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Relatório UNESCO sobre Ciência 2010: o atual status da ... - UnB

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RELATÓRIO<strong>UNESCO</strong>SOBRECIÊNCIA <strong>2010</strong>O <strong>atual</strong> <strong>status</strong> <strong>da</strong> ciênciaem torno do mundoResumo ExecutivoRepresentaçãono BrasilOrganização<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spara a Educação,a Ciência e a Cultura1


Representaçãono BrasilOrganização<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spara a Educação,a Ciência e a CulturaO Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> completo foi produzido pela equipe <strong>da</strong> Divisão dePolítica Científica e Desenvolvimento Sustentável <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>. A tradução para o portuguêsdo resumo executivo deste relatório foi produzi<strong>da</strong> pelo setor de Ciências Naturais <strong>da</strong>Representação <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> no Brasil.Créditos do Relatório completo:Diretora de Publicações: Lidia BritoEditora: Susan SchneegansAssistente Administrativa: Sarah ColauttiAgradecemos aos membros <strong>da</strong> equipe do Instituto de Estatística <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, por teremcontribuído com um vasto acervo de informações para o relatório: Simon Ellis, ErnestoFernández Polcuch, Martin Schaaper, Rohan Pathirage, Zahia Salmi, Sirina Kerim-Dikeni e aequipe de Indicadores Educacionais.O relatório se baseia amplamente na experiência dos autores convi<strong>da</strong>dos a abor<strong>da</strong>r asprincipais tendências e o desenvolvimento em pesquisa científica, inovação e educaçãosuperior no país ou na região de sua origem. Assim, aproveitamos a oportuni<strong>da</strong>de epara agradecer a ca<strong>da</strong> um dos 35 autores pelo seu comprometimento com aelaboração deste importante relatório.Créditos <strong>da</strong> versão em português:Tradução: Dermeval de Sena Aires JúniorRevisão: Reinaldo Lima ReisDiagramação <strong>da</strong> versão em português: Paulo SelveiraAgradecemos aos autores Carlos Henrique de Brito Cruz e Hernan Chaimovichpela re<strong>da</strong>ção e revisão do capítulo <strong>sobre</strong> o Brasil.© <strong>UNESCO</strong> <strong>2010</strong>SC-20/WS/25Impresso no Brasil


RELATÓRIO<strong>UNESCO</strong> SOBRECIÊNCIA <strong>2010</strong>A versão em português do Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> inclui o capítulo 1 <strong>sobre</strong>o crescente papel do conhecimento na economia global e o capítulo 5 <strong>sobre</strong> o Brasil.O Relatório completo consiste nos capítulos indicados abaixo.CONTEÚDOApresentaçãoCapítulo 1Capítulo 2Capítulo 3Capítulo 4Capítulo 5Capítulo 6Capítulo 7Capítulo 8Capítulo 9Capítulo 10Capítulo 11Irina Bokova, Diretora-geral <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>O crescente papel do conhecimentona economia globalHugo Hollanders e Luc SoeteEstados Unidos <strong>da</strong> AméricaJ. Thomas Ratchford e William A. BlanpiedCanadáPaul DufourAmérica LatinaMario Albornoz, Mariano Matos Macedoe Claudio AlfarazBrasilCarlos Henrique de Brito Cruze Hernan ChaimovichCubaIsmael Clark ArxerPaíses <strong>da</strong> CARICOMHarold Ramkissoon e Ishenkumba KahwaUnião EuropeiaPeter TindemansSudeste EuropeuSlavo RadosevicTurquiaSirin ElciFederação RussaLeonid Gokhberg e Tatiana KuznetsovaCapítulo 12Capítulo 13Capítulo 14Capítulo 15Capítulo 16Capítulo 17Capítulo 18Capítulo 19Capítulo 20Capítulo 21Ásia CentralAshiraf MukhammadievEstados ÁrabesAdnan Badran e Moneef R. Zou’biÁfrica SubsaarianaKevin Urama, Nicholas Ozor, Ousmane Kanee Mohamed HassanÁsia do SulTanveer NaimIrãKioomars AshtarianÍndiaSunil ManiChinaMu RongpingJapãoYasushi SatoAnexosAnexo de EstatísticasRepública <strong>da</strong> CoreiaJang-Jae LeeSudeste Asiático e OceaniaTim Turpin, Richard Woolley, PatarapongIntarakumnerd e Wasantha Amara<strong>da</strong>sa1


APRESENTAÇÃOO Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência é um espelho dodesenvolvimento <strong>da</strong> ciência nos cinco anos recentes, apósa publicação do seu antecessor em 2005. Em particular,ele nos mostra como a proliferação <strong>da</strong> informação digitale <strong>da</strong>s tecnologias de comunicação estão modificando ca<strong>da</strong>vez mais a imagem global, ain<strong>da</strong> que as dispari<strong>da</strong>des entreos países e as regiões continuem imensas. A acessibili<strong>da</strong>deà informação codifica<strong>da</strong> em torno do mundo está tendoum efeito radical na criação, acumulação e disseminaçãode conhecimento, enquanto proporciona, ao mesmo tempo,plataformas especializa<strong>da</strong>s para o trabalho em rede porcomuni<strong>da</strong>des científicas que operam em nível global.A distribuição dos esforços de pesquisa e desenvolvimento(P&D) entre o Norte e o Sul tem se modificadocom a emergência de novos atores na economia global.Um mundo bipolar, no qual a ciência e a tecnologia (C&T)eram domina<strong>da</strong>s pela Tríade composta por UniãoEuropeia, Japão e EUA, está se transformando gradualmenteem um mundo multipolar com um crescentenúmero de centros de pesquisa públicos e privados noNorte e no Sul do globo. Os antigos novatos e os recémchegadosà arena de C&T, incluindo a República <strong>da</strong> Coreia,o Brasil, a China e a Índia, estão criando um ambienteglobal mais competitivo, desenvolvendo suaspotenciali<strong>da</strong>des nas esferas <strong>da</strong> indústria, <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong>tecnologia. Uma consequência é o aumento <strong>da</strong>competição entre os países para atraírem cientistas doexterior e manterem ou chamarem de volta seus melhorespesquisadores e pós-graduados que vivem no exterior.Uma constatação encorajadora do relatório é que ofinanciamento de P&D continuou expandindo-seglobalmente como resultado de um reconhecimentomais forte pelos governos em torno do mundo quanto àimportância crucial <strong>da</strong> ciência para o desenvolvimentosocioeconômico. Os países em desenvolvimento queprogrediram mais rapi<strong>da</strong>mente nos anos recentes são osque adotaram políticas para a promoção <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong>tecnologia e <strong>da</strong> inovação. Ain<strong>da</strong> que a África continueatrasa<strong>da</strong> em relação às outras regiões, sinais de progressopodem ser observados em alguns países do continente,que representam hoje uma crescente contribuição aoesforço global de P&D. A contribuição ca<strong>da</strong> vez maior docontinente ao acervo global de conhecimentos é uma boanotícia – ain<strong>da</strong> mais, quando sabemos que a África é umapriori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>. Esse progresso mostra quepolíticas públicas conscientes e bem direciona<strong>da</strong>spodem fazer diferença se forem implementa<strong>da</strong>s comcompromisso e dedicação, mesmo em meio acircunstâncias difíceis.No entanto o relatório também aponta para persistentesdispari<strong>da</strong>des entre os países, e, em particular, para acontribuição marginal feita pelos países menos desenvolvidos(na sigla inglesa, LDCs) à ciência global. Essasituação serve como um apelo a to<strong>da</strong>s as partesinteressa<strong>da</strong>s, incluindo a <strong>UNESCO</strong>, para que renovem oseu apoio aos LDCs em termos de investimento na ciência,transformando o ambiente político e promovendo osajustes institucionais necessários – em outras palavras,para permitirem que a C&T realize o seu potencial comouma alavanca fun<strong>da</strong>mental no desenvolvimento. Essa éuma tarefa ampla e complexa que só poderá ser cumpri<strong>da</strong>por meio de uma grande mobilização de políticas públicasem favor <strong>da</strong> ciência. A mobilização <strong>da</strong>s políticas públicascontinua sendo crucial para a construção <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>deshumanas e institucionais a fim de se vencer o hiato doconhecimento e empoderar os países emdesenvolvimento na construção de habili<strong>da</strong>desadequa<strong>da</strong>s de pesquisa científica, para que possam li<strong>da</strong>rcom os desafios nacionais e globais. Para nós, é umimperativo moral fazer com que a ciência global se torneuma ciência inclusiva.Existem dois cenários possíveis para a maneira como ageopolítica <strong>da</strong> ciência mol<strong>da</strong>rá o futuro. Um se baseia naparceria e na cooperação, enquanto o outro, na buscapela supremacia nacional. Estou convenci<strong>da</strong> de que,mais do que nunca, a cooperação científica regional einternacional será vital para li<strong>da</strong>rmos com os desafiosinterligados, complexos e crescentes com que nosdefrontamos. Ca<strong>da</strong> vez mais, a diplomacia internacionaltomará a forma <strong>da</strong> diplomacia científica nos próximosanos. A esse respeito, a <strong>UNESCO</strong> deve se esforçar e seesforçará para fortalecer as parcerias e a cooperaçãointernacional, em particular a cooperação Sul-Sul.A dimensão científica <strong>da</strong> diplomacia foi um dos motivosoriginais para a inclusão <strong>da</strong> ciência no man<strong>da</strong>to <strong>da</strong><strong>UNESCO</strong>. Ela tem um significado fun<strong>da</strong>mental para aInstituição nos dias atuais, pois a ciência alcançou umtremendo poder de mol<strong>da</strong>r o futuro <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, ejá não faz sentido planejar políticas científicas em termosestritamente nacionais. Essa reali<strong>da</strong>de se mostra demaneira mais evidente nas questões liga<strong>da</strong>s às mu<strong>da</strong>nçasclimáticas globais, e na maneira como as socie<strong>da</strong>desprecisarão li<strong>da</strong>r com ela por meio de economias verdes.Em consonância com minha intenção de colocar a ciênciano centro dos esforços <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> pela erradicação <strong>da</strong>pobreza extrema e pela promoção <strong>da</strong> inclusão social e dodesenvolvimento sustentável, estou confiante de que oRelatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> se tornará umaferramenta útil para a redefinição necessária <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>de política científica em nível nacional, regional e global,proporcionando valiosos insights às perspectivas <strong>da</strong>ciência e quanto aos desafios políticos a ela relacionadosnos próximos anos.Irina BokovaDiretora-geral <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>2


PREFÁCIOO Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> temproporcionado uma visão fidedigna do trato <strong>da</strong> ciênciano mundo. Editado a ca<strong>da</strong> cinco anos, este documentovisa fornecer um conjunto de informações e análises quese constituem em importante subsídio complementarpara o desenho e avaliação de políticas de ciência etecnologia nas várias regiões do planeta.O documento completo apresenta análises <strong>sobre</strong> aevolução histórica do setor por regiões. Particularmentehá a abor<strong>da</strong>gem de determinados países que, nesseperíodo, apresentaram características de evolução depolíticas ou investimentos que mereceram capítulos àparte por sua importância ou por característicasespecíficas que o destacam do contexto regional ouglobal. Este documento também estimula a cooperaçãotécnica entre os vários países na medi<strong>da</strong> em quepossibilita o conhecimento recíproco <strong>da</strong> evolução deseus respectivos indicadores relativos à gestão deciência e tecnologia.A edição em português do Relatório é composta peloResumo do documento integral e pelo capítulo referenteexclusivamente ao Brasil, o único país <strong>da</strong> América do Sulcontemplado com um capítulo exclusivo por força de suaimportância regional neste campo. Para a AméricaLatina o documento também dedica um capítulo especialpara Cuba.Encontraremos neste documento em português umhistórico <strong>sobre</strong> a evolução dos investimentos em ciênciae tecnologia no Brasil. Há, ain<strong>da</strong>, informações <strong>sobre</strong> aestratificação desses investimentos, formação de recursoshumanos de alto nível, participação nacional empublicações e registro de patentes, bem como o suportelegal construído para o setor. O documento tambémanalisa a posição relativa do Brasil na área de ciência etecnologia em comparação com outros países e regiões,e enfoca o esforço de cooperação técnica internacionalcrescentemente empreendido pelo país. Anexo a estedocumento poderá ser encontrado, em mídia virtual, oRelatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> completo, em inglês.Gostaríamos de fazer uma especial referência ao prof.Dr. Carlos Henrique de Brito Cruz e ao prof. Dr. HernanChaimovich, pelo trabalho de elaboração do capítulo<strong>sobre</strong> o Brasil.A <strong>UNESCO</strong> deseja que este documento seja umacontribuição efetiva para o aprimoramento <strong>da</strong> políticade ciência e tecnologia do Brasil, e que promova oencontro contínuo <strong>da</strong> evolução científica e tecnológicacom a socie<strong>da</strong>de brasileira, como caminho seguro <strong>da</strong>melhoria geral <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas.Vincent DefournyRepresentante <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> no BrasilApresentação3


As políticas de ciência e tecnologiadevem ser sempre uma mistura derealismo e idealismo.Chris Freeman (1921-<strong>2010</strong>)pai do conceito de sistema nacional de inovação


1 . O crescente papel do conhecimentona economia globalHugo Hollanders e Luc SoeteO QUADRO GLOBALO Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> retoma o trabalhode seu antecessor cinco anos atrás. O objetivo desteprimeiro capítulo é proporcionar uma visão geral e globaldo desenvolvimento dos cinco anos recentes. Serãoenfatiza<strong>da</strong>s as características atuais, menos conheci<strong>da</strong>sou inespera<strong>da</strong>s que foram revela<strong>da</strong>s pelos <strong>da</strong>dos noscapítulos que se seguirão.Começaremos com uma breve revisão do estado dosistema de apoio à ciência, no contexto de um longo esingular período histórico de rápido crescimento globalentre 1996 e 2007. Essa arranca<strong>da</strong> de crescimento foiguia<strong>da</strong> por novas tecnologias digitais e pela emergênciade alguns grandes países na cena mundial. Ela foirepentinamente desacelera<strong>da</strong> pelo colapso brutalprovocado pela recessão econômica global desencadea<strong>da</strong>pela crise <strong>da</strong>s hipotecas nos EUA no terceiro trimestre de2008. Que impacto teve essa recessão econômica global<strong>sobre</strong> o investimento em conhecimento? Antes debuscarmos responder a esse questionamento, vamosexaminar com cui<strong>da</strong>do algumas <strong>da</strong>s tendências amplasque caracterizaram a déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>.Em primeiro lugar, o acesso barato e fácil a novastecnologias digitais, tais como a ban<strong>da</strong> larga, a internet eos telefones celulares aceleraram a difusão <strong>da</strong>s melhorespráticas em tecnologia, revolucionaram a organizaçãointerna e externa <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de pesquisa, e facilitarama implementação de centros de pesquisa edesenvolvimento (P&D) pelas empresas em outros países(DAVID & FORAY, 2002). Porém, não foi apenas adisseminação de tecnologias de informação ecomunicação digital (TICs) que pesou na balança em favorde um campo de atuação política com um nível maistransparente e elevado 1 . A crescente participação e odesenvolvimento de matrizes institucionais globais, comoa Organização Mundial do Comércio (OMC) regendo oconhecimento internacional <strong>sobre</strong> fluxos comerciais,investimentos e direitos de proprie<strong>da</strong>de intelectual, tambémaceleraram o acesso a conhecimentos vitais. A China, porexemplo, apenas se tornou um membro <strong>da</strong> OMC emdezembro de 2001. O campo de interações agora contacom diversas formas embuti<strong>da</strong>s de transferência detecnologia por meio do capital e <strong>da</strong>s organizações, incluindoo investimento externo direto (IED), as licenças e outrosmodos de difusão formal e informal de conhecimento.1. Isso não significa que ca<strong>da</strong> ator tem uma chance igual de sucesso, e simque um número maior de atores está em jogo valendo-se <strong>da</strong>s mesmas regras.Em segundo lugar, os países têm se <strong>atual</strong>izadorapi<strong>da</strong>mente em termos tanto de crescimento econômicoquanto de investimento em conhecimento, e isso seexpressou no investimento em educação superior e P&D.Isso pode ser observado no crescente número de pessoasforma<strong>da</strong>s em ciência e tecnologia. A Índia, por exemplo,decidiu inaugurar 30 novas universi<strong>da</strong>des para aumentaro número de alunos matriculados de menos de 15milhões em 2007 para 21 milhões até 2012. Grandespaíses em desenvolvimento emergentes como Brasil,China, Índia, México e África do Sul também estãogastando mais em P&D do que antes. Essa tendênciatambém pode ser observa<strong>da</strong> nas economias em transição<strong>da</strong> Federação Russa (Rússia) e em alguns outros países <strong>da</strong>Europa Oriental e Central, que estão gradualmenteretornando aos níveis de investimento do tempo <strong>da</strong> UniãoSoviética. Em alguns casos, o aumento no gasto internobruto em P&D (na sigla inglesa, GERD) tem sido umcorolário do forte crescimento econômico, em vez de umreflexo de maior intensi<strong>da</strong>de de P&D. No Brasil e na Índia,por exemplo, a relação GERD/PIB tem permanecidoestável, enquanto na China ela teve um aumento de50% desde 2002 para 1,54% (2008). De modo semelhante,a relação GERD/PIB declinou em alguns países africanos,mas isso não é sintoma de um compromisso menor comP&D. Simplesmente reflete uma aceleração nocrescimento econômico, devido à extração de petróleo(em Angola, Guiné Equatorial, Nigéria etc.) e a outros setoresnão intensivos em P&D. Ca<strong>da</strong> país tem priori<strong>da</strong>des diferentes,mas o desejo de alcançar uma rápi<strong>da</strong> <strong>atual</strong>ização é irreprimívele tem, por sua vez, levado o crescimento econômicomundial aos níveis mais altos já registrados na história.Em terceiro lugar, o impacto <strong>da</strong> recessão global nomundo pós-2008 ain<strong>da</strong> não se refletiu nos <strong>da</strong>dos de P&D,mas é evidente que a recessão desafiou, pela primeira vez,os antigos modelos de comércio e crescimento Norte-Sulcom base na tecnologia (KRUGMAN, 1970; SOETE, 1981;DOSI et al., 1990). Ca<strong>da</strong> vez mais, a recessão econômicaglobal parece desafiar o predomínio do Ocidente emtermos de Ciência e Tecnologia (C&T). Enquanto a Europae os EUA estão lutando para se libertar <strong>da</strong>s amarras <strong>da</strong>recessão, empresas de economias emergentes comoBrasil, China, Índia e África do Sul estão apresentando umcrescimento doméstico sustentado e aumentando o seunível na cadeia de valor agregado. Essas economiasemergentes já serviram no passado como repositóriospara o suprimento externo de ativi<strong>da</strong>des manufatureiras,mas agora elas estão se movendo no sentido de umdesenvolvimento autônomo de tecnologias de processos,desenvolvimento de produtos, design e pesquisa aplica<strong>da</strong>.A Terra à noite,mostrando centrosde populaçãohumanaImagem: © Evirgen/iStockphotoIntrodução5


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>A China, a Índia e alguns outros países asiáticos,juntamente com alguns Estados do Golfo Árabe, têmcombinado uma política nacional direciona<strong>da</strong> paratecnologia com uma agressiva e bem-sucedi<strong>da</strong> busca peloaprimoramento na pesquisa acadêmica em um curtoperíodo de tempo. Com vistas a esses objetivos, essespaíses têm sabiamente usado incentivos monetáriose não monetários, bem como reformas institucionais.Embora não seja fácil organizar esses <strong>da</strong>dos, sabe-se bemque nos últimos cinco anos muitos líderes acadêmicos emuniversi<strong>da</strong>des norte-americanas, australianas e europeiastêm recebido convites de trabalho e vultosos orçamentosde pesquisa em universi<strong>da</strong>des em rápido crescimento nospaíses do Leste Asiático.Em suma, a realização do crescimento intensivo emconhecimento já não é uma prerrogativa apenas <strong>da</strong>snações altamente desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Organização para aCooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).Tampouco é a única prerrogativa <strong>da</strong> formulação depolíticas nacionais. A criação de valor depende ca<strong>da</strong> vezmais de um uso melhor do conhecimento, qualquer queseja o nível de desenvolvimento, qualquer que seja a suaforma e a sua origem: novas tecnologias de produtos eprocessos domesticamente desenvolvi<strong>da</strong>s, ou a reutilizaçãoe modos inovadores de combinar conhecimentosdesenvolvidos em outros lugares. Isso se aplica àmanufatura, à agricultura e ao setor de serviços tanto nosetor público quanto no setor privado. Porém, ao mesmotempo, há uma evidência decisiva <strong>da</strong> persistência – atémesmo <strong>da</strong> expansão – de uma distribuição irregular <strong>da</strong>pesquisa e <strong>da</strong> inovação em nível global. Neste caso, já nãoestamos comparando países, e sim regiões dentro dospaíses. O investimento em P&D parece continuar concentradoem um número relativamente pequeno de lugares dentrode um único país 2 . No Brasil, por exemplo, 40% do GERD érealizado na região de São Paulo. A proporção chega a51% na província de Gauteng na África do Sul.FATOS E DADOS PRÉ-RECESSÃOTendências econômicas: uma singulararranca<strong>da</strong> econômicaHistoricamente, o crescimento econômico global nos anos detransição entre os milênios foi singular. Durante o período1996-2007, o PIB per capita real aumentou a uma taxa médiaanual de 1,88% 3 . No nível continental amplo, o mais altocrescimento per capita foi observado na Ásia do Leste e no2. Para uma análise mais detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong> especialização em nível regional dentrodos países, veja o World Knowledge Report (no prelo) publicado pela UNU-Merit.3. As taxas de crescimento relata<strong>da</strong>s nesta seção refletem o aumentomédio anual entre 1996 e 2007 do PIB per capita a US$2 000 constantes, apartir dos <strong>da</strong>dos do Banco Mundial.Tabela 1: Indicadores-chave <strong>sobre</strong> PIB mundial,população e GERD, 2002 e 2007PIB (bilhões PPP$)2002 2007Mundo 46 272,6 66 293,7Países desenvolvidos 29 341,1 38 557,1Países em desenvolvimento 16 364,4 26 810,1Países menos desenvolvidos 567,1 926,4Américas 15 156,8 20 730,9América do Norte 11 415,7 15 090,4América Latina e Caribe 3 741,2 5 640,5Europa 14 403,4 19 194,9União Europeia 11 703,6 14 905,7Comuni<strong>da</strong>de dos Estados Independentes na Europa 1 544,8 2 546,8Europa Central, do Leste e outros 1 155,0 1 742,4África 1 674,0 2 552,6África do Sul 323,8 467,8Outros países subsaarianos (excl. África do Sul) 639,6 1 023,1Estados Árabes na África 710,6 1 061,7Ásia 14 345,3 22 878,9Japão 3 417,2 4 297,5China 3 663,5 7 103,4Israel 154,6 192,4Índia 1 756,4 3 099,8Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes na Ásia 204,7 396,4Economias Recém-Industrializa<strong>da</strong>s na Ásia 2 769,9 4 063,1Estados Árabes na Ásia 847,3 1 325,1Outros na Ásia (excl. Japão, China, Israel, Índia) 1 531,5 2 401,1Oceania 693,1 936,4Outros agrupamentosEstados Árabes (todos) 1 557,9 2 386,8Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes (todos) 1 749,5 2 943,2OCDE 29 771,3 39 019,4Associação Europeia de Livre Comércio 424,5 580,5África Subsaariana (incl. África do Sul) 963,4 1 490,9Países selecionadosArgentina 298,1 523,4Brasil 1 322,5 1 842,9Canadá 937,8 1 270,1Cuba – –Egito 273,7 404,1França 1 711,2 2 071,8Alemanha 2 275,4 2 846,9Irã (República Islâmica do Irã) 503,7 778,8México 956,3 1 493,2República <strong>da</strong> Coreia 936,0 1 287,7Federação Russa 1 278,9 2 095,3Turquia 572,1 938,7Reino Unido 1 713,7 2 134,0Estados Unidos <strong>da</strong> América 10 417,6 13 741,6Observação: Os montantes em dólar são a preços constantes. O GERD paraalgumas regiões não corresponde ao total por conta <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças no anode referência. Ademais, em diversos países em desenvolvimento, os <strong>da</strong>dosnão cobrem todos os setores <strong>da</strong> economia. Portanto, os <strong>da</strong>dos aquiapresentados para os países em desenvolvimento podem ser consideradosa linha inferior na estimativa do seu real esforço de P&D.6


O crescente papel do conhecimento na economia globalPIB mundial (%) População (milhões) População mundial (%) GERD (bilhões PPP$) GERD mundial (%) GERD como % do PIB GERD per capita (PPP$)2002 2007 2002 2007 2002 2007 2002 2007 2002 2007 2002 2007 2002 2007100,0 100,0 6 274,3 6 670,8 100,0 100,0 790,3 1 145,7 100,0 100,0 1,7 1,7 126,0 171,763,4 58,2 1 203,4 1 225,0 19,2 18,4 653,0 873,2 82,6 76,2 2,2 2,3 542,7 712,835,4 40,4 4 360,5 4 647,3 69,5 69,7 136,2 271,0 17,2 23,7 0,8 1,0 31,2 58,31,2 1,4 710,4 798,5 11,3 12,0 1,1 1,5 0,1 0,1 0,2 0,2 1,5 1,932,8 31,3 861,2 911,4 13,7 13,7 319,9 433,9 40,5 37,9 2,1 2,1 371,4 476,124,7 22,8 325,3 341,6 5,2 5,1 297,8 399,3 37,7 34,9 2,6 2,6 915,3 1 168,88,1 8,5 535,9 569,8 8,5 8,5 22,1 34,6 2,8 3,0 0,6 0,6 41,2 60,831,1 29,0 796,5 804,8 12,7 12,1 238,5 314,0 30,2 27,4 1,7 1,6 299,4 390,225,3 22,5 484,2 493,2 7,7 7,4 206,2 264,9 26,1 23,1 1,8 1,8 425,8 537,03,3 3,8 207,3 201,6 3,3 3,0 18,3 27,4 2,3 2,4 1,2 1,1 88,5 136,12,5 2,6 105,0 109,9 1,7 1,6 13,9 21,7 1,8 1,9 1,2 1,2 132,6 197,23,6 3,9 858,9 964,7 13,7 14,5 6,9 10,2 0,9 0,9 0,4 0,4 8,0 10,60,7 0,7 46,2 49,2 0,7 0,7 2,3 -1 4,4 0,3 e 0,4 0,7 -1 0,9 49,5 -1 88,61,4 1,5 623,5 709,2 9,9 10,6 1,8 2,6 0,2 0,2 0,3 0,3 2,9 3,71,5 1,6 189,3 206,3 3,0 3,1 2,5 3,3 0,3 0,3 0,4 0,3 13,4 15,931,0 34,5 3 725,6 3 955,5 59,4 59,3 213,9 369,3 27,1 32,2 1,5 1,6 57,4 93,47,4 6,5 127,1 127,4 2,0 1,9 108,2 147,9 13,7 12,9 3,2 3,4 851,0 1 161,37,9 10,7 1 286,0 1 329,1 20,5 19,9 39,2 102,4 5,0 8,9 1,1 1,4 30,5 77,10,3 0,3 6,3 6,9 0,1 0,1 7,1 9,2 0,9 0,8 4,6 4,8 1 121,4 1 321,33,8 4,7 1 078,1 1 164,7 17,2 17,5 12,9 24,8 1,6 2,2 0,7 0,8 12,0 21,30,4 0,6 72,3 75,4 1,2 1,1 0,5 0,8 0,1 0,1 0,2 0,2 7,0 10,26,0 6,1 373,7 399,3 6,0 6,0 40,1 72,3 5,1 6,3 1,4 1,8 107,3 181,11,8 2,0 107,0 122,9 1,7 1,8 1,1 1,4 0,1 0,1 0,1 0,1 10,0 11,83,3 3,6 675,0 729,7 10,8 10,9 4,8 10,4 0,6 0,9 0,3 0,4 7,1 14,31,5 1,4 32,1 34,5 0,5 0,5 11,2 18,3 1,4 1,6 1,6 1,9 349,9 529,7Introdução3,4 3,6 296,3 329,2 4,7 4,9 3,6 4,7 0,5 0,4 0,2 0,2 12,2 14,33,8 4,4 279,6 277,0 4,5 4,2 18,9 28,2 2,4 2,5 1,1 1,0 67,4 101,964,3 58,9 1 149,6 1 189,0 18,3 17,8 661,3 894,7 83,7 78,1 2,2 2,3 575,2 752,50,9 0,9 12,1 12,6 0,2 0,2 9,8 13,6 1,2 1,2 2,3 2,3 804,5 1 082,82,1 2,2 669,7 758,4 10,7 11,4 4,3 7,0 0,5 0,6 0,4 0,5 6,4 9,20,6 0,8 37,7 39,5 0,6 0,6 1,2 2,7 0,1 0,2 0,4 0,5 30,8 67,32,9 2,8 179,1 190,1 2,9 2,9 13,0 20,2 1,6 1,8 1,0 1,1 72,7 106,42,0 1,9 31,3 32,9 0,5 0,5 19,1 24,1 2,4 2,1 2,0 1,9 611,4 732,3– – 11,1 11,2 0,2 0,2 – – – – 0,5 0,4 – –0,6 0,6 72,9 80,1 1,2 1,2 0,5 -2 0,9 0,1 e 0,1 0,2 -2 0,2 6,8 -2 11,43,7 3,1 59,8 61,7 1,0 0,9 38,2 42,3 4,8 3,7 2,2 2,0 637,7 685,54,9 4,3 82,2 82,3 1,3 1,2 56,7 72,2 7,2 6,3 2,5 2,5 689,0 877,31,1 1,2 68,5 72,4 1,1 1,1 2,8 4,7 -1 0,3 0,5 e 0,5 0,7 -1 40,3 65,6 -12,1 2,3 102,0 107,5 1,6 1,6 4,2 5,6 0,5 0,5 0,4 0,4 40,9 52,12,0 1,9 46,9 48,0 0,7 0,7 22,5 41,3 2,8 3,6 2,4 3,2 479,4 861,92,8 3,2 145,3 141,9 2,3 2,1 15,9 23,5 2,0 2,0 1,2 1,1 109,7 165,41,2 1,4 68,4 73,0 1,1 1,1 3,0 6,8 0,4 0,6 0,5 0,7 44,0 92,93,7 3,2 59,4 60,9 0,9 0,9 30,6 38,7 3,9 3,4 1,8 1,8 515,8 636,122,5 20,7 294,0 308,7 4,7 4,6 277,1 373,1 35,1 32,6 2,7 2,7 942,4 1 208,7-n = os <strong>da</strong>dos se referem a n anos anteriores ao ano de referência.e = estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, com base em extrapolações e interpolações.Fonte: para o GERD: estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, junho de <strong>2010</strong>; para o PIB e o fator deconversão PPP: World Bank, World Development Indicators, May <strong>2010</strong>, e estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong><strong>UNESCO</strong>; para população: United Nations Department of Economic and Social Affairs (2009), World PopulationProspects: the 2008 Revision, e estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>7


