13.07.2015 Views

Os sons da fala - Instituto UFC Virtual - Universidade Federal do ...

Os sons da fala - Instituto UFC Virtual - Universidade Federal do ...

Os sons da fala - Instituto UFC Virtual - Universidade Federal do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010<strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>J.A.C. Uchoa 1ResumoEstu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong> com atenção ao português nordestino, para alunos deLetras com poucos contatos diretos com o professor. Combina-se com textos deaula em ambiente virtual e tarefas de observação de produções orais, inclusive emvídeo.Palavras-chaveLíngua Portuguesa, Português cearense, Fonologia, Fonética, Fonêmica, Ortografia,Grafia, Meios de expressão.1. Início de conversaEste é um primeiro texto para disciplina de Fonologia <strong>do</strong> Português, dedica<strong>do</strong> quaseexclusivamente à fonética articulatória, aplica<strong>do</strong>-a ao português. Está planeja<strong>do</strong> para acomplementação e o aprofun<strong>da</strong>mento de matéria conti<strong>da</strong> nas aulas <strong>do</strong> Curso de Letrassemipresencial <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, mas pode ser utiliza<strong>do</strong> como texto independente emoutros tipos de cursos de fonologia. Esta versão, de março de 2010, tem pontos por corrigir.Dos textos que conhecemos em vernáculo, uns parecem pouco adequa<strong>do</strong>s àscaracterísticas de um curso semipresencial de curta duração e com pouca assistência deprofessor em sala real. Outros não se prestam, achamos, ao uso fora <strong>do</strong> âmbito <strong>da</strong> academiaexperiente ou foram a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong>s apressa<strong>da</strong>mente para o aluno não gradua<strong>do</strong>. Pareceminadequa<strong>do</strong>s até para alunos de disciplina com 64 horas presenciais ao longo de um semestreletivo convencional de aproxima<strong>da</strong>mente quatro meses, por serem exclusivamente teóricos,sem sugestão de uso no dia-a-dia <strong>do</strong>s alunos envolvi<strong>do</strong>s.Procuramos evitar a complicação, não temos como negar a complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>sfenômenos linguísticos. Por isso, contamos com o esforço pela compreensão basea<strong>da</strong> noconfronto entre o que dizemos e a observação <strong>da</strong> língua portuguesa que se realiza em torno devocê. A leitura que imaginamos aqui é feita o tempo to<strong>do</strong> com lápis e papel (ou tecla<strong>do</strong>)crítica, comparativa, comenta<strong>da</strong> por escrito. Imaginamos também que, <strong>da</strong>qui a um mês, vocêvai estar compreenden<strong>do</strong> 2 bem os fenômenos fonológicos <strong>do</strong> português, para fins práticos.1Professor <strong>do</strong> Curso de Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Ceará.2Para o autor, a preocupação com o “gerundismo”, “vício de linguagem”, não passa de antigerundismo, umpreconceito pareci<strong>do</strong> com outros.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 2Este texto pressupõe a existência de outro(s), mais dedica<strong>do</strong>(s) à variação fonética <strong>do</strong>sportuguês, às questões prosódicas e às associações entre fonologia e grafia. Um cursocompleto deveria conter parte especificamente dedica<strong>da</strong> às visões não clássicas <strong>da</strong> fonologia,às aplicações de fonologia ao preconceito lingüístico, à pronúncia infantil, à história <strong>da</strong>língua, à interligação entre os fenômenos fonológicos e as questões psicológicas, sociais,pe<strong>da</strong>gógicas. Por falta de tempo nosso e <strong>do</strong>s alunos, entretanto, esses temas serão vistosparcamente, apenas ao longo deste, <strong>do</strong> outro texto, nos exercícios <strong>da</strong>s aulas.Temos pouco tempo para observar o que está ao alcance <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, como asconstelações, os arbustos (inclusive plantas medicinais) que crescem proibi<strong>do</strong>s nas ruas, aalimentação e outras ativi<strong>da</strong>des corpóreas essenciais, como funcionamento <strong>do</strong> aparelhofona<strong>do</strong>r. Se sabemos pouco <strong>da</strong> fonética, que pode ser basea<strong>da</strong> na percepção auditiva ou nosmovimentos e posições <strong>da</strong> articulação <strong>do</strong>s <strong>sons</strong>, quanto mais <strong>da</strong> fonologia, invisível, bem maisabstrata.Tentemos explicar como se relacionam a fonética e a fonologia e o que têm a ver comos outros “niveis de análise linguística”. Você vem passan<strong>do</strong> numa rua onde há turistas e vê oencontro de duas famílias de uma mesma nacionali<strong>da</strong>de, alguns louros, alguns de olhoslevemente amen<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s, que não <strong>fala</strong>m português. O que você vai notar? Primeiro, cadeias de<strong>sons</strong> estranhos que não lhe dizem na<strong>da</strong>, inclusive a repetição de <strong>sons</strong> bem “molha<strong>do</strong>s”, com“shshsh”, “tsh”, “lh”. Segun<strong>do</strong>, as reações de alegria: risos, abraços. O que você notou tem aver com duas “reali<strong>da</strong>des”, ou, mais ou menos nos termos de (Ferdinand de) Saussure ou de(Louis) Hjelmslev, certas “substâncais”: nem os <strong>sons</strong> que você percebe, nem os gestos edemonstrações faciais, gestuais, são língua.Entre eles, entretanto, com os <strong>sons</strong> produzi<strong>do</strong>s, seria possível a comunicação, mesmoque não pudessem gesticular, que <strong>fala</strong>ssem ao telefone, que houvesse apenas papéis comtexto. Estou imaginan<strong>do</strong> a língua russa. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> que chegaram a seus ouvi<strong>do</strong>s na cena descritafazem parte <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> capazes de serem produzi<strong>do</strong>s e ouvi<strong>do</strong>s por pessoas. <strong>Os</strong> gestos eexpressões faciais também são espera<strong>do</strong>s de pessoas. As pessoas <strong>do</strong> grupo só compreenderamos <strong>sons</strong> porque possuem uma língua.Alguma coisa mu<strong>da</strong>ria se você tivesse estu<strong>da</strong><strong>do</strong> fonética? Um pouco, apenas. Vocêpoderia transcrever o que dizem, quer dizer, toman<strong>do</strong> a “cadeia <strong>da</strong> <strong>fala</strong>”, imaginar sinais emum papel que indicaria segmentos pronuncia<strong>do</strong>s. Por exemplo, poderia, usan<strong>do</strong> símboloscomuns, transcrever algo que eles dizem repeti<strong>da</strong>mente como “yaidúvmaskvá” (com mais


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 3destaque em “u” e no “a” final. Com um bom treinamento em transcrição, perceberia que nosom correspondente a “d” não é a ponta <strong>da</strong> língua (ápice) nem a área logo depois <strong>da</strong> ponta(coroa), que tocam nos montinhos atrás <strong>do</strong>s dentes (alvéolos) ou atrás <strong>do</strong>s próprios dentes,como seria de esperar em português. Notaria também que os estrangeiros usam uma melodiade <strong>fala</strong> bem diferente <strong>da</strong> nossa, bem típica <strong>do</strong> russo. Disso, <strong>da</strong> pronúncia, trata a fonética, semligar muito para os significa<strong>do</strong>s de uni<strong>da</strong>des, de signos linguísticos.Na<strong>da</strong> no que foi transcrito acima, “yaidúvmaskvá”, explica, ao menos, quantaspalavras um <strong>fala</strong>nte de russo palavras percebe no trecho, muito menos seus significa<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>mesma forma que algo transcrito como “<strong>da</strong>kelashtuashtrãsas” na<strong>da</strong> significaria para o russoque não conhece a língua portuguesa, nem mesmo lhe possibilitaria dizer quantas uni<strong>da</strong>des háaí.Se você conhecesse tecnicamente a fonologia <strong>do</strong> russo, saberia que, numa sílaba quenão é a mais forte <strong>da</strong> palavra, <strong>sons</strong> como “ó”, “ô”, “á” (como em “será”) ou “â” (como em“cera” não distinguem senti<strong>do</strong>s. Se você as pessoas dizerem às vezes “yaidúvmaskvá”,“yaidú<strong>da</strong>mói”, vai terminar achan<strong>do</strong> que há duas partes nessas cadeias de <strong>sons</strong>, que aí há 3coisas: “yaidú”, “vmaskvá” e “<strong>da</strong>mói” e estará no rumo certo para aprender a língua.Associan<strong>do</strong> a audição <strong>da</strong>s “frases” com situações que observar, pode vir a entenderque se trata de 'ya' (correspondente ao português 'eu'), “idu” ('vou'), “v moskvá” (paraMoscou) ou “<strong>do</strong>moi” ('para casa'). Nesse ponto, você já tem conhecimentos inconscientes (a)<strong>da</strong> fonologia (consegue a partir <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> chegar a singnifica<strong>do</strong>s), (b) <strong>da</strong> morfologia, (c) <strong>da</strong>sintaxe <strong>da</strong> língua russa. Também terá chega<strong>do</strong> a isso o russo que, saben<strong>do</strong> fonética,transcreveu “<strong>da</strong>kelashtuashtrãsas” e agora perceber que há nessa cadeia de <strong>sons</strong> os signos 'di''akélas' 'tuas' 'trãsas' (aqui empregamos não a ortografia comum, mas uma forma derepresentação fonética sem detalhes, praticamente fonológica e com sinais fáceis), quer dizer,mais ou menos, “cabelos agrupa<strong>do</strong>s de certa maneira”, “distantes nesse momento de quem<strong>fala</strong> e de quem ouve”, “pertencentes à pessoa com quem se <strong>fala</strong>”.Brevemente, é impossível separar completamente a fonética e a fonologia oufonêmica, e as teorias atribuem a esses termos conceitos bem varia<strong>do</strong>s. Por enquanto, o termofonologia será utiliza<strong>do</strong> de forma mais ou menos vaga, com valor que vai <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> maisgeral, incluin<strong>do</strong> a fonêmica e a fonética, ao senti<strong>do</strong> mais particular e tradicional. Nesteúltimo senti<strong>do</strong>, é fonêmico o elemento ou traço que serve para distinguir o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s itenslexicais. Interessa, agora, saber que, ao empregar o termo fonética, restringimos nosso objeto


