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REAÇÃO TERAPÊUTICA NEGATIVA E O REAL NA CLÍNICA ...

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<strong>REAÇÃO</strong> <strong>TERAPÊUTICA</strong> <strong>NEGATIVA</strong> E O<strong>REAL</strong> <strong>NA</strong> <strong>CLÍNICA</strong> PSICA<strong>NA</strong>LÍTICAO objetivo desse trabalho é investigar na clínica da neurose, os sujeitosem análise que desenvolveram o fenômeno de reação terapêutica negativa,deflagrando em cena, o Real da clínica.A gravidade desse quadro clínico é que alguns pacientes simplesmenteparam suas análises, e permanecem num estado tomado de uma cultura de pulsãode morte.Mas o que é então, a reação terapêutica negativa em Freud?Ocorre quando o paciente prefere sofrer a ser curado, por existir umsentimento de culpa inconsciente ou “necessidade de punição” derivado domasoquismo moral.Ao invés de melhorar, há uma satisfação pulsional em estar doente e osujeito procura a punição através do sofrimento. Este sentimento de culpa édifícil de esclarecer, uma vez que o paciente não se sente culpado, só se sentedoente. Não é de uma resistência do desejo do sujeito em prosseguir a análise.Trata-se de um fenômeno com dois fatores seríssimos, de naturezasemelhante, que dominam a situação:O primeiro fator é derivado do impetuoso supereu;O segundo é um desintrincamento pulsional, onde larga quantidade depulsão de morte livre retornaria ao eu. Somando-se ao masoquismo primordial,causando grande destrutividade, a ponto de poder ser a causa da morte real (osuicídio) ou da morte simbólica (morte do desejo). Portanto, constitui um dosmaiores impedimentos à efetividade da análise.Segundo Lacan (1948) determinados pacientes manifestam uma “orgulhosareivindicação de sofrimento” onde o que importa é que o “paciente sejadesgraçado”. Uma hipótese, nesse caso, seria que na transferência, numa dasreedições do Édipo, o sujeito procurasse a qualquer preço sua libertação, fugindoda fantasia de sua rejeição original, “não ter nascido seria melhor destino - mefunai” (LACAN, 1958). Inicialmente, a agressividade seria dirigida para a figurado analista, que o analisando julga “sereno, satisfeito e confortável”. E nummomento posterior se manifestariam propriamente os dois fatores presentes nareação terapêutica negativa, como nos descreve Freud.Como, então, opera a conjunção supereu sádico, masoquismo do eu e uma largaquantidade de desintrincamento pulsional?Masoquismo PrimordialDestaca-se que o masoquismo primário diz respeito a um resto de pulsãode morte que não foi desviada para fora junto com a libido como forma de pulsãode destruição, domínio/sexualidade e poder.Como o esquema abaixo:SupereuDestacaremos a face do supereu que nos interessa. Sua face cruelequivalente ao imperativo categórico Kantiano. Assim quando Freud expõe sobreas cobranças feitas pelo supereu ao eu, que são exageradas, desmesuradas,conflitantes com a realidade, podemos visualizar que as determinações de gozodo supereu são impossíveis de serem cumpridas. Este gozo não é gozo fálico,sexual, mas sim o que Lacan chama de gozo do grande Outro. Gozo que se refereao pai da horda primitiva, operando como gozo puro. O supereu que diz: Goza!(LACAN, 1971). Sabemos, então, que obedecer a esse gozo é impraticável,porque, caso fosse obedecido, o sujeito se depararia com sua morte, seuapagamento enquanto sujeito. (LACAN, 1960)Mas, quanto mais se abdica, no que concerne ao gozo, mais exigente setorna o supereu, “o sentimento de culpa nada mais é do que uma variedadetopográfica da angústia”. (FREUD, 1930)Masoquismo MoralEm seu trabalho O problema econômico do masoquismo, Freud, ao falardo masoquismo moral, tenta teorizar e explicar o funcionamento da reaçãoterapêutica negativa definindo-a como uma forma patológica extrema einconfundível desse masoquismo. E vai concluir que o fato do masoquismomoral ser inconsciente significa que esse sentimento inconsciente de culpa estáligado a uma necessidade de punição às mãos de um poder paterno. Vale entãodestacar que é inconsciente porque diz respeito ao desejo proibido edipiano.Sabe-se que a consciência moral surge pela dessexualização do complexode Édipo. Mas com o masoquismo moral, a moralidade é novamente sexualizadae se revive o Édipo. Isso leva o sujeito a tentações ‘pecaminosas’ que estão sob avigia da consciência sádica ou castigo do poder parental Destino. “A fim deprovocar a punição desse último representante dos pais, o masoquista deve fazero que é desaconselhável, (...), talvez, destruir sua própria existência real (...).Podemos supor que essa parte da pulsão destrutiva que se retirou aparece no eucomo uma intensificação do masoquismo. (...) a destrutividade que retorna domundo externo é também assumida pelo supereu, sem qualquer transformaçãodesse tipo, e aumenta seu sadismo contra o eu. O sadismo do supereu e omasoquismo do eu suplementam-se mutuamente e se unem para produzir osmesmos efeitos” (FREUD, 1924).Desintrincamento Pulsional (Triebentmischung)Temos em Lacan (1958), a referência de que é pelo fato da fantasiafundamental estar para além do princípio do prazer, que a reação terapêuticanegativa também está em relação com o desejo e o gozo.O desejo no momento em ocorre o fenômeno da reação terapêuticanegativa parece estar obnubilado ou suspenso em prol do cruel supereu. Dandomargens ao ponto máximo da separação de Eros e Tânatos. Como sabemos nessadesunião é inevitável a saída do objeto a do circuito pulsional. O sujeitoidentificado ao objeto sai da cadeia significante.Como constatado, as pulsões não estão desvinculadas, se apresentam,num intrincamento, fusão ou mistura entre a pulsão de morte e a libido. O objetoa se encontra na interseção de Eros e da pulsão de morte. Ele apresenta duasvalências: objeto agalmático (objeto de desejo) e de rebotalho (dejeto simbólico).Sobretudo esse rebotalho é o objeto de angústia. Nosso impasse é que: onde hádesintrincamento pulsional - a interpretação não tem mais alcance. O sujeito ficaa mercê da cultura de pulsão de morte.(QUINET, 2002)Então temos a condição masoquista originária que nos traz o sujeito paraa posição de objeto. Foi o Outro primordial, em sua ação significante dalinguagem que marcou isso no sujeito. Marca essa de gozo, dimensão desatisfação, que na repetição, age contra a vida. Assim o gozo masoquista é o quevem a subverter o princípio do prazer e da realidade. O masoquismo primário é oresto da união pulsional onde se tem o ser do sujeito como objeto a, esse restoreal. No masoquismo primordial é exatamente a parte da pulsão de morte quenão está unida com a libido que retornará ao sujeito.Podemos visualizar o desintrincamento no esquema abaixo:A estrutura da pulsão: partindo dosujeito fazendo a volta no objeto e retornando para o sujeito. Depois desua volta completa - sujeito é seu objeto. (LACAN, 1964)(QUINET, 2002)Nessa perspectiva - sujeito como objeto - passaremos ao:


Considerações finais:A partir do estudo do fenômeno da reação terapêuticanegativa em Freud e Lacan e de alguns casos clínicospodemos articular que: a reação terapêutica negativa é umfenômeno oriundo da pulsão de morte, que nos assinala umdos destinos da transferência na análise. Nesse fenômeno,assim como no gozo do sintoma em sua dimensão deresistência temos manifestações clínicas que mostram aface voraz do supereu, o real.No momento de um desintrincamento pulsional, temos umasituação limite. A clínica do ato seria a única resposta, parauma possível forma de fisgar novamente esse sujeito,outrora fora da cadeia significante.O analista está implicado nisso de que forma? E o analisando?Em relação aos impasses freudianos, Lacan se aparelha do ato analítico,num caminho particular para alcançar a travessia da fantasia. O analista apontapara o sujeito, que se encontra atracado em seu fantasma, a possibilidade de umaapropriação de seu desejo e o reconhecimento da inconsistência do Outro. O atoanalítico então será uma resposta distinta a da fantasia fundamental (resposta dosujeito neurótico)- a esse ponto do Urverdrängung (recalque originário) emasoquismo primordial.Além disso, “a análise afrouxa o torno (...)” da força exercida pelo sentimentode culpa no neurótico, “mas há um limite: o simbólico não chega a seencarregar de todo gozo, persiste algo dele (...) no fenômeno de reaçãoterapêutica negativa, o sujeito se curva sob a carga. (...). Assim, embora apsicanálise exerça um impacto sobre a culpa, não é certo que consiga, natotalidade dos casos, fazer com que o neurótico se decida a “cumprir seu dever”como diz Lacan. “(...) a psicanálise, por sua vez define um dever sem Outro,porque ali onde o Outro não responde, isto é, no gozo, somente o sujeito poderesponder, e é a ele que compete a responsabilidade pelo gozo.” (SOLER, 2007).Abaixo trecho de um poema intitulado “Encruzilhada” de uma paciente comreação terapêutica negativa:______. (1971) O Seminário, livro 18: De um discurso e não fosse semblante.Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 2009.QUINET, A. Extravios do desejo: depressão e melancolia. Rio de Janeiro:Rios Ambiciosos, 2002.SOLER, C. Inconsciente a céu aberto da psicose. Rio de Janeiro: J. ZaharEditor, 2007.VIDAL, E. Masoquismo originário: ser de objeto e semblante. LetraFreudiana nº5, nº10/11/12, 1992.Rosana Maldonado TorresMestranda em Pesquisa e Clínica em Psicanálise UERJMembro participante de FCCL-RJ e do Fórum Campo do Lacaniano-RJe-mail: rosanamaldonadotorres@gmail.com“Que às vezes, como agora.Seria melhor desistir;Mas como resistir a ver o mar?Se eu soubesse uma resposta,Talvez também tivesse forças;Mas elas são todas feias;Só me interessa uma:A que você não quer me dar”.J. estava em análise há 6 anosReferências BibliográficasALBERTI, S. Esse sujeito adolescente. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.FREUD, S. (1913) Totem e Tabu. In: Edição Standard Brasileira das ObrasPsicológicas Completas de Sigmund Freud (ESB). Rio de Janeiro:Editora Imago, 2006, v. 13______. (1919) Uma criança é espancada. In: ESB, op. cit., v.17______. (1923) Ego e o Id. In: ESB, op. cit., v.19______. (1924) O Problema Econômico do Masoquismo. ESB, op. cit., v.19______. (1930) O Mal estar na civilização. In: ESB, op. cit., v. 21______. (1937) Análise terminável e interminável. In: ESB, op. cit., v. 23______. (1938[1940]). Esboço de Psicanálise In: ESB, op. cit., v.21LACAN, J. (1948) A agressividade em Psicanálise. In: Escritos. Rio deJaneiro: J. Zahar, 1998.______. (1957-1958). O Seminário, livro 5: Formações do Inconsciente. Riode Janeiro: J. Zahar, 1999.______. (1959-1960). O Seminário, livro 7: A ética da Psicanálise. Rio deJaneiro: J. Zahar, 1997.______. (1964). O Seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais dapsicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1992.

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