12,913,710,78,96,57,47,93,62,81,92,05,0JapãoRepública<strong>da</strong> CoreiaChina0,040,031,31,2Indonésia1,41,31,21,3Austrália3,22,82,02,0FederaçãoRussa4,73,82,21,6Índia35,132,626,125,3Figura 1: Distribuição mundial de PIB e GERD para o G20, 2002 e 2007 (%)23,122,513 74222,520,76,37,22,12,41,92,04,34,93,43,93,23,7Canadá3,74,83,13,7AlemanhaUnião EuropeiaReinoUnido0,60,42,83,3França1,41,21,92,2TurquiaItáliaEUA0,020,030,80,8Arábia Saudita0,50,52,32,1México2,82,91,81,60.40.30.70.7BrasilÁfrica do Sul0,20,10,80,6Fração do GERD, 2002Fração do GERD, 2007Fração do PIB, 2002Fração do PIB, 2007ArgentinaFonte: Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>8


O crescente papel do conhecimento na economia globalPacífico (5,85%), na Europa e na Ásia Central (4,87%) e na Ásiado Sul (4,61%). Os <strong>da</strong>dos foram de 2,42% para o Oriente Médioe o Norte <strong>da</strong> África, 2% para a América do Norte, 1,8% para aAmérica Latina e o Caribe, e 1,64% para a África Subsaariana.A mais ampla divergência em taxas de crescimento ocorreuna África Subsaariana: em 28 países, o PIB per capita cresceuem mais de 5%, entretanto mais <strong>da</strong> metade dos 16 países queexperimentaram taxas negativas de crescimento per capitatambém estão na África Subsaariana (Tabela 1).A Figura 1 apresenta as 20 maiores potências econômicasdo mundo. Essa lista inclui a Tríade 4 e os paísesrecentemente industrializados do México e <strong>da</strong> República<strong>da</strong> Coreia, alguns dos países mais populosos do mundo,como China, Índia, Brasil, Rússia e Indonésia, e umasegun<strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de economias emergentes, que incluiTurquia, Arábia Saudita, Argentina e África do Sul. Com oseu novo peso econômico, esses países estão desafiandomuitas <strong>da</strong>s regras, regulamentações e padrões quegovernaram o G7 e a Tríade, em relação a comércio einvestimento internacional 5 . Como veremos a seguir, elestambém estão desafiando a tradicional preponderância<strong>da</strong> Tríade em termos de investimento em P&D.Tendências de GERD: uma mu<strong>da</strong>nça na influência globalO mundo dedicou 1,7% do seu PIB a P&D em 2007, umafração que tem permanecido estável desde 2002. Em termosmonetários, no entanto, isso se traduz em US$1 146 bilhão 6 ,um aumento de 45% em relação a 2002 (Tabela 1). Está ligeiramenteacima do aumento no PIB no mesmo período (43%).Ademais, por trás desse aumento houve uma mu<strong>da</strong>nça nainfluência global. Proporciona<strong>da</strong> em grande medi<strong>da</strong> porChina, Índia e a República <strong>da</strong> Coreia, a participação <strong>da</strong> Ásiano mundo aumentou de 27% para 32%, em detrimento <strong>da</strong>Tríade. A maior parte <strong>da</strong> que<strong>da</strong> na União Europeia podeser atribuí<strong>da</strong> aos seus três maiores membros: França,Alemanha e Reino Unido. Enquanto isso, a participação <strong>da</strong>África e dos Estados Árabes tem sido pequena, masestável, e a Oceania progrediu levemente.Podemos ver na Figura 1 que a participação <strong>da</strong> China noGERD mundial está aproximando a sua participação emtermos de PIB, ao contrário do Brasil e <strong>da</strong> Índia, que ain<strong>da</strong>contribuem muito mais ao PIB mundial do que ao GERD4. Composta por União Europeia, Japão e EUA.5. A grande maioria dos padrões que regem, por exemplo, o comércio debens manufaturados, a agricultura e o setor de serviços está basea<strong>da</strong> emnormas dos EUA e <strong>da</strong> UE.6. To<strong>da</strong>s as cifras de US$ deste capítulo são em dólares por pari<strong>da</strong>de depoder de compra.mundial. É curioso notar que a situação se inverte no caso<strong>da</strong> Tríade, ain<strong>da</strong> que a dispari<strong>da</strong>de seja muito pequenapara a UE. A República <strong>da</strong> Coreia é um caso interessante,na medi<strong>da</strong> em que ela segue o padrão <strong>da</strong> Tríade.A participação <strong>da</strong> Coreia no GERD mundial é o dobro <strong>da</strong>sua participação em termos de PIB. Uma <strong>da</strong>s principaispriori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Coreia é aumentar a proporção GERD/GDPpara 5% até 2012.A Figura 2 faz a correlação <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de de P&D epesquisadores para alguns países e regiões de destaque.A partir desses <strong>da</strong>dos, podemos ver que a Rússia ain<strong>da</strong>tem um número muito maior de pesquisadores do quede recursos financeiros no seu sistema de P&D. Três paísesde força recém-chegados podem ser vistos emergindono canto inferior esquerdo <strong>da</strong> figura: China, Brasil e Índia,juntamente com o Irã e a Turquia. Até mesmo a África,como continente, contribui hoje significativamente aoesforço global de P&D. A intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> P&D dessaseconomias ou o seu capital humano ain<strong>da</strong> podem serpequenos, mas a sua contribuição ao estoque doconhecimento mundial está crescendo rapi<strong>da</strong>mente.Por outro lado, o grupo de países menos desenvolvidos –o menor círculo na figura – ain<strong>da</strong> desempenha um papelde importância marginal.Alcançando a P&D de negóciosSão os padrões de investimento empresarial em P&D(BERD) que ilustram melhor as rápi<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças geográficasque acontecem mundialmente em centros comfinanciamento privado de P&D. Ca<strong>da</strong> vez mais, as empresasmultinacionais estão descentralizando suas ativi<strong>da</strong>des depesquisa para partes tanto do mundo desenvolvido quantoem desenvolvimento, dentro de uma estratégia de internacionalização<strong>da</strong> P&D em nível global (ZANATTA & QUEIROZ,2007). Para as multinacionais, essa estratégia reduz custostrabalhistas e dá às empresas um acesso mais fácil aosmercados, ao capital humano local e ao conhecimento,bem como aos recursos naturais do país anfitrião.Os destinos preferidos têm sido os chamados tigresasiáticos, os antigos países recentemente industrializadosna Ásia, e, em segundo lugar, o Brasil, a Índia e a China.Porém já não é mais uma via de mão única: as empresas<strong>da</strong>s economias emergentes estão agora comprandograndes empresas em países desenvolvidos e, com isso,adquirindo o capital de conhecimento <strong>da</strong>s empresas <strong>da</strong>noite para o dia, assim como ilustra o capítulo <strong>sobre</strong> aÍndia. Como consequência, a distribuição global do esforçode P&D entre o Norte e o Sul está se transformandorapi<strong>da</strong>mente. Em 1990, mais de 95% <strong>da</strong> P&D estavamsendo conduzidos nos países desenvolvidos, e apenas seteIntrodução9


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Figura 2: Investimento global em P&D em termos absolutos e relativos, 2007Em países e regiões seleciona<strong>da</strong>s6 000Pesquisadores por milhão de habitantes5 0004 0003 0002 0001 00000.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5GERD como % do PIBEUAJapãoChinaAlemanhaFrançaRep. <strong>da</strong> CoreiaReino UnidoÍndiaRússiaBrasilÁfricaTurquiaIrãPaíses menos desenvolvidosObservação: O tamanho do círculo reflete o tamanho do GERD para o país ou grupo.Fonte: UNU-MERIT com base nos <strong>da</strong>dos do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> e do Banco Mundialeconomias <strong>da</strong> OCDE eram responsáveis por mais de 92%<strong>da</strong> P&D mundial (COE et al., 1997). Já em 2002, os paísesdesenvolvidos eram responsáveis por menos de 83% dototal, e, em 2007, por 76%. Além disso, como mostram oscapítulos <strong>sobre</strong> a Ásia do Sul e a África Subsaariana, algunspaíses que geralmente não são considerados em termosde P&D intensiva estão desenvolvendo setores específicos,como engenharia leve, como uma estratégia desubstituição de importações, entre eles Bangladesh.De 2002 a 2007, a participação BERD no PIB aumentoufortemente no Japão, na China e em Cingapura, com umacurva particularmente marcante na República <strong>da</strong> Coreia. Aproporção permaneceu mais ou menos constante noBrasil, nos EUA e na UE, e até mesmo declinou na Rússia.Como resultado, até 2007, a República <strong>da</strong> Coreia estavadesafiando o Japão pelo título de líder tecnológica,Cingapura quase alcançou os EUA, e a China ombreavacom a UE. Apesar disso, a relação BERD/PIB ain<strong>da</strong> continuamuito menor na Índia e no Brasil do que na Tríade.Tendências de capital humano: a China logo terá omaior número de pesquisadoresNeste ponto, nosso enfoque é <strong>sobre</strong> outra área centralpara os insumos de P&D: as tendências em relação aospesquisadores. Como a Tabela 2 mostra, a China estáprestes a superar tanto os EUA quanto a UE em termos denúmeros de pesquisadores. Ca<strong>da</strong> um desses três gigantesrepresenta cerca de 20% do contingente mundial depesquisadores. Se adicionarmos a participação do Japão(10%) e a <strong>da</strong> Rússia (7%), isso nos mostra a extremaconcentração de pesquisadores: os cinco grandes detêmcerca de 35% <strong>da</strong> população mundial, mas três quartos detodos os pesquisadores. Em contraste, um país populosocomo a Índia ain<strong>da</strong> representa apenas 2,2% do totalmundial, e os continentes inteiros <strong>da</strong> América Latina e <strong>da</strong>África representam 3,5% e 2,2%, respectivamente.Ain<strong>da</strong> que a participação dos pesquisadores do mundoem desenvolvimento tenha crescido de 30% em 2002para 38% em 2007, dois terços desse crescimento podemser atribuídos apenas à China. Os países estão treinandomuito mais cientistas e engenheiros do que antes, mas osrecém-formados têm tido dificul<strong>da</strong>des em encontrarcolocações qualifica<strong>da</strong>s ou condições de trabalhoatraentes em seus países. Como resultado, a migração depesquisadores altamente qualificados do Sul para o Nortetornou-se uma característica <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>. Umrelatório de 2008 pelo Escritório Parlamentar do ReinoUnido citou <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> OCDE indicando que, dos 5910


O crescente papel do conhecimento na economia globalFigura 3: Relação BERD/PIB em países selecionados, 2000-2007 (%)3.02,52,01,51,00,52.162,051,771,731,341,181,110,910,540,470,142,682,651,931,771,741,291,151,080,800,500,37JapãoRep. <strong>da</strong> CoreiaEUAAlemanhaCingapuraFrançaReino UnidoChinaRússiaBrasilÍndiaIntrodução0,02000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Fonte: UNU-MERIT, a partir de <strong>da</strong>dos do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>milhões de migrantes vivendo em países <strong>da</strong> OCDE, 20milhões eram altamente qualificadosA migração de profissionais qualificados preocupa ospaíses em desenvolvimentoA despeito <strong>da</strong> extensa literatura <strong>sobre</strong> migração, é quaseimpossível desenhar uma imagem sistêmica e quantitativa<strong>da</strong> migração de longo prazo de pessoas altamente qualifica<strong>da</strong>sem torno do mundo. Ademais, nem todos percebemesse fenômeno <strong>da</strong> mesma maneira. Alguns se referem àevasão de cérebros (na expressão inglesa, brain drain),outros preferem as expressões tensionamento de cérebros(brain strain) ou circulação de cérebros (brain circulation).Qualquer que seja a terminologia, diversos capítulos desterelatório – entre eles, os capítulos <strong>sobre</strong> a Índia, a Ásia doSul, a Turquia e a África Subsaariana – enfatizam a sériaquestão em que a per<strong>da</strong> de cérebros se tornou e as barreirasque esse fluxo de conhecimento para fora dos países estácriando para a P&D doméstica. Por exemplo, uma pesquisanacional realiza<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Ciênciado Sri Lanka constatou que o número de cientistaseconomicamente ativos no Sri Lanka caiu de 13.286 para7.907 entre 1996 e 2006. Enquanto isso, o investimentoestrangeiro direto que flui para dentro <strong>da</strong> Índia está criandouma evasão de cérebros interna, à medi<strong>da</strong> que as empresasdomésticas não conseguem competir com os atraentespacotes de compensação oferecidos pelos representantesde empresas estrangeiras com presença na Índia.Os <strong>da</strong>dos de migrações Sul-Sul e Sul-Norte não estãosistematicamente cobertos pelos institutos internacionaisde estatística, mas podem ser aproximados pelocasamento dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> OCDE <strong>sobre</strong> migração deindivíduos altamente qualificados com os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong><strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> fluxos bilaterais de estu<strong>da</strong>ntesinternacionais (DUNNEWIJK, 2008). Esses <strong>da</strong>dos revelamque os fluxos Sul-Norte e Norte-Norte são dominantes emtermos de migração, mas que, de modo geral, um lequemais amplo de destinos está emergindo: África do Sul,Rússia, Ucrânia, Malásia e Jordânia se tornaram destinosatraentes para pessoas com alta qualificação. A diásporaque se direcionou à África do Sul procede de Zimbábue,Botsuana, Namíbia e Lesoto; a que se direcionou à Rússiaprecede do Cazaquistão, <strong>da</strong> Ucrânia e <strong>da</strong> Bielorússia; naUcrânia, de Brunei; na antiga Tchecoslováquia, do Irã; naMalásia, <strong>da</strong> China e <strong>da</strong> Índia; na Romênia, <strong>da</strong> Moldóvia; naJordânia, dos Territórios Autônomos Palestinos; noTajiquistão, do Uzbequistão; e na Bulgária, <strong>da</strong> Grécia.Um segundo fator é que a diáspora age como um pontode parti<strong>da</strong> útil para o desenho de políticas públicas paratransferências mais efetivas de tecnologia e para otransbor<strong>da</strong>mento de conhecimentos. Esse fenômenomotiva os países a elaborarem políticas para atrairexpatriados com alta qualificação de volta. Esse foi o caso<strong>da</strong> República <strong>da</strong> Coreia no passado e pode ser visto naChina e em outros lugares na <strong>atual</strong>i<strong>da</strong>de. O objetivo éencorajar a diáspora a usar as habili<strong>da</strong>des adquiri<strong>da</strong>s no11


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Tabela 2: Indicadores-chave <strong>sobre</strong> pesquisadores mundiais, 2002 e 2007Pesquisadores Proporção mundial de Pesquisadores por GERD por pesquisador(milhares) pesquisadores (%) milhão de habitantes (milhares de PPP$)2002 2007 2002 2007 2002 2007 2002 2007Mundo 5 810,7 7 209,7 100,0 100,0 926,1 1 080,8 136,0 158,9Países desenvolvidos 4 047,5 4 478,3 69,7 62,1 3 363,5 3 655,8 161,3 195,0Países em desenvolvimento 1 734,4 2 696,7 29,8 37,4 397,8 580,3 78,5 100,5Países menos desenvolvidos 28,7 34,7 0,5 0,5 40,5 43,4 37,6 43,8Américas 1 628,4 1 831,9 28,0 25,4 1 890,9 2 010,1 196,4 236,9América do Norte 1 458,5 1 579,8 25,1 21,9 4 483,2 4 624,4 204,2 252,8América Latina e Caribe 169,9 252,1 2,9 3,5 317,1 442,5 130,0 137,4Europa 1 870,7 2 123,6 32,2 29,5 2 348,5 2 638,7 127,5 147,9União Europeia 1 197,9 1 448,3 20,6 20,1 2 473,9 2 936,4 172,1 182,9Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes na Europa 579,6 551,5 10,0 7,6 2 796,1 2 735,3 31,7 49,8Europa Central, do Leste e outros 93,2 123,8 1,6 1,7 887,2 1 125,9 149,4 175,1África 129,0 158,5 2,2 2,2 150,2 164,3 53,1 64,6África do Sul 14,2 -1 19,3 0,2 e 0,3 311,4 -1 392,9 158,9 -1 225,6Outros países subsaarianos (excl, a África do Sul) 30,8 40,8 0,5 0,6 49,4 57,5 59,5 63,8Estados Árabes na África 84,1 98,4 1,4 1,4 444,1 477,1 30,2 33,3Ásia 2 064,6 2 950,6 35,5 40,9 554,2 745,9 103,6 125,2Japão 646,5 710,0 11,1 9,8 5 087,0 5 573,0 167,3 208,4China 810,5 1 423,4 13,9 19,7 630,3 1 070,9 48,4 72,0Israel – – – – – – – –Índia 115,9 -2 154,8 -2 2,3 e 2,2 e 111,2 -2 136,9 -2 102,6 -2 126,7 -2Comuni<strong>da</strong>de dos Estados Independentes na Ásia 41,4 39,7 0,7 0,6 572,5 525,8 12,3 19,4Economias Recentemente Industrializa<strong>da</strong>s na Ásia 295,8 434,3 5,1 6,0 791,4 1 087,4 135,6 166,6Estados Árabes na Ásia 21,1 24,4 0,4 0,3 197,1 198,7 50,5 59,3Outros na Ásia (excl. Japão, China, Índia, Israel) 93,2 127,1 1,6 1,8 138,1 174,2 51,6 81,8Oceania 118,0 145,1 2,0 2,0 3 677,6 4 208,7 95,1 125,9Outros gruposEstados Árabes (todos) 105,2 122,8 1,8 1,7 354,9 373,2 34,3 38,4Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes (todos) 621,0 591,2 10,7 8,2 2 221,1 2 133,8 30,4 47,7OCDE 3 588,1 4 152,9 61,7 57,6 3 121,2 3 492,8 184,3 215,5Associação Europeia de Livre Comércio 48,3 52,9 0,8 0,7 3 976,6 4 209,1 202,3 257,3África Subsaariana (incl. África do Sul) 45,0 60,1 0,8 0,8 67,1 79,2 96,0 115,8Países selecionadosArgentina 26,1 38,7 0,4 0,5 692,3 979,5 44,4 68,7Brasil 71,8 124,9 1,2 1,7 400,9 656,9 181,4 162,1Canadá 116,0 139,0 -1 2,0 1,9 e 3 705,3 4 260,4 -1 165,0 170,7 -1Cuba – – – – – – – –Egito – 49,4 – 0,7 – 616,6 – 18,5França 186,4 215,8 3,2 3,0 3 115,7 3 496,0 204,7 196,1Alemanha 265,8 290,9 4,6 4,0 3 232,5 3 532,2 213,1 248,4Irã (República Islâmica di Irã) – 50,5 -1 – 0,7 e – 706,1 -1 – 93,0 -1México 31,1 37,9 0,5 0,5 305,1 352,9 134,0 147,6República <strong>da</strong> Coreia 141,9 221,9 2,4 3,1 3 022,8 4 627,2 158,6 186,3Federação Russa 491,9 469,1 8,5 6,5 3 384,8 3 304,7 32,4 50,1Turquia 24,0 49,7 0,4 0,7 350,8 680,3 125,4 136,5Reino Unido 198,2 254,6 3,4 3,5 3 336,5 4 180,7 154,6 152,2Estados Unidos <strong>da</strong> América 1 342,5 1 425,6 -1 23,1 20,0 e 4 566,0 4 663,3 -1 206,4 243,9 -1-n = Dados se referem a n anos anteriores ao ano de referência e = estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, basea<strong>da</strong>s em extrapolações e interpolaçõesObservação: Pesquisadores são equivalentes a tempo integral. A soma dos pesquisadores e a participação mundial não correspondem ao total para algumasregiões, por conta de mu<strong>da</strong>nças no ano de referência, ou devido à indisponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos para alguns países.Fonte: para pesquisadores: Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, junho de <strong>2010</strong>; para o fator de conversão PPP: World Bank, World Development Indicators, May<strong>2010</strong>, e estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>; para população: United Nations Department of Economic and Social Affairs (2009) World PopulationProspects: the 2008 Revision, e estimativas do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>12


O crescente papel do conhecimento na economia globalexterior para trazer uma mu<strong>da</strong>nça estrutural no país deorigem. Entretanto a diáspora pode ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong> aparticipar a distância, caso as perspectivas de um retornopermanente ao país de origem sejam remotas. Na Nigéria,o Parlamento aprovou a criação <strong>da</strong> Comissão dosNigerianos na Diáspora em <strong>2010</strong>, a fim de identificar osespecialistas nigerianos que vivem no exterior e encorajálosa participar <strong>da</strong> formulação de políticas públicas eprojetos do país.Tendências de publicações: o domínio de umanova TríadeO número de publicações científicas registrado no ThomsonReuters Science Citation Index (SCI) é o indicador maisfrequentemente usado para se medir a produção científica.Ele é particularmente valioso porque permite tanto ascomparações internacionais em nível agregado quantoavaliações mais detalha<strong>da</strong>s de campos científicos específicos.Iniciemos com as análises agrega<strong>da</strong>s de publicaçõescientíficas. Como mostra a Tabela 3, os EUA ain<strong>da</strong> são opaís que lidera a produção científica no mundo em termosabsolutos. Porém sua participação mundial (28%) temcaído mais do que em qualquer outro país ao longo dosseis últimos anos. A região líder nesse quesito, a UE,também tem vivenciado uma que<strong>da</strong> de quatro pontos7. Brasil, Federação Russa, Índia e Chinapercentuais para menos de 37%. Em contraste, aparticipação <strong>da</strong> China mais do que dobrou em apenas seisanos, representando agora mais de 10% do total mundial,apenas atrás dos EUA, ain<strong>da</strong> que a taxa de citações deartigos chineses siga sendo muito menor do que <strong>da</strong>Tríade. Em segui<strong>da</strong>, estão Japão e Alemanha, que estão<strong>atual</strong>mente um pouco abaixo de 8%, sendo que a fatiado Japão diminuiu mais do que a <strong>da</strong> Alemanha.Em relação aos BRICs 7 , sua participação nas publicaçõesmundiais tem mostrado um impressionante crescimento,com a exceção <strong>da</strong> Rússia, cuja fatia diminuiu de 3,5% em2002 para 2,7% em 2008. No nível continental, aparticipação <strong>da</strong> América Latina saltou de 3,8% para 4,9%,mas esse aumento se deveu principalmente ao Brasil.O crescimento no mundo árabe continuou lento.A participação <strong>da</strong> África nas publicações, de acordo com oSCI, aumentou em 25% entre 2002 e 2008, elevando-se deum patamar muito baixo para chegar a 2% do totalmundial. Aqui, o aumento foi mais notável na África doSul e no Magrebe, mas todos os países africanos tiveramum aumento no número de artigos registrados pelo SCI.No nível global, as publicações científicas estão hojedomina<strong>da</strong>s por uma nova tríade: os EUA, Europa e Ásia.Dado o tamanho <strong>da</strong> população <strong>da</strong> Ásia, poderíamosesperar que ela se torne o continente cientificamentedominante nos próximos anos.IntroduçãoFigura 4: Especialização científica <strong>da</strong> Tríade, BRICs e África, 2008BiologiaBiologia0.5MatemáticaFísica0.150.100.050.00-0.05-0.10-0.15-0.20-0.25PesquisabiomédicaQuímicaMatemáticaFísica0.40.30.20.10.0-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7PesquisabiomédicaQuímicaEngenharia etecnologiaMedicinaclínicaEngenharia etecnologiaMedicinaclínicaTerra e espaçoMédiaTerra e espaçoEUAJapãoAlemanhaFrançaReino UnidoBrasilChinaÍndiaFederação RussaÁfricaFonte: UNU-MERIT com base nos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Thomson Reuters (Scientific) Inc. Web of Science (Science Citation Index Expanded), compilados pela<strong>UNESCO</strong> e pelo Observatoire des sciences et des techniques canadense, maio de <strong>2010</strong>13


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Tabela 3: Participação mundial em publicações científicas, 2002 e 2008Total Variação Participação Mundial Pesquisapublicações (%) de publicações (%) Biologia biomédica2002 2008 2002– 2002 2008 2002 2008 2002 20082008Mundo 733 305 986 099 34,5 100,0 100,0 58 478 84 102 99 805 123 316Países desenvolvidos 617 879 742 256 20,1 84,3 75,3 49 315 62 744 89 927 100 424Países em desenvolvimento 153 367 315 742 105,9 20,9 32,0 13 158 29 394 14 493 32 091Países menos desenvolvidos 2 069 3 766 82,0 0,3 0,4 477 839 226 471Américas 274 209 348 180 27,0 37,4 35,3 23 868 33 785 47 500 54 671América do Norte 250 993 306 676 22,2 34,2 31,1 20 234 24 976 44 700 49 590América Latina e Caribe 27 650 48 791 76,5 3,8 4,9 4 321 10 232 3 426 6 216Europa 333 317 419 454 25,8 45,5 42,5 24 133 33 809 43 037 50 464União Europeia 290 184 359 991 24,1 39,6 36,5 21 522 29 516 39 261 45 815Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes na Europa 30 118 32 710 8,6 4,1 3,3 1 153 1 447 2 052 2 054Europa Central, do Leste e outros 29 195 48 526 66,2 4,0 4,9 2 274 4 348 3 524 5 014África 11 776 19 650 66,9 1,6 2,0 2 255 3 366 1 122 2 397África do Sul 3 538 5 248 48,3 0,5 0,5 828 1 163 481 690Outros países subsaarianos (excl, a África do Sul) 3 399 6 256 84,1 0,5 0,6 1 072 1 575 381 1 110Estados Árabes na África 4 988 8 607 72,6 0,7 0,9 406 746 281 655Ásia 177 743 303 147 70,6 24,2 30,7 10 796 20 062 19 022 31 895Japão 73 429 74 618 1,6 10,0 7,6 4 682 5 479 9 723 9 771China 38 206 104 968 174,7 5,2 10,6 1 716 5 672 2 682 9 098Israel 9 136 10 069 10,2 1,2 1,0 643 662 1 264 1 411Índia 18 911 36 261 91,7 2,6 3,7 1 579 3 339 1 901 3 821Comuni<strong>da</strong>de dos Estados Independentes na Ásia 1 413 1 761 24,6 0,2 0,2 41 57 66 88Economias Recentemente Industrializa<strong>da</strong>s na Ásia 33 765 62 855 86,2 4,6 6,4 1 730 3 364 3 240 6 795Estados Árabes na Ásia 3 348 5 366 60,3 0,5 0,5 200 355 239 447Outros na Ásia (excl, Japão, China, Índia, Israel) 16 579 40 358 143,4 2,3 4,1 1 301 3 203 1 313 3 651Oceania 23 246 33 060 42,2 3,2 3,4 4 014 5 034 3 120 4 353Outros gruposEstados Árabes (todos) 8 186 13 574 65,8 1,1 1,4 600 1 078 510 1 063Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes (todos) 31 294 34 217 9,3 4,3 3,5 1 189 1 497 2 110 2 128OCDE 616 214 753 619 22,3 84,0 76,4 49 509 64 020 90 365 102 634Associação Europeia de Livre Comércio 18 223 25 380 39,3 2,5 2,6 1 523 2 262 2 760 3 349África Subsaariana (incl, África do Sul) 6 819 11 142 63,4 0,9 1,1 1 860 2 636 844 1 751Países selecionadosArgentina 4 719 6 197 31,3 0,6 0,6 826 1 287 664 883Brasil 12 573 26 482 110,6 1,7 2,7 1 572 5 526 1 583 3 467Canadá 30 310 43 539 43,6 4,1 4,4 3 351 4 571 4 779 6 018Cuba 583 775 32,9 0,1 0,1 129 156 65 81Egito 2 569 3 963 54,3 0,4 0,4 192 259 146 295França 47 219 57 133 21,0 6,4 5,8 2 975 3 865 6 563 7 169Alemanha 65 500 76 368 16,6 8,9 7,7 3 838 5 155 8 742 10 006Irã (República Islâmica do Irã) 2 102 10 894 418,3 0,3 1,1 150 772 129 681México 5 239 8 262 57,7 0,7 0,8 874 1 669 558 911República <strong>da</strong> Coreia 17 072 32 781 92,0 2,3 3,3 617 1 755 1 893 3 824Federação Russa 25 493 27 083 6,2 3,5 2,7 1 050 1 317 1 851 1 835Turquia 8 608 17 787 106,6 1,2 1,8 546 1 435 532 1 155Reino Unido 61 073 71 302 16,7 8,3 7,2 4 515 4 975 9 586 10 789Estados Unidos <strong>da</strong> América 226 894 272 879 20,3 30,9 27,7 17 349 21 234 41 135 45 125Observação: a soma dos números para as diversas regiões excede o número total porque os artigos com múltiplos autoresde diferentes regiões contribuem integralmente para ca<strong>da</strong> uma dessas regiões.Fonte: <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Thomson Reuters (Scientific) Inc. Web of Science (Science Citation Index Expanded),compilados pela <strong>UNESCO</strong> e pelo Observatoire des sciences et des techniques canadense, maio de <strong>2010</strong>14