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 4de estu<strong>do</strong> à pronúncia de uni<strong>da</strong>des lingüísticas como é percebi<strong>da</strong> por alguém atento outreina<strong>do</strong> para tal finali<strong>da</strong>de.A inseparabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s aspectos fonêmico e fonético vem <strong>da</strong> inseparabili<strong>da</strong>de entre ascoisas efetivamente integra<strong>da</strong>s na reali<strong>da</strong>de. A separação é possível e talvez necessária apenasna análise humana, para um fim determina<strong>do</strong> e momentâneo. Quan<strong>do</strong> compreendemos umafrase, recebemos por nossos ouvi<strong>do</strong>s (ou também por condução óssea, se é nossa própria voz)um sinal de som conduzi<strong>do</strong> por um ou mais meios (o ar, o telefone). As impressões recolhi<strong>da</strong>sno pavilhão auditivo que se inicia com a orelha vão ao interior <strong>do</strong> cérebro por nervos e sãotrabalha<strong>da</strong>s, para a decodificação.No estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> pronúncia, pode-se recortar a reali<strong>da</strong>de percebi<strong>da</strong> para chegar ao exame<strong>do</strong>s <strong>sons</strong> quanto a sua percepção, inclusive à forma como são ouvi<strong>do</strong>s, quanto a suasproprie<strong>da</strong>des físicas, para nos restringirmos à acústica. Podemos também, como fazemosquase exclusivamente neste primeiro texto, abor<strong>da</strong>r os <strong>sons</strong> quanto a sua produção noaparelho fona<strong>do</strong>r, com visão articulatória.Alguns lingüistas insistiram na excelência de critérios e termos acústicos na descriçãoe classificação <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>, mas esses termos continuam a soar estranhos até em cursosmais longos. Além disso, habitua<strong>do</strong>s à inevitável ligação entre o articulatório, o acústico e operceptivo em nossas experiências de <strong>fala</strong>, associamos o tempo to<strong>do</strong> a percepção <strong>da</strong>sproprie<strong>da</strong>des acústicas <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> a nossas impressões articulatórias.Uma prova irrefutável dessa habili<strong>da</strong>de de associar a impressão acústica aomovimento no próprio aparelho é a aquisição <strong>da</strong> fonologia pelos bebês. Em torno <strong>do</strong>s <strong>do</strong>isanos de i<strong>da</strong>de, ao ouvir nova palavra em contexto, acertam a maior parte <strong>do</strong>s traços fonéticosde uma palavra na primeira tentativa (observe seus sobrinhos e relate as experiências). <strong>Os</strong>adultos, ao ouvirem pela primeira vez uma palavra estrangeira (e até de sua própria língua)precisam de várias repetições (não nos pergunte agora por quê), mas também, na maior parte<strong>do</strong>s casos, conseguem aprender a pronúncia sem descrição que faça referência as partes <strong>do</strong>aparelho fona<strong>do</strong>r.Sugerimos que tenha sempre perto, ao ler este texto, espelhinho de mão ou outroaparelho fona<strong>do</strong>r (vivo, claro, de alguém que aceite colaborar), papel e material de escrever,de preferência lapiseira com grafite mole, ou tecla<strong>do</strong>. Imaginamos que, neste ponto, vocêtenha observa<strong>do</strong> processos de fonação integra<strong>da</strong> em discurso bem real, como que está sen<strong>do</strong>sugeri<strong>do</strong> em aula <strong>do</strong> curso semipresencial, em vídeos. Reveja os pontos indica<strong>do</strong>s no texto <strong>da</strong>


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 5aula, preste atenção aos lábios, aos movimentos e posicionamentos no interior <strong>da</strong> boca.Encerramos esse primeiro contato desejan<strong>do</strong> que você tenha mais interesse nas tarefas e naobservação não-exigi<strong>da</strong>, que ansie<strong>da</strong>de causa<strong>da</strong> pela expectativa de cobranças e avaliações.Utilizamos aqui símbolos <strong>do</strong> Alfabeto Fonético Internacional, cuja tabela será expostaadiante a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> para este curso e, anexa no fim <strong>do</strong> texto, em sua versão completa oficial de2005. Para poder ler as transcrições fonéticas, instale em seu computa<strong>do</strong>r pelo menos a(s)fontes <strong>do</strong> SIL Doulos IPA93. 32. Passean<strong>do</strong> com os <strong>sons</strong> pelo aparelho fona<strong>do</strong>r2.1 O aparelho fona<strong>do</strong>rAs coisas de que tratamos no estu<strong>do</strong> criterioso, metódico, sujeito a discussão (isto é,científico, lingüístico) <strong>da</strong> língua não foram inventa<strong>da</strong>s, mas estão perto, ou melhor, em você.<strong>Os</strong> conhecimentos para as ativi<strong>da</strong>des humanas são implícitos, entretanto, funcionam muitobem, sem estarmos conscientes de sua existência, de suas características. O estu<strong>da</strong>nte deLetras é o indivíduo privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual se espera que venha a compreender de formaexplícita tais conhecimentos. Bem mais difícil foi o trabalho <strong>do</strong>s pioneiros que, naAntigui<strong>da</strong>de, sem manuais de lingüística, fizeram a análise fonética e fonológica de suaslínguas, para criar os primeiros silabários e alfabetos.Se você ouvir frases em uma língua desconheci<strong>da</strong>, não distinguirá segmentos fônicos,fonemas, palavras, porque a cadeia <strong>da</strong> <strong>fala</strong> é um continuum. Quan<strong>do</strong> se ouve línguaconheci<strong>da</strong>, entretanto, um programa recebe pistas fônicas e distingue uni<strong>da</strong>des, porque asidentifica com base em um léxico mental. Quan<strong>do</strong> você ouviu uma cadeia fônica em “O meuamor me chamou,” verso de A Ban<strong>da</strong>, disponível em nosso curso, o programa chama<strong>do</strong> línguaportuguesa atuou, porque, <strong>da</strong> divisão em palavras à divisão em segmentos, tu<strong>do</strong> é umaabstração ou a aplicação de instruções inconscientes <strong>da</strong> língua portuguesa.A frase <strong>do</strong> verso supracita<strong>do</strong> nos leva a uma transcrição fonética assim:3Pelo menos o arquivo IPA93dr.ttf (tipo normal, utiliza<strong>do</strong> aqui) e, se possível, também os arquivosIPA93db.ttf, IPA93dc.ttf e IPA93di.ttf, para ler negrito e itálico. No Win<strong>do</strong>ws, copie o(s) arquivo(s), vá aIniciar, Painel de Controle, Aparência e temas, Fontes. Lá veja as fontes já instala<strong>da</strong>s. Ponha o cursor <strong>do</strong>mouse sobre o nome <strong>da</strong> pasta (Fontes) na linha de cima <strong>do</strong> navega<strong>do</strong>r, pressione o la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong> mouse,clique em “Colar”, veja se o nome SILDoulosIPA93 aparece com as outras fontes.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 8vai até o estômago) e a laringe (continua<strong>da</strong> pela traquéia, que segue na direção <strong>do</strong>s pulmões).Para a <strong>fala</strong> em português, contribuem:a. <strong>Os</strong> pulmões, de onde vem o ar, que se dirige para a laringe. [a+en 100316]b. Na laringe, antes de passar para a laringe, de onde vai à boca e às fossas nasais, aglote pode estar completamente aberta (para a respiração e os <strong>sons</strong> “aspira<strong>do</strong>s”), e oesôfagoNote que faltam no desenho o esôfago e o estômago (continuação <strong>do</strong>s espaço quedesce <strong>da</strong> faringe, mais próximo <strong>da</strong> coluna), a traquéia e os pulmões (continuação <strong>da</strong> laringe).Fig. 1 O aparelho fona<strong>do</strong>rFonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298Toque os lábios superiores (LS) e inferiores com a língua (Lg) e continue moven<strong>do</strong>a,toque com a ponta (Ápice, Ap) os dentes superiores (DS), sinta-os. Agora, continue até aparte <strong>do</strong>s trás <strong>do</strong>s dentes superiores, chegue às gengivas, ao ponto onde começa a carne, quechamamos alvéolos (Al, leito onde ficam os dentes). Se continuar o movimento com a línguaa partir <strong>do</strong>s alvéolos, passa pequena curva e chega a parte dura no céu <strong>da</strong> boca, chama<strong>da</strong>palato duro (PD).


