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Relações Brasil-Estados Unidos no Setor de Energia - Funag

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ministério das relações exterioresMinistro <strong>de</strong> EstadoSecretário-GeralEmbaixador Antonio <strong>de</strong> Aguiar PatriotaEmbaixador Ruy Nunes Pinto Nogueirafundação alexandre <strong>de</strong> gusmãoPresi<strong>de</strong>nteEmbaixador Gilberto Vergne SaboiaA Fundação Alexandre <strong>de</strong> Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada aoMinistério das <strong>Relações</strong> Exteriores e tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar à socieda<strong>de</strong> civil informaçõessobre a realida<strong>de</strong> internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão épromover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas <strong>de</strong> relações internacionaise para a política externa brasileira.Ministério das <strong>Relações</strong> ExterioresEsplanada dos Ministérios, Bloco HAnexo II, Térreo, Sala 170170-900 Brasília, DFTelefones: (61) 3411-6033/6034/6847Fax: (61) 3411-9125Site: www.funag.gov.br


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>Relações</strong> <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong> <strong>Setor</strong> <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>:Do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre CooperaçãoEnergética ao Memorando <strong>de</strong> Entendimento sobreBiocombustíveis (2003-2007) – Desafios para aConstrução <strong>de</strong> uma Parceria EnergéticaBrasília, 2011


Direitos <strong>de</strong> publicação reservados àFundação Alexandre <strong>de</strong> GusmãoMinistério das <strong>Relações</strong> ExterioresEsplanada dos Ministérios, Bloco HAnexo II, Térreo70170-900 Brasília – DFTelefones: (61) 3411-6033/6034Fax: (61) 3411-9125Site: www.funag.gov.brE-mail: funag@itamaraty.gov.brEquipe Técnica:Henrique da Silveira Sardinha Pinto FilhoAndré Yuji Pinheiro UemaFernanda Antunes SiqueiraFernanda Leal Wan<strong>de</strong>rleyJuliana Corrêa <strong>de</strong> FreitasPablo <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Saturni<strong>no</strong> BragaProgramação Visual e Diagramação:Juliana OremRevisão:Marcelo Carslon Tha<strong>de</strong>uImpresso <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 2011Benevi<strong>de</strong>s, Neil Giovanni Paiva.<strong>Relações</strong> <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia:do mecanismo <strong>de</strong> consultas sobre cooperação energéticado memorando <strong>de</strong> entendimento sobre biocombustíveis(2003-2007) / Neil Giovanni Paiva Benevi<strong>de</strong>s. – Brasília:Fundação Alexandre <strong>de</strong> Gusmão, 2011.276 p.1. <strong>Relações</strong> exteriores. 2. <strong>Energia</strong>. 3. Biocombustíveis.ISBN: 978.857.631.301-4CDU: 327.3Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Sonale Paiva –CRB /1810Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lein° 10.994, <strong>de</strong> 14/12/2004.


SumárioSiglas e Abreviações, 9Introdução, 13Capítulo I - O Cenário Energético <strong>no</strong> Mundo: Petróleo, Gás Naturale Biocombustíveis, 31A – Características da matriz energética mundial, 31B – A indústria petrolífera, 42C – A indústria <strong>de</strong> gás natural. O comércio <strong>de</strong> GNL, 49D – A expansão dos biocombustíveis, 53Capítulo II - O <strong>Setor</strong> <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, 59A – Descrição da matriz energética. Reservas, produção e consumo<strong>de</strong> recursos energéticos, 59B – Evolução do setor energético. A perda da autossuficiência empetróleo e gás natural, 63C – O setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Ciclos <strong>de</strong> expansão e políticas <strong>de</strong> apoio, 68D – A <strong>de</strong>pendência externa <strong>no</strong> setor energético. Importações <strong>de</strong>petróleo, gás natural e biocombustíveis, 77Capítulo III - Gover<strong>no</strong> George W. Bush (2001-2008): A PolíticaEnergética e a Cooperação Internacional, 85A – Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e a segurança energética. Ações <strong>no</strong> pla<strong>no</strong>exter<strong>no</strong> e inter<strong>no</strong>, 85


B – Política energética: Funções <strong>no</strong> âmbito do Executivo e doCongresso dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Cooperação com o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>setor energético, 100C – Formulação e execução da política energética durante aAdministração George W. Bush, 113D – Recomendações da NEP (National Energy Policy) sobresegurança energética e parcerias internacionais, 123Capítulo IV - <strong>Relações</strong> <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (2003-2007): AsConsultas sobre Cooperação Energética e o Lançamento daParceria em Biocombustíveis, 139A - O Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação na Área <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, 139B - O Memorando <strong>de</strong> Entendimento para avançar a Cooperaçãoem Biocombustíveis, 153C - O Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis, 177Conclusões, 185A – Estratégia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para a cooperação energéticacom o <strong>Brasil</strong>, 185B – Limites para a construção <strong>de</strong> uma parceria energética, 206C – Proposta <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação, 213Bibliografia, 219Anexo I - Ajuste Complementar entre a República Fe<strong>de</strong>rativa do<strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América para a Cooperação na Área <strong>de</strong>Tec<strong>no</strong>logia Energética, 229Anexo II - Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério <strong>de</strong> Minas e<strong>Energia</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América para o Estabelecimento <strong>de</strong> Mecanismo<strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, 237Anexo III - Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Gover<strong>no</strong> da RepúblicaFe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América paraavançar a Cooperação em Biocombustíveis, 241


Anexo IV - Declaração do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis, 245Anexo V - Primeira Reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas entre o Ministério<strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Departamento <strong>de</strong><strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América. Relatório, 249Anexo VI - Nota do Departamento <strong>de</strong> Estado sobre a Assinatura doMemorando <strong>de</strong> Entendimento para Avançar a Cooperação Bilateral emBiocombustíveis, 253Anexo VII - Mapas, Gráficos, Tabelas e Quadros, 257


Siglas e AbreviaçõesABCMABNTADMAEIAAIOCALCAANCAPANPANWRAPECAPOCAPPAPPIARAMCOASTMBGBIDBLMBPBTLCAFECALTEXCAMEXCARICOMAssociação <strong>Brasil</strong>eira do Carvão MineralAssociação <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Normas TécnicasArcher Daniels MidlandAgência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> AtômicaAnglo-Iranian Oil CompanyAcordo <strong>de</strong> Livre Comércio das AméricasAdministración Nacional <strong>de</strong> Combustibles, Alcohol y PortlandAgência Nacional do PetróleoArctic National Wildlife RefugeAsia-Pacific Eco<strong>no</strong>mic CooperationAnglo-Persian Oil CompanyParceria Ásia-Pacífico sobre Clima e Desenvolvimento LimpoAcordo <strong>de</strong> Promoção e Proteção <strong>de</strong> InvestimentosArabian American Oil CompanyAmerican Society for Testing on MaterialsBritish GasBanco Interamerica<strong>no</strong> <strong>de</strong> DesenvolvimentoEscritório <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Terras PúblicasBritish PetroleumBiocombustível sintéticoCorporate Average Fuel Eco<strong>no</strong>myCalifornia Texas Oil CompanyCâmara <strong>de</strong> Comércio ExteriorComunida<strong>de</strong> do Caribe9


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sCBICECACEFETCEICEPALCFTCCNENCNPCCNPECNPQCOPELCSLFCTCLDOEDOSEIAEISActEMBRAPAENAGASENREPAEPActEPCEPEETBEFAOFDLFSAFTAAGAOGIFGLPGNLGNLEGTSGTWHBIOHGNIECINMETROIOCsIPHECaribbean Basin InitiativeComunida<strong>de</strong> Europeia do Carvão e do AçoCentro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tec<strong>no</strong>lógica Celso Suckow daFonsecaComunida<strong>de</strong> dos <strong>Estados</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesComissão Econômica para a América Latina e o CaribeCommodity Futures Trading CommissionComissão Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> NuclearChina National Petroleum CorportationConselho Nacional <strong>de</strong> Política EnergéticaConselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tec<strong>no</strong>lógicoCompanhia Paranaense <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Carbon Sequestration Lea<strong>de</strong>rship ForumCentro Tec<strong>no</strong>lógico <strong>de</strong> Carvão LimpoDepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Department of StateEnergy Information AdministrationEnergy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security ActEmpresa <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Pesquisa AgropecuáriaEnte Nacional <strong>de</strong>l GasDivisão para <strong>Energia</strong> e Recursos NaturaisEnvironmental Protection AgencyEnergy Policy ActDivisão para Países Produtores <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Empresa <strong>de</strong> Pesquisa EnergéticaÉter etil-butil terciárioOrganização das Nações Unidas para Agricultura e AlimentaçãoFundo <strong>de</strong> Desenvolvimento LimpoFinancial Services AuthorityFree Tra<strong>de</strong> Area of the AmericasGovernment Accountability OfficeGeneration IV International ForumGás Liquefeito <strong>de</strong> PetróleoGás Natural LiquefeitoGás Natural Liquefeito EmbarcadoGas to SolidsGas to WireHidrogenação <strong>de</strong> óleos vegetaisHidratos <strong>de</strong> gás natural comprimidoEscritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Internacional e Política <strong>de</strong> CommoditiesInstituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia, Normalização e Qualida<strong>de</strong> IndustrialInternational Oil CompaniesParceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio10


siglas e abreviaçõesISOLACTECLIHEAPMAPAMCTMDICMDLMMEMMSmpgMREmstMTBENAEWGNAFTANEPNEPDNETLNIOCNOCsNRELNYMEXOCDEODAOEAOECDOECSOMCPAIPBioPDVSAPEMEXPNUDPNUMARCERFASICASOCALSOCONYSPRTAEStcfTexacoInternational Organization for StandardizationInstituto <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia para o DesenvolvimentoLow Income Home Energy Assistance ProgramMinistério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoMinistério da Ciência e Tec<strong>no</strong>logiaMinistério Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorMecanismo <strong>de</strong> Desenvolvimento LimpoMinistério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong>Serviço <strong>de</strong> Controle MineralMilhas por galãoMinistério das <strong>Relações</strong> ExterioresMillion short tonsÉter metil-butil terciárioGrupo <strong>de</strong> Trabalho sobre <strong>Energia</strong> da América do NorteAcordo <strong>de</strong> Livre Comércio da América do NorteNational Energy PolicyNational Energy Policy Development GroupNational Energy Tech<strong>no</strong>logy LaboratoryNational Iranian Oil CompanyNational Oil CompaniesLaboratório Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vávelNew York Mercantile ExchangeOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento EconômicoOfficial Development AssistanceOrganização dos <strong>Estados</strong> America<strong>no</strong>sOrganization for Eco<strong>no</strong>mic Cooperation and DevelopmentOrganização dos <strong>Estados</strong> do Caribe OrientalOrganização Mundial do ComércioPetrobras America Inc.Petrobras BiocombustíveisPetróleos <strong>de</strong> Venezuela S.A.Petróleos Mexica<strong>no</strong>sPrograma das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPrograma das Nações Unidas para o Meio AmbienteReduções Certificadas <strong>de</strong> EmissõesRenewable Fuels AssociationSistema <strong>de</strong> Integração da América CentralStandard Oil of CaliforniaStandard Oil of New YorkReserva Estratégica <strong>de</strong> PetróleoTexas A&M University’s Agricultural Experiment StationTrillion cubic feetTexas Oil Company11


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sTVAUFRJUNBUNICAUNIDOUSAIDUSDAUSNRCUSPUSTDAUSTRWTIYPFTennessee Valley AuthorityUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> JaneiroUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> BrasíliaUnião da Indústria <strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-açúcarUnited Nations Industrial Development OrganizationAgência para o Desenvolvimento InternacionalDepartamento <strong>de</strong> Agricultura dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>Comissão Reguladora NuclearUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloAgência <strong>de</strong> Comércio e DesenvolvimentoOffice of the United States Tra<strong>de</strong> RepresentativeWest Texas IntermediateYacimientos Petrolíferos Fiscales12


IntroduçãoNos últimos a<strong>no</strong>s, a questão energética ganhou visibilida<strong>de</strong> na pautabilateral. Em 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2003, com a assinatura do Memorando<strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> (MME) e oDepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (DOE) para Estabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong>Consultas sobre Cooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>passaram a contar com foro específico, em nível ministerial, para tratarda cooperação energética, inclusive em <strong>no</strong>vas áreas tec<strong>no</strong>lógicas como osequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e a eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio. Posteriormente, em 9 <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 2007, assi<strong>no</strong>u-se o Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Gover<strong>no</strong> daRepública Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da Américapara Avançar a Cooperação em Biocombustíveis, pelo qual os dois países seengajaram em parceria i<strong>no</strong>vadora, voltada para projetos bilaterais <strong>de</strong> pesquisa,cooperação com terceiros países e a estruturação do mercado internacional<strong>de</strong> biocombustíveis. Dessa forma, <strong>no</strong> período 2003-2007, o relacionamento<strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia elevou-se <strong>de</strong> patamar restrito à cooperação técnica e àsconsultas ministeriais sobre temas energéticos até alcançar o status <strong>de</strong> parceriana área dos biocombustíveis. Dois encontros presi<strong>de</strong>nciais, ambos em março<strong>de</strong> 2007, em São Paulo e em Camp David, marcaram o aprofundamento dacooperação energética.Não obstante a disposição política <strong>de</strong> ambos os Gover<strong>no</strong>s parafomentar o diálogo em alto nível e produzir avanços na cooperação13


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>senergética, os resultados alcançados foram relativamente mo<strong>de</strong>stos.Criado em 2003, por iniciativa dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, o Mecanismo <strong>de</strong>Consultas <strong>de</strong>veria, em princípio, reunir-se anualmente, sob a presidênciados titulares das pastas <strong>de</strong> energia, com o propósito <strong>de</strong> examinar “temas <strong>de</strong>mútuo interesse na área <strong>de</strong> energia, incluindo planejamento energético eanálises <strong>de</strong> políticas energéticas, comércio e investimentos e cooperaçãona área <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas” 1 . O Mecanismo foi acionado, porém,uma única vez, em 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004, durante visita ao <strong>Brasil</strong> doSecretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Spencer Abraham. Apesar do interesse brasileiroem dar continuida<strong>de</strong> aos trabalhos do Mecanismo, não foi possível reuniro grupo durante a gestão do Secretário Samuel Bodman (2005-2008),sucessor <strong>de</strong> Abraham <strong>no</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>.No setor dos biocombustíveis, ao amparo do Memorando <strong>de</strong>Entendimento <strong>de</strong> 2007, os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong> e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>lançaram parceria bilateral, que inclui: a) pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia para biocombustíveis <strong>de</strong> <strong>no</strong>va geração; b) ação conjuntapara promover a produção e o consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l em países da AméricaCentral, do Caribe e da África; e, c) cooperação <strong>no</strong> âmbito do FórumInternacional <strong>de</strong> Biocombustíveis para o estabelecimento <strong>de</strong> padrõesuniformes e <strong>no</strong>rmas com vistas ao estabelecimento do mercado <strong>de</strong>biocombustíveis 2 . O Itamaraty teve participação ativa na concepção ena negociação do Memorando <strong>de</strong> Entendimento <strong>de</strong> 2007. A parceriacom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em biocombustíveis enfrenta, porém, uma série<strong>de</strong> obstáculos, como as barreiras tarifárias às importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lbrasileiro, as disparida<strong>de</strong>s entre as respectivas indústrias – em termos<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, impacto sobre a produção <strong>de</strong> alimentos e <strong>de</strong>pendência<strong>de</strong> apoio governamental – e as resistências à criação do mercadointernacional <strong>de</strong> biocombustíveis.A análise das relações bilaterais <strong>no</strong> setor energético <strong>no</strong> período2003-2007 exigirá atenção tanto a fatores exter<strong>no</strong>s, como o mercadointernacional <strong>de</strong> petróleo, quanto às características específicas <strong>de</strong> cadapaís. Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a escalada dos preços do petróleo, ocorridaentre 2003 e 2008, encareceu os custos do setor <strong>de</strong> transportes e suscitou1Parágrafo operativo 1 do Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o MME e o DOE paraestabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Vi<strong>de</strong> Anexo II.2Parágrafo operativo 1 do Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong> e dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para avançar a Cooperação em Biocombustíveis. Vi<strong>de</strong> Anexo III.14


introduçãointenso <strong>de</strong>bate sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversificar a matriz energética,promover maior eficiência e utilização da energia re<strong>no</strong>vável e reduzira <strong>de</strong>pendência do petróleo importado. Motivou, também, o reforço dapolítica energética <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> estimular iniciativas voltadas paraa exploração <strong>de</strong> fontes re<strong>no</strong>váveis e alternativas <strong>de</strong> energia, entre asquais se inscreve a parceria com o <strong>Brasil</strong> na área <strong>de</strong> biocombustíveis.No <strong>Brasil</strong>, porém, não ocorreu aumento significativo dos preços dagasolina, mesmo <strong>no</strong> auge da crise petrolífera em 2008. Explicam ocaso brasileiro, <strong>de</strong> um lado, a maior participação do eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> mercadointer<strong>no</strong> <strong>de</strong> combustíveis, que <strong>de</strong>sestimulou o repasse da alta das cotaçõesinternacionais do petróleo, e, <strong>de</strong> outro, a política <strong>de</strong> preços adotadapelo Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral. As elevadas margens <strong>de</strong> lucro da Petrobras e <strong>de</strong>outras empresas petrolíferas possibilitaram aumento dos investimentosem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração <strong>no</strong> litoral brasileiro, que culminaram comas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> gás natural na camada pré-sal a partir<strong>de</strong> 2007. Além das implicações para o <strong>de</strong>senvolvimento industrial e oposicionamento geoestratégico do país, o anúncio das reservas do pré-salabriu <strong>no</strong>vas perspectivas para as relações com os EUA.O <strong>Brasil</strong> apresenta baixo consumo <strong>de</strong> energia per capita, sobretudoem comparação com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, o Canadá e os países da UniãoEuropeia 3 . O <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social conduzirá o país,inevitavelmente, a patamares mais elevados <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia, emparticular eletricida<strong>de</strong>. As projeções da Empresa <strong>de</strong> Pesquisa Energética(EPE) sugerem crescimento da <strong>de</strong>manda por energia primária <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> daor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 5% ao a<strong>no</strong> 4 . Para garantir o crescimento econômico, o Gover<strong>no</strong>brasileiro necessita assegurar o incremento da produção energética e adiversificação das fontes externas <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong> preferência preservandoo perfil “limpo” da matriz energética. Atualmente, o país conta comrecursos tec<strong>no</strong>lógicos e condições geológicas favoráveis para suprir boaparte da <strong>de</strong>manda interna por energia. Recorre, porém, às importações<strong>de</strong> alguns insumos, como gás natural, carvão, óleo diesel e <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong>petróleo. Do ponto <strong>de</strong> vista do planejamento energético, a preocupaçãocom o abastecimento inter<strong>no</strong>, sobretudo <strong>no</strong> setor elétrico, tem sido3Vi<strong>de</strong> Mapa 1, Anexo VII.4Conferência Nacional <strong>de</strong> Política Externa e Política Internacional – II CNPEPI: o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>mundo que vem aí. Debate sobre <strong>Energia</strong>. Professor Mauricio Tiom<strong>no</strong> Tolmasquim. Brasília:Fundação Alexandre <strong>de</strong> Gusmão, 2008.15


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sconstante. O Gover<strong>no</strong> tem fomentado, por exemplo, a construção <strong>de</strong>hidrelétricas e <strong>de</strong> termelétricas a gás natural. Há razões para crer que o<strong>Brasil</strong> conseguirá manter o ritmo <strong>de</strong> crescimento econômico, sem per<strong>de</strong>ra relativa auto<strong>no</strong>mia que conquistou <strong>no</strong> setor energético. De acordo coma EPE, o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência externa <strong>no</strong> setor energético brasileiro temdiminuído gradativamente: 40% (1980); 25% (1990); 22% (2000); e 10%(2005) 5 . Des<strong>de</strong> 2006, o <strong>Brasil</strong> beneficia-se da autossuficiência <strong>no</strong> setorpetrolífero (volume <strong>de</strong> produção maior do que o consumo), mas aindaprecisa importar óleo leve para uso nas refinarias nacionais. O país reúnecondições para tornar-se exportador <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>rivados<strong>de</strong> alto valor agregado. A exploração dos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> gás natural dacamada pré-sal, por sua vez, contribuirá para a redução da <strong>de</strong>pendênciaexterna <strong>no</strong> setor.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são os maiores produtores e consumidores <strong>de</strong>energia, ao lado <strong>de</strong> China e Rússia 6 . Depen<strong>de</strong>m, porém, do fornecimentoexter<strong>no</strong> para suprir parte da <strong>de</strong>manda doméstica por petróleo e gásnatural. O grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência externa é maior <strong>no</strong> caso do petróleo. Opaís importa cerca <strong>de</strong> 60% do petróleo consumido internamente. Atéos a<strong>no</strong>s 50, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> mantiveram autossuficiência <strong>no</strong> setor, oque permitiu sustentar a expansão do pós-guerra. Des<strong>de</strong> então, o volumedas importações <strong>de</strong> petróleo tem crescido, tendência interrompidaapenas durante os “choques” do petróleo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70. Nas Américas, oCanadá, o México, a Venezuela e o <strong>Brasil</strong> são os maiores fornecedores <strong>de</strong>petróleo para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. As exportações brasileiras <strong>de</strong> petróleopara o mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> têm crescido significativamente.Após as <strong>de</strong>scobertas na região do pré-sal, cresceu a expectativa dasautorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanas <strong>de</strong> que o <strong>Brasil</strong> possa futuramente ampliarseu fornecimento. Em março <strong>de</strong> 2009, durante visita a São Paulo, oSecretário <strong>de</strong> Estado Assistente para o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, ThomasShan<strong>no</strong>n, <strong>de</strong>clarou: “Estamos bastante interessados <strong>no</strong> petróleo e <strong>no</strong>gás brasileiro... é óbvio que quando o <strong>Brasil</strong> começar a explorar suasreservas e conhecer sua magnitu<strong>de</strong>... nós estaremos muito interessadosem continuar as conversações” 7 .5I<strong>de</strong>m.6Vi<strong>de</strong> Tabela 1, Anexo VII.7Valor Econômico, “EUA acompanham <strong>de</strong> perto megacampos brasileiros”, publicado em01/04/2009.16


introduçãoO setor <strong>de</strong> biocombustíveis, apesar das <strong>de</strong>scobertas do pré-sal e dasrestrições tarifárias às exportações brasileiras <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, permanecerácomo um dos eixos do relacionamento bilateral tanto na área energéticaquanto diplomática. <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são os maiores produtores<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Ambos os Gover<strong>no</strong>s têm interesse <strong>no</strong> avanço da pesquisacientífica, <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos biocombustíveis avançados e nacriação do mercado internacional <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Do lado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>,há expectativa <strong>de</strong> reduzir a <strong>de</strong>pendência das importações <strong>de</strong> petróleopor meio do estímulo à indústria doméstica <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, assim comointenção <strong>de</strong> fomentar parceria energética com os países das Américas edo Caribe, com base na produção e consumo <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável. Dolado brasileiro, espera-se ampliar as exportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l e promoveriniciativas <strong>de</strong> cooperação triangular, em benefício dos países africa<strong>no</strong>s,centro-america<strong>no</strong>s e caribenhos, além <strong>de</strong> contar com o apoio dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para o estabelecimento dos padrões e regras do mercadointernacional <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. O <strong>Brasil</strong> é o único país capaz <strong>de</strong> sustentarexportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l em larga escala e o principal fornecedor dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. No Congresso, porém, a pressão do lobby agrícola tem garantidoa manutenção das barreiras tarifárias às importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l brasileiro,assim como subsídios à produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho.Além do petróleo e do eta<strong>no</strong>l, o gás natural – na forma <strong>de</strong> GNL (GásNatural Liquefeito) – <strong>de</strong>sponta como possível fator para o incremento docomércio bilateral. Des<strong>de</strong> o final dos a<strong>no</strong>s 80, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> recorremao fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> gás natural. Importam cerca <strong>de</strong> 16% do gásnatural consumido internamente, a maior parte canalizada por gasodutos.O Canadá respon<strong>de</strong> por mais <strong>de</strong> 80% das vendas. Além disso, os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> importam, por via marítima, cargas <strong>de</strong> GNL <strong>de</strong> países comoTrinidad e Tobago, Egito, Nigéria e Argélia 8 . No <strong>Brasil</strong>, há perspectiva<strong>de</strong> redução da <strong>de</strong>pendência externa <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> gás natural, graças às<strong>de</strong>scobertas dos recursos da camada pré-sal. Executivos da Petrobrasconsi<strong>de</strong>ram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> gás para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.A Bacia <strong>de</strong> Santos – Campo <strong>de</strong> Júpiter, <strong>no</strong> bloco BM-S-24 – contariacom <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> gás natural suficientes para garantir o abastecimentointer<strong>no</strong> e tornar disponíveis eventuais exce<strong>de</strong>ntes para exportação. Emfevereiro <strong>de</strong> 2009, a Diretora <strong>de</strong> Gás e <strong>Energia</strong> da Petrobras, Maria das8Energy Information Administration. Annual Energy Outlook 2009.17


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGraças Foster, anunciou o projeto <strong>de</strong> estocar e liquefazer o gás que não forutilizado para geração da energia térmica com vistas à sua exportação parapaíses do Cone Sul, <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e União Europeia: “Nossa priorida<strong>de</strong>é aten<strong>de</strong>r ao mercado <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia. Mas em um país em que hágeração híbrida – <strong>de</strong> hidrelétricas e térmicas – ficamos com exce<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> gás natural quando os reservatórios estão cheios. Somos uma loja e<strong>no</strong>ssa função é dar o melhor encaminhamento ao gás produzido aqui” 9 .Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2009, a Petrobras e a BG (British Gas) assinaramacordo para <strong>de</strong>senvolvimento do projeto Gás Natural LiquefeitoEmbarcado (GNLE), que tem como objetivo instalar terminal flutuante <strong>de</strong>GNL para escoar o gás do pré-sal da Bacia <strong>de</strong> Santos. O cro<strong>no</strong>grama prevêinício das operações em julho <strong>de</strong> 2015, com capacida<strong>de</strong> para liquefazerquatorze milhões <strong>de</strong> metros cúbicos <strong>de</strong> gás natural por dia. O GNLE éconsi<strong>de</strong>rado pela direção da Petrobras como a alternativa mais viávelpara o transporte do gás do pré-sal da Bacia <strong>de</strong> Santos. O produto terácomo <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> o mercado inter<strong>no</strong>, quando houver <strong>de</strong>manda, ou mercadosexter<strong>no</strong>s, quando os reservatórios das hidrelétricas estiverem cheios 10 .Com vistas a proporcionar visão mais ampla do tema do trabalho,cabe formular, inicialmente, algumas consi<strong>de</strong>rações sobre o cenárioenergético internacional, com ênfase <strong>no</strong>s efeitos da crise <strong>de</strong> 2008 sobrea evolução dos setores <strong>de</strong> hidrocarbonetos e <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.O mercado do petróleo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do século XXI, tem-secaracterizado por acentuada volatilida<strong>de</strong>. Após longa fase <strong>de</strong> elevaçãodos preços – entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 2003 e 2008 – seguida <strong>de</strong> brusca queda dascotações, em meados <strong>de</strong> 2008, o mercado petrolífero voltou a registrartendência <strong>de</strong> alta a partir <strong>de</strong> 2009 11 . Em março <strong>de</strong> 2003, às vésperasda intervenção dos EUA contra o Iraque, a cotação do barril <strong>de</strong> óleoleve (WTI–NYMEX) estava a US$ 35 na bolsa <strong>de</strong> Nova York. Com a<strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Saddam Hussein e a retomada das exportações do Iraque,em junho <strong>de</strong> 2003, houve redução dos preços. Pouco mais tar<strong>de</strong>, emsetembro, com o barril <strong>de</strong> óleo leve cotado abaixo <strong>de</strong> US$ 30, os países9Jornal do Commercio, “Petrobrás anuncia projeto <strong>de</strong> se tornar exportadora <strong>de</strong> gás natural”,publicado em 12/02/2009.10Estado <strong>de</strong> São Paulo, “Petrobras e BG vão fazer o 1º terminal flutuante <strong>de</strong> gás”, publicadoem 18/11/2009.11Vi<strong>de</strong> Gráfico 1, Anexo VII.18


introduçãoda Organização dos Países Exportadores <strong>de</strong> Petróleo (OPEP) durantereunião que contou com a participação do Iraque, pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1990 – <strong>de</strong>cidiram reduzir o teto <strong>de</strong> produção do cartel em 900.000 barrisdiários, alegando risco <strong>de</strong> superprodução em 2004. Os preços voltaram asubir, impulsionados também pelo crescimento da <strong>de</strong>manda mundial. Emmaio <strong>de</strong> 2004, o barril <strong>de</strong> óleo leve (WTI-NYMEX) superou o patamar<strong>de</strong> US$ 40. A fase ascen<strong>de</strong>nte dos preços do petróleo se esten<strong>de</strong>u até2008, tendo-se registrado uma breve interrupção <strong>no</strong> início <strong>de</strong> 2007. No<strong>de</strong>correr do período, o preço médio do barril <strong>de</strong> petróleo, negociado naBolsa <strong>de</strong> Nova York, elevou-se <strong>de</strong> US$ 30, em 2003, até o patamar <strong>de</strong>US$ 140, em julho <strong>de</strong> 2008.A partir do segundo semestre <strong>de</strong> 2008, com o colapso dos mercadosfinanceiro e imobiliário <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, os preços do petróleo<strong>de</strong>spencaram. Em fevereiro <strong>de</strong> 2009, o preço do barril <strong>de</strong> óleo leve (WTI)encontrava-se em nível inferior a US$ 37 na Bolsa <strong>de</strong> Nova York. A trajetória<strong>de</strong> queda dos preços foi interrompida, porém, <strong>no</strong> início <strong>de</strong> 2009. Em março,o valor do barril (WTI) já havia retornado ao patamar <strong>de</strong> US$ 50 graças aoscortes <strong>de</strong> produção da OPEP e ao aumento da <strong>de</strong>manda por combustívelpara calefação <strong>no</strong> Hemisfério Norte. A <strong>de</strong>svalorização do dólar, o retor<strong>no</strong>da especulação com os contratos futuros <strong>de</strong> energia e dados positivossobre as eco<strong>no</strong>mias dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e da China, os dois maioresconsumidores <strong>de</strong> petróleo, impulsionaram ainda mais as cotações. Em<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2009, o valor do barril <strong>de</strong> óleo leve (WTI), negociado naBolsa <strong>de</strong> Nova York, para entrega em janeiro <strong>de</strong> 2010, chegou a sercotado a US$ 80,07.A fase <strong>de</strong> alta dos preços do petróleo (2003-2008), que se esten<strong>de</strong>durante o período histórico consi<strong>de</strong>rado <strong>no</strong> presente trabalho, coincidiucom um ciclo <strong>de</strong> crescimento da eco<strong>no</strong>mia internacional, impulsionadopela expansão do crédito e pela globalização financeira. Além do fortecomponente especulativo, <strong>de</strong>corrente da atuação dos fundos <strong>de</strong> hedgee dos bancos <strong>de</strong> investimento na negociação dos contratos futuros, aescalada dos preços do petróleo resultou <strong>de</strong> outros fatores, <strong>de</strong>ntre os quaisseria possível citar a elevação dos custos da exploração petrolífera, o<strong>de</strong>clínio da produção extra-OPEP, a <strong>de</strong>svalorização do dólar, a redução dosestoques estratégicos <strong>de</strong> países da OCDE (Organização para a Cooperaçãoe Desenvolvimento Econômico), a instabilida<strong>de</strong> política <strong>no</strong> OrienteMédio, a coesão e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado da OPEP, a limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>19


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>srefi<strong>no</strong> da indústria petrolífera mundial e o crescimento da <strong>de</strong>manda globalpor combustíveis, sobretudo <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> transportes. O longo período<strong>de</strong> alta dos preços do petróleo teve forte impacto sobre a evolução dosetor energético <strong>no</strong> mundo. Estimulou, por exemplo, os investimentosna exploração dos recursos não convencionais <strong>de</strong> hidrocarbonetos,como o xisto e as areias betumi<strong>no</strong>sas, os óleos pesados e os <strong>de</strong>pósitospetrolíferos localizados em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s marítimas. Reforçouo interesse na produção <strong>de</strong> energia a partir <strong>de</strong> fontes re<strong>no</strong>váveis, como abiomassa, e a pesquisa científica em <strong>no</strong>vas áreas, como a eco<strong>no</strong>mia dohidrogênio 12 . A questão energética passou a ocupar espaço crescente <strong>no</strong>diálogo entre Gover<strong>no</strong>s, empresas e organismos multilaterais, ao lado <strong>de</strong>outros <strong>de</strong>safios globais, como a mudança do clima, o combate à fome eà pobreza e o avanço das pan<strong>de</strong>mias (AIDS, gripes).O agravamento da crise econômica e financeira, em meados <strong>de</strong>2008, provocou redução abrupta dos preços do petróleo, que perduroupor alguns meses, o suficiente para provocar reversão das expectativas<strong>no</strong>s mercados energéticos. Até então, os altos preços do petróleo haviamestimulado, em muitos países, a adoção <strong>de</strong> políticas voltadas para maioreficiência energética, diversificação e exploração das fontes re<strong>no</strong>váveise alternativas <strong>de</strong> energia. A redução dos preços trouxe alívio à eco<strong>no</strong>miamundial, imersa em profunda crise. Resultou, porém, em diminuiçãoda competitivida<strong>de</strong> das fontes re<strong>no</strong>váveis e alternativas, como energiaeólica, energia solar e os biocombustíveis. Acarretou <strong>de</strong>saceleração <strong>no</strong>ritmo dos projetos energéticos ligados ao aproveitamento dos recursosnão convencionais <strong>de</strong> hidrocarbonetos. Caíram, também, os preços dogás natural, <strong>no</strong>rmalmente ligados aos preços do petróleo (em algumasregiões, por meio <strong>de</strong> contratos, como <strong>no</strong> Japão e na União Europeia), oque reforçou a tendência <strong>de</strong> perda da competitivida<strong>de</strong> dos combustíveisalternativos ao gás, utilizados na produção elétrica, como o carvão,energia solar, eólica e nuclear.A retração da eco<strong>no</strong>mia global, associada à reviravolta <strong>no</strong> mercadopetrolífero, <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u mudanças na configuração do cenário energético.Em primeiro lugar, os baixos preços e as restrições <strong>de</strong> crédito reduziraminvestimentos em exploração e produção <strong>de</strong> petróleo e gás natural,sobretudo <strong>no</strong>s projetos <strong>de</strong> mais alto custo, como os que envolvem a12The Hydrogen Eco<strong>no</strong>my. Jeremy Rifkin. New York, NY: Tarcher Penguin, 2002.20


introduçãoprodução <strong>de</strong> óleos pesados (Venezuela), em águas profundas (Golfo doMéxico) e areias betumi<strong>no</strong>sas (Canadá). Exceção <strong>no</strong>tável foi o <strong>Brasil</strong>,on<strong>de</strong> a Petrobras divulgou, <strong>no</strong> início <strong>de</strong> 2009, pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> negócios paraacelerar a exploração das reservas do pré-sal, que envolve investimentosda or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$174 bilhões até 2013. A crise internacional acentuou,ainda, tendência <strong>de</strong> queda da produção em regiões tradicionais, fora dainfluência da OPEP, como o Mar do Norte e a Rússia. Estima-se que, <strong>no</strong>longo prazo, a OPEP, que respon<strong>de</strong> atualmente por cerca <strong>de</strong> 40% da ofertaglobal, <strong>de</strong>verá ampliar sua participação e seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado 13 . Novas<strong>de</strong>scobertas, inclusive as do pré-sal brasileiro, não seriam suficientespara reverter a tendência <strong>de</strong> queda da participação relativa da produçãoextra-OPEP, uma vez que os países do cartel controlam três quartos dasreservas provadas <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> mundo 14 .O mercado <strong>de</strong> gás sentiu, também, o impacto da crise internacional,não só por conta da queda dos preços, mas pela redução dos custos daindústria, em particular dos projetos <strong>de</strong> GNL (Gás natural liquefeito).Ao reduzir preços e custos do GNL, a crise estimulou o comércio doproduto, principalmente <strong>no</strong>s mercados do Atlântico, motivando gran<strong>de</strong>sempresas, como a Petrobras, a formular pla<strong>no</strong>s para o setor. A crisegerou, porém, exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> gás <strong>no</strong> mercado, inclusive <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Emseu relatório anual sobre o mercado <strong>de</strong> gás, a Agência Internacional <strong>de</strong><strong>Energia</strong> (AIE) registrou redução <strong>de</strong> 4% na <strong>de</strong>manda global <strong>no</strong> primeirotrimestre <strong>de</strong> 2009 – a primeira queda do consumo em décadas – ao mesmotempo em que verificou aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e liquefação<strong>de</strong> gás natural em países exportadores como o Catar, Rússia, Indonésia,Malásia e Iêmen. Segundo a Agência, há risco <strong>de</strong> que, <strong>no</strong> médio prazo,a combinação <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda fraca e preços mais baixos <strong>de</strong>sestimulem osinvestimentos em produção e infraestrutura <strong>de</strong> abastecimento, o quecomprometeria o <strong>de</strong>senvolvimento do mercado <strong>de</strong> gás em escala global 15 .No pla<strong>no</strong> internacional, uma das principais consequências dacrise foi o fortalecimento da posição da China na disputa por recursosenergéticos. Em contraste com a brusca redução da ativida<strong>de</strong> econômica<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Japão e Europa, a China manteve taxas positivas <strong>de</strong>crescimento e incrementou sua <strong>de</strong>manda por petróleo e recursos naturais.13Energy Information Administration. International Energy Outlook 2009.14Vi<strong>de</strong> Quadro 1, Anexo VII.15International Energy Agency. Natural Gas Market Review 2009.21


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sEm 1993, a China tor<strong>no</strong>u-se importadora líquida <strong>de</strong> petróleo, <strong>de</strong>spertandoa preocupação dos formuladores <strong>de</strong> política energética em paísesoci<strong>de</strong>ntais, sobretudo <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Para garantir <strong>no</strong>vas fontes<strong>de</strong> petróleo, o Gover<strong>no</strong> chinês passou a celebrar acordos <strong>de</strong> cooperaçãocom países produtores da África e da América Latina, como Angola,Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e <strong>Brasil</strong>, além dos fornecedorestradicionais do Oriente Médio e da Ásia. Tais acordos incluem, comfrequência, participações em empresas petrolíferas, joint ventures comestatais e investimentos em refinarias, gasodutos e infraestrutura <strong>de</strong>transporte. Apesar <strong>de</strong> não representar ameaça aos interesses corporativosdas empresas petrolíferas oci<strong>de</strong>ntais, atuantes em toda a América Latina,o fluxo dos investimentos chineses sinalizou clara disposição <strong>de</strong> Pequimpara aumentar sua presença na região e garantir maior diversida<strong>de</strong>geográfica na relação <strong>de</strong> seus fornecedores.No <strong>Brasil</strong>, a crise internacional ocorreu <strong>no</strong> contexto da divulgação das<strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo e gás natural na camada pré-sal. Em julho <strong>de</strong> 2008,o Gover<strong>no</strong> brasileiro criou grupo <strong>de</strong> trabalho interministerial encarregado <strong>de</strong>formular proposta para a a<strong>de</strong>quação do marco regulatório do setor petrolíferoàs condições das áreas do pré-sal, caracterizadas por baixo risco exploratórioe alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção. A proposta foi encaminhada ao CongressoNacional em fins <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2009. O Gover<strong>no</strong> preten<strong>de</strong> utilizar os recursosobtidos com a exploração do pré-sal para fortalecer a ca<strong>de</strong>ia produtiva<strong>de</strong> petróleo e gás (indústria naval, petroquímica, equipamentos), além <strong>de</strong>financiar investimentos na área social. Por meio da Petrobras, o Gover<strong>no</strong><strong>de</strong>cidiu ampliar o número <strong>de</strong> refinarias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> para reduzir a <strong>de</strong>pendênciadas importações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados do petróleo (diesel, GLP e nafta) e permitir,<strong>no</strong> futuro, a exportação <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> alto valor agregado, não apenas óleobruto, como ocorre atualmente. Há a preocupação, também, <strong>de</strong> planejar oritmo da produção <strong>no</strong> pré-sal <strong>de</strong> maneira a resguardar a autossuficiênciapetrolífera. Projeções da Empresa <strong>de</strong> Pesquisa Energética (EPE) indicamque, <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a quinze a<strong>no</strong>s, o <strong>Brasil</strong> alcançará o nível <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>três milhões <strong>de</strong> barris diários. Consi<strong>de</strong>rando-se a relação reservas provadas/produção nacional, seria possível manter a autossuficiência petrolífera atépor volta <strong>de</strong> 2030 16 .16Conferência Nacional <strong>de</strong> Política Externa e Política Internacional – II CNPEPI: o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>mundo que vem aí. Debate sobre <strong>Energia</strong>. Professor Mauricio Tiom<strong>no</strong> Tolmasquim. Brasília:Fundação Alexandre <strong>de</strong> Gusmão, 2008.22


introduçãoA crise coincidiu com o incremento gradativo das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> petróleo para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, antes mesmo do início daprodução <strong>no</strong>s campos do pré-sal. Em janeiro <strong>de</strong> 2009, o <strong>Brasil</strong> exportou382 mil barris por dia para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, o que representou aumento<strong>de</strong> 117% em relação ao volume exportado em janeiro <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong> 176 milbarris diários. A Energy Information Administration (EIA) relacio<strong>no</strong>u o<strong>Brasil</strong>, naquele mês, como o 8º maior exportador <strong>de</strong> óleo bruto para os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, à frente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s produtores como Rússia e Argélia 17 .As autorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanas estão dispostas a estimular o aumentodas exportações brasileiras. Em julho <strong>de</strong> 2009, o U.S. Ex-Im Bankconce<strong>de</strong>u linha <strong>de</strong> crédito à Petrobras <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> US$ 5 bilhões parafinanciar a importação <strong>de</strong> bens e serviços dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, necessáriospara a exploração das reservas petrolíferas do pré-sal.O aumento das exportações <strong>de</strong> óleo bruto para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> eoutros mercados evi<strong>de</strong>ncia, entretanto, <strong>de</strong>sequilíbrios estruturais da indústriapetrolífera nacional, <strong>de</strong>correntes da reduzida capacida<strong>de</strong> do refi<strong>no</strong>. Em2006, o <strong>Brasil</strong> alcançou, pela primeira vez, níveis <strong>de</strong> produção petrolíferaacima do consumo inter<strong>no</strong>, o que configurou, do ponto <strong>de</strong> vista técnico,autossuficiência. O déficit na conta petróleo não foi, porém, eliminado em<strong>de</strong>corrência do diferencial <strong>de</strong> preços entre os produtos importados (óleosleves e <strong>de</strong>rivados, como diesel, GLP e nafta) e os exportados (óleo pesado).Em 2007 e 2008, o déficit agravou-se, em razão <strong>de</strong> fatores diversos como oaumento da <strong>de</strong>manda por combustíveis – sobretudo diesel, para geração <strong>de</strong>energia em termelétricas e em função da safra agrícola – e o incrementodo diferencial <strong>de</strong> preços entre óleos pesados e os <strong>de</strong>rivados, além daexpansão da produção doméstica em ritmo abaixo das metas previstaspela Petrobras. A crise econômica e financeira provocou queda doconsumo inter<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados, atenuando o déficit da balança comercialdo petróleo. O problema persiste, contudo, por conta do diferencial <strong>de</strong>preços entre produtos exportados e importados. No primeiro bimestre<strong>de</strong> 2009, o preço médio do barril <strong>de</strong> petróleo importado pelo <strong>Brasil</strong>era <strong>de</strong> US$ 46,63. O petróleo brasileiro, por sua vez, foi exportadopelo preço médio <strong>de</strong> US$ 29,53 18 . Tais circunstâncias neutralizam os17Energy Information Administration. Cru<strong>de</strong> Oil and Total Petroleum Imports Top 15 Countries.18Fundação Centro <strong>de</strong> Estudos do Comércio Exterior. Funcex na mídia. “Com queda <strong>no</strong>consumo, volta a autossuficiência”, Estado <strong>de</strong> São Paulo, publicado em 24/09/09.23


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sbenefícios advindos do aumento das exportações <strong>de</strong> petróleo e justificamos investimentos na construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas refinarias.A redução dos preços do petróleo, <strong>no</strong> segundo semestre <strong>de</strong> 2008,atingiu diretamente o setor <strong>de</strong> biocombustíveis. Antes da crise, aprodução mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l e biodiesel encontrava-se em plena expansão,beneficiada pelos altos preços do petróleo e pelo apoio governamental<strong>no</strong>s países <strong>de</strong>senvolvidos. Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e na União Europeia,os biocombustíveis, apesar dos elevados custos <strong>de</strong> produção, foramestimulados por uma ampla gama <strong>de</strong> incentivos, como tarifas <strong>de</strong>importação, <strong>no</strong>rmas técnicas e barreiras ambientais e sociais. Principal alvodas barreiras protecionistas, o <strong>Brasil</strong>, ainda assim, conseguia ampliar suasexportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para mercados na Ásia, Europa e EUA: 3,53 bilhões<strong>de</strong> litros, em 2007 e 5,1 bilhões <strong>de</strong> litros, em 2008 19 . A crise econômica<strong>de</strong> 2008 provocou <strong>de</strong>saceleração do ritmo <strong>de</strong> expansão do setor, tanto em<strong>de</strong>corrência da retração da <strong>de</strong>manda global e da escassez <strong>de</strong> crédito, quantopela perda <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> ocasionada pela súbita queda dos preçosdos combustíveis fósseis. Com a crise, reduziram-se as margens <strong>de</strong> lucro,o que <strong>de</strong>ixou usinas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l e biodiesel sem recursos para financiar aprodução ou pagar dívidas.No <strong>Brasil</strong>, a crise provocou inúmeras falências, pois o setor <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l apresentava alto nível <strong>de</strong> endividamento em dólar <strong>de</strong>corrente dosempréstimos contraídos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006, para ampliar áreas <strong>de</strong> produção eadquirir máquinas e equipamentos. Com os empréstimos, as empresasdo setor buscavam aten<strong>de</strong>r ao crescimento tanto da <strong>de</strong>manda interna,impulsionada pelas vendas dos veículos flex fuel, quanto da externa.As dificulda<strong>de</strong>s das empresas intensificaram-se, a partir <strong>de</strong> 2007, emrazão dos baixos preços do açúcar e do álcool <strong>no</strong> mercado internacionale do crescimento das exportações em ritmo abaixo do previsto. A criseeconômica acelerou processo já em curso <strong>de</strong> consolidação do setorpor meio <strong>de</strong> reestruturação e fusões <strong>de</strong> empresas. Gran<strong>de</strong>s companhiasestrangeiras, como Bunge, Cargill, Archer Daniels Midland e LouisDreyfus Commodities, além <strong>de</strong> tradings, como as japonesas Mitsui,Itochu e Sozijtz, beneficiaram-se da conjuntura para adquirir <strong>no</strong>vas usinas,sobretudo <strong>de</strong> peque<strong>no</strong>s e médios produtores, ampliando sua presença <strong>no</strong>19União da Indústria <strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-açúcar (UNICA). Exportações brasileiras <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l por país<strong>de</strong> <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>.24


introduçãomercado brasileiro. Segundo dados do Banco Central, o <strong>Brasil</strong> recebeu, <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 2007 a junho <strong>de</strong> 2009, cerca <strong>de</strong> US$ 3 bilhões em investimentosestrangeiros diretos, que foram aplicados principalmente na aquisição <strong>de</strong>usinas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l 20 .Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a crise econômica interrompeu o boomdo eta<strong>no</strong>l do milho, que ren<strong>de</strong>ra ao país, em 2006, o posto <strong>de</strong> maiorprodutor mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Graças aos subsídios oficiais, às restriçõestarifárias à importação do eta<strong>no</strong>l brasileiro e à influência do lobbyagrícola <strong>no</strong> Congresso, o setor <strong>de</strong> biocombustíveis havia experimentadoa<strong>no</strong>s <strong>de</strong> expansão acelerada. Em 2005, o Congresso aprovou legislação(EPAct 2005), que fixava metas ambiciosas <strong>de</strong> produção e consumo <strong>de</strong>combustíveis re<strong>no</strong>váveis: 7,5 bilhões <strong>de</strong> galões <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l e biodieselmisturados à gasolina, em 2012. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, o Presi<strong>de</strong>nteBush assi<strong>no</strong>u o Energy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security Act (EISAct), queampliou as referidas metas: 36 bilhões <strong>de</strong> galões misturados à gasolinaem 2022, dos quais 20 bilhões <strong>de</strong> biocombustíveis avançados. Apesardo apoio oficial, o setor enfrentava dificulda<strong>de</strong>s, antes mesmo da crise,<strong>de</strong>correntes da elevação dos custos <strong>de</strong> sua matéria-prima, o milho, e daausência <strong>de</strong> infraestrutura a<strong>de</strong>quada para transportar o biocombustíveldas zonas rurais para os centros urba<strong>no</strong>s.A eleição <strong>de</strong> Barack Obama, nesse contexto, foi muito bem recebida.Oriundo <strong>de</strong> Illi<strong>no</strong>is, estado situado <strong>no</strong> “cinturão do milho”, o SenadorBarack Obama ace<strong>no</strong>u, durante a campanha presi<strong>de</strong>ncial, com apoio àsempresas do setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, ao contrário <strong>de</strong> John McCain, que criticouabertamente a política oficial <strong>de</strong> subsídios. Depois <strong>de</strong> eleito, BarackObama confirmou o apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento da indústria doméstica<strong>de</strong> biocombustíveis e reforçou os programas <strong>de</strong> fomento à produção edistribuição <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, contemplando, em particular, o eta<strong>no</strong>l celulósico.Foram mantidas, também, as barreiras tarifárias às importações doeta<strong>no</strong>l brasileiro. A influência do lobby do milho <strong>no</strong> Congresso criouconstrangimentos para o Gover<strong>no</strong> Obama. Em julho <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong>claraçõesdo Secretário <strong>de</strong> Estado Assistente para o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, ThomasShan<strong>no</strong>n, favoráveis à eliminação da tarifa do eta<strong>no</strong>l, formuladas durantesua audiência <strong>de</strong> confirmação <strong>no</strong> Senado para a Embaixada em Brasília,20Agência <strong>Brasil</strong>, “Crise econômica acentua concentração da indústria do eta<strong>no</strong>l”, publicadoem 30/07/09.25