O crescente papel do conhecimento na economia globalPublicações por área <strong>da</strong> ciênciaEngenhariaQuímica Medicina clínica Terra e Espaço & Tecnologia Matemática Física2002 2008 2002 2008 2002 2008 2002 2008 2002 2008 2002 200888 310 114 206 229 092 307 043 41 691 60 979 96 194 139 257 23 142 37 397 96 593 119 79966 585 72 185 203 298 251 857 36 644 50 320 73 868 91 320 19 251 27 961 78 991 85 44526 002 49 155 32 772 70 921 8 497 17 330 28 019 59 180 5 829 12 938 24 597 44 73376 132 928 1 635 138 318 103 177 27 52 94 14222 342 25 803 95 140 126 471 18 611 24 883 29 465 37 841 8 355 12 114 28 928 32 61219 378 21 690 89 495 114 674 17 123 22 533 27 183 33 763 7 573 10 765 25 307 28 6853 181 4 401 6 751 14 030 2 122 3 228 2 646 4 535 925 1 570 4 278 4 57940 404 44 644 104 060 135 042 21 202 30 763 39 625 53 069 11 834 18 064 49 022 53 59933 183 36 221 93 939 119 230 18 091 26 095 33 845 44 182 10 190 15 239 40 153 43 6936 117 6 357 1 771 2 115 2 647 3 205 4 108 4 772 1 474 2 066 10 796 10 6942 874 4 239 11 172 18 623 2 054 3 924 3 091 6 284 671 1 541 3 535 4 5531 535 2 012 3 075 5 640 918 1 486 1 306 2 358 494 893 1 071 1 498307 410 841 1 453 434 520 294 467 127 227 226 318117 183 1 323 2 417 245 477 122 226 44 114 95 1541 116 1 438 953 1 931 260 527 892 1 688 325 563 755 1 05930 017 50 501 40 557 65 957 7 456 15 001 32 946 58 754 5 544 11 614 31 405 49 3639 908 9 809 21 426 21 729 2 505 3 552 10 633 10 194 1 300 1 661 13 252 12 4239 499 23 032 3 863 13 595 2 036 5 746 8 734 22 800 1 850 5 384 7 826 19 641694 706 3 134 3 357 372 506 1 011 1 143 524 754 1 494 1 5304 552 7 163 3 367 7 514 1 160 2 306 2 980 6 108 506 974 2 866 5 036279 322 95 124 145 168 130 166 125 204 532 6324 590 7 334 6 748 14 468 1 218 2 540 9 075 16 140 1 102 1 905 6 062 10 309323 463 1 302 1 934 143 303 721 1 090 154 326 266 4482 449 5 314 4 134 9 991 765 1 983 3 685 9 219 561 1 603 2 371 5 3941 552 2 038 7 528 11 598 2 126 3 323 2 497 3 403 716 985 1 693 2 326Introdução1 405 1 840 2 227 3 758 399 808 1 580 2 711 469 855 996 1 4616 358 6 645 1 856 2 230 2 761 3 333 4 224 4 910 1 589 2 266 11 207 11 20863 801 71 003 208 163 262 587 35 655 49 492 74 606 94 262 18 435 26 842 75 680 82 7791 618 2 021 6 328 9 072 1 501 2 600 1 548 2 507 387 656 2 558 2 913420 582 2 135 3 746 658 962 415 675 170 335 317 455536 669 1 078 1 316 407 631 362 487 118 229 728 6951 656 2 390 3 243 8 799 657 1 028 1 259 2 209 398 708 2 205 2 3552 306 3 022 9 761 14 683 2 620 3 877 3 763 5 971 1 102 1 763 2 628 3 63471 96 151 214 18 33 57 90 14 26 78 79672 861 478 992 111 205 510 714 121 167 339 4705 401 6 090 13 069 16 034 3 457 4 899 5 260 7 123 2 399 3 113 8 095 8 8407 399 8 344 20 781 24 708 4 256 5 978 7 059 7 746 1 903 2 725 11 522 11 706645 2 198 369 2 626 57 433 390 2 484 97 554 265 1 146474 716 994 1 749 484 739 610 996 219 322 1 026 1 1602 545 4 006 3 017 7 610 539 1 160 4 526 8 004 497 895 3 438 5 5275 240 5 308 1 599 1 914 2 468 2 981 3 144 3 329 1 251 1 584 8 890 8 815844 1 639 4 243 7 978 450 1 025 1 223 2 910 162 559 608 1 0865 469 5 352 22 007 26 754 4 678 6 079 6 715 7 612 1 383 2 197 6 720 7 54417 334 18 984 81 871 103 835 15 206 19 819 23 939 28 572 6 724 9 356 23 336 25 95415


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Em se tratando <strong>da</strong> relativa especialização dos países emdisciplinas científicas específicas, a Figura 4 mostra fortesdispari<strong>da</strong>des. A primeira teia trata dos países quetradicionalmente têm tido um domínio científico. Ooctógono escuro representa a média, e por isso as linhasde fora dele indicam um desempenho acima <strong>da</strong> média emum campo específico. Um destaque é a especialização <strong>da</strong>França na matemática, recentemente confirma<strong>da</strong> pelaentrega do Prêmio Abel – o equivalente matemático doPrêmio Nobel – a dois matemáticos franceses em <strong>2010</strong>.A França também está se especializando nas ciências <strong>da</strong>Terra e do espaço, bem como a Alemanha. Quanto aoJapão, o país possui diversos pontos fortes: física, química,engenharia e tecnologia. É interessante que tanto os EUAe o Reino Unido se especializam em pesquisa biomédica,medicina clínica, e Terra e espaço.A segun<strong>da</strong> teia trata dos BRICs e <strong>da</strong> África. Aqui, também,observamos algumas diferenças marcantes entre os paísesem suas especiali<strong>da</strong>des científicas. A Rússia mostra umaforte especialização em física, matemática e ciências <strong>da</strong>Terra e do espaço. Tipicamente, a China tem uma forteespecialização em física, química, matemática, eengenharia e tecnologia. Por contraste, a África e o Brasilsão fortes em biologia, e a Índia em química.Essas diferenças em especialização científica estão espelha<strong>da</strong>snos diferentes perfis de países que se seguem a este capítulo.Os países parecem escolher áreas de criação de conhecimentocientífico com base em suas próprias necessi<strong>da</strong>des(medicina clínica), oportuni<strong>da</strong>des geográficas (ciências<strong>da</strong> Terra e do espaço, e biologia) e, também, com base emafini<strong>da</strong>des culturais (matemática e física) e na experiênciaadquiri<strong>da</strong> a partir do crescimento industrial (química).Tendências de produção científica: desigual<strong>da</strong>de nacriação de conhecimento privadoO quarto indicador o qual estamos enfocando nesteprimeiro capítulo reflete o sucesso dos países e <strong>da</strong>sregiões na apropriação priva<strong>da</strong> do conhecimento, porexemplo, por meio do número de patentes deposita<strong>da</strong>snos escritórios de patentes <strong>da</strong> Tríade, a saber: o Escritóriode Patentes e Marcas Registra<strong>da</strong>s dos EUA (USPTO), oEscritório Europeu de Patentes e o Escritório Japonês dePatentes. As patentes deposita<strong>da</strong>s nesses três escritóriosde patentes são geralmente considera<strong>da</strong>s como de altaquali<strong>da</strong>de. Como um indicador tecnológico, as patentessão um bom reflexo de um caráter fortemente cumulativoe tácito do conhecimento, embuti<strong>da</strong>s em um direito deproprie<strong>da</strong>de intelectual formalmente reconhecido eduradouro. É essa característica que encarece a transferênciade conhecimento de um contexto para outro.O predomínio dos EUA é marcante. Isso mostra o papeldo mercado de tecnologia dos EUA como o principalmercado privado do mundo para as licenças tecnológicas.O Japão, a Alemanha e a República <strong>da</strong> Coreia são osoutros países com a maioria dos detentores de patentes.A participação <strong>da</strong> Índia remonta a mero 0,2% de to<strong>da</strong>s aspatentes <strong>da</strong> Tríade, uma fração comparável à do Brasil(0,1%) e <strong>da</strong> Rússia (0,2%). A Tabela 4 ilustra a extremaconcentração de aplicações de patentes na América doNorte, na Ásia e na Europa; o restante do mundo éresponsável por apenas 2% do estoque total de patentes.A maioria dos países <strong>da</strong> África, Ásia e América Latina nãocumpre qualquer papel nessa rubrica.As patentes <strong>da</strong> Índia tendem a ser nos campos relacionadosà química. De maneira interessante, o capítulo <strong>sobre</strong> aÍndia considera que a introdução <strong>da</strong> Lei Indiana de Patentesem 2005 levaria a Índia ao cumprimento do AcordoRelativo aos Aspectos Comerciais do Direito de Proprie<strong>da</strong>deIntelectual (TRIPS), e não teve um efeito negativo <strong>sobre</strong> aindústria farmacêutica do país. Em apoio a esse argumento,o autor cita o forte crescimento do investimento em P&Ddesde 2000, que continuou sem qualquer prejuízo em2008. Porém, ele também observa que a maioria dessaspatentes está sendo concedi<strong>da</strong> a companhias estrangeirasativas na Índia, com base em projetos de P&D conduzidosna Índia, em uma tendência crescente.De todos os indicadores usados no Relatório <strong>UNESCO</strong><strong>sobre</strong> Ciência, o indicador de patentes é o que aponta demodo mais decisivo para a desigual<strong>da</strong>de na criação deconhecimento em nível global.A seguinte tendência aju<strong>da</strong> a explicar o imenso volume depatentes entre as economias <strong>da</strong> OCDE. Em países de altaren<strong>da</strong>, a vi<strong>da</strong> útil de produtos de alta tecnologia estádiminuindo, o que obriga as empresas a inventar novosprodutos de maneira ca<strong>da</strong> vez mais rápi<strong>da</strong>. Isso pode serobservado na veloci<strong>da</strong>de com que novos computadores,programas, videogames e telefones celulares, porexemplo, estão aparecendo no mercado. As própriasempresas de alta tecnologia são amplamente responsáveispor esse fenômeno, na medi<strong>da</strong> em que elas delibera<strong>da</strong>mentese dispõem a criar novas necessi<strong>da</strong>des de consumo aocriarem versões mais sofistica<strong>da</strong>s de seus produtos a ca<strong>da</strong>seis meses, por exemplo. Tal estratégia é também umamaneira de se manter à frente <strong>da</strong> competição, qualquerque seja ela. Como consequência, as patentes quecostumavam ser economicamente váli<strong>da</strong>s por diversosanos agora têm uma vi<strong>da</strong> útil curta. O desenvolvimentode novos produtos e o registro de novas patentes a ca<strong>da</strong>seis meses, por exemplo, é um exercício extremamente16


O crescente papel do conhecimento na economia globalTabela 4: o USPTO e as famílias de patentes <strong>da</strong> Tríade por região de invenção, 2002 e 2007Patentes do USPTOPatentes <strong>da</strong> Tríade*Total Participação mundial (%) Total Participação mundial (%)2002 2007 2002 2007 2002 2006 2002 2006Mundo 167 399 156 667 100,0 100,0 56 654 47 574 100,0 100,0Países desenvolvidos 155 712 141 183 93,0 90,1 55 456 45 923 97,9 96,5Países em desenvolvimento 12 846 17 344 7,7 11,1 1 579 2 125 2,8 4,5Países menos desenvolvidos 13 13 0,0 0,0 4 1 0,0 0,0Américas 92 579 85 155 55,3 54,4 25 847 20 562 45,6 43,2América do Norte 92 245 84 913 55,1 54,2 25 768 20 496 45,5 43,1América Latina e Caribe 450 355 0,3 0,2 115 101 0,2 0,2Europa 31 046 25 387 18,5 16,2 17 148 13 249 30,3 27,8União Europeia 29 178 23 850 17,4 15,2 16 185 12 540 28,6 26,4Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes na Europa 350 332 0,2 0,2 151 97 0,3 0,2Europa Central, do Leste e outros 2 120 1 708 1,3 1,1 1 203 958 2,1 2,0África 151 134 0,1 0,1 47 48 0,1 0,1África do Sul 124 92 0,1 0,1 38 37 0,1 0,1Outros países subsaarianos (excl, a África do Sul) 15 16 0,0 0,0 3 3 0,0 0,0Estados Árabes na África 12 26 0,0 0,0 6 9 0,0 0,0Ásia 47 512 50 313 28,4 32,1 15 463 15 197 27,3 31,9Japão 35 360 33 572 21,1 21,4 14 085 13 264 24,9 27,9China 5 935 7 362 3,5 4,7 160 259 0,3 0,5Israel 1 151 1 248 0,7 0,8 476 411 0,8 0,9Índia 323 741 0,2 0,5 58 96 0,1 0,2Comuni<strong>da</strong>de dos Estados Independentes na Ásia 6 9 0,0 0,0 3 1 0,0 0,0Economias Recentemente Industrializa<strong>da</strong>s na Ásia 4 740 7 465 2,8 4,8 689 1 173 1,2 2,5Estados Árabes na Ásia 46 58 0,0 0,0 15 18 0,0 0,0Outros na Ásia (excl, Japão, China, Israel, Índia) 80 48 0,0 0,0 19 18 0,0 0,0Oceania 1 139 1 516 0,7 1,0 549 834 1,0 1,8IntroduçãoOutros gruposEstados Árabes (todos) 56 84 0,0 0,1 20 27 0,0 0,1Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes (todos) 356 340 0,2 0,2 154 98 0,3 0,2OCDE 159 320 147 240 95,2 94,0 55 863 46 855 98,6 98,5Associação Europeia de Livre Comércio 2 064 1 640 1,2 1,0 1 180 935 2,1 2,0África Subsaariana (incl. África do Sul) 139 108 0,1 0,1 41 39 0,1 0,1Países selecionadosArgentina 59 56 0,0 0,0 12 17 0,0 0,0Brasil 134 124 0,1 0,1 46 46 0,1 0,1Canadá 3 895 3 806 2,3 2,4 962 830 1,7 1,7Cuba 9 3 0,0 0,0 5 0 0,0 0,0Egito 8 22 0,0 0,0 3 4 0,0 0,0França 4 507 3 631 2,7 2,3 2 833 2 208 5,0 4,6Alemanha 12 258 9 713 7,3 6,2 6 515 4 947 11,5 10,4Irã (República Islâmica do Irã) 11 7 0,0 0,0 1 3 0,0 0,0México 134 81 0,1 0,1 26 16 0,0 0,0República <strong>da</strong> Coreia 3 868 6 424 2,3 4,1 523 1 037 0,9 2,2Federação Russa 346 286 0,2 0,2 149 84 0,3 0,2Turquia 21 32 0,0 0,0 9 10 0,0 0,0Reino Unido 4 506 4 007 2,7 2,6 2 441 2 033 4,3 4,3Estados Unidos <strong>da</strong> América 88 999 81 811 53,2 52,2 25 034 19 883 44,2 41,8*Os <strong>da</strong>dos para 2006 estão incompletos e devem ser interpretados com cautela.Observação: A soma dos números e <strong>da</strong>s porcentagens para as diversas regiões excede o número total, ou 100%, porque as patentes com múltiplosresponsáveis ou inventores de diferentes regiões contribuem integralmente para ca<strong>da</strong> uma dessas regiões.Fonte: <strong>da</strong>dos do Escritório de Patentes e Marcas Registra<strong>da</strong>s dos EUA (USPTO) e <strong>da</strong> OCDE, compilados pela <strong>UNESCO</strong> e pelo Observatoire des sciences et destechniques canadense, fevereiro 200917


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>intensivo em termos de trabalho e investimento, queobriga as companhias a inovar em um ritmo frenético.Com a recessão global, as empresas vêm tendo maisdificul<strong>da</strong>de em manter esse ritmo.Apropriação de conhecimento versus difusão deconhecimentoVeremos agora a variável oposta às patentes: o númerode usuários <strong>da</strong> internet. Essa variável deve nos permitirestimar se o acesso facilitado à informação e aoconhecimento é capaz de proporcionar oportuni<strong>da</strong>des deuma difusão mais rápi<strong>da</strong> de C&T. Os <strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> o uso <strong>da</strong>internet na Tabela 5 mostram um quadro muito diferente<strong>da</strong>quele desenhado pela questão <strong>da</strong>s patentes. Constatamosque os BRICs e diversos países em desenvolvimento estãoalcançando rapi<strong>da</strong>mente os EUA, o Japão e os países lídereseuropeus nesse indicador. Isso mostra a importânciacrucial <strong>da</strong> emergência <strong>da</strong>s comunicações digitais como ainternet para a distribuição mundial <strong>da</strong> C&T, e, de modomais amplo, para a geração de conhecimento. A rápi<strong>da</strong>difusão <strong>da</strong> internet no Sul é uma <strong>da</strong>s tendências maispromissoras deste milênio, e provavelmente gerará maiorconvergência no acesso à C&T ao longo do tempo.Uma perspectiva sistêmica <strong>sobre</strong> a congruência dosindicadores de C&TO conceito de um sistema nacional de inovação foicunhado por Christopher Freeman no final dos anos 1980para descrever a congruência muito mais ampla na socie<strong>da</strong>dejaponesa entre todos os tipos de redes institucionais “nossetores público e privado, cujas ativi<strong>da</strong>des e interaçõesiniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias”(FREEMAN, 1987). O conjunto de indicadores descritoacima ilumina algumas características do sistema nacionalde inovação de ca<strong>da</strong> país. Devemos ter em mente, noentanto, que os indicadores de ciência, tecnologia einovação (CTI) relevantes no passado podem ter setornado menos relevantes nos dias atuais, e até mesmoenganosos (FREEMAN & SOETE, 2009). Os países emdesenvolvimento não devem simplesmente confiar naadoção de indicadores de CTI desenvolvidos por e parapaíses <strong>da</strong> OCDE; devem, sim, desenvolver seus própriosindicadores de CTI (TIJSSEN & HOLLANDERS, 2006). AÁfrica está <strong>atual</strong>mente implementando um projeto paradesenvolver, adotar e usar indicadores comuns napesquisa <strong>sobre</strong> o desenvolvimento do continente em C&T,por meio <strong>da</strong> publicação periódica de Prognósticos <strong>da</strong>Inovação Africana (African Innovation Outlook).A Figura 5 ilustra visualmente os distintos vieses nossistemas de inovação nacional dos países, por meio <strong>da</strong>combinação de quatro indicadores. À primeira vista, osistema dos EUA parece ser o mais equilibrado: os círculosdos EUA aparecem ca<strong>da</strong> vez no meio <strong>da</strong> figura. Porém asua posição em relação ao capital humano é frágil e estádesalinha<strong>da</strong> com a tendência de outros países altamentedesenvolvidos: apenas 24,5% <strong>da</strong> população dos EUApossuem um diploma de curso superior, enquanto que naTabela 5: Usuários <strong>da</strong> internet por 100 habitantes, 2002 e 20082002 2008Mundo 10.77 23.69Países desenvolvidos 37.99 62.09Países em desenvolvimento 5.03 17.41Países menos desenvolvidos 0.26 2.06Américas 27.68 45.50América do Norte 59.06 74.14América Latina e Caribe 8.63 28.34Europa 24.95 52.59União Europeia 35.29 64.58Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes na Europa 3.83 29.77Europa Central, do Leste e outros 18.28 40.40África 1.20 8.14África do Sul 6.71 8.43Outros países subsaarianos (excl. a África do Sul) 0.52 5.68Estados Árabes na África 2.11 16.61Ásia 5.79 16.41Japão 46.59 71.42China 4.60 22.28Israel 17.76 49.64Índia 1.54 4.38Comuni<strong>da</strong>de dos Estados Independentes na Ásia 1.72 12.30Economias Recentemente Industrializa<strong>da</strong>s na Ásia 15.05 23.47Estados Árabes na Ásia 4.05 15.93Outros na Ásia (excl. Japão, China, Israel, Índia) 2.19 11.51Oceania 43.62 54.04Outros gruposEstados Árabes (todos) 2.81 16.35Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes (todos) 3.28 24.97OCDE 42.25 64.03Associação Europeia de Livre Comércio 66.08 78.17África Subsaariana (incl. África do Sul) 0.94 5.86Países selecionadosArgentina 10.88 28.11Brasil 9.15 37.52Canadá 61.59 75.53Cuba 3.77 12.94Egito 2.72 16.65França 30.18 70.68Alemanha 48.82 77.91Irã (República Islâmica do Irã) 4.63 31.37México 10.50 21.43República <strong>da</strong> Coreia 59.80 81.00Federação Russa 4.13 32.11Turquia 11.38 34.37Reino Unido 56.48 78.39Estados Unidos <strong>da</strong> América 58.79 74.00Fonte: Base de <strong>da</strong>dos de TIC <strong>da</strong> International Telecommunications Union,World Telecommunications, junho de <strong>2010</strong>, e estimativas do Instituto deEstatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>; United Nations Department of Economic and SocialAffairs (2009) World Population Prospects: the 2008 Revision, e estimativasdo Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>.18


O crescente papel do conhecimento na economia globalFrança, na Alemanha ou no Japão, por exemplo, a proporçãoé próxima de 30%, podendo até mesmo superar essenúmero. Poder-se-ia esperar que os EUA tivessem umresultado melhor no eixo <strong>da</strong> educação superior, <strong>da</strong>do oseu desempenho para os indicadores dos outros eixos.É ver<strong>da</strong>de que os EUA contam com algumas <strong>da</strong>s melhoresuniversi<strong>da</strong>des do mundo, mas rankings como o <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de Shanghai Jiao Tong têm como enfoque odesempenho nas pesquisas, em vez <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>educação. Em suma, os EUA contam com um vasto fluxode pesquisadores estrangeiros e outras pessoas altamentequalifica<strong>da</strong>s para dirigirem sua economia.O Japão permite ver um contraste: está claramente atrásdos outros países altamente desenvolvidos em termos depublicações científicas e PIB per capita. O seu sistema deinovação mostra uma aparente fraqueza quando se tratade traduzir o alto investimento do país em capital humanode pesquisa e P&D em valor científico e econômico. OReino Unido sofre com o problema exatamente oposto:seu desempenho em termos de publicações científicas ecriação de riqueza econômica é muito superior ao seuinvestimento em capital humano de pesquisa e P&D.A Rússia, por outro lado, brilha quando se trata deinvestimento em capital humano, mas fraqueja em todosIntroduçãoFigura 5. Combinação sistêmica de indicadores de C&T, 2007Países e regiões seleciona<strong>da</strong>sEducaçãosuperior60504030<strong>2010</strong>Publicações-1200 -1000 -800 -600 -400 -200 0000 10000 20000 30000 40000 50000PIB per capita-0,5-1,0-1,5-2,0-2,5-3,0-3,5P&DChinaÍndia África EUA Brasil Rússia Japão Alemanha França Reino Unido Rep. <strong>da</strong> CoreiaObservação: O tamanho dos círculos reflete o tamanho <strong>da</strong> população para ca<strong>da</strong> país ou região estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.Fonte: UNU–MERIT, a partir de <strong>da</strong>dos do Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> e do Banco Mundial19


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>os outros indicadores. A China ain<strong>da</strong> está tipicamente emuma fase de alcançar os outros: seu pesado investimentoem P&D ain<strong>da</strong> não foi devi<strong>da</strong>mente recompensado, mas,naturalmente, sua estrutura econômica segue domina<strong>da</strong>por ativi<strong>da</strong>des de tecnologia não intensiva.Os vieses nacionais na Figura 5 também mostram algumasimplicações <strong>da</strong> migração internacional de pesquisadores e, demodo mais amplo, de capital humano, para os países. Não é dese estranhar que haverá uma forte emigração para fora de paísescomo a Rússia, e uma forte imigração em direção aos EUA,<strong>da</strong>dos os atuais vieses dos seus sistemas nacionais de inovação.A RECESSÃO ECONÔMICA GLOBALPREJUDICA A GERAÇÃO DECONHECIMENTO?A recessão econômica poderá ter um duro impacto <strong>sobre</strong>o investimento em conhecimento em torno do globo.Muitos indicadores de conhecimento descritos em 2007 eantes podem ter sido afetados no processo, e, assim,podem ser pouco confiáveis para antecipar a situação de2009 ou <strong>2010</strong>. Os orçamentos de P&D, principalmente,tendem a ser vulneráveis a cortes em tempos de crise. Aspatentes e as publicações, por sua vez, serão afeta<strong>da</strong>s pelaque<strong>da</strong> nos gastos de P&D, mas isso provavelmenteocorrerá em longo prazo e afetará a produção científica demodo menos direto, em função de efeitos em linha queabafam flutuações bruscas. Em relação às tendências emtermos de educação e força de trabalho, esse setor tendea ser menos afetado por distorções de curto prazo.Existem alguns indicadores de curto prazo que podemiluminar o impacto <strong>da</strong> recessão até o momento. Aqui,fazemos uso do indicador composto avançado (CLI) <strong>da</strong>OCDE, que está facilmente disponível. Esse indicador fazuso de <strong>da</strong>dos mensais (sem identificação de tendências)<strong>sobre</strong> a produção industrial como representantesaproximados <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômica. É um indicador dedestaque porque a produção industrial se recuperarapi<strong>da</strong>mente em um ciclo econômico. Um marco de vira<strong>da</strong>Figura 6. Produção industrial nos BRICs, EUA e zona do Euro, 2006-<strong>2010</strong>120Zona do Euro (16 países)EUAChinaRússiaBrasilÍndia100101,7101,7101,6101,6101,398,0104,3103,1102,7102,2101,0100,980J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M J S N J M M2006 2007 2008 2009 <strong>2010</strong>Fonte: OECD, Composite Leading Indicators (Amplitude adjusted series) 20


