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Artigo de Opiniao - Fundação Itaú Social

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O preço<br />

Aluna: Antonia Eliane Gomes<br />

Situado no norte do Brasil e próximo ao Atlântico, o Estado do Amapá vem<br />

atraindo os olhares do capital estrangeiro ligado a empresas mineradoras, que<br />

vêem no Estado gran<strong>de</strong>s oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> matéria-prima como<br />

o ouro, a tantalita, e, claro, a viabilida<strong>de</strong> econômica. Mas quem sofre com isso<br />

na “pele”, ou melhor, nas folhas, é a Floresta Amazônica e os povos tradicionais<br />

da floresta.<br />

Nos anos 1980, vivíamos tempos calmos, mas “puros”. Hoje, temos outra<br />

visão, o belo que ainda existe tenta sobreviver em momentos turbulentos. A<br />

floresta luta contra o chamado “progresso”. Confesso que a idéia <strong>de</strong> “progresso”<br />

aflige-me, pois sei que, além <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada, acesso à tecnologia,<br />

criação <strong>de</strong> infra-estrutura e benefícios econômicos, ele também propaga a<br />

miséria, a prostituição, a violência, a agressão ao ecossistema e o <strong>de</strong>semprego,<br />

porque a mão-<strong>de</strong>-obra local não é aproveitada por não ser qualificada; as<br />

crianças são vítimas da prostituição, tornando-se mercadorias sexuais nas<br />

mãos dos mineradores e garimpeiros que são atraídos pelo ouro, o ver<strong>de</strong> dá<br />

lugar à miséria e ao mercúrio, pois o tal “progresso” tem um preço e a dívida é<br />

paga a longo prazo.<br />

Nas décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980 houve projetos que visaram megaempreendimentos<br />

no Amapá, como a exploração <strong>de</strong> manganês na Serra do Navio, mas o<br />

que a Indústria e Comércio <strong>de</strong> Minérios S. A. (Icomi), associada à Bethehen Steel,<br />

multinacional norte-americana <strong>de</strong> aço, nos <strong>de</strong>ixou foi uma herança maldita: o arsênio,<br />

produto químico proce<strong>de</strong>nte da extração do manganês que ficou durante<br />

décadas exposto a céu aberto, contaminando a maior parte da população da<br />

pequena Vila <strong>de</strong> Elesbão, localizada no município <strong>de</strong> Santana, on<strong>de</strong> moradores<br />

que contraíram problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> gravíssimos, como o câncer, <strong>de</strong>vido à superexposição<br />

a esse produto, até agora não receberam a <strong>de</strong>vida assistência para<br />

amenizar as dores provocadas por esse <strong>de</strong>scaso.<br />

Outro exemplo <strong>de</strong> empreendimento que contribuía para a <strong>de</strong>gradação do<br />

meio ambiente no Amapá foi o Projeto Jari, aprovado pela Superintendência<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1969.<br />

Voltado para a produção <strong>de</strong> celulose, arroz, gado, caulim e bauxita, foi um<br />

sonho do norte-americano Daniel Ludwig, que se tornou pesa<strong>de</strong>lo, pois os<br />

empreendimentos não <strong>de</strong>ram certo porque não foi realizado um estudo prévio<br />

do solo e do clima da região para verificar a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com essas<br />

culturas na Amazônia. O arroz não se adaptou à região, o custo financeiro da<br />

criação <strong>de</strong> gado e da exploração da bauxita era alto.<br />

Atualmente só funciona o setor responsável pela celulose, pois o eucalipto e o<br />

pinho adaptaram-se ao clima e ao solo amazônico. Agora, a população <strong>de</strong> Vitória<br />

do Jari e <strong>de</strong> Laranjal do Jari convivem com o odor insuportável proveniente da<br />

queima dos resíduos químicos das cal<strong>de</strong>iras da fábrica <strong>de</strong> celulose, e do rio Jari,<br />

contaminado pelos <strong>de</strong>jetos proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>.<br />

Hoje a bola da vez é a Pedra Branca do Amapari, um município próximo à<br />

Serra do Navio, on<strong>de</strong> a Mineradora MMX (Mineração e Metálicos) ganhou não<br />

só o “direito” <strong>de</strong> explorar os minérios, mas também a miséria, a “inocência” e a<br />

“ignorância” dos moradores. Vejo a história se repetir, e todos estão novamente<br />

sob o efeito <strong>de</strong> “progresso”. No entanto, pergunto-me: até quando pagaremos<br />

o preço pelo progresso? Quem dará mais pela floresta? Vamos “pagar pra ver”?!<br />

Nossas crianças ainda estão aqui.<br />

Quero <strong>de</strong>ixar claro que não sou contra a idéia <strong>de</strong> progresso, porém <strong>de</strong>fendo<br />

que ele ocorra com responsabilida<strong>de</strong> e em beneficio da população, não para<br />

favorecer especuladores e oportunistas, que lucram com a miséria do povo e a<br />

<strong>de</strong>gradação dos recursos naturais amazônicos.<br />

Professora: Cláudia Patrícia Nunes Almeida Escola: E. E. Sebastiana Lenir <strong>de</strong> Almeida Cida<strong>de</strong>: Macapá – AP<br />

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