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong>spertaram reação negativa do Senador Charles Grassley – Republica<strong>no</strong><strong>de</strong> Iowa, outro estado do “cinturão do milho”, e um dos votos necessáriospara aprovação da reforma do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, proposta por Obama.A Casa Branca apressou-se a confirmar, por <strong>no</strong>ta à imprensa, que aAdministração Obama “não tem pla<strong>no</strong>s” <strong>de</strong> alterar a cobrança <strong>de</strong> tarifasobre a importação <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l brasileiro. Ainda assim, a <strong>no</strong>meação <strong>de</strong>Thomas Shan<strong>no</strong>n para a Embaixada em Brasília permaneceu bloqueadadurante o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2009.Passada a fase mais crítica da recessão econômica, o mercadopetrolífero voltou à sua dinâmica habitual, em particular <strong>no</strong> tocanteao papel dos agentes especuladores 21 . A <strong>de</strong>svalorização do dólar, amanutenção dos juros <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s em níveis baixos e a recuperaçãodo mercado <strong>de</strong> ações conferiram <strong>no</strong>vamente atrativida<strong>de</strong> aos contratos <strong>de</strong>commodities. Os preços futuros do barril <strong>de</strong> petróleo mantiveram-se, apartir <strong>de</strong> junho, acima do patamar <strong>de</strong> US$ 70. Sob pressão da comunida<strong>de</strong>internacional, autorida<strong>de</strong>s reguladoras dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (CommodityFutures Trading Commission – CFTC) e do Rei<strong>no</strong> Unido (FinancialServices Authority – FSA) iniciaram esforços para limitar a influênciados especuladores sobre os mercados <strong>de</strong> energia. Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,a CFTC tem como alvo não apenas os gran<strong>de</strong>s bancos (Goldman Sachs,Morgan Stanley) e os fundos <strong>de</strong> pensão, <strong>de</strong> hedge e <strong>de</strong> doações, mastambém as empresas petrolíferas (BP, Royal Dutch Shell) e os gran<strong>de</strong>sconglomerados (Cargill, Koch Industries) que negociam commodities ouven<strong>de</strong>m <strong>de</strong>rivativos financeiros (swaps) para investidores em busca <strong>de</strong>proteção contra as oscilações dos preços das commodities 22 .Este trabalho acompanhará a evolução do relacionamento na áreaenergética, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do Gover<strong>no</strong> do Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lulada Silva, até os encontros presi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007: a visita doPresi<strong>de</strong>nte George W. Bush a São Paulo, em 9 <strong>de</strong> março, ocasião emque foi lançada a parceria bilateral na área <strong>de</strong> biocombustíveis; e avisita do Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva a Camp David, em 31 <strong>de</strong>março. Com base <strong>no</strong> exame <strong>de</strong> documentos oficiais, acordos, processos<strong>de</strong> negociação e na leitura da bibliografia, o trabalho preten<strong>de</strong> avaliar<strong>de</strong> que forma as diretrizes da política energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>21Oil 101. Morgan Downey. New York, NY: Woo<strong>de</strong>n Table Press LLC. 2009.22Valor Econômico, “Derivativos são o alvo <strong>de</strong> reguladores <strong>no</strong>s EUA”, publicado em10/11/2009.26


introdução<strong>de</strong>terminaram a formulação e o encaminhamento da cooperação como <strong>Brasil</strong>. Preten<strong>de</strong>, ainda, i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s e sugerir linhas <strong>de</strong>ação diplomática para reforçar a interlocução positiva com o Gover<strong>no</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, assim como influenciar os rumos do intercâmbio<strong>no</strong> setor energético em sentido mais favorável aos objetivos da políticaexterna brasileira.O trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro analisaráa conjuntura internacional, buscando <strong>de</strong>screver o contexto em que se<strong>de</strong>senvolvem as iniciativas bilaterais na área energética, com ênfase<strong>no</strong>s setores <strong>de</strong> petróleo, gás natural e eta<strong>no</strong>l. O capítulo terá quatrosubdivisões. A primeira examinará as características da matriz energéticamundial (prepon<strong>de</strong>rância dos combustíveis fósseis; concentraçãogeográfica da produção e do consumo <strong>de</strong> energia; participação das fontesre<strong>no</strong>váveis) e a evolução dos diferentes setores energéticos. A segundasubdivisão analisará a indústria petrolífera, relacionando os diversosatores que exercem influência sobre o mercado internacional: paísesprodutores e consumidores, empresas integradas <strong>de</strong> energia, agênciasinternacionais e a OPEP. Incluirá, também, retrospectiva histórica sucintasobre o setor. A terceira subdivisão <strong>de</strong>screverá a evolução da indústria<strong>de</strong> gás natural, sua relevância econômica e os <strong>de</strong>safios técnicos paramaior expansão global. A quarta subdivisão fará breve análise do setor<strong>de</strong> biocombustíveis, mencionando, entre outros aspectos, o crescimentoda produção e consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l e biodiesel em diferentes regiões domundo e os esforços para a estruturação do mercado internacional <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l.O segundo capítulo analisará as características do setor energético <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, buscando <strong>de</strong>talhar sua influência sobre o <strong>de</strong>senvolvimentoda eco<strong>no</strong>mia e ascensão do país ao status <strong>de</strong> superpotência na segundameta<strong>de</strong> do século XX. O capítulo terá quatro subdivisões. A primeirafará <strong>de</strong>scrição da matriz energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, necessária paraavaliar a importância relativa das diversas fontes <strong>de</strong> produção, re<strong>no</strong>váveise não re<strong>no</strong>váveis. A segunda subdivisão discorrerá sobre a evoluçãohistórica do setor <strong>de</strong> hidrocarbonetos (carvão, petróleo e gás natural),que respon<strong>de</strong> pela maior parte da produção e do consumo <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>; examinará, nesse contexto, a perda da autossuficiênciaenergética em petróleo e gás. A terceira <strong>de</strong>screverá os ciclos <strong>de</strong> expansãodo setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, especificando a extensa gama <strong>de</strong> incentivos, tanto27


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sfe<strong>de</strong>rais quanto estaduais, responsáveis, em gran<strong>de</strong> parte, pelo incrementoda produção e do consumo <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Aquarta subdivisão analisará o problema da <strong>de</strong>pendência externa do setorenergético, examinando a evolução do intercâmbio comercial <strong>no</strong>s setores<strong>de</strong> petróleo, gás natural e biocombustíveis.O terceiro capítulo discorrerá sobre a política energética durante aAdministração George W. Bush, a NEP (National Energy Policy), comênfase <strong>no</strong>s aspectos relacionados à segurança energética e à cooperaçãointernacional. O capítulo terá quatro subdivisões. A primeira examinará aestratégia do Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, tanto <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> inter<strong>no</strong> quantona política externa, para garantir a segurança energética. A segundasubdivisão relacionará as diversas instâncias, <strong>no</strong> âmbito do Executivo e doCongresso, responsáveis pela política energética nacional. Fará, também,levantamento sucinto dos projetos <strong>de</strong> cooperação energética com o <strong>Brasil</strong>,que envolvem agências e instituições governamentais, acadêmicas edo setor privado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A terceira subdivisão analisaráo processo <strong>de</strong> formulação e execução da política energética durante oGover<strong>no</strong> Bush. A quarta subdivisão analisará as recomendações da NEP(National Energy Policy) sobre segurança energética e o fortalecimentodas alianças globais; examinará, também, parcerias dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong>s setores <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> gás natural.O quarto capítulo, com três subdivisões, conterá o foco do trabalho.Descreverá as negociações do Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre oMME e o DOE para Estabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobreCooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (2003) e do Memorando <strong>de</strong> Entendimentoentre os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong> e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para Avançar aCooperação em Biocombustíveis (2007). Na terceira subdivisão, ocapítulo examinará a atuação do Ministério das <strong>Relações</strong> Exteriores nacondução dos entendimentos bilaterais que resultaram na participaçãodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> como membro fundador do Fórum Internacional <strong>de</strong>Biocombustíveis.A conclusão contém três subdivisões. Na primeira, argumenta-seque a estratégia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para as relações com o <strong>Brasil</strong> naárea energética engloba três objetivos principais: a liberalização e aintegração dos mercados energéticos regionais e a parceria na áreado <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Buscará <strong>de</strong>monstrar que, durante asnegociações dos Memorandos <strong>de</strong> Entendimento, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>28


introduçãoprocuraram aten<strong>de</strong>r aos três objetivos citados. Na segunda, discorre-sesobre os limites para a construção <strong>de</strong> uma parceria energética com os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Na terceira, apresenta-se proposta <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Açãocom o propósito <strong>de</strong> fomentar o diálogo e a cooperação energética com os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O trabalho dará ênfase aos setores <strong>de</strong> hidrocarbonetose eta<strong>no</strong>l, tendo em conta sua participação <strong>no</strong> intercâmbio comercial, suarelevância política e estratégica e seu peso específico nas respectivasmatrizes energéticas. Por limitação <strong>de</strong> espaço, o trabalho não po<strong>de</strong>ráesten<strong>de</strong>r-se na análise <strong>de</strong> outros setores energéticos, como a indústria docarvão, nuclear, solar, eólica e hidráulica, ou <strong>de</strong> temas correlatos comoas interconexões entre a cooperação energética e as políticas <strong>de</strong> combateà mudança do clima.29


Capítulo IO Cenário Energético <strong>no</strong> Mundo: Petróleo,Gás Natural e BiocombustíveisA – Características da matriz energética mundialA análise dos dados sobre produção e consumo <strong>de</strong> energia primária<strong>no</strong> mundo revela, em primeiro lugar, forte prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> carvão,petróleo e gás natural 23 . Em 2006, os combustíveis fósseis respon<strong>de</strong>rampor mais <strong>de</strong> 85% da oferta total <strong>de</strong> energia primária: petróleo (36%),carvão (27%), gás natural (23%), hidrelétricas (6%) e usinas nucleares(6%) 24 . A prepon<strong>de</strong>rância dos combustíveis fósseis ocorre, também,com relação à produção global <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, embora com sensíveldiminuição da participação do petróleo. Em 2006, as principais fontesutilizadas para geração <strong>de</strong> energia elétrica <strong>no</strong> mundo foram carvão (41%),gás natural (20%), fontes re<strong>no</strong>váveis (19%), usinas nucleares (15%)e petróleo (4,8%) 25 . De acordo com os dados disponíveis, as reservasmundiais <strong>de</strong> combustíveis fósseis – carvão, petróleo, gás natural, xisto,betume e óleo extrapesado – são suficientemente vastas para garantirpredominância na matriz energética em vários países por um longoperíodo. O carvão é o combustível fóssil mais abundante em escala global,23Vi<strong>de</strong> Gráfico 2, Anexo VII.24Energy Information Administration. International Energy Outlook 2009.25I<strong>de</strong>m.31


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>ssendo predominante na matriz energética da região da Ásia e do Pacífico.O gás natural é o combustível mais consumido <strong>no</strong>s países da Europa eda Eurásia. O petróleo, por sua vez, é o combustível predominante nas<strong>de</strong>mais regiões do mundo.Apesar das iniciativas em curso, que buscam reduzir emissões<strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e ampliar a produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, <strong>de</strong> maneira acombater o aquecimento global, não há expectativa <strong>de</strong> redução, pelome<strong>no</strong>s <strong>no</strong> curto e médio prazos, da participação dos combustíveis fósseisna matriz energética global. No setor <strong>de</strong> transportes, o crescimentodo consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis, como eta<strong>no</strong>l e biodiesel, édificultado pela imposição <strong>de</strong> barreiras tarifárias e não tarifárias aocomércio internacional do eta<strong>no</strong>l e por resistências aos biocombustíveis,que têm prejudicado as discussões sobre a conformação <strong>de</strong> um mercadointernacional para o eta<strong>no</strong>l. No setor elétrico, observam-se, da mesmaforma, dificulda<strong>de</strong>s para o crescimento das fontes re<strong>no</strong>váveis, comoa hidreletricida<strong>de</strong> e a energia solar e eólica. O potencial <strong>de</strong> produçãohidrelétrica, por exemplo, já foi amplamente explorado pela maioriadas eco<strong>no</strong>mias industrializadas. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> influência das organizaçõesambientalistas junto às agências <strong>de</strong> financiamento, como o BancoMundial e o Banco Interamerica<strong>no</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento (BID),representam forte obstáculo à construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas usinas hidrelétricas<strong>no</strong>s países em <strong>de</strong>senvolvimento. Os custos financeiros elevados e aincerteza associada ao funcionamento das usinas solares e eólicasimpe<strong>de</strong>m a expansão global das respectivas indústrias. A ausência <strong>de</strong>solução satisfatória para a questão do <strong>de</strong>pósito permanente dos <strong>de</strong>jetosradioativos, os elevados custos financeiros para a construção <strong>de</strong> usinase a pressão dos grupos ambientalistas têm restringido a utilização daenergia nuclear, inclusive <strong>no</strong>s países da OCDE. Dessa forma, é razoávelsupor que os combustíveis fósseis, sobretudo carvão e gás natural,continuarão a manter participação majoritária na geração <strong>de</strong> energiaelétrica na maioria dos países.A análise da matriz energética mundial evi<strong>de</strong>ncia, em segundolugar, a concentração geográfica da produção e do consumo <strong>de</strong> energia.Cinco países respon<strong>de</strong>ram, em 2006, por meta<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong> energiaprimária (50,3%): <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, China, Rússia, Arábia Saudita eCanadá. De maneira similar, cinco países representaram, em 2006,meta<strong>de</strong> do consumo energético mundial (51,8%): <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,32


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisChina, Rússia, Japão e Índia 26 . Observe-se que os três gran<strong>de</strong>s produtores(<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Rússia e China) li<strong>de</strong>ram, também, a relação dos maioresconsumidores, o que resulta em maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos três países<strong>no</strong> cenário energético global. O grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência das importaçõesreflete-se, por sua vez, na formulação das respectivas políticas energéticas.A Rússia – principal fornecedora <strong>de</strong> gás natural para a União Europeia esuperavitária <strong>no</strong> setor energético – tem disputado, com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>e empresas petrolíferas oci<strong>de</strong>ntais, um jogo <strong>de</strong> influência sobre países daÁsia Central, ricos em hidrocarbonetos. A China e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,importadores líquidos <strong>de</strong> petróleo e gás natural, competem acirradamentepela conquista <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas fontes <strong>de</strong> fornecimento, inclusive <strong>no</strong> mercadobrasileiro. Países com maior <strong>de</strong>pendência do fluxo <strong>de</strong> importações, comoo Japão, a Alemanha, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e a China, ten<strong>de</strong>m a enfatizar adiversificação das fontes <strong>de</strong> fornecimento como forma <strong>de</strong> garantir maioresníveis <strong>de</strong> segurança energética. Países com exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> energia, comoa Rússia, o Canadá e a Arábia Saudita dispõem <strong>de</strong> maior flexibilida<strong>de</strong> emargem <strong>de</strong> ma<strong>no</strong>bra <strong>no</strong> tocante à formulação das políticas energéticas,seja com o objetivo <strong>de</strong> projeção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, como é o caso da Rússia, sejacom o intuito <strong>de</strong> fomentar o <strong>de</strong>senvolvimento industrial (petroquímica,construção naval) e a elevação dos padrões <strong>de</strong> vida da população.O carvão é o combustível fóssil mais abundante, presente em todosos continentes 27 . Foi o combustível propulsor da Revolução Industrial eainda hoje constitui o sustentáculo do crescimento econômico em váriospaíses <strong>de</strong>senvolvidos. O comércio internacional <strong>de</strong> carvão não apresentaa mesma magnitu<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> petróleo. O carvão tampouco rivalizacom o petróleo – ou mesmo com o gás natural – em termos <strong>de</strong> relevânciapolítica e estratégica. Atualmente, o recurso ao carvão como fonte <strong>de</strong>energia enfrenta restrições do ponto <strong>de</strong> vista ambiental em <strong>de</strong>corrênciada emissão elevada <strong>de</strong> gases do efeito estufa. Mesmo assim, as agênciasinternacionais avaliam que haverá aumento da participação do carvãona matriz energética mundial, em razão, entre outros fatores, da ampladisponibilida<strong>de</strong> do carvão e dos altos preços do petróleo, do gás natural eda energia nuclear. Estima-se que, por volta <strong>de</strong> 2030, o carvão respon<strong>de</strong>rápor 28% da oferta total <strong>de</strong> energia primária (e 43% da produção mundial26Energy Information Administration. World Energy Review: 1996-2006.27Vi<strong>de</strong> Quadro 2, Anexo VII.33


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>), graças ao aumento do consumo em países como <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, China e Índia 28 .Cerca <strong>de</strong> 80% das reservas provadas <strong>de</strong> carvão concentram-se na Ásia, naEuropa e na América do Norte. Por motivos ligados à viabilida<strong>de</strong> da exploraçãoeconômica do carvão (para uso inter<strong>no</strong> ou exportação), os valores das reservasprovadas <strong>no</strong>s países da África e da América do Sul são relativamente baixos.De acordo com a Energy Information Administration (EIA), os principais<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> carvão são: <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, com 263.781 mst (million shorttons); Rússia, 173.074 mst; China, 126.215 mst; Austrália, 84.437 mst; Índia,62.278 mst; África do Sul, 52.911 mst; e Ucrânia, 37.339 mst. Dois paísesrespon<strong>de</strong>m pela maior parte da produção e do consumo: China e <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Em 2008, segundo a EIA, os principais produtores <strong>de</strong> carvão foram:China, 3.008,6 mst; <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 1.171,4 mst; Índia, 564,1 mst; Austrália,436,9 mst; Rússia, 355,4 mst; África do Sul, 270,6 mst; Indonésia, 268,3 mst;e Alemanha, 214,3 mst. Em 2008, os maiores consumidores <strong>de</strong> carvãoforam: China, 2.984,2 mst; <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, 1.121,7 mst; Índia, 640,4mst; Alemanha, 271 mst; Rússia, 263,7 mst; Japão, 212,8 mst; Áfricado Sul, 206,3 mst; Polônia, 157,6 mst; Austrália, 157,2 mst; e Coreia doSul, 108,4 mst 29 .O petróleo é a principal fonte <strong>de</strong> energia utilizada globalmente.O <strong>de</strong>clínio das reservas mundiais <strong>de</strong> petróleo tem motivado inúmeros<strong>de</strong>bates. Uma das teorias mais citadas – e criticadas 30 – é o “Pico <strong>de</strong>Hubbert”, que <strong>de</strong>ve seu <strong>no</strong>me ao geofísico estaduni<strong>de</strong>nse Marion KingHubbert, funcionário do laboratório <strong>de</strong> pesquisa da Shell em Houston,<strong>no</strong> Texas, <strong>no</strong> século passado. Em 1956, Hubbert foi convidado afazer uma apresentação <strong>no</strong> Instituto America<strong>no</strong> do Petróleo, em SanAntonio, sobre o futuro da produção petrolífera <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Hubbert explicou que o ápice da produção <strong>no</strong> território continental dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (48 estados) ocorreria <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a quinze a<strong>no</strong>s.Suas previsões não foram valorizadas pelas instituições e empresas<strong>no</strong>rte-americanas. Em 1970, a produção <strong>no</strong>rte-americana atingiu opico (11,3 milhões <strong>de</strong> barris diários) e tem <strong>de</strong>clinado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,28Energy Information Administration. International Energy Outlook 2009.29Energy Information Administration. International Energy Statistics.30The Myth of the Oil Crisis. Overcoming the Challenges of Depletion, Geopolitics, and GlobalWarming. Robin M. Mills. Westport, Connecticut: Praeger Publishers. 2008.34


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisembora o país ainda disponha <strong>de</strong> reservas significativas <strong>de</strong> petróleo,sobretudo <strong>no</strong> Ártico 31 .De acordo com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Hubbert, a curva representativa daprodução mundial ao longo do tempo teria a forma <strong>de</strong> um si<strong>no</strong> (bellcurve), simétrica na ascensão e <strong>no</strong> <strong>de</strong>clínio. Após o pico, haveria umcurto período <strong>de</strong> pequenas reduções e logo a seguir uma queda abruptae sem recuperação. O pico indica, assim, o momento em que a produçãomundial <strong>de</strong> petróleo chegará ao seu ápice: a exploração <strong>de</strong> 50% dasreservas existentes. A partir <strong>de</strong>sse ponto, a produção cairá continuamentee o preço do petróleo aumentará. Críticos <strong>de</strong> Hubbert afirmam que ateoria do “Pico do Petróleo” não consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>vidamente os fatorestécnicos, econômicos e políticos que estimulam investimentos em <strong>no</strong>vastec<strong>no</strong>logias e a busca por alternativas energéticas. Argumentam, porexemplo, que a evolução contínua da tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> exploração permitiráo aproveitamento do petróleo pesado (heavy oil) e das reservas existentesem gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s, inclusive <strong>no</strong> alto-mar, e nas regiões polares.Haveria, também, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer às fontes não convencionais,como os minerais betumi<strong>no</strong>sos (xisto e areias betumi<strong>no</strong>sas).Apesar das limitações teóricas do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Hubbert, não há dúvida<strong>de</strong> que a exploração <strong>de</strong> petróleo convencional enfrenta dificulda<strong>de</strong>screscentes, o que se reflete na tendência <strong>de</strong> alta dos preços. Em fevereiro <strong>de</strong>2007, o Government Accountability Office (GAO), agência subordinadaao Congresso dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, publicou relatório intitulado“Uncertainty about Future Oil Supply Makes it Important to Developa Strategy for Addressing a Peak and Decline in Oil Production” 32 .Com base <strong>no</strong>s estudos geológicos disponíveis, o relatório sustenta quea produção mundial <strong>de</strong> petróleo <strong>de</strong>verá atingir o pico em um intervalo<strong>de</strong> tempo que se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2007 até, <strong>no</strong> mais tardar, 2040. O exatomomento em que ocorrerá o pico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, entretanto, <strong>de</strong> vários fatores,entre os quais (1) o volume real dos recursos petrolíferos mundiais,(2) a evolução das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> exploração e (3) o comportamentoda <strong>de</strong>manda global. O relatório do GAO sustenta que há dificulda<strong>de</strong>spara <strong>de</strong>terminar com precisão a magnitu<strong>de</strong> dos recursos petrolíferosexistentes <strong>no</strong> mundo, pois o potencial geológico <strong>de</strong> várias regiões ainda31Beyond Oil – The View from Hubbert’s Peak. Kenneth S. Deffeyes New York, NY: Hill andWang, 2005.32Relatório disponível <strong>no</strong> en<strong>de</strong>reço eletrônico http://www.gao.gov/new.items/d07283.pdf35


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>snão foi pesquisado, nem existe esforço sistemático <strong>de</strong> avaliação dosrecursos não convencionais (petróleo pesado, minerais betumi<strong>no</strong>sos).Além disso, há elevado grau <strong>de</strong> incerteza com respeito à viabilida<strong>de</strong> daexploração <strong>de</strong> parcela significativa dos recursos petrolíferos, tendo emvista os impactos ambientais, os custos econômicos e os investimentosem tec<strong>no</strong>logia necessários à extração das reservas, sobretudo do petróleolocalizado em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s. O eco<strong>no</strong>mista-chefe da AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Fatih Birol, avalia que o pico da produçãoconvencional <strong>de</strong> petróleo ocorrerá em 2020, caso não sejam realizadas<strong>no</strong>vas <strong>de</strong>scobertas petrolíferas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> 33 .O nível <strong>de</strong> produção petrolífera tem <strong>de</strong>clinado, <strong>de</strong> fato, em algunspaíses, como <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Rei<strong>no</strong> Unido, Noruega, México, Venezuelae Indonésia. Em outras partes do mundo (Nigéria, Argélia, Irã, Iraquee Rússia), há dificulda<strong>de</strong>s para sustentar o fluxo <strong>de</strong> produção, pormotivos diversos, inclusive <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política. As atenções da indústriainternacional têm-se voltado, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, para <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong>exploração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> Cazaquistão e em Angola. O ritmo da produçãopetrolífera mundial <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, entretanto, das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> investimentoa serem tomadas pelos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> reservas, em particular ospaíses-membros da OPEP.De acordo com dados da EIA, publicados em 2009, as maiores reservasprovadas <strong>de</strong> petróleo estariam localizadas <strong>no</strong>s seguintes países: ArábiaSaudita (266,71 bilhões <strong>de</strong> barris), Canadá (178,09 bilhões), Irã (136,15bilhões), Iraque (115 bilhões), Kuwait (104 bilhões), Venezuela (99,3bilhões), Emirados Árabes <strong>Unidos</strong> (97,8 bilhões), Rússia (60 bilhões), Líbia(43,6 bilhões), Nigéria (36,2 bilhões), <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (21,37 bilhões), Qatar(15,2 bilhões), <strong>Brasil</strong> (12,624 bilhões), Argélia (12,2 bilhões), México (10,5bilhões), Angola (9 bilhões), Noruega (6,7 bilhões), Índia (5,6 bilhões), Omã(5,5 bilhões), Equador (4,6 bilhões), Indonésia (3,99 bilhões), Egito (3,7bilhões), Rei<strong>no</strong> Unido (3,4 bilhões), Argentina (2,6 bilhões), Síria(2,5 bilhões), Congo-Brazzaville (1,6 bilhão), Cha<strong>de</strong> (1,5 bilhão),Autrália (1,5 bilhão) e Colômbia (1,3 bilhão) 34 . Ressalte-se que asestimativas sobre volume <strong>de</strong> reservas petrolíferas <strong>de</strong>vem ser utilizadascom cautela, tendo em vista circunstâncias como (a) ausência <strong>de</strong> controle33The Eco<strong>no</strong>mist. “The IEA puts a date on peak oil production”. 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009. http://www.eco<strong>no</strong>mist.com/businessfinance/displaystory.cfm?story_id=1506571934Energy Information Administration. International Energy Statistics.36


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveise verificação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte sobre as estatísticas oficiais divulgadas porempresas e gover<strong>no</strong>s, (b) insuficiência dos estudos e pesquisas geológicassobre o potencial <strong>de</strong> produção em vários países e (c) dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliaro volume das reservas oriundas das fontes não convencionais, comoos minerais betumi<strong>no</strong>sos. As estimativas são, <strong>de</strong> todo modo, úteis, emparticular para fins <strong>de</strong> comparação do potencial dos países produtores.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> ocupam posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>no</strong> mercado dopetróleo. Mesmo dispondo <strong>de</strong> base relativamente mo<strong>de</strong>sta <strong>de</strong> reservasdomésticas provadas – resultado, em gran<strong>de</strong> parte, das restrições impostaspela legislação fe<strong>de</strong>ral à exploração petrolífera nas regiões costeiras e emáreas <strong>de</strong> proteção ambiental – os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são o terceiro maiorprodutor <strong>de</strong> petróleo. Segundo dados da EIA, a relação dos maioresprodutores mundiais, em 2008, foi a seguinte: Arábia Saudita (10.782milhões <strong>de</strong> barris por dia), Rússia (9,789 milhões b/d), <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>(8,514 milhões b/d), Irã (4,174 milhões b/d), China (3,973 milhões b/d),Canadá (3,350 milhões b/d), México (3,185 milhões b/d), Emirados Árabes<strong>Unidos</strong> (3,046 milhões b/d), Kuwait (2,741 milhões b/d), Venezuela (2,642milhões b/d), Noruega (2,465 milhões b/d), <strong>Brasil</strong> (2,421 milhões b/d),Iraque (2,385 milhões b/d), Argélia (2,179 milhões b/d), Nigéria (2,168milhões b/d), Angola (2,014 milhões b/d), Líbia (1,875 milhões b/d),Rei<strong>no</strong> Unido (1,583 milhão b/d), Cazaquistão (1,429 milhão b/d) e Qatar(1,207 milhão b/d). Com relação ao consumo <strong>de</strong> petróleo, a participaçãodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> mercado internacional é amplamente superior à<strong>de</strong> qualquer outro país. Segundo dados preliminares da EIA, os maioresconsumidores <strong>de</strong> petróleo, em 2008, foram os seguintes: <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>(19,498 milhões <strong>de</strong> barris por dia), China (7,850 milhões b/d), Japão(4,784 milhões b/d), Índia (2,940 milhões b/d), Rússia (2,900 milhõesb/d), Alemanha (2,569 milhões b/d), <strong>Brasil</strong> (2,520 milhões b/d), ArábiaSaudita (2,380 milhões b/d), Canadá (2,260 milhões b/d), Coreia do Sul(2,174 milhões b/d) e México (2,128 milhões b/d) 35 .O gás natural tem participação expressiva na matriz energéticamundial (23% da produção, em 2006, segundo a EIA). A AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> estima que as formações geológicas da terraabrigam gás em volume suficiente para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda internacionalpor décadas. O combustível é formado, na realida<strong>de</strong>, por uma mistura <strong>de</strong>35Energy Information Administration. International Energy Statistics.37


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sgases, sobretudo meta<strong>no</strong>, mas também nitrogênio, CO 2, buta<strong>no</strong> e propa<strong>no</strong>.Na maioria das vezes, encontra-se acumulado em rochas porosas <strong>no</strong>subsolo da Terra, em associação com o petróleo, constituindo <strong>de</strong>pósitosnaturais, seja <strong>no</strong> continente (onshore), seja na plataforma continental(offshore). Quando produzido em jazidas sem petróleo, é <strong>de</strong><strong>no</strong>minadogás natural não associado, como <strong>no</strong> caso dos poços da província gasíferado Juruá, <strong>no</strong> estado do Amazonas. Po<strong>de</strong> originar-se, também, <strong>de</strong> fontescomo o carvão mineral (hulha), o xisto betumi<strong>no</strong>so, matéria orgânicaem <strong>de</strong>composição e os hidratos <strong>de</strong> gás submari<strong>no</strong>, ainda não exploradoscomercialmente. A combustão do gás natural tem me<strong>no</strong>r impacto naemissão <strong>de</strong> gases do efeito estufa em comparação ao petróleo e ao carvão.O consumo do gás apresenta, portanto, vantagens do ponto <strong>de</strong> vista daspolíticas <strong>de</strong> combate ao aquecimento global 36 .Avalia-se que as reservas globais <strong>de</strong> gás natural alcancem o volume <strong>de</strong>6.254 tcf (trillion cubic feet), a maior parte localizada em regiões distantesdos centros consumidores. A distribuição geográfica das reservas <strong>de</strong> gásnatural guarda similarida<strong>de</strong> com o caso do petróleo, tendo em conta que osdois combustíveis ocorrem, frequentemente, <strong>de</strong> forma associada. O mercado<strong>de</strong> gás, entretanto, tem configuração predominantemente regional, com preços<strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> acordo com características locais. Três países – Rússia, Irã eQatar – são os principais <strong>de</strong>tentores dos recursos (cerca <strong>de</strong> 57%). A maior partedas reservas provadas encontram-se <strong>no</strong> Oriente Médio e na Comunida<strong>de</strong> dos<strong>Estados</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (CEI). Segundo dados da EIA, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2009, asmaiores reservas <strong>de</strong> gás natural estariam situadas na Rússia (1.680 tcf; 26,9%do total mundial), Irã (992 tcf; 15,9%), Qatar (892 tcf; 14,3%), Arábia Saudita(258 tcf; 4,1%), <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (238 tcf; 3,8%), Emirados Árabes <strong>Unidos</strong>(214 tcf; 3,4%), Nigéria (184 tcf; 2,9%), Venezuela (171 tcf; 2,7%), Argélia(159 tcf; 2,5%) e Iraque (112 tcf; 1,8%) 37 .Durante décadas, o gás natural tem sido “queimado na boca do poço”.Ainda hoje, o <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> gás é elevado nas bacias petrolíferas, masa elevação dos preços do petróleo tem contribuído para incrementar aparticipação do gás na produção <strong>de</strong> energia elétrica, <strong>no</strong> setor industrial epara uso em residências. A comercialização e distribuição do combustível,seja por meio <strong>de</strong> gasodutos, seja na forma <strong>de</strong> Gás Natural Liquefeito36CTGAS-ER: Centro <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logias do Gás e <strong>Energia</strong>s Re<strong>no</strong>váveis.37Energy Information Administration. International Energy Statistics.38


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveis(GNL) tem crescido em todo o mundo, em razão não apenas dosaltos preços do petróleo, mas também dos avanços tec<strong>no</strong>lógicos quepermitiram superar obstáculos ao transporte do produto. Dois paísesocupam posição predominante <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> gás natural: a Rússia, queé o maior produtor, segundo maior consumidor e primeiro <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong>reservas provadas e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, maior consumidor e segundoprodutor mundial. A Rússia é a principal fornecedora <strong>de</strong> gás naturalpara a Europa e espera po<strong>de</strong>r ampliar suas reservas futuramente, graçasà abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração <strong>no</strong> Ártico. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,embora não disponham <strong>de</strong> volume excepcional <strong>de</strong> reservas, apresentamelevado potencial para produção <strong>de</strong> gás por fontes não convencionais etêm investido pesadamente na exploração doméstica.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> gás natural;o consumo é atendido majoritariamente pela produção doméstica e porsuprimentos do Canadá. Os maiores produtores <strong>de</strong> gás natural, em 2008,foram Rússia (23,386 tcf), <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (20,561 tcf), Canadá (6,037 tcf), Irã(4,107 tcf), Noruega (3,503 tcf), Argélia (3,005 tcf), Países Baixos (2,991 tcf),Arábia Saudita (2, 841 tcf), Qatar (2,719 tcf), China (2,685 tcf), Turcomenistão(2,490 tcf) Indonésia (2,472 tcf), Rei<strong>no</strong> Unido (2,469 tcf), Uzbequistão (2,387tcf), Malásia (2,024 tcf), México (1,842 tcf), Emirados Árabes <strong>Unidos</strong>(1,774 tcf), Egito (1,706 tcf), Austrália (1,597 tcf), Argentina (1,556 tcf) eTrinidad e Tobago (1,338 tcf). A relação dos maiores consumidores <strong>de</strong> gásnatural, em 2008, incluiu os seguintes países: <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (23, 208 tcf),Rússia (16,779 tcf), Irã (4,201 tcf), Japão (3,572 tcf), Rei<strong>no</strong> Unido (3,388tcf), Alemanha (3,383 tcf), Itália (2,998 tcf), Ucrânia (2,966 tcf), Canadá(2,929 tcf), Arábia Saudita (2,841 tcf), China (2,726 tcf) e Emirados Árabes<strong>Unidos</strong> (2,099 tcf) 38 .A produção mundial <strong>de</strong> petróleo e gás natural origina-se quaseexclusivamente do que se convencio<strong>no</strong>u <strong>de</strong><strong>no</strong>minar fontes convencionais.A classificação das fontes evolui conforme o avanço das técnicas <strong>de</strong>exploração. De acordo com termi<strong>no</strong>logia da Agência Internacional <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, as fontes convencionais <strong>de</strong> petróleo são aquelas cuja exploração épossibilitada pelas tec<strong>no</strong>logias correntes. Atualmente, consi<strong>de</strong>ram-se fontesconvencionais, por exemplo, os <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> petróleo existentes em gran<strong>de</strong>sprofundida<strong>de</strong>s marítimas. As fontes não convencionais <strong>de</strong> petróleo são38Energy Information Administration. International Energy Statistics.39


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>saquelas exploradas com o uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias complexas e caras, tais como opetróleo extrapesado e os minerais betumi<strong>no</strong>sos (xisto e areias betumi<strong>no</strong>sas).A produção petrolífera das fontes não convencionais representa, portanto,parcela reduzida do total da indústria, uma vez que poucos países dispõemdos recursos financeiros e tec<strong>no</strong>lógicos necessários a esse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.Com a elevação dos preços do petróleo, re<strong>no</strong>vou-se o interesse naexploração das fontes não convencionais. O Canadá, por exemplo, dispõe<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois terços das reservas conhecidas <strong>de</strong> betume, na província <strong>de</strong>Alberta. Em 2005, produziu 1,6 milhão <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong> petróleo oriundo<strong>de</strong> areias betumi<strong>no</strong>sas (tar sands). Outros países, como Rússia e Cazaquistão,têm vastas reservas <strong>de</strong> betume, mas ainda não iniciaram a exploraçãocomercial. O petróleo extrapesado ocorre em várias regiões do mundo. Aregião <strong>de</strong> maior potencial para produção em larga escala é a da Bacia doRio Ori<strong>no</strong>co, na Venezuela. Poucos países exploram comercialmente o xistobetumi<strong>no</strong>so (oil shale). Os custos elevados da mineração e do processamentodo xisto inviabilizaram, durante décadas, o <strong>de</strong>senvolvimento do setor. Osaltos preços do petróleo possibilitam a extração do xisto betumi<strong>no</strong>so commaior margem <strong>de</strong> lucro, o que abre boas perspectivas para a indústria empaíses como <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Austrália, Rússia, Jordânia e Marrocos. Os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em particular, contam com reserva extraordinária <strong>de</strong> óleo<strong>de</strong> xisto (equivalente a 800 bilhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo, segundo dados daEIA) <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>de</strong> Utah, Colorado e Wyoming. Uma vez superados osobstáculos <strong>de</strong> natureza técnica, financeira e ambiental para a exploração <strong>de</strong>tais reservas, a produção das fontes não convencionais po<strong>de</strong>rá ter impactosignificativo sobre os mercados e a oferta global <strong>de</strong> petróleo.A energia nuclear é, também, componente expressivo da matriz energéticamundial, embora sua utilização em larga escala seja limitada a grupo restrito<strong>de</strong> países. Segundo dados da EIA, a capacida<strong>de</strong> nuclear para fins <strong>de</strong> geração<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006, estava concentrada em seis países: <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> (30%), França (16%), Japão (11%), Alemanha (6%), Rússia (5%)e Coreia do Sul (5%). Registre-se que a França é o país com mais elevada<strong>de</strong>pendência das centrais nucleares para geração elétrica: 79% da produçãototal <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, em comparação com o Japão (28%), a Alemanha (27%),o Rei<strong>no</strong> Unido (19%) e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (19%) 39 .39EIA. Energy Explained. Nuclear Statistics.World.40


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisEm 2006, a energia nuclear respon<strong>de</strong>u por 15% da produçãoglobal <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> 40 . Com o acirramento da disputa por recursosenergéticos, alguns países têm consi<strong>de</strong>rado, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, ampliaro uso dos combustíveis nucleares (urânio e plutônio) para produção<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>. A energia nuclear é vista como solução <strong>de</strong> longo prazopara evitar estrangulamentos <strong>no</strong> setor elétrico e reduzir a <strong>de</strong>pendênciados combustíveis fósseis. Apesar dos altos custos, estima-se que asusinas nucleares po<strong>de</strong>rão ganhar competitivida<strong>de</strong> em relação às usinasque utilizam petróleo, gás e carvão, com a vantagem adicional <strong>de</strong>reduzir as emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>. Os investimentos em energia nuclearconcentram-se, atualmente, na Ásia (China, Índia, Rússia e Coreia doSul), mas países europeus (Finlândia, França e Polônia) e america<strong>no</strong>s(<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e <strong>Brasil</strong>) consi<strong>de</strong>ram também construir <strong>no</strong>vas usinas. Asreservas conhecidas <strong>de</strong> urânio são suficientes para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda,mas haveria, segundo os especialistas, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incrementar acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>no</strong> longo prazo, para compensar a redução daoferta comercial <strong>de</strong> plutônio (combustível gerado pelas próprias usinasnucleares). Recor<strong>de</strong>-se que, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90, em função dos esforços <strong>de</strong><strong>de</strong>sarmamento nuclear, uma parcela do plutônio utilizado para finsmilitares foi redirecionada para o mercado comercial, arrefecendoa <strong>de</strong>manda por minério <strong>de</strong> urânio. Não há consenso, porém, sobre ofuturo da indústria, uma vez que permanecem sem solução satisfatóriaos problemas relacionados à segurança dos reatores, ao armazenamento<strong>de</strong> resíduos e à <strong>de</strong>smobilização das usinas 41 .As fontes re<strong>no</strong>váveis – <strong>de</strong> energia da biomassa, hidráulica, solar,eólica e geotérmica – respon<strong>de</strong>m por parcela significativa da oferta total<strong>de</strong> energia primária (TPES) <strong>no</strong> mundo: cerca <strong>de</strong> 13%, em 2006 42 . Fatoresambientais (mudança do clima e poluição) e econômicos (altos preçosdos combustíveis fósseis) sugerem que haverá crescimento contínuoda produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável nas próximas décadas. O aumentoda participação das fontes re<strong>no</strong>váveis na matriz energética <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá,entretanto, <strong>de</strong> fatores diversos, como as características <strong>de</strong> cada país, onível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tec<strong>no</strong>lógico e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursosfinanceiros. Na maioria dos países, as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias para produção <strong>de</strong>40Energy Information Administration. International Energy Outlook 2009.41EIA. Nuclear Explained. Use of Nuclear Power.42Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>.41


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>senergia re<strong>no</strong>vável ainda estão em fase <strong>de</strong> maturação ou são empregadasem escala limitada. Há, também, <strong>de</strong>safios específicos para cada tipo <strong>de</strong>indústria. No caso da energia solar, os custos <strong>de</strong> produção permanecemelevados. O aproveitamento da energia eólica – consi<strong>de</strong>rada fontemuito intermitente – exigirá adaptação dos sistemas <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong>eletricida<strong>de</strong>. A energia geotérmica está disponível em regiões restritasda superfície terrestre, associada a <strong>de</strong>terminadas formações geológicas.No caso da energia hidráulica, que é a principal fonte re<strong>no</strong>vável paraprodução <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, estima-se que um terço do potencial hidráulicoglobal tenha sido explorado. Na Europa e na América do Norte, osprincipais projetos já foram <strong>de</strong>senvolvidos. Na Ásia, na América doSul e na África, o aproveitamento do potencial hidráulico enfrentadificulda<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>corrência dos impactos ambientais e do longo prazo<strong>de</strong> retor<strong>no</strong> dos investimentos. A evolução do setor <strong>de</strong> biocombustíveis,por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> fatores: avanços da pesquisaem biotec<strong>no</strong>logia; estabelecimento <strong>de</strong> um mercado internacional para oeta<strong>no</strong>l; apoio político e econômico dos Gover<strong>no</strong>s, sobretudo na fase inicial<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da indústria; manutenção do fluxo <strong>de</strong> investimentosprivados; aumento do número <strong>de</strong> países produtores e consumidores; erespostas a<strong>de</strong>quadas às preocupações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e <strong>de</strong> segurançaalimentar relacionadas à produção <strong>de</strong> biocombustíveis.Estima-se que a produção comercial em larga escala do eta<strong>no</strong>lcelulósico, prevista para os próximos a<strong>no</strong>s, proporcionará <strong>no</strong>va fase <strong>de</strong>expansão dos biocombustíveis <strong>no</strong> mundo.B – A indústria petrolíferaMais do que qualquer outra fonte <strong>de</strong> energia, o petróleo estevevinculado aos principais eventos que condicionaram a evolução dosistema internacional e o surgimento da eco<strong>no</strong>mia globalizada. Noséculo XIX, um grupo restrito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s companhias (Standard Oil,Royal Dutch e Shell), com acesso privilegiado às regiões produtoras doOriente Médio, da Ásia e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, impulsio<strong>no</strong>u a fase inicial<strong>de</strong> expansão da indústria petrolífera. Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a exploraçãocomercial do petróleo teve, como marco original, a <strong>de</strong>scoberta, em 1859,do poço Drake, na Pensilvânia. Na época, a produção, o transporte ea comercialização <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados eram feitos por pequenas42


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveiscompanhias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, que operavam <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> regional. Em1868, John D. Rockefeller <strong>de</strong>u início à construção <strong>de</strong> seu império,criando a Standard Oil Company of Pennsylvania. Rockefeller, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>cedo, percebeu que o êxito dos seus negócios <strong>de</strong>pendia não apenasda quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> óleo extraído dos poços, mas também da aquisição<strong>de</strong> refinarias e do controle sobre o transporte e a comercialização dosprodutos <strong>de</strong>rivados. Empenhou-se, <strong>de</strong>ssa forma, em negociar acordospreferenciais com as ferrovias e, mais tar<strong>de</strong>, adquiriu oleodutos. Dez a<strong>no</strong>s<strong>de</strong>pois do início <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, a Standard Oil chegou a controlarcerca <strong>de</strong> 95% da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refi<strong>no</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Com oslucros auferidos, Rockefeller passou a adquirir participações em outrasempresas petrolíferas, expandindo suas ativida<strong>de</strong>s por todo o territórioestaduni<strong>de</strong>nse 43 .A trajetória ascen<strong>de</strong>nte da Standard Oil foi interrompida <strong>no</strong> início doséculo XX. O perfil da empresa e os métodos <strong>de</strong> Rockefeller <strong>de</strong>spertarama atenção do po<strong>de</strong>r público e a hostilida<strong>de</strong> dos grupos consumidores, quereclamavam a aplicação da legislação antitruste. Rockefeller recorria,sempre que possível, aos seus contatos <strong>no</strong>s meios políticos e à suaequipe <strong>de</strong> advogados para manter a integrida<strong>de</strong> da empresa. Em 1911,porém, <strong>de</strong>cisão da Corte Suprema dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>smembrou aStandard Oil em várias firmas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, entre elas três companhiasque integrariam o grupo das “Sete Irmãs”: Standard Oil of New Jersey(ou Eastern States Standard Oil-ESSO/EXXON), Standard Oil of NewYork – SOCONY (posteriormente re<strong>no</strong>meada MOBIL) e Standard Oilof California – SOCAL (mais tar<strong>de</strong> CHEVRON). Durante boa parte doséculo XX, a indústria do petróleo esteve sob controle <strong>de</strong> um cartel <strong>de</strong>empresas <strong>no</strong>rte-americanas e europeias (as “Sete Irmãs”), que incluía,além das três mencionadas, a anglo-holan<strong>de</strong>sa Royal Dutch-Shell, abritânica Anglo-Persian Oil Company e as <strong>no</strong>rte-americanas Gulf Oile Texaco 44 .A Gulf Oil e a Texaco foram criadas após as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo<strong>no</strong> oeste dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em 1901, um grupo <strong>de</strong> investidores, entreos quais o Banco Mellon, da Pensilvânia, promoveu a instalação <strong>de</strong> uma43The Prize. The Epic Quest for Oil, Money and Power. D.Yergin, New York, NY: Free Press/Simon & Schuster, 2003.44The Age of Oil: the Mythology, History and Future of the World’s Most ControversialRresource.Leonardo Maugeri. Westport, CT: Praeger Publishers, 2006.43


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>srefinaria em Port Arthur, <strong>no</strong> litoral do Texas, para processar o petróleoextraído do campo <strong>de</strong> Spindletop. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>scoberta (1901), opoço <strong>de</strong> Spindletop produzia cerca <strong>de</strong> 100.000 barris diários. Em 1904,porém, sua produção já havia <strong>de</strong>clinado para 10.000 barris diários. Novas<strong>de</strong>scobertas foram feitas em Oklahoma, o que possibilitou a continuida<strong>de</strong>do boom do petróleo. Em 1907, diversas firmas uniram-se para formara Gulf Oil Corporation, que posteriormente expandiu suas operaçõespara os seguintes países: México, Venezuela, Kuwait, Angola e Cuba 45 .Criada em 1901 por um grupo <strong>de</strong> empresários da Pensilvânia e <strong>de</strong>Nova York, a Texas Fuel Company – Texaco beneficiou-se também dariqueza gerada em Spindletop. Em 1904, já tinha escritórios <strong>de</strong> vendaem gran<strong>de</strong> parte dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e competia diretamente com aStandard Oil. Em 1928, tor<strong>no</strong>u-se a primeira companhia a comercializargasolina em todos os 48 estados, utilizando uma marca única. Em 1936,a Texaco, em joint venture com a Standard Oil of California, criou aCalifornia Texas Oil Company – CALTEX para disputar mercados <strong>no</strong>Oriente Médio, África, Austrália e Nova Zelândia 46 .Na Europa, <strong>no</strong> final do século XIX, duas gran<strong>de</strong>s companhias petrolíferasdominavam o mercado: a Royal Dutch, fundada por Henri Deterding (o“Napoleão do óleo”), que recebeu do Rei Willem III, em 1890, concessãopara a exploração <strong>de</strong> petróleo nas Índias holan<strong>de</strong>sas e a Shell, empresabritânica, fundada em 1897 por Marcus Samuel, que, em parceria com afamília Rothschild, comercializava petróleo na Ásia. As duas empresasuniram-se, em 1907, para melhor enfrentar a concorrência internacional.Antes do surgimento da Royal Dutch-Shell, a Shell havia assinado, <strong>no</strong>início do século XX, contrato com a Gulf Oil, uma das “Sete Irmãs” <strong>no</strong>rte--americanas, que operava o poço Spindletop, <strong>no</strong> Texas. A intenção daShell era adquirir meta<strong>de</strong> da produção da Gulf Oil e revendê-la na Europa.A crescente concorrência da Standard Oil <strong>no</strong> mercado internacional,assim como o <strong>de</strong>clínio da produção <strong>de</strong> Spindletop, frustraram os pla<strong>no</strong>sda Shell e motivaram sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> unir-se à Royal Dutch, em 1907.A exploração dos recursos petrolíferos do Oriente Médio iniciou-se, em largaescala, a partir <strong>de</strong> 1909, com a criação da Anglo-Persian Oil Company (APOC),precursora da atual British Petroleum (BP). Em 1901, o inglês William D’Arcy45Business Buil<strong>de</strong>rs in Oil. Nathan Aaseng. Minneapolis, MN: The Oliver Press, inc. 2000.46The Big Rich: The Rise and Fall of the Greatest Texas Oil Fortunes. Bryan Burrough. NewYork, NY: Penguin Press HC. 2009.44


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisobteve do Xá da Pérsia, Mozzafar al-Din, uma concessão válida por sessenta a<strong>no</strong>spara exploração e produção <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> território persa. Apesar das dificulda<strong>de</strong>siniciais, que quase o levaram à bancarrota, em <strong>de</strong>corrência dos altos custos <strong>de</strong>exploração, o esforço <strong>de</strong> D’Arcy foi recompensado pela <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> vasta baciapetrolífera na região <strong>de</strong> Masjed Soleyman, <strong>no</strong> sudoeste da Pérsia. D’Arcy ven<strong>de</strong>usua participação acionária na empresa à Burmah Oil Company, sediada na Escócia,que criou a APOC como subsidiária. Em 1913, Winston Churchill adquiriumeta<strong>de</strong> das ações da APOC como forma <strong>de</strong> assegurar a participação doGover<strong>no</strong> britânico em parcela significativa das concessões <strong>de</strong> petróleo<strong>no</strong> Oriente Médio e também para garantir o abastecimento dos navios<strong>de</strong> guerra do Império. A APOC passou a chamar-se Anglo-IranianOil Company (AIOC), em 1935, e British Petroleum, em 1954. A BPoperou <strong>no</strong> Irã até a Revolução Islâmica, em 1979 47 .As “Sete Irmãs” (Exxon, Mobil, Chevron, Texaco, Gulf Oil, BritishPetroleum e Royal Dutch/Shell) exerceram hegemonia sobre a indústriapetrolífera internacional durante boa parte do século XX, mas enfrentaramresistências. O cartel das gran<strong>de</strong>s empresas oci<strong>de</strong>ntais foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo,contestado pelos países produtores, que reconheceram a importânciado petróleo como fator <strong>de</strong> crescimento econômico e industrial e comofonte <strong>de</strong> renda fiscal. O domínio empresarial ce<strong>de</strong>ria lugar à afirmação dasoberania nacional sobre os recursos petrolíferos. Vários países criaramempresas nacionais <strong>de</strong> petróleo, que assumiriam o controle da indústriapetrolífera. A Argentina estabeleceu a primeira companhia nacional <strong>de</strong>petróleo da América Latina, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF),em 1922. Durante décadas, a YPF atuou como a principal empresapetrolífera <strong>no</strong> mercado argenti<strong>no</strong>, servindo como referência para acriação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s similares, como a Administración Nacional <strong>de</strong>Combustibles, Alcohol y Portland (ANCAP), <strong>no</strong> Uruguai, em 1931, ea Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivia<strong>no</strong>s, em 1936 48 . No México,em 1938, o Presi<strong>de</strong>nte Lázaro Cár<strong>de</strong>nas expropriou bens <strong>de</strong> <strong>de</strong>zessetecompanhias estrangeiras, que se recusavam a acatar <strong>de</strong>cisão do TribunalSupremo sobre aumento <strong>de</strong> salários; criou, em seguida, a Petróleos47The History of the British Petroleum Company. James Bamberg. The Edinburgh Building,Cambridge. Cambridge University Press, 2000.48Oil and Politics in Latin America. Nationalist Movements and State Companies. GeorgePhilip. The Edinburgh Building, Cambridge: Cambridge University Press, 1982.45


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisdo petróleo importado, seja estimulando a produção doméstica, sejapromovendo a conservação, a eficiência energética e fontes alternativas,como o álcool, o carvão e a energia nuclear. No <strong>Brasil</strong>, por exemplo, oGover<strong>no</strong> Geisel instituiu o Programa Nacional do Álcool (Proálcool)e iniciou cooperação nuclear com a Alemanha Oci<strong>de</strong>ntal, que previa aconstrução <strong>de</strong> usinas para geração <strong>de</strong> energia elétrica.Por ocasião do segundo “choque”, em 1979, precipitado pelarevolução islâmica <strong>no</strong> Irã, o preço do barril <strong>de</strong> petróleo elevou-se apatamar até então nunca alcançado: US$ 38, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1979 (ouUS$ 106,8 – valor atualizado para junho <strong>de</strong> 2009). A reação do Oci<strong>de</strong>ntepermitiu reduzir os preços do petróleo nas duas décadas seguintes. Além<strong>de</strong> investir em energia nuclear e re<strong>no</strong>vável (eólica, solar, geotermal ebiocombustíveis) e <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias que possibilitarama exploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural em águas profundas, os paísesda OCDE buscaram estimular a produção em regiões não submetidas àinfluência da OPEP, como o Golfo do México, o Mar do Norte, o Canadá,o Alasca, a Sibéria, a África Oci<strong>de</strong>ntal e o Mar Cáspio. Embora raramenteutilizados, os estoques <strong>de</strong> petróleo dos países da OCDE atuaram comofator <strong>de</strong> estabilização do mercado. Em janeiro <strong>de</strong> 1991, por exemplo, àsvésperas da Guerra do Golfo, o preço do barril do petróleo elevou-se acerca <strong>de</strong> US$ 40, patamar superior àquele verificado após a invasão doKuwait pelo Iraque (US$ 36, em setembro <strong>de</strong> 1990). Em coor<strong>de</strong>naçãocom o Japão e países europeus, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> anunciaram venda<strong>de</strong> petróleo dos estoques estratégicos, o que provocou queda abruptados preços 50 .O acirramento da disputa entre as empresas nacionais e as gran<strong>de</strong>scompanhias oci<strong>de</strong>ntais provocou uma onda <strong>de</strong> fusões e aquisições naindústria petrolífera. Em 1975, a Gulf Oil <strong>de</strong>cidiu suspen<strong>de</strong>r as ativida<strong>de</strong>s<strong>no</strong>s países em <strong>de</strong>senvolvimento para concentrar-se na exploração <strong>de</strong>campos <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido e na América do Norte. Em 1984, a StandardOil of Califórnia (SOCAL) trocou o <strong>no</strong>me para Chevron e uniu-seà Gulf Oil. Em 1998, a British Petroleum – que já havia adquirido aStandard Oil of Ohio <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80 – uniu-se à Amoco (antiga StandardOil of Indiana). Em 1999, a Exxon e a Mobil uniram-se para dar origemà maior companhia integrada <strong>de</strong> petróleo e gás natural do mundo, a50U.S. Department of Energy. Office of Fossil Energy. U.S. Petroleum Reserves.47


