governos estaduais quantopelos fundos privados. Apesar disso, o almejadocompromisso do governo Obama é o de aumentar oGERD de 2,7% para 3% do PIB. O governo está enfatizandoa P&D no campo <strong>da</strong> energia, em especial, energia limpa.Diferentemente <strong>da</strong> pesquisa pública, a P&D industrialparece ter sido atingi<strong>da</strong> de modo relativamente forte pelarecessão, e um amplo número pesquisadores foidispensado. Entre os maiores financiadores de P&D estãoas indústrias farmacêuticas, que foram muito afeta<strong>da</strong>spela recessão. De fato, o capítulo aponta que a indústriafarmacêutica já estava mostrando sinais de fadiga antesIntrodução21