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 9Não deve ser difícil classificar as consoantes sublinha<strong>da</strong>s de 'os meninos de Jati'pronuncia<strong>da</strong>s como nessa ci<strong>da</strong>de em pleno Cariri como ápico-dentais (simplifica<strong>da</strong>mente,dentais), ou em Itapajé, no Norte, como ou lâmino-alveolares ou corono-alveolares (de formasimplifica<strong>da</strong>, alveolares). De fato, é muito provável que, enquanto as pessoas <strong>do</strong> Cariri e deoutras regiões dizem ] a gente de Itapajé prefira dizer '<strong>do</strong> Jati' e, em vez <strong>do</strong>s <strong>sons</strong>oclusivos [] e [], façam uso de [] (em Jati) e [] (em 'onde'), <strong>sons</strong> classificáveis comoafrica<strong>do</strong>s, pois começam com fechamento total (oclusão), mas usam o ar <strong>da</strong> liberação comofricativo. Atenção, quan<strong>do</strong> dizemos que um som é oclusivo ou africa<strong>do</strong>, estamos <strong>fala</strong>n<strong>do</strong> demo<strong>do</strong>, de como é articula<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> dizemos que é apical (produzi<strong>do</strong> com o ápice, a ponta<strong>da</strong> língua), laminar (ou coronal), dental, alveolar, estamos <strong>fala</strong>n<strong>do</strong> de ponto (ou zona), ondeou com que é articula<strong>do</strong>.Para ter maior consciência <strong>da</strong>s sutilezas e <strong>da</strong> variação na classificação <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> combase na anatomia, vamos a uma pequena experiência. Experimente sentir a língua (ápice elâmina) tocan<strong>do</strong>, ao mesmo tempo, um pouco <strong>do</strong>s dentes superiores, os alvéolos e o começo<strong>do</strong> palato duro. É mais ou menos isso que acontece quan<strong>do</strong> pronuncia as consoantes de “Jáachei” //. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> produzi<strong>do</strong>s aí são chama<strong>do</strong>s pós-alveolares por terem a parte decima <strong>do</strong> canal toca<strong>da</strong> depois <strong>do</strong>s alvéolos, ou álveo-palatais, por abrangerem no toque essasduas partes.Frisamos esse último item para fazer notar que, “paralelamente” aos órgãos passivos<strong>da</strong> articulação, localiza<strong>do</strong>s em geral na parte de cima <strong>da</strong> boca, há os órgãos ativos (é omaxilar inferior que é móvel, não o superior). Acima, usou várias partes <strong>da</strong> língua: a pontaou ápice (Ap), a coroa ou lâmina (Co, La), que podem ser chama<strong>da</strong>s conjuntamente frente<strong>da</strong> língua, <strong>da</strong>í os <strong>sons</strong> frontais ou ântero-linguais, denominações genéricas bastante úteis, ouapicais, coronais (laminares), denominações mais específicas.Retomemos o passeio. Se continuar, a partir <strong>do</strong> palato duro, chegará, com a ponta <strong>da</strong>língua, a uma área em que o céu <strong>da</strong> boca apresenta mais uma discreta curva e chega a partemais suave. Aí começa o palato mole, ou véu palatino (de velum, <strong>da</strong>í as consoantes velares)onde pode pronunciar, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente, "Cá... cá...". O passeio com a ponta parou logo noinício <strong>do</strong> véu, a não ser que você esteja entre os privilegia<strong>do</strong>s que conseguem (se conseguiu,comunique-nos) levar a ponta <strong>da</strong> língua à úvula (de "uvinha", em latim, tão apropria<strong>do</strong>quanto o que se dizia no interior, campanhinha). De qualquer maneira, concentre-se noespelhinho, abra a boca, tente ver to<strong>do</strong> o percurso. Ao olhar no espelho, sopre o ar forçan<strong>do</strong>