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sExxonMobil. Em 2001, a Chevron incorporou a Texaco. No início doséculo XXI, portanto, o grupo original das “Sete Irmãs” estava reduzidoa quatro companhias: ExxonMobil, Royal Dutch Shell, BP e Chevron.Duas <strong>no</strong>vas gran<strong>de</strong>s companhias oci<strong>de</strong>ntais surgiram ao final do processo<strong>de</strong> consolidação: Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a Co<strong>no</strong>coPhillips, com a fusãoda Co<strong>no</strong>co (Continental Oil and Transportation Company) e da PhillipsPetroleum Company, em 2002. Na França, a Total, que adquiriu a empresabelga Petrofina, em 1999, e a Elf Aquitaine, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 51 .A indústria petrolífera passou por um terceiro “choque” na primeiradécada do século XXI. Entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 2003 e 2008, registrou-se <strong>no</strong>vo ciclo<strong>de</strong> elevação dos preços do petróleo, motivado por fatores diversos, entreos quais: o <strong>de</strong>clínio da produção em regiões não controladas pela OPEP,como o Golfo do México e o Mar do Norte; o crescimento da eco<strong>no</strong>miamundial, que impulsio<strong>no</strong>u a <strong>de</strong>manda por petróleo, principalmente <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, China, Japão e Índia; a <strong>de</strong>svalorização do dólar, moedautilizada <strong>no</strong> comércio internacional <strong>de</strong> petróleo; a ação especulativa dosfundos <strong>de</strong> hedge e bancos <strong>de</strong> investimento na negociação dos contratosfuturos <strong>de</strong> petróleo; e a recuperação do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado da OPEP, graçasao extraordinário volume das reservas do Oriente Médio (atualmente,dois terços dos recursos petrolíferos convencionais encontram-se naregião do Golfo Pérsico). Em julho <strong>de</strong> 2008, o barril <strong>de</strong> petróleo chegoua ser negociado a US$140 na Bolsa <strong>de</strong> Nova York. Acompanhando aevolução da crise econômica e financeira global, os preços do petróleo<strong>de</strong>spencaram <strong>no</strong> segundo semestre <strong>de</strong> 2008, mas voltaram a subir já<strong>no</strong> primeiro semestre <strong>de</strong> 2009, com os primeiros sinais <strong>de</strong> recuperaçãoeconômica <strong>no</strong>s países oci<strong>de</strong>ntais.A indústria petrolífera enfrenta diversos <strong>de</strong>safios, entre os quaiso inegável <strong>de</strong>clínio das reservas convencionais, os elevados custos<strong>de</strong> exploração dos recursos não convencionais (óleo extrapesado eminerais betumi<strong>no</strong>sos) e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>para combater a mudança do clima. Um aspecto central da indústriapetrolífera é, sem dúvida, o fortalecimento das empresas nacionais:as National Oil Companies, ou NOCs (em oposição às InternationalOil Companies, ou IOCs, segundo a termi<strong>no</strong>logia inglesa). As NOCs51The Politics of the Global Oil Industry. An Introduction. Ann Ge<strong>no</strong>va e Toyin Falola.Westport, Connecticut: Praeger Publishers, 2005.48


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisterão impacto significativo sobre a evolução do setor petrolífero naspróximas décadas. Beneficiadas pelo respaldo político e pelo acessopreferencial às reservas <strong>de</strong> petróleo e gás natural existentes em seuspaíses <strong>de</strong> origem, as NOCs conquistaram gradativamente maior espaço<strong>no</strong> mercado internacional. As principais empresas nacionais <strong>de</strong> petróleo,todas oriundas <strong>de</strong> países não pertencentes à OCDE são: Petrobras, ChinaNational Petroleum Corportation - CNPC (China), National Iranian OilCompany - NIOC (Irã), Gazprom (Rússia), Petronas (Malásia), PDVSA(Venezuela) e Saudi Aramco (Arábia Saudita) 52 . Segundo dados da EIA,referentes a 2007, as empresas nacionais controlam 88% das reservasprovadas <strong>de</strong> petróleo e respon<strong>de</strong>m por 52% da produção mundial.Em contraste, as gran<strong>de</strong>s empresas internacionais controlam 6% dasreservas e têm participação <strong>de</strong> 26% na produção mundial. A AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (IEA) estima que, <strong>no</strong>s próximos vinte a<strong>no</strong>s,mais <strong>de</strong> 90% das <strong>no</strong>vas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo ocorrerão <strong>no</strong>s países em<strong>de</strong>senvolvimento. As NOCs respon<strong>de</strong>rão, nesse contexto, por parcelacrescente do fornecimento global.C – A indústria <strong>de</strong> gás natural. O comércio <strong>de</strong> GNLA evolução da indústria do gás natural ocorreu em ritmo mais lentodo que a petrolífera, pois a comercialização do gás era limitada, atémeados do século XX, por dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> armazenamento e transporte.No início do século XIX, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (Baltimore) e a Inglaterrajá utilizavam gás – obtido do carvão – para iluminação <strong>de</strong> casas e viaspúblicas. A primeira companhia <strong>de</strong> gás natural dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>(Fredonia Gas Light Company) surgiu após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> reservas <strong>de</strong>gás em Fredonia, Nova York, por William Hart, em 1821. O poço Drake,<strong>de</strong>scoberto na Pensilvânia, em 1859, por Edwin Drake, também continhagás natural, que foi canalizado, com êxito, por gasoduto para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Titusville. No final do século XIX, uma série <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicaspermitiu superar obstáculos técnicos ao transporte do combustível alongas distâncias. Dentre os marcos do período, citem-se: a) a invençãopelo químico alemão Robert Bunsen, em 1885, <strong>de</strong> um queimador especial,52Financial Times. “The new Seven Sisters. Oil and gas giants dwarf western rivals”. Publicadoem 11/03/2007.49


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> chama azul, que permitia regulação da temperatura e uso mais segurodo gás; b) os experimentos do químico inglês Michael Faraday queimpulsionaram o <strong>de</strong>senvolvimento da tec<strong>no</strong>logia para conversão do gásnatural ao estado líquido (GNL); c) a criação do sistema <strong>de</strong> refrigeraçãopor compressão, em 1873, pelo engenheiro Karl van Lin<strong>de</strong>; d) a evoluçãodas técnicas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> gasodutos, com o surgimento <strong>de</strong> conexõesresistentes a vazamentos 53 .Durante a maior parte do século XIX, o gás natural foi utilizadoprincipalmente para iluminação. Sem uma infraestrutura <strong>de</strong> gasodutos,não era possível ampliar os usos do combustível. A maior parte do gásainda era produzida a partir do carvão. Com o advento da luz elétrica(graças aos experimentos <strong>de</strong> Thomas Edison), em 1879, as lâmpadas<strong>de</strong> gás natural foram gradualmente convertidas em lâmpadas elétricas,forçando os produtores <strong>de</strong> gás natural a buscar outros mercados para oseu produto. Em 1891, foi construído um dos primeiros gasodutos <strong>de</strong>longa extensão (190 km) para transportar gás natural <strong>de</strong> poços <strong>de</strong>scobertos<strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Indiana para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chicago. A partir dos a<strong>no</strong>s 20, amalha <strong>de</strong> gasodutos expandiu-se <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em 1938, diantedo crescimento do consumo e para evitar aumentos abusivos <strong>no</strong> preçodo gás, o Gover<strong>no</strong> aprovou o Natural Gas Act, com dispositivos <strong>de</strong>proteção aos consumidores. Após a Segunda Guerra Mundial, graças aoaperfeiçoamento das técnicas <strong>de</strong> construção e aos avanços na metalurgia,ocorreu rápida expansão da infraestrutura <strong>de</strong> gasodutos <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Além do uso em residências, o gás natural passou a ser utilizadopela indústria e pelo setor elétrico 54 .Na Europa, a indústria do gás natural cresceu após as <strong>de</strong>scobertas docampo <strong>de</strong> Groningen, <strong>no</strong>s Países Baixos, em 1959, e dos reservatórios<strong>de</strong> gás do Mar do Norte, em território marítimo do Rei<strong>no</strong> Unido e daNoruega. O Rei<strong>no</strong> Unido direcio<strong>no</strong>u sua produção para consumo inter<strong>no</strong>,ao passo que a Noruega impulsio<strong>no</strong>u a construção <strong>de</strong> gasodutos para oabastecimento <strong>de</strong> países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal. A partir dos a<strong>no</strong>s 70, sobo impacto dos “choques” do petróleo, os países da OCDE estimularammaior consumo <strong>de</strong> gás natural, <strong>de</strong> maneira a diversificar a matrizenergética e reduzir a <strong>de</strong>pendência das importações <strong>de</strong> petróleo do Oriente53The History of Natural Gas. American Gas Association.54Department of Energy. Office of Fossil Energy. The History of Natural Gas.50


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisMédio. O contínuo progresso técnico viabilizou a redução dos custos <strong>de</strong>transporte. Alguns países – como os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e a Inglaterra – quejá dispunham <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> gasodutos, pu<strong>de</strong>ram avançar rapidamentena consolidação da indústria do gás natural.A União Soviética, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 50, produzia gás natural <strong>de</strong> campos<strong>de</strong>scobertos na região dos Urais e do Volga, <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte do Cáucaso e na Ucrânia.Pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gás eram exportadas para a Europa, sobretudo paraa Polônia. Após as <strong>de</strong>scobertas dos gigantescos campos <strong>de</strong> gás na Sibéria,foram construídos, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70 e 80, extensos gasodutos entre o <strong>no</strong>rte daRússia e a Ucrânia, o que possibilitou ampliar as exportações <strong>de</strong> gás parapaíses europeus. No início dos a<strong>no</strong>s 90, os países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal jáabsorviam a maior parte das exportações russas <strong>de</strong> gás natural. Outrosgasodutos foram instalados para aten<strong>de</strong>r a crescente <strong>de</strong>manda europeia: em1983, o Trans-Mediterrâneo, que liga Argélia, Tunísia, Sicília e Itália; em1996, o Magrebe-Europa (GME), que transporta gás da Argélia para Espanhae Portugal; em 1999, o Yamal-Europa, rota alternativa para transporte dogás russo para a Alemanha, através da Bielorússia e da Polônia. A Rússia,por sua vez, criou uma malha <strong>de</strong> gasodutos para importar o combustível<strong>de</strong> países da Ásia Central (Turcomenistão, Uzbequistão e Cazaquistão) 55 .No início dos a<strong>no</strong>s 90, avanços na tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> liquefação do gásnatural incrementaram a competitivida<strong>de</strong> comercial do GNL. Conformemencionado, os experimentos pioneiros com a conversão do gás naturalao estado líquido, realizados pelo químico inglês Michael Faraday,datam do século XIX. A primeira usina experimental para produção<strong>de</strong> GNL foi construída <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (Virgínia Oci<strong>de</strong>ntal), em1912. A produção <strong>de</strong> GNL em escala comercial teve início em 1941,com a construção <strong>de</strong> usina em Cleveland, Ohio. Em 1959, o primeironavio-tanque (The Methane Pioneer) adaptado para o comércio <strong>de</strong> GNLrealizou transporte <strong>de</strong> carregamento <strong>de</strong> gás natural entre o estado daLouisiana e o Rei<strong>no</strong> Unido. Com o êxito da operação, foram instalados,posteriormente, terminais marítimos para o comércio <strong>de</strong> GNL <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, Rei<strong>no</strong> Unido, França, Bélgica, Itália, Espanha e Japão. A Argéliator<strong>no</strong>u-se o primeiro país exportador <strong>de</strong> GNL <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60, enviandocargas para o Rei<strong>no</strong> Unido e a França. Em 1969, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>55A Short History of Twentieth-Century Tech<strong>no</strong>logy. Trevor Williams, New York, NY: OxfordUniversity Press, 2002.51


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spassaram a exportar GNL para o Japão a partir <strong>de</strong> terminal <strong>de</strong> liquefaçãoconstruído na península <strong>de</strong> Kenai, <strong>no</strong> estado do Alasca. Des<strong>de</strong> então, ocomércio internacional <strong>de</strong> GNL tem crescido rapidamente, sobretudo<strong>no</strong>s mercados da Ásia 56 .Nas Américas e <strong>no</strong> Caribe, o comércio <strong>de</strong> GNL ainda opera empequena escala. Em 1999, foi construído terminal <strong>de</strong> liquefação emTrinidad e Tobago, que se tor<strong>no</strong>u o principal fornecedor para o mercadodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Porto Rico e República Dominicana tambémimportam GNL <strong>de</strong> Trinidad e Tobago. Os dados estatísticos confirmam aconcentração do comércio <strong>de</strong> GNL <strong>no</strong>s países da Ásia, do Oriente Médio,do <strong>no</strong>rte da África e da Europa Oci<strong>de</strong>ntal. Os principais exportadores <strong>de</strong>GNL, em 2007, foram o Qatar (1,352 tcf), com vendas direcionadas parao Japão, a Coreia do Sul, a Índia, a Espanha e a Bélgica. O segundo maiorexportador <strong>de</strong> GNL foi a Malásia (1,085 tcf), que abastece os mercadosdo Japão, da Coreia do Sul e <strong>de</strong> Taiwan. O terceiro maior exportador, aIndonésia (1,003 tcf), também orienta suas vendas para esses três países.A Argélia, quarta colocada na lista, com volume <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> 898bcf, abastece, sobretudo, os mercados da Europa (França, Espanha,Turquia e Itália). Os principais importadores <strong>de</strong> GNL, em 2007, foramJapão (3,385 tcf), Coreia do Sul (1,178 tcf), Espanha (837 bcf), <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> (770 bcf), França (456 bcf), Taiwan (396 bcf) e Índia (358 bcf) 57 .Ao contrário do petróleo, o gás natural é comercializado em mercadosregionais, com preços que variam <strong>de</strong> acordo com as circunstâncias <strong>de</strong>cada país ou região, como custos <strong>de</strong> produção, distribuição e transporte,existência <strong>de</strong> estoques, facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> armazenamento, condiçõesclimáticas (que afetam os níveis <strong>de</strong> estoque), distância entre os centros<strong>de</strong> produção e consumo e os dispositivos da legislação 58 . Há, também,diferenças importantes na forma pela qual se atribui preço ao gás natural.Os contratos <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> petróleo são negociados diariamentenas principais bolsas <strong>de</strong> valores do mundo. A formação dos preços dopetróleo é influenciada pelas condições globais do mercado e baseia-seem fórmulas que utilizam como referência <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> óleo,como o West Texas Intermediate (WTI), Brent ou Dubai. Os contratos <strong>de</strong>56Brief History of LNG. Center for Energy Eco<strong>no</strong>mics. The University of Texas at Austinhttp://www.beg.utexas.edu/energyecon/lng/LNG_introduction_10.php57Energy Information Administration. International Energy Statistics.58Vi<strong>de</strong> Mapa 2, Anexo VII.52


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisgás natural, por sua vez, são <strong>de</strong> longo prazo. Interrupções <strong>no</strong> fornecimento<strong>de</strong> petróleo po<strong>de</strong>m ser compensadas por importações <strong>de</strong> outras regiõesdo mundo. No caso do gás natural, tal expediente costuma ser poucoeficaz, uma vez que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comercialização são regionais, sendo oproduto transportado majoritariamente por gasodutos. Dessa forma, hágran<strong>de</strong>s variações <strong>no</strong> preço do gás, conforme a região.Com base nas reservas existentes e <strong>no</strong> potencial para <strong>no</strong>vas <strong>de</strong>scobertas,alguns especialistas avaliam que o gás natural po<strong>de</strong>rá, <strong>no</strong> futuro, substituir opetróleo como principal fonte <strong>de</strong> energia da eco<strong>no</strong>mia mundial. A indústriaterá <strong>de</strong> superar, entretanto, obstáculos relacionados com os elevadoscustos dos projetos <strong>de</strong> exploração e dos investimentos para construção <strong>de</strong>gasodutos e terminais. A evolução do setor será <strong>de</strong>terminada, sobretudo,pelo progresso nas técnicas <strong>de</strong> transporte do gás, seja pelos métodostradicionais – gasodutos e GNL (gás natural liquefeito) – seja com o usodas <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, como o gás natural comprimido (GNC), hidratos <strong>de</strong>gás natural comprimido (HGN), conversão <strong>de</strong> gás em hidratos <strong>de</strong> meta<strong>no</strong>(GTS – Gas to Solids) , conversão <strong>de</strong> gás em energia elétrica (GTW – Gasto Wire) e conversão <strong>de</strong> gás em líquidos (GTL – Gas to Liquids).D – A expansão dos biocombustíveisOs biocombustíveis <strong>de</strong> origem vegetal são conhecidos e utilizados<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da indústria automobilística. No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1900, durante aExposição Universal <strong>de</strong> Paris, o alemão Rudolph Diesel utilizou óleo<strong>de</strong> amendoim para acionar um protótipo <strong>de</strong> motor, comprovando que osóleos vegetais po<strong>de</strong>riam ser usados em veículos. Em seguida, Henry Ford<strong>de</strong>senvolveu o Mo<strong>de</strong>lo T, o primeiro veículo flex, produzido entre 1903e 1926, que popularizou o automóvel. Na época, alguns países europeuscomo a França, a Bélgica e o Rei<strong>no</strong> Unido <strong>de</strong>senvolveram a produção <strong>de</strong>biocombustíveis em colônias africanas, utilizando matéria-prima localcomo o <strong>de</strong>ndê e o amendoim. Durante a II Guerra Mundial, os óleosvegetais foram amplamente utilizados como combustível e para outrosfins. No pós-Guerra, com o restabelecimento das rotas do comérciointernacional <strong>de</strong> petróleo, houve redução dos preços da gasolina e dodiesel, o que <strong>de</strong>sestimulou a produção e o consumo <strong>de</strong> óleos vegetais.Nas duas décadas seguintes, ocorreu rápida expansão da indústriaautomobilística mundial, sustentada, em parte, pelos baixos preços do53


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spetróleo. Os biocombustíveis foram praticamente eliminados do mercadoe somente voltariam a ser produzidos em larga escala após os “choques”do petróleo, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70, quando vários países passaram a investirem fontes alternativas <strong>de</strong> energia, com vistas a reduzir o consumo <strong>de</strong>combustíveis fósseis 59 .Os biocombustíveis líquidos – como o eta<strong>no</strong>l, biodiesel, meta<strong>no</strong>l,buta<strong>no</strong>l e propa<strong>no</strong>l – apresentam gran<strong>de</strong> interesse econômico, poissubstituem diversos <strong>de</strong>rivados do petróleo. Os biocombustíveis sólidosincluem resíduos da agricultura, da exploração florestal e das ativida<strong>de</strong>surbanas e industriais. Os gasosos são obtidos do tratamento <strong>de</strong> efluentes,como o biogás <strong>de</strong> aterro 60 . Os biocombustíveis <strong>de</strong> origem vegetal, porsua vez, costumam ser divididos em categorias distintas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dotipo <strong>de</strong> biomassa utilizado para sua fabricação. Os <strong>de</strong> primeira geraçãosão obtidos <strong>de</strong> matéria-prima com elevada concentração <strong>de</strong> açúcar ouamido, como beterraba, mandioca, milho, trigo e cana-<strong>de</strong>-açúcar, oucom alto conteúdo <strong>de</strong> óleo, como soja, sementes <strong>de</strong> algodão e girassol,coco, pinhão-manso, <strong>de</strong>ndê e ca<strong>no</strong>la. Representam, atualmente, a quasetotalida<strong>de</strong> dos biocombustíveis produzidos em países como <strong>Brasil</strong>,<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, China e na União Europeia. Os biocombustíveis <strong>de</strong>segunda geração são <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> biomassa com baixo teor <strong>de</strong> açúcarou óleo, como o bagaço da cana, capim, grama, palha e ma<strong>de</strong>ira. Sãoobtidos por meio da hidrólise <strong>de</strong> celulose, processo tec<strong>no</strong>lógico compotencial para transformar o mercado internacional <strong>de</strong> biocombustíveise possibilitar o aumento do número <strong>de</strong> países produtores. Ainda não háprodução comercial <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>de</strong> segunda geração 61 .A produção dos biocombustíveis <strong>de</strong> primeira geração, principalmenteeta<strong>no</strong>l e biodiesel, tem crescido em várias regiões do mundo. Nos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e na União Europeia, o crescimento do setor é aceleradoem <strong>de</strong>corrência das políticas governamentais <strong>de</strong> apoio. Alguns paísesjá pesquisam a terceira geração <strong>de</strong> biocombustíveis, que envolvemanipulação genética com vistas à criação <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantas cujas59Energy Information Administration. Energy Timelines. Etha<strong>no</strong>l.60Aproveitamento da biomassa para a geração <strong>de</strong> energia elétrica. In 1º Seminário Sobre aUtilização <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>s Re<strong>no</strong>váveis para Eletrificação Rural do Norte e Nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong>. Dr.Osvaldo Stella Martins. CENBIO – Centro Nacional <strong>de</strong> Referência em biomassa. Brasília, 9 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004.61Biopact. Biocombustíveis – Da primeira à quarta geração. Tradução e adaptação BiodieselBR.com, março <strong>de</strong> 2008.54


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveiscaracterísticas facilitariam a conversão <strong>de</strong> biomassa em combustível.Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, instituições como o Serviço <strong>de</strong> Pesquisa Agrícola,o Joint Ge<strong>no</strong>me Institute, ligado ao Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, e a TexasA&M University’s Agricultural Experiment Station (TAES) preten<strong>de</strong>mviabilizar a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico a partir <strong>de</strong> sorgo e álamogeneticamente modificados. Alguns autores consi<strong>de</strong>ram a produção <strong>de</strong>combustível a partir <strong>de</strong> alga marinha como parte integrante da terceirageração. Mencionam, também, o advento <strong>de</strong> uma quarta geração <strong>de</strong>biocombustíveis, mediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> plantas com gran<strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, o que ampliaria osbenefícios ambientais <strong>de</strong> seu consumo 62 . Em setembro <strong>de</strong> 2007, equipe<strong>de</strong> cientistas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e <strong>de</strong> Taiwan anunciaram a criação <strong>de</strong>um tipo <strong>de</strong> eucalipto com maior teor <strong>de</strong> celulose e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorvertrês vezes mais CO 2do que as espécies existentes 63 . Em outubro <strong>de</strong>2007, o Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Florestal <strong>de</strong> Hokkaido, <strong>no</strong> Japão, divulgouinformações sobre a obtenção <strong>de</strong> um híbrido <strong>de</strong> lariço (árvore típica dataiga, <strong>no</strong> leste da Sibéria), que teria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorver e armazenarCO 2em volume 30% superior às varieda<strong>de</strong>s naturais 64 . Caso se confirme aviabilida<strong>de</strong> da produção comercial <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>de</strong> terceira e quartagerações, o setor entrará em <strong>no</strong>va fase <strong>de</strong> crescimento, com perspectivasmais favoráveis para a consolidação <strong>de</strong> um mercado internacional.A produção mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, em 2008, alcançou o volume <strong>de</strong>17,33 bilhões <strong>de</strong> galões 65 . Os principais produtores foram os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> (9 bilhões <strong>de</strong> galões), <strong>Brasil</strong> (6,472 bilhões), União Europeia(733,6 milhões), China (501,9 milhões), Canadá (237,7 milhões), Tailândia(89,8 milhões), Colômbia (79,2 milhões), Índia (66 milhões) e Austrália(26,4 milhões) 66 . Diversos insumos agrícolas são utilizados para aprodução do eta<strong>no</strong>l. O <strong>Brasil</strong> e a Índia utilizam cana-<strong>de</strong>-açúcar; os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, milho; a China, milho e trigo; a União Europeia, beterraba, trigoe sorgo. Apesar da concentração em número reduzido <strong>de</strong> países (<strong>Brasil</strong> e<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> respon<strong>de</strong>ram, em 2008, por 89% do volume da produção62I<strong>de</strong>m.63CBC Ambiental.64Portal EcoDebate. Cidadania e Maeio Ambiente.65Nos EUA, há duas medidas para galões. O galão líquido tem 3,785 litros. O galão seco, paramateriais sólidos, tem 4,404 litros. No Rei<strong>no</strong> Unido, o galão, seja para materiais sólidos oulíquidos, equivale a 4,545 litros.66U.S. Renewable Fuels Association.55


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>smundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l combustível), a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l tem crescido emoutras regiões como, por exemplo, os países das Américas e do Caribe.Em 2007, a Colômbia produziu cerca <strong>de</strong> 75 milhões <strong>de</strong> galões, seguidapelo Peru (7,9 milhões), Argentina (5,2 milhões) e Paraguai (4,7 milhões).Os países da América Central e do Caribe registraram, em conjunto, 39,6milhões <strong>de</strong> galões 67 .Em março <strong>de</strong> 2007, <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, juntamente com UniãoEuropeia, China, Índia e África do Sul, lançaram o Fórum Internacional<strong>de</strong> Biocombustíveis, mecanismo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre países produtorese consumidores, cujo objetivo é promover a convergência <strong>de</strong> padrõese <strong>no</strong>rmas técnicas para a produção dos biocombustíveis, com vistas aviabilizar a conformação <strong>de</strong> um mercado internacional. O <strong>Brasil</strong> exerceupapel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas negociações para a criação do Fórum, conforme serávisto <strong>no</strong> Capítulo 4. O <strong>Brasil</strong>, atualmente, é o único país com capacida<strong>de</strong>para sustentar exportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l em larga escala. O volume <strong>de</strong>exportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l do <strong>Brasil</strong> evoluiu, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, da seguinteforma: em 2006, foram registradas vendas <strong>de</strong> 3,42 bilhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l, dos quais 1,75 bilhão para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, 344 milhões paraos Países Baixos, 227 milhões para o Japão e 201 milhões para a Suécia.Em 2007, foram exportados 3,53 bilhões <strong>de</strong> litros, dos quais 849 milhõespara os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, 800 milhões para os Países Baixos, 367 milhõespara o Japão, 312 milhões para a Jamaica e 226 milhões para El Salvador.Em 2008, as exportações cresceram para 5,11 bilhões <strong>de</strong> litros, dos quais1,52 bilhão para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, 1,33 bilhão para os Países Baixos,436,1 milhões para a Jamaica, 355,9 milhões para El Salvador e 263,2 milhões para o Japão 68 . Jamaica e El Salvador, juntamente coma Costa Rica e Trinidad e Tobago, são países membros da CBI(Caribbean Basin Initiative), beneficiados pela política comercialdos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> que permite a entrada <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l sem tarifa <strong>de</strong>importação até uma cota <strong>de</strong> 7% do consumo inter<strong>no</strong>.O biodiesel é obtido a partir <strong>de</strong> e<strong>no</strong>rme varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> grãos vegetais,além <strong>de</strong> gorduras animais e po<strong>de</strong> ser misturado com o eta<strong>no</strong>l ou o meta<strong>no</strong>l.As tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> biodiesel ainda estão em <strong>de</strong>senvolvimento,mas a produção e o comércio internacional do produto têm crescido67I<strong>de</strong>m.68UNICA. União da Indústria <strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-Açúcar.56


o cenário energético <strong>no</strong> mundo: petróleo, gás natural e biocombustíveisaceleradamente. Alemanha e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são os maiores produtores.Em 2006, a produção global <strong>de</strong> biodiesel alcançou o volume <strong>de</strong> 6,5 bilhões<strong>de</strong> litros, dos quais 75% foram produzidos pela UE e 13% pelos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> 69 . Além da Alemanha, Itália, França, Áustria e Suécia são gran<strong>de</strong>sprodutores europeus <strong>de</strong> biodiesel, que utilizam como matéria-prima aca<strong>no</strong>la (colza) e, em me<strong>no</strong>r escala, soja, <strong>de</strong>ndê e girassol. O <strong>Brasil</strong>, em2008, produziu 1,17 bilhão <strong>de</strong> litros 70 . Há perspectiva <strong>de</strong> rápido aumentodo volume da produção brasileira em <strong>de</strong>corrência da fixação <strong>de</strong> metaspara mistura <strong>de</strong> biodiesel ao diesel mineral (4% em 2009; 5% em 2010).Um aspecto relevante a respeito do futuro da produção <strong>de</strong>biocombustíveis <strong>no</strong> mundo diz respeito à crescente associação entregran<strong>de</strong>s companhias petrolíferas e o setor sucroalcooleiro. A PetrobrasBiocombustíveis (PBio), criada em 2008, adquiriu participações acionáriasem várias usinas e tem projetos <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lcelulósico, biodiesel e bioeta<strong>no</strong>l por rotas não convencionais, além doHBIO (hidrogenação <strong>de</strong> óleos vegetais) e do BTL (biocombustívelsintético). Gran<strong>de</strong>s petrolíferas, como BP, Royal Dutch Shell, Chevron eExxonMobil, também têm investido em biocombustíveis e outras fontes<strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, como a eólica e a solar 71 . Em abril <strong>de</strong> 2008, a BPanunciou sua entrada <strong>no</strong> mercado brasileiro <strong>de</strong> biocombustíveis por meioda Tropical Bioenergia, joint venture com a Santelisa Vale e o GrupoMaeda 72 .69F.O. Licht Consulting Company.70ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.71The Wall Street Journal. “Biocombustíveis atraem atenção, e investimentos, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>spetrolíferas”, publicado em 28/10/09.72Observatório do <strong>Setor</strong> Sucroalcooleiro.57


Capítulo IIO <strong>Setor</strong> <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>A – Descrição da matriz energética. Reservas, produção econsumo <strong>de</strong> recursos energéticosA matriz energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> apresenta elevadaparticipação dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) eda energia nuclear. Em 2008, os combustíveis fósseis respon<strong>de</strong>ram por58% da produção <strong>de</strong> energia <strong>no</strong> país (carvão, 23,9%; gás natural, 21,2%;óleo cru, 10,5%; e gás natural liquefeito, 2,4%); seguidos pelas usinasnucleares (8,5%) e pelas fontes re<strong>no</strong>váveis (7,4%) 73 . No tocante aos dados<strong>de</strong> consumo, o petróleo é a fonte <strong>de</strong> energia predominante, à frente docarvão. Em 2008, os combustíveis fósseis contribuíram para aten<strong>de</strong>r 84%do consumo <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (petróleo, 37,4%; gás natural,24%; e carvão, 22,6%). A energia nuclear respon<strong>de</strong>u por 8,5%. As fontesre<strong>no</strong>váveis supriram 7,4% do consumo energético dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 74 .Com relação à geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, a participação das principaisfontes <strong>de</strong> energia, <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em 2007, foi a seguinte: carvão,48,5%; gás natural, 21,6%; energia nuclear, 19,4%; hidreletricida<strong>de</strong>,5,8%; petróleo, 1,6%; outras fontes, 3,1%.73Vi<strong>de</strong> Quadro 4, Anexo VII.74Vi<strong>de</strong> Quadro 3, Anexo VII.59


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sPETRÓLEOSegundo dados da EIA (2009), os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> dispõem <strong>de</strong>reservas petrolíferas provadas <strong>de</strong> 21,37 bilhões <strong>de</strong> barris (11º lugar <strong>no</strong>mundo). Os recursos estão concentrados <strong>no</strong> Texas (22%), na Louisiana(20%), <strong>no</strong> Alasca (20%) e na Califórnia (18%). Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>são o maior consumidor e o terceiro maior produtor <strong>de</strong> petróleo. Em2008, consumiram aproximadamente 19,498 milhões <strong>de</strong> barris por dia,seguidos pela China (7,850 milhões b/d) e pelo Japão (4,784 milhõesb/d) 75 . Produziram, em 2008, 8,514 milhões <strong>de</strong> barris por dia, logo atrásda Arábia Saudita (10,782 milhões b/d) e da Rússia (9,789 milhões b/d) 76 .Boa parte das refinarias <strong>no</strong>rte-americanas operam próximo da capacida<strong>de</strong>máxima. Após longo período sem investimentos, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>voltaram a construir e ampliar suas instalações <strong>de</strong> refi<strong>no</strong>. Atualmente, opaís dispõe <strong>de</strong> 150 refinarias.A produção <strong>no</strong>rte-americana <strong>de</strong> petróleo tem <strong>de</strong>clinado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970;atingiu o nível <strong>de</strong> 8,3 milhões <strong>de</strong> barris diários em 2005, após a passagemdos furacões Katrina e Rita, que provocaram graves da<strong>no</strong>s à infraestrutura<strong>de</strong> produção e refi<strong>no</strong> <strong>no</strong> Golfo do México. Des<strong>de</strong> então, houve discretoaumento <strong>de</strong> produção, em <strong>de</strong>corrência das <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos campospetrolíferos em alto-mar 77 . Em 2008, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram 9,783milhões <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong> óleo cru e 3,132 milhões <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong><strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo. Em julho <strong>de</strong> 2009, os principais fornecedores <strong>de</strong>óleo cru para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> eram Canadá (2,1 milhões b/d), ArábiaSaudita (1,13 milhões b/d), México (985 mil b/d), Venezuela (865 milb/d), Nigéria (858 mil b/d) e <strong>Brasil</strong> (375 mil b/d) 78 . As exportações <strong>de</strong>óleo cru são submetidas a rígido controle pelo Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>(Departamento <strong>de</strong> Comércio e Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>). Em 2008,os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> exportaram 27 mil barris diários <strong>de</strong> óleo cru parao Canadá. As exportações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo são consi<strong>de</strong>ráveis.Em 2008, o país exportou 1,773 milhão <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong> produtos<strong>de</strong>rivados para diversos países, entre os quais Canadá, México, PaísesBaixos, Itália, Japão, Chile, <strong>Brasil</strong>, Espanha, Panamá e Cingapura.75Vi<strong>de</strong> Gráfico 3, Anexo VII.76Vi<strong>de</strong> Gráfico 4, Anexo VII.77Vi<strong>de</strong> Gráfico 5, Anexo VII.78Vi<strong>de</strong> Quadro 5, Anexo VII.60


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosGÁS NATURALOs <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm a quinta maior reserva <strong>de</strong> gás natural, emtor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 238 tcf, equivalente a 3,8% das reservas provadas <strong>no</strong> mundo(EIA-2009). São o maior consumidor e o segundo maior produtor <strong>de</strong>gás natural. Em 2008, o país produziu 20,561 tcf, logo atrás da Rússia(23,38 tcf). O consumo doméstico, em 2008, foi <strong>de</strong> aproximadamente23,3 tcf, dos quais 3,98 tcf correspon<strong>de</strong>ram às importações, sobretudodo Canadá (3,58 tcf) 79 . Além do fornecimento pela malha <strong>de</strong> gasodutos,os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram, em 2008, gás natural liquefeito (GNL)<strong>de</strong> Trinidad e Tobago (0,264 tcf), Egito (0,054 tcf), Noruega (0,017tcf) e Nigéria (0,012 tcf), entre outros países. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são,também, exportadores <strong>de</strong> gás natural, principalmente para o Canadá e oMéxico, parceiros do NAFTA (Acordo <strong>de</strong> Livre Comércio da Américado Norte). Em 2008, exportaram, por meio <strong>de</strong> gasodutos, 0,59 tcf parao Canadá e 0,36 tcf para o México. Para o Japão, o país exportou 0,049tcf em volume <strong>de</strong> GNL, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> em 2008.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> gásnatural. Após a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estagnação, a produção <strong>de</strong> gás natural <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> voltou a crescer, a partir <strong>de</strong> 2006, graças ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias que permitiram reduzir os custos da exploração dosrecursos não convencionais <strong>de</strong> gás, localizados em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>smarítimas ou <strong>no</strong>s <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos, como a formação<strong>de</strong> Barnett Shale, <strong>no</strong> Texas. Os estados do Colorado, Utah, Wyoming eMontana, nas Montanhas Rochosas, também dispõem <strong>de</strong> vastas reservas<strong>de</strong> recursos não convencionais (gas shale). A oferta doméstica <strong>de</strong> gáspo<strong>de</strong>rá aumentar, também, com a construção do Gasoduto do Alasca,prevista para 2020. A EIA prevê aumento da participação do gás na matrizenergética dos EUA, o que possibilitará reduzir emissões <strong>de</strong> gases doefeito estufa, em particular <strong>no</strong> setor elétrico.CARVÃOOs <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm a maior reserva mundial <strong>de</strong> carvão,aproximadamente 263.781 mst (million short tons), segundo dados daEIA. O carvão respon<strong>de</strong> pela maior parte da produção <strong>de</strong> energia (23,9%,em 2008). É, também, o principal combustível utilizado na geração <strong>de</strong>79Vi<strong>de</strong> Gráfico 6, Anexo VII.61


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>seletricida<strong>de</strong> (48,5%, em 2007). Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são autossuficientes<strong>no</strong> setor <strong>de</strong> carvão, mas há registro <strong>de</strong> importações do produto, sobretudoda Colômbia. Em 2008, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> produziram 1.171,4 mst <strong>de</strong>carvão e consumiram 1.122 mst 80 . O combustível é utilizado, sobretudo,para geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> (90%) e <strong>no</strong> setor industrial. A produção <strong>de</strong>carvão ocorre em 26 estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s; os principais produtoressão Wyoming, Virgínia Oci<strong>de</strong>ntal, Kentucky, Pensilvânia e Texas. Osprincipais consumidores são Texas, Indiana, Ohio, Illi<strong>no</strong>is e Pensilvânia.Segundo dados da EIA, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> exportaram, em 2008, cerca<strong>de</strong> 7% da produção nacional. Os principais <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s foram Canadá (28%),Países Baixos (9%), <strong>Brasil</strong> (8%), Rei<strong>no</strong> Unido (7%) e França (4%).Dentre outros compradores, citem-se Bélgica, Alemanha, Índia, Coreiado Sul, Marrocos e México. Tendo em conta que boa parte da produçãodoméstica <strong>de</strong> carvão ocorre a oeste do Mississipi, alguns estados da CostaLeste e do Golfo do México conseguem importar o produto a preçoscompetitivos. Em 2008, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram 34 mst (3%do consumo) dos seguintes países: Colômbia (78%), Indonésia (10%),Venezuela (7%) e Canadá (5%).ENERGIA NUCLEARSegundo dados da Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Atômica (AIEA),os EUA têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração nuclear estimada em 806,5 bilhões <strong>de</strong>kilowatts-hora (bkWh), seguidos por França (418,6 bkWh), Japão (266,4bkWh), Rússia (147,8 bkWh), Coreia do Sul (136,6 bkWh), Alemanha (133,2bkWh), Canadá (96,5 bkWh), Ucrânia (87,2 bkWh), Suécia (64,4 bkWh) eChina (62,6 bkWh). Há 104 reatores nucleares comerciais localizados em31 estados. A usina <strong>de</strong> Palo Ver<strong>de</strong>, <strong>no</strong> Arizona, é a maior instalação nuclearcom 3 reatores e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> 3,872 megawatts (MW). As usinasmais recentes foram construídas durante os a<strong>no</strong>s 90 <strong>no</strong> Texas (ComanchePeak 1 e 2), na Pensilvânia (Limerick 2), <strong>no</strong> Tennessee (Watts Bar 1) e emNew Hampshire (Seabrook 1). Em 2008, a TVA (Tennessee Valley Authority)retomou as obras da usina Watts Bar 2, interrompidas em 1988 por pressão<strong>de</strong> grupos ambientalistas. A Watts Bar 2 <strong>de</strong>verá iniciar ativida<strong>de</strong>s em 2012. Ausina mais antiga, com licença <strong>de</strong> operação emitida em abril <strong>de</strong> 1969, é a <strong>de</strong>80Vi<strong>de</strong> Gráfico 7, Anexo VII.62


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosOyster Creek, em Nova Jersey 81 . A energia nuclear é o principal componenteda matriz <strong>de</strong> energia elétrica <strong>no</strong>s estados <strong>de</strong> Vermont (73,7%), Carolina doSul (51,2%), Nova Jersey (50,7%), Connecticut (48,9%), Illi<strong>no</strong>is (47,8%) eNew Hampshire (46%). As principais empresas fornecedoras <strong>de</strong> combustívelnuclear são a francesa Areva, a Westinghouse Electric Company (controladapelo grupo Toshiba) e a General Electric (GE), que celebrou, em 1999, jointventure com os grupos Hitachi e Toshiba, constituindo a GE-Hitachi NuclearEnergy. Des<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s 90, a participação da energia nuclear na produção <strong>de</strong>eletricida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tem permanecido estável, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 20%.FONTES RENOVÁVEISEm 2008, as fontes re<strong>no</strong>váveis (biocombustíveis, lenha, energiahidráulica, eólica, solar e geotérmica) supriram 7% do consumoenergético dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A lenha constituiu a principal fonte<strong>de</strong> energia do país até o final do século XIX, tendo sido ultrapassada,por volta <strong>de</strong> 1885, pelo carvão. Ainda hoje, porém, a biomassa (lenhae biocombustíveis) respon<strong>de</strong> por cerca <strong>de</strong> 53% da produção <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (EIA-2009). A hidreletricida<strong>de</strong> é outrocomponente importante na produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, comparticipação <strong>de</strong> 34%, em 2008. Mais <strong>de</strong> 50% da capacida<strong>de</strong> hidráulica<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> está concentrada <strong>no</strong>s três estados da costa oeste(Washington, Oregon e Califórnia). Em Washington, localiza-se amaior usina do país, a Grand Coulee Dam. As <strong>de</strong>mais fontes têmparticipação mo<strong>de</strong>sta na produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável: eólica (7%),geotérmica (5%) e solar (1%) 82 . No longo prazo, em função do apoiogovernamental e dos investimentos realizados pelo setor privado, háexpectativa <strong>de</strong> crescimento da participação dos biocombustíveis e daenergia eólica na produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável.B – Evolução do setor energético. A perda da autossuficiênciaem petróleo e gás naturalDurante a maior parte <strong>de</strong> sua história, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> foramautossuficientes na produção <strong>de</strong> energia 83 . Na época colonial, pequenas81Vi<strong>de</strong> Quadro 6, Anexo VII.82Vi<strong>de</strong> Gráfico 8, Anexo VII.83Vi<strong>de</strong> Gráfico 13, Anexo VII.63


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>squantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carvão eram importadas da Inglaterra, mas a maior partedo consumo <strong>de</strong> energia era atendida pela exploração florestal. Em 1776,a<strong>no</strong> da <strong>de</strong>claração da in<strong>de</strong>pendência, o principal recurso energéticoutilizado pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> era a lenha, que, além <strong>de</strong> combustível,servia como matéria-prima para construções. Os vastos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong>carvão, petróleo e gás natural, existentes <strong>no</strong> território estaduni<strong>de</strong>nse,ainda não haviam sido <strong>de</strong>scobertos. Como ainda eram uma eco<strong>no</strong>miaem estágio pré-industrial, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> recorriam, em larga escala,às fontes re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong> energia; moinhos eram movidos por energiahidráulica; navios, pela força dos ventos; veículos, por tração animal.Com o passar dos a<strong>no</strong>s, a exploração da lenha tor<strong>no</strong>u-se insuficientepara acompanhar o ritmo <strong>de</strong> crescimento econômico, o que motivou aexploração dos combustíveis fósseis 84 .O surgimento das locomotivas a vapor e a construção das estradas <strong>de</strong>ferro estimularam, <strong>no</strong> século <strong>de</strong> XIX, a expansão da indústria do carvão.Com vistas a possibilitar a ocupação dos territórios do Oeste, foraminstalados milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> ferrovias, o que indiretamentecontribuiu para a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> carvão. O combustívelsustentou boa parte da expansão dos setores industrial e <strong>de</strong> transportesdos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX e logo ultrapassoua lenha como principal fonte <strong>de</strong> energia. O predomínio do carvãocomo fonte <strong>de</strong> energia primária <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> prolongou-se atémeados do século XX. No final da I Guerra Mundial, estima-se que ocarvão respondia por cerca <strong>de</strong> 75% da oferta total <strong>de</strong> energia. Até hoje,o carvão é o combustível predominante na geração <strong>de</strong> energia elétrica<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (49%, em 2008), embora tenha cedido espaço, namatriz energética, ao petróleo e ao gás natural 85 .Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm logrado preservar a autossuficiência <strong>no</strong> setor<strong>de</strong> carvão. Des<strong>de</strong> 1950, o país exporta carvão para países como Canadá,<strong>Brasil</strong>, Japão, Itália e Rei<strong>no</strong> Unido. Historicamente, a produção <strong>de</strong> carvão<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tem-se mantido acima do nível <strong>de</strong> consumo. O volumedas exportações, entretanto, reduziu-se significativamente <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90,em razão da queda dos preços internacionais, da crescente concorrência<strong>de</strong> outros países produtores (como Austrália, África do Sul, China,84American Eco<strong>no</strong>mic History: From Abundance to Constraint. John O’Sullivan e Edward F.Keuchel. New York, NY: Markus Wiener Publishing Inc, 1989.85Vi<strong>de</strong> Gráfico 9, Anexo VII.64


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosVenezuela e Colômbia) e do aumento do uso do gás natural na Europa 86 .Além da queda das exportações, tem ocorrido, também, incremento dasimportações <strong>de</strong> carvão, <strong>de</strong> países como Colômbia, Venezuela, Indonésiae Canadá. O crescimento das importações explica-se pela maior <strong>de</strong>mandapor carvão com baixo teor <strong>de</strong> enxofre para aten<strong>de</strong>r dispositivos dalegislação ambiental <strong>no</strong>rte-americana. A indústria do carvão exerce forteinfluência junto ao Congresso e ao Po<strong>de</strong>r Executivo, o que se reflete,por exemplo, <strong>no</strong> empenho <strong>de</strong> alguns órgãos da administração, como oDepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, em promover a pesquisa, o <strong>de</strong>senvolvimentoe a difusão <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> carvão, como o carvãolimpo (clean coal).Em meados do século XX, o petróleo tor<strong>no</strong>u-se a principal fonte<strong>de</strong> energia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O combustível já era conhecido dospovos indígenas <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Algumas tribos utilizavam-<strong>no</strong> emcerimônias religiosas. O avanço da colonização europeia <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> possibilitou a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong>s estados da Pensilvânia e<strong>de</strong> Nova York. O produto passou a ser usado na iluminação pública e comolubrificante. Sua utilização como combustível generalizou-se a partir doséculo XX, com o advento da produção industrial <strong>de</strong> automóveis e coma <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas províncias petrolíferas, como o já mencionadoSpindletop Oil Field, <strong>no</strong> Texas, em 1901. Da mesma forma que o carvãomarcou os primórdios da era industrial, sobretudo na Inglaterra, aexploração do petróleo esteve vinculada à ascensão dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>como potência mundial. O po<strong>de</strong>rio estaduni<strong>de</strong>nse beneficiou-se, nessesentido, tanto dos métodos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>senvolvidos por Henry Fordcomo da riqueza proporcionada pelos poços <strong>de</strong> petróleo 87 .No início do século XX, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> ocupavam posiçãodominante <strong>no</strong> mercado internacional <strong>de</strong> petróleo. Eram os maioresprodutores mundiais e exportavam mais da meta<strong>de</strong> do óleo extraído <strong>de</strong>seu território, em boa parte refinado. A principal empresa era a StandardOil, fundada por John Rockefeller, em 1882, <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Ohio. Após aII Guerra, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> experimentaram extraordinária expansãoeconômica, cuja sustentabilida<strong>de</strong> se baseou <strong>no</strong> fornecimento abundante,estável e seguro <strong>de</strong> energia, sobretudo petróleo e gás natural. Até 1950,86Vi<strong>de</strong> Gráfico 7, Anexo VII.87The Color of Oil. The History, the Money and the Politics of the World’s Biggest Business.Michael Eco<strong>no</strong>mi<strong>de</strong>s e Ronald Oligney. Katy, Texas: Round Oak Publishing Company, 2000.65


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>shouve relativo equilíbrio entre produção interna e consumo <strong>de</strong> petróleo.Com o crescimento das importações <strong>de</strong> petróleo, o que implicava a perda,pela primeira vez, da relativa auto<strong>no</strong>mia existente <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia 88 , os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> se viram confrontados com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformulara política energética. Passaram a usar seu po<strong>de</strong>rio militar para garantira proteção dos navios, dos oleodutos e das principais rotas marítimasdo comércio internacional <strong>de</strong> petróleo. Celebraram, também, acordosestratégicos com gran<strong>de</strong>s países produtores, como a Arábia Saudita.As importações <strong>de</strong> petróleo cresceram continuamente até o final dosa<strong>no</strong>s 70. Entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1979 e 1985, houve queda das importações,em consequência das condições econômicas e das medidas adotadaspara promover a conservação e a eficiência energética. Após 1985, asimportações <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados voltaram a crescer, até alcançar opico <strong>de</strong> 13,714 milhões <strong>de</strong> barris diários, em 2005 89 .O gás natural, tal como o petróleo, tem sido explorado <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX. Inicialmente, o gás era obtido do carvão eutilizado como combustível para iluminação pública em algumas cida<strong>de</strong>s<strong>no</strong>rte-americanas, como Baltimore. Em 1821, em Fredonia, <strong>no</strong> estado <strong>de</strong>Nova York, William Hart operou com êxito o primeiro poço <strong>de</strong> extraçãosubterrânea do combustível e fundou a Fredonia Gas Light Company,primeira companhia <strong>de</strong> gás natural. Posteriormente, com a <strong>de</strong>scobertado poço Drake, foi construído gasoduto <strong>de</strong> cinco milhas para abastecera cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Titusville, na Pensilvânia. A partir do final do século XIX,uma série <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações técnicas, como a invenção do bico <strong>de</strong> Bunsen eo <strong>de</strong>senvolvimento das técnicas <strong>de</strong> construção dos gasodutos, ampliaramo consumo inter<strong>no</strong>. Surgia, assim, a indústria do gás natural <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Em 1891, Chicago passou a ser abastecida com gás natural<strong>de</strong> Indiana. Em 1925, foi construído gasoduto entre a Louisiana e oTexas. Após a II Guerra Mundial, registrou-se acelerado crescimento doconsumo <strong>de</strong> gás, que se tor<strong>no</strong>u um dos principais componentes da matrizenergética. No período 1945-1970, milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> gasodutosforam instalados em todo o território estaduni<strong>de</strong>nse. Vastas reservas <strong>de</strong>gás natural foram <strong>de</strong>scobertas, sobretudo em Oklahoma, Califórnia e88Vi<strong>de</strong> Gráfico 13, Anexo VII.89Vi<strong>de</strong> Gráfico 10, Anexo VII.66


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosArizona, e o combustível passou a ser amplamente utilizado pelo setorindustrial, na produção <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e <strong>no</strong> aquecimento <strong>de</strong> residências 90 .Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tornaram-se um gran<strong>de</strong> produtor <strong>de</strong> gás natural,mas, <strong>de</strong> forma similar ao que ocorreu <strong>no</strong> setor petrolífero, o país per<strong>de</strong>u aautossuficiência. Nas décadas <strong>de</strong> 60 e 70, as importações líquidas <strong>de</strong> gásnatural representavam entre 4% e 6% do consumo inter<strong>no</strong>. O crescimentoda oferta doméstica <strong>de</strong> gás foi suficiente para aten<strong>de</strong>r o consumo atémeados da década <strong>de</strong> 80, quando os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> passaram a importarvolumes crescentes <strong>de</strong> gás natural do Canadá, além <strong>de</strong> cargas <strong>de</strong> GNL (gásnatural liquefeito) <strong>de</strong> países como Argélia, Egito e Trinidad e Tobago 91 .A indústria <strong>de</strong> GNL <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> experimentou um boom <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s 70 em <strong>de</strong>corrência do aumento do consumo <strong>de</strong> gás e dos esforçospara reduzir a <strong>de</strong>pendência do petróleo. Foram instalados, <strong>no</strong> período,quatro terminais <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> GNL: Elba Island (Geórgia), CovePoint (Maryland), Everett (Massachusetts) e Lake Charles (Louisiana).Nas décadas <strong>de</strong> 80 e 90, porém, em razão do aumento da produçãodoméstica <strong>de</strong> gás natural, o comércio <strong>de</strong> GNL permaneceu estagnado;somente voltou a crescer a partir <strong>de</strong> 1999, com a abertura <strong>de</strong> terminal <strong>de</strong>exportação <strong>de</strong> GNL em Trinidad e Tobago 92 .Nos a<strong>no</strong>s 90, <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias possibilitaram o incremento dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> gás natural em águas profundas. A produçãonacional permaneceu, porém, estagnada, apesar do número recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> poçosperfurados (22.083, em 2001). Segundo dados da EIA, a produtivida<strong>de</strong>média <strong>de</strong> um poço <strong>de</strong> gás natural, em 2003, representava apenas 29% dovalor registrado em 1971. Em 2005, a passagem dos furacões Katrina eRita pelo Golfo do México provocou da<strong>no</strong>s à infraestrutura <strong>de</strong> produção,refi<strong>no</strong> e distribuição <strong>de</strong> petróleo e gás natural, contribuindo para elevaçãorecor<strong>de</strong> dos preços. A partir <strong>de</strong> 2007, a produção doméstica <strong>de</strong> gás natural<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> voltou a crescer, após <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> estagnação, graçasao uso <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, que possibilitaram a exploração <strong>de</strong> fontesnão convencionais – principalmente xisto, na formação Barnett Shale, <strong>no</strong>Texas – ou situadas em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s marítimas 93 .90The First Pictorial History of the American Oil and Gas Industry, 1859-1983. Ruth SheldonK<strong>no</strong>wles. Athens, OH: Ohio University Press. 1983.91Vi<strong>de</strong> Gráfico 12, Anexo VII.92Brief History of LNG. Center for Energy Eco<strong>no</strong>mics. The University of Texas at Austin.93Vi<strong>de</strong> Gráfico 11, Anexo VII.67