O crescente papel do conhecimento na economia globalno CLI assinala que se pode esperar um marco de vira<strong>da</strong> nociclo de negócios dentro de seis a nove meses. A Chinamostrou isso tão cedo quanto novembro de 2008, e,consequentemente, uma vira<strong>da</strong> para cima no ciclo denegócios em maio-agosto de 2009, como esperado.A partir <strong>da</strong>s informações <strong>da</strong> Figura 6, também podemosinterpretar que o Brasil estava 10% acima do seu nívelde longo prazo na produção industrial de 2007, antes decair radicalmente para cerca de 85% desse valor noprimeiro mês de 2009. A produção industrial na Índia ena zona do Euro teve apenas um tropeção, caindo decerca de 103% para 90%. Espera-se que a recuperaçãoseja forte o suficiente para elevar o nível <strong>da</strong> produçãoindustrial acima do seu patamar de longo prazo.Porém os <strong>da</strong>dos dos meses mais recentes (junho de <strong>2010</strong>)revelam que a taxa de recuperação está diminuindo,e isso provoca questionamentos quanto a um possívelduplo mergulho.Em suma, podemos dizer que entre outubro de 2008 emarço de 2009, os primeiros sinais <strong>da</strong> recuperação setornaram visíveis. A Ásia em geral e a China em particularforam as primeiras a se recuperar. É improvável que osgastos de P&D na China tenham sido afetados pelarecessão econômica global, pois a produção industrialteve uma que<strong>da</strong> de apenas 7% abaixo do seu valortendencial de longo prazo por um período relativamentecurto. Entretanto as evidências circunstanciais <strong>da</strong>sempresas, apresenta<strong>da</strong>s pelo placar de investimento emP&D <strong>da</strong> UE em 2009 mostram que o esforço de P&D <strong>da</strong>China em 2008 aumentou, pelo menos no campo <strong>da</strong>stelecomunicações. Não há motivos para supor que 2009 e<strong>2010</strong> serão muito diferentes, uma vez que a economia <strong>da</strong>China cresceu mais de 7%, mesmo em 2007 e 2008.Por sua vez, para o Brasil e a Índia, é possível que osesforços totais de P&D tenham sido pressionados em2008 e 2009, em função do nível relativamente baixo deprodução industrial durante um período de tempoprolongado. De fato, entre julho de 2008 e março de<strong>2010</strong>, a produção industrial permaneceu abaixo do seunível tendencial de longo prazo. Por outro lado, como umdestaque positivo, esses países têm alcançado os paísesdesenvolvidos em termos de GERD por vários anos.Portanto, pode-se esperar mais uma perspectiva decalmaria na intensi<strong>da</strong>de crescente de P&D nesses paísesdo que uma que<strong>da</strong> significativa.Quanto às maiores empresas de P&D do mundo, asevidências circunstanciais para 2009 revelam que amaioria dos grandes financiadores de P&D nos EUAcortaram entre 5% e 25% de seus gastos com P&D noano, enquanto uma minoria aumentou os gastos entre6% e 19%. Porém, no geral, os EUA e a UE provavelmentemanterão a intensi<strong>da</strong>de total de sua P&D em torno dosníveis de 2007. Isso significa que tanto o PIB quanto osgastos com P&D diminuirão de modo proporcional,mantendo assim a intensi<strong>da</strong>de de P&D mais ou menosconstante ao longo de 2009-<strong>2010</strong> (BATTELLE, 2009).UM EXAME MAIS DETALHADO DEPAÍSES INDIVIDUAIS E REGIÕESA escolha dos países e regiões pelo Relatório <strong>UNESCO</strong><strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> reflete bem a heterogenei<strong>da</strong>demundial de C&T entre nações altamente desenvolvi<strong>da</strong>s<strong>da</strong> OCDE e os quatro grandes países emergentes quecompõem o grupo dos BRICs, e incluindo o grandenúmero de países em desenvolvimento que demonstramum crescente papel no esforço global de pesquisa. Aqui,resumimos as conclusões mais perspicazes queemergiram dos estudos regionais e de países individuais.Nos Estados Unidos <strong>da</strong> América (capítulo 2), os esforçosde P&D têm prosperado ao longo dos cinco últimos anos,e continuam a ser uma priori<strong>da</strong>de governamentalindiscutível. Um bom exemplo é o financiamento para aFun<strong>da</strong>ção Nacional de Ciência, que duplicou a pedido dogoverno Bush em 2007 e está em vias de duplicarnovamente durante o governo Obama. Ain<strong>da</strong> que arecessão gera<strong>da</strong> pela crise <strong>da</strong>s hipotecas tenha atingidoduramente a economia em 2009 e <strong>2010</strong>, as universi<strong>da</strong>dese os centros de pesquisa continuaram a recebergenerosos financiamentos tanto de fundos públicosquanto de fontes priva<strong>da</strong>s e industriais.O governo Obama incluiu um significativo investimentopontual em CTI que também beneficiou P&D no segundopacote de estímulo rumo ao final de 2009, mas agoraexiste o risco claro de que qualquer aumento no financiamentofederal será contrabalanceado por reduções nofinanciamento tanto pelos governos estaduais quantopelos fundos privados. Apesar disso, o almejadocompromisso do governo Obama é o de aumentar oGERD de 2,7% para 3% do PIB. O governo está enfatizandoa P&D no campo <strong>da</strong> energia, em especial, energia limpa.Diferentemente <strong>da</strong> pesquisa pública, a P&D industrialparece ter sido atingi<strong>da</strong> de modo relativamente forte pelarecessão, e um amplo número pesquisadores foidispensado. Entre os maiores financiadores de P&D estãoas indústrias farmacêuticas, que foram muito afeta<strong>da</strong>spela recessão. De fato, o capítulo aponta que a indústriafarmacêutica já estava mostrando sinais de fadiga antesIntrodução21


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong><strong>da</strong> recessão, uma vez que o imenso investimentorealizado em P&D não parece ter resultado em muitosmedicamentos de sucesso recentemente.O sistema de universi<strong>da</strong>des dos EUA ain<strong>da</strong> lidera o mundono tocante à pesquisa: em 2006, 44% de todos os artigosde C&T publicados em periódicos acadêmicos indexadosna SCI incluíram pelo menos um autor que desenvolve o seutrabalho nos EUA. Além disso, <strong>da</strong>s 25 principais instituiçõeslista<strong>da</strong>s pelo Instituto de Educação Superior <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deShanghai Jiao Tong em 2008, 19 estavam nos EUA.O Canadá (capítulo 3) tem sido menos afetado pela recessãoeconômica global do que os EUA ou a Europa, graças aoseu forte sistema bancário e ao seu mercado imobiliário,que evitaram cometer muitos dos excessos do país vizinho.Além disso, a baixa inflação, alia<strong>da</strong> à ren<strong>da</strong> advin<strong>da</strong> dosabun<strong>da</strong>ntes recursos naturais do Canadá, amorteceu oimpacto <strong>da</strong> recessão global na economia do país.Em março de <strong>2010</strong>, o governo federal se comprometeu ainvestir em uma série de novas medi<strong>da</strong>s para promover apesquisa no período <strong>2010</strong>-2011. Essas medi<strong>da</strong>s incluembolsas de pós-doutorado bem como recursos extras paraa pesquisa em geral, a ser promovi<strong>da</strong> por conselhos defomento e redes regionais de inovação. Uma parcelaconsiderável desse financiamento vai para a pesquisa noscampos <strong>da</strong> física de partículas e nuclear, bem como para apróxima geração <strong>da</strong>s tecnologias de satélites. Com os EUAlogo ao lado, o Canadá não pode se acomo<strong>da</strong>r.O investimento constante em P&D parece valer o esforço:entre 2002 e 2008, o número de publicações científicascanadenses em SCI aumentou em quase 14 mil. Porém, sepor um lado o Canadá pode se orgulhar do dinamismo doseu setor acadêmico e do generoso gasto público com CTIe P&D, por outro, muitos negócios ain<strong>da</strong> não assimilaramuma cultura de produção de conhecimento. O problemade produtivi<strong>da</strong>de do Canadá é acima de tudo umaquestão de inovação nos negócios. O resultado do fracodesempenho de P&D nos negócios é que a pesquisaacadêmica frequentemente aparece como um substitutopara a P&D industrial.O governo federal se propôs a fomentar parcerias públicopriva<strong>da</strong>srecentemente, por meio de duas iniciativas: umacordo entre o governo federal e a Associação <strong>da</strong>sUniversi<strong>da</strong>des e Facul<strong>da</strong>des Canadenses para dobrar ovolume de pesquisas e triplicar o número de resultados depesquisa comercializados; e a Rede de Centros deExcelência que já totalizam 17 uni<strong>da</strong>des no país.O capítulo 4 <strong>sobre</strong> a América Latina aponta um hiato deren<strong>da</strong> persistente e feroz entre os ricos e os pobres nocontinente. As políticas de CTI poderiam desempenharum estratégico papel na redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Noentanto tem sido difícil criar laços entre políticas de CTI,por um lado, e políticas sociais, por outro. As condiçõesestruturais anteriores à recessão global foram particularmentefavoráveis à reforma, na medi<strong>da</strong> em que elascombinaram estabili<strong>da</strong>de política com o mais longoperíodo de forte crescimento econômico (2002-2008)vivenciado pela região desde 1980, graças à alta nomercado global de commodities.Diversos países latino-americanos implementaram umasérie de políticas para promover a inovação, principalmenteArgentina, Brasil e Chile. Porém, a despeito <strong>da</strong>existência de cerca de 30 tipos de instrumentos de CTI emuso nas políticas públicas <strong>da</strong> região, os sistemas nacionaisde inovação permanecem frágeis. Esse é o caso mesmoentre proponentes tão ávidos de políticas de CTI comoBrasil e Chile. O mais forte obstáculo é a falta deinterligação entre os diferentes atores do sistema nacionalde inovação. Por exemplo, as boas pesquisas que surgemno setor acadêmico local não tendem a ser aproveita<strong>da</strong>s eusa<strong>da</strong>s pelo setor produtivo local. De modo mais geral, oinvestimento em P&D permanece baixo, e a burocraciapermanece ineficiente. O treinamento e a construção demassa crítica com funcionários altamente qualificadostêm sido questões adicionais de destaque.A recessão econômica tem gerado uma crise de empregoque poderá exacerbar a pobreza na região, aumentandoassim a tensão entre a política de CTI e a questão <strong>da</strong>especialização, por um lado, e o alívio <strong>da</strong> pobreza e aspolíticas sociais, por outro.O Brasil (capítulo 5) teve uma economia em alta nos anosanteriores à recessão global. Esse estado de saúdeeconômica deve propiciar o investimento em negócios.No entanto o número de pedidos de patentes segue sendobaixo, e as ativi<strong>da</strong>des de P&D continuam lentas no setorempresarial, deixando assim a maior parte do esforço definanciamento nas mãos do setor público (55%). Alémdisso, a maioria dos pesquisadores é composta poracadêmicos (63%), e a economia brasileira está sofrendoca<strong>da</strong> vez mais com a escassez de pessoas com PhD.Os pesquisadores também continuam desigualmentedistribuídos no país e a produção nacional está domina<strong>da</strong>por um pequeno grupo de universi<strong>da</strong>des de excelência.O governo federal está consciente desse problema. Em 2007,ele adotou um Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e22


O crescente papel do conhecimento na economia globalInovação para o Desenvolvimento Brasileiro (2007-<strong>2010</strong>),que se propõe a aumentar os gastos com P&D de 1,07%do PIB em 2007 para 1,5% do PIB em <strong>2010</strong>. Outra meta éaumentar o número de bolsas disponíveis aos estu<strong>da</strong>ntesuniversitários e pesquisadores de 102 mil em 2007 para170 mil até 2011. Um dos principais objetivos é fomentarum ambiente propício à inovação nas empresas, de modoque fortaleça as políticas industriais, tecnológicas e deexportação e aumente tanto o número de pesquisadoresativos no setor privado quanto o número de incubadorasde negócios e parques tecnológicos.Cuba (capítulo 6) é um estudo de caso intrigante. O nívelde desenvolvimento humano de Cuba está entre os maisaltos <strong>da</strong> região, em pé de igual<strong>da</strong>de com o do México. Emtermos de gastos gerais em C&T, no entanto, o país ficaabaixo <strong>da</strong> média regional, como consequência de umesforço ligeiramente menor <strong>da</strong> parte de Cuba e, acima detudo, como consequência de um aumento do compromissocom C&T na América Latina. O financiamento aosnegócios em Cuba foi reduzido pela metade nos anosrecentes, para apenas 18% do GERD.Por outro lado, o nível cubano de matricula na educaçãosuperior é impressionante, sendo que os estu<strong>da</strong>ntesuniversitários de primeiro ano dobraram entre 2004-2005e 2007-2008, graças a uma nova on<strong>da</strong> de alunos demedicina. Além disso, em 2008, 53,5% dos profissionais deC&T eram mulheres. Muitos profissionais de C&Ttrabalham em institutos públicos de pesquisas, ain<strong>da</strong>que o novo número de pesquisadores entre o pessoalde P&D (7%) seja preocupante.A estratégia de pesquisa em Cuba está centra<strong>da</strong> emalguns Programas Nacionais de Pesquisa em Ciência eTecnologia. Um programa recente enfocado em TICconseguiu aumentar o acesso à internet, de 2% <strong>da</strong>população em 2006 para quase 12% em apenas um ano.Cuba é conheci<strong>da</strong> pelo desenvolvimento e produção demedicamentos, mas outras priori<strong>da</strong>des estão emergindo.Essas priori<strong>da</strong>des incluem P&D em energia, monitoramentoe mitigação de desastres, devido à ameaça de fortesfuracões, secas, branqueamento de corais e inun<strong>da</strong>çõesno futuro, em função <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça climática. Cubacomeçou a modernizar a sua infraestrutura de pesquisas,e, de maneira destaca<strong>da</strong>, os seus serviços meteorológicos.Os países do Mercado Comum do Caribe (capítulo 7) têmsofrido fortemente com o pico nos preços internacionaisde alimentos e commodities nos anos recentes. A Jamaica,por exemplo, gastou mais em importação de petróleo em2007 do que o total <strong>da</strong>s suas exportações. Essa situaçãoexacerbou-se pela recessão global, que abalou a crucialindústria do turismo.Dois dos maiores países <strong>da</strong> região, a Jamaica e Trini<strong>da</strong>d eTobago, uniram-se para delinear planos de desenvolvimentode longo prazo (Vision 2030 e Vision 2020, respectivamente)que enfatizam a importância <strong>da</strong> CTI para o desenvolvimento.Os gastos em P&D continuam extremamente baixos, noentanto, e a P&D priva<strong>da</strong> está quase sem vi<strong>da</strong>. Apenas osetor <strong>da</strong> educação superior está em alta: duas novasuniversi<strong>da</strong>des foram cria<strong>da</strong>s desde 2004 na ilha deTrini<strong>da</strong>d, e a introdução <strong>da</strong> educação superior gratuita emTrini<strong>da</strong>d e Tobago em 2006 fez com que as taxas dematrícula de estu<strong>da</strong>ntes aumentasse de um dia para ooutro. Porém o salto experimentado pela populaçãoestu<strong>da</strong>ntil não foi ain<strong>da</strong> acompanhado por um aumentoproporcional no número de pessoal acadêmico, e issoprejudicou o campo <strong>da</strong>s pesquisas. A região possui fortesexpectativas em relação à Fun<strong>da</strong>ção Caribenha de Ciências,lança<strong>da</strong> em setembro de <strong>2010</strong> para revitalizar a P&D.Como o capítulo 8 <strong>sobre</strong> a União Europeia (UE) aponta,a UE está se tornando um grupo de países ca<strong>da</strong> vez maisheterogêneo. Apesar de os novos membros estaremalcançando os outros economicamente, permanece umhiato considerável entre os estados-membros mais ricos emais pobres. Em termos de inovação, no entanto, essaheterogenei<strong>da</strong>de não conhece fronteiras. As regiõesdentro de um país que têm um desempenhoparticularmente bom em inovação estão distribuí<strong>da</strong>s aolongo <strong>da</strong> UE, ao invés de estarem confina<strong>da</strong>s aos estadosmembrosmais antigos (e mais ricos).Ain<strong>da</strong> que a UE seja um líder mundial imbatível naspublicações registra<strong>da</strong>s no SCI, ela está lutando paraaumentar os investimentos em P&D e para desenvolver ainovação. Isso é visível pela incapaci<strong>da</strong>de de cumprir asmetas de Lisboa e Barcelona de aumentar o GERD para 3%do PIB até <strong>2010</strong>. Outra questão com a qual os estadosmembrosestão lutando ao longo <strong>da</strong> UE diz respeito àsreformas institucionais do sistema universitário. O desafiodual aqui é aprimorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesquisa e revitalizaras instituições de educação superior <strong>da</strong> UE que estão como orçamento reduzido.Do lado positivo, o que distingue a UE de muitas outrasregiões é a sua vontade de reconhecer que ela apenasaprimorará o seu desempenho de CTI e P&D agregando aspotenciali<strong>da</strong>des dos seus estados-membros. Essa atitudeestá propaga<strong>da</strong> em uma série de agências e programasmultilaterais europeus, que vão desde grandesorganizações de pesquisa como a Organização EuropeiaIntrodução23


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>para a Pesquisa Nucelar (CERN), em que países individuaiscolaboram com os Programas-Matriz para a Pesquisa e oDesenvolvimento Tecnológico, até a IniciativaTecnológica Conjunta e a rede Eureka, que foi cria<strong>da</strong> paraestimular a pesquisa na indústria. Algumas novasorganizações <strong>da</strong> UE foram estabeleci<strong>da</strong>s ou estão em fasede estabelecimento, incluindo a Fun<strong>da</strong>ção Europeia deCiência e o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia,bem como agências de financiamento como o ConselhoEuropeu de Pesquisas.Até serem atingidos pela recessão econômica global nofinal de 2008, todos os países do Sudeste Europeu(capítulo 9) estavam crescendo a uma taxa média anual de3%. Porém a região é particularmente heterogênea emtermos de seu desenvolvimento socioeconômico, comuma diferença de 10:1 entre os países mais ricos (comoGrécia e Eslovênia) e os mais pobres (Moldóvia). Enquantoos países mais avançados estão implementando estratégiasenfoca<strong>da</strong>s na UE com uma ênfase em inovação, osretar<strong>da</strong>tários ain<strong>da</strong> estão no estágio de buscar desenharou implementar uma política básica de C&T e de criar umsistema de P&D. Dois dos menores países estão ain<strong>da</strong>,naturalmente, em sua infância: Montenegro apenas setornou independente em 2006 e o Kosovo em 2008.Atualmente, a deman<strong>da</strong> por P&D e por pessoal altamentequalificado continua baixa em todos os países, com aexceção <strong>da</strong> Eslovênia, a despeito do crescente número depessoas com diploma superior. Duas razões para a falta dedeman<strong>da</strong> por P&D são o pequeno tamanho <strong>da</strong>s empresase sua falta de capaci<strong>da</strong>de. Para os não membros <strong>da</strong> UE naregião, a integração Europeia representa o único projetoviável para assegurar a coerência social e política. Sempolíticas fortes de CTI, a região corre o risco de ficar paratrás em relação ao restante <strong>da</strong> Europa.A Turquia (capítulo 10) tem enfatizado políticas de CTI nosanos recentes. Entre 2003 e 2007, o GERD mais do queduplicou, e os gastos corporativos com P&D aumentaramem 60%. O número de patentes e bolsas aumentou emmais de quatro vezes de 2002 a 2007. É o setor privado quevem impulsionando o crescimento econômico desde 2003.Algumas medi<strong>da</strong>s e políticas vêm sendo inicia<strong>da</strong>s paraapoiar a CTI, incluindo o projeto Vision 2023 em 2002-2004, o lançamento <strong>da</strong> Área de Pesquisas <strong>da</strong> Turquia em2004 e um amplo plano quinquenal de implementaçãopara a Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia (2005-<strong>2010</strong>). O Nono Plano de Desenvolvimento (2007-2013)também tem enfocado a CTI como base de construção dofuturo para a Turquia.Porém os desafios continuam presentes. O projeto Vision2023 foi um exercício de previsão de tecnologia, masinfelizmente ele não se estendeu a qualquer iniciativa decapacitação em áreas prioritárias de tecnologia. Alémdisso, a densi<strong>da</strong>de de pesquisadores permanece fraca, e oingresso na educação superior é menor do que em outrospaíses com uma ren<strong>da</strong> semelhante. A Turquia tambémtem um mercado de capital de risco subdesenvolvido eum número insuficiente de empresas com forte crescimento.O governo tem introduzido algumas medi<strong>da</strong>s paraestimular a P&D no setor privado, fomentar a colaboraçãoentre universi<strong>da</strong>des e indústrias, e desenvolver acooperação internacional em P&D. Essas medi<strong>da</strong>s incluemincentivos fiscais e parques tecnológicos, que totalizavam18 uni<strong>da</strong>des em 2008.A Federação Russa (capítulo 11) experimentou um boomeconômico nos anos anteriores à agu<strong>da</strong> recessãoeconômica no final de 2008. Isso se deveu amplamenteaos altos preços do petróleo, a uma moe<strong>da</strong> fraca e a umaforte deman<strong>da</strong> doméstica. Tanto o consumo quanto oinvestimento estavam altos. O país reagiu à crise adotandoum pacote geral de recuperação, mas teme-se que essepacote aumente a tendência de o governo intervirdiretamente na economia, em vez de promover o tipo dereforma institucional necessário à modernização,especialmente no tocante à política de CTI.Sem essas reformas institucionais, o sistema nacional deinovação continuará sofrendo com as fracas ligações entreos diferentes atores. Atualmente, falta coordenação entredepartamentos, a complexi<strong>da</strong>de administrativa éexcessiva, e há fracas ligações entre a ciência, a academiae a indústria. Todos esses fatores funcionam comobarreiras à cooperação e à inovação. Uma característica dedestaque é o desequilíbrio entre o desempenho de CTIdo país e o crescente volume de recursos financeirosdedicado a P&D, porém guar<strong>da</strong>dos com forte ciúmedentro <strong>da</strong>s instituições públicas de pesquisas, onde elespermanecem fora do alcance <strong>da</strong>s indústrias e universi<strong>da</strong>des.Como resultado, as universi<strong>da</strong>des desempenhamum papel minoritário na produção de novosconhecimentos: elas contribuem com apenas 6,7% doGERD – uma parcela que se manteve estável nas duasúltimas déca<strong>da</strong>s – e apenas uma em ca<strong>da</strong> trêsuniversi<strong>da</strong>des desenvolve P&D, em comparação com ametade <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des em 1995. As universi<strong>da</strong>despriva<strong>da</strong>s raramente desenvolvem algum tipo de pesquisa.O sistema de educação superior passou por uma amplareforma nos anos recentes, com a introdução deprogramas de graduação e mestrado, que passaram aconviver com o sistema soviético de séries gradua<strong>da</strong>s.24


O crescente papel do conhecimento na economia globalAté 2009, mais <strong>da</strong> metade dos quadros <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>destinham o equivalente a um PhD.As políticas de CTI precisam ter espaço para maismobili<strong>da</strong>de e cooperação acadêmica; também precisamconstruir as fun<strong>da</strong>ções para uma modernização radical dotreinamento profissional de cientistas e engenheiros. Esteúltimo ponto é ain<strong>da</strong> mais urgente em função doenvelhecimento <strong>da</strong> população de pesquisadores do país:40% deles já estão acima <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de oficial deaposentadoria. A promoção do apoio à pesquisauniversitária tem se tornado uma <strong>da</strong>s mais importantesorientações estratégicas de CTI e políticas educacionais naRússia. Desde 2006, o Projeto de Priori<strong>da</strong>de Nacional <strong>da</strong>Educação e um programa de acompanhamento têmprovido 84 universi<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>s centros deexcelência com recursos adicionais <strong>da</strong> ordem de US$30milhões, aproxima<strong>da</strong>mente, para promover odesenvolvimento de recursos humanos, P&D de altaquali<strong>da</strong>de e projetos educacionais, bem como parapermitir a aquisição de equipamentos de pesquisa.Nenhum país na Ásia Central (capítulo 12) dedica mais de0,25% do seu PIB a P&D. Esse é o caso até mesmo doCazaquistão e do Uzbequistão, os países que têm os sistemascientíficos mais desenvolvidos. Outras questões de preocupaçãosão o envelhecimento <strong>da</strong> “geração soviética” docontingente de pesquisa e a matriz jurídica inadequa<strong>da</strong>,que é parcialmente responsável pelo baixo nível de inovaçãopelas organizações científicas e pela iniciativa priva<strong>da</strong>.As iniciativas de políticas de CTI na região incluem oprograma Nação Intelectual 2020, apresentado peloCazaquistão em 2009. Esse plano prevê o desenvolvimentode uma rede de escolas de ciências naturais e exatas paraalunos que se destacam, e o aumento do GERD para 2,5%do PIB até 2020. O Cazaquistão já conta com diversosparques tecnológicos. O Tajiquistão também adotou umplano de C&T para o período 2007-2015. Quanto aoTurcomenistão, o país também tem experimentado umreavivamento <strong>da</strong> ciência desde 2007, após as pesquisasterem sido praticamente encerra<strong>da</strong>s por muitos anosdurante a presidência anterior. No Uzbequistão, umamedi<strong>da</strong> representativa foi a criação de um Comitê para aCoordenação do Desenvolvimento <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong>Tecnologia em 2006. Após identificar sete áreasprioritárias de P&D, o comitê convidou universi<strong>da</strong>des eorganizações científicas a apresentarem propostas depesquisa para um processo seletivo. Até o final de 2011,cerca de 1.098 projetos terão sido implementados dentrode 25 programas amplos nas áreas de pesquisa aplica<strong>da</strong> edesenvolvimento experimental.O capítulo 13 <strong>sobre</strong> os Países Árabes analisa os motivospara a falta de uma estratégia ou política nacional de C&Tna maioria dos Estados Árabes, ain<strong>da</strong> que todos eles tenhampolíticas setoriais para agricultura, água, energia etc. Mesmoonde existem estratégias de C&T, a inovação tende a estarausente, principalmente em função <strong>da</strong>s fracas ligações entrea P&D pública e priva<strong>da</strong>. Porém, Bahrein, Marrocos, Qatar,Arábia Saudita, Tunísia, e Emirados Árabes Unidos, seguidosmais recentemente por Jordânia e Egito estão li<strong>da</strong>ndocom essa questão com a criação de parques científicos.Políticas e estratégias de C&T também estão começando aser coloca<strong>da</strong>s em prática. A Arábia Saudita adotou umplano nacional de C&T em 2003, e, em 2006, o Qatarimplementou um plano quinquenal para aumentar oGERD de 0,33% para 2,8%. A apresentação planeja<strong>da</strong> deuma estratégia de C&T para to<strong>da</strong> a região na Cúpula Árabede 2011 é outro sinal promissor. Espera-se que o futuroplano lide com a inescusável questão de facilitar amobili<strong>da</strong>de de cientistas dentro <strong>da</strong> região, e de aumentara colaboração de pesquisa com a considerável comuni<strong>da</strong>dede cientistas árabes expatriados. Também são espera<strong>da</strong>spropostas de iniciativas nacionais e pan-árabes em cercade 14 áreas prioritárias, incluindo água, alimentação,agricultura e energia. O plano deve também recomen<strong>da</strong>ro lançamento de um observatório on-line árabe de C&T,na medi<strong>da</strong> em que uma chave para implementar medi<strong>da</strong>sem nível nacional estará primeiro na identificação dealguns dos desafios enfrentados pelos países árabes.Também é promissor o montante de fundos programadospara CTI na região nos anos recentes. As iniciativasincluem o Fundo de Inovação UE-Egito de 2008 e doisfundos nacionais: a Fun<strong>da</strong>ção Mohammed bin Rashid AlMaktoum nos Emirados Árabes Unidos (2007) e o Fundodo Oriente Médio para a Ciência na Jordânia (2009).O capítulo 14 <strong>sobre</strong> a África Subsaariana enfatiza omovimento de um crescente número de países africanospara aprimorar suas potenciali<strong>da</strong>des de C&T como partede estratégias de alívio à pobreza. Apenas em 2008, 14países requisitaram a assistência <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> com asrevisões de política científica. Apesar do PIB per capita teraumentado na maioria dos países africanos entre 2002 e2008, ele permanece abaixo dos padrões mundiais – umfator que tem impacto <strong>sobre</strong> o investimento em C&T.Ademais, o GERD ain<strong>da</strong> atrai menos financiamentopúblico do que os setores militar, de saúde e educação.A África do Sul é o único país que se aproxima <strong>da</strong> marcado 1% na cobertura de P&D (0,93% em 2007).A África do Sul também domina as publicações científicas,com 46,4% do total do subcontinente, bem à frente dosIntrodução25


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>dois países mais prolíficos: a Nigéria (11,4%) e o Quênia(6,6%). Percebe-se que o número de artigos registradospela SCI aumentou em todos os países subsaarianos,ain<strong>da</strong> que apenas 17 deles tenham tido mais de 100artigos nessa base de <strong>da</strong>dos em 2008.Um dos principais desafios é a baixa taxa dealfabetização e a precarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, apesar <strong>da</strong>alfabetização e <strong>da</strong>s taxas de matrícula terem aumentadona déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>. Para li<strong>da</strong>r com essas questões, aUnião Africana lançou um Plano de Ação para a Segun<strong>da</strong>Déca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Educação para a África em 2006. Outrodesafio central é a evasão de cérebros: pelo menos umterço de todos os pesquisadores africanos estavamvivendo e trabalhando no exterior em 2009. Umcrescente número de países está li<strong>da</strong>ndo com a causaque está na raiz desse problema, aumentando os saláriosdos acadêmicos e proporcionando outros incentivos.Camarões, por exemplo, usou o cancelamento de umaparte de sua dívi<strong>da</strong> para criar um fundo permanente noinício de 2009 que triplicou os salários dos acadêmicos<strong>da</strong> noite para o dia. O número de acadêmicos parece játer aumentado em cerca de um terço e o volume deartigos científicos produzidos pelas universi<strong>da</strong>desestatais também tem aumentado.Cinco anos após a adoção do Plano Consoli<strong>da</strong>do deAção para a Ciência e a Tecnologia <strong>da</strong> África (CPA)cobrindo o período 2008-2013, tem-se feito progressoem biociências e pesquisa aquática, e o primeiroconjunto de estatísticas pan-africanas de P&D estáprevisto para ser publicado em <strong>2010</strong>. Porém, algumasvozes tem manifestado sua preocupação com o ritmodos avanços. O CPA foi programado como uma matrizpara canalizar mais fundos para C&T em torno do continente,mas, após cinco anos, o mecanismo propostopara canalizar esses fundos – a Instalação Africana deCiência e Inovação – ain<strong>da</strong> não se materializou.A Ásia do Sul (capítulo 15) tem vivido taxas positivasde crescimento nos últimos anos e não sofreudesnecessariamente com a recessão global, com anotória exceção do Paquistão, que viu suas taxas decrescimento caírem de 6,8% em 2007 para 2,7% em2009. O Paquistão é o país que mais gasta com P&D(0,67% do PIB em 2007), TI e educação superior entre ospaíses estu<strong>da</strong>dos, que não incluem a Índia e o Irã. Poréma maior parte do financiamento de P&D no Paquistão éconsumi<strong>da</strong> pelo setor militar (60%).A região sofre com a falta de investimento em CTI.Ain<strong>da</strong>, faltam ligações entre os atores públicos eprivados, e não se pode falar de colaboração entre auniversi<strong>da</strong>de e a indústria. O capítulo aponta que, emgeral, Paquistão, Bangladesh e Sri Lanka parecem estarmelhor na produção de conhecimento básico do que nasua comercialização. Será interessante acompanhar acaminha<strong>da</strong> do Instituto do Sri Lanka de Nanotecnologia,que foi criado em 2008 em uma parceira entre a Fun<strong>da</strong>çãoNacional de Ciência e gigantes corporativos domésticos,como Brindix, Dialog e Hayleys. O novo instituto professabuscar uma “abor<strong>da</strong>gem enfoca<strong>da</strong> na indústria”.Além <strong>da</strong> falta de inovação, a Ásia do Sul sofre com osbaixos níveis de alfabetização e educação. Os governosenfrentam o desafio duplo de ampliar o acesso e, aomesmo tempo, tornar o sistema educacional relevantepara a economia nacional. Eles estão conscientes <strong>da</strong> tarefaem foco: Afeganistão, Bangladesh, Paquistão e Sri Lankaestão todos trilhando diferentes estágios de reforma <strong>da</strong>educação superior. Felizmente, eles podem contar comdiversas instituições de alto nível acadêmico na região.O Irã (capítulo 16) depende pesa<strong>da</strong>mente de sua indústriade petróleo, que <strong>atual</strong>mente é responsável por quatroquintos do seu PIB. Essa situação tem um efeito direto<strong>sobre</strong> as políticas de CTI do país, uma vez que elas não sãouma priori<strong>da</strong>de para a geração <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de futura.Como as pesquisas são financia<strong>da</strong>s majoritariamentepelas fontes públicas (73%), e com o governointervencionista do país buscando suas própriaspriori<strong>da</strong>des, a P&D tende a enfocar tecnologia nuclear,nanotecnologia, lançamento de satélites e pesquisas decélulas-tronco. A política de pesquisa possui poucarelevância para as questões nacionais e permaneceaparta<strong>da</strong> <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des socioeconômicas.O mais recente documento delineando a estratégia deC&T do Irã é o Quarto Plano de Desenvolvimento (2005-2009). O seu foco é o aprimoramento do sistemauniversitário em um momento de forte deman<strong>da</strong> poreducação superior: 81 mil estu<strong>da</strong>ntes se formaram em2009, em contraste com 10 mil, nove anos antes.A Índia (capítulo 17) é uma <strong>da</strong>s economias em maisrápido crescimento do mundo, juntamente com a China.Tendo sido relativamente poupa<strong>da</strong> pela recessão global, opaís está trilhando um caminho de rápido crescimento. Osúltimos anos foram marcados por um aumento noinvestimento privado em P&D, com a maioria <strong>da</strong>s novascompanhias fazendo parte de setores intensivos emconhecimento. Um crescente número de companhiasestrangeiras também está se estabelecendo dentro deP&D em solo indiano. A maioria desses centros26