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 10na saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> faringe, perto <strong>da</strong> raiz <strong>da</strong> língua e verá que a úvula, a ponta no fim <strong>do</strong> véu palatino,sobe.A úvula, abaixa<strong>da</strong>, pode encontrar-se com partes posteriores <strong>da</strong> língua para aprodução de <strong>sons</strong> uvulares, como na produção de “r vibrante múltiplo” <strong>do</strong> português emdialetos <strong>do</strong> português, em diversas línguas européias (francês, alemão, holandês) e emhebraico moderno.Vamos considerar um pouco apenas os articula<strong>do</strong>res inferiores, móveis, ativos (é omaxilar inferior que é móvel, pode subir), que se situam “paralelamente” aos órgãos passivos<strong>da</strong> articulação, localiza<strong>do</strong>s em geral na parte de cima <strong>da</strong> boca. Acima, usou várias partes <strong>da</strong>língua: a ponta ou ápice (Ap), a coroa ou lâmina (Co, La), 5 que podem ser chama<strong>da</strong>sconjuntamente frente <strong>da</strong> língua. Quan<strong>do</strong> continua para o véu palatino e a úvula (superiores,imóveis, passivos), tende usar outras partes <strong>da</strong> língua: o <strong>do</strong>rso (Do) e a raiz (Ra). <strong>Os</strong> <strong>sons</strong>pronuncia<strong>do</strong>s com o ápice (ou ponta) e a lâmina (ou coroa) podem ser chama<strong>do</strong>s maisgenericamente, para finali<strong>da</strong>de prática ou para ser fiel à maior variação, em fonologia,anteriores ou ântero-linguais, em vez de apicais, laminares, coronais. Da mesma forma,em vez de termos específicos como <strong>do</strong>rsal, pode-se dizer que os <strong>sons</strong> articula<strong>do</strong>s com o <strong>do</strong>rsoou a raiz são posteriores ou póstero-linguais.Demonstramos isso no diagrama que se segue, de forma pouco exata:LS DS Al pA PD VP Uv CVLI DI LAp LCo LAn LDo LRa CVABREVIATURASLábio Superior, Dentes Superiores, Alvéolos, região pós-Alveolar, Palato Duro, Véu Palatino,Úvula, Cor<strong>da</strong>s Vocais. Lábio Infierior, Língua (Ápice, Coroa, parte Anterior, Dorso, Raiz).Abaixo <strong>da</strong> faringe vem a laringe, fecha<strong>da</strong> em sua parte superior pela epiglote, primeiranova defesa <strong>do</strong> aparelho fona<strong>do</strong>r (no nariz e adjacências há mecanismos protetores), queprecisa estar fecha<strong>da</strong> na ingestão de alimentos. Dentro <strong>da</strong> laringe há as cor<strong>da</strong>s vocais. Oespaço entre elas se chama glote (verifique se seus pais conhecem a expressão “cair no goto”,usa<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> há engasgo) defesa final contra a passagem de corpos estranhos, alimentos.5É bem comum a divisão <strong>da</strong> língua como na fórmula mnemônica de Macambira, Apcó<strong>do</strong>ra, em 4 partes:ápice (Ap) ou ponta, (2) Coroa (Co) ou Lâmina (La), Dorso (Do) e Raiz (Ra). Silva (2001: 30) divide-a em 5partes: ápice, lâmina, parte anterior, parte média e parte posterior. Obviamente, não há demarcação físicapossível, apenas zonas relativamente estabeleci<strong>da</strong>.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 11A consoante oclusiva glotal (glotal stop), comum em dialetos <strong>do</strong> inglês para /t/ emcertas posições, por exemplo em “Le[] me see you” ('Deixe-me vê-la', 'Deixe eu ver você'),não tem valor fonêmico em português. 6 Surge separan<strong>do</strong> palavras inicia<strong>da</strong>s por vogais emenumerações ('Sentam-se aí Rute, Antônia, El<strong>da</strong>, Olga, A<strong>da</strong>lberto') ou aparece em pessoas (háque as chame tatas) corresponden<strong>do</strong> a /k/ e /g/, como em 'Se você apa[]asse lo[]o oci[]arro...'<strong>Os</strong> <strong>sons</strong> correspondentes a 'r' e 'rr' podem ser bem diferentes, conforme as línguas e osdialetos, os graus de formali<strong>da</strong>de e as posições nas palavras (inicial ou finalmente, entrevogais, depois de consoantes). Pense nos <strong>sons</strong>, que, com base em uma gramática tradicionalvocê diria serem vibrantes, quer dizer, produzi<strong>do</strong>s com a ponta <strong>da</strong> língua contra os alvéolos,em uma expressão como (pensan<strong>do</strong> em um festival em Guaramiranga) pronunciamos clara ecui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente “rolar na arte <strong>da</strong> serra”: [] ou [h.].As expressões “vibrante” e “vibrante simples” não se aplicam apropria<strong>da</strong>mente àspronúncias <strong>do</strong> Nordeste e de outras regiões <strong>do</strong> Brasil, a não ser, talvez, nos gruposconsonantais como em 'preá', 'brio', 'traça', 'endro', 'crasso', 'ogro', 'cafre' e 'palavra'. Foradesses ambientes, a forma “simples” realiza-se, entre vogais (dentro de palavras ou no final),como tepe (inglês “tap”), uma “batidinha” única <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong> língua nos alvéolos, ressalva<strong>do</strong>salguns apagamentos bem comuns, <strong>do</strong>s quais trataremos abaixo.Antes de consoantes ou de silêncio (pode realizar-se também como tepe, ou comoqualquer som fricativo “posterior”, quer dizer, velar ([x] - []), uvular ([] - []), ou glotal([h] - []). Determinar se a realização acontece em uma dessas três zonas exige muitapaciência. Somos programa<strong>do</strong>s para não perceber essa diferença, por isso, em muitos cursos,simplesmente se decide recomen<strong>da</strong>r um único par de símbolos, que pode ser o velar (vejaacima) ou glotal (levan<strong>do</strong>-se em conta a grande possibili<strong>da</strong>de dessa realização no Nordeste).Neste caso, quan<strong>do</strong> usar a primeira variante (não vozea<strong>da</strong>) e quan<strong>do</strong> usar a segun<strong>da</strong>(vozea<strong>da</strong>)? Recomen<strong>da</strong>mos, se você não quer recorrer a exaustivos testes de audição, a<strong>do</strong>tar aforma vozea<strong>da</strong> ([] ou [] antes de consoantes vozea<strong>da</strong>s (por exemplo, em “bor<strong>da</strong>rgardênias”), mas empregar a forma não vozea<strong>da</strong> nos outros casos (antes de pausa, antes deconsoante não vozea<strong>da</strong>), como em “acertar quase tu<strong>do</strong> e sair”.6Em alemão mostra limites entre morfemas, antes de vogais. Tem valor fonêmico, entre outras, em línguasindígenas, inclusive <strong>da</strong> família tupi-guarani e nas línguas semíticas.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 12É comum o apagamento <strong>da</strong> forma simples nos finais de palavra (“comer açúcar”) eantes de som fricativo pós-alveolar [Z] e, principalmente, alveolar ou dental [s], como em“nem percebe a energia que vem <strong>da</strong>s pessoas”.Quanto à forma dita “múltipla”, representa<strong>da</strong> na escrita com 'r' inicial de palavra e com'rr' medial, realiza-se em partes <strong>do</strong> Brasil e em Portugal como vibrante (uvular ou velar), mas,em nossa região, como fricativa. Vale, então, o que dissemos acima sobre as consoantesfricativas velares, uvulares e glotais, com uma mu<strong>da</strong>nça: aqui, não é tão importante nemconstante a assimilação regressiva (um som seguinte impõe seu traço ao anterior). Isso querdizer que é normal ouvir “e[]a<strong>do</strong>, com um murmúrio glotal quase inaudível, ou “e[x]a<strong>do</strong>”,como se ouvia até recentemente em ligações <strong>da</strong> TELEMAR, hoje, Oi. Não discutimos aqui apouca exatidão e se chamar to<strong>do</strong> som não oclusivo glotal de fricativo.Note que o relaxa<strong>do</strong> murmúrio glotao simboliza<strong>do</strong> por [] ocorre freqüentemente noNordeste como realização <strong>da</strong>s fricativas vozea<strong>da</strong>s [], [] e []. Exemplos deste último usoeconômico acontecem em “Tava”, “Mais ela” (preposição significan<strong>do</strong> companhia, utiliza<strong>da</strong>pelo menos no português nordestino e em galego) e “Eu já vi”. Essa pronúncia é comum noscentros urbanos em <strong>fala</strong> menos formal, mas pode lexicalizar-se (ser sempre emprega<strong>da</strong> parauma mesma palavra) em certos lugares (como em 'cavalo').2.3 <strong>Os</strong> traços vozeamento e nasalizaçãoAs pregas vocais que chamamos cor<strong>da</strong>s e o espaço entre elas, a glote, além <strong>do</strong> papelcrucial na proteção <strong>do</strong> aparelho respiratório, têm diversos papéis na <strong>fala</strong>. vogais e a glote têmpelo menos três papéis na <strong>fala</strong>. Serve para a articulação <strong>da</strong>s consoantes glotais, é parteresponsável pelos tons ou <strong>sons</strong> musicais timbre na produção <strong>da</strong>s vogais, pelo vozeamento epela música <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. No senti<strong>do</strong> deste texto, voz é termo que designa apenas a vibração <strong>da</strong>scor<strong>da</strong>s vocais, diferin<strong>do</strong> levemente de quan<strong>do</strong> se diz que alguém tem “voz bonita” e de muitosoutros usos.A voz possibilita a produção de <strong>sons</strong> musicais, tons, notas, úteis também à música. Nalinguagem verbal, distingue itens lexicais nas línguas tonais, indica emoções e atitudes, servepara a entoação que indica rupturas sintáticas e atos de <strong>fala</strong> nas frases, representa<strong>do</strong>s naescrita pelos sinais de pontuação. Trataremos mais disso na parte de prosódia.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 13Veja a figura abaixo. Se você desenha um aparelho fona<strong>do</strong>r para descrever um somespecífico, precisa traçá-lo de forma compatível com o que acontece num aparelho fona<strong>do</strong>rreal ao pronunciar esse o som representa<strong>do</strong>. Nos <strong>do</strong>is desenhos, há vibração <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>svocais, os <strong>sons</strong> são vozea<strong>do</strong>s. Em um deles, há ressonância nas fossas nasais, porque o véupalatino permite a passagem <strong>do</strong> ar.Fig. 2 Véu, úvula, cor<strong>da</strong>s vocais (vibran<strong>do</strong>)Fonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298Modifica<strong>da</strong> por diferentes caixas de ressonância, na boca (cuja cavi<strong>da</strong>de mu<strong>da</strong> detamanho e forma conforme as posições <strong>da</strong> língua), nas fossas nasais e nos lábios (vogais nãoarre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>da</strong>se arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>da</strong>s), voz faz possível a distinção <strong>do</strong>s timbres (a impressão que oouvi<strong>do</strong> humano tem <strong>da</strong> variação de ressonância). <strong>Os</strong> diferentes timbres caracterizam as vogaise servem para a identificação <strong>do</strong>s produtores de voz (que instrumento está tocan<strong>do</strong>, quem está<strong>fala</strong>n<strong>do</strong>).Finalmente, é extremamente funcional, na maioria <strong>da</strong>s línguas mais conheci<strong>da</strong>s, adistinção, possibilita<strong>da</strong> pela vibração ou falta de vibração <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais, entre (a) <strong>sons</strong>vozea<strong>do</strong>s, ditos, tradicionalmente e de forma menos apropria<strong>da</strong>, sonoros, como as vogais e


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 14parte <strong>da</strong>s consoantes, e (b) <strong>sons</strong> não-vozea<strong>do</strong>s (ditos tradicionalmente sur<strong>do</strong>s), outra parte <strong>da</strong>sconsoantes.Estamos passan<strong>do</strong> longe <strong>do</strong>s conceitos de acústica, mas precisamos entender melhor aressonância. Para se entender bem a nasalização, é preciso lembrar que mais comumente avoz (que está nas consoantes vozea<strong>da</strong>s) pode ressoar em uma ou mais de uma cavi<strong>da</strong>de. Sonspuramente nasais são comuns quan<strong>do</strong> se cantarola e em interjeições como “Hum” e “Ã-hã”(divirta-se procuran<strong>do</strong> outras reapresentações gráficas para essas frases não-racionais), nasquais a cavi<strong>da</strong>de fica fecha<strong>da</strong> e o ar se escoa completamente pelas fossas nasais. Asconsoantes nasais são, de fato, <strong>sons</strong> oro-nasais, com oclusão na boca e ressonância adicionalnas fossas nasais. Nas vogais nasais ou nasaliza<strong>da</strong>s, há basicamente diversos tipos deressonância oral e labial, conforme as posições <strong>da</strong> língua e a abertura <strong>do</strong>s lábios, maisressonância na cavi<strong>da</strong>de nasal.2.4 Exercícios sobre articulaçãoPara se exercitar antes <strong>da</strong> próxima seção, que trata <strong>da</strong> codificação, pelo AlfabetoFonético internacional, siga as sugestões abaixo. À medi<strong>da</strong> que vai ven<strong>do</strong> (não tenhapreconceito contra o gerúndio, antes, enfrente a corrupção e o egoísmo!) novos termos, resistaao hábito de decorar (ou memorizar, dá quase na mesma) sem compreender. Descubra porqueexiste este termo, qual sua origem. E não escreva “consoante fricativo”, “som fricativas”,pense! <strong>Os</strong> alunos de Letras precisam estar entre os melhores, mais competentes usuários <strong>da</strong>língua, além de serem capazes de explicar tu<strong>do</strong> que pode ser explica<strong>do</strong>, e responder por que,em muitos casos, algo não é explicável com os conhecimentos possuí<strong>do</strong>s.1. Sinta os lábios ao pronunciar, ora <strong>da</strong> forma mais espontânea possível, oraatentamente, 'meu ibope'. A transcrição fonética pode ser Preste atenção aos 4<strong>sons</strong> consonantais, quer dizer, produzi<strong>do</strong>s com ruí<strong>do</strong> por há obstáculos no canal dearticulação. Nos <strong>sons</strong> 1, 3 e 4, os lábios se fecham completamente. No segun<strong>do</strong>, só seaproximam e a língua pode ficar alta em sua parte de trás. Se os 4 soam diferentes, o que maisdistingue ca<strong>da</strong> um? Ou, perguntan<strong>do</strong> de outra maneira, em que são iguais, em que sãodiferentes?2.. Experimente dizer a frase 'Vai ver as favas azuis!' Você pode pronunciar ou não osom correspondente a “r”. Quantos tipos de consoantes há aí, como são pronuncia<strong>da</strong>s, em que