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sOs altos custos da produção doméstica e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importarGNL têm provocado elevação dos preços do gás <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. Oconsumo <strong>de</strong> gás natural <strong>de</strong>verá crescer, <strong>de</strong> todo modo, em consequênciada utilização do combustível pelas termelétricas. O Canadá aten<strong>de</strong> boaparte das importações <strong>de</strong> gás natural, mas há forte interesse do Gover<strong>no</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em buscar outras fontes, uma vez que os cana<strong>de</strong>nsestêm utilizado cada vez mais o gás <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> exploração dasreservas <strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos da província <strong>de</strong> Alberta. A crescente<strong>de</strong>pendência em relação às importações <strong>de</strong> gás já suscita preocupação <strong>no</strong>smeios oficiais dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Há reservas <strong>de</strong> gás <strong>no</strong> Canadá e <strong>no</strong>México, mas já bastante exploradas. O Gasoduto do Alasca – com iníciodas operações previsto para 2020 – <strong>de</strong>verá reduzir a <strong>de</strong>pendência dasimportações do Canadá. De qualquer forma, com o aumento do consumo<strong>de</strong> gás, sobretudo para geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>verãorecorrer cada vez mais às importações <strong>de</strong> GNL. Em 2007, segundo dadosda EIA, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram 780,81 bcf <strong>de</strong> GNL <strong>de</strong>: Trinida<strong>de</strong> Tobago (447,76 bcf), Egito (114,58 bcf), Nigéria (95,03 bcf), Argélia(77,30 bcf), Qatar (18,35 bcf) e Guiné Equatorial (17,80 bcf).C – O setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Ciclos <strong>de</strong> expansão e políticas <strong>de</strong> apoioA produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l tem crescido aceleradamente <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> graças a uma ampla gama <strong>de</strong> incentivos governamentais, algunsestabelecidos há mais <strong>de</strong> duas décadas. Segundo dados da RenewableFuels Association (RFA), principal associação comercial do setor, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> contavam, em janeiro <strong>de</strong> 2009, com 170 usinas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lem operação, localizadas em 26 estados, e 24 usinas em processo <strong>de</strong>construção. A produção doméstica <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l registrou os seguintes valores<strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s: 2,13 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2002; 2,8 bilhões <strong>de</strong> galões,em 2003; 3,4 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2004; 3,9 bilhões <strong>de</strong> galões, em2005; 4,85 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2006; 6,5 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2007;e 9 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2008. Historicamente, a estrutura do setor <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l tem sido marcada pela concentração geográfica da produção. Aregião conhecida como Corn belt, <strong>no</strong> Meio-oeste, abriga a maior partedas usinas 94 . Além do milho, que constitui 90% da matéria-prima para94Vi<strong>de</strong> Mapa 3, Anexo VII.68


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosa produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, o setor utiliza sorgo, cevada, trigo e batatas. Osestados <strong>de</strong> Iowa, Indiana, Illi<strong>no</strong>is, Nebraska e Minnesota respon<strong>de</strong>m porcerca <strong>de</strong> 80% da produção nacional. Um peque<strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> empresascontrola o setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Citem-se, entre outras, Archer Daniels Midland(ADM), VeraSun Energy Corporation, Aventine Renewable Energy,Hawkeye Renewables, ASAlliances Biofuels, Abengoa BioenergyCorporation, Midwest Grain Processors, US Bioenergy Corporation,Cargill e New Energy Corporation.O eta<strong>no</strong>l combustível tem longa tradição <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e passoupor vários ciclos <strong>de</strong> expansão e retração. No século XIX, era empregadoem larga escala na iluminação pública, concorrendo com o querosene.Em 1862, o Congresso (Union Congress) estabeleceu imposto sobre acomercialização do eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> $2 por galão para cobrir <strong>de</strong>spesas daGuerra Civil; a cobrança reduziu a competitivida<strong>de</strong> do eta<strong>no</strong>l e provocoudrástica redução da produção nacional. Em 1906, durante a presidência <strong>de</strong>Theodore Roosevelt, o Congresso aprovou a Free Alcohol bill, que revogouo referido imposto. Com o advento da indústria automobilística, o setor<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l entrou em fase <strong>de</strong> acelerada expansão. O primeiro automóvelprojetado por Henry Ford, o Quadricycle, <strong>de</strong> 1896, era abastecido cometa<strong>no</strong>l. Em 1908, Ford lançou o Mo<strong>de</strong>l T, veículo flex fuel, que impulsio<strong>no</strong>uas vendas <strong>de</strong> automóveis <strong>no</strong> mercado estaduni<strong>de</strong>nse. Durante a I GuerraMundial, a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l elevou-se para cerca <strong>de</strong> 60 milhões<strong>de</strong> galões anuais. De 1920 a 1933, a venda <strong>de</strong> bebidas alcoólicasfoi proibida <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O eta<strong>no</strong>l – que era consi<strong>de</strong>radoliquor – passou a ser comercializado apenas em mistura com agasolina. Nos a<strong>no</strong>s 30, o setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l expandiu-se para os estadosprodutores <strong>de</strong> milho <strong>no</strong> Meio-oeste, on<strong>de</strong> experimentou <strong>no</strong>vo ciclo<strong>de</strong> crescimento. Foram instalados centenas <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> venda <strong>de</strong>gasohol, composto <strong>de</strong> gasolina com percentagem <strong>de</strong> 6% a 12% <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l. O boom do eta<strong>no</strong>l prosseguiu durante a II Guerra Mundial,quando se registrou forte incremento da <strong>de</strong>manda por combustívelpara aviação 95 .A participação do eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> combustíveis dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> reduziu-se drasticamente após a II Guerra Mundial em razão95Renewable Energy From Forest Resources in the United States. Barry D. Solomon e ValérieA. Luzadis. New York, NY: Routledge. Taylor & Francis Group, 2009.69


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sda queda dos preços do petróleo. Durante décadas, o setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lenfrentou forte concorrência do petróleo e seus <strong>de</strong>rivados. No iníciodos a<strong>no</strong>s 70, a oferta comercial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> erainsignificante. A recuperação do setor ocorreu graças aos dois “choques”do petróleo, que restituíram competitivida<strong>de</strong> ao eta<strong>no</strong>l e reforçaram ointeresse do Gover<strong>no</strong> na produção <strong>de</strong> combustíveis alternativos. Em1974, o Congresso estaduni<strong>de</strong>nse aprovou o Solar Energy Research,Development and Demonstration Act, primeiro <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> atoslegislativos contendo dispositivos específicos <strong>de</strong> promoção do eta<strong>no</strong>lcomo combustível. No caso da legislação aprovada em 1974, buscou-seestimular a pesquisa e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> produção doeta<strong>no</strong>l a partir da celulose e <strong>de</strong> outros materiais orgânicos. Em 1978, oCongresso aprovou o Energy Tax Act, que estabeleceu subsídio <strong>de</strong> 40centavos para cada galão <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l misturado à gasolina e regulamentouo uso do gasohol, combustível composto <strong>de</strong> gasolina e pelo me<strong>no</strong>s 10%<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l produzido a partir <strong>de</strong> biomassa 96 .Os estímulos à produção doméstica <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l foram reforçados nadécada seguinte. Em 1980, o Congresso aprovou o Omnibus ReconciliationTax Act, que <strong>de</strong>terminava a aplicação <strong>de</strong> tarifa secundária sobre asimportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> US$ 0,54 por galão. Outro instrumentolegislativo, o Energy Security Act of 1980, estabeleceu benefícios fiscais,garantias <strong>de</strong> crédito e incentivos aos peque<strong>no</strong>s produtores. Em 1984, oTax Reform Act elevou para 60 centavos o valor do subsídio para cadagalão <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l misturado à gasolina. Amparada pela política <strong>de</strong> subsídiose proteção tarifária, a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> atingiu, em1985, o patamar <strong>de</strong> 595 milhões <strong>de</strong> galões anuais 97 .Outro fator <strong>de</strong> expansão da agroindústria do eta<strong>no</strong>l foi a políticagovernamental <strong>de</strong> redução dos níveis <strong>de</strong> chumbo na gasolina. O eta<strong>no</strong>lpassou a ser utilizado como aditivo oxigenante da gasolina a partir <strong>de</strong>1988. O crescimento do consumo seria retardado, porém, pelos baixospreços internacionais do petróleo e pela concorrência <strong>de</strong> aditivos comoo MTBE (éter metil-butil terciário), obtido do petróleo e do gás natural,e o ETBE (éter etil-butil terciário), produzido a partir do petróleo com96Tax Incentives For Petroleum and Etha<strong>no</strong>l Fuels. United States General Accounting Office.GAO Report. 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2000.97Fuel Etha<strong>no</strong>l: Background and Public Policy Issues. Brent D. Yacobucci. Washington D.C.:CRS Report for Congress. 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006.70


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidoso uso <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. O MTBE, apesar <strong>de</strong> ser muito poluente, domi<strong>no</strong>u omercado <strong>de</strong> aditivos por vários a<strong>no</strong>s.Em 1990, com a aprovação do Omnibus Budget Reconciliation Act, osincentivos ao setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l foram prorrogados até o a<strong>no</strong> 2000. Produtorescom capacida<strong>de</strong> instalada inferior a 30 milhões <strong>de</strong> galões anuais passarama receber crédito fiscal <strong>de</strong> US$ 0,10 por galão até o limite <strong>de</strong> 15 milhões <strong>de</strong>galões (ou seja, US$ 1,5 milhão por a<strong>no</strong>). Reduziu-se para US$ 0,54 o valordo subsídio concedido às refinarias por galão <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l misturado à gasolina.Em razão da concorrência do petróleo, cujo nível <strong>de</strong> preço permanecia baixo,várias usinas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l passaram a utilizar gás natural, em substituição aocarvão, na tentativa <strong>de</strong> reduzir os custos <strong>de</strong> produção.Em 1992, o Congresso aprovou legislação para o setor energético,a Energy Policy Act (EPAct), que esten<strong>de</strong>u benefícios fiscais para acompra (ou conversão) <strong>de</strong> veículos movidos a eta<strong>no</strong>l, assim como paraa comercialização <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> gasolina com percentual inferiora 10% <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. A produção doméstica <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l atingiu, em 1992, opatamar <strong>de</strong> um bilhão <strong>de</strong> galões. Em 1995, subiu para cerca <strong>de</strong> 1,5 bilhão<strong>de</strong> galões. Gran<strong>de</strong>s montadoras, como a Ford e a Daimler Chrysler,iniciaram produção em massa <strong>de</strong> veículos flex fuel, mas o crescimento dosetor foi prejudicado pelo reduzido número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l.Em 1998, o Congresso re<strong>no</strong>vou por <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s (até 2007) o incentivofiscal à mistura <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l à gasolina; estabeleceu, ainda, que o valor dosubsídio seria reduzido a 51 centavos por galão em 2005.Nos a<strong>no</strong>s 90, o setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l continuou a beneficiar-se da adoção<strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> controle da qualida<strong>de</strong> do ar. O Clean Air Act of 1990<strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u o uso <strong>de</strong> aditivos oxigenantes na gasolina como forma <strong>de</strong>reduzir as emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e outros gases poluentes. O eta<strong>no</strong>l e oMTBE passaram a ser acrescentados em larga escala à gasolina. Em2000, a EPA (Environmental Protection Agency) recomendou a gradualeliminação do aditivo MTBE, consi<strong>de</strong>rado canceríge<strong>no</strong>. Vários estados,como a Califórnia e Nova York, gran<strong>de</strong>s consumidores <strong>de</strong> MTBE,<strong>de</strong>cidiram banir o produto. Outros estados – como Minnesota, Iowa,Louisiana, Missouri e Montana – aprovaram legislação que estabeleciametas para incrementar o percentual <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l na gasolina 98 . O impacto98Etha<strong>no</strong>l Fuel Incentives Applied in the U.S., Reviewed From California’s Perspective.California Energy Commission. CEC Staff Report. 2004.71


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sdas medidas fez-se sentir <strong>no</strong> ritmo do crescimento da produção. Em 2002,os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> produziram 2 bilhões <strong>de</strong> galões <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l; em 2004,3 bilhões; e em 2006, 4 bilhões.Durante o Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> George W. Bush (2001-2009), as políticas <strong>de</strong>apoio ao setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l foram reforçadas. Em 2004, o Congresso aprovouo American Jobs Creation Act, que prorrogava até 2010 o crédito fiscal <strong>de</strong>US$ 0,51 por galão concedido às refinarias que adicionam 10% <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>là gasolina. Em 2005, o Energy Policy Act (EPAct) introduziu estímulosadicionais à produção e ao consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Cite-se, por exemplo, acriação do Renewable Fuel Standard (RFS), cujo objetivo é incrementaro volume <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis (eta<strong>no</strong>l e biodiesel) misturados àgasolina vendida <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. De acordo com o EPAct of 2005,tal volume <strong>de</strong>veria correspon<strong>de</strong>r a 4,7 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2007, e terincrementos anuais <strong>de</strong> 700 milhões <strong>de</strong> galões, até atingir o patamar <strong>de</strong>7,5 bilhões <strong>de</strong> galões em 2012; a partir <strong>de</strong> então, a produção doméstica<strong>de</strong> biocombustíveis <strong>de</strong>verá crescer pelo me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> mesmo ritmo da oferta<strong>de</strong> gasolina; em 2013, a oferta total <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong>veráconter 250 milhões <strong>de</strong> galões <strong>de</strong>rivados da celulose 99 .O EPAct of 2005 criou créditos fiscais para a compra <strong>de</strong> veículosflex fuel e para a instalação <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> combustíveisalternativos. Determi<strong>no</strong>u que as frotas fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> veículos flex fuelutilizem preferencialmente combustíveis alternativos, a me<strong>no</strong>s que nãohaja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta ou que o preço seja “substancialmentemais caro do que o combustível convencional”. Ampliou, além disso, onúmero <strong>de</strong> produtores beneficiários dos créditos fiscais. Com o EPAct of2005, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> produtor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l passou a incluir usinascom capacida<strong>de</strong> anual <strong>de</strong> até 60 milhões <strong>de</strong> galões. As empresas incluídasnessa categoria recebem subsídio <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> 10 centavos por galão atéo limite <strong>de</strong> 15 milhões <strong>de</strong> galões anuais.Foram ampliados, também, os programas <strong>de</strong> bioenergia. O EPAct of2005 elevou <strong>de</strong> US$ 54 milhões para US$ 200 milhões o volume anual<strong>de</strong> recursos a serem utilizados pelas diversas agências governamentais(Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Departamento <strong>de</strong> Agricultura e Agência<strong>de</strong> Proteção Ambiental), <strong>no</strong> período 2006-2015, para pesquisa e99Energy Policy Act of 2005: Summary and Analysis of Enacted Provisions. Mark Holt andCarol Glover. Washington D.C.: CRS Report for Congress. 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006.72


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidos<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> biocombustíveis, em parceria com empresas einstituições acadêmicas. Autorizou a concessão <strong>de</strong> incentivos para aprodução <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> US$ 250 milhões, <strong>no</strong> período2005-2015, com o objetivo <strong>de</strong> alcançar volume anual <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>1 bilhão <strong>de</strong> galões. Estabeleceu, a<strong>de</strong>mais, o Programa <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logiasAvançadas <strong>de</strong> biocombustíveis, com orçamento <strong>de</strong> U$ 550 milhõesanuais.A legislação fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> apoio ao setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l tem sidocomplementada por medidas <strong>no</strong> âmbito do Executivo. Em janeiro<strong>de</strong> 2007, <strong>no</strong> discurso do Estado da União, o Presi<strong>de</strong>nte George Bushanunciou o Pla<strong>no</strong> 20 x 10, que fixou meta <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> 20% do consumo<strong>de</strong> gasolina <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 10 a<strong>no</strong>s. De acordo com aestratégia do Gover<strong>no</strong> Bush, as diretrizes do Pla<strong>no</strong> 20 x 10 aten<strong>de</strong>riam aum duplo objetivo: <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> ambiental, reduzir as emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> eoutros gases causadores do efeito estufa e, <strong>no</strong> aspecto energético, diminuira <strong>de</strong>pendência do consumo <strong>de</strong> combustíveis fósseis, em particular dopetróleo importado <strong>de</strong> regiões politicamente instáveis e <strong>de</strong> regimes hostisaos interesses dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. As medidas estimularam fortementea produção <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis e alternativos, sobretudo eta<strong>no</strong>l.O Executivo manifestou intenção <strong>de</strong> elevar a meta <strong>de</strong> 7,5 bilhões <strong>de</strong>galões misturados à gasolina em 2012, prevista <strong>no</strong> EPAct of 2005(Renewable Fuel Standard - RFS), para 35 bilhões <strong>de</strong> galões em 2017,o que resultaria na substituição por eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 15% da gasolinaconsumida <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Além disso, o escopo do RFS foiampliado para incorporar, além do eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho, do eta<strong>no</strong>l celulósicoe do biodiesel, outras fontes e combustíveis alternativos, como meta<strong>no</strong>l,buta<strong>no</strong>l e hidrogênio.Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, o Presi<strong>de</strong>nte Bush assi<strong>no</strong>u o EnergyIn<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security Act (EISAct of 2007). O texto foi objeto <strong>de</strong>negociação prolongada <strong>no</strong> âmbito do Congresso, pois os Democrataspretendiam incluir pacote <strong>de</strong> incentivos fiscais para pesquisa e produção<strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 22 bilhões, cujos recursosviriam da cobrança <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos impostos sobre as ativida<strong>de</strong>s das empresaspetrolíferas. Sob ameaça <strong>de</strong> veto pelo Executivo, o dispositivo acabousendo excluído pelo Senado do texto final da energy bill. Seguindo alinha do Pla<strong>no</strong> 20 x 10, o EISAct of 2007 ampliou a meta <strong>de</strong> produçãoe consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis e alternativos. De acordo com o73


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sEISAct of 2007, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>verão adicionar à oferta <strong>de</strong> gasolina,em 2022, cerca <strong>de</strong> 36 bilhões <strong>de</strong> galões <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis,dos quais 15 bilhões <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis convencionais (comoo eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho), 16 bilhões <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico, 4 bilhões <strong>de</strong> outrosbiocombustíveis avançados (eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> resíduos, buta<strong>no</strong>l e outrosálcoois, eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> amido) e 1 bilhão <strong>de</strong> biodiesel <strong>de</strong>rivado da biomassa.Biocombustíveis avançados, segundo a <strong>de</strong>finição do EISAct of 2007, sãotodos os combustíveis re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong>rivados da biomassa que alcancemredução <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s 50% das emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa 100 .O Gover<strong>no</strong> Obama adotou, <strong>no</strong> primeiro semestre <strong>de</strong> 2009, medidaspara acelerar a pesquisa e o <strong>de</strong>senvolvimento dos biocombustíveisavançados, <strong>de</strong> maneira a cumprir as metas previstas <strong>no</strong> EISAct of 2007.Foram alocados US$ 656,5 milhões <strong>de</strong> recursos orçamentários previstos<strong>no</strong> American Recovery and Reinvestment Act – pacote <strong>de</strong> estímuloeconômico aprovado pelo Congresso, em fevereiro <strong>de</strong> 2009, com base empropostas do Presi<strong>de</strong>nte Barack Obama – para financiar projetos-piloto<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> biorrefinarias integradas, que produzirão em escalacomercial biocombustíveis avançados, bioprodutos e energia elétrica.Cerca <strong>de</strong> US$ 110 milhões foram alocados para projetos <strong>de</strong> pesquisabásica em áreas estratégicas do programa <strong>de</strong> biomassa do Departamento<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, como a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> alga marinha 101 .Em suma, o Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> mantém, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978,extensa gama <strong>de</strong> incentivos para estimular a produção e o consumo<strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis e alternativos. Nas últimas três décadas,os programas foram revistos, ampliados e reformulados por meio <strong>de</strong>inúmeras medidas administrativas e legislativas, inclusive <strong>no</strong> âmbitodos estados. De forma geral, os mecanismos <strong>de</strong> incentivo po<strong>de</strong>m seragrupados nas seguintes categorias:A) Barreiras tarifárias. Além da tarifa <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> 2,5% (advalorem tax), existe a tarifa secundária, criada inicialmente <strong>no</strong> âmbito doOmnibus Reconciliaton Tax Act of 1980, <strong>no</strong> valor <strong>de</strong> US$ 0,54 por galão,cuja vigência atual se esten<strong>de</strong> até 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, conformeestabelecido pela Farm Bill (Food, Conservation and Energy Act of 2008).Os <strong>de</strong>fensores da tarifa secundária argumentam que o seu objetivo é100Energy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security Act of 2007: A Summary of Major Provisions. FredSissine. Washington D.C.: CRS Report for Congress. 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.101Departament of Energy. Office of Energy Efficiency and Renewable Energy.74


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosanular, <strong>no</strong> momento em que o eta<strong>no</strong>l importado entra <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,os benefícios do crédito fiscal <strong>de</strong> US$ 0,51 por galão (reduzido, em 2008,pela Farm Bill para US$ 0,45 por galão), concedido às refinarias quemisturam eta<strong>no</strong>l à gasolina; <strong>de</strong>ssa forma, o estímulo fiscal estaria restritoà produção nacional. A tarifa secundária não se aplica às importações <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l dos países da Iniciativa da Bacia do Caribe, as quais ingressam<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> isentas <strong>de</strong> impostos, sem limite <strong>de</strong> volume, <strong>no</strong> casodo eta<strong>no</strong>l produzido com pelo me<strong>no</strong>s 50% <strong>de</strong> matéria-prima local e, até oteto <strong>de</strong> 7% do consumo inter<strong>no</strong> estaduni<strong>de</strong>nse, quando se trata <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lproduzido com matéria-prima não local (o <strong>Brasil</strong> tem-se beneficiado<strong>de</strong>ssa “janela <strong>de</strong> mercado”). Também estão isentas da tarifa eventuaisimportações do México e do Canadá, sob o NAFTA, e <strong>de</strong> Israel;B) Créditos fiscais. São concedidos às refinarias e aos peque<strong>no</strong>sprodutores <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. O Food, Conservation and Energy Act of 2008<strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u a concessão <strong>de</strong> crédito fiscal <strong>de</strong> US$ 0,45 por galão <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l,uma vez que a produção anual ou as importações tenham alcançado oteto <strong>de</strong> 7,5 bilhões <strong>de</strong> galões. Créditos fiscais têm sido utilizados paraincrementar o número <strong>de</strong> usinas <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> porte. O Omnibus BudgetReconciliation Act of 1990 conce<strong>de</strong>u aos produtores com capacida<strong>de</strong>instalada inferior a 30 milhões <strong>de</strong> galões crédito fiscal <strong>de</strong> US$ 0,10 porgalão. O Energy Policy Act of 2005 ampliou o número <strong>de</strong> beneficiáriosao <strong>de</strong>finir como “peque<strong>no</strong> produtor” usinas com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> até 60milhões <strong>de</strong> galões/a<strong>no</strong>, as quais passaram a receber subsídio <strong>no</strong> valor <strong>de</strong>US$ 0,10 por galão até o limite <strong>de</strong> 15 milhões <strong>de</strong> galões/a<strong>no</strong>;C) Padrão <strong>de</strong> Combustíveis Re<strong>no</strong>váveis e Alternativos. Des<strong>de</strong> acriação do Renewable Fuel Standard, em 2005, tanto o Congresso quantoo Executivo têm estabelecido metas para o volume <strong>de</strong> combustíveisre<strong>no</strong>váveis e alternativos (eta<strong>no</strong>l e biodiesel, principalmente) a seradicionado à oferta <strong>de</strong> gasolina <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Atualmente, alegislação prevê o patamar <strong>de</strong> 36 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2022, dos quais16 bilhões <strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r a eta<strong>no</strong>l celulósico. Segundo estimativado DOE, o cumprimento do RFS, até 2014, se dará principalmente com oaumento da produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho (14,4 bilhões <strong>de</strong> galões, volumeprevisto para 2014). A partir <strong>de</strong> então, <strong>de</strong>verá haver incremento constantedo volume <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> biocombustíveis avançados, sobretudo eta<strong>no</strong>lcelulósico (16 bilhões <strong>de</strong> galões, volume previsto em 2022). Na previsãodo DOE, a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho <strong>de</strong>verá ser estabilizada em75


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s15 bilhões <strong>de</strong> galões, por volta <strong>de</strong> 2015. A comercialização <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lcelulósico <strong>de</strong>verá ter início, conforme a expectativa oficial, em 2010;D) Legislação ambiental. Políticas <strong>de</strong> controle da qualida<strong>de</strong> doar têm contribuído para aumentar o consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Com vistas a eliminar o chumbo da gasolina – aditivoutilizado a partir dos a<strong>no</strong>s 70 e associado a elevados níveis <strong>de</strong>poluição atmosférica –, o Congresso <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u, em 1990, medianteaprovação do Clean Air Act, o acréscimo à gasolina <strong>de</strong> 2% <strong>de</strong> aditivosoxigenantes (eta<strong>no</strong>l ou MTBE). No a<strong>no</strong> 2000, a Agência <strong>de</strong> ProteçãoAmbiental dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> – Environmental Protection Agency(EPA) – recomendou a gradual eliminação do MTBE, consi<strong>de</strong>radocanceríge<strong>no</strong>, o que aumentou a participação do eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong>aditivos. Em 2005, o Energy Policy Act elimi<strong>no</strong>u a exigência legal <strong>de</strong>oxigenação da gasolina. Várias companhias petrolíferas suspen<strong>de</strong>rama utilização do MTBE, <strong>de</strong> forma a evitar processos judiciais. O EPActof 2005 não eximiu, porém, as companhias <strong>de</strong> respeitar os limites<strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> poluentes. Coube ao eta<strong>no</strong>l, substituto natural eeco<strong>no</strong>micamente viável do MTBE, ocupar o espaço aberto <strong>no</strong> mercado<strong>de</strong> aditivos.E) Programas <strong>de</strong> pesquisa. O DOE tem aplicado recursos vultososna pesquisa e <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis,em parceria com universida<strong>de</strong>s, empresas, laboratórios públicos,gover<strong>no</strong>s estaduais e locais. O programa <strong>de</strong> biomassa do DOE envolveprojetos nas áreas <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> produção, tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> conversão,biorrefinarias integradas e infraestrutura. Com o apoio do NationalRenewable Energy Laboratory, estão em curso vários projetos <strong>de</strong>pesquisa da conversão <strong>de</strong> celulose em eta<strong>no</strong>l, com o objetivo <strong>de</strong>reduzir custos e possibilitar a produção em escala comercial. Um dosprincipais atrativos é o potencial do eta<strong>no</strong>l celulósico como catalisadorda expansão geográfica do setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. À espera <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scobertai<strong>no</strong>vadora nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, grupos empresariais preparam-separa produzir eta<strong>no</strong>l a partir <strong>de</strong> matéria-prima obtida localmente, comoo capim (switchgrass). Instaladas próximo aos centros <strong>de</strong> consumo dascostas leste e oeste dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção seriambeneficiadas pela redução dos custos <strong>de</strong> transporte;F) Incentivos estaduais. A maioria dos estados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>smantém programas <strong>de</strong> apoio à produção e consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Entre os76


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosincentivos concedidos, citem-se: pagamentos diretos aos produtores;créditos fiscais; facilida<strong>de</strong>s para construção <strong>de</strong> usinas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l; empréstimos especiais; isenções fiscais; aprovação <strong>de</strong> leis sobrecomercialização e uso <strong>de</strong> gasohol nas frotas oficiais; promoção <strong>de</strong>investimentos em infraestrutura e produção <strong>de</strong> combustíveis alternativos.Alguns estados consi<strong>de</strong>ram tornar obrigatória a mistura <strong>de</strong> percentualfixo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l à gasolina.D – A <strong>de</strong>pendência externa <strong>no</strong> setor energético. Importações <strong>de</strong>petróleo, gás natural e biocombustíveisOs <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tornaram-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das importações <strong>de</strong>petróleo em meados do século XX 102 . Com a acelerada expansão daeco<strong>no</strong>mia, após a II Guerra Mundial, a produção doméstica <strong>de</strong> petróleo<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser suficiente para aten<strong>de</strong>r o consumo. Segundo os dadosdisponíveis, as importações <strong>de</strong> óleo cru cresceram, mesmo durante o“choque” <strong>de</strong> 73/74, até o final dos a<strong>no</strong>s 70. Entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1979 e1985, houve redução das importações <strong>de</strong> óleo cru, em consequência dacrise econômica e das medidas adotadas pelo Gover<strong>no</strong> para promovera conservação e a eficiência energética. Após 1985, as importações<strong>de</strong> óleo cru voltaram a crescer até atingir o pico <strong>de</strong> 10,126 milhões<strong>de</strong> barris diários, em 2005 103 . A curva das importações <strong>de</strong> produtos<strong>de</strong>rivados apresenta comportamento semelhante. Após o “choque” dopetróleo, <strong>de</strong> 73/74, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> ampliaram a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refi<strong>no</strong>e conseguiram reduzir as importações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados do volume <strong>de</strong> 3milhões <strong>de</strong> barris diários, em 1973, para 1,6 milhão <strong>de</strong> barris, em 1981.As importações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados voltaram a crescer a partir <strong>de</strong> 1995 (1,6milhão <strong>de</strong> barris diários) até alcançar 3,58 milhões <strong>de</strong> barris, em 2006.Des<strong>de</strong> então, houve redução das importações tanto <strong>de</strong> petróleo como<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 104 . Em 2008, o país importou 9,78milhões <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong> óleo cru e 3,13 milhões <strong>de</strong> barris diários <strong>de</strong>produtos <strong>de</strong>rivados. A tendência <strong>de</strong> queda <strong>de</strong>ve-se à crise econômicae à escalada dos preços internacionais do petróleo, <strong>no</strong> período 2003-2008, que motivou a adoção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> estímulo ao consumo102Vi<strong>de</strong> Gráfico 14, Anexo VII.103Vi<strong>de</strong> Quadro 7, Anexo VII.104Vi<strong>de</strong> Quadro 8, Anexo VII.77


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> combustíveis alternativos, entre os quais o eta<strong>no</strong>l. Ressalte-se quea <strong>de</strong>pendência externa <strong>no</strong> comércio <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados é consi<strong>de</strong>ravelmenteme<strong>no</strong>r. Cerca <strong>de</strong> 90% do mercado inter<strong>no</strong> é atendido pela produçãodoméstica. Além disso, o país exporta volume consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> produtos<strong>de</strong>rivados (1,8 milhão <strong>de</strong> barris por dia, em 2008).Segundo a EIA, o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> emrelação ao fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados foi <strong>de</strong> 57% em2008 (ou 65%, <strong>no</strong> tocante ao óleo cru). Além do aspecto da segurançaenergética, o <strong>de</strong>sequilíbrio da conta petróleo afeta as contas externas e éo principal componente do déficit comercial. Em 2006, segundo dadosdo Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, as importações <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivadosatingiram US$ 270,9 bilhões, equivalente a 33% do déficit comercial.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> lograram, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, reduzir a <strong>de</strong>pendênciado óleo cru importado do Oriente Médio. Segundo dados da EIA, asimportações dos países da OPEP representavam 70% do total, em 1977.A partir <strong>de</strong> 1992, a oferta extra-OPEP tor<strong>no</strong>u-se majoritária. Em 2008,representou 54% do total <strong>de</strong> importações. Apenas 18% das importações<strong>de</strong> óleo cru e produtos <strong>de</strong>rivados tiveram origem <strong>no</strong> Golfo Pérsico (ArábiaSaudita, Irã, Iraque, Barein, Kuwait, Qatar). Os países das Américas e doCaribe representam meta<strong>de</strong> da oferta externa <strong>de</strong> petróleo (49%, em 2008,segundo a EIA). Tendo em conta que a maior parte das reservas provadas<strong>de</strong> petróleo se encontra <strong>no</strong> Oriente Médio (Arábia Saudita, Irã, Iraque,Kuwait, Emirados Árabes <strong>Unidos</strong>) e que as reservas não convencionaisdo Canadá apresentam elevado custo <strong>de</strong> exploração, há possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> aumento das importações oriundas dos países da OPEP <strong>no</strong> longoprazo 105 . As autorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanas preten<strong>de</strong>m, porém, reduzir a<strong>de</strong>pendência externa, sobretudo dos países do Oriente Médio, por meiodo incremento da produção doméstica, das medidas <strong>de</strong> conservação eeficiência energética e <strong>de</strong> estímulos à produção <strong>no</strong>s países das Américas,Caribe e África.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são o maior consumidor (19,5 milhões <strong>de</strong> barrisdiários, em 2008) e o terceiro maior produtor <strong>de</strong> petróleo (8,5 milhões<strong>de</strong> barris diários, em 2008). Os principais fornecedores <strong>de</strong> petróleoe <strong>de</strong>rivados para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em 2008, foram Canadá (2,493milhões <strong>de</strong> barris diários, 19%), Arábia Saudita (1,529 milhão <strong>de</strong> b/d,105Vi<strong>de</strong> Gráfico 15, Anexo VII.78


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidos12%), México (1,302 milhão <strong>de</strong> b/d, 11%), Venezuela (1, 189 milhão<strong>de</strong> b/d, 9%), Nigéria (988 mil barris diários, 8%), Iraque (627 mil b/d),Argélia (548 mil b/d), Angola (513 mil b/d), Rússia (465 mil b/d),<strong>Brasil</strong> (258 mil b/d), Rei<strong>no</strong> Unido (236 mil b/d), Equador (221 mil b/d)e Colômbia (200 mil b/d). O <strong>Brasil</strong> já é um dos principais fornecedores<strong>de</strong> petróleo para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em julho <strong>de</strong> 2009, ocupava a sextaposição na lista dos fornecedores <strong>de</strong> óleo cru, divulgada pela EIA: Canadá(2,110 milhões <strong>de</strong> b/d), Arábia Saudita (1,137 milhão b/d), México (985mil b/d), Venezuela (865 mil b/d), Nigéria (858 mil b/d), <strong>Brasil</strong> (375mil b/d), Iraque (365 mil b/d), Angola (320 mil b/d), Colômbia (286mil b/d) e Rússia (267 mil b/d). Consi<strong>de</strong>rando-se as vendas totais <strong>de</strong>petróleo e <strong>de</strong>rivados, o <strong>Brasil</strong> situou-se em sétimo lugar na relação dosfornecedores, em julho <strong>de</strong> 2009: Canadá (2,639 milhão <strong>de</strong> b/d), México(1,316 milhão b/d), Arábia Saudita (1,153 milhão b/d), Venezuela (959mil b/d), Nigéria (879 mil b/d), Rússia (637 mil b/d), <strong>Brasil</strong> (392 milb/d), Iraque (365 mil b/d), Argélia (329 mil b/d), Angola (320 mil b/d)e Colômbia (305 mil b/d) 106 .Após atingir o pico <strong>de</strong> 11,3 milhões <strong>de</strong> barris diários, em 1970, aprodução <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> passou por longo período <strong>de</strong><strong>de</strong>clínio e registrou, em 2005, o nível mínimo <strong>de</strong> 8,3 milhões <strong>de</strong> b/d. Nosúltimos três a<strong>no</strong>s, a produção cresceu marginalmente (para 8,5 milhões,em 2008), graças às <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> Golfo do México (campos<strong>de</strong> Shenzi, Atlantis, Blind Faith e Thun<strong>de</strong>r Horse). De acordo com previsãoda EIA, será possível elevar a produção <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>nas próximas décadas, caso sejam atendidas as seguintes condições: emprimeiro lugar, a suspensão da moratória congressual sobre exploraçãopetrolífera na plataforma continental (Outer Continental Shelf) <strong>no</strong> litoralAtlântico, Pacífico e na região leste do Golfo do México, o que permitiráincremento anual <strong>de</strong> 2,8% na produção petrolífera offshore; em segundolugar, o uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias avançadas, como as aplicações <strong>de</strong> CO 2pararecuperar o nível <strong>de</strong> produção dos campos <strong>de</strong> petróleo, assim como aexploração das reservas <strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos do Meio-oeste (comoa Bakken shale formation), em um cenário <strong>de</strong> altos preços do petróleo,106Energy Information Administration. International Energy Statistics.79


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spermitirão elevar a produção onshore <strong>de</strong> 2,9 milhões <strong>de</strong> barris diários(2007) a 4,1 milhões <strong>de</strong> barris diários (2030) 107 .A <strong>de</strong>manda por combustíveis líquidos <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, segundo previsãoda EIA (Annual Energy Outlook 2009), crescerá em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> barrisdiários, entre 2007 e 2030; o consumo <strong>de</strong> gasolina não aumentará na mesmaproporção, em razão dos altos preços do petróleo, da adoção <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong>eficiência mais elevados para a fabricação <strong>de</strong> veículos automotores e da fixação<strong>de</strong> metas para mistura <strong>de</strong> biocombustíveis à gasolina. Novas tec<strong>no</strong>logias paraprodução <strong>de</strong> combustíveis líquidos a partir do carvão (CTL – coal-to-liquids), gásnatural (GTL – gas-to-liquids), areias betumi<strong>no</strong>sas (OTL – oil-sands-to-liquids)e biomassa (BTL – biomass-to-liquids) oferecerão alternativas para a redução doconsumo <strong>de</strong> gasolina e diesel. Nesse cenário hipotético e otimista – <strong>de</strong> aumentoda produção e redução do consumo <strong>de</strong> petróleo – a EIA prevê drástica reduçãodas importações <strong>de</strong> petróleo; o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do fornecimento exter<strong>no</strong>seria reduzido do valor atual (57%, 2008) para 41%, em 2030. As autorida<strong>de</strong>s<strong>no</strong>rte-americanas não trabalham, <strong>de</strong> todo modo, com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperara autossuficiência petrolífera nas próximas décadas, mas procuram – como serávisto <strong>no</strong> próximo capítulo – ampliar a oferta <strong>de</strong> petróleo oriunda <strong>de</strong> países aliados,sobretudo das Américas, do Caribe e da África.No setor do gás natural, a <strong>de</strong>pendência das importações também ésignificativa 108 . A oferta doméstica <strong>de</strong> gás foi suficiente para aten<strong>de</strong>r oconsumo dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> até meados da década <strong>de</strong> 80, quando o paíspassou a importar gás natural do Canadá e, posteriormente, cargas <strong>de</strong>GNL (gás natural liquefeito) <strong>de</strong> países como Trinidad e Tobago, Egitoe Noruega. De acordo com a EIA, as importações <strong>de</strong> gás, <strong>no</strong>s últimoscinco a<strong>no</strong>s, aten<strong>de</strong>ram entre 13% e 16% do consumo dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Em 2008, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram, pela malha <strong>de</strong> gasodutos,3,629 tcf <strong>de</strong> gás natural, dos quais 3,585 tcf do Canadá e 0,043 tcf doMéxico. As importações <strong>de</strong> gás natural liquefeito (GNL), por sua vez,correspon<strong>de</strong>ram, em 2008, ao volume <strong>de</strong> 0,352 tcf, assim distribuídos:Trinidad e Tobago, 0,264 tcf; Egito, 0,054 tcf; Noruega, 0,017 tcf;Nigéria, 0,012 tcf; e Qatar, 0,003 tcf. Registre-se, também, que os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> exportam gás para aten<strong>de</strong>r o consumo dos parceiros do NAFTA.107Energy Information Administration. Annual Energy Outlook 2009.108Vi<strong>de</strong> Gráfico 14, Anexo VII.80


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosEm 2008, foram exportados, por gasoduto, 0,590 tcf para o Canadá e0,365 tcf para o México, além <strong>de</strong> 0,049 tcf <strong>de</strong> GNL para o Japão 109 .De acordo com previsão da EIA, a produção <strong>de</strong> gás natural <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>verá crescer nas próximas duas décadas (cerca <strong>de</strong> 22%,ou 4,3 tcf, <strong>no</strong> período 2007-2030) em função, entre outros fatores, daexploração das reservas não convencionais <strong>de</strong> gás natural (gas shales),como as existentes <strong>no</strong>s <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> xisto da formação Barnett Shale, <strong>no</strong>Texas, e da abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração marítima <strong>de</strong> petróleo egás. A <strong>de</strong>manda interna também <strong>de</strong>verá elevar-se, sobretudo para uso <strong>de</strong>gás em termelétricas; o combustível oferece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduziremissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> <strong>no</strong> setor elétrico, <strong>de</strong> maneira mais efetiva do quepor meio do uso das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> carvão limpo (clean coal). A EIAprevê, <strong>de</strong> todo modo, redução <strong>de</strong> 83% nas importações <strong>de</strong> gás natural(inclusive GNL) dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> até 2030 110 . As projeções da EIAencerram, entretanto, algumas variáveis incertas, como por exemplo: oaumento da produção <strong>de</strong> gás natural <strong>no</strong> Alasca, em área ambientalmentesensível; a finalização, em 2020, do Gasoduto do Alasca; e a exploraçãoem larga escala dos recursos não convencionais, que teriam participaçãomajoritária na produção doméstica <strong>de</strong> gás (56% em 2030). Obstáculos<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e econômica po<strong>de</strong>rão inviabilizar, em parte, osreferidos projetos. Nesse caso, haverá espaço para crescimento dasimportações <strong>de</strong> GNL por via marítima. De concreto, registre-se arápida expansão da indústria <strong>de</strong> GNL, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do século XXI.Em 1999, inaugurou-se o terminal <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> GNL em Trinida<strong>de</strong> Tobago, que se tor<strong>no</strong>u o principal fornecedor dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Posteriormente, foram reabertas as instalações <strong>de</strong> Elba Island (2001)e Cove Point (2003) e construídos <strong>no</strong>vos terminais na Costa Leste e<strong>no</strong> Golfo do México: Gulf Gateway (2005), Freeport (2008), SabinePass (2008), Northeast Gateway (2008) e Cameron (2008). Váriosoutros projetos <strong>de</strong> terminal já foram aprovados pela Fe<strong>de</strong>ral EnergyRegulatory Commission.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são autossuficientes <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> biodiesel.Segundo dados preliminares da EIA, o país produziu, em 2008, 16,2milhões b/d e consumiu 7,6 milhões b/d <strong>de</strong> biodiesel. Apesar da109Energy Information Administration. International Energy Statistics.110Energy Information Administration. Annual Energy Outlook 2009.81


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sautossuficiência, o volume das importações é consi<strong>de</strong>rável. Em 2008, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram 7,5 milhões b/d e exportarem 16,1 milhõesb/d <strong>de</strong> biodiesel, sobretudo para países europeus 111 . Em março <strong>de</strong> 2007, aEuropean Biodiesel Board (EBB), que representa 80% dos produtores <strong>de</strong>biodiesel da Europa, solicitou imposição <strong>de</strong> sobretaxa na importação <strong>de</strong>biodiesel <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> para compensar tanto os efeitos dos subsídiosquanto uma suposta triangulação <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> biodiesel oriundo daArgentina, do <strong>Brasil</strong> e da Malásia. Ao passar pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, obiodiesel estrangeiro beneficia-se dos incentivos da lei <strong>no</strong>rte-americana,que prevê pagamento <strong>de</strong> US$1 por galão <strong>de</strong> biodiesel exportado se ofabricante o misturar com pelo me<strong>no</strong>s 1% <strong>de</strong> diesel mineral. Em março<strong>de</strong> 2009, a União Europeia anunciou a aplicação <strong>de</strong> sobretaxa e medidasantidumping contra o biodiesel <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>.Des<strong>de</strong> 2002, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importam eta<strong>no</strong>l em volumecrescente, mas o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do fornecimento exter<strong>no</strong> aindaé reduzido. Segundo dados da EIA, a produção doméstica aten<strong>de</strong>u, em2008, 96% da <strong>de</strong>manda 112 . As importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l servem, sobretudo,para regular o mercado inter<strong>no</strong> e suprir eventual <strong>de</strong>ficiência da produçãonacional, em particular durante quebras <strong>de</strong> safra. Após o estabelecimentodo RFS, em 2005, a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> cresceuaceleradamente: 3,9 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2005; 4,85 bilhões, em 2006;6,5 bilhões, em 2007; e 9 bilhões, em 2008. Com vistas a aten<strong>de</strong>r asmetas fixadas <strong>no</strong> RFS, relativas à mistura <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveisà gasolina, o país precisou ampliar as importações: 45,5 milhões <strong>de</strong>galões, em 2002; 60,9 milhões, em 2003; 159,9 milhões, em 2004; 135,5milhões, em 2005; 653,3 milhões, em 2006; 450 milhões, em 2007; e556 milhões, em 2008 113 .Em março <strong>de</strong> 1985, produtores <strong>de</strong> milho abriram processoantidumping contra as importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l oriundas do <strong>Brasil</strong>.O processo foi encerrado um a<strong>no</strong> <strong>de</strong>pois pela International Tra<strong>de</strong>Commission (ITC), agência fe<strong>de</strong>ral que rejeitou a proposta <strong>de</strong> imposiçãodo direito antidumping. Sob pressão dos produtores locais, porém,o Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>cidiu retirar o eta<strong>no</strong>l brasileiro doSistema Geral <strong>de</strong> Preferências (SGP), o que provocou queda imediata das111EIA. Biodiesel Overview 2001-2008.112EIA. Fuel Etha<strong>no</strong>l Overview 1981-2008.113Renewable Fuels Association.82


o setor <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s estados unidosexportações brasileiras. O <strong>Brasil</strong>, que era um dos principais exportadores<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para o mercado estaduni<strong>de</strong>nse, per<strong>de</strong>u espaço para outrosprodutores <strong>de</strong> álcool, como México, Israel e países da América Centrale do Caribe (Jamaica, Costa Rica e El Salvador), que continuaram abeneficiar-se <strong>de</strong> quotas tarifárias e acordos preferenciais com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Diante da queda das exportações, o <strong>Brasil</strong> passou a utilizar-se <strong>de</strong>“janela <strong>de</strong> mercado” aberta pela legislação <strong>no</strong>rte-americana para exportareta<strong>no</strong>l, após <strong>de</strong>sidratação <strong>no</strong>s países da Iniciativa da Bacia do Caribe.Durante duas décadas, o volume das vendas brasileiras para o mercadodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> manteve-se baixo e realizava-se majoritariamentevia países da Iniciativa da Bacia do Caribe.Em 2005, o estabelecimento do Renewable Fuels Standard, associadoà escalada dos preços do petróleo, provocou forte incremento da <strong>de</strong>mandapor eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 114 . Des<strong>de</strong> então, tem ocorrido uma expansãodas exportações brasileiras <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, condicionada a fatores cíclicos,como quebras <strong>de</strong> safra e crises econômicas. Apesar da vigência datarifa secundária do eta<strong>no</strong>l, o <strong>Brasil</strong> mantém-se na posição <strong>de</strong> principalfornecedor do produto para o mercado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em 2007, arelação dos maiores fornecedores incluía: <strong>Brasil</strong> (188 milhões <strong>de</strong> galões– 711,6 milhões <strong>de</strong> litros), Jamaica (75,2 milhões <strong>de</strong> galões – 284,6milhões <strong>de</strong> l), El Salvador (73,3 milhões <strong>de</strong> galões – 277,4 milhões <strong>de</strong> l),Trinidad e Tobago (42,7 milhões <strong>de</strong> galões – 161,6 milhões <strong>de</strong> l), CostaRica (39,3 milhões <strong>de</strong> galões – 148,7 milhões <strong>de</strong> l), Canadá (5,4 milhões<strong>de</strong> galões – 20,44 milhões <strong>de</strong> l) e China (4,5 milhões <strong>de</strong> galões – 17,03milhões <strong>de</strong> l) 115 . Por causa das vendas triangulares do <strong>Brasil</strong> para o mercado<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, via países da Iniciativa da Bacia do Caribe, o volume real dasexportações brasileiras é maior do que o registrado nas estatísticas. Segundodados da Renewable Fuels Association, as importações do eta<strong>no</strong>l brasileiroapresentaram os seguintes valores: em 2004, 90,3 milhões <strong>de</strong> galões (341,82milhões <strong>de</strong> litros); em 2005, 31,2 milhões <strong>de</strong> galões (118,1 milhões <strong>de</strong> litros);em 2006, 433,7 milhões <strong>de</strong> galões (1.641,73 bilhão <strong>de</strong> litros); em 2007, 188,8milhões <strong>de</strong> galões (714,68 milhões <strong>de</strong> litros). As estatísticas brasileiras sãosemelhantes. A Secretaria <strong>de</strong> Comércio Exterior (SECEX) registrou, em 2006,exportação <strong>de</strong> 1.749,2 bilhão <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>; em114Gráfico 16, Anexo VII.115Renewable Fuels Association.83


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s2007, foram exportados 849,7 milhões <strong>de</strong> litros. Em 2008, em <strong>de</strong>corrênciadas inundações <strong>no</strong>s estados do Meio-oeste, que provocaram quebra dasafra do milho, as exportações brasileiras voltaram a crescer. Segundoa SECEX, o <strong>Brasil</strong> exportou 1.519,4 bilhão <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em 2008.Conforme visto, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> preten<strong>de</strong>m elevar o nível <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> biocombustíveis para 36 bilhões <strong>de</strong> galões, em 2022, dosquais 15 bilhões <strong>de</strong> biocombustíveis convencionais e 21 bilhões <strong>de</strong>biocombustíveis avançados. De acordo com previsão da EIA, dadas ascondições do mercado e da pesquisa tec<strong>no</strong>lógica, será possível alcançara meta <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> 15 bilhões <strong>de</strong> galões <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho em 2022.Quanto à produção <strong>de</strong> biocombustíveis avançados (21 bilhões <strong>de</strong> galões), háexpectativa <strong>de</strong> que a meta seja alcançada apenas em 2027 116 . A EIA estima,portanto, que haverá aumento das importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l pelos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> nas próximas duas décadas (500 mil barris diários, em 2030), tendoem vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adicionar biocombustíveis avançados à oferta<strong>de</strong> gasolina. O setor sucroalcooleiro do <strong>Brasil</strong> po<strong>de</strong>rá – caso seja possívelenquadrar o eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar na categoria <strong>de</strong> biocombustívelavançado – ampliar consi<strong>de</strong>ravelmente suas exportações para o mercadodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 117 .116EIA. Annual Energy Outlook 2009.117Segundo a <strong>de</strong>finição do EISAct of 2007, biocombustíveis avançados são todos os combustíveisre<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong>rivados da biomassa que proporcionem redução <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s 50% das emissões<strong>de</strong> gases do efeito estufa. No caso do eta<strong>no</strong>l celulósico, exige-se redução <strong>de</strong> 60% das emissões.A Enviromental Protection Agency admite variação <strong>de</strong> até 10% <strong>no</strong>s percentuais fixados peloEISAct of 2007.84


Capítulo IIIGover<strong>no</strong> George W. Bush (2001-2008): A PolíticaEnergética e a Cooperação InternacionalA – Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e a segurança energética. Ações <strong>no</strong> pla<strong>no</strong>exter<strong>no</strong> e inter<strong>no</strong>Os “choques” do petróleo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70 <strong>de</strong>spertaram a atenção domundo para a questão da segurança energética. Nos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,a reação do Gover<strong>no</strong> envolveu a adoção – ou o reforço – <strong>de</strong> uma série<strong>de</strong> iniciativas, tanto <strong>no</strong> âmbito da política energética nacional comonas relações internacionais, com vistas a reduzir a vulnerabilida<strong>de</strong> dopaís às oscilações <strong>no</strong> fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> energia, em particular dopetróleo oriundo dos países da OPEP. Ao longo dos a<strong>no</strong>s, a estratégiapara promover a segurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tem incluídoos seguintes elementos principais: a) presença militar <strong>no</strong> Golfo Pérsico;b) aliança com a Arábia Saudita; c) criação da Agência Internacional<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>; d) reservas estratégicas <strong>de</strong> petróleo; e) ampliação daprodução doméstica <strong>de</strong> energia; f) programas <strong>de</strong> conservação e eficiênciaenergética; g) estímulo a fontes re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong> energia; h) diversificaçãoda oferta externa <strong>de</strong> petróleo 118 .118How the <strong>de</strong>mand for oil drives American Foreign Policy. Soeren Kern. Madri, Espanha:Fundação Real Instituto Elca<strong>no</strong>, 2006. http://www.nuevamayoria.com/EN/ANALISIS/instituciones/060718.html85