O crescente papel do conhecimento na economia globalestrangeiros tem como enfoque as TICs. De fato, a Índiatem se tornado o líder mundial na exportação deserviços de TI. As exportações aeroespaciais tambémestão crescendo a uma taxa de 74% ao ano. Enquantoisso, companhias indianas de destaque como a Tata têminvestido em companhias de alta tecnologia no exterior,em busca de tecnologia.Em 2003, o governo se comprometeu a aumentar osgastos gerais com pesquisa de 0,8% para 2% do PIB até2007. Apesar de o GERD ter chegado a apenas 0,88% doPIB em 2008, esse alvo enviou um claro sinal de que aspolíticas públicas estavam focalizando P&D. Ademais, noXI Plano Quinquenal para 2012 não só enfatiza ainovação, mas também prevê um gasto maciço emCTI, com um aumento orçamentário de 220%.Há uma tendência geral na Índia no sentido dereconhecer o “I” <strong>da</strong> CTI tanto no setor <strong>da</strong>s políticaspúblicas como no setor dos negócios. Ademais, a adoção<strong>da</strong> Lei Indiana de Patentes em 2005, que visa fazer comque a Índia se harmonize com o acordo Trips, nãoprejudicou a indústria farmacêutica doméstica assimcomo se havia previsto. A indústria farmacêutica está sedesenvolvendo, mesmo sob a sombra do domínio depatentes pelas empresas estrangeiras. Outro desafio é ofluxo contínuo de pessoas altamente qualifica<strong>da</strong>s parafora <strong>da</strong> Índia e para fora <strong>da</strong>s empresas domésticas quetêm sido incapazes de competir com as vantagensofereci<strong>da</strong>s por suas rivais com presença no país. O maiordesafio de todos, no entanto, será que a Índia aprimoretanto a quanti<strong>da</strong>de quanto a quali<strong>da</strong>de dos profissionaisde C&T nacionais. A decisão do governo central de criar30 universi<strong>da</strong>des no país, incluindo 14 universi<strong>da</strong>descom padrões internacionais de inovação, é um bompresságio a respeito do futuro.direciona<strong>da</strong> à inovação até 2020, cumprindo assim aambiciosa meta do Delineamento do Plano de Médio eLongo Prazo para o Desenvolvimento <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong>Tecnologia Nacional, adotado em 2005. Os principaismecanismos estimulam os negócios a investirem maisem inovação e buscam atrair o retorno dos pesquisadoreschineses que vivem no exterior. O governo tambémplaneja recrutar dois mil especialistas estrangeiros aolongo dos próximos cinco a dez anos para trabalharem laboratórios, negócios de destaque e institutos depesquisa nacionais, bem como em diversasuniversi<strong>da</strong>des. Outra meta é a de elevar a relaçãoGERD/PIB de 1,5% para 2,5% até 2020.Paralelamente, o XI Plano Quinquenal para <strong>2010</strong> estádesenvolvendo a infraestrutura de CTI a um ritmo muitoforte, com doze novas megainstalações e 300laboratórios nacionais planejados, entre outrasinstituições. Outro enfoque é o meio ambiente. Comoparte <strong>da</strong> estratégia para reduzir o consumo de energia eas emissões dos principais poluentes, o governo planejaassegurar que fontes não fósseis de energiarepresentem 15% do consumo de energia até 2020.Atualmente, as principais barreiras à inovação são orisco de inovação ca<strong>da</strong> vez maior enfrentado pelosnegócios, a falta de apoio à inovação e à exploraçãosistêmica, e a fraca deman<strong>da</strong> do mercado por inovação.O Japão (capítulo 19) foi fortemente atingido pelarecessão global em 2008. Após um período deestagnação com taxas em torno de 2% entre 2002 e2007, o crescimento do PIB caiu abaixo de zero,mergulhando grandes empresas em uma situação deperigo e acarretando em falências e em aumentoabrupto nas taxas de desemprego.IntroduçãoA China (capítulo 18) desenvolveu-se economicamentecom muita rapidez na déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>, com taxas decrescimento consistentes e impressionantes. Em agostode <strong>2010</strong>, a China ultrapassou o Japão e se tornou asegun<strong>da</strong> maior economia do mundo. A intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sua P&D se multiplicou por seis. Atualmente, apenas osEUA publicam mais artigos científicos, ain<strong>da</strong> que o fatordo impacto dos artigos chineses continue muito abaixodo que para a Tríade, e a China está logo atrás <strong>da</strong>República <strong>da</strong> Coreia, em um patamar semelhante ao <strong>da</strong>Índia em termos de citações de artigos científicos.O governo tem promovido uma série de políticascentrais ao longo dos quatro últimos anos para manteruma alta taxa de crescimento e fazer do país uma naçãoOs produtores japoneses tradicionalmente têm sedestacado no constante aprimoramento dos processosde produção e na acumulação do conhecimento <strong>sobre</strong> aprodução dentro de suas organizações, de modo aalcançarem a meta final de produtos de alta quali<strong>da</strong>de apreços competitivos. Porém esse modelo japonês estáperdendo sua efetivi<strong>da</strong>de em muitos campos industriais,à medi<strong>da</strong> que a China, a República <strong>da</strong> Coreia e outrasnações com menores custos trabalhistas emergemcomo fortes competidores. Nessas circunstâncias, osprodutores japoneses concluíram que precisam inovarconstantemente a fim de <strong>sobre</strong>viver no mercado global.Uma consequência desse novo quadro tem sido arápi<strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> colaboração entre universi<strong>da</strong>des e27


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>indústrias nos anos recentes, resultando em numerosasiniciativas universitárias. Em paralelo, tanto o gasto comP&D quanto o número de pesquisadores parece estaremaumentando no setor privado. De fato, o Japão detémuma posição de domínio em CTI em indústrias centrais,como automóveis, componentes eletrônicos, câmerasdigitais e ferramentas de maquinário.Em 2004, to<strong>da</strong>s as universi<strong>da</strong>des japonesas foramsemiprivatiza<strong>da</strong>s e se transformaram em corporaçõesuniversitárias nacionais, e os professores e funcionáriosperderam o <strong>status</strong> de servidores públicos. O capítuloargumenta que muitas políticas acadêmicas importa<strong>da</strong>s<strong>sobre</strong>tudo dos EUA, tais como financiamento competitivode P&D, centros de excelência e uma mu<strong>da</strong>nça rumo aposições acadêmicas mais temporárias, podem ter minadoas características singulares do sistema universitárioexistente em favor <strong>da</strong>s principais universi<strong>da</strong>des, porémprejudicando as capaci<strong>da</strong>des de P&D de outrasuniversi<strong>da</strong>des e destruindo antigas redes domésticasde pesquisa.O capítulo 20 tem como foco aquele que é provavelmenteo país mais comprometido com CTI do mundo: aRepública <strong>da</strong> Coreia, que teve altas taxas de crescimentoao longo de uma déca<strong>da</strong>, antes do PIB encolher em 5,6%em 2008. Apesar disso, até 2009, a economia já estava seexpandindo novamente, graças a um pacote de estímulosliderado pelo governo. Parte do pacote incluiu maisfinanciamentos para P&D, de modo a estimular a CTInacional. Como resultado, o gasto público com P&Dterminou crescendo em 2008-2009.A República <strong>da</strong> Coreia considera a CTI como o coração doprogresso econômico e como um elemento crucial para arealização de uma série de metas nacionais. Uma <strong>da</strong>sprincipais priori<strong>da</strong>des é o aumento do GERD para aimpressionante taxa de 5% até 2012, partindo de umataxa que já é alta, de 3,4%, em 2008. Fortes investimentossão combinados com políticas fortes. Por exemplo, aIniciativa para o Estabelecimento de um Sistema deInovação <strong>da</strong> Tecnologia Nacional foi implementa<strong>da</strong> em2004 com 30 tarefas prioritárias. Em 2008, o novo governoimplementou uma estratégia de acompanhamentointitula<strong>da</strong> Plano Básico de Ciência e Tecnologia (2008-2013), que se propôs a cumprir na<strong>da</strong> menos que 50tarefas prioritárias. Esses dois planos constituem hoje amatriz básica <strong>da</strong> política de CTI. Além disso, uma políticade pouca emissão de carbono e crescimento verde foideclara<strong>da</strong> como uma agen<strong>da</strong> nacional central em 2008.O capítulo final <strong>sobre</strong> o Sudeste Asiático e Oceania(capítulo 21) cobre uma vasta área geográfica que seestende <strong>da</strong> Austrália e a Nova Zelândia a Cingapura,Tailândia, Indonésia e os 22 países e territórios de ilhas doPacífico. A recessão econômica global poupouamplamente essa parte do mundo.No Camboja, na Tailândia e em Fiji, a ciência tem umapequena priori<strong>da</strong>de e por isso a recessão global tevepouco impacto. Países mais ligados a CTI, comoCingapura, Austrália e Nova Zelândia, reagiram à recessãoafiando suas políticas de CTI e alinhando-as ain<strong>da</strong> mais àspriori<strong>da</strong>des nacionais. Uma priori<strong>da</strong>de de P&D comum apraticamente todos os países na região é o desenvolvimentosustentável e o papel que a CTI podedesempenhar no combate à mu<strong>da</strong>nça climática.Cingapura se destaca como o país <strong>da</strong> região que maisrapi<strong>da</strong>mente aumenta o seu investimento em ciência.Entre 2000 e 2007, a sua intensi<strong>da</strong>de de P&D cresceu de1,9% para 2,5%. De acordo com o Banco Mundial, apenaso Vietnã e Cingapura melhoraram sua colocação no Índicede Conhecimento entre 1995 e 2008. O crescimento foiamplamente guiado pelos cientistas com base emCingapura, muitos dos quais vieram do exterior paratrabalhar nos bem financiados laboratórios do país.Entre 2000 e 2007, o número de pesquisadores comequivalência de tempo integral aumentou em 50%,alcançando o impressionante número de 6.088 por milhãode habitantes. Uma estratégia nacional central tem sido ade agrupar os institutos de pesquisa em TICs e apesquisa biomédica em dois centros nacionais deconhecimento. Essa estratégia tem compensado, àmedi<strong>da</strong> que Cingapura está se tornando um centroemergente de tecnologias biomédicas e de engenharia.Entretanto Cingapura não é o único país na região quedeu uma guina<strong>da</strong> no seu enfoque de políticas de C&T parapolíticas de CTI. Ademais, existe uma crescente ênfase naregião em P&D intersetorial, a exemplo dos planos definanciamento para projetos colaborativos. O perfil <strong>da</strong>pesquisa colaborativa está mu<strong>da</strong>ndo. A rápi<strong>da</strong> ascensão<strong>da</strong> China e <strong>da</strong> Índia teve o efeito de despertar aconstrução de capaci<strong>da</strong>des em C&T no Sudeste Asiático ena Oceania. Por exemplo, a alta repentina <strong>da</strong>scommodities, amplamente lidera<strong>da</strong> por Índia e China,alimentou nos anos recentes a P&D liga<strong>da</strong> à mineração naAustrália, resultando em mais P&D pela iniciativa priva<strong>da</strong>.Não é uma coincidência que os acadêmicos com base naChina e na Índia colocam esses países entre as três maisfrequentes origens de coautores em diversos países <strong>da</strong>28


O crescente papel do conhecimento na economia globalregião. Os pesquisadores também estão gastando maistempo no exterior como parte do seu treinamento e deseus projetos de colaboração em an<strong>da</strong>mento. Existeclaramente um nível mais alto de engajamento ecooperação internacional na região do que no passado.CONSIDERAÇÕES FINAISMensagens centraisQue conclusões podem ser alcança<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> análiseacima? Em primeiro lugar, a dispari<strong>da</strong>de nos níveis dedesenvolvimento de um país para outro e de uma regiãopara outra continua marcante. Em 2007, estimava-se que aren<strong>da</strong> per capita nos EUA era em torno de 30 vezes maisalta, em média, do que na África Subsaariana. As diferençasnas taxas de crescimento econômico foram se acumulandoao longo do tempo, levando a uma situação de fortesdivergências nos últimos 150 anos em níveis de ren<strong>da</strong>entre os países ricos e pobres. No final do século XIX, porexemplo, a Nigéria era considera<strong>da</strong> como estando nãomais do que uma déca<strong>da</strong> defasa<strong>da</strong> do Reino Unido emtermos de desenvolvimento tecnológico. A origem dessadivergência de crescimento econômico pode serencontra<strong>da</strong> nos níveis díspares de investimento emconhecimento durante longos períodos de tempo.Mesmo hoje, os EUA ain<strong>da</strong> investem mais em P&D do queos demais países do G-8 juntos. Quatro quintos <strong>da</strong>s maisdestaca<strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des do mundo estão em territórionorte-americano.A déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong> desafiou esse quadro, graças emgrande medi<strong>da</strong> à proliferação <strong>da</strong>s TICs digitais que têmtornado o conhecimento codificado acessível em todo omundo. É certo que alguns recém-chegados, como aRepública <strong>da</strong> Coreia, vêm constantemente alcançando oestado <strong>da</strong> arte e até mesmo ultrapassando os paísesdesde o século passado, desenvolvendo primeiro a suacapaci<strong>da</strong>de industrial e, em segui<strong>da</strong>, a C&T. Mas outros,como a China, o Brasil ou a Índia, iniciaram um novoprocesso triplo de alcançar o estado <strong>da</strong> arte simultaneamentenas esferas industrial, científica e tecnológica.Como um resultado, os cinco anos passados, quecompõem o período de enfoque deste Relatório <strong>UNESCO</strong><strong>sobre</strong> Ciência, realmente começaram a desafiar atradicional liderança dos EUA. A recessão econômicaglobal contribuiu para essa situação, mesmo que ain<strong>da</strong>seja cedo demais para isso ser sintetizado nos <strong>da</strong>dos. OsEUA foram mais atingidos do que o Brasil, a China ou aÍndia, o que permitiu que esses três países progredissemmais rapi<strong>da</strong>mente do que teriam progredido sob outrascircunstâncias. Além disso, como sublinham os capítulos<strong>sobre</strong> a China e a Índia, parecemos estar à beira de umaruptura estrutural no padrão de contribuição doconhecimento para o crescimento no nível global <strong>da</strong>economia. Isso se reflete também na chega<strong>da</strong> de grandesempresas multinacionais de países emergentes na cenamundial. Essas empresas estão se movendo rumo a umaampla varie<strong>da</strong>de de setores que vão desde indústriasmaduras, tais como a produção de aço e a fabricação deautomóveis e bens de consumo, até indústrias de altatecnologia, por exemplo, na fabricação de medicamentose na construção de aeronaves. As empresas nessaseconomias emergentes estão ca<strong>da</strong> vez mais optando porfusões transfronteiriças e aquisições que asseguram oacesso ao conhecimento tecnológico <strong>da</strong> noite para o dia.Em terceiro lugar, o aumento no estoque deconhecimento mundial, tal como foi condensado pornovas tecnologias digitais e descobertas nas ciências <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>, ou nanotecnologias, está criando fantásticasoportuni<strong>da</strong>des para nações emergentes alcançarem níveismais altos de bem-estar social e produtivi<strong>da</strong>de. É nessesentido que a antiga noção de um hiato tecnológico podeser considera<strong>da</strong> hoje uma vantagem para as economiasque possuem a capaci<strong>da</strong>de de absorção suficiente e aeficiência que as permite explorar o “privilégio do seurelativo atraso”. Os países que estão atrasados podemcrescer mais rápido do que os líderes <strong>da</strong> tecnologia,valendo-se do acúmulo de tecnologias não aproveita<strong>da</strong>s ebeneficiando-se de menores riscos. Esses países já estãoconseguindo até mesmo <strong>da</strong>r o passo adiante e superar odispendioso investimento em infraestrutura quemobilizou as finanças dos países desenvolvidos no séculoXX, graças ao desenvolvimento <strong>da</strong>s comunicações sem fioe <strong>da</strong> educação a distância (por meio de satélites etc.),energia (eólica, painéis solares etc.) e saúde (telemedicina,scanners médicos portáteis etc.).Outros fatores também estão criando vantagens especiaisem termos de crescimento do conhecimento. Isso éparticularmente bem ilustrado pela rápi<strong>da</strong> expansão notrabalho altamente qualificado na China e na Índia, entreoutros, nos numerosos trabalhadores do setor rural e dopequeno comércio, nos ganhos relativos <strong>da</strong> substituiçãode equipamentos obsoletos por tecnologias de últimageração, e nos efeitos do transbor<strong>da</strong>mento doinvestimento em novas tecnologias. O reconhecimento <strong>da</strong>importância <strong>da</strong> aquisição do conhecimento é um fiocondutor comum que pode ser visto em todos oscapítulos. Em Bangladesh, por exemplo, a engenharia deiluminação vem gerando produtos com substituição deimportações, que estão criando empregos e aliviando aIntrodução29


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>pobreza. As tecnologias endógenas incluem balsas,usinas de energia, maquinário e peças. Mas Bangladeshtambém está desenvolvendo um setor de medicamentosde alta tecnologia. O país já é 97% autossuficienteem medicamentos e está até mesmo exportando paraa Europa.Em quarto lugar, aumenta o reconhecimento de que é acongruência sistêmica entre os diversos componentes doconhecimento do sistema de inovação que conta para aconfiguração de uma estratégia de crescimento bemsucedi<strong>da</strong>,como pudemos ver na Figura 5. Em muitospaíses de ren<strong>da</strong> média e alta, uma guina<strong>da</strong> está sendo<strong>da</strong><strong>da</strong> de uma política de C&T para uma política de CTI. Issovem tendo o efeito de redirecionar os países para fora <strong>da</strong>abor<strong>da</strong>gem linear que começa com a pesquisa básica etermina com a inovação rumo a noções mais complexas esistêmicas de inovação. A colaboração entre universi<strong>da</strong>dese indústrias, os centros de excelência e o financiamentocompetitivo de pesquisa estão todos se tornando maispopulares entre os países que querem aumentar suaspotenciali<strong>da</strong>de de CTI. Porém, como ilustra o capítulo<strong>sobre</strong> o Japão, essas mu<strong>da</strong>nças não são facilmenteimplementa<strong>da</strong>s. Em um momento no qual a influênciaglobal do Japão em P&D está, de certo modo, resvalando,o autor do capítulo argumenta que as políticasimporta<strong>da</strong>s cita<strong>da</strong>s acima podem ter causado <strong>da</strong>nos aosistema acadêmico do Japão, favorecendo as instituiçõeslíderes em detrimento <strong>da</strong>s outras e permitindo que estasficassem para trás. É ver<strong>da</strong>de que, de vez em quando,políticas importa<strong>da</strong>s entram em conflito com políticascaseiras. Para complicar a situação ain<strong>da</strong> mais, mesmopaíses que integraram essa congruência sistêmica às suaspolíticas de CTI ain<strong>da</strong> tendem a subestimá-la nas suaspolíticas gerais de desenvolvimento.Em quinto lugar, na política de CTI, há uma crescenteênfase em sustentabili<strong>da</strong>de e tecnologias verdes. Essatendência pode ser vista em praticamente todos oscapítulos do Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência, mesmo empartes do mundo que geralmente não são caracteriza<strong>da</strong>spor um esforço maior de CTI, como a região árabe e aÁfrica subsaariana. Isso vale não apenas para a energialimpa e a pesquisa climática, mas também para asrepercussões nos campos de C&T mais avançados. Aciência e a tecnologia espacial, por exemplo, são umcampo em rápido crescimento para muitos países emdesenvolvimento e emergentes. Movidos porconsiderações <strong>sobre</strong> a mu<strong>da</strong>nça global e a degra<strong>da</strong>çãoambiental, os países em desenvolvimento buscammonitorar melhor os seus territórios, frequentemente pormeio de colaborações Norte-Sul ou Sul-Sul, como no casodo Brasil e <strong>da</strong> China para a criação de satélites deobservação <strong>da</strong> Terra, ou por meio de projetos como oKopernicus-Africa, envolvendo a União Africana e a UniãoEuropeia. Ao mesmo tempo, a ciência e a tecnologiaespacial estão sendo desenvolvi<strong>da</strong>s para proporcionar ainfraestrutura de TIC para uso em aplicações sem fio noscampos <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> educação, entre outros. A pesquisaliga<strong>da</strong> à mu<strong>da</strong>nça climática emergiu como umapriori<strong>da</strong>de de P&D, após ter estado quase totalmenteausente do Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência 2005. Comoum comentário geral de políticas públicas, pode-serazoavelmente argumentar em nossos dias que asregiões ou nações retar<strong>da</strong>tárias sempre se beneficiamao aprimorarem sua capaci<strong>da</strong>de de absorção e ao removeremquaisquer barreiras que impedem o fluxo de transbor<strong>da</strong>mentostecnológicos positivos de economias líderes emtermos de tecnologia, sejam elas do Norte ou do Sul.Por fim, e não menos importante, as políticas nacionaisde CTI estão hoje diante de uma perspectiva globalradicalmente distinta, na qual o enfoque <strong>sobre</strong> a políticaterritorial está submetido a uma constante pressão. Poroutro lado, a forte que<strong>da</strong> no custo marginal <strong>da</strong>reprodução e difusão de informações tem resultado emum mundo no qual as fronteiras geográficas são ca<strong>da</strong> vezmenos relevantes para a pesquisa e a inovação. O acúmuloe a difusão do conhecimento estão ocorrendo ca<strong>da</strong> vezmais rápidos, envolvendo um crescente número denovos participantes e gerando uma ameaça para asinstituições e posições estabeleci<strong>da</strong>s. Essa tendênciaglobalizante afeta a pesquisa e a inovação de muitasmaneiras. Por outro lado, ao contrário do que umraciocínio simplista poderia afirmar, a globalização nãoconduz a um mundo planamente nivelado, no qual oshiatos de pesquisa e inovação entre os países e as regiõessão constantemente diminuídos. Muito ao contrário,mesmo havendo a clara evidência <strong>da</strong> emergência de umaconcentração maior do que antes na produção deconhecimento e inovação ao longo de uma amplavarie<strong>da</strong>de de países na Ásia, África e América Latina, esseconhecimento está crescendo a um ritmo altamentediferenciado dentro dos países.30


O crescente papel do conhecimento na economia globalREFERÊNCIASBATTELLE Global R&D funding forecast. Cleveland, Ohio, USA.Disponível em: www.battelle.org/news/2009.pdfs/2009RDFundingfinalreport.pdfCOE, D. T.; HELPMAN; HOFFMAISTER, A.W. (1997) North–South R&D spillovers. Economic Journal, 107, 134-149.DAVID, P.; FORAY, D. An introduction to the economy of theknowledge society. International social science journal(<strong>UNESCO</strong>) 171, 9, (2002.DOSI, G.; PAVITT, K.; SOETE, L. The economics of technicalchange and international trade. New York University Press.Washington Square, New York, 1990.DUNNEWIJK, Theo Global Migration of the Highly Skilled: ATentative and Quantitative Approach. UNU-MERITWorking Paper 2008-070, 2008.EUROPEAN COMMISSION EU Industrial R&D investmentscoreboard. Institute for Prospective TechnologicalStudies, European Commission, 2009.FREEMAN, C. The economics of hope. Frances Pinter, London,1992.______. Technology policy and economic performance:Lessons from Japan. Frances Pinter, London,1987.______.; SOETE, L. Developing science, technology andinnovation indicators: What we can learn from the past.Research Policy 38 (4), pp. 583-589, 2009.KRUGMAN, Paul A model of innovation, technology transferand the world distribution of income. Journal of PoliticalEconomy, v. 87, issue 2, pages 253-266, 1979.SOETE, L. On the dynamics of innovation policy: a Dutchperspective, in: P. de Gijsel and H. Schenk (eds) The Birthof a New Economics Faculty in the Netherlands. Springer,Dordrecht, pp. 127-149, 2005.______. A general test of the technological gap tradetheory. Weltwirtschafliches Archiv 117, 638-650, 1981.TIJSSEN, R.; HOLLANDERS, H. Using science and technologyindicators to support knowledge-based economies.United Nations University Policy Brief 11, 2006.ZANATTA, M.; QUEIROZ, S. The role of national policies inthe attraction and promotion of MNEs’ R&D activities indeveloping countries. International Review of AppliedEconomics, 21(3), 419-435, 2007.Nascido nos Países Baixos em 1967, HugoHollanders é economista e Pesquisador FellowSênior na UNU-MERIT, um think tank que resultou <strong>da</strong>unificação em 2006 do Instituto Universitário <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s para Novas Tecnologias com oCentro de Pesquisa Econômica e Social eTreinamento em Inovação e Tecnologia, <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de de Maastricht.Tem mais de 15 anos de experiência em estudos<strong>sobre</strong> inovação e estatísticas de inovação, e tem seenvolvido em diversos projetos para a ComissãoEuropeia, incluindo o Gráfico de Tendências <strong>sobre</strong>Políticas de Inovação 2000-2007 e o projeto INNOMetrics 2008-<strong>2010</strong>. Nesses dois projetos, foi oresponsável pelo Placar Europeu de Inovação anuale é coautor de mais de 30 relatórios medindoinovação regional, setorial e de serviços, eficiênciana inovação, criativi<strong>da</strong>de e planejamento. Seu <strong>atual</strong>foco de pesquisa é a inovação regional, incluindodiversos projetos financiados pela Comissão Europeia.Luc Soete nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1950.É <strong>atual</strong>mente Diretor <strong>da</strong> UNU-MERIT e Professor deRelações Econômicas Internacionais (licenciado) naEscola de Negócios e Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deMaastricht. Foi o diretor <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> MERIT em1988. É membro <strong>da</strong> Real Academia Holandesa deCiências e do Conselho Holandês para Políticas deCiência e Tecnologia.O Professor Soete obteve o seu DPhil em economiana Universi<strong>da</strong>de de Sussex, no Reino Unido. Antesde se mu<strong>da</strong>r para Maastricht em 1986, trabalhou noDepartamento de Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>Antuérpia e no Instituto de Estudos deDesenvolvimento e na Uni<strong>da</strong>de de Pesquisas emPolítica Científica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Sussex.Também trabalhou para o Departamento deEconomia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Stanford nos EUA.Seus interesses de pesquisa cobrem o impacto <strong>da</strong>mu<strong>da</strong>nça tecnológica e <strong>da</strong> inovação <strong>sobre</strong> ocrescimento e o desenvolvimento, o desemprego eo comércio e investimento internacional.Introdução31


A P&D industrial continua sofrendocom a falta de apoio governamental,ain<strong>da</strong> que a situação tenha melhoradoradicalmente nos últimos oito anos.Carlos Henrique de Brito Cruz e Hernan Chaimovich