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 15se distinguem entre si? Aju<strong>da</strong>mos responden<strong>do</strong> a uma parte. Em duas <strong>da</strong>s consoantes, pode-seexaminar como o som é pronuncia<strong>do</strong>, para ver o mo<strong>do</strong> de articulação e, ao mesmo tempo,onde e com que o som é pronuncia<strong>do</strong>, para ver o ponto de articulação. Em <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s <strong>sons</strong>,produzin<strong>do</strong> algo que se percebe como “fricção” (<strong>da</strong>í, som fricativo), aperta-se o LI contra osDS (são labiodentais). Nos outros <strong>do</strong>is, aperta-se a coroa <strong>da</strong> língua (quase o ápice) ou oápice, contra os alvéolos (ou os dentes: como você pronuncia?), por isso, essas consoantes sãoditas, além de fricativas, alveolares (ou dentais), <strong>fala</strong>n<strong>do</strong> só <strong>do</strong> ponto <strong>do</strong> articula<strong>do</strong>r passivo,ou, mais pormenoriza<strong>da</strong>mente, ápico-dentais, corono-alveolares (depende de como vocêpronuncia, não adianta decorar a resposta). Agora respon<strong>da</strong>: se as consoantes são iguais entresi, duas a duas, quanto ao mo<strong>do</strong> e ao ponto de articulação, em que se distinguem, como seclassifica esta característica, onde isto acontece e como?3. Experimente dizer a frase mal inventa<strong>da</strong> (observe as letras sublinha<strong>da</strong>s):Se a chance já surgisse e eu um dia visse como estava tia Zilce!Parte <strong>do</strong>s <strong>sons</strong> foi abor<strong>da</strong><strong>da</strong> acima. Onde acontece a produção <strong>do</strong>s outros, em seu aparelhofona<strong>do</strong>r? Descubra seus símbolos fonéticos e como eles se classificam. Para aju<strong>da</strong>r,informamos que <strong>do</strong>is deles são fricativos, <strong>do</strong>is são africa<strong>do</strong>s (o que isso significa?), partedeles, quanto às cor<strong>da</strong>s vocais, é não-vozea<strong>da</strong>, a outra parte é vozea<strong>da</strong>. Em que ponto ou zonasão articula<strong>do</strong>s, levan<strong>do</strong>-se em conta os articula<strong>do</strong>res ativos (que sobem) e os passivos (queesperam em cima)?4. Experimente dizer “Marco, marcas, marque”. Sinta a parte <strong>da</strong> língua e a parte <strong>do</strong>céu <strong>da</strong> boca, em ca<strong>da</strong> caso. Onde as consoantes oclusivas que iniciam as últimas sílabas,representa<strong>da</strong>s ortograficamente com “c”, “c” e “qu”, respectivamente, são pronuncia<strong>da</strong>s?Pense, experimente e sinta quantas vezes for necessário, pense novamente e anote,antes de continuar.Agora, descubra como sua(s) gramática(s) classificam esses <strong>sons</strong>, esse fonema. O quevocê acha, comparan<strong>do</strong> sua experiência e o que leu na gramática?Vai ter problema em classificar honestamente, conforme a pronúncia, os <strong>sons</strong>consonantais antes de /u/, de /a/ e de /i/. É assim, porque são pronuncia<strong>do</strong>s um na parte de trás<strong>da</strong> boca, antes de vogal posterior (diz-se que é uvular), o outro no centro, antes de vogalcentral (no véu, por isso, velar) e último, finalmente, /i/,vogal anterior, bem à frente, palatal.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 16Por causa dessas diferentes pronúncias e classificações, as transcrições seriam [],[], [].5. Onde você pronuncia os <strong>sons</strong>:a. Correspondente a “r” ou a “rr” em 'O rei corria sem roupa'?b. Correspondentes a “r” em: 'Por aqui, por to<strong>do</strong> o barco, querem pegar os pargos'?Sua gramática talvez diga que parte desses <strong>sons</strong> é “vibrante”. Você concor<strong>da</strong> com isso?c. Correspondentes às pronúncias “relaxa<strong>da</strong>s” (nos três casos, trata-se de <strong>sons</strong>produzi<strong>do</strong>s no mesmo lugar!) correspondentes a “j” em “Tu já tem paletó”, a “v” em “Tav'era bom lá” e a “s” com som de “z” em “Foi por “caso” <strong>do</strong> frio”. A expressão corresponde a“cas <strong>do</strong> frie”, em bom dialeto com o “s” igual a “r”, quer dizer, “por causa <strong>do</strong> frio”. Tratamosdessa outra “língua” em outro texto.No fechamento deste item e fechan<strong>do</strong> seu exercício, vamos recapitular.O que chamamos aparelho fona<strong>do</strong>r inclui:(1) fonte de energia, os pulmões, o meio vibrátil que é o ar, que se desloca pelatraquéia e ganha a laringe, para funcionar na...(2) fonação, produção de voz, que, em senti<strong>do</strong> restrito, é só o som musical, o tom, anota que se faz nas cor<strong>da</strong>s vocais).(3) A articulação, em senti<strong>do</strong> mais restrito, tem a ver apenas com o (a) mo<strong>do</strong> e o (b)ponto, o como e o onde o som é produzi<strong>do</strong>.(4) <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> podem ain<strong>da</strong> ser modifica<strong>do</strong>s nas cavi<strong>da</strong>des de ressonância: a principal, aboca, pode assumir muitos formatos diferentes. As outras, lábios, fossas nasais e faringe, sãoacrescenta<strong>da</strong>s, ou seja, um som mais comumente é oral nasaliza<strong>do</strong>, oral faringaliza<strong>do</strong>, etc. Hálínguas como as <strong>da</strong> família cariri, nas quais a faringalização pode ser funcional, distinguirsignifica<strong>do</strong>s, mas é mais comum esse fenômeno apenas caracterizar o timbre de certaspessoas. Se a faringalização é muito forte, pode ser vista como defeito a ser corrigi<strong>do</strong>: aspessoas fanhas ou fanhosas geralmente faringalizam, não nasalizam.Estamos concluin<strong>do</strong> este primeiro texto. Para facilitar sua compreensão <strong>do</strong>s símbolosque usamos, a<strong>da</strong>ptamos para você, abaixo, a tabela <strong>do</strong> Alfabeto Fonético Internacional, já que