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGolfo PérsicoOs <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> mantêm presença naval <strong>no</strong> Golfo Pérsico e regiõesadjacentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da Segunda Guerra. No esforço <strong>de</strong> evitar queo Oriente Médio, região on<strong>de</strong> se concentra a maior parte dos recursospetrolíferos mundiais, seja submetido à influência <strong>de</strong> regimes hostis, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, com apoio <strong>de</strong> países aliados, têm-se preocupado empreservar o equilíbrio regional <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, resguardar a in<strong>de</strong>pendênciados <strong>Estados</strong> do Golfo Pérsico, conter a ameaça do fundamentalismoislâmico e, durante a Guerra Fria, do expansionismo soviético. O po<strong>de</strong>riomilitar <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> tem sido utilizado não apenas para intervir emconflitos regionais, mas também para proteger campos, refinarias erotas do comércio <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> Oriente Médio. Busca-se, <strong>de</strong>ssa forma,impedir interrupções bruscas <strong>no</strong> abastecimento <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados,que possam comprometer a eco<strong>no</strong>mia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e <strong>de</strong> seusparceiros comerciais 119 .Até o início dos a<strong>no</strong>s 70, coube ao Rei<strong>no</strong> Unido a responsabilida<strong>de</strong>primária pela manutenção <strong>de</strong> tropas <strong>no</strong> Golfo Pérsico, com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> exercendo discreta função <strong>de</strong> apoio. Em 1971, com a retirada dastropas britânicas ao leste do Canal <strong>de</strong> Suez, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> adotaram<strong>no</strong>va estratégia para contrabalançar a influência da União Soviética, emparticular <strong>no</strong> Iraque. Em troca <strong>de</strong> armas e assistência técnica, o Irã – e, emme<strong>no</strong>r escala, a Arábia Saudita – passaram a garantir a or<strong>de</strong>m regional,dispensando o Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar tropas em largaescala para o Golfo Pérsico. Foi somente <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 80 queos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> julgaram necessário ampliar a presença militar naregião. Em 1979, a revolução iraniana e a invasão do Afeganistão pelaURSS prejudicaram a posição estratégica <strong>no</strong>rte-americana. O segundo“choque” do petróleo contribuiu, também, para reforçar a percepção <strong>de</strong>que a supremacia <strong>no</strong>rte-americana estaria ameaçada pela instabilida<strong>de</strong><strong>no</strong> Oriente Médio. Em 1980, em resposta à intervenção da URSS <strong>no</strong>Afeganistão, o Presi<strong>de</strong>nte Jimmy Carter reiterou disposição <strong>de</strong> intervirmilitarmente <strong>no</strong> Oriente Médio, caso necessário, para resguardar osinteresses vitais dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>:119United States Foreign Oil Policy since World War I. Stephen J. Randall. Calgary, Canadá:McGill-Queen’s University Press, 2005.86


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)Let our position be absolutely clear: An attempt by any outsi<strong>de</strong> force togain control of the Persian Gulf region will be regar<strong>de</strong>d as an assault onthe vital interests of the United States of America, and such an assaultwill be repelled by any means necessary, including military force 120 .No <strong>de</strong>correr da Guerra entre Irã e Iraque (1980-88), os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>aumentaram sua presença militar <strong>no</strong> Oriente Médio, ao mesmo tempo em quecontribuíram com apoio militar e econômico para sustentar o regime <strong>de</strong> SaddamHussein. A invasão do Kuwait, em 1990, frustrou, porém, a expectativa dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong> apoiar-se <strong>no</strong> Iraque para manter o equilíbrio regional <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r e conter a revolução islâmica. A Guerra do Golfo (1990-91) representouo maior <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> forças <strong>no</strong>rte-americanas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a II Guerra Mundial eneutralizou, por algum tempo, o po<strong>de</strong>rio iraquia<strong>no</strong>. Após o conflito, os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> passaram a negociar acordos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e cooperação com diversos<strong>Estados</strong> do Golfo Pérsico (Kuwait, Bahrain, Oman, Qatar) em um esforçopara montar ampla re<strong>de</strong> <strong>de</strong> alianças na região, processo que culmi<strong>no</strong>u com apolítica <strong>de</strong> contenção (dual containment), adotada pela Administração Clinton,com o objetivo <strong>de</strong> isolar e reduzir a influência regional do Irã e do Iraque eenfraquecer os dois países do ponto <strong>de</strong> vista político, econômico e militar 121 .Os atentados <strong>de</strong> 2001 <strong>de</strong>ram <strong>no</strong>vo impulso ao engajamento militardos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> Oriente Médio. A campanha contra o terrorismoe a intervenção <strong>no</strong> Iraque, em 2003, produziram mudanças na presençamilitar dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. De um lado, a queda <strong>de</strong> Saddam Husseinreduziu a <strong>de</strong>pendência <strong>no</strong>rte-americana das instalações militares daArábia Saudita, o que se refletiu na <strong>de</strong>cisão, anunciada em julho <strong>de</strong> 2003,<strong>de</strong> retirar tropas daquele país (embora com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> emcaso <strong>de</strong> crise). Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> ampliaram, também, suas opçõesmilitares mediante <strong>no</strong>vos arranjos com os peque<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> do GolfoPérsico e a instalação <strong>de</strong> bases em território iraquia<strong>no</strong>.Arábia SauditaA aliança com a Arábia Saudita começou a ser forjada ainda naprimeira meta<strong>de</strong> do século XX, época em que gran<strong>de</strong>s companhias120State of the Union Address. 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980.121United States Foreign Oil Policy since World War I. Stephen J. Randall. Calgary, Canadá:McGill-Queen’s University Press, 2005.87


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spetrolíferas <strong>no</strong>rte-americanas ganharam acesso privilegiado às reservaspetrolíferas da região. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> reconheceram o rei<strong>no</strong> sauditaem 1931. Até então sob influência britânica, o país iniciou a produção <strong>de</strong>petróleo em 1933, quando o rei Abdulaziz conce<strong>de</strong>u direitos exclusivos<strong>de</strong> exploração e produção na região <strong>de</strong> Hasa, <strong>no</strong> Golfo Pérsico, à CASOC(California Arabian Standard Oil Company), filial da SOCAL (StandardOil of California). Os primeiros poços comercialmente viáveis foramperfurados na região <strong>de</strong> Dharam. Em 1936, a Texaco (Texas Oil Company)adquiriu 50% das ações da CASOC. As exportações para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>iniciaram-se em 1939. O êxito da produção <strong>no</strong> Golfo Pérsico atraiu ointeresse <strong>de</strong> outras companhias. A presença <strong>no</strong>rte-americana na indústriasaudita ampliou-se com a criação, em 1994, da ARAMCO (ArabianAmerican Oil Company), cujo controle acionário pertenceu inicialmenteàs companhias Standard Oil of California (ou SOCAL, futura Chevron),Texaco, Standard Oil of New Jersey (ou Eastern States Standard Oil-Esso/Exxon), e Standard Oil of New York (SOCONY, posteriormente Mobil) 122 .A importância do petróleo saudita para a eco<strong>no</strong>mia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>tor<strong>no</strong>u-se evi<strong>de</strong>nte após a II Guerra Mundial. Durante o conflito, os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> forneceram a maior parte do combustível utilizado pelas forçasmilitares aliadas. No pós-Guerra, com a rápida expansão da eco<strong>no</strong>mia, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> viram-se na contingência <strong>de</strong> recorrer ao fornecimento exter<strong>no</strong><strong>de</strong> petróleo. Manter boas relações com a Arábia Saudita, país que recebiainvestimentos vultosos das companhias petrolíferas <strong>no</strong>rte-americanas,constituía objetivo estratégico. Em fevereiro <strong>de</strong> 1945, o Presi<strong>de</strong>nteFranklin Roosevelt, ao retornar da Conferência <strong>de</strong> Ialta, reuniu-se com oRei Abdulaziz, a bordo do USS Quincy <strong>no</strong> Canal <strong>de</strong> Suez, para discutir asituação do Oriente Médio, inclusive a questão palestina. O encontro marcouo início da parceria estratégica com a Arábia Saudita. Em agosto <strong>de</strong> 1945,sob a presidência <strong>de</strong> Harry Truman, os dois países assinaram acordo para ainstalação <strong>de</strong> base aérea <strong>no</strong>rte-americana em Dharam, na Arábia Saudita, queoperou <strong>de</strong> 1945 a 1962. Forças militares oci<strong>de</strong>ntais garantiriam a segurançado rei<strong>no</strong> e a estabilida<strong>de</strong> necessária para a expansão da indústria petrolífera 123 .Nas décadas seguintes, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em parceria com oRei<strong>no</strong> Unido, empenharam-se em afastar da Arábia Saudita influências122Thicker Than Oil. America’s Uneasy Partnership with Saudi Arabia. Rachel Bronson. NewYork, NY: Oxford University Press, 2006.123I<strong>de</strong>m.88


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)contrárias aos interesses oci<strong>de</strong>ntais, em particular as li<strong>de</strong>ranças árabesradicais, o Irã pós-revolução islâmica e a União Soviética. A partir <strong>de</strong>1950, a Arábia Saudita passaria a pressionar por maior participação <strong>no</strong>slucros do comércio do petróleo. Em vez <strong>de</strong> nacionalizar, o sobera<strong>no</strong>saudita optou por estratégia gradual <strong>de</strong> negociação com as empresas, <strong>de</strong>maneira a preservar a parceria estratégica com o Gover<strong>no</strong> estaduni<strong>de</strong>nse.Em 1956, a Arábia Saudita logrou celebrar acordo <strong>de</strong> repartição <strong>de</strong> 50%dos lucros (50/50 profit-sharing agreement). Em 1973, adquiriu 25%das ações da ARAMCO, percentual posteriormente elevado para 60%(1974) e 100% (1980). Em 1988, a companhia passou a <strong>de</strong><strong>no</strong>minar-seSaudi Arabian Oil Company e tor<strong>no</strong>u-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então a maior empresapetrolífera do mundo 124 .O Gover<strong>no</strong> saudita conseguiu assumir gradativamente o controleacionário da ARAMCO, mas a aliança com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> permaneceuinabalada, graças à posição estratégica do rei<strong>no</strong>. O Presi<strong>de</strong>nte GeorgeH. Bush, em agosto <strong>de</strong> 1990, pouco <strong>de</strong>pois da invasão do Kuwait peloIraque, ressaltou a importância da Arábia Saudita: “the security of SaudiArabia is vital – basically fundamental – to U.S. interests and really to theinterests of the Western World” 125 . Do ponto <strong>de</strong> vista saudita, a aliançacom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> representava garantia à integrida<strong>de</strong> e à segurançado rei<strong>no</strong>, assim como à permanência <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r da dinastia <strong>de</strong> Al-Saud.Detentora das maiores reservas provadas <strong>de</strong> petróleo (266,71 bilhões<strong>de</strong> barris, em 2009, EIA), a Arábia Saudita <strong>de</strong>verá permanecer na posição<strong>de</strong> principal produtor e exportador mundial <strong>de</strong> petróleo por um longoperíodo. A Saudi Aramco respon<strong>de</strong>u, em 2007, por 12% da produçãomundial <strong>de</strong> petróleo (óleo cru, líquidos <strong>de</strong> gás natural e con<strong>de</strong>nsados) 126 .Em razão do controle que exerce sobre a Saudi Aramco, o Gover<strong>no</strong>saudita tem condições <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a apelos dos países oci<strong>de</strong>ntais <strong>no</strong> sentido<strong>de</strong> reduzir ou ampliar a oferta <strong>de</strong> petróleo, <strong>de</strong> maneira a estabilizar ospreços <strong>no</strong> mercado internacional. Graças ao elevado nível da produçãointerna, a Arábia Saudita, em comparação com outros membros da OPEP,124Oil Titans. National Oil Companies in the Middle East. Valérie Marcel. Baltimore, MD:Brookings Institution Press, 2006.125Saudi Arabia and the United States, 1931-2002. In Middle East Review of InternationalAffairs, Vol. 6, No. 3 (September, 2002). Josh Pollack. http://meria.idc.ac.il/journal/2002/issue3/jv6n3a7.html126Petroleum Intelligence Weekly.89


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spo<strong>de</strong> absorver com mais facilida<strong>de</strong> o impacto das oscilações <strong>no</strong> ritmoda exploração petrolífera, daí sua importância para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>como aliado estratégico em épocas <strong>de</strong> crise energética.Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Criada pelos países oci<strong>de</strong>ntais, em 1974, a Agência Internacional<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (AIE) é uma organização autô<strong>no</strong>ma, integrada por países daOCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).Os regulamentos da Agência <strong>de</strong>terminam que os países-membrosimportadores líquidos <strong>de</strong> petróleo (net oil importer) <strong>de</strong>vem manterestoques em nível equivalente a <strong>no</strong>venta dias ou mais <strong>de</strong> consumo. Todosos membros da AIE <strong>de</strong>vem estar preparados para reduzir em até 10%o consumo inter<strong>no</strong> e participar do mecanismo emergencial <strong>de</strong> reaçãocoletiva <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> crises energéticas. Os estoques po<strong>de</strong>m ser mantidospelos Gover<strong>no</strong>s ou por empresas petrolíferas.Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tiveram participação <strong>de</strong>cisiva <strong>no</strong> estabelecimentoda Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Em fevereiro <strong>de</strong> 1974, o Secretário<strong>de</strong> Estado Henry Kissinger convocou reunião dos membros da OCDE, emWashington, para dar início à negociação <strong>de</strong> um acordo sobre cooperaçãoenergética internacional. O objetivo era criar mecanismo <strong>de</strong> respostacoletiva, integrado pelos principais consumidores <strong>de</strong> petróleo, paracontrabalançar a influência da OPEP e possibilitar reação coor<strong>de</strong>nada dospaíses da OCDE em situações <strong>de</strong> crise energética, com vistas a garantir ofluxo do comércio internacional. Após meses <strong>de</strong> negociações, marcadaspor forte oposição da França à li<strong>de</strong>rança <strong>no</strong>rte-americana, assi<strong>no</strong>u-se,em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1974, acordo <strong>de</strong> criação do Programa Internacional<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (Agreement on the International Energy Program – IEP),que estabeleceu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> compartilhamento dos estoques nacionais <strong>de</strong>petróleo (oil-sharing plan). Tal mecanismo seria acionado sempre queum país-membro – ou grupo <strong>de</strong> países – enfrentasse redução <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>7% <strong>no</strong> fornecimento <strong>de</strong> petróleo 127 .A estratégia original da Agência revelou-se pouco eficaz. Por ocasiãodo segundo “choque” (1978-79), não foi possível acionar o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong>127The History of the International Energy Agency 1974-2004, Volume 1. Richard Scott. Paris:IEA, 1995.90


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)compartilhamento, pois não se verificou a redução prevista <strong>de</strong> 7% daoferta <strong>de</strong> petróleo. Na ausência <strong>de</strong> reação da Agência, vários paísesampliaram seus estoques domésticos, o que contribuiu para elevar aindamais os preços do petróleo. Tentou-se estabelecer metas para a reduçãodas importações, mas não houve acordo. Os europeus favoreciam medidas<strong>de</strong> conservação. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> preferiam pressionar a ArábiaSaudita para ampliar a produção. Na prática, nenhum país <strong>de</strong>monstroudisposição para incorrer em prejuízos econômicos em favor <strong>de</strong> uma açãocoletiva. A crise <strong>de</strong> 1979 afetou a credibilida<strong>de</strong> da Agência. O sistema <strong>de</strong>compartilhamento <strong>de</strong> estoques provou ser politicamente insustentável,o que exigiu mudanças na estratégia da AIE. Decidiu-se, então, que ospaíses-membros, na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interrupções na oferta externa <strong>de</strong>petróleo, manteriam consultas com vistas ao manejo coor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> seusestoques estratégicos. Tais medidas foram postas em prática com êxitopelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Japão e Alemanha durante a Guerra do Golfo.Em janeiro <strong>de</strong> 1991, a Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> autorizou autilização dos estoques estratégicos para reduzir a instabilida<strong>de</strong> <strong>no</strong>mercado internacional <strong>de</strong> petróleo. Os preços elevaram-se por curtoperíodo, <strong>no</strong> final <strong>de</strong> janeiro, com os ataques aéreos contra o Iraque, mascaíram posteriormente, em parte por conta da <strong>de</strong>cisão da Agência <strong>de</strong>acionar o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> emergência. Em setembro <strong>de</strong> 2005, após a passagemdo furacão Katrina pelo Golfo do México, a Agência anunciou <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong> liberar 60 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados dos estoquesestratégicos, por um período <strong>de</strong> 30 dias, para reduzir a pressão sobre ospreços internacionais 128 .Reservas estratégicas <strong>de</strong> petróleoDes<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s 50, com o crescimento das importações <strong>de</strong> petróleopelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, surgiram argumentos favoráveis à manutenção<strong>de</strong> estoques estratégicos para uso em situações <strong>de</strong> emergência. Em1952, durante a Administração Truman, a Comissão <strong>de</strong> Política Mineralapresentou proposta formal para o estabelecimento <strong>de</strong> uma ReservaEstratégica <strong>de</strong> Petróleo. O Presi<strong>de</strong>nte Eisenhower sugeriu medidasemelhante durante a crise do Canal <strong>de</strong> Suez, em 1956. Em 1970, a128Departament of Energy. Office of Fossil Energy.91


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sCasa Branca criou Grupo <strong>de</strong> Trabalho para Controle das Importações <strong>de</strong>Petróleo, que reiterou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reserva estratégica. O primeiro“choque” do petróleo, em 1973, e a criação da Agência Internacional <strong>de</strong><strong>Energia</strong> precipitaram a <strong>de</strong>cisão sobre o assunto. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1975, oPresi<strong>de</strong>nte Ford assi<strong>no</strong>u o Energy Policy and Conservation Act (EPCAct),que <strong>de</strong>terminava a formação da Strategic Petroleum Reserve (SPR) –Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo. Administrada pelo Departamento <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, a SPR compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos subterrâneos, localizados emcavernas ao longo da costa litorânea do Texas e da Louisiana, próximos,portanto, das refinarias e dos terminais <strong>de</strong> distribuição do Golfo doMéxico 129 .Em julho <strong>de</strong> 1977, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importaram 412 mil barris<strong>de</strong> óleo leve da Arábia Saudita, iniciando o preenchimento da SPR.Conforme estabelecido pela Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, aReserva Estratégica <strong>de</strong>veria conter óleo cru suficiente para substituiras importações por período <strong>de</strong> 90 dias (cerca <strong>de</strong> 500 milhões <strong>de</strong> barris).Em maio <strong>de</strong> 1978, o Gover<strong>no</strong> elevou a meta <strong>de</strong> armazenamento para750 milhões <strong>de</strong> barris. Em agosto <strong>de</strong> 2005, o Presi<strong>de</strong>nte George W.Bush assi<strong>no</strong>u o Energy Policy Act (EPAct), que autorizou aumento dacapacida<strong>de</strong> da SPR até o limite <strong>de</strong> um bilhão <strong>de</strong> barris. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>2009, a SPR armazenava cerca <strong>de</strong> 726 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo. ODepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> espera alcançar o volume máximo <strong>de</strong> 1 bilhão<strong>de</strong> barris até 2010 130 .A SPR é o maior estoque <strong>de</strong> petróleo do mundo e representainvestimentos da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 22 bilhões em instalações físicas eaquisições <strong>de</strong> óleo cru. A SPR já foi acionada em duas situações <strong>de</strong>emergência: durante a Guerra do Golfo (1990-91), foram vendidos 21milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo; em setembro <strong>de</strong> 2005, após a passagemdo furacão Katrina pelo Golfo do México, cerca <strong>de</strong> 11 milhões <strong>de</strong> barrisforam liberados para venda <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong>. Além das situações <strong>de</strong>emergência, os estoques da SPR po<strong>de</strong>m ser utilizados em operações <strong>de</strong>empréstimo ou “troca”, por motivos comerciais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a restituiçãoseja feita em volume maior do que o liberado 131 .129The Strategic Petroleum Reserve: U.S. Energy Security and Oil Politics, 1975-2005. BruceAndre Beauboeuf. College Station, Texas: Texas A&M University Press, 2007.130Department of Energy. Office of Fossil Energy. Strategic Petroleum Reserve Inventory.131Department of Energy. Office of Fossil Energy. U.S. Petroleum Reserves.92


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)Além da Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo, o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>administra estoques <strong>de</strong> óleo para aquecimento, petróleo e mineraisbetumi<strong>no</strong>sos. Criado <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, o Northeast Home Heating Oil Reserveé um reservatório <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> óleo para aquecimento <strong>de</strong>residências e prédios comerciais <strong>no</strong> <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, regiãocom elevada <strong>de</strong>pendência do petróleo. O óleo estocado somente po<strong>de</strong> serutilizado na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interrupção do fluxo comercial.As reservas <strong>de</strong> petróleo e minerais betumi<strong>no</strong>sos (Naval Petroleumand Oil Shale Reserves) foram criadas em 1912, durante a Administração<strong>de</strong> William Taft. Em resposta à crise <strong>de</strong> 1973, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>abriram as reservas <strong>de</strong> petróleo para exploração comercial em 1976. AAdministração Clinton ven<strong>de</strong>u, em 1998, para a empresa Occi<strong>de</strong>ntalPetroleum o campo <strong>de</strong> Elk Hills, na Califórnia, com reservas estimadas,na época, em 670 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo e 1,9 tcf <strong>de</strong> gás natural.As <strong>de</strong>mais reservas <strong>de</strong> petróleo foram vendidas ou transferidas parao Departamento do Interior. O Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> mantém ocampo <strong>de</strong> Teapot Dome, <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Wyoming, que serve <strong>de</strong> centro<strong>de</strong> teste para <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> exploração petrolífera. As reservas<strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos, localizadas <strong>no</strong>s estados <strong>de</strong> Utah, Colorado eWyoming, foram abertas à exploração comercial durante breve período<strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 80, mas os projetos foram abandonados com a quedados preços do petróleo. Des<strong>de</strong> 2005, em cumprimento aos dispositivosdo Energy Policy Act (EPAct), o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>de</strong>senvolveprograma para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias que permitama exploração comercial das reservas <strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos (oil shaleand tar sands) dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 132 .Ampliação da produção doméstica <strong>de</strong> energiaOs <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm reservas abundantes <strong>de</strong> carvão, gás naturale petróleo. Dispõem, também, <strong>de</strong> ampla capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong>energia nuclear e re<strong>no</strong>vável. Viabilizar o aproveitamento dos recursosenergéticos existentes é vital para a segurança do país, uma vez que amaior parte da <strong>de</strong>manda interna é atendida pela produção nacional. Des<strong>de</strong>os a<strong>no</strong>s 90, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm conseguido expandir a produção <strong>de</strong>132Department of Energy. Office of Fossil Energy. U.S. Petroleum Reserves.93


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>senergia, principalmente carvão, gás natural e energia nuclear. Há relativaautossuficiência na maioria dos setores, com exceção da indústria <strong>de</strong>petróleo e gás natural. No setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, são realizadas importações,em pequena escala, para regular o mercado inter<strong>no</strong>. Os principaisobstáculos ao crescimento da produção energética <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>são: os elevados custos econômicos da exploração <strong>de</strong> petróleo e gásnatural, <strong>de</strong>correntes da diminuição das reservas convencionais; aslegislações e regulamentos que restringem a exploração <strong>de</strong> petróleo e gásnatural em boa parte do território do país, principalmente na plataformacontinental; as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> infraestrutura, em particular <strong>no</strong> sistema<strong>de</strong> gasodutos e <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> energia elétrica; a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver tec<strong>no</strong>logias para reduzir o impacto ambiental da exploração<strong>de</strong> combustíveis fósseis (por exemplo, as tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> carvão limpo);os conflitos sobre os diversos usos da terra (áreas <strong>de</strong> proteção ambiental,terras indígenas); os custos econômicos elevados e as questões <strong>de</strong>segurança associadas à produção <strong>de</strong> energia nuclear.Em 1982, o Congresso aprovou moratória sobre a exploração <strong>de</strong>petróleo e gás natural <strong>no</strong> litoral da Califórnia, que foi posteriormenteampliada para outros setores da plataforma continental (Outer ContinentalShelf). Em 1990, o Presi<strong>de</strong>nte George H. Bush impôs restriçõesadministrativas às ativida<strong>de</strong>s petrolíferas na maior parte do litoral(Costas Leste e Oeste e região oriental do Golfo do México), que foramrevogadas, em julho <strong>de</strong> 2008, por George W. Bush 133 . Com a retomadada tendência <strong>de</strong> alta dos preços do petróleo, em 2009, a AdministraçãoObama e as li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong>mocratas examinam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autorizara abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração petrolífera. Avalia-se que hágran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>de</strong>sconhecidos, tanto naplataforma continental (Ártico, Costas Leste e Oeste, Golfo do México)como <strong>no</strong> Alasca (North Slope e Arctic National Wildlife Reserve).A produção <strong>de</strong> carvão é estratégica do ponto <strong>de</strong> vista da segurançaenergética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Além <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r pela maior parte daprodução <strong>de</strong> energia (23,9%, em 2008), o carvão é o principal combustívelutilizado para geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> (48,5%, em 2007). O maior<strong>de</strong>safio do setor é tec<strong>no</strong>lógico: <strong>de</strong>senvolver tec<strong>no</strong>logias que permitam133Outer Continental Shelf Leasing: Si<strong>de</strong>-by-Si<strong>de</strong> Comparison of Five Legislative Proposals. MarcHumphries. Washington D.C.: CRS Report for Congress. 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2008.94


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)controlar a poluição e as emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa, sem reduzir acompetitivida<strong>de</strong> do carvão em relação a outras fontes <strong>de</strong> energia. A maiorparte das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> carvão limpo (clean coal tech<strong>no</strong>logies) ainda estáem fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, sem previsão <strong>de</strong> uso em escala comercial. Asegurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, também, do uso da energianuclear (19,4% da produção <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, em 2007). Há expectativa <strong>de</strong>crescimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração nuclear, embora a um ritmo maislento do que a produção total <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>. A construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas usinas<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> soluções satisfatórias para o problema dos <strong>de</strong>jetosradioativos. A Administração Bush formulou pla<strong>no</strong>s para armazenamento<strong>de</strong> longo prazo dos <strong>de</strong>jetos nucleares em repositório geológico na montanhaYucca, em Nevada, mas enfrentou forte oposição <strong>no</strong> âmbito do Congresso edo respectivo gover<strong>no</strong> estadual. Questões <strong>de</strong> segurança e os elevados custos<strong>de</strong> construção e manutenção das usinas permanecem como obstáculo àexpansão da capacida<strong>de</strong> nuclear <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Programas <strong>de</strong> conservação e eficiência energéticaApós os “choques” do petróleo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70, os programas <strong>de</strong> conservaçãoe <strong>de</strong> eficiência energética foram reforçados <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Congresso eo Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral adotaram uma série <strong>de</strong> medidas – como o estabelecimento<strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> eficiência para a fabricação <strong>de</strong> aparelhos elétricos e veículosautomotores e para a construção <strong>de</strong> imóveis – que permitiram a expansão daeco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong>rte-americana a um ritmo cinco vezes maior do que o crescimentodo consumo <strong>de</strong> energia entre 1973 e 2000. Os ganhos em eficiência foramobtidos, também, por meio <strong>de</strong> avanços tec<strong>no</strong>lógicos, como a cogeração<strong>de</strong> energia, os veículos híbridos e o <strong>de</strong>senvolvimento dos sensores <strong>de</strong> luz.Além <strong>de</strong> contribuir para a redução do consumo <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e do petróleoimportado, os programas <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> eficiência permitiram melhoraproveitamento dos recursos naturais existentes, controle da poluição ediminuição do impacto dos altos preços da energia. As medidas <strong>de</strong>spertaram,entretanto, resistências em diversos setores da socieda<strong>de</strong> <strong>no</strong>rte-americana, porimplicarem mudanças <strong>no</strong>s padrões <strong>de</strong> consumo; foram, por isso, atenuadas emperíodos <strong>de</strong> bonança econômica e <strong>de</strong> baixos preços do petróleo.Em 1975, o Congresso aprovou o Energy Policy Conservation Act,que estabelecia padrões <strong>de</strong> eficiência para reduzir o consumo <strong>de</strong> gasolinaem veículos automotores, os CAFE – Corporate Average Fuel Eco<strong>no</strong>my –95


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sStandards. Na ocasião, a iniciativa do Congresso não <strong>de</strong>spertou forteresistência, pois havia expectativa <strong>de</strong> que os preços internacionais dopetróleo continuassem a aumentar. O padrão estabelecido para veículos<strong>de</strong> passageiros fabricados em 1978 foi <strong>de</strong> 18 milhas por galão (mpg). Em1985, elevou-se tal exigência para 27,5 mpg. Por pressão da indústriaautomobilística, porém, estabeleceu-se padrão me<strong>no</strong>r, <strong>de</strong> 20,7 mpg, paraos veículos maiores, ou light trucks, classificação que também incluios sport utility vehicles (SUVs). Nos a<strong>no</strong>s 80, os preços do petróleovoltaram a cair, o que estimulou a <strong>de</strong>manda pelos carros maiores. Os lighttrucks – que, em 1975, eram usados principalmente na agricultura e naindústria – tornaram-se populares entre as famílias <strong>no</strong>rte-americanas. Aindústria automobilística passaria a produzir veículos cada vez maiores,graças à manutenção dos CAFE standards em 20,7 mpg para os lighttrucks. Em 1975, as vendas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s veículos representavam 19,8%dos <strong>no</strong>vos carros em circulação. Em 2001, a participação dos gran<strong>de</strong>sveículos alcançou 50% do total das vendas 134 .A escalada dos preços do petróleo, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 2003-2008, evi<strong>de</strong>ncioua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reforço das políticas <strong>de</strong> conservação e eficiênciaenergética. A Administração Bush adotou programas para reduzir oconsumo <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> transportes, mas se recusou a elevaros CAFE Standards. Propôs, alternativamente, a adoção <strong>de</strong> padrão<strong>de</strong> eficiência baseado <strong>no</strong> tamanho dos veículos (size-based standard),alegando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resguardar a competitivida<strong>de</strong> da indústria<strong>no</strong>rte-americana. O Energy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security Act, aprovado em<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, ao final do segundo mandato do Presi<strong>de</strong>nte GeorgeW. Bush, estabeleceu meta para elevação gradual dos CAFE Standardspara o conjunto dos veículos <strong>de</strong> passageiros e light trucks até o nível <strong>de</strong>35 mpg em 2020, incremento <strong>de</strong> 40% em relação ao patamar estabelecidoem 1975, <strong>de</strong> 27,5 mpg. O Presi<strong>de</strong>nte Barack Obama propôs, em maio<strong>de</strong> 2009, programa para reduzir o consumo nacional <strong>de</strong> gasolina, que<strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u a elevação dos CAFE Standards para o nível <strong>de</strong> 35,5 mpg,em 2016 (39 mpg para veículos leves e 30 mpg para light trucks).Por meio dos programas <strong>de</strong> conservação e eficiência energética <strong>no</strong>setor <strong>de</strong> transportes, o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> busca, também, explorar134Automobile and Light Truck Fuel Eco<strong>no</strong>my: The CAFE Standards. Brent D. Yacobucci.Washington D.C.: CRS Report for Congress. 19 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007.96


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)oportunida<strong>de</strong>s para abertura <strong>de</strong> mercados para empresas <strong>no</strong>rte-americanas.Com apoio governamental, a indústria automobilística está aperfeiçoandotec<strong>no</strong>logias para veículos híbridos, que, além <strong>de</strong> proporcionar reduçãodo consumo <strong>de</strong> gasolina e <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, permitirão aumento<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> na fabricação da <strong>no</strong>va geração <strong>de</strong> veículos híbridos eelétricos 135 . O Chevrolet Volt, por exemplo, que será vendido a partir <strong>de</strong>2010, utilizará primordialmente a propulsão elétrica e po<strong>de</strong>rá ser recarregadoem tomada elétrica convencional plug-in. As <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, entretanto,somente reduzirão o consumo <strong>de</strong> gasolina <strong>no</strong> médio prazo, uma vez que,além dos prazos <strong>de</strong> maturação tec<strong>no</strong>lógica, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construirinfraestrutura a<strong>de</strong>quada para integrar os <strong>no</strong>vos veículos.Estímulo a fontes re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong> energiaA utilização <strong>de</strong> fontes re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong> energia tanto para produção<strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> como, <strong>no</strong> caso do setor <strong>de</strong> transportes, para reduçãodo consumo <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivados, conta com forte apoio <strong>no</strong> âmbitodo Executivo, do Congresso e da socieda<strong>de</strong> civil <strong>no</strong>rte-americana. Aprodução <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável aten<strong>de</strong> não apenas aos objetivos <strong>de</strong>segurança energética (redução da <strong>de</strong>pendência externa, diversificaçãoda oferta, aumento da produção doméstica), mas também às políticas<strong>de</strong> proteção ambiental (redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa),<strong>de</strong>senvolvimento rural e agrícola. Des<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s 70, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>têm aprovado <strong>no</strong>rmas legislativas, incentivos financeiros e programas<strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para produção <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável, em particular <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l 136 . Em 1974, o Congressoadotou o Solar Energy Research, Development and Demonstration Act.Em 1978, <strong>no</strong> âmbito do National Energy Act (NEAct), foram aprovadosdois instrumentos relevantes: o Public Utility Regulatory Polices Act, queestimulou empresas <strong>de</strong> serviço público a adquirirem eletricida<strong>de</strong> geradacom uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> cogeração e energia re<strong>no</strong>vável e o EnergyTax Act, que criou créditos fiscais para a instalação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong>energia solar, eólica e geotérmica em residências e prédios comerciais.135Advanced Vehicle Tech<strong>no</strong>logies: Energy, Environment, and Development Issues. Brent D.Yacobucci. Washington D.C.: CRS Report for Congress. 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.136Energy Tax Policy: History and Current Issues. Salvatore Lazzari. Washington D.C.: CRSReport for Congress. 8 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2008.97


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sEm 1992, o Energy Policy Act estabeleceu o Renewable EnergyProduction Incentive (REPI) e conce<strong>de</strong>u créditos fiscais – ainda emvigor – que permitiram acelerada expansão da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geraçãoeólica <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.O Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (DOE) é o órgão responsávelpelos investimentos do Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral em projetos <strong>de</strong> pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável. Ofoco das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa concentra-se nas tec<strong>no</strong>logias que teriam<strong>de</strong>senvolvimento e comercialização atrasados, caso recebessem apenasinvestimentos do setor privado. Os programas <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável doDOE proporcionam, <strong>de</strong>ssa forma, apoio às indústrias nascentes, reduzindocustos e riscos. São executados por meio do financiamento direto dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>no</strong>s LaboratóriosNacionais, das doações e acordos <strong>de</strong> cooperação com Universida<strong>de</strong>s, oumediante assistência técnica e financeira ao setor privado. Des<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s80, as parcerias público-privadas respon<strong>de</strong>m por parcela substantiva dofinanciamento da pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A repartição dos custos é negociada; o Gover<strong>no</strong> ten<strong>de</strong> aarcar com a maior parte das <strong>de</strong>spesas, caso julgue que o setor necessita<strong>de</strong> apoio oficial, que os riscos são elevados e que há perspectiva <strong>de</strong>comercialização do produto <strong>no</strong> curto prazo 137 .Existe amplo consenso bipartidário em tor<strong>no</strong> da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ampliar a participação das fontes re<strong>no</strong>váveis na matriz energética dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Medidas <strong>de</strong> apoio ao setor têm sido adotadas poradministrações republicanas e <strong>de</strong>mocratas. Em janeiro <strong>de</strong> 2006, porexemplo, o Presi<strong>de</strong>nte Bush anunciou a Advanced Energy Initiative,que autorizou incremento <strong>de</strong> 22% <strong>no</strong>s recursos do Departamento <strong>de</strong><strong>Energia</strong> para pesquisa <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias nas áreas <strong>de</strong> energia “limpa”e combustíveis alternativos. Criou-se o Programa <strong>de</strong> Biorrefinarias, comorçamento anual <strong>de</strong> US$ 150 milhões, para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimentodo eta<strong>no</strong>l celulósico; a meta do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> é tornaro eta<strong>no</strong>l celulósico competitivo até 2012. Em fevereiro <strong>de</strong> 2009, oCongresso aprovou o American Recovery and Reinvestment Act,que prorrogou créditos fiscais concedidos para a produção <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável em variados setores (biomassa, resíduos sólidos, energia137Department of Energy. Office of Energy Efficiency and Renewable Energy.98


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)eólica, geotérmica e das ondas) 138 . O Presi<strong>de</strong>nte Obama, por sua vez,<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>u US$ 656,5 milhões dos recursos orçamentários previstos <strong>no</strong>American Recovery and Reinvestment Act para financiar projetos-piloto<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> biorrefinarias integradas, que produzirão em escalacomercial biocombustíveis avançados, bioprodutos e energia elétrica.Diversificação da oferta externa <strong>de</strong> petróleoEm reação aos “choques” do petróleo, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e outrospaíses oci<strong>de</strong>ntais buscaram estimular a abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong>exploração petrolífera em regiões não controladas pela OPEP (Mar doNorte, Rússia, África Oci<strong>de</strong>ntal, Mar Cáspio e Colômbia) como forma <strong>de</strong>reduzir a influência política e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado do cartel. A estratégiaoci<strong>de</strong>ntal produziu resultados. Nos a<strong>no</strong>s 80, México, Rei<strong>no</strong> Unido eNoruega tornaram-se gran<strong>de</strong>s exportadores <strong>de</strong> petróleo. Nos a<strong>no</strong>s 90,a oferta extra-OPEP ampliou-se graças ao crescimento da produçãopetrolífera em países como Canadá, China, Rússia e Colômbia. Segundodados da EIA, os países não membros da OPEP respondiam, em 1973,por 48% da produção mundial <strong>de</strong> petróleo. Às vésperas da revoluçãoiraniana, em 1978, a participação elevara-se para 50%. Em 1985, aprodução extra-OPEP atingiu 71% da oferta mundial, o que contribuiupara manter os preços do petróleo em patamares relativamente baixosaté o final do século XX.Atualmente, sete países não membros da OPEP estão na lista dos 15maiores produtores mundiais <strong>de</strong> petróleo: Rússia, <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, China,México, Canadá, Noruega e <strong>Brasil</strong>. A produção extra-OPEP respon<strong>de</strong>u,em 2006, por 59% da oferta mundial <strong>de</strong> petróleo, participação aindasignificativa, mas que po<strong>de</strong>rá reduzir-se, <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s, em razão daqueda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> dos campos petrolíferos mais antigos, dos custoselevados da exploração <strong>de</strong> recursos não convencionais, da ausência <strong>de</strong><strong>no</strong>vas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo em volume significativo e, em alguns casos,do crescimento da <strong>de</strong>manda interna, que reduz o exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> petróleodisponível para exportação 139 . Gran<strong>de</strong>s produtores <strong>de</strong> petróleo, comoRei<strong>no</strong> Unido, México, Noruega e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> registram, há vários138Energy Provisions in the American Recovery and Reinvestment Act of 2009. Fred Sissine.Washington D.C.: CRS Report for Congress. 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2009.139Energy Information Administration. International Energy Outlook 2009.99


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sa<strong>no</strong>s, queda na produção doméstica. A oferta extra-OPEP tem-se mantidoestável (49,9 milhões <strong>de</strong> barris diários, em 2006) graças, sobretudo, aosincrementos da produção na Rússia, <strong>no</strong> Canadá, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e nas antigasrepúblicas soviéticas (Cazaquistão, Turcomenistão e Azerbaijão).Apesar das dificulda<strong>de</strong>s, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> consi<strong>de</strong>ram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento da oferta extra-OPEP nas próximas duas décadas. A EIA estimaque, com o aumento dos preços do petróleo, o setor privado teria condições<strong>de</strong> investir em projetos <strong>de</strong> alto risco e custos elevados, como a exploraçãodos recursos petrolíferos localizados em águas ultraprofundas e <strong>no</strong> Ártico; aoferta extra-OPEP cresceria <strong>de</strong> 49,9 milhões <strong>de</strong> barris diários, em 2006, para62,8 milhões <strong>de</strong> barris diários, em 2030, mantendo estável a participação naoferta mundial <strong>de</strong> petróleo. A maior contribuição para o volume total da ofertaextra-OPEP teria origem, segundo a EIA, <strong>no</strong> aumento da produção petrolífera<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, na Rússia, <strong>no</strong> Cazaquistão e <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Canadá, graçasà exploração <strong>de</strong> recursos não convencionais (minerais betumi<strong>no</strong>sos), tambémconseguiria expandir a produção doméstica 140 .O <strong>Brasil</strong> ocupa posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>no</strong> planejamento energético dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e é i<strong>de</strong>ntificado como um dos poucos países não membrosda OPEP com potencial para aumento significativo da produção petrolífera.A EIA avalia que o <strong>Brasil</strong> po<strong>de</strong>rá aumentar sua produção diária em até3,7 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo, entre 2006 e 2030, consi<strong>de</strong>rando-se umcenário <strong>de</strong> altos preços. Enfatiza a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos exter<strong>no</strong>spara acelerar a exploração dos recursos do pré-sal:Although Petrobras has repeatedly proven itself as a lea<strong>de</strong>r in <strong>de</strong>epwater<strong>de</strong>velopment and is k<strong>no</strong>wn to have the technical capabilities to <strong>de</strong>velopsubsalt prospects, it is <strong>no</strong>t expected to have the resources (financial, labor,etc.) or ultimate inclination to <strong>de</strong>velop them on its own 141 .B – Política energética: Funções <strong>no</strong> âmbito do Executivo e do Congressodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Cooperação com o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> setor energéticoA formulação da política energética <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> envolve amploe complexo processo <strong>de</strong>cisório, que inclui autorida<strong>de</strong>s do Executivo, do140I<strong>de</strong>m.141EIA. International Energy Outlook 2009. Chapter 2 – Liquid Fuels.100


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)Congresso, dos gover<strong>no</strong>s estaduais e locais e <strong>de</strong> agências reguladoras.No âmbito do Executivo, diversas instâncias respon<strong>de</strong>m pela formulaçãoe execução das diretrizes <strong>de</strong> política energética, algumas com atribuiçõesdiretamente ligadas à cooperação com o <strong>Brasil</strong>. Citem-se, entre outras:1. Gabinete Presi<strong>de</strong>ncial1.1. Escritório para Política <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Mudança do Clima.Criado pelo Presi<strong>de</strong>nte Barack Obama, é responsável pela coor<strong>de</strong>naçãodas políticas nas áreas <strong>de</strong> energia e mudança do clima.1.2. Conselho <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> Ambiental. Órgão consultivo comatribuições voltadas para a formulação <strong>de</strong> políticas ambientais eenergéticas. Juntamente com o Escritório para <strong>Energia</strong> e Mudança doClima, coor<strong>de</strong>na a participação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> Foro das Gran<strong>de</strong>sEco<strong>no</strong>mias sobre <strong>Energia</strong> e Mudança do Clima.1.3. Conselho <strong>de</strong> Segurança Nacional. Integrado pelo Presi<strong>de</strong>nte,Vice-Presi<strong>de</strong>nte, Secretários da Defesa, <strong>de</strong> Estado e do Tesouro e poroutros assessores <strong>de</strong> alto nível, o CSN é o foro máximo para consi<strong>de</strong>raçãodas questões <strong>de</strong> política externa e segurança nacional.2. Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (DOE). Respon<strong>de</strong>, entre outrasfunções, pela produção e regulação energética, pelo programa <strong>de</strong>armas nucleares, pela produção <strong>de</strong> reatores nucleares para a Marinha,por programas <strong>de</strong> conservação e eficiência energética, pela pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas e pelo <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetosradioativos. O DOE é o principal patrocinador da pesquisa básica eaplicada na área <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> por meio <strong>de</strong> extensosistema <strong>de</strong> Laboratórios Nacionais.2.1. Escritório <strong>de</strong> Inteligência e Contrainteligência. Reúne,analisa e fornece ao Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dados <strong>de</strong> inteligência,inclusive estrangeira, nas áreas <strong>de</strong> segurança energética, armas nucleares,proliferação nuclear, energia nuclear e <strong>de</strong>jetos radioativos.2.2. Comissão Fe<strong>de</strong>ral Reguladora <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Agência reguladorain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Tem jurisdição sobre o comércio interestadual <strong>de</strong>eletricida<strong>de</strong> e gás natural, preços da energia elétrica e do gás natural,licenciamento <strong>de</strong> hidrelétricas, construção <strong>de</strong> gasodutos e terminais <strong>de</strong>101


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGNL. As <strong>de</strong>cisões da Comissão somente po<strong>de</strong>m ser contestadas porcortes fe<strong>de</strong>rais.2.3. Administração da Informação <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (EIA). Agência <strong>de</strong>estatística. Fornece ao público dados, análises e previsões sobre recursosenergéticos, produção, consumo, distribuição e preços da energia <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e <strong>no</strong> mundo.2.4. Secretário-Assistente para Política e Assuntos Internacionais.Subordinado ao Gabinete do Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Responsável pelasativida<strong>de</strong>s internacionais do DOE, pela cooperação internacional em ciênciae tec<strong>no</strong>logia e em mudança do clima e pela exportação <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias(clean energy tech<strong>no</strong>logies). Representa o DOE em foros multilaterais e nanegociação com Gover<strong>no</strong>s e agências internacionais. Fornece ao Comitê <strong>de</strong>Investimento Exter<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (CFIUS) análises sobre fusõese aquisições <strong>de</strong> empresas nacionais por entida<strong>de</strong>s estrangeiras com vistasa avaliar impactos sobre a segurança energética e as tec<strong>no</strong>logias críticas.2.4.1. Subsecretário-Assistente para Política EnergéticaInternacional. Recomenda a adoção <strong>de</strong> políticas energéticas voltadaspara os mercados globais, inclusive assinatura <strong>de</strong> acordos bilateraise multilaterais, com vistas a assegurar os interesses comerciais dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a proteção dos investimentos privados e das patentes<strong>no</strong>rte-americanas.2.4.2. Subsecretário-Assistente para Cooperação EnergéticaInternacional. Conduz iniciativas <strong>de</strong> cooperação internacional emenergia, ciência e tec<strong>no</strong>logia. Responsável pelo Escritório <strong>de</strong> AssuntosAmerica<strong>no</strong>s, que formula estratégias para fomentar o comércio e oinvestimento dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong>s países das Américas e do Caribe,com o objetivo <strong>de</strong> ampliar o acesso aos mercados <strong>de</strong> energia na regiãoe incrementar as exportações <strong>de</strong> serviços, equipamentos e commodities.O Escritório serve como ponto focal para as empresas <strong>de</strong> energia quenecessitam <strong>de</strong> apoio do Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral para eliminar barreiras <strong>no</strong>smercados do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal.2.5. Subsecretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Meio Ambiente. Função preenchidapor indicação do Presi<strong>de</strong>nte dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e com aprovação doSenado. Responsável pela fiscalização dos programas <strong>de</strong> energia e meioambiente do DOE.2.5.1. Secretário-Assistente para <strong>Energia</strong> Fóssil. Responsávelpela Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e pelos102


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)programas <strong>de</strong> Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong>, Carvão Limpo, Hidrogênio eoutros Combustíveis Limpos, Regulação do Gás Natural, Fornecimentoe Transporte <strong>de</strong> Petróleo e Gás Natural. O Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Fóssilacompanha diversas iniciativas <strong>de</strong> cooperação energética multilateral,como a Parceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE),o Foro <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança sobre Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (CSLF) e as ParceriasMethane to Markets e Global Gas Flaring Reduction.2.5.2. Secretário-Assistente para Eficiência Energética e<strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vável. Responsável pela pesquisa e pelo <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias nas áreas <strong>de</strong> biomassa, energia geotérmica, solar, eólica,hidráulica, do hidrogênio e <strong>de</strong> células a combustível, veículos híbridose elétricos. O Escritório para Eficiência Energética e <strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vávelaloca recursos para 12 Laboratórios Nacionais do DOE. Participa,também, <strong>de</strong> iniciativas multilaterais como a Parceria Internacionalpara Tec<strong>no</strong>logia Geotérmica, lançada em agosto <strong>de</strong> 2008, por <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, Austrália e Islândia. Seu Programa <strong>de</strong> Biomassa busca reduzircustos e viabilizar a produção em escala comercial do eta<strong>no</strong>l celulósicopor volta <strong>de</strong> 2012. O Programa conta com o apoio do Departamento<strong>de</strong> Agricultura nas pesquisas voltadas para produção, logística etec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong> biomassa. Prevê parcerias com o setorprivado, comunida<strong>de</strong>s agrícolas, gover<strong>no</strong>s estaduais e locais para aconstrução <strong>de</strong> biorrefinarias experimentais e execução <strong>de</strong> projetosnas áreas <strong>de</strong> infraestrutura e <strong>de</strong> distribuição. Além <strong>de</strong> financiar aconstrução <strong>de</strong> biorrefinarias, o DOE fornece recursos para a pesquisados microorganismos que atuam na transformação da biomassa emeta<strong>no</strong>l celulósico. Financia, também, a construção <strong>de</strong> usinas comerciais<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico.2.6. Subsecretário para Ciências. O Escritório <strong>de</strong> Ciências do DOEé o principal patrocinador <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa básica em ciênciasfísicas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (40% do total dos fundos), área <strong>de</strong> importânciaestratégica para a segurança nacional. Dentre os programas administradospelo Escritório, citem-se pesquisa avançada em computação científica,física nuclear, física quântica e geração <strong>de</strong> energia por fusão nuclear.2.7. Laboratórios Nacionais e Centros <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia. ODepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> supervisiona um dos maiores sistemas <strong>de</strong>pesquisa científica do mundo, integrado por <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> laboratóriose centros <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia (alguns administrados por empresas privadas103


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>se instituições acadêmicas contratadas pelo Gover<strong>no</strong>), cujo objetivoé contribuir para o avanço das ciências e a promoção dos interessesnacionais dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.3. Departamento <strong>de</strong> Estado: O DOS é responsável pela formulação,coor<strong>de</strong>nação e implementação dos diversos aspectos da política externarelacionados à cooperação energética internacional.3.1. Subsecretário para Assuntos <strong>de</strong> Eco<strong>no</strong>mia, <strong>Energia</strong> eAgricultura. É o principal assessor do Departamento <strong>de</strong> Estado paratemas econômicos, comerciais e energéticos e para política econômicainternacional.3.1.1. Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Internacional e Política <strong>de</strong>Commodities (IEC). <strong>Setor</strong> responsável pela formulação e execução<strong>de</strong> iniciativas internacionais nas áreas <strong>de</strong> energia e commodities nãoagrícolas. Acompanha a evolução dos mercados <strong>de</strong> petróleo, gás natural ecommodities. Promove acordos e parcerias estratégicas com os principaispaíses consumidores e produtores <strong>de</strong> energia.3.1.1.a. Divisão para Países Produtores <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (EPC). É oponto focal para exportação <strong>de</strong> serviços, bens e equipamentos para asindústrias <strong>de</strong> petróleo e gás natural. Promove investimentos dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>no</strong>s setores <strong>de</strong> energia em diversos países. Fomenta o diálogo comos principais produtores <strong>de</strong> energia por meio <strong>de</strong> foros distintos, como oGrupo <strong>de</strong> Trabalho sobre <strong>Energia</strong> da América do Norte, o Mecanismo <strong>de</strong>Consultas EUA–Canadá sobre <strong>Energia</strong> e a Iniciativa para CooperaçãoEnergética <strong>no</strong> Hemisfério. Acompanha o mercado internacional dopetróleo e as ativida<strong>de</strong>s da OPEP.3.1.1.b. Divisão para <strong>Energia</strong> e Recursos Naturais (ENR). Emcoor<strong>de</strong>nação com o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, representa e formulaposições dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> nas reuniões da Agência Internacional <strong>de</strong><strong>Energia</strong>. Busca i<strong>de</strong>ntificar alterações <strong>no</strong> funcionamento dos mercados <strong>de</strong>petróleo, gás natural, carvão e energia nuclear e re<strong>no</strong>vável que possamafetar a segurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.3.2. Escritório do Coor<strong>de</strong>nador Internacional para Assuntos<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. O Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> busca integrar oconceito <strong>de</strong> segurança energética <strong>no</strong> âmbito da política externa <strong>no</strong>rte--americana. Além <strong>de</strong> cumprir funções específicas, como a negociação <strong>de</strong>104