5 . BrasilCarlos Henrique de Brito Cruz e Hernan ChaimovichINTRODUÇÃOInovação para o Desenvolvimento Nacional,adotado em 2007.O Brasil é o maior e mais populoso país <strong>da</strong> América Latina,com cerca de 190 milhões de habitantes. É também anona economia do mundo em termos de poder decompra, e é uma economia emergente na cena mundial.Ain<strong>da</strong> que a recessão global provoca<strong>da</strong> pela crise <strong>da</strong>shipotecas nos EUA em 2008 tenha diminuído os gastosempresariais em pesquisa e desenvolvimento (P&D), em2009 não houve qualquer diminuição perceptível no setorgovernamental. O impacto <strong>da</strong> recessão econômica globalparece já ter passado no Brasil e espera-se que aeconomia tenha um crescimento de 7% em <strong>2010</strong>. Asreceitas fiscais estaduais e a federal estão em alta uma vezmais, juntamente com os gastos em P&D.Assim como outros países latino-americanos, o Brasil teveum forte crescimento econômico entre 2002 e 2008, emgrande medi<strong>da</strong> graças a um mercado global favorável decommodities. A eleição de um novo presidente, Luiz InácioLula <strong>da</strong> Silva (conhecido como Lula), diminuiu um pouco oembalo <strong>da</strong> economia durante o período de transição dogoverno federal em 2003, mas, em 2004, a economiabrasileira embarcou naquilo que pareceu ser um caminhosustentável de crescimento econômico, com taxas de4,7% ao ano em média. Paralelamente, tanto o setor denegócios quanto os governos federal e estaduaiscomeçaram a aumentar os gastos com P&D. Porém issonão chegou a refletir uma mu<strong>da</strong>nça de priori<strong>da</strong>des pelogoverno federal, como mostrou a relação constante entreos gastos com P&D e a receita fiscal federal entre 2001 e2008 (2,1%). Entre 2002 e 2008, a intensi<strong>da</strong>de do gastodoméstico bruto em P&D (GERD) aumentou em apenas10%, de 0,98% para 1,09% do PIB. No mesmo período, oPIB aumentou em na<strong>da</strong> menos que 27%, de R$2,4 trilhõespara R$3,0 trilhões 1 . Em outras palavras, a intensi<strong>da</strong>de deP&D do Brasil progrediu mais lentamente do que aeconomia como um todo. Quando presidiu a primeirareunião do Conselho de Ciência e Tecnologia em 2003, ena mensagem ao Congresso do mesmo ano, o PresidenteLula prometeu aumentar a relação GERD/PIB para 2,0%até o final do seu primeiro man<strong>da</strong>to em 2006. Em 2007,quando os gastos em P&D estavam no patamar de 1,07%do PIB, o governo federal anunciou planos de aumentar arelação GERD/PIB para 1,5% até <strong>2010</strong>. Esse alvo émencionado no Plano de Ação em Ciência, Tecnologia eGraças ao crescimento econômico sustentado dos anosrecentes, os US$23 bilhões 2 gastos em P&D em 2008 sãocomparáveis aos níveis de investimento <strong>da</strong> Espanha (US$20 bilhões) e Itália (US$22 bilhões) em termos absolutos.Como veremos adiante, no entanto, o Brasil ain<strong>da</strong> estáatrás de ambos os países em sua capaci<strong>da</strong>de de traduziros investimentos de P&D em resultados palpáveis.Uma característica marcante do GERD no Brasil é que osetor público arca com a sua maior parte (55%), umfenômeno comum a quase todos os países emdesenvolvimento. Aproxima<strong>da</strong>mente três quartos doscientistas continuam trabalhando no setor acadêmico. Oscientistas brasileiros publicaram 26.482 artigos científicosem periódicos indexados pelo Thomson Reuter’s ScienceCitation Index em 2008, fazendo do país o 13º maiorprodutor de ciência do mundo. Mais de 90% dessesartigos foram gerados em universi<strong>da</strong>des públicas.Entretanto o setor empresarial também é dinâmico e temdesenvolvido, nos anos recentes, algumas indústrias denível mundial. O Brasil é autossuficiente em petróleo epode se orgulhar de ter desenvolvido os sistemas maiseficientes do mundo no cultivo de soja e na produção deetanol de cana de açúcar. O país fabrica aviões executivosa jato internacionalmente competitivos e os melhorescarros flex do mundo. O setor empresarial tambémdesenvolveu um sistema nacional de voto eletrônicocapaz de totalizar mais de 100 milhões de votos nomesmo dia de uma eleição. A despeito dessas realizações,o setor empresarial brasileiro registrou apenas 103patentes no Escritório de Patentes e Marcas Registra<strong>da</strong>sdos Estados Unidos (USPTO) em 2009. Nas próximaspáginas, veremos o porquê disso.Ain<strong>da</strong> que os líderes empresariais tenham reconhecido hámuito tempo a importância <strong>da</strong> geração de conhecimentopara a promoção <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de, foi apenas nos dezúltimos anos que políticas públicas efetivas foramimplementa<strong>da</strong>s para estimular a P&D industrial e no setorde serviços. Foi em 1999, após um longo período no qualo enfoque havia sido quase exclusivamente em pesquisaacadêmica, que uma política brasileira de ciência eBrasilImagem tira<strong>da</strong>pelo satéliteCBERS-2, no dia10 de abril de2005. Ci<strong>da</strong>de deFlorianópolis,capital de SantaCatarina no sul doBrasil. Está visível aparte continental<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, a ilhade Santa Catarinae algumaspequenas ilhascosteiras.1. Em reais (R$) a preços constantes para 2008 neste capítulo.2. To<strong>da</strong>s as cifras em dólar neste capítulo são por pari<strong>da</strong>de de poder decompra.Foto: CBERS/INPE33


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>tecnologia (C&T) começou, incluindo a P&D empresarial,como um alvo ca<strong>da</strong> vez mais relevante não apenas para ouso do conhecimento, mas também para a sua produção.Isso foi seguido por uma série de marcos, começando coma criação dos primeiros fundos setoriais em 1999, passandopela vali<strong>da</strong>ção de to<strong>da</strong> a estratégia em 2001 com a Segun<strong>da</strong>Conferência Nacional <strong>sobre</strong> Ciência, Tecnologia e Inovação,e culminando na Lei de Inovação, envia<strong>da</strong> ao Congressoem 2002 e aprova<strong>da</strong> em 2004. Em 2003, houve umaimportante novi<strong>da</strong>de com o anúncio <strong>da</strong> Política Industrial,Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce). A Pitcevinculou a política de inovação aos objetivos de exportaçãoe estabeleceu áreas prioritárias para a ação governamental,a saber: semicondutores e microeletrônicos; softwares;bens de capital; produtos farmacêuticos e medicamentos;biotecnologia; nanotecnologia; e biomassa. Quatro anosmais tarde, o governo federal anunciou o seu Plano deAção em Ciência, Tecnologia e Inovação para oDesenvolvimento Nacional até <strong>2010</strong>.O forte crescimento <strong>da</strong> economia tem conduzido aoinvestimento empresarial em P&D. No entanto, a despeitode um ambiente muito mais propício à P&D desde 2004,algumas barreiras continuam existindo. Elas incluem adificul<strong>da</strong>de de acesso ao capital, em função <strong>da</strong>s altas taxasde juros; os problemas de logística, que atrapalham asexportações; e um sistema educacional inadequado, quepenaliza não apenas o desenvolvimento social, mas tambéma disponibili<strong>da</strong>de de trabalhadores qualificados para quaseto<strong>da</strong>s as colocações, especialmente as liga<strong>da</strong>s à engenharia.Ain<strong>da</strong> assim, a capaci<strong>da</strong>de de C&T do Brasil já avançoubastante desde a criação do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e deuma segun<strong>da</strong> agência federal, a Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)na déca<strong>da</strong> de 1950, seguidos pela Fun<strong>da</strong>ção de Amparo àPesquisa do estado de São Paulo (Fapesp) em 1962. Noinício dos anos 1960, o estado de São Paulo tambémtomou a decisão de acelerar a pesquisa acadêmica com acriação do regime de tempo integral, a fim de permitirque os professores dedicassem mais tempo às ativi<strong>da</strong>desde pesquisa. A prática científica tem menos de um séculono Brasil. Mesmo nos dias atuais, o desenvolvimentotende a se concentrar nas regiões sul e sudeste do país,onde se localizam as principais universi<strong>da</strong>des em SãoPaulo (USP e Unifesp), Campinas (Unicamp), no estado deSão Paulo (Unesp), Minas Gerais (UFMG), Rio Grande doSul (UFRGS), Rio de Janeiro (UFRJ) – to<strong>da</strong>s elas comapenas meio século de existência.Assim, o Brasil enfrenta três desafios principais. Emprimeiro lugar, é preciso intensificar a P&D empresarial, afim de estimular a inovação e a competitivi<strong>da</strong>de. Issoimplica criar um ambiente propício à P&D empresarialincluindo a promoção de maior interação entre ascomuni<strong>da</strong>des de pesquisa públicas e empresariais. Emsegundo lugar, o país precisa desenvolver einternacionalizar suas melhores universi<strong>da</strong>des, tornandoascentros de excelência em nível mundial. Em terceirolugar, o Brasil precisa disseminar a excelência científicaalém de São Paulo, Rio de Janeiro e outros grandescentros urbanos, rumo a regiões menos privilegia<strong>da</strong>s,como a Amazônia e o nordeste.Nas próximas páginas, analisaremos a mu<strong>da</strong>nça napolítica governamental de C&T desde 1999, de umaorientação quase exclusivamente direciona<strong>da</strong> à pesquisaacadêmica para uma política de fortalecimento do papel<strong>da</strong> P&D empresarial. Descreveremos as instituições quefazem parte do sistema de inovação do Brasil, seuspadrões de demografia e investimento, que pendemfortemente para o lado do setor público. Em segui<strong>da</strong>,analisaremos a produtivi<strong>da</strong>de do Brasil em termos depublicações, patentes, produtos e balança comercial,antes de concluirmos com um estudo <strong>da</strong>s tendênciasFigura 1: Tendências de GERD no Brasil, 2000-2008GERD/PIBrelação (%)1,21,00,80,60,40,20,00,47 0,47 0,46 0,440,4217,918,317,315,815,50,55 0,57 0,53 0,52 0,48 0,480,502008 PPPbilhões de US$2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008Gastos privados em P&DGastos públicos em P&DGERD 2008 em bilhões de US$ PPP23,00,49 0,50 0,50 0,5017,419,422,40,57 0,59 0Observação: a P&D priva<strong>da</strong> inclui a P&D priva<strong>da</strong> sem fins lucrativos, porexemplo, os gastos em pesquisa por universi<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s (0,02% do GERD).Fonte: Ministério de Ciência e Tecnologia, Indicadores de C&T, junho de <strong>2010</strong>30<strong>2010</strong>34


Brasilrecentes de colaboração internacional, incluindo aemergência de novos parceiros. Deixaremos para o final adiscussão <strong>sobre</strong> o <strong>atual</strong> ambiente de políticas públicas,uma vez que a maioria dos efeitos do Plano de Ação emCiência, Tecnologia e Inovação para o DesenvolvimentoNacional ain<strong>da</strong> está para ser refleti<strong>da</strong> nos <strong>da</strong>dos.APORTES EM P&DTendências nos gastos com P&DEntre 2000 e 2008, o GERD no Brasil aumentou em 28%, deR$ 25,5 bilhões para R$ 32,8 bilhões, a preços constantesde 2008. A relação GERD/PIB progrediu de maneira maismodesta, de 1,02% para 1,09% do PIB (Figura 1).Os gastos públicos com P&D aumentaram para quasetodos os objetivos socioeconômicos entre 2000 e 2008(Figura 2). As exceções foram as áreas de defesa, energia,espaço e exploração <strong>da</strong> Terra e <strong>da</strong> atmosfera. Porém algunsdesses setores, que se beneficiaram de um acréscimomonetário, perderam uma parte do seu <strong>status</strong> prioritárionaquele período. Tal foi, marca<strong>da</strong>mente, o caso <strong>da</strong>agricultura, que representava 12% do total do orçamentopúblico em 2000, e apenas 10% oito anos mais tarde, ouseja, com que<strong>da</strong> de 17%. O setor de energia também tevediminuição de 41% na sua participação, passando de 2%para 1% do orçamento total. Ain<strong>da</strong> que odesenvolvimento social e o setor de serviços tenhampassado por um rápido aumento, continuou sendopriori<strong>da</strong>de relativamente baixa de P&D em 2008. Umapriori<strong>da</strong>de mais alta foi defini<strong>da</strong> em 2008 para a parte deinfraestrutura. No caso <strong>da</strong> tecnologia industrial, o aumentoobservado está alinhado aos objetivos declarados pelaspolíticas de C&T adota<strong>da</strong>s desde 1999, incluindo o Planode Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para oDesenvolvimento Nacional (2007-<strong>2010</strong>). No entanto asestatísticas de energia e espaço contradizem as priori<strong>da</strong>desdeclara<strong>da</strong>s no Plano. A menor priori<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> àagricultura, em particular, deveria ser vista comBrasilFigura 2: Gasto governamental em P&D por objetivo socioeconômico, 2000 e 2008 (%)60,4 Pesquisa em nível superior11,5 Pesquisa não orienta<strong>da</strong>12,1 Agricultura1,8 Tecnologia industrial20006,3 SaúdeTotal: US$7 374,5 bilhões PPP0,4 Infraestrutura0,1 Desenvolvimento social & serviços2,1 Energia0,0 Não especificado2,3 Espacial (civil)0,6 Proteção e controle ambiental1,6 Defesa0,9 Exploração <strong>da</strong> Terra e atmosfera58,111,010,16,46,020082,9Total: US$ 12 420,5 bilhões PPP1,11,10,80,80,70,60,3Fonte: Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, indicadores de C&T, junho de <strong>2010</strong>Tabela 1: GERD no Brasil, por fonte de financiamento, 2008Em US$ milhões PPPFederal Estadual Fontes priva<strong>da</strong>s Total %Educação superior 3 535,7 2529,2 497,6 6 562,5 29Institutos e agências 4 942,7 1 413,0 6 355,6 – 28Negócios 155,0 – 9 946,3 10 101,3 44Total 8 633,3 3 942,2 10 443,9 23 019,4 100Participação no total (%) 38 17 45 100Fonte: Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, indicadores de C&T, junho de <strong>2010</strong>35


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>preocupação, considerando a relevância econômicadesse setor para o Brasil.Os gastos públicos com P&D estão em grande medi<strong>da</strong>mais direcionados à P&D acadêmica no Brasil, com ofinanciamento de pesquisas em nível de pós-graduaçãoe em instituições públicas de pesquisa. (Tabela 1).Tendo alcançado 1,09% do PIB (2008), a intensi<strong>da</strong>de deP&D do Brasil ultrapassa os padrões latino-americanos,mas ain<strong>da</strong> está atrás <strong>da</strong> média (2,28%) <strong>da</strong> Organizaçãopara a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e <strong>da</strong>União Europeia (1,77%). Em 2008, 55% do GERD foifornecido pelo setor público, seja por meio de gastosgovernamentais diretos, ou por meio de gastos emeducação superior. Isso totaliza um nível de investimentopúblico em P&D <strong>da</strong> ordem de 0,59% do PIB. Assim,cerca de 45% do GERD é gerado pelo setor privado,uma participação que permaneceu estável ao longo <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>, compara<strong>da</strong> a 69% nos países <strong>da</strong> OCDEe 65% na União Europeia (Figura 3).A diferença do percentual de GERD fornecido pelo setorempresarial no Brasil e nos países <strong>da</strong> OCDE é marcante.Enquanto o gasto não empresarial com P&D no Brasil(0,59% do PIB) é apenas 15% menos do que na média dospaíses <strong>da</strong> OCDE. A participação brasileira <strong>da</strong> P&Dempresarial (0,48% do PIB) chega a apenas 32% <strong>da</strong> média<strong>da</strong> OCDE. Esse hiato evidencia um dos principais desafiospara o sistema brasileiro de inovação nacional: criar ascondições necessárias para um aumento na participaçãodos gastos empresariais com P&D <strong>da</strong> ordem de pelomenos três vezes, para que se possa alcançar uma taxacomparável à média <strong>da</strong> OCDE e, assim, manter um níveladequado de competitivi<strong>da</strong>de técnica para a indústria.A criação dos fundos setoriaisA mais significativa inovação no financiamento federal deP&D no Brasil nos últimos 20 anos foi a criação dos fundossetoriais, determina<strong>da</strong> por lei entre 2000 e 2002(INTERACADEMY COUNCIL, 2006, p.79). Esses fundossetoriais introduziram alvos para projetos de P&Dselecionados pelo governo em benefício <strong>da</strong> indústria ecortes nos impostos cobrados <strong>sobre</strong> a receita de certasindústrias seleciona<strong>da</strong>s para privatização ao longodesse período.O conceito de fundos setoriais surgiu a partir doreconhecimento de que muitas empresas estatais em viasde serem privatiza<strong>da</strong>s eram fortes em termos de P&D,principalmente nos campos de telecomunicações eenergia, e de que essas ativi<strong>da</strong>des mereciam ser nãoapenas protegi<strong>da</strong>s, mas também, intensifica<strong>da</strong>s.O modelo de fundo setorial foi criado por RonaldoSardenberg, Ministro <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia na época, eFigura 3: Relação GERD/PIB no Brasil, 2008 (%)Outros países e regiões são citados a título de comparaçãoMéxicoArgentinaGréciaChileÍndiaTurquia 0,30 0,42África do SulRússiaBrasilItáliaEspanhaChinaPortugalMédia <strong>da</strong> UECanadáReino UnidoFrançaAustráliaMédia <strong>da</strong> OCDEAlemanha0,53 0,390,65 0,380,500,18 / 0,200,15/ 0,350,16 / 0,420,590,60 0,580,31 / 0,360,14 / 0,570,74 0,611,04 0,400,76 0,761,15 0,621,00 0,841,21 0,71,27 0,751,20 0,861,58 0,691,83 0,70Gastos empresariaisem P&DGastos nãoempresariais em P&DEUA2,01 0,76(%)0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0Fonte: Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, Indicadores de C&T, acessoem junho de <strong>2010</strong>36


Brasilpelo Secretário Executivo do ministério, Carlos Pacheco.Os fundos setoriais resultaram ser muito bem-sucedidos.Em vez de criarem qualquer novo imposto, redirecionarama cobrança de impostos e relacionaram contribuições quejá faziam parte <strong>da</strong> estratégia do país em privatização.Reconhecendo a heterogenei<strong>da</strong>de do Brasil e do seusistema de P&D, a legislação aprova<strong>da</strong> entre 1999 e 2002especificou que pelo menos 30% do valor de ca<strong>da</strong> fundosetorial seria usado para desenvolver as regiões comativi<strong>da</strong>des mais frágeis de P&D, a saber: as Regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.O primeiro fundo setorial foi criado para petróleo e gásnatural em 1999 (Tabela 2). Treze outros fundos setoriaisforam criados ao longo dos três anos seguintes. Doisdos 15 fundos setoriais estavam relacionados a indústriasespecíficas:■■O Fundo de Infraestrutura de P&D é financiado poruma contribuição de 20% de ca<strong>da</strong> um dos outrosfundos e tem como foco o desenvolvimento deinfraestrutura acadêmica de P&D.O Fundo Verde-Amarelo – em referência às coresTabela 2: Indústrias estatais brasileiras enfoca<strong>da</strong>s pelosfundos setoriais, 1999-2002nacionais do Brasil – é financiado por 33% dosimpostos pagos pelas corporações que enviamrecursos ao exterior para assistência técnica, royalties eserviços técnicos e profissionais especializados, alémde (nominalmente) 43% dos impostos recuperados poruma isenção de impostos progressiva e decrescente,concedi<strong>da</strong> à indústria de tecnologia de informação (TI)com o objetivo de fomentar o seu desenvolvimento.Ca<strong>da</strong> fundo tem um comitê colegiado composto por membros<strong>da</strong> academia, do governo e <strong>da</strong> indústria. Esse comitê tomato<strong>da</strong>s as decisões relativas a gastos, normalmentemantendo um portfólio dos projetos que pretendemagregar propostas de pesquisa nas ciências básicas eaplica<strong>da</strong>s. O comitê também faz o acompanhamento doinvestimento, de modo a garantir que os fundos sejamgastos em projetos relacionados a ca<strong>da</strong> área industrial.Os fundos setoriais injetaram novos recursos nofinanciamento de P&D no Brasil, ain<strong>da</strong> que o governofederal tenha continuado confiscando uma parte <strong>da</strong>receita industrial devi<strong>da</strong> aos fundos, a fim de cumprir eexceder o seu alvo de superávit fiscal. Após o encerramentodessa prática em 2008, o Fundo Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (FNDCT) alcançou no mesmo anoo seu mais alto pico já registrado, com um montanteadicional de gastos de US$1,4 bilhão PPP. A Figura 4mostra o forte aumento nos gastos do FNDCT após acriação do primeiro Fundo Setorial para Petróleo e GásBrasilCT-AeroCT-AgroCT-AmazôniaCT-AquaviárioCT-BiotecCT-EnergCT-EspacialCT-HidroCT-InfoCT-InfraCT-MineralCT-PetroCT-SaúdeCT-TranspoCT-FVAAeronáuticaFundo Setorial de AgronegóciosAmazôniaTransporte Fluvial e Indústria NavalBiotecnologiaEnergiaEspacialRecursos HídricosTecnologia de InformaçãoInfraestrutura de P&DMineraçãoPetróleo e Gás NaturalSaúdeTransportes TerrestresFundo Verde-Amarelo(Cooperação entre indústriase universi<strong>da</strong>des)Fonte: Agência Brasileira de Inovação:www.finep.gov.br/fundos_setoriais/fundos_setoriais_ini.aspEm US$ milhões PPPFigura 4: Evolução do Fundo Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT),1994-20091 5001 200900600479.13001 437.01 368.001994 1997 2000 2003 2006 2009Fonte: Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia; para a conversão <strong>da</strong>squantias monetárias em termos de US$ PPP: Melo, L.M. (2009)Revista Brasileira de Inovação 8 (1), pp. 87-12037


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Natural em 1999 e de outros 13 fundos setoriais nos trêsanos seguintes.Gasto em P&D em nível estadualUma fatia significativa do financiamento governamentalde P&D sai dos governos estaduais que por meio <strong>da</strong>sfun<strong>da</strong>ções custeiam institutos com missões específicas,institutos estaduais e instituições estaduais deeducação superior. Em 2008, cerca de 32% do gastopúblico em P&D se originou dos fundos estaduais.Alguns estados têm fortes sistemas de P&D; o principalentre eles é o estado de São Paulo, onde 64% dofinanciamento público de P&D são estaduais (Figura 5).O estado de São Paulo é responsável por 34% do PIBbrasileiro e tem uma longa tradição de apoio àeducação superior e à pesquisa: a Universi<strong>da</strong>de de SãoPaulo nasceu em 1934 e a Fun<strong>da</strong>ção de Pesquisas deSão Paulo foi incluí<strong>da</strong> na Constituição Estadual em 1947.De todos os estados do Brasil, São Paulo é o que recebemais financiamentos de agências federais,normalmente de 30 a 35 % do total. Isso acontece,essencialmente, porque o estado conta com trêsuniversi<strong>da</strong>des públicas de nível internacional, que estãoentre as 500 melhores do mundo, de acordo com oInstituto de Educação Superior <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deShanghai Jiao Tong, além de ter a Fun<strong>da</strong>ção de Amparoà Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp), que existeFigura 5: A contribuição de GERD do estado deSão Paulo, 2007Em bilhões de US$ PPPChile 1 233Argentina2 659desde 1962. O forte apoio do governo estadual faz de SãoPaulo o segundo maior financiador de P&D <strong>da</strong> AméricaLatina. Essa situação enfatiza a relevância do financiamentoregional de P&D em um grande sistema federalcomo o do Brasil.Uma fração considerável do investimento estadual emP&D sai <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>ções estaduais, cuja missão é apoiar apesquisa. Essas fun<strong>da</strong>ções existem em quase todos osestados brasileiros. Além <strong>da</strong> Fapesp, as principaisfun<strong>da</strong>ções são a Fapemig em Minas Gerais, Faperj no Riode Janeiro, Fapergs no Rio Grande do Sul, Facepe emPernambuco, Fapece no Ceará e Fapesb na Bahia.Gasto empresarial em P&DDas 95.301 empresas participantes <strong>da</strong> Pesquisa Industrialde Inovação Tecnológica (Pintec) conduzi<strong>da</strong> pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2005, apenas6.168 afirmaram ter realizado algum tipo de ativi<strong>da</strong>de deP&D, de modo permanente ou não. O conjunto <strong>da</strong> amostragemcorrespondeu a uma receita total de US$1 097bilhão. Dessa quantia, reportou-se um gasto total em P&Dde US$9 368 bilhões. Os maiores financiadores foram asindústrias de veículos automotivos, trailers e semitrailers(com 16% do gasto total) e de refinamento de petróleo,etanol e combustível nuclear (com 9% do total).Uma característica interessante do gasto empresarial emP&D está liga<strong>da</strong> às oportuni<strong>da</strong>des de atração deinvestimento estrangeiro direto. Em 2006, corporaçõespredominantemente pertencentes aos EUA investiramUS$571 milhões em operações de P&D no Brasil, ou seja,185% a mais do que em 2001, de acordo com oDepartamento de Análise Econômica dos EUA.Incentivos fiscais para a P&D empresarialQuatro leis federais proporcionam incentivos fiscais para aP&D empresarial (Tabela 3). No total, a redução de impostosem 2008 correspondeu a US$3 643 bilhões, ou 37% dosgastos empresariais em P&D.MéxicoEstado deSão PauloBrasil5 3469 20520 259Duas outras leis beneficiaram as instituições acadêmicas,principalmente. Essas leis foram cria<strong>da</strong>s como umasuspensão do imposto de importações <strong>sobre</strong> equipamentose materiais científicos. A lei de 2005 <strong>sobre</strong> incentivos fiscaispara a P&D empresarial (Lei nº 11.196/2005) 3 é considera<strong>da</strong>pelos representantes <strong>da</strong>s empresas como um indiscutívelaprimoramento <strong>da</strong> legislação anterior, uma vez que elasimplifica as formali<strong>da</strong>des requeri<strong>da</strong>s dos beneficiáriosFonte: para o Brasil: Fapesp (<strong>2010</strong>) Indicadores de C&T&I em SP e Brasil<strong>2010</strong>; para os outros países: base de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> RICYT, junho de <strong>2010</strong> 3. No Brasil, as leis não possuem nomes, apenas denominações numéricasque incluem o ano de sua adoção.38


Brasildessas medi<strong>da</strong>s de incentivo. Apesar de a lei <strong>sobre</strong> incentivosfiscais para a P&D de tecnologia <strong>da</strong> informação de 1991(Lei nº 8.248/91) ser intensamente usa<strong>da</strong> pelas empresas dosetor de TI, as companhias não liga<strong>da</strong>s ao campo de TIfazem uso <strong>da</strong> Lei nº 11.196/2005 em certa medi<strong>da</strong>.Uma recorrente crítica do setor empresarial a esse regimede incentivos e subsídios é que existe uma ênfase excessivano setor de TI por conta <strong>da</strong> Lei nº 8.248/91.Esse regime tem um tamanho comparável ao dos países <strong>da</strong>OCDE, mas a ver<strong>da</strong>de é que apenas alguns poucos setoresestão em condições de se beneficiar dele. A dificul<strong>da</strong>deadvém do fato de que a lei de incentivo às TIs é em suaessência uma lei de equalização interna para compensaros incentivos não ligados a P&D que foram oferecidos aempresas de TI a fim de encorajá-las a se estabeleceremem Manaus, na Amazônia (Iedi, <strong>2010</strong>). Uma vez que osincentivos foram deixados de lado, os incentivos com oregime de subsídios correspondem a apenas 13% do gastoempresarial com P&D.Juntamente com os incentivos fiscais, o poder de comprado governo por meio de compras públicas é usado emmuitos países a fim de fomentar a inovação, especialmentenas indústrias liga<strong>da</strong>s à defesa e à saúde. Esse tipo de apoioà P&D industrial ain<strong>da</strong> é muito limitado no Brasil, mesmo emrelação aos gastos de defesa e saúde. A lei <strong>sobre</strong> inovaçãode 2004 inclui artigos que visam fomentar o uso maisintenso <strong>da</strong>s compras públicas. O governo esteve submetidoa uma incansável pressão por representantes <strong>da</strong> indústriapara adotar uma atitude mais proativa em suas políticas decompras públicas (Quadro 1).Capital de riscoA indústria do capital de risco tem crescido no Brasildesde que a economia se estabilizou em meados <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> de 1990. O Banco Nacional do DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) tem tido um papel ativonesse mercado desde 1995, ao passo que relevantesiniciativas governamentais remontam a 1999. Em 2000,o Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia lançou a iniciativaInovar, lidera<strong>da</strong> pela Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), uma agência federal com algumas característicassemelhantes às de um banco de investimento. O mercadorespondeu bem a essa iniciativa, e diversos fóruns <strong>sobre</strong>empreendimentos de capital de risco foram organizadospara apresentar as empresas a possíveis investidores. Em2005, o BNDES anunciou seu retorno às operações derisco, por meio de um fundo de aproxima<strong>da</strong>mente US$150milhões para investimento em parcerias, a fim de capitalizarfundos privados. A legislação decreta<strong>da</strong> em 15 defevereiro de 2006 por uma Medi<strong>da</strong> Provisória diminuiumuito o ônus dos impostos <strong>sobre</strong> receitas de fundos decapital de risco para investidores estrangeiros. Noentanto a maior parte dos investimentos em fundos derisco tende a ter como alvo indústrias sem basetecnológica. Um relatório de 2003 concluiu que 86% <strong>da</strong>soperações de capital de risco no Brasil estavamdireciona<strong>da</strong>s a esses setores industriais sem base tecno-BrasilTabela 3: Leis <strong>sobre</strong> impostos para a P&D e subsídios à P&D no Brasil, 1991-2005Enfoque <strong>da</strong> lei Ano de adoção Referência US$ PPP Tipo de vantagemIncentivo de impostosIncentivo de impostos para 1991 Lei nº 8.248/91 2 236,4 Incentivo de impostos para oo setor de TIsetor de ITIncentivo de impostos para 2005 Lei nº 11.196/05 1 085,0 Incentivos de impostos paraP&D empresarialtodos os setoresSubsídioSubsídios para P&D empresarial 2002 Lei nº 10.332/02 62,9 Equalização <strong>da</strong> taxa de jurosna forma de empréstimose Plano de Desenvolvimentogovernamentais <strong>da</strong> Tecnologia Industrial (PDTI) 34,8 Outro subsídioSubsídios para P&D empresarial 2004 Lei nº 10.973/04 224,1 Subsídio geralTotal (Incentivos + subsídios) 3 643,3Gasto empresarial em P&D 9 946,3Parcela de incentivos e subsídios 37%no gasto empresarial em P&DFonte: Iedi (<strong>2010</strong>) Desafios <strong>da</strong> Inovação - incentivos para inovação: o que falta ao Brasil39


