Arte Moderna Italiana, Fascismo e o Colecionismo Privado ... - CBHA

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XXXII Colóquio CBHA 2012 - Direções e Sentidos da História da Artefotografia de reprodução da obra, que a intitula “Testa diBalilla” (ou “Cabeça de Balilla”) e como obra presente naQuadrienal de 1935 12 . À luz dessas novas evidências edo fato de que posteriormente ela pertenceu à coleçãoCardazzo, deveremos propor uma revisão de sua análise.Do ponto de vista da composição, a obra ainda guarda umarelação com a tradição do retrato renascentista italiano, derepresentantes do poder instituído, tomadas de perfil, aomodelo dos imperadores e políticos romanos da Antiguidade.Do ponto de vista da pincelada e da fatura, reconhecemosaqui o apreço de Mafai por um gesto mais expressionista,com uma superfície menos lisa, feita de pinceladas maislargas. Nesse sentido, “Menino” ou “Cabeça de Balilla”parece propor uma síntese entre a grande tradição italianae a pesquisa modernista expressionista.O que ainda está por ser devidamente investigadodiz respeito ao retratado. Como dito anteriormente, a obrachega ao acervo do antigo MAM de São Paulo com o títulode “Menino”. Que ela apareça como “Cabeça de Balilla” naQuadrienal de 1935 leva a outras questões. Não sabemosao certo se este era o título originalmente dado à obra pelopróprio artista. Por outro lado, ele parece servir à lógica dapropaganda fascista. A organização Opera Nazionale Balilla(ou ONB), criada em 1926, depois que Mussolini nomeia oex-ardito Renato Ricci à pasta da educação, foi um dosprimeiros braços de propaganda ideológica do PartidoNacional Fascista nas escolas primárias e secundáriasitalianas, que funcionou como complementação à formação12Fundo fotográfico do Arquivo da Fondazione Quadriennale di Roma, consultado em14 de junho de 2011.1556

Arte Moderna Italiana, Fascismo e o Colecionismo Privado dos Anos 1930-40 - Ana Gonçalves Magalhãesescolar até 1937, sendo daí absorvida pela GioventùItaliana del Littorio. A organização toma como modelo asassociações de escoteiros ingleses, que Ricci chega avisitar em sua pesquisa para o projeto italiano. Meninos emeninas entre 8 e 14 anos eram alistados na organizaçãopor determinação da política fascista, pois ela eracompreendida como complementar à formação cultural efísica dos jovens através de exercícios militares. No quadrode Mafai, podemos identificar alguns elementos do uniformede um Balilla, isto é, a camisa preta e o lenço no pescoçoem tom de azul. Ao que tudo indica, então, ao contráriodos casos acima apresentados, não é um representante doNovecento Italiano ou da experiência do “Retorno à Ordem”na Itália que parece servir explicitamente à promoção danova arte italiana como reflexo da Nova Itália, e sim umartista ligado às vertentes anti-novecento.Procurei apresentar aqui os primeiros indícios quelevam à problematização de uma leitura consolidada quetemos sobre a arte moderna italiana no período do entreguerrase suas vinculações com o ideário da Itália fascista.Mais do que atentar somente para determinadas vertentesou escolas artísticas que foram cooptadas ou foram criadaspara a propaganda do regime fascista, assim como parauma iconografia política mais explícita, creio que nos cabeestudar as relações e sistemas que permitiram a circulaçãoda arte moderna italiana e como ela pôde se reformularcom o fim da II Guerra Mundial. No caso das aquisiçõesMatarazzo para a criação do antigo MAM de São Paulo,vemos a mesma rede de agentes operarem antes, durante e1557

<strong>Arte</strong> <strong>Moderna</strong> <strong>Italiana</strong>, <strong>Fascismo</strong> e o <strong>Colecionismo</strong> <strong>Privado</strong> dos Anos 1930-40 - Ana Gonçalves Magalhãesescolar até 1937, sendo daí absorvida pela Gioventù<strong>Italiana</strong> del Littorio. A organização toma como modelo asassociações de escoteiros ingleses, que Ricci chega avisitar em sua pesquisa para o projeto italiano. Meninos emeninas entre 8 e 14 anos eram alistados na organizaçãopor determinação da política fascista, pois ela eracompreendida como complementar à formação cultural efísica dos jovens através de exercícios militares. No quadrode Mafai, podemos identificar alguns elementos do uniformede um Balilla, isto é, a camisa preta e o lenço no pescoçoem tom de azul. Ao que tudo indica, então, ao contráriodos casos acima apresentados, não é um representante doNovecento Italiano ou da experiência do “Retorno à Ordem”na Itália que parece servir explicitamente à promoção danova arte italiana como reflexo da Nova Itália, e sim umartista ligado às vertentes anti-novecento.Procurei apresentar aqui os primeiros indícios quelevam à problematização de uma leitura consolidada quetemos sobre a arte moderna italiana no período do entreguerrase suas vinculações com o ideário da Itália fascista.Mais do que atentar somente para determinadas vertentesou escolas artísticas que foram cooptadas ou foram criadaspara a propaganda do regime fascista, assim como parauma iconografia política mais explícita, creio que nos cabeestudar as relações e sistemas que permitiram a circulaçãoda arte moderna italiana e como ela pôde se reformularcom o fim da II Guerra Mundial. No caso das aquisiçõesMatarazzo para a criação do antigo MAM de São Paulo,vemos a mesma rede de agentes operarem antes, durante e1557

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