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)parcerias bilaterais, o Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> é encarregado <strong>de</strong> formularestratégia para promover reformas <strong>no</strong> setor energético em países <strong>de</strong>interesse estratégico para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.3.3. Subsecretário para Democracia e Assuntos Globais. Temparticipação ativa <strong>no</strong> Foro das Gran<strong>de</strong>s Eco<strong>no</strong>mias sobre <strong>Energia</strong> eMudança do Clima, juntamente com assessores da Casa Branca.3.4. Secretário-Assistente para Assuntos do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal.Responsável direto pela cooperação com os países das Américas e doCaribe em temas como comércio, investimentos, combate ao narcotráfico,energia e meio ambiente.4. Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID).Agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, responsável pela maior parte da assistência ecooperação prestada pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em áreas não militares, aUSAID atua em coor<strong>de</strong>nação com o Departamento <strong>de</strong> Estado. Desenvolveprogramas <strong>de</strong> cooperação energética com vistas a “improve enablingenvironments, including policy, legal, regulatory, and commercialreforms, to boost energy sector performance and increase private sectorparticipation and investment […] Promote increased energy tra<strong>de</strong>and regional power pools. Help countries reduce their overall carbonemissions and address climate change through clean energy and energyefficiency projects”, entre outros objetivos 142 .5. Departamento do Interior5.1. Serviço <strong>de</strong> Controle Mineral (MMS). Órgão responsável pelogerenciamento dos recursos minerais da plataforma continental, das terrasindígenas e fe<strong>de</strong>rais e pela regulação da produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável(eólica, solar e <strong>de</strong> ondas) nas regiões costeiras.5.2. Escritório <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Terras Públicas (BLM). Emiteautorizações para projetos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> energia solar, eólica, geotérmicae <strong>de</strong> biomassa e para a instalação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> energia elétricaem terras públicas. O Escritório planeja instalar, <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s, cerca<strong>de</strong> 9.700 km <strong>de</strong> Corredores Energéticos em 11 estados do Oeste america<strong>no</strong>para realizar o transporte <strong>de</strong> energia, inclusive petróleo e gás natural.142http://www.usaid.gov/our_work/eco<strong>no</strong>mic_growth_and_tra<strong>de</strong>/energy/mission.html105


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s6. Departamento <strong>de</strong> Defesa. As Forças Armadas <strong>de</strong>senvolvemdiversos projetos para produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável (biomassa, solar,eólica e geotermal). O Departamento <strong>de</strong> Defesa investe, também, emprojetos <strong>de</strong> pesquisa do hidrogênio (células a combustível) para uso eminstalações militares.7. Departamento <strong>de</strong> Agricultura. Desenvolve vários programasvoltados para pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento e comercialização <strong>de</strong> <strong>no</strong>vastec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, entre os quais o Biorefinery Programfor Advanced Biofuels e o Rural Energy for America. Juntamentecom o Departamento <strong>de</strong> Defesa, copresi<strong>de</strong> o Conselho para Pesquisa eDesenvolvimento da Biomassa, que executa o Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação Nacionalpara Biocombustíveis.8. Departamento <strong>de</strong> Comércio. O Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e IndústriasAmbientais, que integra a Administração do Comércio Internacional,do Departamento <strong>de</strong> Comércio, é o ponto focal para promoção dasexportações <strong>de</strong> bens e serviços <strong>de</strong> empresas <strong>no</strong>rte-americanas nas áreas<strong>de</strong> energia e meio ambiente.9. Agência <strong>de</strong> Proteção Ambiental (EPA). Agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,responsável pela política ambiental. Tem autorida<strong>de</strong> para regular a emissão<strong>de</strong> gases do efeito estufa por veículos automotores. Executa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992,o programa Energy Star para promover a eficiência energética.10. Congresso10.1. Câmara (House of Representatives)10.1.1. Comitê <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Comércio. Subcomitê <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>e Meio Ambiente. Tem ampla jurisdição sobre temas relacionados àpolítica energética nacional, entre os quais produção <strong>de</strong> energia fóssil,nuclear e re<strong>no</strong>vável; combustíveis sintéticos; regulação, conservaçãoe consumo <strong>de</strong> energia; serviços públicos <strong>de</strong> energia; regulação <strong>de</strong>instalações nucleares e <strong>de</strong>jetos radioativos.10.1.2. Comitê <strong>de</strong> Agricultura. Subcomitê <strong>de</strong> Conservação,Crédito, <strong>Energia</strong> e Pesquisa. O Comitê tem jurisdição sobre a políticaagrícola nacional e recomenda a alocação <strong>de</strong> fundos para as diversas106


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)agências, programas e iniciativas. O Subcomitê ocupa-se da produção<strong>de</strong> bioenergia e da eletrificação rural.10.1.3. Comitê <strong>de</strong> Apropriações. Subcomitê <strong>de</strong> DesenvolvimentoEnergético e dos Recursos Hídricos. É um dos Comitês mais influentes,pois estabelece os montantes específicos <strong>de</strong> recursos orçamentários aserem alocados às diversas agências governamentais.10.1.4. Comitê <strong>de</strong> Recursos Naturais. Subcomitê <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> eRecursos Minerais. Exerce jurisdição sobre os recursos minerais daplataforma continental e sobre a conservação dos recursos petrolíferosem terras públicas.10.1.5. Comitê <strong>de</strong> Assuntos Estrangeiros. Subcomitê doHemisfério Oci<strong>de</strong>ntal. O Comitê acompanha a tramitação <strong>de</strong> projetos<strong>de</strong> lei e investigações sobre as relações externas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. OSubcomitê trata, especificamente, das relações com países das Américase do Caribe em áreas como comércio, investimentos, empréstimos,assistência humanitária e direitos huma<strong>no</strong>s.10.2. Senado10.2.1. Comitê <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Recursos Naturais. É o Comitêresponsável, <strong>no</strong> Senado, pelos diversos temas da Política EnergéticaNacional, inclusive quanto aos aspectos <strong>de</strong> política externa. Subcomitê<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Tem responsabilida<strong>de</strong> legislativa sobre produção edistribuição <strong>de</strong> petróleo, carvão e gás natural; pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimentoe comercialização <strong>de</strong> combustíveis sintéticos e <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logiasenergéticas; Laboratórios Nacionais do DOE; terminais <strong>de</strong> GNL;Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo; refinarias; e energia nuclear, entreoutros temas.10.2.2 Comitê <strong>de</strong> Meio Ambiente e Obras Públicas. Acompanhatemas relacionados à política ambiental, inclusive produção <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável e mudança do clima.10.2.3. Comitê <strong>de</strong> <strong>Relações</strong> Estrangeiras. Subcomitê para oHemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, Peace Corps e Narcotráfico. O Comitê é umdos mais influentes, pois <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> sobre a ratificação <strong>de</strong> tratados e a<strong>no</strong>meação <strong>de</strong> Embaixadores e do Secretário <strong>de</strong> Estado. O Subcomitêexerce múltiplas funções, entre as quais política para a OEA,combate ao terrorismo e narcotráfico, não proliferação, programas<strong>de</strong> assistência e promoção do comércio e investimentos, inclusive<strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia.107


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s11. Cooperação bilateral. Os projetos <strong>de</strong> cooperação e as parceriascom o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> setor energético são executados por gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>agências e instituições governamentais, acadêmicas e do setor privadodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Sem pretensão <strong>de</strong> realizar levantamento exaustivo,mencionem-se:12. Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>12.1 Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Fóssil. O Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Fóssilmantém cooperação com 17 países, entre os quais o <strong>Brasil</strong>. É o pontofocal para implementação do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> sobre Cooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, criado em junho <strong>de</strong> 2003.Supervisiona a execução <strong>de</strong> acordo entre a Companhia Paranaense <strong>de</strong><strong>Energia</strong> (COPEL), o Instituto <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia para o Desenvolvimento(LACTEC), sediado em Curitiba, e o National Energy Tech<strong>no</strong>logyLaboratory (NETL). O objetivo do acordo é adaptar gerador <strong>de</strong> energiacom uso <strong>de</strong> célula a combustível (adquirido pelo Hospital Erasto Gaetner,<strong>de</strong> Curitiba) e comercializar o equipamento na América do Sul 143 . OEscritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Fóssil acompanha, também, a participação do <strong>Brasil</strong>na Parceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE) e <strong>no</strong>Foro <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança sobre Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (CSLF).12.2 Laboratório Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vável (NREL). Em<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2008, o NREL assi<strong>no</strong>u acordo com a Petrobras (Centro <strong>de</strong>Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez <strong>de</strong> Melo) parapromover cooperação na pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> biocombustíveis avançados 144 . O NREL é administrado eoperado pela empresa Alliance for Sustainable Energy, cujo controleacionário é dividido entre a companhia <strong>de</strong> biotec<strong>no</strong>logia Battelle e oInstituto <strong>de</strong> Pesquisa do Meio-oeste.12.3. Laboratório Nacional <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia Energética (NETL).Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007, o NETL assi<strong>no</strong>u acordo com o CEPAC (Centro<strong>de</strong> Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> para aIndústria do Petróleo), iniciativa conjunta da Petrobras e da PUCRS.A parceria entre as duas instituições está voltada para pesquisa e143http://www.fossil.energy.gov/international/International_Partners/Brazil.html144http://www.nrel.gov/news/press/2008/650.html108


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> carvão limpo (clean coal), gaseificação<strong>de</strong> carvão, produção <strong>de</strong> gás <strong>de</strong> síntese a partir <strong>de</strong> carvões com alto teor <strong>de</strong>cinzas e intercâmbio <strong>de</strong> pesquisadores 145 . O NETL é o único LaboratórioNacional dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> que <strong>de</strong>senvolve pesquisas <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias<strong>de</strong> combustíveis fósseis. É administrado e operado pelo DOE.Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007, o NETL assi<strong>no</strong>u convênio <strong>de</strong> cooperaçãotécnico-científica com a Associação <strong>Brasil</strong>eira do Carvão Mineral(ABCM), que prevê, entre outras ativida<strong>de</strong>s, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>projetos <strong>de</strong> gaseificação do carvão mineral, captura e armazenamento<strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e pesquisa <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias limpas para uso do carvão 146 . Comapoio do NETL, foi inaugurado, em junho <strong>de</strong> 2008, o Centro Tec<strong>no</strong>lógico<strong>de</strong> Carvão Limpo (CTCL), na Faculda<strong>de</strong> SATC, em Criciúma, SantaCatarina 147 .12.4. Fermilab (Fermi National Accelerator Laboratory).Instalado em 1967, próximo a Chicago, Illi<strong>no</strong>is, o Fermilab é umlaboratório especializado em física <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> alta energia. Assi<strong>no</strong>uconvênio com o CEFET (Centro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tec<strong>no</strong>lógicaCelso Suckow da Fonseca), vinculado ao Ministério da Educação, quepossibilita a realização <strong>de</strong> estágios por pesquisadores brasileiros naDivisão <strong>de</strong> Computação do Fermilab 148 .13. Departamento <strong>de</strong> Agricultura. Em julho <strong>de</strong> 2009, oDepartamento <strong>de</strong> Agricultura assi<strong>no</strong>u Memorando <strong>de</strong> Entendimentocom o Instituto Agronômico <strong>de</strong> Campinas (IAC), órgão <strong>de</strong> pesquisa daAgência Paulista <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia dos Agronegócios, com o objetivo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver projetos conjuntos nas áreas <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> biocombustíveis, em particular bioeta<strong>no</strong>l; intercâmbio <strong>de</strong> materialgenético da cana-<strong>de</strong>-açúcar; tec<strong>no</strong>logias para seleção genética epropagação da cana-<strong>de</strong>-açúcar; mecanização <strong>de</strong> fazendas; e políticasgovernamentais para utilização <strong>de</strong> biocombustíveis. O Memorandoprevê transferência <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias e treinamento <strong>de</strong> pessoal entre asduas instituições.145http://www.netl.doe.gov/publications/press/2007/071120-NETL_Signs_Memorandum_with_Brazil.html146http://www.satc.edu.br/siecesc/ver_<strong>no</strong>ticia.asp?evento=73147http://www.satc.edu.br/satc/<strong>no</strong>vo/ver_<strong>no</strong>ticia.asp?area=1&<strong>no</strong>ticia=1047148http://dccit.cefet-rj.br/convacoes.html109


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s14. Departamento <strong>de</strong> Estado14.1. Subsecretaria para Assuntos <strong>de</strong> Eco<strong>no</strong>mia, <strong>Energia</strong> eAgricultura. Ponto focal para implementação do Memorando <strong>de</strong>Entendimento entre os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong> e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> paraavançar a cooperação em biocombustíveis, assinado em março <strong>de</strong> 2007.14.2. Comissão Fulbright para o Intercâmbio Educacionalentre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Criado em 1946, o Programa Fulbrightoferece bolsas <strong>de</strong> estudo, pesquisa e docência para estudantes <strong>de</strong> pós--graduação e professores. No <strong>Brasil</strong>, o Programa existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957.Participam da Comissão Administradora do Programa pesquisadoresda UnB, USP, UFRJ, Embrapa, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia eUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas. O Conselho Diretor é integrado porrepresentantes dos dois Gover<strong>no</strong>s e do setor privado 149 . Em julho <strong>de</strong>2009, o Programa Fulbright organizou o I Curso <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>sobre biocombustíveis, com o objetivo <strong>de</strong> facilitar o intercâmbio entreinstituições <strong>de</strong> educação superior e científicas e outras organizaçõespúblicas e privadas nas áreas <strong>de</strong> biocombustíveis e bioenergia. OPrograma Fulbright é administrado pelo Departamento <strong>de</strong> Estado 150 .15. Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID). OPrograma <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> da USAID para o <strong>Brasil</strong> enfatiza a utilização <strong>de</strong>fontes re<strong>no</strong>váveis: biomassa, biocombustíveis, energia solar e eólica epequenas hidrelétricas. O Programa preten<strong>de</strong>, entre outros objetivos,“build and strengthen the capacity of <strong>no</strong>n-governmental organizations,associations, the private sector, financial institutions, and public entitiesworking in the energy arena, including state and fe<strong>de</strong>ral regulatorybodies” 151 . Com apoio da ONG Winrock International, da firma <strong>de</strong>consultoria ICF International e <strong>de</strong> ONGs brasileiras, a USAID temorganizado missões comerciais, seminários, feiras e <strong>de</strong>monstrações<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas. A Agência estabelece, também, parceriascom instituições brasileiras por meio <strong>de</strong> contratos, doações e acordos<strong>de</strong> cooperação 152 . Em outubro <strong>de</strong> 2009, por exemplo, um consórcio <strong>de</strong>149http://www.fulbright.org.br/comissao2.html150http://www.fea.usp.br/<strong>no</strong>ticias.php?i=262151http://www.usaid.gov/locations/latin_america_caribbean/country/brazil/152http://www.usaid.gov/policy/budget/cbj2005/lac/pdf/512-009.pdf110


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)oito entida<strong>de</strong>s – entre elas a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo,a Socieda<strong>de</strong> Civil Mamirauá e a Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Organizações daSocieda<strong>de</strong> Civil para <strong>Energia</strong>s Re<strong>no</strong>váveis – iniciou a implementação<strong>de</strong> acordo <strong>de</strong> cooperação com a USAID, com duração <strong>de</strong> três a<strong>no</strong>s, para<strong>de</strong>senvolver projetos voltados para mitigação da mudança do clima,redução <strong>de</strong> emissões e eficiência energética 153 .16. Agência <strong>de</strong> Comércio e Desenvolvimento (USTDA). Em junho<strong>de</strong> 2009, o Diretor Regional da USTDA, Nathan Younge, assi<strong>no</strong>u acordopara concessão <strong>de</strong> fundos à empresa MPX <strong>Energia</strong> com vistas à execução<strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> energia a partir <strong>de</strong> resíduos sólidos <strong>no</strong> estadodo Rio <strong>de</strong> Janeiro 154 .17. Comissão Reguladora Nuclear (USNRC). A Comissão assi<strong>no</strong>u,em maio <strong>de</strong> 1976, ajuste com a Comissão Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Nuclear(CNEN) para intercâmbio <strong>de</strong> informações reguladoras e cooperação empesquisa <strong>de</strong> segurança e efeito <strong>de</strong> instalações nucleares <strong>no</strong> meio ambiente.18. Banco <strong>de</strong> Exportação e Importação (U.S. Ex-Im Bank). Emabril <strong>de</strong> 2009, o U.S. Ex-Im Bank conce<strong>de</strong>u linha <strong>de</strong> crédito à Petrobras <strong>no</strong>valor <strong>de</strong> US$ 2 bilhões para financiar a importação <strong>de</strong> bens e serviços dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, necessários para a exploração das reservas petrolíferasdo pré-sal 155 . Em julho <strong>de</strong> 2009, o Banco elevou a oferta <strong>de</strong> crédito paraUS$ 5 bilhões.19. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Houston. Durante visita do Governador <strong>de</strong>Pernambuco, Eduardo Campos, ao Texas, em abril <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong>cidiu-seque a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Houston assinará convênio <strong>de</strong> cooperação técnicacom instituições <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> pernambucanas com vistas à formação <strong>de</strong> mão<strong>de</strong> obra especializada para o mercado <strong>de</strong> energia 156 .153http://www.mamiraua.org.br/<strong>no</strong>ticias.php?cod=143&tipo=<strong>no</strong>ticia154http://embaixada-americana.org.br/in<strong>de</strong>x.php?action=materia&id=8097&submenu=rio.php&itemmenu=163155http://www.acionista.com.br/home/petrobras/290409_aprovada_linha.pdf156http://www.sje.pe.gov.br/in<strong>de</strong>x.php?option=com_content&view=article&id=1831:suape-globalestado-fecha-acordo-com-universida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-houston-&catid=1:latest-news&Itemid=50111


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s20. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Michigan. Assi<strong>no</strong>u convênio com oIDEAAS (Instituto para o Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Alternativa eda Autossustentabilida<strong>de</strong>), sediado em Porto Alegre, para execução doprojeto Farol do Sol, que preten<strong>de</strong> estimular o uso da energia solar naindústria <strong>de</strong> pesca do camarão <strong>no</strong>s estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e SantaCatarina 157 .21. Universida<strong>de</strong> Estadual da Flórida. Assi<strong>no</strong>u convênio <strong>de</strong>cooperação científica com a Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, quecontempla pesquisas conjuntas nas áreas <strong>de</strong> energias re<strong>no</strong>váveis ealternativas, células a combustível, otimização <strong>de</strong> sistemas energéticos,conservação, energia e meio ambiente, entre outras.22. <strong>Setor</strong> privado22.1. Petróleo e gás natural. A Petrobras atua na exploração eprodução <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987,quando adquiriu participações da Texaco em blocos na região do Golfodo México. A Petrobras America Inc. (PAI), filial sediada em Houston,<strong>no</strong> Texas, respon<strong>de</strong> pelo maior programa <strong>de</strong> investimentos da Petrobrasem país estrangeiro. Várias empresas <strong>no</strong>rte-americanas participam daexploração petrolífera <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A Exxon Mobil é empresa operadora dobloco BM-S-22 (poço Azulão), da região do pré-sal, em parceria com a<strong>no</strong>rte-americana Amerada Hess (40%) e a Petrobras (20%). A Chevro<strong>no</strong>pera o campo <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>, na Bacia <strong>de</strong> Campos, em parceria com a Petrobras(30%) e o consórcio Fra<strong>de</strong> Japão (18,3%); a Chevron i<strong>de</strong>ntificou estrutura<strong>de</strong> pré-sal <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong> e tem participação em outros blocos naBacia <strong>de</strong> Campos, operados pela Petrobras e pela Shell. A Devon Energy,uma das maiores produtoras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos EUA, opera o campo <strong>de</strong>Polvo, <strong>de</strong>scoberto <strong>no</strong> bloco BM-C-8, na Bacia <strong>de</strong> Campos. A El Paso,produtora in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, adquiriu o bloco BM-CAL (campo <strong>de</strong> Pinaúna),<strong>no</strong> sul da Bahia; a Anadarko, outra produtora in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos EUA,opera o bloco BM-C-30 na camada pré-sal da Bacia <strong>de</strong> Campos, emparceria com a Devon Energy (25%), a cana<strong>de</strong>nse EnCana (25%) e asul-coreana SK (20%). No setor <strong>de</strong> gás natural, a Praxair, controladora da157http://floripamanha.org/2008/05/energia-solar-<strong>no</strong>-brasil/112


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)White Martins, participou da construção do terminal <strong>de</strong> regaseificação <strong>de</strong>GNL, na Baía da Guanabara, em parceria com a Petrobras. A Praxair é amaior empresa dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> gases industriais, pioneira<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> GNL (Gás NaturalLiquefeito). A Baker Hugues, fornecedora <strong>de</strong> equipamentos, serviços esoftware para a indústria petrolífera, assi<strong>no</strong>u acordo <strong>de</strong> cooperação coma Petrobras, em julho <strong>de</strong> 2009, para <strong>de</strong>senvolver tec<strong>no</strong>logias voltadaspara a exploração dos poços do pré-sal.22.2 Biocombustíveis. Nos últimos a<strong>no</strong>s, várias empresas egrupos financeiros dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> passaram a investir <strong>no</strong> setor <strong>de</strong>biocombustíveis do <strong>Brasil</strong>, sobretudo por meio da aquisição <strong>de</strong> usinas. Entreoutros exemplos, citem-se: a empresa Infinity Bio-Energy, controlada pelogrupo Kidd & Company e pelo Bank of America Merrill Lynch, comprou,em 2006, as usinas Coopernavi, <strong>no</strong> Mato Grosso do Sul; Alcana, em MinasGerais; e Cridasa, <strong>no</strong> Espírito Santo. Também em 2006, a Cargill comprou63% da Usina <strong>de</strong> Açúcar e Álcool Cevasa, na região <strong>de</strong> Ribeirão Preto. ABunge, conglomerado do setor <strong>de</strong> alimentos, com se<strong>de</strong> <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> NovaYork, adquiriu a usina Santa Juliana, <strong>no</strong> Triângulo Mineiro, em 2007, ea usina Monte Ver<strong>de</strong>, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, em 2008. Osfundos <strong>de</strong> investimento Global Foods, Carlyle/Riverstone, Goldman Sachs eDiscovery Capital celebraram parceria com a Santelisa Vale, em 2007, paraconstituição da Companhia Nacional <strong>de</strong> Açúcar e Álcool. Posteriormente,em outubro <strong>de</strong> 2009, o grupo francês Louis Dreyfus assumiu o controleacionário da Santelisa Vale. Em 2008, a ADM (Archer Daniels Midland),maior empresa processadora <strong>de</strong> grãos dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, adquiriu 80%da Usina <strong>de</strong> Açúcar e <strong>de</strong> Álcool Jataí Ltda, em Goiás, e 49% da empresaCabrera Central Energética Açúcar e Álcool, em Limeira do Oeste, MinasGerais. Analistas <strong>de</strong> mercado avaliam que o processo <strong>de</strong> consolidação dosetor sucroalcooleiro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>verá continuar <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s, compossível participação <strong>de</strong> empresas petrolíferas <strong>no</strong>rte-americanas e europeias.C – Formulação e execução da política energética durante aAdministração George W. BushEm 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001, o Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush <strong>no</strong>meou oSenador Spencer Abraham para o cargo <strong>de</strong> Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Emseguida, criou o National Energy Policy Development Group (NEPD),113


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sgrupo <strong>de</strong> trabalho ao qual foi atribuída a tarefa <strong>de</strong> elaborar recomendaçõespara a política energética da Administração republicana. Coor<strong>de</strong>nado peloVice-Presi<strong>de</strong>nte Richard Cheney e integrado por altas autorida<strong>de</strong>s doExecutivo, entre os quais os Secretários <strong>de</strong> Estado, do Tesouro, do Interior,da Agricultura, do Comércio, dos Transportes e <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, o NEPD(que se tor<strong>no</strong>u conhecido como Energy Task Force) produziu extensorelatório sobre o setor energético dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Capítulo I (Takingstock – Energy challenges facing the United States) traçou pa<strong>no</strong>rama dosetor energético e apontou os <strong>de</strong>safios imediatos, inclusive <strong>no</strong> contextoda América do Norte. Os seis capítulos seguintes trataram dos aspectosdomésticos da política energética: a mitigação do impacto dos preços daenergia; saú<strong>de</strong> e meio ambiente; conservação e eficiência; incrementoda produção doméstica; maior uso das fontes alternativas e re<strong>no</strong>váveis/diversificação; e infraestrutura energética. O Capítulo VIII (StrengtheningGlobal Alliances – Enhancing National Energy Security and InternationalRelationships) apresentou recomendações sobre como promover asegurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> por meio do fortalecimento dasparcerias internacionais 158 .A estratégia e os objetivos da National Energy Policy (NEP)foram explicitados pelo Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, em março<strong>de</strong> 2001, durante a cerimônia <strong>de</strong> posse do Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>,Spencer Abraham:Our objective should <strong>no</strong>t only be to manage the current situation, but toavoid any crisis in the first instance. This requires a four-part strategy;first to make energy security a priority of our foreign policy, by restoringAmerican credibility with overseas suppliers and building strongrelationships with energy-producing nations in our hemisphere. Second,to encourage environmentally-friendly exploration and production ofdomestic energy sources, like oil, natural gas and coal. Third, to promotethe production of electricity, to keep pace with America’s growing<strong>de</strong>mands. Fourth, to support the <strong>de</strong>velopment of cost-effective alternativeenergy sources. The goals of this strategy are clear, to ensure a steadysupply of affordable energy for America’s homes and businesses and158http://www.wtrg.com/EnergyReport/National-Energy-Policy.pdf114


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)industries, and to work toward the day when America achieves energyin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce 159 .Os trabalhos do Energy Task Force foram duramente criticados. OGeneral Accounting Office (GAO), órgão <strong>de</strong> investigação do Congresso,instaurou processo contra a Administração Bush, alegando influênciain<strong>de</strong>vida <strong>de</strong> empresas privadas sobre a formulação da política energéticanacional. A reação parlamentar antecipou dificulda<strong>de</strong>s que o Gover<strong>no</strong>republica<strong>no</strong> enfrentaria, uma vez que boa parte das recomendações daNEP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> aprovação legislativa. Em junho <strong>de</strong> 2001, o Presi<strong>de</strong>nteGeorge W. Bush solicitou apoio ao Congresso para executar ações nasseguintes áreas 160 :1) Mo<strong>de</strong>rnização e Conservação. O Executivo recomendou, entreoutras medidas, a expansão dos programas <strong>de</strong> eficiência energética, comatenção especial para o setor <strong>de</strong> transporte, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> veículoshíbridos e <strong>de</strong> célula a combustível e a adoção <strong>de</strong> incentivos fiscais paraencorajar a conservação <strong>de</strong> energia;2) Infraestrutura. Com vistas a aten<strong>de</strong>r o crescimento da <strong>de</strong>mandapor eletricida<strong>de</strong> e combustíveis, o Gover<strong>no</strong> Bush ressaltou ser necessárioinvestir <strong>no</strong> aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refi<strong>no</strong> da indústria petrolífera, naconstrução <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos oleodutos e gasodutos (Alaska Natural Gas Pipeline)e na reforma e ampliação das linhas <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>;3) Diversificação das Fontes <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Além dos incentivosfiscais para a exploração <strong>de</strong> fontes re<strong>no</strong>váveis e alternativas – comoos biocombustíveis, a hidreletricida<strong>de</strong> e a energia solar, eólica e dohidrogênio – o Gover<strong>no</strong> Bush <strong>de</strong>fendia a eliminação <strong>de</strong> entraveslegislativos e legais à exploração das fontes tradicionais – petróleo, gásnatural, carvão e energia nuclear;4) Proteção Ambiental. A NEP recomendou a aprovação <strong>de</strong> legislaçãoque estabelecesse metas para redução das emissões <strong>de</strong> três gasespoluentes: dióxido <strong>de</strong> enxofre, mercúrio e óxidos <strong>de</strong> nitrogênio. Sugeriu,também, caso fosse autorizada a exploração petrolífera <strong>no</strong> Arctic NationalWildlife Refuge (ANWR), criar fundo <strong>de</strong> conservação ambiental comrecursos oriundos do pagamento <strong>de</strong> royalties;159http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/03/20010302-7.html160http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/06/energyinit.html115


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s5) Preços da energia. Com vistas a reduzir o impacto dos altos preçosda gasolina, da eletricida<strong>de</strong> e do gás natural sobre o orçamento dasfamílias <strong>de</strong> baixa renda, o Gover<strong>no</strong> Bush sugeriu ampliar o isolamentotérmico (weatherization) <strong>de</strong> residências e prédios públicos, assim comoincrementar fundos para programas fe<strong>de</strong>rais, como o LIHEAP (LowIncome Home Energy Assistance Program).Apesar da maioria republicana <strong>no</strong> Congresso durante o primeiromandato do Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, o Executivo somente obteveapoio para aprovação <strong>de</strong> parte das recomendações contidas na NEP,ainda assim após a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> negociações com as li<strong>de</strong>ranças parlamentares,que culminaram com a aprovação do Energy Policy Act of 2005. O<strong>de</strong>bate acirrado e lento <strong>no</strong> âmbito do Congresso refletia diferençasfundamentais na posição dos Partidos Republica<strong>no</strong> e Democrata arespeito da política energética. Os republica<strong>no</strong>s, por exemplo, <strong>de</strong>fendiamo aumento da produção doméstica <strong>de</strong> carvão, petróleo e gás natural, aconcessão <strong>de</strong> subsídios fiscais às gran<strong>de</strong>s empresas do setor, o recursoà energia nuclear e a abertura <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> exploração petrolífera, sejana plataforma continental, seja em áreas <strong>de</strong> proteção ambiental <strong>no</strong>Alasca. Os <strong>de</strong>mocratas, com maior número <strong>de</strong> parlamentares da bancadaambientalista, bloqueavam sistematicamente propostas <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong><strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração petrolífera. Buscavam, <strong>de</strong> maneira geral,favorecer políticas voltadas para conservação e eficiência energética,redução das emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e estímulo às fontes re<strong>no</strong>váveis(biocombustíveis e energia eólica e solar).A aprovação do Energy Policy Act (EPAct), em julho <strong>de</strong> 2005,dois a<strong>no</strong>s após o gran<strong>de</strong> blecaute que afetou o <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> e o su<strong>de</strong>ste do Canadá, permitiu acelerar a execução da políticaenergética do Gover<strong>no</strong> Bush. Foram concedidos estímulos fiscais(tax reductions) à produção <strong>de</strong> energia nuclear (US$ 4,3 bilhões),combustíveis fósseis (US$ 2,8 bilhões), eletricida<strong>de</strong> (US$ 2,7 bilhões),tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> carvão limpo (US$ 1,6 bilhão), eficiência e conservação(US$ 1,3 bilhão), motores para uso <strong>de</strong> combustíveis alternativos, comoeta<strong>no</strong>l, meta<strong>no</strong>, propa<strong>no</strong> e GNL (US$ 1,3 bilhão). O EPAct of 2005estabeleceu meta obrigatória <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis(Renewable Fuels Standard) <strong>no</strong> volume <strong>de</strong> 4 bilhões <strong>de</strong> galões em 2006,6,1 bilhões em 2009, e 7,5 bilhões em 2012. Proporcio<strong>no</strong>u incentivos àexploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong> Golfo do México e à produção116


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)<strong>de</strong> carvão. Determi<strong>no</strong>u estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> para iniciar a exploraçãocomercial <strong>de</strong> xisto e areias betumi<strong>no</strong>sas (oil shale and tar sands) <strong>no</strong>sestados <strong>de</strong> Colorado, Utah e Wyoming 161 . Por pressão das li<strong>de</strong>ranças<strong>de</strong>mocratas, foi retirado do projeto <strong>de</strong> lei dispositivo que autorizava aexploração petrolífera <strong>no</strong> Arctic National Wildlife Refuge (ANWR). Os<strong>de</strong>mocratas não tiveram êxito, porém, na tentativa <strong>de</strong> aprovar emendasobre o aumento dos padrões <strong>de</strong> eficiência (CAFE Standards) parafabricação <strong>de</strong> veículos automotores.A passagem dos furacões Katrina e Rita pelo Golfo do México, em2005, provocou da<strong>no</strong>s severos à indústria petrolífera dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,contribuindo também para a volatilida<strong>de</strong> dos preços internacionais dopetróleo. Em agosto <strong>de</strong> 2005, o Katrina paralisou as ativida<strong>de</strong>s petrolíferasna costa estaduni<strong>de</strong>nse do Golfo do México, afetando refinarias, plataformase oleodutos. Em resposta ao impacto do Katrina, o Presi<strong>de</strong>nte George W.Bush autorizou o leilão <strong>de</strong> 30 milhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo da SPR (StrategicPetroleum Reserve). Des<strong>de</strong> a Guerra do Golfo, <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 90, oGover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> não recorria à Reserva Estratégica 162 . A AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> liberou a venda <strong>de</strong> 30 milhões <strong>de</strong> barris dos estoquesmantidos por seus países-membros. Em setembro <strong>de</strong> 2005, o furacão Ritaatingiu a região <strong>de</strong> Houston, Texas, principal centro da indústria petrolífera doGolfo do México, paralisando <strong>no</strong>vamente as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e refi<strong>no</strong>.Pressionado pela escalada dos preços do petróleo, o Presi<strong>de</strong>nteGeorge W. Bush, durante o discurso do Estado da União, em janeiro<strong>de</strong> 2006, reconheceu a gravida<strong>de</strong> da crise energética, em particular a<strong>de</strong>pendência do petróleo importado <strong>de</strong> regiões instáveis: “We have aserious problem: America is addicted to oil, which is often importedfrom unstable parts of the world” 163 . Apresentou, em seguida, seu pla<strong>no</strong>para o setor energético, a Advanced Energy Initiative, com propostas <strong>de</strong>ampliar investimentos em tec<strong>no</strong>logias energéticas e estimular a produçãodoméstica <strong>de</strong> petróleo: “The best way to break this addiction is throughtec<strong>no</strong>logy… So tonight, I an<strong>no</strong>unce the Advanced Energy Initiative –a 22 percent increase in clean energy research”. A Advanced EnergyInitiative baseou-se nas recomendações da NEP. Contemplou, além dasfontes re<strong>no</strong>váveis <strong>de</strong> energia, investimentos <strong>no</strong>s setores tradicionais161http://aceee.org/energy/national/legsttus.htm162Department of Energy. Office of Fossil Energy. U.S. Petroleum Reserves.163http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/stateoftheunion/2006/117


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>scomo carvão e energia nuclear: “we will invest more in zero-emissioncoal-fired plants, revolutionary solar and wind tech<strong>no</strong>logies, and clean,safe nuclear energy”. O Presi<strong>de</strong>nte Bush anunciou, também, a ampliaçãodos recursos orçamentários do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (DOE) parapesquisa do eta<strong>no</strong>l celulósico: “Our goal is to make this new kind ofetha<strong>no</strong>l practical and competitive within six years”. Bush ressaltou,ainda, a disposição do Executivo <strong>de</strong> reduzir a <strong>de</strong>pendência do petróleoimportado do Oriente Médio: “Breakthroughs on this and other newtech<strong>no</strong>logies will help us reach a<strong>no</strong>ther great goal: to replace more than75 percent of our oil imports from the Middle East by 2025”.Em vários discursos, o Presi<strong>de</strong>nte Bush caracterizou a <strong>de</strong>pendênciaexcessiva dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em relação ao petróleo importado <strong>de</strong>regiões instáveis como questão <strong>de</strong> segurança nacional. Dirigindo-seaos membros da Renewable Fuels Association, durante reunião emWashington D.C., em abril <strong>de</strong> 2006, o Presi<strong>de</strong>nte Bush afirmou que:Addiction to oil is a matter of national security concerns. After all, todaywe get about 60 percent of our oil from foreign countries… Now, part ofthe problem is that some of the nations we rely on for oil have unstablegovernments, or agendas that are hostile to the United States. Thesecountries k<strong>no</strong>w we need their oil, and that reduces our influence, ourability to keep the peace in some areas. And so energy supply is a matterof national security. It’s also a matter of eco<strong>no</strong>mic security 164 .Com vistas a reduzir a <strong>de</strong>pendência do petróleo importado do OrienteMédio, o Gover<strong>no</strong> republica<strong>no</strong> <strong>de</strong>fendia a abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong>exploração <strong>no</strong> território dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em particular <strong>no</strong> estadodo Alasca e na plataforma continental. Buscava, também, por meio <strong>de</strong>parcerias internacionais, estimular a produção petrolífera em países nãopertencentes à OPEP, <strong>de</strong> preferência com ampla liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuaçãopara as gran<strong>de</strong>s companhias privadas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.A vitória do Partido Democrata nas eleições parlamentares <strong>de</strong><strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2006 sinalizou mudanças na formulação da políticaenergética. Em janeiro <strong>de</strong> 2007, os <strong>de</strong>mocratas assumiram o controle <strong>de</strong>comitês legislativos relevantes, como o House Energy and Commerce164http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2006/04/20060425-2.html118


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)Committee, cuja presidência coube a John Dingell, do estado <strong>de</strong> Michigan,parlamentar vetera<strong>no</strong>, que teve papel <strong>de</strong>cisivo na investigação do GAO arespeito dos trabalhos do Energy Task Force. No Senado, o Energy andNatural Resources Committee passou a ser presidido por Jeff Bingaman,<strong>de</strong>mocrata do Novo México. A <strong>no</strong>va composição <strong>de</strong> forças <strong>no</strong> Congressolimitou a capacida<strong>de</strong> da Administração Bush para <strong>de</strong>terminar os rumosda política energética. Com maioria <strong>no</strong> Congresso, o Partido Democratapressionaria pela aprovação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> estímulo às fontes re<strong>no</strong>váveis ealternativas, <strong>de</strong> conservação, eficiência energética e redução das emissões<strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, além da manutenção das restrições à exploração petrolíferaem áreas ambientalmente sensíveis. A vitória <strong>de</strong>mocrata representou,além disso, impulso adicional ao setor <strong>de</strong> biocombustíveis, graças àsubstituição dos republica<strong>no</strong>s sulistas pelos Corn Belt <strong>de</strong>mocrats nachefia dos comitês agricolas. O Senador Tom Harkin, <strong>de</strong> Iowa, assumiua chefia do Comitê <strong>de</strong> Agricultura, Nutrição e Exploração Florestal. NaCâmara, o Deputado Collin Peterson, <strong>de</strong> Minnesota, obteve a chefia doComitê <strong>de</strong> Agricultura.A política energética voltou a ocupar posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>no</strong> discursodo Estado da União, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007. Mais uma vez, Bush ressaltouos riscos da <strong>de</strong>pendência em relação ao petróleo importado <strong>de</strong> regimeshostis:For too long, our Nation has been <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on oil. America’s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nceleaves us more vulnerable to hostile regimes, and to terrorists – whowould cause huge disruptions of oil shipments, raise the price of oil,and do great harm to our eco<strong>no</strong>my. It’s in our vital interest to diversifyAmerica’s energy supply 165 .Com vistas a reduzir em 20% o consumo <strong>de</strong> gasolina <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> 10 a<strong>no</strong>s (pla<strong>no</strong> Twenty in Ten), o Presi<strong>de</strong>nte solicitouao Congresso apoio para as seguintes medidas 166 :1) Incremento da meta obrigatória para mistura <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l à gasolinaconsumida <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, prevista <strong>no</strong> RFS, com o propósito <strong>de</strong>atingir, <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> 10 a<strong>no</strong>s, o nível <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> 35 bilhões <strong>de</strong> galões165http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/01/20070123-2.html166http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/stateoftheunion/2007/initiatives/energy.html119


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Segundo o Gover<strong>no</strong>, tal medida resultaria na substituição <strong>de</strong>cerca <strong>de</strong> 15% da gasolina consumida <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em 2017;2) Ampliação da abrangência do padrão <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis(RFS), que passaria a <strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se padrão <strong>de</strong> combustíveis alternativos(Alternative Fuel Standard – AFS), incluindo o eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho, eta<strong>no</strong>lcelulósico, biodiesel, meta<strong>no</strong>l, buta<strong>no</strong>l, hidrogênio e outras fontesalternativas;3) Elevação dos padrões <strong>de</strong> eficiência para fabricação <strong>de</strong> veículosautomotores (CAFE Standards) para carros, veículos leves e <strong>de</strong>passageiros, com o objetivo <strong>de</strong> reduzir o consumo <strong>de</strong> gasolina em cerca<strong>de</strong> 8 bilhões <strong>de</strong> galões até 2017;4) Aumento da capacida<strong>de</strong> da Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo (SPR)a fim <strong>de</strong> atingir o nível <strong>de</strong> 1,5 bilhão <strong>de</strong> barris até 2027, suficiente paraaten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> importação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> durante 97dias;5) Construção do gasoduto do Alasca (Alaska Natural Gas Pipeline),que teria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportar 4 bcf (billion cubic feet) diários,equivalente a 7% do nível <strong>de</strong> consumo dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>;6) Autorização para ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração e produção <strong>de</strong> petróleoe gás natural <strong>no</strong> Arctic National Wildlife Refuge (ANWR), área <strong>de</strong>proteção ambiental localizada <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte do Alasca;7) Adoção <strong>de</strong> medidas para encorajar investimentos na ampliaçãoda capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refi<strong>no</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.O projeto <strong>de</strong> lei sobre política energética (Energy Bill) foi objeto <strong>de</strong>intensas negociações, <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> 2007, que envolveram li<strong>de</strong>rançasparlamentares, representantes do Executivo, ambientalistas, setorprivado e grupos <strong>de</strong> pressão. Os <strong>de</strong>mocratas pretendiam incluir nalegislação pacote <strong>de</strong> incentivos fiscais para pesquisa e produção <strong>de</strong>energia re<strong>no</strong>vável, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 28,5 bilhões. Parte dos recursosviria da cobrança <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos impostos sobre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração<strong>de</strong> petróleo e gás natural. A iniciativa enfrentou forte oposição dasempresas petrolíferas e não prosperou. Dispositivos apresentadospelos <strong>de</strong>mocratas – que cancelavam incentivos fiscais (tax reductions)concedidos às companhias <strong>de</strong> petróleo e gás natural, previstos <strong>no</strong> EPActof 2005 – tampouco foram mantidos <strong>no</strong> documento final. Em <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 2007, o Congresso aprovou o Energy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and Security Act(EISAct). O EISAct of 2007 incorporou recomendações do Executivo120


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)relativas à meta <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis e aos padrões<strong>de</strong> eficiência para fabricação <strong>de</strong> veículos, mas não autorizou a abertura <strong>de</strong><strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração petrolífera, tampouco <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u a elevaçãodo nível da Reserva Estratégica <strong>de</strong> Petróleo (SPR), conforme <strong>de</strong>fendidopelo Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush. Dentre as principais medidas aprovadaspelo EISAct of 2007, citem-se 167 :1) Elevação da meta <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis ealternativos (Renewable Fuels Standard). Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>verãoadicionar à oferta <strong>de</strong> gasolina, até 2022, cerca <strong>de</strong> 36 bilhões <strong>de</strong> galões<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, dos quais 21 bilhões <strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r a biocombustíveisavançados;2) Elevação dos CAFE Standards. O EISAct of 2007 <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>uaumento <strong>de</strong> 40% dos padrões <strong>de</strong> eficiência para fabricação <strong>de</strong> carros eveículos leves. Preten<strong>de</strong>-se alcançar a marca <strong>de</strong> 35 milhas por galão até2020. Foi a primeira vez que ocorreu elevação dos CAFE Standards,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que foram estabelecidos em 1975;3) Aprovação <strong>de</strong> incentivos fiscais, da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 2,2 bilhões,para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> carvãolimpo (clean coal tech<strong>no</strong>logies), que possibilitariam redução <strong>de</strong> emissões<strong>de</strong> gases poluentes oriundas das usinas <strong>de</strong> carvão;4) Estabelecimento <strong>de</strong> padrões rígidos <strong>de</strong> eficiência para ofuncionamento <strong>de</strong> eletrodomésticos; estímulos à aquisição <strong>de</strong> produtoselétricos mais eficientes pelas agências fe<strong>de</strong>rais; redução do consumo<strong>de</strong> energia elétrica em prédios fe<strong>de</strong>rais;5) Estímulos para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> baterias avançadaspara fabricação <strong>de</strong> veículos elétricos e híbridos; garantias <strong>de</strong> empréstimoe outros incentivos para fabricação <strong>de</strong> veículos mais eficientes, com uso<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias avançadas;Antes do final <strong>de</strong> seu segundo mandato, o Presi<strong>de</strong>nte George W.Bush realizaria <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira tentativa <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> ampliar as áreas <strong>de</strong>exploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong> território dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,medida que, na sua avaliação, contribuiria para reduzir a <strong>de</strong>pendência dopetróleo importado do Oriente Médio, além <strong>de</strong> representar <strong>no</strong>va fronteira<strong>de</strong> expansão para as gran<strong>de</strong>s companhias privadas. Em junho <strong>de</strong> 2008,<strong>no</strong> auge da crise petrolífera, com o preço do barril <strong>de</strong> óleo leve (West167http://www.aceee.org/energy/national/07nrgleg.htm121


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sTexas Intermediate) negociado na Bolsa <strong>de</strong> Nova York (NYMEX) porvalor superior a US$ 130, o Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush reiterou apelopelo aumento da produção doméstica <strong>de</strong> petróleo. Em discurso na CasaBranca, reconheceu que, <strong>no</strong> longo prazo, a solução para os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> seria reduzir a <strong>de</strong>manda mediante a pesquisa tec<strong>no</strong>lógica e oestímulo a fontes alternativas <strong>de</strong> energia. No curto prazo, porém, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> continuariam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do consumo <strong>de</strong> petróleo, o queexigiria a expansão da produção interna. Bush recomendou ao Congressoadotar quatro providências 168 :1) Ampliar acesso às reservas <strong>de</strong> hidrocarbonetos da plataformacontinental (Outer Continental Shelf – OCS). O Congresso restringiu asativida<strong>de</strong>s petrolíferas na OCS <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos a<strong>no</strong>s 80. Em julho <strong>de</strong>2008, o Presi<strong>de</strong>nte Bush revogou restrições impostas pelo Executivo ainda<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90, durante o Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> George H. Bush (prorrogadas peloPresi<strong>de</strong>nte Bill Clinton), as quais bloqueavam a exploração petrolífera namaior parte da plataforma continental. Permaneceu vigente a proibiçãoadministrativa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s petrolíferas em santuários marítimos e <strong>no</strong>litoral da Flórida;2) Promover a exploração das reservas <strong>de</strong> xisto betumi<strong>no</strong>so. Em seudiscurso, Bush confirmou que, <strong>no</strong>s estados <strong>de</strong> Utah, Colorado e Wyoming,os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> contam com reserva <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> xisto, equivalente a800 bilhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo, três vezes o total das reservas provadasda Arábia Saudita, plenamente recuperáveis com uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logiasdisponíveis <strong>no</strong> mercado;3) Autorizar ativida<strong>de</strong>s petrolíferas <strong>no</strong> Arctic National WildlifeRefuge (ANWR). Quando o Refúgio foi criado, em 1980, em área <strong>de</strong>19 milhões <strong>de</strong> acres <strong>no</strong> estado do Alasca, o Congresso reservou parcela<strong>de</strong> 2.000 acres para exploração petrolífera. Bush assegurou que, casoautorizada a exploração, somente esse peque<strong>no</strong> trecho po<strong>de</strong>ria produzircerca <strong>de</strong> 10 bilhões <strong>de</strong> barris, o equivalente a duas décadas <strong>de</strong> petróleoimportado da Arábia Saudita;4) Aprovar medidas para ampliar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refi<strong>no</strong>. Nos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, os investimentos para construção <strong>de</strong> refinarias foram paralisadosdurante a<strong>no</strong>s; a ameaça <strong>de</strong> processos judiciais por causa dos impactosambientais das refinarias resultou na elevação dos custos para expandir168http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2008/06/20080618.html122


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)ou alterar as instalações. Em 2008, entrou em operação a refinaria <strong>de</strong>Douglas, <strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Wyoming. A última refinaria havia sido construída<strong>no</strong> Alabama, em 1998.As restrições legislativas à exploração <strong>de</strong> petróleo e gás naturalna plataforma continental (OCS) expiraram <strong>no</strong> final <strong>de</strong> 2008, o quepossibilitou ao Presi<strong>de</strong>nte Bush apresentar, dias antes do final <strong>de</strong> seumandato, proposta para a abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração emalto-mar. Em fevereiro <strong>de</strong> 2009, o Presi<strong>de</strong>nte Barack Obama suspen<strong>de</strong>uos pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> expansão da produção offshore 169 . Determi<strong>no</strong>u, emseguida, que o Departamento do Interior realizasse, <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> seismeses, reavaliação das reservas <strong>de</strong> petróleo e gás natural da plataformacontinental e promovesse consultas com autorida<strong>de</strong>s dos estados dasCostas Leste e Oeste, Golfo do México e Alasca, com representantes daindústria e <strong>de</strong> grupos ambientalistas, para subsidiar eventual <strong>de</strong>cisão sobreo tema. Sinais <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> por parte do Executivo quanto à questãopetrolífera surgiram em outubro <strong>de</strong> 2009, quando o Serviço <strong>de</strong> ControleMineral (MMS), órgão do Departamento do Interior, autorizou a Shella dar início à exploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong> mar <strong>de</strong> Beaufort,a <strong>no</strong>rte do Alasca 170 .D – Recomendações da NEP (National Energy Policy) sobresegurança energética e parcerias internacionaisO Capítulo VIII da National Energy Policy, intitulado StrengtheningGlobal Alliances – Enhancing National Energy Security and InternationalRelationships, contém as linhas gerais da estratégia seguida pelo Gover<strong>no</strong>George W. Bush para orientar as relações externas na área <strong>de</strong> energia. Deacordo com o documento, a segurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> seriaindissociável do ambiente internacional, em particular <strong>no</strong> que diz respeitoao mercado do petróleo. As recomendações da NEP baseavam-se em doispressupostos principais. Em primeiro lugar, a segurança energética dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria da garantia do fornecimento <strong>de</strong> recursosenergéticos em volume suficiente para sustentar o crescimento econômico169The Guardian. “US interior secretary halts offshore drilling plan”. Publicado em 11 <strong>de</strong>fevereiro <strong>de</strong> 2009.170The Guardian. “US gives Shell green light for offshore oil drilling in the Arctic”. Publicadoem 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2009.123


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>snão apenas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, mas também <strong>de</strong> seus parceiroscomerciais. Dessa forma, além <strong>de</strong> assegurar o aumento da produçãodoméstica, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>veriam engajar-se internacionalmentecom vistas a favorecer o aumento da oferta global <strong>de</strong> energia:U.S. energy and eco<strong>no</strong>mic security are directly linked <strong>no</strong>t only to ourdomestic and international energy supplies, but to those of our tradingpartners as well. A significant disruption in world oil supplies couldadversely affect our eco<strong>no</strong>my […] regardless of the level of U.S.<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce on oil imports 171 .Em segundo lugar, a adoção <strong>de</strong> políticas energéticas baseadas <strong>no</strong>smecanismos <strong>de</strong> livre mercado produziria melhores resultados para os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em termos <strong>de</strong> segurança energética. Ou seja, o Gover<strong>no</strong>George W. Bush <strong>de</strong>veria reforçar ações voltadas para a liberalizaçãodos mercados e para a promoção <strong>de</strong> marcos regulatórios estáveis <strong>no</strong>ssetores <strong>de</strong> energia. Com vistas a lograr os objetivos da política energéticanacional, os formuladores da NEP recomendaram 172 :1) Conferir priorida<strong>de</strong> à segurança energética <strong>no</strong> contexto das políticasexterna e <strong>de</strong> comércio internacional. A estabilida<strong>de</strong> da oferta <strong>de</strong> petróleo,segundo a NEP, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> arranjos econômicos e diplomáticos comos principais fornecedores dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em particular medianteacordos <strong>de</strong> livre comércio e <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> investimentos, integração dainfraestrutura energética, construção <strong>de</strong> gasodutos, compromissos sobrequestões <strong>de</strong> segurança, investimentos recíprocos <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia egarantias para fornecimento <strong>de</strong> longo prazo;2) Reivindicar maior transparência na divulgação <strong>de</strong> informaçõessobre o mercado internacional <strong>de</strong> petróleo. O bom funcionamentodos mercados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados atualizados eabrangentes sobre oferta, <strong>de</strong>manda e nível <strong>de</strong> preços. A volatilida<strong>de</strong>do mercado petrolífero evi<strong>de</strong>nciaria, nesse sentido, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umsistema aperfeiçoado <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> informações. O Energy Task Forcerecomendou aos Departamentos <strong>de</strong> Estado, <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e <strong>de</strong> Comérciopromover diálogo e intercâmbio <strong>de</strong> informações com os países produtores171National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 3.172http://www.wtrg.com/EnergyReport/National-Energy-Policy.pdf124