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Quadro1: Política de compras governamentais para o desenvolvimento de vacinas essenciaisAs políticas de compras públicascompõem um dos mecanismosusados globalmente para a promoção<strong>da</strong> ciência e a apropriação social doconhecimento. As políticas brasileirasde vacinação e compras públicastiveram um impacto indiscutível nadéca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>, tanto em termos depesquisa básica quanto de produçãode vacinas. Essas políticas promovema autossuficiência imunobiológica e oacesso universal às vacinas, que sãoofereci<strong>da</strong>s gratuitamente à população.Duas instituições centenárias – oInstituto Butantan e o InstitutoOswaldo Cruz – construíraminstalações paralelas de pesquisas,desenvolvimento e produção devacinas para permitirem que o Brasilseja competitivo tanto em termoscientíficos quanto tecnológicosnesse campo.O quadro jurídico responsável porestimular a produção de vacinas poressas instituições gêmeas baseia-seno Artigo 24 <strong>da</strong> Lei nº 8.666 de junhode 1993. Esse artigo regulamenta oArtigo 37, inciso XXI <strong>da</strong> ConstituiçãoFederal e institui normas para oprocesso de licitações públicas e acelebração de contratos pelaadministração pública, entre outrasmedi<strong>da</strong>s. O artigo 24 afirma que alicitação no processo de compraspúblicas pode ser dispensa<strong>da</strong> se umaenti<strong>da</strong>de pública adquirir bens eserviços de outra enti<strong>da</strong>de ou órgão<strong>da</strong> administração pública, contantoque esses bens ou serviços sejamcriados com esse propósito específicoanteriormente à promulgação <strong>da</strong> Leinº 8.666, e contanto que o preço docontrato seja compatível com opreço do mercado. Essa decisãoestimulou tanto o Instituto Butantanquanto o Instituto Oswaldo Cruz adesenvolver plantas-piloto paraprodução de vacinas, tendo oMinistério <strong>da</strong> Saúde como seuparceiro central. O ministériodesempenhou um papel vital, namedi<strong>da</strong> em que ele garantiu aosinstitutos um comprador principal eum volume mínimo de produção.Ficou evidente, desse modo, queessas instalações precisariam seracompanha<strong>da</strong>s por uma expansãoem paralelo <strong>da</strong> ciência básicarelaciona<strong>da</strong> às vacinas.A realização de uma análiseinteiramente cientométrica paraanalisar o progresso nessa área <strong>da</strong>ciência básica é um exercíciointrincado, uma vez que muitossetores biológicos estão relacionadosàs vacinas. Apesar disso, uma buscapor publicações produzi<strong>da</strong>s no Brasilusando vacina como um tópico revelaque, ao longo dos cinco últimos anos,a contribuição <strong>da</strong>s ciências básicasrelaciona<strong>da</strong>s a este tema no Brasilsaltou de uma participação de 2%para 3% <strong>da</strong> literatura mundial. Ain<strong>da</strong>mais importante, os dois produtoresde vacinas, os institutos Butantan eOswaldo Cruz, têm sido responsáveispor cerca de 30% de to<strong>da</strong> a produçãocientífica do Brasil no campo dodesenvolvimento de vacinas desde2004. Em 2009, o Instituto Butantanproduziu mais de 200 milhões dedoses de vacinas usando tecnologiaprópria, incluindo as vacinas contradifteria, tétano e coqueluche (DTC),e hepatite B. No mesmo ano ainstalação Bio-Manguinhos, associa<strong>da</strong>ao Instituto Oswaldo Cruz, produziumais de 170 milhões de doses devacinas contra febre amarela,Hemophilus influenza tipo B epoliomielite oral Sabin, entre outras.Ambos os Institutos Butantan eOswaldo Cruz estão desenvolvendotecnologia a partir <strong>da</strong> produçãoprópria de ciência básica e estãobuscando ativamente colocar nomercado brasileiro e exportar vacinasmodernas de nova geração, por meiode acordos de transferência detecnologia com empresas priva<strong>da</strong>s.Os produtos oferecidos pelo InstitutoButantan incluem vacinas contra raivaobti<strong>da</strong>s em cultura celular, dengue,rotavírus e influenza.Fonte: os autoreslógica (ABCR & THOMSON VENTURE ECONOMICS, 2003).Tendências em profissionais de P&DA carência de doutoresApesar de o Brasil ter conseguido aumentar o número dedoutorados finalizados a ca<strong>da</strong> ano para 10.711 em 2008, opaís ain<strong>da</strong> enfrenta uma situação de carência,especialmente em engenharia. O número de pessoas queterminam um doutorado pode parecer alto, mas ele setraduz em apenas 4,6 doutores para ca<strong>da</strong> 100 milhabitantes, uma relação 15% menor do que a <strong>da</strong>Alemanha e praticamente um terço <strong>da</strong> relação encontra<strong>da</strong>na República <strong>da</strong> Coreia (Capes, 2005). No nível degraduação, o Brasil enfrenta um enorme desafio, uma vezque apenas 16% dos jovens entre 18 e 24 anos estavammatriculados no ensino superior em 2008. Essapercentagem precisará triplicar se o Brasil quiser alcançaro degrau mais baixo <strong>da</strong> esca<strong>da</strong> dos países <strong>da</strong> OCDE. Até omomento, a estratégia do país tem sido a de aumentar onúmero de instituições priva<strong>da</strong>s oferecendo cursos dequatro a cinco anos, ao mesmo tempo em que amplia asinscrições nas universi<strong>da</strong>des públicas oferecendo cursos40


BrasilFigura 6: Pesquisadores no Brasil, 2008Os demais países são apresentados a título de comparaçãoPesquisadoresPesquisadores a ca<strong>da</strong> 1.000 pessoas na força de trabalho1 425 550EUA9,40221 928Rep. Coreia9,17Brasil254 599139 011215 755290 853Reino UnidoCanadáFrançaAlemanha8,297,877,596,98122 624Espanha5,5338 681Argentina2,021 423 381China1,83133 266Brasil1,3337 930 México 0,86Fonte: Base de <strong>da</strong>dos do Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, maio de <strong>2010</strong>com a mesma duração. Mas a estratégia não tem sidosuficiente para aumentar a taxa de matrícula a um nívelcompetitivo internacionalmente.A maioria dos pesquisadores brasileiros é compostapor acadêmicosA grande maioria <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de P&D é realiza<strong>da</strong> porinstituições acadêmicas no Brasil, como foi confirmadopela demografia (Figuras 6 e 7). Na maior parte dos casos,é mais fácil obter informações precisas <strong>sobre</strong> o número defuncionários do que <strong>sobre</strong> os gastos com P&D, especialmenteno setor privado. Os pesquisadores no Brasilocupam principalmente cargos acadêmicos em tempointegral: 57% são servidores de universi<strong>da</strong>des, e outros6%, de institutos de pesquisa. Os 37% restantes estão nosetor de negócios, o que é consistente com a porçãomenor de gasto privado com P&D, em comparação com ogasto público. O pequeno número de cientistas no setorprivado não deixa de ter suas consequências, tal como étestemunhado pela deficiência de patentes gera<strong>da</strong>s pelaindústria brasileira. Ele é também um dos principaisobstáculos ao desenvolvimento de laços mais fortes entreas universi<strong>da</strong>des e as indústrias. Ademais, apenas 15% dospesquisadores brasileiros no setor empresarial possuemmestrado ou doutorado. Na República <strong>da</strong> Coreia, essapercentagem é de 39%, sendo 6% dos profissionais comdoutorado e 33% com mestrado. As agênciasgovernamentais para o financiamento <strong>da</strong> P&D, como oCNPq, a Finep, a Fapesp e outras têm criado programas deFigura 7: Pesquisadores no Brasil por setor deativi<strong>da</strong>des, 2008 (%)Equivalente ao período de tempo integralNegócios37,3Institutosprivadosde P&D0,7Governo0,5Fonte: Base de <strong>da</strong>dos do Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia,junho de <strong>2010</strong>Universi<strong>da</strong>des56,841


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Figura 8: Artigos científicos escritos por autores de instituições brasileiras, 1992-200830 00026 4823,0Número de artigos científicos25 00020 00015 00010 0005 00002,718 47315 436 2,112 573 1,910 521 1,77 860 1,55 723 1,24 301 4 3630,90,8 0,81992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 20082,52,01,51,00,5Participação mundial (%)Observação: A evolução nas publicações científicas pode inspirar um certo cui<strong>da</strong>do, uma vez que a Thomson Reuters Web of Science mu<strong>da</strong> a seleção dosperiódicos ao longo do tempo. Assim, uma parte do crescimento pode ser atribuí<strong>da</strong> à inclusão de novos periódicos, especialmente em 2008.Fonte: Thomson Reuters (Scientific) Inc. Web of Science, (Science Citation Index Expanded), compilado para a <strong>UNESCO</strong> pelo Observatoire des sciences et destechniques canadense, maio de <strong>2010</strong>bolsas para pesquisadores de doutorado na indústria, masessas iniciativas têm tido resultados limitados.A PRODUÇÃO DE P&DPublicações científicasO número de publicações científicas origina<strong>da</strong>s no Brasilaumentou de modo contínuo ao longo dos últimos 26anos, culminando em 26.482 em 2008 (Figura 8).Paralelamente, a participação mundial do Brasil emtermos de artigos aumentou de 0,8% em 1992 para 2,7%em 2008. Há uma correlação entre esse aumento e onúmero ca<strong>da</strong> vez maior de doutorados finalizados a ca<strong>da</strong>ano. Graças a uma política educacional de pós-graduaçãofavorável e consistente ao longo dos últimos 50 anos, oumais, o número de doutores aumentou de 554 em 1981para 10.711 em 2008.O impacto dos artigos originários do Brasil tambémaumentou: em 2000, foi registra<strong>da</strong> 1,45 citação por artigodois anos após a publicação 4 , ao passo que em 2007,esse número tinha subido para 2,05 citações.A presença do Brasil aumentou em todos os principaiscampos <strong>da</strong> ciência, mas os artigos são mais representados4. Dados coletados pelos autores usando a Thomson Reuters Web ofScience e contando os artigos restritos à categoria de artigos e as citaçõesregistra<strong>da</strong>s nos dois anos após a publicação.em agronomia e veterinária (3,07% do total mundial), física(2,04%), astronomia e ciência espacial (1,89%), microbiologia(1,89%) e ciências de plantas e animais (1,87%) 5 .A existência de uma comuni<strong>da</strong>de científica emflorescimento tem permitido programas especiais depesquisa cujo desenvolvimento requer um numerosogrupo de pesquisadores. Um bom exemplo é o ProjetoGenoma implementado em São Paulo, que foi o primeiroa fazer o sequenciamento de DNA de uma bactériafitopatogênica, a Xylella fastidiosa. Esse programa foirealizado em parceria com a Associação de Produtoresde Cítricos (Fundecitrus).Além de produzir ciência avança<strong>da</strong>, o Projeto Genomacontribuiu com conhecimentos que permitiram aospesquisadores <strong>da</strong> Fundecitrus desenvolver maneiras decontrolar uma doença que estava atacando as laranjeiras,a clorose variega<strong>da</strong> dos citros. Ele também gerou pelomenos duas companhias deriva<strong>da</strong>s nos campos degenômica e bioinformática. Outro exemplo é o Programade Pesquisas Biota, um dos maiores do mundo no campo<strong>da</strong> ciência de biodiversi<strong>da</strong>de (Quadro 2).Entretanto os <strong>da</strong>dos registrados pela base de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>Thomson Reuters não descrevem a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> história<strong>sobre</strong> a produtivi<strong>da</strong>de brasileira. Nos países em5. Para uma comparação com a China e a Índia.42


BrasilQuadro 2: O mapeamento <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de em São PauloDesde 1998, um instituto virtual debiodiversi<strong>da</strong>de denominado Biotatem mapeado a diversi<strong>da</strong>de doestado de São Paulo e estabelecidomecanismos para a sua conservaçãoe o seu uso sustentável.Na condição de um instituto virtual,ele não tem instalações físicas – ospesquisadores participantestrabalham em seus própriosdepartamentos em qualquer partedo estado de São Paulo. Os 200pesquisadores e 500 alunos de pósgraduaçãoque fazem parte doinstituto são ativos nos quadros de16 instituições de educação superiore pesquisa. A Fapesp tem evitado,assim, uma grande disputa deterritório entre instituições rivais,que poderia prejudicar o programa.O instituto virtual também empregacerca de 80 colaboradores de outrosestados brasileiros e aproxima<strong>da</strong>mente50 do exterior. A participação éaberta a qualquer pessoa com umprojeto interessante que tenha<strong>sobre</strong>vivido ao processo de revisãopelos colegas acadêmicos, que érealizado pela Fapesp.Em 11 anos, o programa apoiou 87projetos principais de pesquisa comum orçamento anual deaproxima<strong>da</strong>mente US$7,1 milhões.Durante esse período, o programatambém permitiu o treinamentopara 150 estu<strong>da</strong>ntes de mestrado e90 estu<strong>da</strong>ntes de doutorado, alémde ter levantado e armazenadoinformações <strong>sobre</strong> cerca de 10 milespécies, e de ter disponibilizado os<strong>da</strong>dos de 35 grandes coleçõesbiológicas. Isso se traduziu na formade 464 artigos publicados em 161 periódicoscientíficos, 16 livros e dois Atlas.Em 2001, o programa lançou umperiódico de livre acesso comrevisões acadêmicas, o BiotaNeotropica, a fim de divulgar osresultados de pesquisas originais<strong>sobre</strong> biodiversi<strong>da</strong>de na regiãoneotropical. O periódico estárapi<strong>da</strong>mente se tornando umareferência internacional no seu campo.Em 2002, o programa lançou umanova iniciativa intitula<strong>da</strong> BIOprospecTA,com o objetivo de procurar novoscompostos economicamente viáveispara aplicações em termos demedicamentos ou cosméticos. Comoresultado, três novos medicamentosforam apresentados para o registrode patente.O programa também tem tidoimpacto considerável <strong>sobre</strong> aspolíticas públicas. O governo doestado de São Paulo se valeu dosresultados do programa para lançarquatro decretos pelo governador e11 resoluções a respeito de áreas deconservação no estado. Em janeirode 2009, por exemplo, o governoestadual designou três grandes Áreasde Proteção Ambiental costeiras (APALitoral Norte, APA Litoral Centro e APALitoral Sul). Nos próximos dez anos, oPrograma Biota–Fapesp deve produzirinformações para aprimorar o gerenciamentodessas áreas protegi<strong>da</strong>s.O Conselho Consultivo Científicointernacional responsável pelaavaliação do programa afirmou que“a maioria dos projetos do institutoBiota tem uma alta quali<strong>da</strong>de, que éequivalente ou superior aos projetosde outros países, e diversos dessesprojetos têm uma quali<strong>da</strong>de excelente,tendo alcançado as fronteiras dosesforços internacionais”.Em 2009, o programa Biota começoua preparar um Plano de Metas eEstratégias para a Próxima Déca<strong>da</strong>,partindo <strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong>ções de umseminário realizado em junho domesmo ano <strong>sobre</strong> a Definição deMetas e Priori<strong>da</strong>des para 2020.Fonte: www.biota.org.br/;www.bioprospecta.org.br;www.biotaneotropica.org.brBrasildesenvolvimento, os novos conhecimentosfrequentemente encontram um encaminhamento pormeio dos periódicos locais, que muitas vezes não sãocaptados pelo ra<strong>da</strong>r do Thomson Reuters Science CitationIndex, a não ser que o periódico tenha uma circulaçãointernacional – o que é raramente o caso. Ademais, alíngua <strong>da</strong> maioria dos periódicos científicos brasileiros é oportuguês, em vez do inglês, especialmente em relaçãoaos artigos <strong>da</strong> área de humani<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s ciências sociaisaplica<strong>da</strong>s. Para aprimorar a visibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produçãocientífica brasileira, a Fapesp e o Latin American andCaribbean Center on Health Sciences Information criaramum portal web de acesso aberto em 1999, a ScientificElectronic Library Online (Scielo). Em 2009, a Scieloproporcionou acesso a 203 periódicos com revisões porcolegas de campo, incluindo títulos <strong>da</strong> Argentina, Brasil,Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Portugal e Venezuela. Nomesmo ano, o sítio web <strong>da</strong> Scielo recebeu 119 milhões devisitantes, que descarregaram 15.759 artigos. Veja a Figura9 para uma comparação entre o número de artigospublicados em periódicos nacionais em 2000 e em 2008.A maior parte <strong>da</strong> produção científica advém deuniversi<strong>da</strong>des públicas. Apenas sete universi<strong>da</strong>des foramresponsáveis por 60% dos artigos publicados emperiódicos internacionais em 2009 (Tabela 4). A sua43


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Figura 9: Artigos científicos publicados em periódicosbrasileiros, 2000 e 2008Ciências sociaisaplica<strong>da</strong>s162 / 643participação no total aumentou de 60% em 2000 para71% em 2007, para retornarem ao patamar de 60% em2009. A Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, com 4.670 professoresem regime de tempo integral, produziu 23% <strong>da</strong> ciência dopaís em 2009, segui<strong>da</strong> pela Universi<strong>da</strong>de EstadualPaulista (com 2.889 professores em regime integral) epela Unicamp (1.538 professores em regime integral),ambas com 8%.EngenhariaFísica, matemática,química egeociências320 / 692663 / 1 43520002008Patentes industriais e acadêmicasEm 2009, 103 patentes de utili<strong>da</strong>des para invençõesbrasileiras foram emiti<strong>da</strong>s pelo Escritório de Patentes eMarcas Registra<strong>da</strong>s dos Estados Unidos (USPTO) – quase omesmo tanto emitido cinco anos antes (106). Esse é umnúmero muito pequeno, quando se pensa no tamanho <strong>da</strong>economia brasileira e <strong>da</strong> sua infraestrutura científica.Mesmo considerando que o Brasil está muito à frente dosseus vizinhos latino-americanos nesse indicador, o país écomo um anão em comparação à Índia (Figura 10).CiênciasbiológicasCiênciasagrícolasCiências<strong>da</strong> saúde1 457 3 525Fonte: base de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Scielo Brasil1 027 / 21182 140 6 071O pequeno número de cientistas que trabalha no setor denegócios afeta diretamente o número de patentesorigina<strong>da</strong>s no Brasil, <strong>da</strong> mesma maneira como o fazem ossetores industriais dominantes e os coeficientes deexportação. É possível que exista uma correlação entre os<strong>da</strong>dos desse frágil número de patentes e o nível dequalificação dos pesquisadores empregados no setorempresarial, uma vez que apenas uma pequena fraçãodeles tem um nível avançado de pós-graduação. Outrofator pode ser a falta de ousadia nos objetivos de P&D<strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s indústrias brasileiras, fruto de déca<strong>da</strong>sde funcionamento em um mercado fechado e em meioa uma economia pouco confiável. As mu<strong>da</strong>nças nocenário econômico desde a déca<strong>da</strong> de 1990 criaram ummercado mais aberto, uma competição mais forte e umaTabela 4: Artigos científicos publicados pelas principais universi<strong>da</strong>des de pesquisa no Brasil, 2000-2009Universi<strong>da</strong>de 2000 2003 2006 2009Universi<strong>da</strong>de de São Paulo (USP) 2 762 3 888 6 068 7 739Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista (Unesp) 772 1 104 2 065 2 782Universi<strong>da</strong>de de Campinas (Unicamp) 1 190 1 498 2 386 2 582Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 1 080 1 253 1 778 2 357Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 557 792 1 374 1 797Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais (UFMG) 597 810 1 392 1 685Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo (Unifesp) 433 659 1 251 1 561Total <strong>da</strong>s sete universi<strong>da</strong>des acima 7 391 10 004 16 314 20 503Total do Brasil 11 978 15 125 23 061 34 172Participação <strong>da</strong>s sete universi<strong>da</strong>des acima no total (%) 62 66 71 60Fonte: SCOPUS, pesquisa restrita aos critérios de artigos, notas e revisões, agosto de <strong>2010</strong>44


BrasilFigura 10: Patentes reconheci<strong>da</strong>s a inventoresbrasileiros, 2000-2009Dados dos demais países a título de comparaçãoà medi<strong>da</strong> que, nesses casos, o licenciado participa nodesenvolvimento <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de intelectual por meio deum acordo de cooperação de P&D.600ÍndiaFederação RussaBrasilÁfrica do SulMéxicoArgentinaChileVenezuela679Três dos dez maiores detentores de patentes pelo InstitutoNacional de Proprie<strong>da</strong>de Industrial (Inpi) no período 2000-2005 eram instituições acadêmicas: a Unicamp, a Fapesp e aUniversi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais. Isso parece indicarduas coisas: em primeiro lugar, que as instituições acadêmicasabraçaram a ideia de proteger sua proprie<strong>da</strong>de intelectuale estão buscando oportuni<strong>da</strong>des de gerar negócios a partirdela; e, em segundo lugar, que os esforços <strong>da</strong> indústria emgerar proprie<strong>da</strong>de intelectual continuam pouco efetivos,uma vez que é raro encontrar uma situação na qual asinstituições acadêmicas geram mais patentes do que aindústria em economias industrializa<strong>da</strong>s.Brasil300018313111198765427152000 2003 2006 2009Fonte: USPTO (Utility Patents)economia mais estável. Essas mu<strong>da</strong>nças também estãogerando novas atitudes em muitas empresas, mas o seuimpacto ain<strong>da</strong> não pode ser sentido em termos dequanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de de P&D empresarial.196103936045218O patenteamento acadêmico tem se tornado mais forteno Brasil, especialmente desde que as realizações dealgumas instituições ganharam visibili<strong>da</strong>de em todo opaís, tais como na Unicamp e na Universi<strong>da</strong>de Federal deMinas Gerais. A Unicamp tem sido pioneira em patentespor mais e duas déca<strong>da</strong>s, e é detentora do mais amploestoque entre to<strong>da</strong>s as instituições acadêmicas brasileiras.No período 2000-2005, ela recebeu o maior número depatentes, atrás apenas <strong>da</strong> Petrobras, que é a companhiapetrolífera estatal brasileira. Em 2002, a universi<strong>da</strong>defundou a Agência de Inovação <strong>da</strong> Unicamp, incluindo umEscritório de Transferência de Tecnologia e mostrandoassim uma forte propensão ao registro de licenças e àgeração de receitas a partir de sua proprie<strong>da</strong>deintelectual. Ademais, a maioria dessas licenças é exclusiva,Dito isso, muito poucas universi<strong>da</strong>des de pesquisa têmsido capazes, até o momento, de gerar mais recursos apartir do licenciamento do que os seus gastos no processode obtê-lo (MOWERY et al. 1999). A ver<strong>da</strong>deira motivaçãopara uma universi<strong>da</strong>de registrar a sua proprie<strong>da</strong>deintelectual deveria ser com o objetivo de cumprir o seuman<strong>da</strong>to de difusão de conhecimento na socie<strong>da</strong>de,criando oportuni<strong>da</strong>des para os seus estu<strong>da</strong>ntes. Umafixação exclusiva nos benefícios financeiros tem obstruídomuitas tentativas <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des brasileiras transferireme comprarem tecnologia por meio de taxas de licenças – eaté mesmo as tentativas <strong>da</strong>s agências públicas de P&D.Ain<strong>da</strong> há muito a ser aprendido no Brasil <strong>sobre</strong> os benefíciospara a socie<strong>da</strong>de na geração de novos negócios por meiode uma educação superior de excelência, um setor no qualo Brasil já alcançou alguns notórios sucessos. Um exemploé o Instituto Tecnológico <strong>da</strong> Aeronáutica, uma <strong>da</strong>smelhores escolas de engenharia <strong>da</strong> América Latina, queviabilizou a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer).HISTÓRIAS DE SUCESSO EM INOVAÇÃOO Brasil pode se orgulhar de alguns casos extremamentebem-sucedidos de inovação com base no conhecimento.Um exemplo é o dos aviões a jato, que se tornaram umproduto altamente competitivo, como um fruto <strong>da</strong> P&Dbrasileira. Desde que foi privatiza<strong>da</strong> em 1994 em ummomento de crise econômica, a Embraer conseguiu setransformar na terceira maior empresa produtora deaviões no mundo. As primeiras uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> aeronave de90 assentos ERJ–190 têm voado comercialmente desde oinício de 2006. Ademais, uma subsidiária <strong>da</strong> Embraer, aIndústria Aeronáutica Neiva, tem produzido a primeiraaeronave movi<strong>da</strong> a álcool do mundo a EMB 202 Ipanema.Em 2006, a Neiva já tinha entregado mais de 3.70045


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>Quadro 3: P&D em bioenergia no BrasilDesde o lançamento do ProgramaNacional ProÁlcool em 1975, a P&Dindustrial, governamental e acadêmicatem contribuído consideravelmentepara o desenvolvimento do etanol noBrasil. Um grupo de organizações depesquisa estabeleci<strong>da</strong>s, como oCentro de Tecnologia Canavieira (CTC),o Instituto de Agronômico deCampinas (IAC) e a Rede Universitáriapara Desenvolvimento do SetorSucroalcooleiro (Ridesa), desenvolveudiversas novas varie<strong>da</strong>des queaumentaram a produção média de 50para 85 tonela<strong>da</strong>s por hectare. A P&Dindustrial, frequentemente em associaçãocom as universi<strong>da</strong>des, temaprimorado a produtivi<strong>da</strong>de industrialde 55 para 80 litros de etanol portonela<strong>da</strong> de cana-de-açúcar. Ela tambémtem alcançado eficazes resultados notratamento de resíduos industriais.A recente alta repentina no interesseinternacional por bioenergia temintensificado a pesquisa nesse campoem muitos países, fazendo com que oBrasil alinhe sua própria estratégiacom a competição em mercadosglobais. Essa estratégia requer nãoapenas mais P&D, mas acima de tudo,P&D de ponta. Juntamente com oCTC e a Central de Álcool, a Fapespembarcou em um projeto em 1999para identificar genes expressos nacana-de-açúcar e na genômicafuncional (Sucest e Sucest-Fun), e paratreinar recursos humanos. O esforçocontribuiu para um aumento nonúmero de artigos científicos <strong>sobre</strong> acana-de-açúcar no Brasil.Dado o potencial para um aumentomaciço <strong>da</strong> escala de produção e <strong>da</strong>competitivi<strong>da</strong>de do etanol <strong>da</strong> canade-açúcarbrasileira, a sustentabili<strong>da</strong>depassou a ser um elemento essencialno aumento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de. Nostrês últimos anos, algumas iniciativasforam lança<strong>da</strong>s no Brasil paraaproveitar a ciência avança<strong>da</strong> nadireção de alvos de sustentabili<strong>da</strong>de eprodutivi<strong>da</strong>de. Por exemplo, aEmpresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa) criou umadivisão de agroenergia.Além disso, um novo centro depesquisas foi inaugurado em 2009 – oLaboratório Nacional de Ciência eTecnologia do Bioetanol (CTBE) – emCampinas, no estado de São Paulo. OCTBE tem três objetivos: realizar P&Dcompetitiva para aprimorar plantaçõese métodos de conversão na produçãode bioetanol de cana-de-açúcar; fazerparcerias com outras organizações depesquisa que trabalham em áreasrelaciona<strong>da</strong>s, por meio de uma redede laboratórios associados emuniversi<strong>da</strong>des e institutos de pesquisa;e atuar como um provedor detecnologia para a indústriaproporcionando informaçõesestratégicas de interesse mútuo.Uma terceira iniciativa é o ProgramaFapesp de Pesquisa em Bioenergia(Bioen). O Bioen visa criar ligações entrea P&D pública e priva<strong>da</strong>, usando laboratóriosacadêmicos e industriais paraavançar e aplicar o conhecimento noscampos ligados à produção de etanol noBrasil. O Programa tem cinco divisões:■■■■Tecnologias de Cana-de-Açúcar,incluindo aprimoramento deplantio e agricultura <strong>da</strong> cana-deaçúcar;Tecnologias Industriais do Etanol;Tecnologias de Biorrefinaria equímica do etanol;Motores de Ciclo de Otto e CélulasCombustíveis, aplicações de etanolpara veículos automotivos;Impacto Social e Econômico,Estudos Ambientais, Uso <strong>da</strong> Terra eProprie<strong>da</strong>de Intelectual.O Programa Bioen está bem equipadopara apoiar pesquisas acadêmicasexploratórias <strong>sobre</strong> esses tópicos etreinar cientistas e profissionais emáreas essenciais para avançar aspotenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> indústria do etanol.Além disso, o Bioen estabeleceparcerias cofinancia<strong>da</strong>s pela Fapespe pela indústria para a P&Dcooperativa entre laboratóriosindustriais e acadêmicos emuniversi<strong>da</strong>des e institutos de pesquisa.Outras agências de pesquisa dogoverno federal e de governosestaduais participam do programa.Estas incluem o CNPq e a Fapemig.Em 2009, o Bioen contratou sua primeiraro<strong>da</strong><strong>da</strong> de 60 projetos de pesquisa.Uma quarta iniciativa em curso emmeados de <strong>2010</strong> é a criação do Centrode Pesquisa em Bioenergia de SãoPaulo, ligado a três universi<strong>da</strong>desestaduais de São Paulo (USP, Unicampe Unesp). O centro servirá para atrairum número mais amplo de cientistasno campo <strong>da</strong> bioenergia para as trêsuniversi<strong>da</strong>des participantes e seráfinanciado pela Fapesp, pelo governoestadual e pelas próprias universi<strong>da</strong>descom cerca de US$100 milhões nospróximos dez anos.Juntamente com essas iniciativasestaduais ou federais, as empresastambém têm aumentado os seusesforços de P&D em bioenergia.A Petrobras tem um programa debiocombustíveis de segun<strong>da</strong> geração,que utiliza as sobras <strong>da</strong>s plantações, egrandes companhias tais como Vale,Braskem e Oxiteno já estão investindopesa<strong>da</strong>mente P&D em bioenergia.Fonte: os autores; www.cnpae.embrapa.br/;www.bioetanol.org.br/english/index.php;www.fapesp.br/en/bioen46