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 17a tabela oficial é sempre em inglês (trá-la-emos no próximo texto), <strong>da</strong>í a sigla IPA paraInternational Phonetic Alphabet.3. Transcrição fonética3.1 Para perceber e representar a <strong>fala</strong>Como nas outras ativi<strong>da</strong>des humanas, perceber <strong>sons</strong> é algo que exige treino, para setomar consciência de fatores “subjetivos”, quer dizer, inconscientes, não declara<strong>do</strong>s, quealteram os resulta<strong>do</strong>s. O problema não é que alguém possa errar, ao tentar perceber comexatidão ao que ouve. É bem mais sério. Ao aprender uma língua, nossa cognição nosprograma para não ouvir o que é irrelevante para o uso <strong>da</strong> língua. Lembran<strong>do</strong> um exemplonosso bem acima, <strong>fala</strong>ntes <strong>do</strong>s dialetos mais conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inglês tendem a não perceber ovozeamento como relevante, enquanto <strong>fala</strong>ntes <strong>do</strong> português são programa<strong>do</strong>s para não notara aspiração (depois <strong>da</strong>s consoantes oclusivas não-vozea<strong>da</strong>s) como relevantes para o léxico.O que você ouve é muito mais resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> preenchimento de expectativas, que <strong>da</strong>interpretação “objetiva” de proprie<strong>da</strong>des acústicas e articulatórias realmente produzi<strong>da</strong>s. Écomum quem transcreve uma conversa registrar em várias linhas <strong>do</strong> texto frasescompletamente diferentes <strong>da</strong>s que foram ditas, por ter-se engana<strong>do</strong> com uma única palavra noinício <strong>do</strong> trecho.Mesmo que você evite tais distorções, não pense que está livre de decisõesextralingüísticas. Transcrever foneticamente é representar <strong>sons</strong> levan<strong>do</strong> em conta só apronúncia como é percebi<strong>da</strong>, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong>s circunstâncias que envolvem uma realização <strong>da</strong>língua, <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> transcritor, de seu grau de conhecimento de fonética.Há alguns anos, trabalhamos, no Núcleo de Pesquisa e Especialização em Lingüística,com a transcrição de fitas grava<strong>da</strong>s para diversos projetos. Em um deles, colaboran<strong>do</strong> com umcolega de outra universi<strong>da</strong>de, verificamos se eram realiza<strong>da</strong>s como alveolares ou dentais, noVale <strong>do</strong> Jaguaribe, os fonemas /t/, /d/ e /n/, portanto, não nos preocupávamos, por exemplo,com a realização de vogais. Em outro, investigamos tão-somente as “heização”, ou seja, arealização <strong>da</strong>s consoantes fricativas vozea<strong>da</strong>s labiodental / v /, alveolar (ou dental) / z / e pósalveolar/ / como consoante fricativa (ou, diríamos, talvez melhor, aspira<strong>da</strong>) glotal vozea<strong>da</strong>(ou murmura<strong>da</strong>!) / /.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 18Numa transcrição, há decisões a serem toma<strong>da</strong>s, quanto ao que se registra ou sedespreza. Por exemplo, na pesquisa supracita<strong>da</strong>, tínhamos que decidir, para /t/, /d/ e /n/ antesde / i /, se se tratava de realização apical (com o ápice, a ponta <strong>da</strong> língua) e/ou dental (comono Cariri) ou produzi<strong>da</strong> com a lâmina <strong>da</strong> língua contra os alvéolos. Neste último caso, para /t/e /d/, espera-se que a pronúncia seja também africa<strong>da</strong>, quer dizer, comece com oclusiva, mas,na fase de liberação, o ar seja aproveita<strong>do</strong> para fricativa, fican<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> [] ou []. Comoclassificar e anotar, no caso <strong>da</strong> variante “caririense”, se uma pronúncia fosse apical, masocorresse nos alvéolos? Como li<strong>da</strong>r com o fato de que as pronúncias ouvi<strong>da</strong>s não podem serclassifica<strong>da</strong>s como [t] ou como [], pois há pronúncias intermediárias, mais ou menospalataliza<strong>da</strong>s [, e em diferentes graus, mas não propriamente africa<strong>da</strong>s?Deve ter observa<strong>do</strong> que não é possível exigir uma transcrição fonética única paraca<strong>da</strong> palavra <strong>da</strong> língua, embora seja possível, desde que se obedeça a certas decisões teóricase meto<strong>do</strong>lógicas, estabelecer uma só representação fonêmica (fonológica) para ca<strong>da</strong> itemlexical <strong>da</strong> língua. Isso acontece porque, excluí<strong>do</strong>s os impedimentos articulatórios (células empreto na tabela <strong>do</strong> IPA), qualquer som pode ocorrer nas frases pronuncia<strong>da</strong>s em uma língua:há um número limita<strong>do</strong> de fonemas na língua portuguesa ou em um de seus dialetos, mas umnúmero ilimita<strong>do</strong> de fones (<strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>) em frases realiza<strong>da</strong>s de um discurso em português.Se você perguntar o nome de uma aluno seu, em classe, fingir quatro vezes que nãocompreendeu e ele repetir, verá que apresenta pronúncias diferentes em ca<strong>da</strong> vez.Uma transcrição fonética pode ser mais exata (estrita, pormenoriza<strong>da</strong>, “narrow”,[]) ou menos exata (“ampla”, genérica, “broad”, []). <strong>Os</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s registra<strong>do</strong>s emuma transcrição mais genérica coincidem com uma representação fonêmica, se não estivermistura<strong>da</strong> com <strong>da</strong><strong>do</strong>s ortográficos, como em “compleivo” (som africa<strong>do</strong>) ~“compleivo” (som oclusivo dental). <strong>Os</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s numa transcrição bem exata de“coquinho” incluiriam até os fatos de a primeira realização fonema /k/ palatal [c], enquanto asegun<strong>da</strong> é uvular [q]. A segun<strong>da</strong> vogal é a mais longa <strong>da</strong>s três, mas normalmente não seindica isso na transcrição. O fonema simbolizável com [] pode ser realmente oclusivo nasal,sentin<strong>do</strong>-se o toque no palato, ou um som aproximante, semivogal nasaliza<strong>da</strong> []. O fonema/u/ 7 átono final, pode ser desvozea<strong>do</strong> (o que se representa com um pequeno círculo subposto7Neste momento, estamos desprezan<strong>do</strong> a indicação de arquifonema.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 19ao símbolo <strong>da</strong> vogal). A ortografia, a representação fonêmica e a transcrição fonética podemficar assim: [qo] - [ko] – “coquinho”.Talvez suas necessi<strong>da</strong>des de transcrição sejam de apenas <strong>do</strong>is tipos.Primeiro, você quer saber como se pronuncia o som representa<strong>do</strong> por um símbolográfico <strong>do</strong> IPA, talvez porque o encontrou em transcrição fonética. Basta localizar o símbolona tabela, observar como está coloca<strong>do</strong> em sua célula, e que informações sobre o som sãoforneci<strong>da</strong>s na coluna e na linha correspondentes ao símbolo.Para ] 8 , há na tabela as seguintes informações:Mo<strong>do</strong> de articulação:Zona de articulação:Papel <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais:Fricativo (primeira coluna)Pós-alveolar (ou álveo-palatal, na primeira linha)Vozea<strong>do</strong> (está na segun<strong>da</strong> posição de uma célula)Se você sabe o que significam os termos fricativo, pós-alveolar e vozea<strong>do</strong>, resolveu oproblema. Se não sabe, pode se informar a respeito, ou tentar descobrir comparan<strong>do</strong> osímbolo em questão com outros <strong>da</strong>s mesmas coluna e linha. Por favor, se acha que um termodesses é mera questão de memorização sem justificativas, está erra<strong>do</strong>. Descubra o quesignifica a palavra correspondente ao termo.Uma segun<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de talvez seja transcrever um som que você ouviu.Comece, tentan<strong>do</strong> reproduzir o som em voz alta ou mentalmente e descubra:Mo<strong>do</strong> de articulação: Como você o pronuncia, o que faz com os órgãos:articula<strong>do</strong>r ativo e passivo.Zona de articulação: Onde a articulação acontece, que órgãos usa.Papel <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais: Há ou não vibração na laringe, nas cor<strong>da</strong>s vocais?No item 3.3 encontrará indicações sobre terminologia para os mo<strong>do</strong>s de articulação,para mais esclarecimento sobre essas questões.3.2 O Alfabeto Fonético... para a Língua PortuguesaVocê podia até dizer, coloquialmente, M’ é que pode, isso num era internacional?, aover um título assim. Pois é, se você precisasse trabalhar com uma língua indígena nunca8Se não aparece em seu texto um sinalzinho pareci<strong>do</strong> com um cavalo marinho, pegue, <strong>do</strong> sítio de nosso curso,a fonte SIL Doulos IPA 93, arquivo Ipa93dr.ttf e providencie, com a aju<strong>da</strong> de seu professor a sua instalaçãoem seu computa<strong>do</strong>r.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 20estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, não-classifica<strong>da</strong> em uma família (lingüística), completamente desconheci<strong>da</strong>, partiriaradicalmente de fones. Isso quer dizer que não teria idéia <strong>do</strong> que é fonêmico, fonológico,relevante, naquela língua. Que não poderia ain<strong>da</strong> dizer, por exemplo, que “[] e [] sãoalofones <strong>do</strong> fonema / /”, como acontece em português brasileiro: em muitas línguas,pertencem a fonemas diferentes.Mas, já ao transcrever, condicionamos o objeto percebi<strong>do</strong> a nossos princípios,expectativas, finali<strong>da</strong>des.Por isso, a<strong>da</strong>ptamos a tabela o Alfabeto Fonético Internacional ao uso prático nestenosso Curso, e explicamos as alterações. Você recebeu, anexa a este texto, tabela oficial <strong>do</strong>International Phonetic Alphabet, IPA, o Alfabeto Fonético Internacional, que existe desde1888, na versão atualiza<strong>da</strong> em de 2005. Abaixo, apresentamos uma tabela reduzi<strong>da</strong> etraduzi<strong>da</strong> por nós para o português. Se você quer consultar um bom glossário em inglês, podever ou baixar A little encyclopaedia of Phonetics (2002), de Peter Roach, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deReading, Reino Uni<strong>do</strong>, no endereço:http://www.personal.rdg.ac.uk/~llsroach/encyc.pdf (email: p.j.roach@reading.ac.uk).Consulte a tabela <strong>do</strong>s símbolos que apresentamos abaixo. Quanto ao ponto dearticulação, foi excluí<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> coluna <strong>da</strong>s uvulares, uma <strong>da</strong>s faríngeas, importante para adescrição <strong>do</strong> árabe. Quanto ao mo<strong>do</strong> de articulação, foi apaga<strong>da</strong> depois <strong>da</strong>s fricativas a linha<strong>da</strong>s laterais fricativas. Aliás, essa linha e esse termo são provas de que o significa<strong>do</strong> decientífico é bem diferente <strong>do</strong> que se pensa numa visão simplista. Tal linha traz na versãooficial apenas <strong>do</strong>is símbolos, que designam um som importante em línguas <strong>do</strong> grupo asteca eoutro importante, ao que se sabe, em galês. O galês, ou Welsh, é língua céltica <strong>fala</strong><strong>da</strong> no Paísde Gales, Wales, no território <strong>da</strong> Grã-Bretanha, onde é sedia<strong>da</strong> a International PhoneticAssociation.A linha <strong>da</strong>s aproximantes (semivogais, veja descrição em outro ponto deste texto)desceu, fican<strong>do</strong> mais próxima <strong>da</strong>s vogais altas. A mu<strong>da</strong>nça se justifica também para conferirmaior coerência e iconici<strong>da</strong>de quanto à abertura. Nas consoantes laterais ain<strong>da</strong> há contatoentre os articula<strong>do</strong>res, mas não nas aproximantes que, foneticamente vizinhas <strong>da</strong>s vogais,tendem a confundir-se com elas na fonologia <strong>do</strong> português.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 21ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (Revisão de 2005)Reduzi<strong>da</strong> os símbolos comumente usa<strong>do</strong>s para o português. Altera<strong>da</strong> levemente em colunas, linhas etermos, como descrevemos a seguir.Consoantes (pulmônicas)PlosivoNasalVibranteTepeFricativoBilabialLabiodentalDental Alveolar AlveopalatalRetroflexo Palatal Velar Uvular Glotal Lateralaprox. Aproximante() VogaisNasais (ver as orais) Anterior Central Posterior Fecha<strong>do</strong> Meio-fecha<strong>do</strong> Meio-Aberto AbertoArre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong>Quanto aos termos, no IPA original, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo “tap”, aportuguesa<strong>do</strong> como tepe(“batidinha”, tradicionalmente “vibrante simples”) há o termo “flap”, que desprezamos.Preservamos o termo “plosivo”, que é substituí<strong>do</strong> em português por oclusivo, porque tambémas nasais são oclusivas (na boca, embora o ar fique livre em sua passagem para as fossasnasais). Preferimos alveopalatal a pós-alveolar, seguin<strong>do</strong> muitos autores, porque nos pareceque caracteriza os <strong>sons</strong> <strong>do</strong> português em chuta (verbo) e juta (planta e fibra) a área dessasduas zonas e uma grande porção <strong>da</strong> língua, não valen<strong>do</strong> para nós uma articulação que tomeapenas uma pequena área depois <strong>do</strong>s alvéolos.É bem icônica a tabela acima, o que facilita seu aprendiza<strong>do</strong>. Queremos dizer sãomuito significativas as convenções <strong>da</strong> tabela, há grande semelhança entre suas representaçõese o que acontece no aparelho fona<strong>do</strong>r real. Nas descrições que fazemos no restante deste item,mostraremos o seguinte:


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 22a. As posições <strong>do</strong>s termos na primeira coluna, referente aos mo<strong>do</strong>s de articulação,correspondem de perto aos graus de fechamento <strong>do</strong> canal articulatório: <strong>sons</strong> mais fecha<strong>do</strong>s emcima, mais abertos em baixo, incluí<strong>da</strong>s, aí, as vogais.b. As posições na primeira linha correspondem às zonas de articulação de um aparelhofona<strong>do</strong>r com a boca volta<strong>da</strong> para o la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> folha (primeira margem à direita). Vai-se,portanto, <strong>do</strong>s lábios à glote.c. Nas vogais, como nas consoantes, a posição mais à esquer<strong>da</strong> fica na direção <strong>do</strong>slábios. O som [i] corresponde à região <strong>do</strong> palato, [a] ao centro <strong>da</strong> boca, ao véu palatino, [u] àúvula. A vogal mais fecha<strong>da</strong> é muito aberta, se compara<strong>da</strong> com as consoantes aproximantes,semivogais.d. Se há <strong>do</strong>is símbolos consonantais numa célula, o <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> é não-vozea<strong>do</strong>, o <strong>da</strong>direita é vozea<strong>do</strong>. Se só há um (caso de r, l, m, n) a posição mostra a tendência (espera-se que[l] seja vozea<strong>do</strong>), mas o tipo de vozeamento pode variar.e. Se uma casa está vazia e em branco, não se considerou relevante pôr um símbolo aí,mas um som com essas características é possível. Pode haver vibrante bilabial (o símbolo é[]), crianças o pronunciam imitan<strong>do</strong> motor de carro. Se a célula está em negro, o som éconsidera<strong>do</strong> impossível (casos de vibrante velar e de lateral bilabial).f. Não está nessa tabela, mas, nas vogais, <strong>do</strong>is símbolos juntos, como em [], [ ],[ ], correspondem a um som não-arren<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong> e a outro arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong>. Faltam em nossatabela, porque consideramos isso irrelevante em português (embora ocorra, nunca éfonêmico), mas está lá na versão oficial.Aproveitamos o parágrafo acima para lhe lembrar, primeiro, que se <strong>fala</strong> de “fone”,mas de “fonema <strong>do</strong> português” (ou <strong>do</strong> galês, <strong>do</strong> esperanto, <strong>do</strong> alemão, <strong>do</strong> fulniô). Umfonema /o/ <strong>do</strong> português pode ter pouco a ver com um fonema /o/ <strong>do</strong> russo, engloban<strong>do</strong> umconjunto de fones diferentes, que se distribuem de maneira diferente.Vamos contar um caso prático, vin<strong>do</strong> de nossa experiência no ensino de Portuguêspara Estrangeiros. Percebemos, há alguns anos, que <strong>fala</strong>ntes de russo, estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> português,tendiam a escrever (e dizer) algo como (esquecemos as palavras reais) “as alunas novas”,referin<strong>do</strong>-se a <strong>do</strong>is rapazes. Para um professor forma<strong>do</strong> em lingüística, corrigir textos escritosou <strong>fala</strong><strong>do</strong>s só riscan<strong>do</strong> e baixan<strong>do</strong> nota é um absur<strong>do</strong>. Temos que explicar, descobrir que


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 23estratégia fez o aluno chegar àquela realização que consideramos falha. Aparentemente, osalunos russos cometiam erro de concordância, confundin<strong>do</strong> masculino e feminino.Pois não era isso. Acontece que, em russo, só em posição tônica são distintos osfonemas /a/ e /o/ (que pode ser realiza<strong>do</strong> como aberto ou fecha<strong>do</strong>, não tem importância, aocontrário <strong>do</strong> que acontece em português. Em posição átona, em russo, os <strong>sons</strong> centrais [] e[] correspondem tanto a /a/ quanto a /o/, de forma que колокол, ‘sino’, e колокола, 9 “sinos’,translitera<strong>do</strong>s no alfabeto latino como kolokól e kolokolá, são pronuncia<strong>do</strong>s mais ou menos[] e [], 10 respectivamente.3.2 A terminologia fonética, exemplifica<strong>da</strong> com o portuguêsVamos a algumas experiências com classificação e transcrição. Consideran<strong>do</strong> que hágraus de abertura, temos alguns grupos de tipos de mo<strong>do</strong>s de articulação.1. Fechamento máximo: consoantes oclusivas e nasais, vibrantes, tepe. Observe epense em porque se escolheram os símbolos para “Careta de me<strong>do</strong>”, o que justifica o ostermos em negrito: [].O fechamento máximo ocorre de forma varia<strong>da</strong>, a partir <strong>da</strong> qual são classifica<strong>do</strong>s os<strong>sons</strong>, conforme os termos descritos de forma sucinta a seguir.• Plosivo vs. oclusivo. O primeiro termo está na tabela oficial <strong>do</strong> IPA, o segun<strong>do</strong> emlivros brasileiros, sen<strong>do</strong> mais comum em obras sobre o português. Designam os mesmos <strong>sons</strong>,com motivações diferentes. Uma “plosão”, no nosso caso, é para fora, explosão, e acontecepor causa <strong>da</strong> oclusão, fechamento total simples, com liberação súbita <strong>do</strong> ar.Na prática, um som plosivo pode ser “não-libera<strong>do</strong>” (“not released”), cessan<strong>do</strong> o esforçoarticula<strong>do</strong>r só na oclusão. Isto acontece regularmente em línguas como o vietnamês e ocantonês (outra língua <strong>da</strong> China, diferente <strong>do</strong> man<strong>da</strong>rim de Pequim). Em português, éalofone, por exemplo, de /b/ em pronúncias de “Sabe?”; em inglês, acontece, por exemplo,9Em russo e em muitas outras línguas, principalmente eslavas, como búlgaro, ucraniano e o sérvio, é utiliza<strong>do</strong> oalfabeto cirílico, construí<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> alfabeto grego para a evangelização no Velho Eslavônio pelosorto<strong>do</strong>xos Cirilo e Metódio.10O símbolo [] representa l velariza<strong>do</strong>, coarticula<strong>do</strong> com aproximante [w], porque a língua se ergue em suaparte posterior. É um “l colori<strong>do</strong> de u”, “l escuro”, “<strong>da</strong>rk L”, como o de “well”, em inglês ou em dialetos <strong>do</strong>português em mal (em Portugal e, talvez, ain<strong>da</strong>, no Sul <strong>do</strong> Brasil). Em geral, diz-se que l tem cor de vogal: o <strong>do</strong>português brasileiro é central, o <strong>do</strong> francês e <strong>do</strong> alemão são anteriores, palatais, lembran<strong>do</strong> “i”.