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)<strong>de</strong> petróleo <strong>de</strong> maneira a garantir maior transparência e exatidão dosdados que orientam o funcionamento dos mercados globais, em particularaqueles referentes ao nível <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> inventários, com o propósito<strong>de</strong> reduzir a volatilida<strong>de</strong> dos preços do petróleo;3) Promover a liberalização e a abertura dos mercados <strong>de</strong> energiaao comércio e aos investimentos internacionais. Garantir a proteçãodos investimentos e a ampliação do comércio entre países produtorese consumidores <strong>de</strong> petróleo constitui objetivo fundamental da políticaenergética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Energy Task Force recomendouorientar a participação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na APEC (Asia-PacificEco<strong>no</strong>mic Cooperation), OECD (Organization for Eco<strong>no</strong>mic Cooperationand Development), WTO (WTO Energy Services Negotiations),FTAA (Free Tra<strong>de</strong> Area of the Americas) e em parcerias energéticasbilaterais <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> negociar regras claras, abertas e transparentessobre investimentos, <strong>de</strong> maneira a promover a atuação das empresasestaduni<strong>de</strong>nses e reduzir barreiras ao comércio. Sugeriu, também, queos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ssem, na OMC, a liberalização <strong>de</strong> todo oespectro dos serviços <strong>de</strong> energia, da exploração ao consumidor final.O objetivo seria criar ambiente regulatório pró-competição, <strong>de</strong> forma agarantir o acesso das empresas estaduni<strong>de</strong>nses <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviçosaos mercados nacionais;4) Diversificar a oferta global <strong>de</strong> petróleo. O Energy Task Forcei<strong>de</strong>ntificou três regiões prioritárias: as Américas e o Caribe, a Áfricae o Mar Cáspio. A produção <strong>de</strong> óleos leves e pesados nessas regiõesconstituiria fator <strong>de</strong>terminante para reduzir o impacto <strong>de</strong> eventuaisinterrupções da oferta global. De acordo com a NEP, os avançostec<strong>no</strong>lógicos permitirão aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> acelerar a diversificação dofornecimento <strong>de</strong> petróleo, sobretudo através da exploração e produçãomarítima em águas profundas na Bacia do Atlântico, em uma faixa quese esten<strong>de</strong> do litoral do Canadá ao Caribe, <strong>Brasil</strong> e África Oci<strong>de</strong>ntal.O Energy Task Force recomendou, nesse contexto, maior engajamentocom os Gover<strong>no</strong>s do Cazaquistão e da Rússia (<strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> Grupos <strong>de</strong>Trabalho já existentes) e com os países america<strong>no</strong>s (<strong>Brasil</strong>, México,Venezuela e Canadá) com vistas a elevar o nível da produção petrolíferamundial;5) Promover a exportação <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong>senvolvidas pelos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> na área <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável. No início da Administração Bush,125


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>scriou-se Grupo <strong>de</strong> Trabalho (The Clean Energy Tech<strong>no</strong>logy ExportsWorking Group), integrado pela USAID e pelos Departamentos <strong>de</strong>Comércio e <strong>Energia</strong>, para elaborar pla<strong>no</strong> estratégico voltado para aexportação <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas. O Energy Task Force recomendouao Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r soluções <strong>de</strong> mercado para osproblemas ambientais, em particular a adoção <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias “limpas”em escala global, <strong>de</strong> maneira a reduzir a competição por recursospetrolíferos e proporcionar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e investimentospara as empresas estaduni<strong>de</strong>nses. Em coor<strong>de</strong>nação com o setor privado,a Administração Bush <strong>de</strong>veria promover, <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> instituiçõesfinanceiras e organismos internacionais, como OCDE, ONU, AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (AIE), G-8, Banco Mundial e BID, estratégiavoltada para a difusão e a comercialização das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável;6) Patrocinar, <strong>no</strong> âmbito da política sobre mudança do clima, apesquisa e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, a liberalizaçãodos mercados e a cooperação com os países em <strong>de</strong>senvolvimento. OEnergy Task Force enfatizou que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> po<strong>de</strong>riam reduziro ritmo do aquecimento global, assim como atenuar a competição pelosrecursos petrolíferos, valendo-se <strong>de</strong> políticas domésticas voltadas paramaior eficiência energética, assim como da cooperação internacional,sobretudo com os gran<strong>de</strong>s países em <strong>de</strong>senvolvimento, os quais seriamincentivados a adotar tec<strong>no</strong>logias energéticas avançadas, <strong>de</strong>senvolvidas<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, práticas <strong>de</strong> gerenciamento do setor energético epolíticas baseadas <strong>no</strong> livre mercado;7) Estimular a produção e o consumo <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveise alternativos em escala global, com ênfase <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> transportes. Deacordo com o Energy Task Force, a <strong>de</strong>manda por petróleo <strong>no</strong>s países em<strong>de</strong>senvolvimento, principalmente na China e na Índia, cresceria em ritmotrês vezes maior do que <strong>no</strong>s países da OCDE até 2020. O setor <strong>de</strong> transportesrespon<strong>de</strong>ria pela maior parte do aumento do consumo e seria necessárioum esforço <strong>de</strong> cooperação internacional para incrementar a eficiênciaenergética e para estimular a utilização <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis emveículos automotores. A NEP recomendou, nesse contexto, intensificar odiálogo com a União Europeia sobre temas energéticos e promover, <strong>no</strong>âmbito do G-8, esforços coor<strong>de</strong>nados sobre o tema da segurança energética,inclusive mediante reuniões anuais dos Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>;126


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)8) Manter coor<strong>de</strong>nação com os países-membros da AgênciaInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (AIE) com vistas a garantir capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reaçãocoletiva diante <strong>de</strong> eventuais interrupções na oferta global <strong>de</strong> petróleo.Segundo o Energy Task Force, a vulnerabilida<strong>de</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>às oscilações do fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> petróleo aumentaria à medidaem que <strong>de</strong>clinassem os estoques comerciais e estratégicos, mantidospor agentes privados e pelos países-membros da AIE. Dessa forma, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>veriam garantir que os estoques fossem mantidosem nível a<strong>de</strong>quado, equivalente a 90 dias ou mais <strong>de</strong> importaçõeslíquidas, conforme <strong>de</strong>terminado pela Agência. Os formuladores da NEPrecomendaram ao Gover<strong>no</strong> Bush utilizar os estoques <strong>de</strong> petróleo da SPR(Strategic Petroleum Reserve) exclusivamente <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> interrupçãoda oferta, e não para infuenciar o nível dos preços. Sugeriram, também,que o Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> estimulasse países não membros da OCDE,com elevado consumo <strong>de</strong> petróleo, em particular na Ásia, a estabeleceremestoques estratégicos para enfrentar situações <strong>de</strong> emergência;9) Estabelecer parcerias energéticas com gran<strong>de</strong>s países produtores<strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>de</strong> maneira a lograr estabilida<strong>de</strong> na oferta <strong>de</strong>combustíveis para o mercado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. As parcerias energéticasserviriam, também, para fomentar a adoção <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> livre mercadoe o estabelecimento <strong>de</strong> regras estáveis e transparentes para a realização<strong>de</strong> investimentos <strong>no</strong> setor energético. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>scomerciais para empresas estaduni<strong>de</strong>nses <strong>de</strong>veria constituir, <strong>no</strong> âmbito dapolítica energética, objetivo prioritário: “American energy firms remainworld lea<strong>de</strong>rs, and their investments in energy producing countriesenhance efficiencies and market linkages while increasing environmentalprotections […] Promoting such investment will be a core element ofour engagement with major foreign oil producers” 173 .Com vistas a reduzir a <strong>de</strong>pendência por parte dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>do petróleo importado <strong>de</strong> regiões politicamente instáveis, como oOriente Médio, o Energy Task Force ressaltou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevar aprodução <strong>de</strong> petróleo dos países das Américas e do Caribe (ou HemisférioOci<strong>de</strong>ntal, segundo a termi<strong>no</strong>logia oficial <strong>no</strong>rte-americana). Enfatizou,nesse sentido, o peso estratégico da região <strong>de</strong>corrente da expansão doconsumo energético e da existência <strong>de</strong> amplas reservas <strong>de</strong> óleo pesado:173National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 6.127


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sWe need to strengthen our tra<strong>de</strong> alliances, to <strong>de</strong>epen our dialogue withmajor oil producers, and to work for greater oil production in the WesternHemisphere [...] The ongoing <strong>de</strong>velopment of so-called “heavy oil”reserves in the Western Hemisphere is an important factor that promisesto significantly enhance global oil reserves and production diversity [...]Latin America and the Caribbean are growing <strong>no</strong>t only as major producingregions, but also as major consumers of oil and natural gas [...] 174 .Os países das Américas e do Caribe respon<strong>de</strong>m por parte significativado fornecimento <strong>de</strong> hidrocarbonetos para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em 2008,o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal proporcio<strong>no</strong>u quase meta<strong>de</strong> da oferta externa<strong>de</strong> petróleo (49%), seguido por África (19%), Golfo Pérsico (18%) eoutras regiões (14%). Na relação dos principais fornecedores <strong>de</strong> petróleoe <strong>de</strong>rivados, em 2008, <strong>de</strong>stacaram-se: Canadá, com 2,493 milhões <strong>de</strong>barris diários (1º lugar); México, 1,302 milhão <strong>de</strong> b/d (3º); Venezuela,1,189 milhão <strong>de</strong> b/d (4º); <strong>Brasil</strong>, 258 mil b/d (10º); Equador, 221 mil b/d(12º); e Colômbia, 200 mil b/d (13º). O Canadá é maior exportador <strong>de</strong> gásnatural para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, com quase 90% do total (2008). Trinida<strong>de</strong> Tobago é o principal fornecedor <strong>de</strong> Gás Natural Liquefeito (75%, em2008) 175 . O Energy Task Force formulou comentários específicos sobrealguns países com potencial para aumento das exportações <strong>de</strong> petróleoe gás natural.CanadáO Canadá é o principal fornecedor <strong>de</strong> energia para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,aspecto ressaltado pela NEP: “Canada’s <strong>de</strong>regulated energy sector has becomeAmerica’s largest overall energy trading partner, and our leading foreignsupplier of natural gas, oil, and electricity” 176 . O Canadá tem longa tradição<strong>de</strong> abertura aos investimentos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Com as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong>petróleo em Leduc, na província <strong>de</strong> Alberta, em 1947, inúmeras companhiasbritânicas e <strong>no</strong>rte-americanas instalaram-se na região. Teve início, então, oboom da indústria petrolífera cana<strong>de</strong>nse, sustentado pelas imensas reservasexistentes na bacia sedimentária do oeste do país. Nos a<strong>no</strong>s 70, o Canadá174National Energy Policy. Capítulo VIII. Páginas 3, 7, e 10.175EIA. Cru<strong>de</strong> oil. How <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt is the United States on foreign oil?176National Energy Policy, página 8.128


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)nacionalizou a indústria petrolífera. Criada em 1975, por Ato do Parlamento,a Petro-Canada li<strong>de</strong>rou, durante a<strong>no</strong>s, a exploração e produção <strong>de</strong> petróleo<strong>no</strong> oeste cana<strong>de</strong>nse, mas o controle estatal sobre a empresa não resistiu àsrivalida<strong>de</strong>s políticas; a Petro-Canada foi privatizada <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90 177 . Antesmesmo da entrada em vigor do NAFTA, em 1994, boa parte do comérciobilateral já havia sido liberalizada. Com a integração, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>garantiram acesso preferencial aos recursos energéticos do país vizinho. AExxonMobil <strong>de</strong>tém cerca <strong>de</strong> 70% das ações da principal empresa petrolíferacana<strong>de</strong>nse, a Imperial Oil Limited, criada em 1880.A maior parte da produção convencional <strong>de</strong> petróleo <strong>no</strong> Canadá ocorrena Western Canadian Sedimentary Basin, ao longo das Montanhas Rochosasem Alberta, Saskatchewan e <strong>no</strong>s territórios do <strong>no</strong>roeste. As reservas <strong>de</strong>ssaregião estão hoje em <strong>de</strong>clínio. O ritmo da produção petrolífera cana<strong>de</strong>nsetem-se mantido graças à exploração offshore, que ganhou expressão<strong>no</strong> final dos a<strong>no</strong>s 90 com o <strong>de</strong>senvolvimento dos campos <strong>de</strong> Hibernia,Terra Nova e White Rose, localizados <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte do Atlântico cana<strong>de</strong>nse.Avanços tec<strong>no</strong>lógicos e condições favoráveis <strong>de</strong> mercado estimularam aprodução petrolífera <strong>de</strong> fontes não convencionais. Apesar dos obstáculos,sobretudo ambientais, para a exploração das reservas <strong>de</strong> areias betumi<strong>no</strong>sasda província <strong>de</strong> Alberta, o Canadá <strong>de</strong>verá manter posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<strong>no</strong> fornecimento <strong>de</strong> petróleo, gás natural e eletricida<strong>de</strong> para os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> 178 . Caso sejam consi<strong>de</strong>radas as fontes não convencionais, o Canadásitua-se em segundo lugar na lista dos maiores <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> reservas <strong>de</strong>petróleo. De acordo com o Oil and Gas Journal, o Canadá possui reservasprovadas <strong>de</strong> petróleo equivalentes a 178 bilhões <strong>de</strong> barris, volume superadoapenas pela Arábia Saudita (2008). Noventa e cinco por cento das reservascorrespon<strong>de</strong>m aos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> areias betumi<strong>no</strong>sas <strong>de</strong> Alberta. O Canadádispõe, ainda, <strong>de</strong> vastas reservas <strong>de</strong> gás natural (57,9 tcf em 2008).MéxicoO México é o terceiro maior fornecedor <strong>de</strong> petróleo para os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, mas tem enfrentado dificulda<strong>de</strong>s para manter o ritmo177Oil, the State, and Fe<strong>de</strong>ralism. The rise and <strong>de</strong>mise of Petro-Canada as a Statist Impulse.John Erik Fossum. Toronto, Ontario: University of Toronto Press. 1997.178Energy Cooperation in the Western Hemisphere: Benefits and Impediments. SidneyWeintraub. Washington D.C.: Center for Strategic and International Studies, 2007.129


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sdas exportações, em <strong>de</strong>corrência do <strong>de</strong>clínio da produção doméstica,principalmente <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> Cantarell. O Energy Task Force <strong>de</strong>stacoua magnitu<strong>de</strong> dos recursos petrolíferos do país: “Mexico is a leading andreliable source of imported oil, and its large reserve base, approximately25 percent larger than our own proven reserves, makes Mexico a likelysource of increased oil production over the next <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>”. O Gruporecomendou reforçar o diálogo e a cooperação com o país vizinho,<strong>no</strong> âmbito do North America Energy Working Group: “To the extentMexico seeks to attract additional foreign investment consistent withits Constitution, which reserves exploration and production rights tothe Mexican government, the United States should actively encouragethe U.S. private sector to consi<strong>de</strong>r market-based investments” 179 . Deacordo com o Oil and Gas Journal, o México possui reservas provadas<strong>de</strong> petróleo equivalentes a 10,5 bilhões <strong>de</strong> barris e reservas <strong>de</strong> gás naturalda or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 11,8 tcf.Antes da nacionalização, a indústria petrolífera mexicana contavacom forte participação <strong>de</strong> capitais privados <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Em 1901,duas gran<strong>de</strong>s companhias instalaram-se <strong>no</strong> país: a Mexican PetroleumCompany, fornecedora da Standard Oil, e a Compañía Mexicana<strong>de</strong> Petróleo el Águila, controlada pela Shell. A indústria petrolíferaprosperou sob o Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Porfirio Díaz (1884-1911), que favoreceu aentrada <strong>de</strong> capitais estrangeiros para a construção <strong>de</strong> estradas <strong>de</strong> ferros,telégrafos e a exploração dos recursos naturais. Com a <strong>de</strong>scoberta doscampos petrolíferos <strong>de</strong> Gol<strong>de</strong>n Lane, em 1908, o México tor<strong>no</strong>u-se umdos maiores produtores mundiais, juntamente com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.No início dos a<strong>no</strong>s 20, o México fornecia cerca <strong>de</strong> 20% do petróleoconsumido pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e era o maior exportador mundial.Em 1938, o Presi<strong>de</strong>nte Lázaro Cár<strong>de</strong>nas nacionalizou a indústriapetrolífera mexicana, criando a PEMEX e estabelecendo o mo<strong>no</strong>pólioestatal sobre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração, produção, refi<strong>no</strong>, distribuiçãoe comercialização <strong>de</strong> petróleo e gás natural 180 .Nos a<strong>no</strong>s 50, diante dos primeiros sinais <strong>de</strong> esgotamento das reservasdomésticas, o Gover<strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> reduziu o ritmo das exportações paragarantir o abastecimento do mercado inter<strong>no</strong>. Em 1957, o México passou179National Energy Policy. Páginas 8 e 9.180Oil and Politics in Latin America. George Philip. Cambridge, Rei<strong>no</strong> Unido: CambridgeUniversity Press, 1982.130


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)a importar petróleo, o que motivou a retomada dos investimentos emexploração, inclusive em áreas offshore. No início dos a<strong>no</strong>s 70, foram<strong>de</strong>scobertos vastos campos petrolíferos <strong>no</strong>s estados <strong>de</strong> Tabasco, Chiapase na Baía <strong>de</strong> Campeche, on<strong>de</strong> se localiza o complexo <strong>de</strong> Cantarell, atéhoje o maior campo petrolífero do país. Des<strong>de</strong> então, o México temfigurado na lista dos gran<strong>de</strong>s produtores mundiais <strong>de</strong> petróleo. Apesar daforte <strong>de</strong>manda interna e do recente <strong>de</strong>clínio da produção em Cantarell,o México tem conseguido manter as exportações <strong>de</strong> petróleo para omercado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A PEMEX preten<strong>de</strong> expandir a produçãoem campos petrolíferos adjacentes a Cantarell. Os sinais <strong>de</strong> esgotamentodos campos mexica<strong>no</strong>s reforçaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos investimentosem exploração, sobretudo nas águas profundas do Golfo do México.No setor <strong>de</strong> gás natural, a produção mexicana, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s 90, nãotem sido suficiente para aten<strong>de</strong>r o consumo doméstico, o que levou opaís à condição <strong>de</strong> importador líquido. Uma extensa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gasodutosliga o México e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, possibilitando o fluxo do comérciobilateral 181 . Segundo dados da EIA, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> exportaram 365,4bcf <strong>de</strong> gás natural para o México, em 2008.Trinidad e TobagoTrinidad e Tobago é o maior fornecedor <strong>de</strong> Gás Natural Liquefeito(GNL) para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Energy Task Force ressaltou que“Trinidad and Tobago’s progressive investment co<strong>de</strong> has ma<strong>de</strong> it thehemisphere’s largest exporter of LNG and the largest supplier of LNGto the United States” 182 . Localizado a poucos quilômetros da costavenezuelana, Trinidad e Tobago é o principal produtor <strong>de</strong> petróleo e gásnatural do Caribe. Segundo dados do Oil and Gas Journal, o país tinha,em 2009, reservas provadas <strong>de</strong> 18,77 tcf <strong>de</strong> gás natural e <strong>de</strong> 728 milhões<strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo. Em contraste com os <strong>de</strong>mais países caribenhos,que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do fornecimento exter<strong>no</strong> <strong>de</strong> energia, Trinidad e Tobagoé autossuficiente. Em 2008, exportou 264,2 bcf <strong>de</strong> gás natural para os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>; as vendas <strong>de</strong> petróleo alcançaram o valor <strong>de</strong> 63.000barris diários (EIA). A produção <strong>de</strong> GNL em Trinidad e Tobago apresenta181Energy Cooperation in the Western Hemisphere: Benefits and Impediments. SidneyWeintraub. Washington D.C.: Center for Strategic and International Studies, 2007.182National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 10.131


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sbom potencial <strong>de</strong> crescimento, graças ao elevado nível das reservasdomésticas e ao fluxo dos investimentos privados.A exploração petrolífera na ilha <strong>de</strong> Trinidad iniciou-se <strong>no</strong> séculoXIX com a “West Indies Petroleum Company”. Durante a I e a II GuerraMundial, Trinidad serviu como ponto <strong>de</strong> apoio para o abastecimento <strong>de</strong>navios e aeronaves britânicas e estaduni<strong>de</strong>nses. Após a in<strong>de</strong>pendência doRei<strong>no</strong> Unido, em 1962, Trinidad avançou progressivamente na construçãoda indústria nacional, sem interromper o fluxo dos investimentosexter<strong>no</strong>s. No final dos a<strong>no</strong>s 60, foi construída em Trinidad a maiorrefinaria da Texaco. Em 1974, o Gover<strong>no</strong> adquiriu os ativos da Shelle criou a estatal Trintoc 183 . A produção atingiu o pico em 1977, com245.000 barris diários. Em 1995, criou-se consórcio para exploraçãoe produção <strong>de</strong> gás natural, o Atlantic LNG Company, integrado, entreoutras, pela estatal NGC (National Gas Company), pela American OilCompany, British Gas, British Petroleum e Repsol–YPF. O consórcioopera 4 terminais <strong>de</strong> GNL na costa <strong>de</strong> Trinidad. Após longo período <strong>de</strong><strong>de</strong>clínio, a produção petrolífera voltou a crescer. Em 2005, consórcioli<strong>de</strong>rado pela BHP Billiton iniciou a exploração do campo <strong>de</strong> Angostura,com reservas avaliadas em 310 milhões <strong>de</strong> barris.VenezuelaA Venezuela é o quarto maior fornecedor <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>rivadospara os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A PDVSA, em parceria com empresas <strong>no</strong>rte--americanas ou por intermédio <strong>de</strong> sua subsidiária, CITGO, controlaextensa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> refinarias <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e nas Ilhas Virgens, capazes<strong>de</strong> processar o óleo cru pesado e com alto teor <strong>de</strong> enxofre, que constituia maior parte das exportações venezuelanas. O comércio bilateral éfacilitado pelas circunstâncias geográficas. A proximida<strong>de</strong> com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> reduz consi<strong>de</strong>ravelmente os custos <strong>de</strong> transporte. Navios-tanquecostumam cobrir em poucos dias o percurso entre o litoral venezuela<strong>no</strong> eo Golfo do México. O Energy Task Force <strong>de</strong>stacou a magnitu<strong>de</strong> do fluxo<strong>de</strong> comércio e <strong>de</strong> investimentos entre a Venezuela e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>:“Venezuela is the world’s fifth largest oil exporter, and the third largest183Trinidad and Tobago: Democracy and Development in the Caribbean. Scott B. MacDonald.Westport, CT: Praeger Publishers. 1986.132


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)oil supplier to the United States [...] Venezuela’s downstream investmentsin the United States make it a leading refiner and gasoline marketerhere” 184 . Com vistas a reforçar o comércio bilateral <strong>no</strong> setor energético,os formuladores da NEP recomendaram a assinatura <strong>de</strong> um TratadoBilateral <strong>de</strong> Investimentos: “These positive steps along with conclusio<strong>no</strong>f a Bilateral Investment Treaty, which is <strong>no</strong>w being negotiated, wouldprovi<strong>de</strong> investors from both the United States and Venezuela incentivesfor increased investment” 185 .Fora da região do Golfo Pérsico, a Venezuela, ao lado <strong>de</strong> Canadá,Rússia e <strong>Brasil</strong>, tem as maiores reservas <strong>de</strong> petróleo. De acordo com oOil and Gas Journal, as reservas provadas <strong>de</strong> petróleo da Venezuela, em2009, equivaliam a 99 bilhões <strong>de</strong> barris, cifra que não inclui os <strong>de</strong>pósitos<strong>de</strong> minerais betumi<strong>no</strong>sos e <strong>de</strong> óleo extrapesado (estimados entre 100 e 270bilhões <strong>de</strong> barris). A recuperação dos preços do petróleo e o crescimentoda <strong>de</strong>manda internacional contribuem para viabilizar a exploração dasreservas não convencionais <strong>de</strong> hidrocarbonetos da Bacia do Ori<strong>no</strong>co,uma das mais extensas do mundo. A Venezuela dispõe, também, <strong>de</strong>vasta reserva <strong>de</strong> gás natural (171 tcf, em 2009), a segunda entre os paísesamerica<strong>no</strong>s, inferior apenas à dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O país, entretanto,não exporta gás natural, pois boa parte do combustível é reinjetado parapossibilitar maior extração <strong>de</strong> óleo cru. Segundo dados da ENAGAS(Ente Nacional <strong>de</strong>l Gas) venezuelana, a indústria petrolífera consomecerca <strong>de</strong> 70% da produção doméstica <strong>de</strong> gás natural.<strong>Brasil</strong>De acordo com a NEP, o <strong>Brasil</strong>, em parceria com investidoresinternacionais, tem potencial para tornar-se um dos principais produtores<strong>de</strong> energia do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal. O Energy Task Force ressaltou anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar a exploração das reservas petrolíferas do <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>maneira a contribuir para o aumento da produção energética nas Américas e<strong>no</strong> Caribe: “Brazil has long been a pioneer in the <strong>de</strong>velopment of <strong>de</strong>epwateroffshore oil and gas resources. Its world-class oil industry is <strong>no</strong>w moving tobecome a partner with U.S. and international investors to more fully <strong>de</strong>velop184National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 10.185I<strong>de</strong>m.133


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sits prolific offshore oil reserves. This welcome <strong>de</strong>velopment will enhancehemispheric energy production from well-established sedimentary basins”.Propôs, em seguida, o estabelecimento <strong>de</strong> um mecanismo formal <strong>de</strong> consultascom o <strong>Brasil</strong> sobre temas energéticos: “The NEPD Group recommends thatthe Presi<strong>de</strong>nt direct the Secretaries of State and Commerce to […] proposeformal energy consultations with Brazil, to improve the energy investmentclimate for the growing level of energy investment flows” 186 .Seis a<strong>no</strong>s após a elaboração da NEP, foram anunciadas as primeiras<strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo e gás natural na região do pré-sal, confirmandoa expectativa <strong>de</strong> que o <strong>Brasil</strong> teria maior projeção <strong>no</strong> cenário energéticodo Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal. <strong>Setor</strong>es influentes do Congresso e do Gover<strong>no</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> avaliam que a exploração do pré-sal brasileiro teráimplicações profundas para as relações bilaterais <strong>no</strong> setor energético. Emjulho <strong>de</strong> 2008, o Presi<strong>de</strong>nte do Comitê <strong>de</strong> <strong>Relações</strong> Exteriores da Câmara,Deputado Eliot Engel, <strong>de</strong>mocrata <strong>de</strong> Nova York, organizou sessão doSubcomitê do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal para discutir as relações dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> com os países das Américas e do Caribe. Durante a reunião,além <strong>de</strong> elogios à autossuficiência energética brasileira e <strong>de</strong> apelo pelaeliminação imediata da tarifa secundária do eta<strong>no</strong>l, o Deputado Engelreferiu-se ao <strong>de</strong>clínio da produção petrolífera <strong>no</strong> México e na Venezuela.Previu que o <strong>Brasil</strong> ultrapassará os dois países na exportação <strong>de</strong> petróleopara os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>: “The Tupi oil field, recently discovered offBrazil’s southeastern coast is thought to hold between 5-8 billion barrels.While it will take up to a <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> to exploit this resource, in May of thisyear, Brazil was actually one of the ten largest oil suppliers to the UnitedStates, beating out oil emirate, Kuwait” 187 .ÁfricaOs formuladores da NEP <strong>de</strong>stacaram o potencial <strong>de</strong> crescimento daprodução petrolífera <strong>no</strong>s países africa<strong>no</strong>s: “Along with Latin America,West Africa is expected to be one of fastest-growing sources of oil andgas for the American market” 188 . O Energy Task Force recomendou açãoconjunta dos Departamentos <strong>de</strong> Estado, <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e <strong>de</strong> Comércio para186National Energy Policy. Capítulo VIII. Páginas 10 e 11.187http://www.internationalrelations.house.gov/110/engel073108.pdf188National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 11.134


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)revitalizar o Foro <strong>de</strong> Cooperação Econômica e Comercial e as Reuniões<strong>de</strong> Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>–África, além <strong>de</strong> reforçar oengajamento bilateral com vistas a promover transparência, inviolabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> contratos, estabilida<strong>de</strong> do marco regulatório e ambiente favorável aocomércio e à realização <strong>de</strong> investimentos estrangeiros <strong>no</strong>s setores <strong>de</strong>petróleo e gás natural. O Grupo mencio<strong>no</strong>u, nesse contexto, a atuação daUSAID em apoio ao projeto do Gasoduto da África Oci<strong>de</strong>ntal (West AfricaGas Pipeline), que possibilitará exportações <strong>de</strong> gás natural da Nigéria e <strong>de</strong>Gana. Construído por um consórcio <strong>de</strong> empresas li<strong>de</strong>rado pela Chevron(36,7%), pela estatal Nigerian National Petroleum Corporation (25%)e pela Royal Dutch Shell (18%), o Gasoduto recebeu financiamento doU.S. Ex-Im Bank e foi finalizado em 2009. O Energy Task Force citou,também, o apoio do Banco Mundial e do U.S. Ex-Im Bank à construçãodo Oleoduto Cha<strong>de</strong>-Camarões por consórcio <strong>de</strong> empresas, li<strong>de</strong>rado pelaExxon Mobil. Cerca <strong>de</strong> 19% das importações <strong>de</strong> petróleo dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, em 2008, foram oriundas do continente africa<strong>no</strong>. Os principaisfornecedores foram: Nigéria, 988 mil b/d; Argélia, 548 mil b/d; Angola,513 mil b/d; Cha<strong>de</strong>, 104 mil b/d; Líbia, 103 mil b/d; Guiné Equatorial, 78mil b/d; Congo Brazzaville, 68 mil b/d; e Gabão, 59 mil b/d 189 . Empresas<strong>no</strong>rte-americanas, como ExxonMobil, Chevron e Devon Energy, participamda exploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural em vários países africa<strong>no</strong>s.Arábia Saudita e países do Golfo PérsicoA Arábia Saudita é o maior produtor mundial <strong>de</strong> petróleo (10,782milhões <strong>de</strong> barris diários, 2008) e o segundo maior fornecedor dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (1,529 milhão <strong>de</strong> b/d, 2008). O Energy Task Forceressaltou os investimentos da Arábia Saudita na ampliação da capacida<strong>de</strong>ociosa (spare capacity) <strong>de</strong> sua indústria petrolífera e na diversificaçãodas rotas <strong>de</strong> exportação. Avaliou que o país estaria preparado parautilizar a capacida<strong>de</strong> ociosa com vistas a mitigar o impacto <strong>de</strong> eventuaisinterrupções da oferta <strong>de</strong> petróleo em outras regiões e atuar comoregulador do mercado petrolífero. Mencio<strong>no</strong>u oportunida<strong>de</strong>s para apromoção <strong>de</strong> investimentos exter<strong>no</strong>s em países com os quais os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> mantêm boas relações diplomáticas e comerciais – como Kuwait,189EIA. International Energy Statistics.135


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sOman, Emirados Árabes <strong>Unidos</strong> e Qatar. Recomendou, em seguida,reforçar o engajamento dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> com vistas a promover aabertura dos setores <strong>de</strong> energia aos investimentos estrangeiros: “TheNEPD Group recommends that the Presi<strong>de</strong>nt support initiatives by SaudiArabia, Kuwait, Algeria, Qatar, the UAE, and other suppliers to open upareas of their energy sectors to foreign investment” 190 .De acordo com o Energy Task Force, o Golfo Pérsico permanecerácomo foco das atenções dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, uma vez que a regiãoconcentra a maior parte das reservas mundiais provadas <strong>de</strong> petróleo:“By 2020, Gulf oil producers are projected to supply between 54 and67 percent of the world’s oil [...] This region will remain vital to U.S.interests”. Tal circunstância não significa, entretanto, que os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> ter atuação em outras regiões: “The Gulf will be aprimary focus of U.S. international energy policy, but our engagementwill be global, spotlighting existing and emerging regions that willhave a major impact on the global energy balance” 191 . O Golfo Pérsicorespon<strong>de</strong>u, em 2008, por 18% das importações <strong>de</strong> petróleo dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. Os principais fornecedores foram: Arábia Saudita, 1,529 milhãob/d; Iraque, 627 mil b/d; e Kuwait, 210 mil b/d. Os <strong>de</strong>mais países doGolfo Pérsico (Irã, Bahrain, Qatar e Emirados Árabes <strong>Unidos</strong>) nãoexportam petróleo para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, ou ven<strong>de</strong>m quantida<strong>de</strong>snegligenciáveis 192 .Rússia e países do Mar CáspioA Rússia é o segundo maior produtor (9,790 milhões b/d, em2008) e o segundo maior exportador <strong>de</strong> petróleo do mundo (7 milhõesb/d, em 2008). O país ocupou a <strong>no</strong>na posição na lista dos maioresfornecedores <strong>de</strong> petróleo para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em 2008, com 465mil barris diários. As reservas <strong>de</strong> petróleo e gás natural da Rússia e daregião do Mar Cáspio mereceriam, na avaliação do Energy Task Force,maior atenção por parte do Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Gruporessaltou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar consi<strong>de</strong>ravelmente a produçãoe a exportação <strong>de</strong> petróleo oriundo do Azerbaijão e do Cazaquistão:190National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 5.191National Energy Policy. Capítulo VIII. Páginas 4 e 5.192EIA. International Energy Statistics.136


gover<strong>no</strong> george w. bush (2001-2008)“Potential exports could increase by 1.8 million barrels of oil per dayby 2005, as the United States works closely with private companiesand countries in the region to <strong>de</strong>velop commercially viable exportroutes, such as the Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) and Caspian PipelineConsortium oil pipelines” 193 . O Energy Task Force recomendou esforçoconjunto dos Departamentos <strong>de</strong> Estado, <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e <strong>de</strong> Comérciojunto aos Gover<strong>no</strong>s da região <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> estabelecer as condiçõescomerciais e o ambiente regulatório necessário para viabilizar osreferidos projetos. O Gasoduto BTC, inaugurado em 2006, percorreos territórios do Azerbaijão, Geórgia e Turquia; foi construído porconsórcio <strong>de</strong> empresas li<strong>de</strong>rado pela BP, pela State Oil Company ofAzerbaijan e pela Chevron. O Oleoduto CPC transporta petróleo doCazaquistão para terminal da Rússia, situado <strong>no</strong> Mar Negro. Inauguradoem 2001, é operado pela estatal russa Transneft, com participaçãoacionária do Gover<strong>no</strong> do Cazaquistão, Chevron Caspian PipelineConsortium, LUKOil, BP e Mobil Caspian Pipeline Co.193National Energy Policy. Capítulo VIII. Página 12.137


Capítulo IV<strong>Relações</strong> <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (2003-2007):As Consultas sobre Cooperação Energética e oLançamento da Parceria em BiocombustíveisA - O Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação na Área <strong>de</strong><strong>Energia</strong>Em junho <strong>de</strong> 2003, o Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> (MME) e oDepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (DOE) assinaram o Memorando <strong>de</strong> Entendimentopara estabelecimento <strong>de</strong> consultas formais sobre cooperação energética,em nível ministerial. Conforme visto <strong>no</strong> Capítulo III, o Energy Task Forcesugeriu a criação <strong>de</strong> Mecanismo Bilateral <strong>de</strong> Consultas, argumentandoque as reuniões regulares com autorida<strong>de</strong>s do setor energético brasileiropropiciariam condições favoráveis, inclusive <strong>no</strong> âmbito regulatório, àrealização dos investimentos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Com a aprovação daLei do Petróleo (Lei 9.478), em 1997, um número crescente <strong>de</strong> empresasdos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> passou a investir na exploração <strong>de</strong> petróleo e gásnatural na costa brasileira. A reforma do setor elétrico, o programa <strong>de</strong>pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento dos biocombustíveis e a <strong>de</strong>manda por <strong>no</strong>vastec<strong>no</strong>logias, equipamentos e serviços nas áreas <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável enão re<strong>no</strong>vável (como o carvão) <strong>de</strong>spertavam, também, o interesse <strong>no</strong>mercado brasileiro.Des<strong>de</strong> o segundo Gover<strong>no</strong> Clinton, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> sinalizavam aintenção <strong>de</strong> estreitar a cooperação energética bilateral, se possível por meio<strong>de</strong> mecanismos formais. Durante a visita do Presi<strong>de</strong>nte Clinton ao <strong>Brasil</strong>,139


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 a 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1997, foi assinado o Ajuste Complementar Paraa Cooperação na Área <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia Energética 194 , sujeito aos termos doAcordo relativo à Cooperação em Ciência e Tec<strong>no</strong>logia, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1984. O Ajuste Complementar estabeleceu estrutura para cooperaçãonas áreas <strong>de</strong> eficiência energética, carvão e sistemas <strong>de</strong> potência avançados,tec<strong>no</strong>logias ambientais e <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, pesquisa básica, intercâmbio<strong>de</strong> informações, planejamento e regulamentação energética. Indicou, ainda,como órgãos executores, o Ministério das Minas e <strong>Energia</strong> e o Departamento<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Foram assinados três anexos: o Anexo I, sobrecooperação <strong>no</strong> campo do carvão e sistemas energéticos; o anexo II, sobreenergias re<strong>no</strong>váveis; e o anexo III, sobre eficiência energética. Na negociaçãodo Ajuste, o Gover<strong>no</strong> brasileiro procurou enfatizar os aspectos da cooperaçãocientífica e tec<strong>no</strong>lógica, <strong>de</strong> maior relevância do ponto <strong>de</strong> vista dos objetivos<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do setor energético.No final do Gover<strong>no</strong> Clinton, o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> retomouas gestões para ampliar o escopo da cooperação energética bilateral,incorporando temas como planejamento energético, investimentose comércio <strong>de</strong> petróleo e gás natural. Em junho <strong>de</strong> 2000, a Vice--Secretária-Assistente para Política Energética Internacional,Comércio e Investimento do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, TheresaFariello, visitou a Embaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington para tratar doplanejamento <strong>de</strong> missão do DOE ao <strong>Brasil</strong>. Além <strong>de</strong> avistar-se comrepresentantes <strong>de</strong> empresas <strong>no</strong>rte-americanas, Fariello informou quepretendia manter contatos <strong>no</strong> MME com vistas a reativar a cooperaçãoenergética prevista <strong>no</strong> Ajuste Complementar. Na visão <strong>de</strong> Fariello, areunião em Brasília serviria para planejar futuras reuniões setoriais,sem periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida, mas <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cada setor 195 . Entre os assuntos a serem discutidos, Fariello mencio<strong>no</strong>upetróleo e gás natural, área <strong>de</strong> cooperação não listada <strong>no</strong> AjusteComplementar. A Vice-Secretária Fariello dispunha <strong>de</strong> experiênciaprévia <strong>no</strong> setor petrolífero. Antes <strong>de</strong> chegar ao DOE, Theresa Farielloocupara o cargo <strong>de</strong> Vice-Presi<strong>de</strong>nte para Assuntos Internacionais daempresa petrolífera Occi<strong>de</strong>ntal. Após <strong>de</strong>sligar-se do DOE, ao final do194Vi<strong>de</strong> Anexo I.195Telegrama 1380, 27/06/2000, <strong>de</strong> Brasemb Washington.140


elações brasil-estados unidos (2003-2007)Gover<strong>no</strong> Clinton, tor<strong>no</strong>u-se assessora para relações governamentaisda Exxon-Mobil.Em setembro <strong>de</strong> 2000, o MME enviou missão técnica a Washingtonpara discutir programa <strong>de</strong> trabalho e projetos <strong>de</strong> cooperação com o DOE.As equipes reafirmaram a disposição <strong>de</strong> avançar nas áreas listadas <strong>no</strong>Ajuste Complementar e – conforme antecipado por Theresa Fariello –agregaram <strong>no</strong>vo tema ao escopo da cooperação bilateral: políticas para ossetores <strong>de</strong> petróleo e gás natural. Criou-se comissão bilateral, integrada porcoor<strong>de</strong>nadores para cada uma das áreas. Foram estabelecidas priorida<strong>de</strong>s epropostas <strong>de</strong> ação. A Embaixada em Washington informou que:Sob o tema coleta e análise <strong>de</strong> dados, os dois lados <strong>de</strong>finiram as áreas <strong>de</strong>intercâmbio <strong>de</strong> informação e dados, intercâmbio <strong>de</strong> metodologias paraplanejamento energético e criação <strong>de</strong> um website conjunto com dados<strong>de</strong> energia, como prioritárias para a expansão da cooperação bilateral[...] No tema <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> petróleo e gás natural, as priorida<strong>de</strong>sacordadas foram questões ambientais, tec<strong>no</strong>logias e infraestrutura <strong>de</strong>gás natural, prevenção e limpeza <strong>de</strong> vazamentos <strong>de</strong> petróleo [...] Empolíticas regulatórias <strong>de</strong> energia [...] os coor<strong>de</strong>nadores concordaram emorganizar visita <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> funcionários brasileiros a agências <strong>no</strong>rteamericanas,com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver programa <strong>de</strong> reforço doquadro regulatório para gás natural e eletricida<strong>de</strong> 196 .Além <strong>de</strong> propor a criação <strong>de</strong> website conjunto com dados do setorenergético, discussão <strong>de</strong> metodologias <strong>de</strong> planejamento energético etreinamento <strong>de</strong> técnicos na área <strong>de</strong> políticas regulatórias, o Gover<strong>no</strong> dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> manifestou expectativa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contar com o apoiodo <strong>Brasil</strong> para fazer avançar os processos <strong>de</strong> integração energética <strong>no</strong>Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal 197 . A Embaixada em Washington registrou que:Na reunião, os dois lados discutiram [...] b) ativida<strong>de</strong>s relacionadascom a Hemispheric Energy Initiative, em especial apoio brasileiro asugestões <strong>no</strong>rte-americanas na área <strong>de</strong> eficiência energética a serem196Telegrama 2012, 26/09/2000, <strong>de</strong> Brasemb Washington.197O Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> propôs, na Primeira Cúpula das Américas, a HemisphericEnergy Initiative, cujo objetivo principal era promover o avanço <strong>de</strong> compromissos <strong>de</strong> integraçãoenergética, incluídos <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Miami.141


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>stratadas na próxima reunião do Hemispheric Energy Initiative SteeringCommittee, <strong>no</strong> Peru…c) convite aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para participaremcomo observadores da reunião da OLADE, <strong>no</strong> Paraguai; d) <strong>de</strong>scriçãopelo lado brasileiro <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> integração energética <strong>no</strong> âmbito das<strong>de</strong>cisões tomadas pela recente reunião <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>ntes da América do Sule <strong>de</strong> projetos domésticos brasileiros <strong>no</strong> setor 198 .Quanto à energia re<strong>no</strong>vável, <strong>de</strong>cidiu-se organizar seminários sobrebionergia e geração em sistema isolado. Os contatos entre cooor<strong>de</strong>nadoresevoluíram posteriormente para o planejamento <strong>de</strong> encontro entreempresários na área <strong>de</strong> biocombustíveis 199 .Após a eleição do Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, o Departamento<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, respaldado pelo relatório do Energy Task Force, <strong>de</strong>uprosseguimento às gestões para incrementar a cooperação energéticabilateral mediante o estabelecimento <strong>de</strong> um Mecanismo <strong>de</strong> Consultasregulares. Em junho <strong>de</strong> 2001, durante reunião na Embaixada do <strong>Brasil</strong> emWashington, a Assessora para Assuntos Internacionais do DOE, RandaHudome, reiterou a disposição do Gover<strong>no</strong> George W. Bush <strong>de</strong> retomaro diálogo bilateral sobre temas energéticos. A Secretária-Assistente <strong>de</strong><strong>Energia</strong> para Assuntos Internacionais e Política Doméstica, Vicky Bailey,assumiu a coor<strong>de</strong>nação das iniciativas pelo lado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> 200 .Em julho <strong>de</strong> 2001, o Ministro-Chefe da Casa Civil, Pedro Parente, fezapresentação em Washington, <strong>no</strong> Brazil-US Business Council, sobre aestratégia do Gover<strong>no</strong> brasileiro para enfrentar a crise energética, com<strong>de</strong>staque para os programas <strong>de</strong> redução da <strong>de</strong>manda e aumento da oferta<strong>de</strong> energia. Manteve encontro <strong>no</strong> DOE, com o Vice-Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Francis Blake, em que discutiu, entre outros pontos, a recomendação doEnergy Task Force <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> estabelecer consultas formais sobreenergia 201 .Em <strong>no</strong>vembro, a Embaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington recebeucomunicação do Sr. Gary Ward, do Escritório <strong>de</strong> Assuntos Internacionaisdo DOE, que estaria indo a Brasília para iniciar a preparação daprimeira reunião <strong>de</strong> consultas formais <strong>Brasil</strong>–EUA sobre energia. A198Telegrama 2012, 26/09/2000, <strong>de</strong> Brasemb Washington.199Telegrama 1454, 06/06/2001, <strong>de</strong> Brasemb Washington.200Telegrama 1454, 06/06/2001, <strong>de</strong> Brasemb Washington.201Telegrama 1898, 03/08/2001, <strong>de</strong> Brasemb Washington.142


elações brasil-estados unidos (2003-2007)correspondência do DOE referiu-se à cooperação existente <strong>no</strong> âmbitodo Ajuste Complementar <strong>de</strong> 1997 e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avançar maisrapidamente nas áreas <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável e eficiência energética:Brazil is the largest country in South America and the ninth largesteco<strong>no</strong>my in the world. Its oil, natural gas, and electricity markets arerapidly expanding and offer tremendous opportunities for U.S. companies[…] In 1997, DOE signed an energy cooperation agreement with theMinistry of Mines and Energy during a presi<strong>de</strong>ntial trip to Brazil. Theagreement covers cooperation in the field of coal and power systems(Annex I), the field of renewable energy (Annex II), and the field of energyefficiency (Annex III). Cooperation un<strong>de</strong>r Annex I has progressed quitewell while progress un<strong>de</strong>r annexes II & III has been slow. The visit couldbe used to revitalize energy cooperation between the U.S. and Brazil 202 .Por encontrar-se em processo <strong>de</strong> reorganização interna, o MMEnão se dispôs a receber a missão do DOE, apesar das inúmeras gestões,canalizadas por intermédio da Casa Civil e do Itamaraty:O Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> (MME) respon<strong>de</strong>u que não temcomentários específicos a fazer à programação sugerida por VossaExcelência. Segundo o MME, <strong>no</strong> entanto, não será possível àqueleMinistério <strong>de</strong>stacar elementos para a preparação <strong>de</strong> programa paraaten<strong>de</strong>r às expectativas do Senhor Ward, pelo que o órgão recomendaque a própria Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em Brasília empreendaessa tarefa, que o Ministério (MME) po<strong>de</strong>ria, eventualmente, colaborar,se solicitado. Acrescenta, por fim, o MME, que receberá o Senhor GaryWard para as consultas formais <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acertar, via a Embaixada dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em Brasília, data mutuamente conveniente 203 .Apesar da resposta negativa do MME, o DOE insistiu na realizaçãoda missão técnica, que ocorreu, <strong>de</strong> fato, <strong>no</strong>s dias 4 e 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2002.202Telegrama 2695, 08/11/2001, <strong>de</strong> Brasemb Washington.203Despacho telegráfico 203, 05/03/2002, para Brasemb Washington.143


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sA chegada da referida Delegação ao <strong>Brasil</strong> causou algum constrangimento<strong>no</strong> MME, uma vez que sua vinda não foi acordada com aquelasautorida<strong>de</strong>s. De fato, o momento não parece ter sido o mais apropriadopara uma missão técnica, tendo em vista que o MME encontra-se emple<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> reestruturação [...] De todo modo, os funcionários doDOE, acompanhados <strong>de</strong> diplomatas e representantes da USAID junto àEmbaixada <strong>no</strong>rte-americana, foram recebidos <strong>no</strong> dia 4 <strong>de</strong> abril, <strong>no</strong> MME[...] A reunião foi consi<strong>de</strong>rada construtiva, na medida em que se confirmouo interesse <strong>de</strong> ambas as partes em levar adiante a proposta <strong>de</strong> estabelecerconsultas formais sobre a implementação do Ajuste Complementar paraa cooperação na área <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia energética, em particular os anexos2. energia re<strong>no</strong>vável e 3. eficiência energética [...] Percebeu-se que, <strong>de</strong>fato, existem questões <strong>de</strong> interesse mútuo ligadas a esses dois gran<strong>de</strong>stemas; bem como outros pontos em que o <strong>Brasil</strong>, em particular, teria abeneficiar-se neste momento, como mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> avaliaçãoe estratégias <strong>de</strong> planejamento e aspectos regulatórios dos mercados <strong>de</strong>energia 204 .Os funcionários do DOE mencionaram o tema da segurançaenergética hemisférica, durante o encontro <strong>no</strong> MME:A Delegação <strong>no</strong>rte-americana mencio<strong>no</strong>u, como pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo para acooperação com o <strong>Brasil</strong>, o conceito <strong>de</strong> segurança energética hemisférica.Tal segurança, que visaria a garantir o suprimento <strong>de</strong> energia em qualquerpaís da região, seria alcançada, segundo a visão dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,por meio da abertura, <strong>de</strong>sregulamentação e integração dos sistemas <strong>de</strong>geração e distribuição <strong>de</strong> energia do hemisfério 205 .Em maio <strong>de</strong> 2003, o DOE informou, por Nota à Embaixada do <strong>Brasil</strong>em Washington, que a Secretária-Assistente para Assuntos Internacionaise Política Doméstica, Vicky Bailey, pretendia viajar ao <strong>Brasil</strong>. Solicitou,nesse contexto, apoio para a realização da visita e para a assinatura<strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Intenções entre o DOE e o MME 206 . A minuta <strong>de</strong> Carta<strong>de</strong> Intenções elaborada pelo DOE fazia referência à National Energy204Despacho telegráfico 352, 10/04/2002, para Brasemb Washington.205I<strong>de</strong>m.206Telegrama 1332, 15/05/2003, <strong>de</strong> Brasemb Washington.144


elações brasil-estados unidos (2003-2007)Policy e sugeria que as partes realizassem consultas sobre planejamentoe análise <strong>de</strong> política energética, comércio e investimentos e cooperaçãoem tec<strong>no</strong>logias energéticas:The Department of Energy of the United States of America and theMinistry of Mines and Energy of the Fe<strong>de</strong>rative Republic of Brazil […]Ack<strong>no</strong>wledging […] the U.S. National Energy Policy’s recommendationthat the U.S. Government establishes regular energy consultations withBrazil; […] intend to establish bilateral energy consultations that wouldaddress issues of mutual interest in the fields of energy planning and policyanalysis, energy tra<strong>de</strong> and investment, and energy tech<strong>no</strong>logy cooperation[…] The bilateral energy consultations are inten<strong>de</strong>d to coordinate futurecollaboration in the fields of energy planning and policy analysis, energytra<strong>de</strong> and investment, and energy tech<strong>no</strong>logies, and to routinely reviewand assess the progress ma<strong>de</strong> in this cooperation 207 .A proposta do DOE transcendia o escopo do Ajuste Complementar<strong>de</strong> 1997, o que gerou reações <strong>no</strong> MME:Causou perplexida<strong>de</strong> <strong>no</strong> MME a minuta <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Intenções que VickyBailey <strong>de</strong>sejaria assinar com a Ministra Dilma Rouseff [...] O MMEconsi<strong>de</strong>rou o texto da minuta i<strong>no</strong>portu<strong>no</strong>, uma vez que extrapolaria oacordo bilateral <strong>de</strong> cooperação tec<strong>no</strong>lógica ao abranger temas comoinvestimentos, política e planejamento energética, além <strong>de</strong> abrir apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão sobre o marco regulatório do setor 208 .Mesmo alertada sobre a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assinatura da Carta <strong>de</strong>Intenções, a Secretária-Assistente Vicky Bailey viajou ao <strong>Brasil</strong>. Foirecebida pela Ministra Dilma Rousseff, em 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003, ocasiãoem que reiterou a priorida<strong>de</strong> atribuída pelo Presi<strong>de</strong>nte George W. Bushà cooperação bilateral na área energética. Bailey mencio<strong>no</strong>u o interessedos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em explorar fontes alternativas <strong>de</strong> energia, comoa biomassa, área em que o potencial <strong>de</strong> cooperação com o <strong>Brasil</strong> seriapromissor. Esclareceu que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> estavam empenhados em207I<strong>de</strong>m.208Despacho telegráfico 487, 26/05/2003, para Brasemb Washington.145