Brasiluni<strong>da</strong>des, fazendo com que a EMB 202 se tornasse amais usa<strong>da</strong> aeronave agrícola no Brasil.O setor de agronegócios também tem alcançadoresultados impressionantes tanto em termos deprodução quanto de produtivi<strong>da</strong>de. Esse setor sebeneficia do investimento público em P&D por meio<strong>da</strong> Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) e de outras organizações dentro do sistemanacional de P&D agrícola. A soja, a laranja e o café sãoimportantes produtos de exportação, em grandemedi<strong>da</strong> em função dos anos de P&D contínua.A energia obti<strong>da</strong> do etanol é outra demonstração <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de de o país criar e usar o conhecimentopara gerar oportuni<strong>da</strong>des. Lançado nos anos 1970, oPrograma Brasileiro de Álcool (ProÁlcool) é a maisambiciosa política do mundo para o uso de etanolcomo combustível em automóveis (Quadro 3). Em2005, 50% dos automóveis vendidos no Brasil eramdo tipo flex, e, em janeiro de 2006, essa fatia alcançouna<strong>da</strong> menos que 74%. Além disso, o país adiciona25% de etanol à sua gasolina de modo a reduzir asemissões de carbono e os custos de importação. Osfabricantes de automóveis no Brasil desenvolveramsistemas de combustível flex que podem usar de 0 a100% de etanol ou gasolina. Essa tecnologia é umainvenção original <strong>da</strong>s equipes brasileiras de P&D quetrabalham no país para fabricantes estrangeiros depeças e automóveis, que desenvolveram umatecnologia superior à utiliza<strong>da</strong> no restante do mundo(BUENO, 2006; LOVINS et al., 2009). Em 2008, o Brasilera o segundo maior produtor mundial de etanol(24,5 bilhões de litros) atrás dos EUA, com um custode US$0,19 por galão – menos <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> médiamundial (US$0,40). A indústria, os institutosgovernamentais e as universi<strong>da</strong>des conseguiramdesenvolver varie<strong>da</strong>des melhores de cana-de-açúcare métodos mais eficientes de plantio e colheita, emparceria com refinarias mais sofistica<strong>da</strong>s de etanol.Em ca<strong>da</strong> caso, o principal bem tem sido o estoque deprofissionais com alto nível educacional treinadosem instituições que atendem os mais altos padrõesacadêmicos do mundo. To<strong>da</strong>s essas indústriascompartilham outra característica em comum: emalgum momento, ca<strong>da</strong> uma delas dependeu depolíticas que aproveitaram o poder de compra dogoverno para estimular o desenvolvimentotecnológico. O ingrediente decisivo dessa receita desucesso tem sido uma parceria público-priva<strong>da</strong>frutífera, capaz de levar as ideias ao mercado.Um desafio que o país ain<strong>da</strong> precisa vencer é o dedifundir essa experiência e as habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> inovação portodos os setores <strong>da</strong> indústria. Os anos de um mercadofechado e de instabili<strong>da</strong>de econômica cobraram o seupreço quanto à atitude em relação à inovação no setorempresarial. Entretanto esse setor tem respondido muitobem às medi<strong>da</strong>s de incentivo; durante a déca<strong>da</strong> de 1990,quando a economia brasileira começou a se abrir para omundo exterior, o governo federal desenvolveu umprograma nacional de aprimoramento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dosprodutos e processos industriais, que terminou sendomuito bem-sucedido. Mais recentemente, tanto ogoverno quanto líderes <strong>da</strong> indústria voltaram a suaatenção para a inovação tecnológica. Como resultado, odesenvolvimento dessa estratégica área tem se tornadomais forte. Por exemplo, a Confederação Nacional <strong>da</strong>Indústria (CNI) iniciou um Movimento Empresarial pelaInovação (MEI) em 2009 para atrair líderes empresariais, eesse movimento já está ganhando veloci<strong>da</strong>de.COLABORAÇÃO INTERNACIONALO nível de colaboração científica internacional do Brasil temsido estável nos últimos cinco anos, de acordo com Vanz(2009). Entretanto, em 30%, a participação de artigos coautoraisinternacionais é significativamente menor do que os42% relatados por Glanzel (2001) para o período 1995-1996.Os cientistas dos EUA são os principais parceiros dosbrasileiros. Um estudo por A<strong>da</strong>ms e King (2009) constatouque 11% dos artigos científicos escritos por brasileirosentre 2003 e 2007 tinham pelo menos um coautor nosEUA, e 3,5% tinham um no Reino Unido. A Argentina, oMéxico e o Chile juntos representaram apenas 3,2% doscoautores dos artigos brasileiros.A colaboração científica internacional é apoia<strong>da</strong> poragências federais e estaduais por meio de iniciativas quevão desde bolsas individuais até programas multilaterais.A Capes, que é o principal órgão responsável por apoiar eavaliar os programas de pós-graduação, tem um portfóliodiverso com medi<strong>da</strong>s para financiar a colaboraçãointernacional. Em 2008, a Capes concedeu 4 mil bolsas aestu<strong>da</strong>ntes brasileiros no exterior e também mantémprogramas de colaboração bilateral com Argentina, Cuba,França, Alemanha, Países Baixos, Portugal, Uruguai e EUA.Em 2009, mais de 500 projetos conjuntos de pesquisaforam financiados a partir desses acordos.Por meio <strong>da</strong> Assessoria de Colaboração Internacional(Ascin), o CNPq dirige programas que vão desde bolsasindividuais para estrangeiros até programas regionais decolaboração científica. A América Latina e a África, queBrasil47


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>estão entre as priori<strong>da</strong>des brasileiras de colaboraçãoregional, beneficiam-se de programas específicos: oProSul e o ProÁfrica. Outros programas do CNPq enfocamcampos específicos em uma região mais ampla. Umexemplo é a Colaboração Interamericana em Materiais,envolvendo Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Jamaica,México, Trini<strong>da</strong>d e Tobago, Peru e os EUA.A própria Fapesp tem acordos de cofinanciamento depesquisas juntamente com agências no Canadá, França,Alemanha, Portugal, Reino Unido e EUA. De fato, to<strong>da</strong>s asprincipais universi<strong>da</strong>des e organizações de pesquisabrasileiras oferecem serviços de fomento à colaboraçãointernacional de pesquisa.Os cientistas e as organizações brasileiras servem emConselhos Diretores de órgãos como InterAcademy Panel,InterAcademy Council, InterAmerican Network of Academiesof Science, International Council for Science, Academy ofScience for the Developing World e diversas Associaçõesdisciplinares internacionais. A participação nesses órgãosdecisórios tem aju<strong>da</strong>do a integrar a ciência brasileira emprojetos colaborativos e de grande escala globais e locais,e tem propiciado maior exposição internacional àcomuni<strong>da</strong>de científica do Brasil.Um exemplo de um programa colaborativo de grandeescala é o telescópio <strong>da</strong> Southern Astrophysical Research(Soar), que foi comissionado em 2003. Esse telescópiocom uma abertura de 4.1-m foi programado para produziras imagens de melhor quali<strong>da</strong>de entre todos os observatóriosde sua classe no mundo. Financiado por uma parceriaenvolvendo Brasil, Chile e três instituições dos EUA, oNational Optical Astronomy Observatory, a Michigan StateUniversity e a University of North Carolina at Chapel Hill, a Soarse localiza em Cerro Pachón, a uma altitude de 2.700 m,na fronteira oeste dos picos dos Andes chilenos. Aparticipação brasileira nesse projeto tem contribuídosignificativamente para o crescimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>decientífica, resultando em um aumento no número depublicações brasileiras <strong>sobre</strong> astronomia, de 274 em 2000para 404 em 2009. Instrumentos de nível mundial, taiscomo o espectrógrafo de campo integral, foramdesenhados e construídos no Brasil para serem montadosnas instalações <strong>da</strong> Soar.Cientistas brasileiros também estão colaborando comseus colegas chineses em um ambicioso projeto paraQuadro 4: China e Brasil desenvolvem tecnologia espacialO programa Sino-Brasileiro deSatélites dos Recursos <strong>da</strong> Terra(CBERS) engloba uma família desatélites construídos conjuntamentepor Brasil e China. Esse exemplo desucesso em uma cooperação Sul-Sulde alta tecnologia envolve<strong>atual</strong>mente cinco satélites quecobrirão as áreas terrestres domundo. O CBERS-1 esteve emfuncionamento de outubro de 1999 ajulho de 2003; o CBERS-2, de outubrode 2003 a junho de 2008; e o CBERS-2B, de setembro de 2007 a maio de<strong>2010</strong>. O CBERS-3 será lançado em2011 e o CBERS-4, em 2014. O CBERS-3 e o CBERS-4 são individualmenteequipados com quatro câmeras deespectro visível, infravermelhopróximo, infravermelho de médioalcance e infra-vermelho térmico.O Brasil e a China compartilham asresponsabili<strong>da</strong>des e os custos <strong>da</strong>construção dos satélites. No Brasil,o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe) projeta a metadedos subsistemas e contrata a suafabricação junto à indústria espacialbrasileira. A participação brasileirano programa tem um custo total decerca de US$500 milhões, sendo que60% do investimento acontece naforma de contratos industriais.As informações obti<strong>da</strong>s pelos satélitesCBERS são ofereci<strong>da</strong>s em meio a umapolítica livre e aberta de disponibilizaçãode <strong>da</strong>dos. De 2004 a <strong>2010</strong>,mais de 1,5 milhão de imagens foramdisponibiliza<strong>da</strong>s a usuários no Brasil,na América Latina e na China. Essasimagens têm aplicações no estudo<strong>da</strong>s florestas e <strong>da</strong> agricultura, nogerenciamento urbano e nomapeamento geológico. O Brasilutiliza as imagens para supervisionardesmatamentos na Amazônia eavaliar o uso <strong>da</strong> terra associado agrandes plantações como a cana-deaçúcare a soja, juntamente com apecuária de corte.A China e o Brasil acor<strong>da</strong>ram umaestratégia conjunta para facilitar oacesso internacional às informaçõesde sensoriamento remoto na África.A partir de 2012, estações africanasna África do Sul, nas Ilhas Canárias,no Egito e no Gabão receberão ecompar-tilharão livremente os <strong>da</strong>dosdos satélites CBERS. Desse modo, oprograma CBERS está permitindoque o Brasil e a China contribuam àconstrução de políticas ambientaisem nível global.Fonte: www.cbers.inpe.br/48


Brasildesenvolver e operar satélites de sensoriamento remotopara a observação <strong>da</strong> Terra (Quadro 4).Outro programa decisivo para a colaboração internacionalde C&T é liderado pela Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa). A Embrapa montou laboratóriosnos EUA, Países Baixos, Reino Unido e República <strong>da</strong> Coreia,buscando fazer pontes com as mais avança<strong>da</strong>s pesquisasdo mundo. Ela também tem escritórios no Senegal,Moçambique, Máli e Gana. Estes escritórios são parte doPrograma Embrapa África, que visa desenvolver projetosde cooperação científica. Os escritórios <strong>da</strong> África tambéminteragem com governos e órgãos locais para oferecerassistência na definição de priori<strong>da</strong>des, de modo que oslaboratórios <strong>da</strong> Embrapa no Brasil possam proporcontribuições capazes de li<strong>da</strong>r com as necessi<strong>da</strong>des locais.UM PLANO DE AÇÃO PARA C&TEm 2007, o governo apresentou um Plano de Ação emCiência, Tecnologia e Inovação para o DesenvolvimentoNacional para o período 2007-<strong>2010</strong>.O Plano é um marco, na medi<strong>da</strong> em que ele agrupa amaioria <strong>da</strong>s iniciativas federais em C&T em um únicodocumento. Isso permite compreender e monitorar demodo muito melhor o sistema federal de C&T, e,hipoteticamente, avaliar a implementação do Plano,que foi bem recebido pela comuni<strong>da</strong>de científica.Entretanto tem suas deficiências. Por um lado, ele falhaem integrar os diversos ministérios federais que deveriamestar envolvidos no fomento <strong>da</strong> ciência, tecnologia einovação (CTI). As iniciativas federais também são fracamentearticula<strong>da</strong>s com as iniciativas estaduais. Ademais,em muitos casos, os setores definidos como estratégicosterminaram recebendo uma parcela menor de fundos em 2008do que em 2000, tal como vimos na Figura 2. Esse é o caso<strong>da</strong> agricultura, energia e defesa, por exemplo. Tampouco foialcança<strong>da</strong> a meta de aumentar o GERD para 1,5% do PIB.Mas essas deficiências não invali<strong>da</strong>m a utili<strong>da</strong>de do Plano.De modo geral, ele tem sido uma iniciativa positiva, e amaioria <strong>da</strong>s suas propostas foi implementa<strong>da</strong> em algunsaspectos. Essas deficiências precisarão ser corrigi<strong>da</strong>s pelospróximos planos de ação no futuro.O Plano tem quatro pilares:■Expandir, integrar, modernizar e consoli<strong>da</strong>r o sistemade inovação nacional pelo aprimoramento <strong>da</strong>coordenação em nível federal, estadual e municipal,■■■bem como entre as instituições públicas e o setorprivado. O foco está nas áreas estratégicas para odesenvolvimento nacional e tanto na renovaçãoquanto na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> cooperação internacional.Outra meta importante é aumentar o número debolsas e aju<strong>da</strong>s de custo para estu<strong>da</strong>ntes de graduação,mestrado, doutorado, pós-doutorado e pesquisadoresseniores de 102 mil em 2007 para 170 mil até 2011.Aprimorar e promover a inovação tecnológica nasempresas alimentando um ambiente propício àinovação dentro <strong>da</strong>s firmas e fortalecendo as políticasindustriais, tecnológicas e de exportação. Os alvos sãogerar emprego, aumentar a ren<strong>da</strong> e valorizar ca<strong>da</strong>estágio do processo produtivo. Uma priori<strong>da</strong>de éaumentar o número de pesquisadores ativos no setorprivado e, paralelamente, treinar recursos humanos edesenvolver uma cultura de criação de conhecimentonos negócios. Outra meta é criar uma estrutura para oSistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), que écomposto por um grupo de instituições que auxiliamas empresas no Brasil no desenvolvimento dos seusnegócios e na prestação de serviços que incluemtransferências de tecnologia e assistência. Essesserviços estão especialmente relacionados ao programaTecnologia Industrial Básica (TIB) 6 . Uma meta éaumentar o número de incubadoras de negócios eparques tecnológicos. Outra é permitir a criação deempreendimentos inovadores com gestão própria.Fortalecer a P&D em áreas estratégicas que incluembiotecnologia, nanotecnologia, agronegócios,biodiversi<strong>da</strong>de e fontes renováveis de energia. Metasespecíficas estão incluí<strong>da</strong>s para os setores nuclear,espacial, de metrologia, segurança nacional e defesa.Promover a popularização <strong>da</strong> ciência e aprimorar oensino científico, bem como a difusão tecnológica paraa inclusão social e o desenvolvimento. Odesenvolvimento social é um dos principais objetivos<strong>da</strong>s atuais políticas estaduais. As ferramentas centraissão as Olimpía<strong>da</strong>s de Matemática para EscolasPúblicas, lança<strong>da</strong>s em 2005, que atraíram 18 milhõesde participantes em 2008; a promoção <strong>da</strong> SemanaNacional de Ciência e Tecnologia todos os anos emoutubro; o apoio à criação de Telecentros em áreasrurais, a fim de diminuir o hiato digital e combater apobreza, com um programa lançado pelo Ministério<strong>da</strong>s Comunicações em 2007; e o Programa de Apoio àPesquisa e ao Desenvolvimento pela SegurançaNutricional e Alimentar. Este último foi lançado em6. Esse programa inclui metrologia, normas e padrões técnicos, emconformi<strong>da</strong>de com os padrões vigentes, proprie<strong>da</strong>de intelectual e design.Brasil49


RELATÓRIO <strong>UNESCO</strong> SOBRE CIÊNCIA <strong>2010</strong>2008 pela rede dos Institutos de Pesquisa e Tecnologiaem Ciências de Alimentos e está oferecendoinformações e serviços de consultoria a pequenas emédias empresas, bem como a fazendeiros individuaise produtores de alimentos.CONSIDERAÇÕES FINAISA partir <strong>da</strong>s questões apresenta<strong>da</strong>s acima, é evidente que oBrasil conseguiu desenvolver uma base acadêmicacompetitiva em ciências. Entretanto a academia segueenfrentando uma série de desafios. Ain<strong>da</strong> que os númerosde artigos científicos e doutorados finalizados a ca<strong>da</strong> anotenham aumentado, permanece uma falta dehomogenei<strong>da</strong>de na distribuição regional dos profissionaisacadêmicos e na base de conhecimentos do país: 60% detodos os artigos científicos se originaram em apenas seteuniversi<strong>da</strong>des, sendo que quatro delas estão no estado deSão Paulo. Também há uma falta de homogenei<strong>da</strong>de noscampos <strong>da</strong>s diferentes disciplinas. Serão necessáriosesforços nas áreas de engenharia e ciências <strong>da</strong> computação,por exemplo, para treinar mais bacharéis e doutores,expandindo assim a presença internacional do Brasil. Aomesmo tempo, o avanço do conhecimento no Brasil podese beneficiar de uma abor<strong>da</strong>gem governamental maisequilibra<strong>da</strong> entre pesquisa pura e pesquisa aplica<strong>da</strong>.Recentemente, pôde-se observar uma tendênciaaparentemente excessiva a direcionar os anúncios deprojetos para objetivos específicos. Isso prejudica a pesquisamovi<strong>da</strong> pelo interesse puro, que é a pedra angular de umsistema acadêmico forte.A P&D industrial precisa receber uma atenção ain<strong>da</strong> maiordo que a pesquisa acadêmica. Ela continua sofrendo com afalta de apoio governamental, ain<strong>da</strong> que a situação tenhamelhorado radicalmente nos últimos oito anos. Espera-seque medi<strong>da</strong>s recentes como a lei de inovação (2004) e suasconsequências, tais como a reestruturação <strong>da</strong> legislação deincentivos fiscais e a introdução de uma política desubsídios, tenham um forte impacto <strong>sobre</strong> a P&D industrial.Essas medi<strong>da</strong>s se enquadram na Política Industrial,Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) adota<strong>da</strong> em2003. O surgimento do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) como fonte de financiamentopara o desenvolvimento tecnológico e a P&D industrial épossivelmente o mais importante estímulo à P&D industrialno país em muitos anos.Como vimos, o financiamento à pesquisa sai principalmentedo erário (55%). O Brasil está abaixo <strong>da</strong> média <strong>da</strong> OCDEtanto na sua relação GERD/PIB (1,09%) quanto na proporçãode GERD contribuí<strong>da</strong> pelo governo (0,59%). Para alcançar amédia <strong>da</strong> OCDE de financiamento público à P&D, o Brasilprecisaria investir um adicional de R$ 3,3 bilhões (US$2,3bilhões PPP). Esse montante corresponde, grosso modo,a três vezes o orçamento do CNPq.O maior hiato de todos em relação aos países <strong>da</strong> OCDE dizrespeito aos gastos empresariais com P&D. Aqui, a média <strong>da</strong>OCDE (1,58% do PIB) é três vezes maior do que a do Brasil(0,48% do PIB). Alcançar a OCDE deman<strong>da</strong>ria a tarefahercúlea de aumentar os gastos privados em P&D de US$9,95 bilhões em 2008 para US$33 bilhões. Esse desafio pedeinstrumentos de políticas públicas muito mais efetivos doque os que foram empregados até o momento pelo Estadobrasileiro. Ademais, eles não devem ser restritos aosinstrumentos financeiros, tais como subsídios governamentais,reduções de impostos e políticas de compraspúblicas, mas devem também incluir os instrumentosjurídicos e políticos necessários para a criação de umambiente propício ao investimento privado em P&D.Uma observação final se faz aqui necessária <strong>sobre</strong> umquestionamento que surge com frequência nos círculospolíticos no Brasil: por que o dinheiro dos contribuintesdeveria pagar pela P&D? Como uma resposta preliminar,podemos afirmar que existem pelo menos duas justificativasigualmente váli<strong>da</strong>s. Uma é que a contribuição ao acervouniversal do conhecimento torna os brasileiros mais capazesde determinar o seu próprio destino. Assim como as pessoasem todos os lugares, os brasileiros se perguntam: comocomeçou o universo? Como ele funciona? Por que a socie<strong>da</strong>dese comporta <strong>da</strong> maneira como ela se comporta? O quemotiva os seres humanos à prática do bem ou do mal?Compreender os clássicos <strong>da</strong> literatura e apreciar a naturezae a arte são partes <strong>da</strong>quilo que faz de nós humanos. Investigálase um infinito número de outras questões é algo que nosenriquece. Sozinha, já seria uma razão suficiente para o usodo dinheiro dos contribuintes para a busca de respostascientificamente embasa<strong>da</strong>s – ain<strong>da</strong> que incompletas – paraas perguntas fun<strong>da</strong>mentais, aprimorando assim o nossoconhecimento do universo e <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Essa aspiraçãoestá obviamente muito mais liga<strong>da</strong> à esfera <strong>da</strong>suniversi<strong>da</strong>des do que à <strong>da</strong> indústria ou do setor privado.O outro motivo pelo qual o dinheiro dos contribuintes devefinanciar a P&D parece bem mais popular na <strong>atual</strong>i<strong>da</strong>de doque a primeira justificativa acima: quanto maisconhecimento uma socie<strong>da</strong>de alcançar valendo-se dométodo científico, mais rica ela se torna. Essa visão utilitáriatem um forte apelo, especialmente desde a descoberta dogenoma e <strong>da</strong> energia atômica, e <strong>da</strong> invenção do transistor e<strong>da</strong> internet.50


BrasilA nosso ver, ambas as razões são complementares, ao invésde antagônicas, uma vez que ambas percebem a ciênciacomo força produtiva. Esse raciocínio depende fortemente<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> indústria e de outros empreendimentosaprimorarem o padrão de vi<strong>da</strong> dos brasileiros, provandoassim o seu valor.O desafio para o Brasil será unir esses dois motivos em umresultado efetivo, criando condições nas quais as universi<strong>da</strong>dese as empresas priva<strong>da</strong>s possam, nas palavras de FrancisBacon 7 , buscar a pesquisa “boa e sadia”, tornando o país umlugar melhor e um membro pleno no concerto <strong>da</strong>s nações.MOWERY, D.C. et. al. The Effects of the Bayh-Dole Act on USResearch and Technology Transfer, in Lewis M. et. al.Industrializing knowledge: university–industry linkages inJapan and the United States. USA: Harvard UniversityPress, 1999.VANZ, Samile Andréa de Souza. As redes de colaboraçãocientífica do Brasil 2004–. Tese de PhD. Universi<strong>da</strong>deFederal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.Disponível em: www.lume.ufrgs.br/SÍTIOS DA INTERNETBrasilREFERÊNCIASABCR e Thomson Venture Economics. Report for the SecondSemester of 2003. 30 April, 2006.ALONSO, Wladimir J.; FERNÁNDEZ-JURICIC, Esteban (2002)Regional network raises profile of local journals. Nature,415 (on-line).Associação Brasileira de Capital de Risco (BrazilianAssociation of Venture Capital). Disponível em: /www.capitalderisco.gov.br/vcn/BUENO, Rachel Sucesso de público impulsiona desenvolvimentode carros que aceitam espécies diferentes decombustível, in Inovação Unicamp, 27 de fevereiro, 2006.Disponível Em www.inovacao.unicamp.br/report/newsautobosch.shtmlCAPES. Plano Nacional de Pós-graduação 2005. Brasília, 2005.Disponível em: www.capes.gov.br/capes/portal/conteudo/ 10/PNPG.htmGLANZEL, W. National characteristics in international scientificco-authorship relations. Scientometrics 51(1):69-115, 2001.IEDI. Desafios <strong>da</strong> Inovação - incentivos para inovação: O quefalta ao Brasil. International Education DevelopmentInitiative. Fevereiro <strong>2010</strong>. Disponível em: www.iedi.org.br/admin_ori/pdf/<strong>2010</strong>0211_inovacao.pdfINTERACADEMY COUNCIL (2006) Inventing a better future.Disponível em: www.interacademycouncil.netJOLY, C.A. et al. (<strong>2010</strong>) Biodiversity conservation research,training, and policy in São Paulo. Science 328, pp.1358-1359, <strong>2010</strong>.LETA, J.; BRITO Cruz, C.H. A produção científica brasileira, inVIOTTI, E.B. and MACEDO, M.M. (eds) Indicadores deciência e tecnologia no Brasil, pp.121-168. Campinas:Editora <strong>da</strong> Unicamp, 2003.LOVINS, A.B. et.al, N.J. The oil end game, 2004.Disponível em: www.oilendgame.com/ReadTheBook.html7. Francis Bacon (1561–1626), filósofo, estadista, jurista, cientista eadvogado britânico, considerado o Pai do Empirismo.Financiadora de Estudos e Projetos: www.finep.gov.brMovimento pela Inovação Empresarial (Confederação Nacional<strong>da</strong> Indústria): www.cni.org.br/inovacao/Indicadores de Ciência e Tecnologia, Ministério <strong>da</strong> Ciência eTecnologia: www.mct.gov.br/index.php/content/view/73236.htmlScientific Electronic Library Online (Scielo):www.scielo.orgCarlos Henrique de Brito Cruz nasceu no Rio deJaneiro em 1956. É Diretor Científico <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)no Brasil e Professor do Instituto de Física GlebWataghin, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Campinas (Unicamp).Ocupou diversos outros cargos na Unicamp,incluindo o de Reitor, Decano de Pesquisa e Diretordo Instituto de Física. Suas linhas de pesquisaenglobam política científica e o estudo defenômenos ultrarrápidos com o uso de lasersfemtosecond. O Professor Brito Cruz é membro <strong>da</strong>Academia de Ciências do Estado de São Paulo e <strong>da</strong>Academia Brasileira de Ciências.Hernan Chaimovich nasceu no Chile em 1939.Bioquímico, é Professor Catedrático do Instituto deQuímica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo e DiretorExecutivo (CEO) <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Butantan. Suascontribuições científicas têm como enfoquevesículas de surfactantes sintéticos, efeitos deinterface <strong>sobre</strong> reativi<strong>da</strong>de química e biológica,proteínas desacopladoras mitocondriais econsequências <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de de ligações iônicas<strong>sobre</strong> interfaces. Suas linhas de pesquisa incluemeducação superior, ciência, tecnologia e inovação.É membro de diversas socie<strong>da</strong>des de estudiosos,incluindo a Academia Brasileira de Ciências e a Academiade Ciências para o Mundo em Desenvolvimento.51


Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões neleexpressas, que não são necessariamente as <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong>, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e aapresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte <strong>da</strong> <strong>UNESCO</strong> arespeito <strong>da</strong> condição jurídica de qualquer país, território, ci<strong>da</strong>de, região ou de suas autori<strong>da</strong>des, nem tampouco adelimitação de suas fronteiras ou limites.


A ca<strong>da</strong> cinco anos, a série Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência faz umareavaliação do <strong>status</strong> <strong>da</strong> ciência em torno do mundo. Esta edição trazuma visão global de muitos desenvolvimentos e tendências empesquisa científica, inovação e educação superior no mundo desde apublicação do Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência 2005. Assim como os seusantecessores, o Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> foi redigido poruma equipe de especialistas independentes que cobre o país ou aregião de sua experiência.A versão em português do Relatório <strong>UNESCO</strong> <strong>sobre</strong> Ciência <strong>2010</strong> inclui ocapítulo 1 <strong>sobre</strong> o crescente papel do conhecimento na economiaglobal e o capítulo 5 <strong>sobre</strong> o Brasil. O relatório completo, em inglês,pode ser consultado em: .Organização<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spara a Educação,a Ciência e a Cultura1Representaçãono BrasilO relatório completo, em inglês, pode ser consultado em:.Para solicitar à <strong>UNESCO</strong> Publishing cópias do relatório completo,em inglês, consulte o site: www.unesco.org/publishing ou entrar emcontato: publishing.promotion@unesco.org

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