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Artigo de Opiniao - Fundação Itaú Social

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Santo Antônio: heroi ou vilao?<br />

Aluna: Ellen Zancan Lopes<br />

A construção <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> Santo Antônio em cima do morro que leva<br />

o mesmo nome tem causado muitas discussões em nosso município. São vários<br />

os prós e os contras, as acusações e até mesmo os prejulgamentos. O povo <strong>de</strong><br />

Caraguatatuba está dividido entre os que querem que o santo permaneça on<strong>de</strong><br />

está e outros que mal esperam vê-lo morro abaixo.<br />

Particularmente, penso que o Santo Antônio é, em primeiro lugar, parte<br />

da cultura e da fé da Igreja Católica, e não um monumento ecumênico ou<br />

<strong>de</strong>svinculado <strong>de</strong> qualquer religião; portanto, construí-lo em local tão público<br />

é um tanto quanto ousado e até mesmo <strong>de</strong>srespeitoso com aqueles que não<br />

compartilham da mesma profissão <strong>de</strong> fé dos católicos. Além disso, a obra foi<br />

edificada em lugar <strong>de</strong> preservação ambiental, um dos poucos on<strong>de</strong> a natureza<br />

ainda reina soberana. Os ambientalistas afirmam que a pavimentação do<br />

caminho que dá acesso ao santo ten<strong>de</strong> a prejudicar <strong>de</strong>masiadamente a fauna<br />

e a flora nativas, e os turistas e comerciantes ambulantes que têm andado por<br />

lá em gran<strong>de</strong>s grupos já afastaram a mata em cerca <strong>de</strong> três metros <strong>de</strong> seu local<br />

habitual, <strong>de</strong>ixando assim suas marcas na natureza.<br />

Outro aspecto significativo é que, <strong>de</strong> acordo com o chefe do escritório do<br />

Ibama <strong>de</strong> Caraguatatuba, Leonardo Teixeira, a prefeitura possuía autorização<br />

para realizar somente melhorias no Morro Santo Antônio. A construção não<br />

estava prevista no projeto.<br />

Boa parte da população também questiona sobre o fato <strong>de</strong> que os 124.000<br />

reais investidos na construção – segundo o artista responsável pela obra, Irineu<br />

Migliorini – po<strong>de</strong>riam ter sido mais bem empregados em outros setores mais<br />

carentes <strong>de</strong> benefício: saú<strong>de</strong>, educação, saneamento básico e habitação, pois<br />

são áreas que necessitam ser melhoradas em nossa cida<strong>de</strong>.<br />

Argumentos não faltam para mostrar o quanto essa construção tem afetado<br />

negativamente Caraguatatuba, em aspectos tão diversos e profundos, que<br />

somente o caiçara nativo é capaz <strong>de</strong> avaliar.<br />

Por outro lado, há os que opinam favoravelmente à permanência do Santo<br />

Antônio no morro e afirmam, aliás, corretamente, que o turismo religioso no<br />

município tem aumentado consi<strong>de</strong>ravelmente, gerando emprego e lucros. O<br />

secretário <strong>de</strong> Meio Ambiente da nossa cida<strong>de</strong>, Auracy Mansano, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> também<br />

que não houve <strong>de</strong>srespeito algum à legislação ambiental porque a área on<strong>de</strong> o<br />

santo foi construído já estava <strong>de</strong>gradada e não foi necessário cortar nenhuma<br />

árvore para realizar a obra.<br />

Entretanto, o que constatamos no Código Florestal, Lei nº 4.771, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1965, é que o topo do morro é uma área <strong>de</strong> preservação permanente<br />

(APP) e nesse caso não somente a <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> árvores é consi<strong>de</strong>rada crime<br />

ambiental – punível com prisão e/ou multa –, como também dificultar a<br />

regeneração natural <strong>de</strong> florestas e <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> vegetação constitui infração.<br />

Enfim, questiono-me se é justo a natureza pagar uma vez mais pela ganância<br />

absurda e soberba humana, ou que outras pessoas <strong>de</strong> religiões diversas sejam<br />

obrigadas a conviver com um monumento que chega a ofen<strong>de</strong>r a sua crença.<br />

Realmente, não é justo nem correto. Possam alguns <strong>de</strong> nossos políticos e<br />

conterrâneos perceber que hoje é mais do que nunca tempo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

religiosa e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar, pelo menos uma vez, a natureza vencer e reinar absoluta<br />

com sua <strong>de</strong>spretensiosa exuberância.<br />

Professora: Maria Célia Destéfani Rossit Escola: E. E. Alci<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Castro Galvão Cida<strong>de</strong>: Caraguatatuba – SP<br />

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