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 24nos “advérbios” de afirmação e negação, grafa<strong>do</strong> “Yep” e “Nope”... de fato, não se ouve aípropriamente “p”, apenas ocorrem “yes” sem [s] e “no”, com fechamento imediato <strong>do</strong>slábios. Há também <strong>sons</strong> implosivos, que são produzi<strong>do</strong>s com o ar que ingressa, que vem defora• Nasal. Nestes, a oclusão na boca não causa (ex)plosão, por que o ar escapa para acavi<strong>da</strong>de nasal.• Vibrante. Em vez de fechamento total, tem toques. Não é comum no portuguêsnordestino. A vibrante simples é chama<strong>da</strong> comumente pelos lingüistas Tepe, de tap,“batidinha”, porque a língua dá um toque rápi<strong>do</strong> na boca, entre os alvéolos e o palato. Navibrante múltipla, há três toques pelo menos, nos lábios (um com o outro), nos alvéolos ou naúvula.2. Fechamento suficiente forçar a corrente de ar e produzir ruí<strong>do</strong>: consoantesfricativas em “Já há chuvas”: []. Nas fricativas, há impressão de fricção, pois o ar éforça<strong>do</strong> num estreitamento, sem explosão ou fechamento consistente no canal.• O português está entre as línguas mais ricas em som fricativos (compare com oespanhol). Temos as formas não-vozea<strong>da</strong> e vozea<strong>da</strong> de labiodentais, dentais (Romário) oualveolares e pós-palatais (última transcrição, acima). Como se não bastasse, no Nordeste e emoutras áreas <strong>do</strong> Brasil, os fonemas [], sempre, e [r], em fim de sílaba, se for realiza<strong>do</strong>, sãofricativos, geralmente glotais (há áreas nas quais é igualmente fricativo, mas velar ou uvular).3. Pode haver um movimento entre os articula<strong>do</strong>res, sem qualquer grau de fechamentoque produza oclusão ou que leve a forçar a passagem <strong>do</strong> ar acontece com as consoantesaproximantes (semivogais, semiconsoantes!), inclusive laterais. Experimente dizer:“Ei, e aau la?”, []. Aqui, não se ouve claramente ruí<strong>do</strong>, mas se sente movimentono aparelho fona<strong>do</strong>r, na relação com os outros segmentos: o alteamento <strong>da</strong> língua, porexemplo, é “nur angedeutet” 11 , 'só indica<strong>do</strong>'.• Na lateral aproximante, a impressão <strong>do</strong> som acontece quan<strong>do</strong> a língua se move,afastan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> céu <strong>da</strong> boca. Se não, produz-se uma curiosíssima vogal lateral. Experimente,prolongan<strong>do</strong> o som de “l” em l::::::::::á. A transcrição é [l.:la]. (Não experimente empúblico, use com moderação, pois se parece com expressão de baixo calão).11Pronuncia-se [ . A expressão, muito apropria<strong>da</strong>, é utiliza<strong>da</strong> em SCHUBIGER, Maria(1977).


UCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 254. Percepções aconteci<strong>da</strong>s sem ruí<strong>do</strong> e sem percepção de movimento leve, que sedistinguem apenas pelo timbre, quer dizer, a sensação auditiva de que <strong>do</strong>is <strong>sons</strong> sãodiferentes, só porque há configurações diferentes no aparelho fona<strong>do</strong>r, que levam aressonâncias diferentes. Experimente comparar o que dissemos acima sobre “Ei, e a aula”,para [j], [w] e [l], com o que acontece em “Ah, é aí”, para [a], [] e [i]. No segun<strong>do</strong> caso, vocêpercebe algo como [a], mesmo que a língua fique para<strong>da</strong> por alguns segun<strong>do</strong>s, ao longo deto<strong>da</strong> a pronúncia. Trata-se <strong>da</strong>s vogais, <strong>sons</strong> de articulação livre. A percepção <strong>da</strong>s diferençasvem exclusivamente <strong>do</strong>s diferentes tipos de ressonância <strong>da</strong> voz, <strong>da</strong> vibração <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>svocais, conforme as modificações na cavi<strong>da</strong>de bucal, determina<strong>da</strong>s pelas diferentes posições<strong>da</strong> língua, e <strong>da</strong> abertura <strong>do</strong>s lábios. A língua continua descen<strong>do</strong>, o que está associa<strong>do</strong> àssubclassificações a seguir.(a) Altas. O termo corresponde a fecha<strong>do</strong>, pois o articula<strong>do</strong>r ativo, a língua, está maisque para as outras vogais. Veja os símbolos para as altas anterior e posterior. Fizemosdiferença entre formas tônicas, mais tensas, altas, extremas (anterior, posterior), e formasátonas, relaxa<strong>da</strong>s, menos extremas (tenden<strong>do</strong> à centralização <strong>da</strong> língua):[] 12 , “Vinte cibites e um sur<strong>do</strong>.”(b) Médias-altas. Mantivemos velhas tradições, com 1 símbolo para /e/, um para /o/,mas vários símbolos para /a/. Voltamos ao assunto em (d):[], “Seboseira sem nome na lã”(c) Médias-baixas. Só 1 símbolo para //, 1 para //.[fl“Nova Floresta”(d) Baixas (isto é, abertas). Reveja tu<strong>do</strong> até em cima: cumprimos, para as realizaçõesde /a/, a tradição máxima, de Macambira, com símbolos diferentes para variante tônica oral[], átona final [], outras átonas [], qualquer realização nasal [], preceden<strong>do</strong> a semivogal[w]: []. Não se impressione: isso é discutível, você pode simplificar.[] “Lá faltava água”.Para curiosos: como o som vocálico central médio relaxa<strong>do</strong>, a aproximante /semivogal anterior e a correspondente posterior são difíceis de nomear claramente isola<strong>da</strong>s,com o próprio som, recebem nomes próprios, de origem hebraica. São xuá (“schwa”) para [],iode (“yod”) para [] e uau (“vav”, “waw”) para [w].Paramos aqui, pedin<strong>do</strong> desculpa pelo freio abrupto, para voltar logo em novo texto.12Na prosódia, não seguimos o clássico <strong>do</strong> AFI, porque o sinalzinho de agu<strong>do</strong> para a entoação, útil para aslínguas tonais, mal seria nota<strong>do</strong> para essas ocorrências frasais.


BIBLIOGRAFIAUCHOA, J.A.C. <strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. Fortaleza: <strong>UFC</strong> <strong>Virtual</strong>, 2010 26CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura <strong>da</strong> língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes,1970.CAVALIERE, Ricar<strong>do</strong>. Pontos essenciais em fonética e fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna,2005.GLEASON JR, H.A. An Introduction to descriptive linguistics. Revised edition. New York:Holt, Rinehart and Winston, Inc., 1955, 1961. Em português: Introdução à lingüísticadescritiva. 2. ed. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1985. Vem sain<strong>do</strong> por outra editora.LEMLE, Miriam. Guia teórico <strong>do</strong> alfabetiza<strong>do</strong>r. Ed. rev. e atualiza<strong>da</strong>. São Paulo: Ática,2004.LYONS, John. Lingua(gem) e linguística. Uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara –Koogan, 1987. Cap. 3, “<strong>Os</strong> <strong>sons</strong> <strong>da</strong> língua”.MACAMBIRA, José Rebouças. Fonologia <strong>do</strong> português. 2. ed. Fortaleza: ImprensaUniversitária <strong>da</strong> <strong>UFC</strong>, 1987.MAIA, Eleonora M. No reino <strong>da</strong> <strong>fala</strong>. A linguagem e seus <strong>sons</strong>. São Paulo: Ática, 1985.PIERCE, Joe E. Teaching phonemes. Washington, DC: English Teaching Forum. V. XXVII,n. 3, p. 56, July 1989. Ver o texto e tradução informal nos vínculos de http://inter-linguagem.blogspot.comSCHUBIGER, Maria. Einführung in die Phonetik. [Introdução à fonética] 2. ed. aumenta<strong>da</strong>.Berlin: De Gruyter, 1977.SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e fonologia <strong>do</strong> português. 5. ed. São Paulo: Contexto,2001.TRUBETZKOY, Nikolaus S. Grundzüge der Phonologie. [Princípios <strong>da</strong> fonologia] 7. ed.,Göttingen (Alemanha): Vandenhoeck & Ruprecht, 1989 [1. ed: 1939].<strong>Os</strong> nomes estrangeiros acima pronunciam-se, nesta ordem e aportuguesan<strong>do</strong>, “glísan”,“háiman”, “láions”, “chúbiga”, “píass(e)”, “trubetscói”.20100322

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!