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>smanter coor<strong>de</strong>nação com países que apresentassem gran<strong>de</strong> consumo<strong>de</strong> energia e que já teriam sido estabelecidos mecanismos bilaterais <strong>de</strong>consultas com o México, Canadá, Rei<strong>no</strong> Unido e Rússia. Ressaltou,também, a intenção <strong>de</strong> discutir, <strong>no</strong> âmbito das consultas bilaterais, temasamplos como política energética, marco regulatório, acesso a mercados,além da exploração offshore <strong>de</strong> petróleo e gás natural. A Ministra DilmaRousseff, durante o encontro com Vicky Bailey, confirmou interesse em“eventual estabelecimento <strong>de</strong> cooperação na área energética” e aceitouconvite para participar <strong>de</strong> reunião, em nível ministerial, a fim <strong>de</strong> discutirtec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, a se realizar em paralelo à visitado Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em junho<strong>de</strong> 2003 209 .Com a aproximação da Cúpula Presi<strong>de</strong>ncial, o Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>voltou a insistir na proposta <strong>de</strong> uma Carta <strong>de</strong> Intenções. Em Brasília, realizou-seem 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2003, reunião <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre o Itamaraty e o MMEcom o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a posição brasileira sobre o tema:O tema que mais gerou discussões foi o projeto <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Intenções [...]Cabe recordar que o projeto não chegou a ser apresentado formalmentepelo DOE [...] O MME, na ocasião, consi<strong>de</strong>rou que texto da Cartaenvolveria conceitos sensíveis para a parte brasileira, como segurançaenergética, coor<strong>de</strong>nação na área <strong>de</strong> política energética e regulamentação[...] Após discussão sobre os inconvenientes representados por algumaspassagens da proposta <strong>no</strong>rte-americana <strong>de</strong> Carta <strong>de</strong> Intenções, acordouseque o MME trabalharia em versão revista da minuta, para melhoraten<strong>de</strong>r aos interesses brasileiros 210 .A contraproposta brasileira, <strong>no</strong> formato <strong>de</strong> Memorando <strong>de</strong>Entendimento, foi transmitida ao Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, em 13 <strong>de</strong>junho, por intermédio da Embaixada em Washington.A apenas uma semana da Cúpula Presi<strong>de</strong>ncial, a Subsecretária paraDemocracia e Assuntos Globais do Departamento <strong>de</strong> Estado, PaulaDobriansky, encaminhou à Embaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington relação<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> interesse para a cooperação energética bilateral, a qual seria209Despacho telegráfico 513, 30/05/2003, para Brasemb Washington.210Despacho telegráfico 566, 09/06/2003, para Brasemb Washington.146


elações brasil-estados unidos (2003-2007)objeto <strong>de</strong> entendimentos entre a Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> emBrasília e os Ministérios da Ciência e Tec<strong>no</strong>logia e <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong>.Dobriansky informou que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> pretendiam discutir osseguintes temas: a) Hidrogênio. A Administração Bush buscava a a<strong>de</strong>sãodo <strong>Brasil</strong> à Parceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE);b) Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong>. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> convidariam o <strong>Brasil</strong> aparticipar do Fórum <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança em Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (CSLF),cuja reunião inaugural teria lugar em Washington, após o térmi<strong>no</strong> davisita presi<strong>de</strong>ncial; c) Segurança da exploração offshore <strong>de</strong> petróleo egás natural. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> pretendiam discutir possível acordo <strong>de</strong>cooperação sobre exploração offshore, que incorporasse dispositivosrelativos a proteção ambiental 211 .Simultaneamente à comunicação <strong>de</strong> Paula Dobriansky, a Embaixadados <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em Brasília transmitiu ao MME proposta <strong>de</strong> inclusão<strong>de</strong> dois parágrafos <strong>no</strong> texto do Memorando <strong>de</strong> Entendimento, que seriaassinado pela Ministra Dilma Rousseff em Washington. Os parágrafosexplicitariam a disposição do <strong>Brasil</strong> para atuar em conjunto com os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> nas áreas <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio e sequestro <strong>de</strong>carbo<strong>no</strong>, <strong>no</strong> âmbito dos foros IPHE e CSLF:A Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, <strong>no</strong> contato com o MME, solicitoumaximal flexibility por parte da Ministra das Minas e <strong>Energia</strong> para aspropostas. Em conversa telefônica com o Assessor Internacional doMME, o adido científico da Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> teria chegadoa consi<strong>de</strong>rar os dois parágrafos como condição para a assinatura doreferido Memorando <strong>de</strong> Entendimento 212 .Apesar do constrangimento causado pela gestão do adido científico,o MME não teve dificulda<strong>de</strong>s em aceitar a inclusão dos dois parágrafos,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se retirassem as menções aos foros IPHE e CSLF, pois oGover<strong>no</strong> brasileiro ainda não dispunha <strong>de</strong> elementos para <strong>de</strong>cidir sobrepossível participação.O MME propôs alterações na Minuta <strong>de</strong> Memorando <strong>de</strong> Entendimento,que foi retransmitida ao DOE, em 16 <strong>de</strong> junho. As emendas procuravam211Telegrama 1675, 14/06/2003, <strong>de</strong> Brasemb Washington.212Despacho telegráfico 613, 16/06/2003, para Brasemb Washington.147


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>senfatizar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avanços na cooperação tec<strong>no</strong>lógica bilateral.No título do documento, on<strong>de</strong> se lia “Draft Joint Statement of Intent…for the Establishment of Bilateral Energy Consultations”, foi proposto“Draft Memorandum of Un<strong>de</strong>rstanding…for the establishment of aMechanism for Consultations on Energy Tech<strong>no</strong>logy Cooperation”. Naparte preambular, elimi<strong>no</strong>u-se o seguinte trecho que continha referênciaao conceito <strong>de</strong> segurança energética: “Desiring to un<strong>de</strong>rtake joint effortsto enhance energy security and to stimulate sustainable <strong>de</strong>velopment”.Acrescentou-se o seguinte parágrafo: “Bearing in mind the importancefor both Parties of <strong>de</strong>veloping reliable and diversified sources of energy ina sustainable manner to assure their social and eco<strong>no</strong>mic <strong>de</strong>velopment”.Na parte operativa, o MME sugeriu cautela quanto à frequência dasreuniões do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas: “The consultations provi<strong>de</strong>d forun<strong>de</strong>r this Memorandum of Un<strong>de</strong>rstanding will be held once a yearalternately in <strong>Brasil</strong>ia and Washington, subject to the availability ofappropriated funds” 213 .O DOE aceitou a contraproposta do MME, mas solicitou alteraçãodo título do Memorando <strong>de</strong> Entendimento, com vistas a torná-lo maisabrangente e não restrito à área <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia energética. A sugestão doDOE foi aceita pelo Gover<strong>no</strong> brasileiro:O Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> pediu que fosse retirada a palavratec<strong>no</strong>logias da parte final do título do Memorando <strong>de</strong> Entendimento, [...]<strong>de</strong>ixando apenas cooperação na área <strong>de</strong> energia. A explicação, com aqual estou <strong>de</strong> acordo, e o Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> também, é a <strong>de</strong>que o Memorando <strong>de</strong> Entendimento prevê cooperação em diversas áreas,sendo mais abrangente do que o próprio Ajuste Complementar para aCooperação na Área <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia Energética, <strong>de</strong> 1997 214 .A visita do Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, em 20<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2003, marcou, do ponto <strong>de</strong> vista do Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>,o lançamento <strong>de</strong> uma parceria energética entre os dois países (US-BrazilEnergy Partnership). O Porta-Voz da Casa Branca anunciou que as áreasprioritárias seriam: a) Hidrogênio e células combustíveis. O <strong>Brasil</strong> seria213Telegrama 1695, 17/06/2003, <strong>de</strong> Brasemb Washington.214Telegrama 1704, 18/06/2003, <strong>de</strong> Brasemb Washington.148


elações brasil-estados unidos (2003-2007)o primeiro país lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong> a integrar a International Partnershipfor Hydrogen Eco<strong>no</strong>my (IPHE); b) Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong>. O <strong>Brasil</strong> dariainício às negociações para participar do Carbon Sequestration Lea<strong>de</strong>rshipForum (CSLF). O Foro <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança era iniciativa do Presi<strong>de</strong>nteBush na área <strong>de</strong> mudança climática, voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para separação, captura, transporte e armazenamento<strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>; c) Mo<strong>de</strong>rnização do setor elétrico; d) energiare<strong>no</strong>vável e eficiência energética; e e) segurança da infraestrutura <strong>de</strong>exploração offshore <strong>de</strong> petróleo e gás natural 215 .O Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o MME e o DOE para oEstabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação naÁrea <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> foi assinado pela Ministra <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong>, DilmaRousseff, e pelo Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Spencer Abraham, durante avisita presi<strong>de</strong>ncial. De acordo com o texto do Memorando, as consultasnão criariam obrigações legais vinculantes. Seriam <strong>de</strong>signados PontosFocais <strong>no</strong> Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> e <strong>no</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>,responsáveis pela preparação das reuniões ordinárias do Mecanismo<strong>de</strong> Consultas. Os Pontos Focais coor<strong>de</strong>nariam, por intermédio dasrespectivas embaixadas, a elaboração e a aprovação das agendas <strong>de</strong>reunião do Grupo <strong>de</strong> Trabalho. As consultas <strong>de</strong>veriam ser realizadasuma vez por a<strong>no</strong>, alternadamente em Brasília e em Washington, “sujeitasà disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos orçamentários” 216 . Foram listadas comoprioritárias as seguintes áreas: a) Tec<strong>no</strong>logias energéticas eficientese avançadas, especialmente na área <strong>de</strong> hidrogênio; b) Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong>sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>; c) Carvão e outros sistemas <strong>de</strong> potência avançados;d) Tec<strong>no</strong>logias para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável; e) Tec<strong>no</strong>logias<strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, incluindo biodiesel e biomassa e sistemas <strong>de</strong>distribuição <strong>de</strong> energia; f) Pesquisa básica em energia; e g) Informação,planejamento e regulação, especialmente nas áreas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>eletricida<strong>de</strong> e segurança da infraestrutura <strong>de</strong> exploração offshore.Durante a visita do Presi<strong>de</strong>nte Lula a Washington, o DOE indagousobre o interesse do MME em aprofundar a cooperaração <strong>no</strong> setor<strong>de</strong> biocombustíveis. No encontro com a Ministra Dilma Rousseff, oSecretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Spencer Abraham ressaltou que o eta<strong>no</strong>l constituía215http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2003/06/20030620-12.html216Vi<strong>de</strong> Anexo II.149


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>stema relevante não apenas para o DOE, mas também para o Departamento<strong>de</strong> Agricultura e para o Office of the United States Tra<strong>de</strong> Representative(USTR). A Ministra Dilma Rousseff avaliou que a <strong>de</strong>manda poreta<strong>no</strong>l cresceria significativamente <strong>no</strong>s países da OCDE e confirmou adisposição do <strong>Brasil</strong> para estabelecer parceria com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong> setor <strong>de</strong> biocombustíveis. Em reunião posterior, com a SubsecretáriaAdjunta <strong>de</strong> Política Energética Nacional, Larissa Dobriansky, a MinistraDilma Rousseff concordou em que seriam exploradas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cooperação, inclusive mediante a organização <strong>de</strong> uma conferência sobrebiodiesel 217 .Durante os preparativos para a primeira reunião do Mecanismo<strong>de</strong> Consultas, o tema do comércio bilateral <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l surgiu <strong>de</strong> formainesperada. Funcionário do DOE contactou a Embaixada do <strong>Brasil</strong> emWashington, em 12 <strong>de</strong> abril, para informar que:O Ministro Luiz Fernando Furlan teria manifestado interesse em reunir-secom o Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Spencer Abraham, por ocasião <strong>de</strong> sua visitaa Brasília [...] o Ministro <strong>de</strong>sejaria conversar sobre as perspectivas <strong>de</strong>abertura do mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> ao eta<strong>no</strong>l brasileiro 218 .A Assessoria Internacional do Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior (MDIC) não confirmou a intenção <strong>de</strong>realizar gestão sobre o assunto:O Ministro Luiz Fernando Furlan, em função <strong>de</strong> outros compromissospreviamente agendados, não fará reunião privada com o SecretárioAbraham [...] No entanto, o Ministro Furlan <strong>de</strong>verá avistar-se com oSecretário Abraham durante almoço <strong>de</strong> trabalho a realizar-se <strong>no</strong> MRE 219 .A primeira reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas, prevista para<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003, foi adiada para fevereiro <strong>de</strong> 2004, “a pedido daMinistra Rousseff, que consi<strong>de</strong>rava <strong>de</strong>zembro um mês crítico, pelosacertos finais que se fazia nas MPs do <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo para o setor elétrico”.O DOE, por sua vez, solicitou mais um adiamento, argumentando que217Telegrama 1806, 27/06/2003, <strong>de</strong> Brasemb Washington.218Telegrama 1038, 12/04/2004, <strong>de</strong> Brasemb Washington.219Despacho telegráfico 436, 15/04/2004, para Brasemb Washington.150


elações brasil-estados unidos (2003-2007)gostaria <strong>de</strong> fazer coincidir as consultas bilaterais com a Reunião dosMinistros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, que ocorreria em Trinida<strong>de</strong> Tobago, em abril 220 .O Secretário Spencer Abraham viajou a Brasília <strong>no</strong> dia 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>2004. Encontrou-se, conforme previsto, com o Ministro Luiz FernandoFurlan, durante almoço <strong>de</strong> trabalho <strong>no</strong> Palácio Itamaraty, e “conversoubrevemente sobre a experiência do <strong>Brasil</strong> na área do eta<strong>no</strong>l” 221 . Mantevereunião reservada <strong>no</strong> Gabinete do Ministro Celso Amorim, da qualparticiparam os Ministros Furlan e Rousseff, ocasião em que se tratouexclusivamente <strong>de</strong> energia nuclear. Na tar<strong>de</strong> do dia 19, participou daprimeira reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação na Área<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. A Ministra Dilma Rousseff e o Secretário Spencer Abrahamaprovaram o Relatório sobre a Situação da Cooperação <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, documento com informações sobre asprincipais ativida<strong>de</strong>s e projetos conjuntos na área energética 222 .Apesar do empenho do Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em criaro Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre cooperação energética, não houveinteresse em retomar posteriormente os trabalhos do grupo. ODepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> cumpriu a recomendação do Energy Task Force<strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> estabelecer foro para consultas regulares sobre energiacom o <strong>Brasil</strong>, mas não soube, paradoxalmente, aproveitar a existênciado Mecanismo para fazer avançar temas <strong>de</strong> interesse do Departamento.A Embaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington tentou, em diversas ocasiões,aproveitar as visitas dos titulares do Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> paraorganizar a segunda reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas. Os programas<strong>de</strong> visita da Ministra Dilma Rousseff (março <strong>de</strong> 2005) e do Ministro SilasRon<strong>de</strong>au (julho <strong>de</strong> 2006) aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> não incluíram, entretanto,referência ao Mecanismo <strong>de</strong> Consultas. Ainda em 2006, na expectativa<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> <strong>no</strong>va visita do Ministro Silas Ron<strong>de</strong>au, a Embaixadaem Washington sugeriu organizar a segunda reunião do Mecanismo, emsetembro, e chegou a propor temas, mas a viagem do Ministro Ron<strong>de</strong>aufoi cancelada 223 .220Telegrama 223, 22/01/2004, <strong>de</strong> Brasemb Washington.221Despacho telegráfico 496, 29/04/2004, para Brasemb Washington.222Vi<strong>de</strong> Anexo V.223Telegrama 2063, 01/09/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.151


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sEm fevereiro <strong>de</strong> 2007, realizou-se, na Embaixada em Washington,reunião entre diplomatas brasileiros e funcionários do DOE para discutir apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar a segunda reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas,tendo em vista os encontros presi<strong>de</strong>nciais programados para marçoseguinte. Os funcionários do DOE argumentaram que seria convenienteadiar a reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas para período posterior aosencontros presi<strong>de</strong>nciais, o que possibilitaria melhor planejamento inter<strong>no</strong>.Deixaram claro que o interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, naquele momento,era enfatizar a cooperação na área do eta<strong>no</strong>l 224 . Durante os quatro a<strong>no</strong>sem que esteve à frente do DOE (2005-2008), o Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Samuel Bodman, sucessor <strong>de</strong> Spencer Abraham, não visitou o <strong>Brasil</strong>,o que também, <strong>de</strong> certa forma, contribuiu para que o Mecanismo <strong>de</strong>Consultas permanecesse inativo durante o período. Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong>2006, durante encontro com o Ministro do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, o Secretário interi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, Clay Sell, <strong>de</strong>clarou que havia interesse do Departamento <strong>de</strong><strong>Energia</strong> em organizar visita ao <strong>Brasil</strong> do titular da pasta, mas que, emrazão das “múltiplas <strong>de</strong>mandas surgidas <strong>no</strong> front inter<strong>no</strong>”, não teria sidopossível incluir tal compromisso na agenda do Secretário Bodman 225 .Em outubro <strong>de</strong> 2007, o Embaixador em Washington, Antonio Patriota,encontrou-se com Samuel Bodman, formulou convite para visita ao<strong>Brasil</strong> e mencio<strong>no</strong>u a perspectiva <strong>de</strong> realização, em 2008, da ConferênciaInternacional sobre Biocombustíveis. O Embaixador sugeriu que avisita do Secretário Bodman ofereceria oportunida<strong>de</strong> para retomada dostrabalhos do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação Energética 226 .O convite foi reiterado pelo Embaixador Antonio Patriota, em março<strong>de</strong> 2008, durante encontro do Secretário Samuel Bodman com oPresi<strong>de</strong>nte da Petrobras, José Gabrielli. Na ocasião, Bodman reafirmousua disposição para visitar o <strong>Brasil</strong>, mas alegou que, por recomendaçõesmédicas, reduzira a frequência <strong>de</strong> viagens ao exterior 227 .O Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> voltaria a planejar visita do SecretárioSamuel Bodman ao <strong>Brasil</strong>, em função do interesse <strong>de</strong>spertado pelosanúncios das <strong>de</strong>scobertas dos campos <strong>de</strong> petróleo e gás natural na região224Telegrama 392, 01/03/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.225Telegrama 2663, 09/11/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.226Telegrama 2455, 05/11/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.227Telegrama 629, 11/03/2008, <strong>de</strong> Brasemb Washington.152


elações brasil-estados unidos (2003-2007)do pré-sal (Tupi, Júpiter, Carioca). Em abril <strong>de</strong> 2008, o DOE <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>uduas funcionárias, em missão precursora ao <strong>Brasil</strong>, para preparar avisita do Secretário Samuel Bodman, que incluiria escalas <strong>no</strong> Rio<strong>de</strong> Janeiro e Brasília. A Sra. Rhian<strong>no</strong>n Davis, assessora <strong>de</strong> Bodman,contactou a Embaixada em Washington, em 22 <strong>de</strong> abril, para confirmaro planejamento da visita, possivelmente na segunda semana <strong>de</strong> maio,e indagou sobre a existência <strong>de</strong> dados oficiais acerca das reservas<strong>de</strong>scobertas <strong>no</strong>s campos do pré-sal (Carioca). Davis antecipou que o DOE<strong>de</strong>veria propor a inclusão dos seguintes temas na agenda dos encontros:petróleo e gás; biocombustíveis; hidrogênio; células-combustível;planejamento energético <strong>de</strong> longo prazo; e geração e transmissão <strong>de</strong>energia 228 . A visita <strong>de</strong> Bodman foi cancelada. O programa provisórioda visita, acertado entre o MME e a Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,enfocava o setor petrolífero. Bodman participaria <strong>de</strong> café da manhã como Ministro <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong>, na Embaixada dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> emBrasília, e seguiria para o Rio <strong>de</strong> Janeiro para encontros com o Presi<strong>de</strong>nteda Petrobras e com o Diretor da Agência Nacional do Petróleo, GásNatural e Biocombustíveis (ANP), almoço <strong>no</strong> Instituto <strong>Brasil</strong>eiro doPetróleo e reunião com representantes do setor privado estaduni<strong>de</strong>nse,na se<strong>de</strong> da UNICA 229 .B - O Memorando <strong>de</strong> Entendimento para avançar a Cooperaçãoem BiocombustíveisEm contraste com a paralisia do processo <strong>de</strong> consultas propostopelo Energy Task Force, outra vertente da cooperação energética comos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> mostrou sinais <strong>de</strong> dinamismo a partir <strong>de</strong> 2006. OMinistério das <strong>Relações</strong> Exteriores conduziu negociações diplomáticasque resultaram na assinatura do Memorando <strong>de</strong> Entendimento paraAvançar a Cooperação em Biocombustíveis, documento que inaugurou<strong>no</strong>va fase do relacionamento bilateral <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energia, marcado pormaior protagonismo e espírito <strong>de</strong> iniciativa do Gover<strong>no</strong> brasileiro.Conforme visto <strong>no</strong> Capítulo II, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> aumentaramo volume das importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l brasileiro, apesar da vigência <strong>de</strong>228Telegrama 1085, 22/04/2008, <strong>de</strong> Brasemb Washington.229Telegrama 541, 25/04/2008, <strong>de</strong> Brasemb Washington.153


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sbarreiras tarifárias que restringiam o comércio bilateral. Em 2006,os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> tornaram-se o maior produtor mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l,superando o volume da safra brasileira. Diante <strong>de</strong>sse cenário, o Gover<strong>no</strong>brasileiro propôs a construção <strong>de</strong> parceria <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> biocombustíveis,com base <strong>no</strong> entendimento <strong>de</strong> que haveria interesse mútuo na conformação<strong>de</strong> um mercado internacional para o biocombustível. Sem prejuízodo pleito relativo à eliminação das barreiras tarifárias ao comérciobilateral <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, o Gover<strong>no</strong> brasileiro i<strong>de</strong>ntificou áreas <strong>de</strong> interessepara cooperação, entre as quais a harmonização dos padrões técnicos,o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> quadros regulatórios e a promoção conjunta emterceiros mercados. Na avaliação do Gover<strong>no</strong> brasileiro, os dois países<strong>de</strong>veriam unir esforços <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> internacional <strong>de</strong> maneira a contribuirpara a transformação do eta<strong>no</strong>l em commodity.Em janeiro <strong>de</strong> 2006, o Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (MAPA) propôs reunião com o Departamento <strong>de</strong>Agricultura dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (USDA) para tratar das especificaçõestécnicas para o álcool combustível e do <strong>de</strong>senvolvimento do mercado <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l, “especialmente contratos futuros negociados na bolsa <strong>de</strong> valores<strong>de</strong> Nova York” 230 . Tendo em conta que os dois países respondiam pormais <strong>de</strong> dois terços da produção mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, o Gover<strong>no</strong> brasileiroavaliou que seria conveniente negociar com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> um padrãoúnico para o biocombustível; qualquer especificação técnica <strong>de</strong>senvolvidae acordada pelos maiores atores do mercado acabaria sendo adotada como<strong>no</strong>rma internacional. Entre outras questões, o MAPA sugeria examinara harmonização dos padrões técnicos, a consolidação <strong>de</strong> um mercado<strong>de</strong> preços futuros para o eta<strong>no</strong>l e ações para ampliar o número <strong>de</strong> paísesprodutores. O tema “harmonização <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas em biocombustíveis” jáfora incluído na agenda do Comitê Consultivo Agrícola, em setembro<strong>de</strong> 2005, por iniciativa do <strong>Brasil</strong>. Pretendia-se promover aproximaçãoentre a Associação <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Normas Técnicas (ABNT) e a AmericanSociety for Testing on Materials (ASTM) e viabilizar a formulação<strong>de</strong> proposta conjunta <strong>de</strong> especificações técnicas para o álcool etílicocombustível, a ser negociada <strong>no</strong> âmbito da International Organizationfor Standardization (ISO).230Despacho telegráfico 69, 20/01/2006, para Brasemb Washington.154


elações brasil-estados unidos (2003-2007)Em fevereiro <strong>de</strong> 2006, realizou-se missão técnica a Washington,integrada por funcionários do MAPA e da Agência Nacional do Petróleo,Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O objetivo da missão foi discutiras condições necessárias para a criação <strong>de</strong> um mercado mundial para oeta<strong>no</strong>l 231 . Na avaliação do Gover<strong>no</strong> brasileiro, o principal <strong>de</strong>safio paratransformar o eta<strong>no</strong>l em commodity – além <strong>de</strong> harmonizar os padrõestécnicos – era garantir a sustentabilida<strong>de</strong> da oferta mundial. Váriosfatores po<strong>de</strong>riam interferir <strong>no</strong> comportamento da oferta, entre os quaisas oscilações dos preços do petróleo e dos alimentos vinculados à ca<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> produção do eta<strong>no</strong>l (milho, <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>; açúcar, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>).O <strong>Brasil</strong> teria interesse na estruturação do mercado internacional <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l, não apenas para promover o consumo em escala mundial – eassim ampliar as exportações – mas também para eventualmentebeneficiar-se do produto importado, em momentos <strong>de</strong> insuficiência daoferta nacional. A missão MAPA/ANP esclareceu, portanto, que havialimitações à capacida<strong>de</strong> da agroindústria brasileira <strong>de</strong> produzir eta<strong>no</strong>l emescala suficiente para abastecer o mercado inter<strong>no</strong> e exportar volumescrescentes do produto para o mercado internacional.Durante reunião <strong>no</strong> USDA, em 15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006, da qualparticiparam funcionários do DOS e do DOE, a <strong>de</strong>legação brasileiraafirmou <strong>no</strong>vamente que, apesar das condições favoráveis à expansãodo cultivo <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, não seria possível garantir queo crescimento do setor ocorreria <strong>no</strong> ritmo necessário para aten<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>manda por álcool e açúcar <strong>no</strong> longo prazo, <strong>no</strong>s mercados inter<strong>no</strong> eexter<strong>no</strong>. Nesse contexto, do ponto <strong>de</strong> vista brasileiro, seria indispensávelgarantir a consolidação <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> preços futuros para o eta<strong>no</strong>l,a partir do New York Board of Tra<strong>de</strong>, por exemplo. As autorida<strong>de</strong>s<strong>no</strong>rte-americanas não manifestaram, entretanto, disposição paraaprofundar, naquele momento, a discussão sobre a sustentabilida<strong>de</strong> domercado mundial do eta<strong>no</strong>l e as eventuais implicações sobre a ca<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> alimentos. Preferiram dar priorida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>bate sobre a harmonizaçãodas especificações técnicas do eta<strong>no</strong>l. Ao final da visita, <strong>de</strong>cidiu-se darseguimento ao diálogo bilateral e organizar seminário com participação<strong>de</strong> agências governamentais e entida<strong>de</strong>s privadas com interesse <strong>no</strong>tema: <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o Instituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia, Normatização e231Telegrama 418, 21/02/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.155


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sQualida<strong>de</strong> Industrial (INMETRO), a Associação <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> NormasTécnicas (ABNT) e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural eBiocombustíveis (ANP); <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a American Society forTesting and Materials (ASTM) 232 .Em março <strong>de</strong> 2006, o Ministro das <strong>Relações</strong> Exteriores, CelsoAmorim, recebeu <strong>de</strong>legação parlamentar dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, chefiadapelo Presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong> Finanças do Senado, Charles Grassley(Republica<strong>no</strong> – Iowa), para tratar das perspectivas da Rodada Doha e dacooperação bilateral sobre energias re<strong>no</strong>váveis. Produtor <strong>de</strong> soja e milho<strong>no</strong> estado <strong>de</strong> Iowa, o Senador Grassley é um dos porta-vozes do lobbyagrícola <strong>no</strong> Congresso dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Durante o encontro, o MinistroCelso Amorim suscitou a questão tarifária do eta<strong>no</strong>l. Referiu-se à tendência<strong>de</strong> aumento da participação das fontes re<strong>no</strong>váveis na matriz energéticamundial, que cria espaço para crescimento da produção <strong>de</strong> biocombustíveistanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Argumentou que, diante damagnitu<strong>de</strong> do mercado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e do crescimento da <strong>de</strong>mandainterna, motivado inclusive por legislação aprovada pelo Congresso dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, seria conveniente consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduçãodas tarifas <strong>de</strong> importação do eta<strong>no</strong>l. O Ministro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o estabelecimento<strong>de</strong> parceria na área do eta<strong>no</strong>l. Enfatizou, em particular, a importância dacooperação triangular envolvendo países me<strong>no</strong>s <strong>de</strong>senvolvidos, sobretudoafrica<strong>no</strong>s, os quais po<strong>de</strong>riam beneficiar-se <strong>de</strong> <strong>no</strong>va fronteira para ocrescimento econômico 233 .Em abril <strong>de</strong> 2006, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,Roberto Rodrigues, reiterou a proposta <strong>de</strong> cooperação em eta<strong>no</strong>l durantereunião em Washington com o Secretário <strong>de</strong> Agricultura, Mike Johanns. OMinistro Rodrigues sugeriu a criação <strong>de</strong> Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> alto nívelpara o eta<strong>no</strong>l, a exemplo do que fora constituído com o Japão (propostassimilares já haviam sido formuladas pelo MDIC e pela Embaixadado <strong>Brasil</strong> em Washington). Rodrigues ressaltou que, sem prejuízo dointeresse em tratar da questão tarifária, o Gover<strong>no</strong> brasileiro favoreciaatuação conjunta dos dois países para tornar o eta<strong>no</strong>l uma commoditynegociada em bolsas, com padrões técnicos <strong>de</strong>finidos e harmonizados.A parceria po<strong>de</strong>ria incluir, também, a promoção do eta<strong>no</strong>l em terceiros232Telegrama 418, 21/02/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.233Despacho telegráfico 418, 12/04/2006, para Brasemb Washington.156


elações brasil-estados unidos (2003-2007)mercados, a harmonização <strong>de</strong> marcos regulatórios e a cooperaçãocientífica e técnica. Rodrigues discorreu sobre o conceito <strong>de</strong> “clusters<strong>de</strong> agroenergia”, experiência que po<strong>de</strong>ria, a seu ver, ser implementada<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e em terceiros países, e que propiciaria redução dos custos <strong>de</strong>transporte. Trata-se da produção integrada <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para exportação,biodiesel <strong>de</strong> soja para uso dos equipamentos agrícolas e eletricida<strong>de</strong> apartir do aproveitamento do bagaço <strong>de</strong> cana. Propôs, em seguida, celebrarMemorando <strong>de</strong> Entendimento, que i<strong>de</strong>ntificaria áreas <strong>de</strong> cooperação embiocombustíveis e criaria o Grupo <strong>de</strong> Trabalho bilateral 234 .A Embaixada em Washington elaborou e encaminhou à Secretaria <strong>de</strong>Estado das <strong>Relações</strong> Exteriores, em 09 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, a versão inicialda minuta do Memorando <strong>de</strong> Entendimento para Criação do Grupo <strong>de</strong>Trabalho Bilateral sobre Biocombustíveis 235 . Após realizar consultasjunto aos diversos setores do Gover<strong>no</strong> brasileiro vinculados ao tema <strong>de</strong>biocombustíveis (Casa Civil, MME, MAPA, MDIC, MCT e CAMEX),o Itamaraty concluiu a redação da proposta brasileira <strong>de</strong> Memorando<strong>de</strong> Entendimento, que foi entregue pelo Embaixador em Washington,Roberto Ab<strong>de</strong>nur, ao Secretário <strong>de</strong> Estado Assistente para o HemisférioOci<strong>de</strong>ntal, Thomas Shan<strong>no</strong>n, em 06 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006 236 . Durante asconsultas interministeriais, enfatizou-se que a cooperação com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> po<strong>de</strong>ria incluir a transferência <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias e <strong>de</strong> experiênciasna produção, comercialização e utilização <strong>de</strong> biocombustíveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que com a <strong>de</strong>vida cautela, na medida em que o <strong>Brasil</strong>, por ser <strong>de</strong>tentorda tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> produção do álcool, po<strong>de</strong>ria não ser beneficiado, se nãohouvesse contrapartidas. O MDIC <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a associação estratégica entreempresas dos dois países, a participação do setor privado <strong>no</strong> Grupo <strong>de</strong>Trabalho sobre biocombustíveis, maior esforço do Gover<strong>no</strong> para exportarveículos flex fuel e o incremento da participação <strong>de</strong> empresas brasileirasna distribuição <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 237 .A proposta brasileira para o Memorando <strong>de</strong> Entendimento incluíatrês pontos principais. Em primeiro lugar, a criação do Grupo <strong>de</strong>Trabalho, que <strong>de</strong>veria ser integrado por órgãos governamentais e explorar234Telegramas 960, 26/04/2006, e 1198, 25/05/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.235Telegrama 1061, 09/05/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.236Despacho telegráfico 792, 29/06/2006, e telegrama 1572, 12/07/2006, <strong>de</strong> BrasembWashington.237Despacho telegráfico 705, 08/06/2006, para Brasemb Washington.157


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação em biocombustíveis, inclusive tec<strong>no</strong>lógicas(Artigo 1). A proposta brasileira relacionava os seguintes objetivos parao GT: estimular a harmonização dos marcos <strong>de</strong> produção, consumo,distribuição e comércio <strong>de</strong> biocombustíveis; <strong>de</strong>senvolver programas <strong>de</strong>cooperação técnica, inclusive pesquisa <strong>de</strong> fontes alternativas <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> biocombustíveis, como o eta<strong>no</strong>l celulósico; promover a transferência<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia, a produção e o consumo <strong>de</strong> biocombustíveis em terceirosmercados com o objetivo <strong>de</strong> criar um mercado mundial, sobretudo para oeta<strong>no</strong>l; ampliar as transações comerciais <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l nas principais bolsas<strong>de</strong> mercadorias e futuros; e promover estudos e pesquisas conjuntassobre o uso <strong>de</strong> biocombustíveis (Artigo 2). Por último, na tentativa<strong>de</strong> explorar a questão tarifária, a proposta brasileira estabelecia queas Partes se comprometiam a discutir formas alternativas <strong>de</strong> ampliar ocomércio bilateral <strong>de</strong> biocombustíveis, sobretudo eta<strong>no</strong>l, tendo em vistao objetivo <strong>de</strong> assegurar o fornecimento <strong>de</strong> combustíveis re<strong>no</strong>váveis embases constantes e previsíveis (Artigo 3) 238 .Ao fazer a entrega da proposta <strong>de</strong> Memorando <strong>de</strong> Entendimento aoSecretário <strong>de</strong> Estado Assistente para o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, ThomasShan<strong>no</strong>n, o Embaixador em Washington, Roberto Ab<strong>de</strong>nur, enfatizouque, do ponto <strong>de</strong> vista do Gover<strong>no</strong> brasileiro, a redução das barreirastarifárias às importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l constituía “componente importantedo <strong>de</strong>senvolvimento da cooperação bilateral” 239 . Entretanto, o <strong>Brasil</strong>,conforme ressaltado pelo Presi<strong>de</strong>nte da UNICA, Eduardo Carvalho,durante apresentação na Comissão <strong>de</strong> <strong>Relações</strong> Exteriores do Senado dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006 240 , não estaria em condições <strong>de</strong><strong>de</strong>slocar a produção estaduni<strong>de</strong>nse <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, mesmo que se eliminassemtodas as restrições ao produto. Recordou que o Ministério da Agricultura ea ANP consi<strong>de</strong>ravam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importar eta<strong>no</strong>l, caso a produçãodoméstica seja insuficiente, o que justificava o interesse brasileiro <strong>no</strong><strong>de</strong>senvolvimento do mercado internacional. A proposta brasileira doMemorando <strong>de</strong> Entendimento era motivada, portanto, por objetivosamplos e <strong>de</strong> longo prazo, relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento do mercadointernacional para os biocombustíveis, e que envolviam incentivosà produção e ao consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l em terceiros países. O Gover<strong>no</strong>238Despacho telegráfico 792, 29/06/2006, para Brasemb Washington.239Telegrama 1572, 06/07/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.240Telegrama 1466, 26/06/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.158


elações brasil-estados unidos (2003-2007)brasileiro mantinha, <strong>de</strong> toda forma, o pleito <strong>de</strong> liberalização do comérciobilateral <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l 241 .Em julho <strong>de</strong> 2006, o Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva encaminhoucorrespondência ao Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, sublinhando asmotivações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política e estratégica para a concretização daparceria bilateral:In an era marked by a record high in international oil prices, etha<strong>no</strong>land biodiesel emerge as the best alternatives to address the challenge ofour reliance on traditional sources of supply […] Today, Brazil and theUnited States account for about seventy percent of the global productio<strong>no</strong>f etha<strong>no</strong>l. This fuel can contribute <strong>de</strong>cisively towards achieving ourcountries’s energy security and sustainable <strong>de</strong>velopment. It is necessary,however, for us to join forces so that it truly becomes an energy commodity.O Gover<strong>no</strong> brasileiro, portanto, sustentava que o objetivo principalda parceria na área <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>de</strong>veria ser a promoção do<strong>de</strong>senvolvimento sustentável por meio da redução da <strong>de</strong>pendênciadas fontes tradicionais e da transformação do eta<strong>no</strong>l em commodityenergética.O DOE reagiu favoravelmente à proposta <strong>de</strong> parceria embiocombustíveis, antevendo oportunida<strong>de</strong>s para projetos conjuntos <strong>de</strong>pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento do eta<strong>no</strong>l celulósico e para a difusão doeta<strong>no</strong>l em terceiros mercados. Durante encontro com o Ministro SilasRon<strong>de</strong>au, <strong>no</strong> dia 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006, em Washington, o Secretário<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Samuel Bodman enfatizou o interesse do Gover<strong>no</strong> GeorgeW. Bush em privilegiar a cooperação triangular com os países centro--america<strong>no</strong>s e caribenhos. Concordou com a avaliação <strong>de</strong> que serianecessário elevar a participação do eta<strong>no</strong>l na matriz energética dos paísesda região. Formulou convite para participação do Ministro Silas Ron<strong>de</strong>auem reunião entre os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e os Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos paísesdo CARICOM (Comunida<strong>de</strong> do Caribe) prevista para setembro <strong>de</strong> 2006,em Trinidad e Tobago. Afirmou que favorecia esforços conjuntos paratransformar o eta<strong>no</strong>l em commodity. Ressaltou a importância do eta<strong>no</strong>lcelulósico para o avanço da parceria bilateral. Disse que o DOE, por241Telegrama 1572, 12/07/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.159


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>smeio do National Renewable Energy Laboratory (NREL), <strong>no</strong> Colorado,estava ampliando os investimentos em pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento doeta<strong>no</strong>l celulósico. Sugeriu missão <strong>de</strong> técnicos brasileiros para conheceras instalações do NREL. O Ministro Ron<strong>de</strong>au acolheu favoravelmente aproposta <strong>de</strong> intercâmbio entre instituições <strong>de</strong> pesquisa na área do eta<strong>no</strong>lcelulósico. Citou o patenteamento da tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>senvolvida pelaPetrobras para o processo H-Bio 242 o qual, juntamente com o biodiesel,contribuiria para reduzir a <strong>de</strong>pendência brasileira do diesel importado 243 .Em agosto <strong>de</strong> 2006, o Diretor-Geral do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> doItamaraty, Ministro Antonio Simões, reuniu-se, em Brasília, com o Diretor<strong>de</strong> Planejamento Político do DOS, Stephen Krasner. No encontro, Krasnermanifestou a concordância dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> com a proposta brasileirado Fórum Eta<strong>no</strong>l (tema <strong>de</strong>senvolvido <strong>no</strong> próximo item) e reafirmou adisposição do Gover<strong>no</strong> Bush para concretizar a parceria bilateral na área <strong>de</strong>biocombustíveis. O assessor <strong>de</strong> Krasner, Greg Manuel – que viria a ocupara função <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> do DOS, a partir <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 2006 – enfatizou o interesse pessoal da Secretária CondoleezzaRice em fazer avançar a cooperação com o <strong>Brasil</strong>. Acrescentou que, do ponto<strong>de</strong> vista dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, seria necessário dar priorida<strong>de</strong> ao exame dosseguintes aspectos: a) estímulo do <strong>de</strong>senvolvimento científico e tec<strong>no</strong>lógico,tanto <strong>no</strong> que diz respeito à produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, quanto a sua estocagem ecomercialização; b) <strong>de</strong>finição do marco regulatório; c) cooperação comterceiros países, com foco em países da região, como Haiti e Nicarágua, sem<strong>de</strong>scartar os mercados asiáticos; d) produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> primeira e segundageração (eta<strong>no</strong>l celulósico); e) <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> investimentos, oque exigiria aproximação entre agências <strong>de</strong> ambos os Gover<strong>no</strong>s 244 . GregManuel <strong>de</strong>ixou transparecer a expectativa <strong>de</strong> que a cooperação com o <strong>Brasil</strong>contribuísse para a pesquisa do eta<strong>no</strong>l celulósico e para a busca <strong>de</strong> soluçõespara problemas técnicos que afligiam o setor <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, como aausência <strong>de</strong> infraestrutura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> estocagem e distribuição <strong>de</strong> álcool.242O processo H-BIO foi <strong>de</strong>senvolvido pela Petrobras para inserir o processamento <strong>de</strong> matéria--prima re<strong>no</strong>vável <strong>no</strong> esquema <strong>de</strong> refi<strong>no</strong> <strong>de</strong> petróleo. O óleo vegetal ou animal é misturado comfrações <strong>de</strong> diesel <strong>de</strong> petróleo para ser hidroconvertido em Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hidrotratamento (HDT),que são empregadas nas refinarias, principalmente para a redução do teor <strong>de</strong> enxofre e melhoriada qualida<strong>de</strong> do óleo diesel, ajustando as características do combustível às especificações daANP. Fonte: Petrobras.243Telegrama 1637, 13/07/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.244Despacho telegráfico 984, 11/08/2006, para Brasemb Washington.160


elações brasil-estados unidos (2003-2007)Referiu-se, além disso, à intenção dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong> engajar o Gover<strong>no</strong>brasileiro nas ações voltadas para a diversificação da matriz energética dospaíses caribenhos, o que teria efeitos benéficos potenciais sobre o nível <strong>de</strong>renda das populações locais, o crescimento econômico e a redução dos fluxosmigratórios regionais.Em setembro <strong>de</strong> 2006, o Subsecretário-Geral <strong>de</strong> AssuntosPolíticos I do MRE, Embaixador Antonio Patriota, reuniu-se com a<strong>de</strong>legação <strong>no</strong>rte-americana à primeira reunião preparatória do FórumEta<strong>no</strong>l, em Brasília. Na ocasião, o Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, Greg Manuel, apresentou propostas para a condução daparceria bilateral em biocombustíveis 245 :1) Na área <strong>de</strong> ciência e tec<strong>no</strong>logia, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>fendiamque os recursos disponíveis fossem direcionados para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias que contribuíssem para reduzir os custos <strong>de</strong> produção eampliar o consumo <strong>de</strong> biocombustíveis, em particular eta<strong>no</strong>l celulósico;o tema dos biocombustíveis <strong>de</strong>veria receber tratamento prioritário <strong>no</strong>âmbito <strong>de</strong> acordos bilaterais em vigor;2) No tocante à cooperação com terceiros países, Greg Manuelesclareceu que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> consi<strong>de</strong>ravam os biocombustíveiscomo instrumento para a consecução <strong>de</strong> objetivos geopolíticos,tais como promoção da <strong>de</strong>mocracia, criação <strong>de</strong> alternativassocioeconômicas para países em <strong>de</strong>senvolvimento, diversificaçãoda matriz energética e redução das emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e doconsumo <strong>de</strong> petróleo. Na avaliação do Departamento <strong>de</strong> Estado, acooperação com terceiros países <strong>de</strong>veria incluir, prioritariamente:Haiti, República Dominicana, São Cristóvão e Névis, Guatemala,El Salvador, Colômbia e Bolívia. Greg Manuel antecipou queos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> agrupariam os países beneficiários em duascategorias: fast track e ODA (Official Development Assistance).Na primeira categoria, os Gover<strong>no</strong>s locais <strong>de</strong>veriam assumir aprerrogativa <strong>de</strong> criar ambiente institucional necessário para aatuação do setor privado. Na segunda, as iniciativas <strong>de</strong> cooperaçãoadquiririam feição mais tradicional com ênfase na capacitaçãoinstitucional <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> a gover<strong>no</strong>;245Despacho telegráfico 1180, 27/09/2006, para Brasemb Washington.161


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s3) No pla<strong>no</strong> multilateral, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> atribuíam priorida<strong>de</strong>à formação <strong>de</strong> parcerias com vistas ao estabelecimento <strong>de</strong> mercadointernacional para o eta<strong>no</strong>l. Greg Manuel mencio<strong>no</strong>u, nesse sentido, aparticipação <strong>no</strong>rte-americana <strong>no</strong> Fórum Eta<strong>no</strong>l, na Global BioenergyPartnership do G-8, sob li<strong>de</strong>rança italiana, além da influência exercidapelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> junto aos organismos financeiros internacionais(Banco Mundial e BID) e <strong>de</strong> cooperação multilateral (PNUD, PNUMA,FAO e UNIDO).O Embaixador Antonio Patriota esclareceu que o <strong>Brasil</strong> saudavao interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em trabalhar na promoção dosbiocombustíveis, tema estratégico para ambos os países, mas que haverianecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise mais <strong>de</strong>talhada das linhas <strong>de</strong> ação sugeridaspelo Departamento <strong>de</strong> Estado. Com relação à cooperação com terceirospaíses, por exemplo, o Embaixador Patriota observou que o Gover<strong>no</strong>brasileiro, em princípio, acolhia favoravelmente a execução <strong>de</strong> projetosem favor do Haiti. Não haveria, portanto, obstáculos para realizar açõesconjuntas em outros países da América Central e do Caribe. O <strong>Brasil</strong>po<strong>de</strong>ria, entretanto, ter dificulda<strong>de</strong>s em trabalhar com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong> contexto sul-america<strong>no</strong> (Colômbia e Bolívia). O Embaixador Patriotarecordou, ainda, que o <strong>Brasil</strong> assumira compromissos com o Rei<strong>no</strong> Unidoe a França <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> promover iniciativas voltadas para a produçãoe o consumo <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>no</strong> contexto africa<strong>no</strong>. Haveria, <strong>de</strong>ssaforma, complementarida<strong>de</strong> com a concentração geográfica proposta peloDepartamento <strong>de</strong> Estado. No pla<strong>no</strong> multilateral, afirmou que o Gover<strong>no</strong>brasileiro não consi<strong>de</strong>rava incompatíveis a iniciativa brasileira do FórumEta<strong>no</strong>l e a proposta da Global Bioenergy Partnership, lançada peloG-8 <strong>no</strong> contexto do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Gleneagles, mas que procurariamanter contato com a Itália para evitar duplicação <strong>de</strong> esforços e buscarcoor<strong>de</strong>nar ações 246 .Decorridos seis meses do encaminhamento ao Departamento <strong>de</strong>Estado da proposta brasileira <strong>de</strong> Memorando <strong>de</strong> Entendimento sobreBiocombustíveis, a Secretaria <strong>de</strong> Estado das <strong>Relações</strong> Exteriores instruiua Embaixada em Washington a solicitar comentários e consultar sobrea possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assinar o documento por ocasião da visita ao <strong>Brasil</strong>do Subsecretário <strong>de</strong> Estado para Assuntos Políticos, Nicholas Burns,246Despacho telegráfico 1180, 27/09/2006, para Brasemb Washington.162


elações brasil-estados unidos (2003-2007)programada para fevereiro <strong>de</strong> 2007 247 . O Coor<strong>de</strong>nador Internacional<strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Greg Manuel, respon<strong>de</strong>u que o Departamento <strong>de</strong> Estadoacolhera favoravelmente a proposta, mas que o texto do Memorandose encontrava ainda sob exame inter<strong>no</strong>. O DOS pretendia apresentarcontraproposta para ressaltar as três vertentes <strong>de</strong> ação prioritárias doponto <strong>de</strong> vista dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>: 1) <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> bilateral, promover apesquisa e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia para biocombustíveis <strong>de</strong> <strong>no</strong>vageração; 2) <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> global, cooperar <strong>no</strong> âmbito do Fórum Internacional<strong>de</strong> Biocombustíveis para o estabelecimento <strong>de</strong> padrões uniformes e<strong>no</strong>rmas com vistas à criação do mercado <strong>de</strong> biocombustíveis; 3) esten<strong>de</strong>ros benefícios dos biocombustíveis a terceiros países, em particular daAmérica Central e do Caribe. Afirmou, também, que o DOS favorecia aassinatura do Memorando <strong>de</strong> Entendimento durante visita do Presi<strong>de</strong>nteLuiz Inácio Lula da Silva aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 248 .O DOE, por sua vez, manifestou interesse específico na pesquisaconjunta do eta<strong>no</strong>l celulósico. Em janeiro <strong>de</strong> 2007, ao <strong>de</strong>spedir-se doEmbaixador brasileiro em Washington, Roberto Ab<strong>de</strong>nur, o Secretário <strong>de</strong><strong>Energia</strong> Samuel Bodman propôs a realização <strong>de</strong> missão técnica brasileirapara visitar o National Renewable Energy Laboratory, localizado emGol<strong>de</strong>n, Colorado. Bodman afirmou que o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>reservara recursos orçamentários da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 250 milhões para acriação <strong>de</strong> dois <strong>no</strong>vos centros <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> biocombustíveis. Comentouque a licitação para a implementação dos projetos <strong>de</strong>spertava forteinteresse <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong>s e empresas <strong>de</strong> biotec<strong>no</strong>logia dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>. O DOE pretendia, além do eta<strong>no</strong>l celulósico, estimular avançostec<strong>no</strong>lógicos na produção <strong>de</strong> outros biocombustíveis avançados 249 .Durante visita <strong>de</strong> cortesia ao Ministro Celso Amorim, em fevereiro<strong>de</strong> 2007, o Subsecretário <strong>de</strong> Estado para Assuntos Políticos, NicholasBurns, manifestou a disposição dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para elevar aonível <strong>de</strong> parceria estratégica suas relações com o <strong>Brasil</strong>. Referiu-se aoêxito da cooperação <strong>no</strong> Haiti como fator <strong>de</strong> aproximação política entreos dois países. Avaliou que a visita do Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula daSilva, prevista para março, ofereceria ocasião propícia para lançar aparceria estratégica e assinar o Memorando <strong>de</strong> Entendimento na área247Despacho telegráfico 48, 22/01/2007, para Brasemb Washington.248Telegrama 185, 27/01/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.249Telegrama 203, 30/01/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.163


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> biocombustíveis. Burns confirmou que a estratégia dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> para a cooperação bilateral em biocombustíveis se baseava emtrês pilares: 1) Criação do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis;2) Cooperação com terceiros países, como os da América Central, doCaribe e da América do Sul; 3) Desenvolvimento <strong>de</strong> pesquisas científicase tec<strong>no</strong>lógicas conjuntas.O Ministro Celso Amorim afirmou que o Gover<strong>no</strong> brasileiroapreciava o interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em estabelecer diálogo bilateralestratégico. Observou que a cooperação energética era relevante tanto doponto <strong>de</strong> vista político quanto do econômico e tec<strong>no</strong>lógico. Indicou queo eta<strong>no</strong>l po<strong>de</strong>ria converter-se em sustentáculo das relações econômicas.Ressaltou, entretanto, ser necessário resistir ao impulso <strong>de</strong> “eta<strong>no</strong>lizar”as relações bilaterais, em <strong>de</strong>trimento da parceria <strong>no</strong> campo político.Recordou que o biodiesel constituía, também, importante instrumento<strong>de</strong> cooperação, tendo em conta seu potencial para geração <strong>de</strong> emprego erenda em muitos países. Quanto ao aspecto tec<strong>no</strong>lógico, Celso Amorimsublinhou que a cooperação em biocombustíveis <strong>de</strong>veria apresentarrelação equilibrada e que era preciso resguardar o conhecimento e aexperiência acumulada pelo <strong>Brasil</strong> ao longo <strong>de</strong> décadas. No tocante àcooperação com terceiros países, esclareceu que o <strong>Brasil</strong> favorecia, emum primeiro momento, i<strong>de</strong>ntificar parceiros do Caribe e da AméricaCentral, inclusive em função da proximida<strong>de</strong> geográfica com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>; a cooperação com o Haiti constituiria, nesse sentido, excelenteponto <strong>de</strong> partida. Comentou, a propósito, que a empresa brasileiraDedini exportara tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> usinas <strong>de</strong> álcool para a Jamaica, que jáestaria direcionando a produção para o mercado dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Acrescentou, por último, que eventual ação conjunta em países africa<strong>no</strong>spo<strong>de</strong>ria constituir instrumento adicional para gerar avanços sociaisimportantes, além <strong>de</strong> reforçar organizações agrícolas.Antes da assinatura do Memorando <strong>de</strong> Entendimento, em 9 <strong>de</strong> março<strong>de</strong> 2007, ocorreram manifestações <strong>de</strong> dois influentes parlamentaresrepublica<strong>no</strong>s a respeito da perspectiva <strong>de</strong> parceria <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong> setor <strong>de</strong> biocombustíveis: o Senador Richard Lugar (R–Indiana),membro da Comissão <strong>de</strong> <strong>Relações</strong> Exteriores, favorável à iniciativa; eo Senador Charles Grassley (R–Iowa), membro do Comitê <strong>de</strong> Finanças,porta-voz dos produtores <strong>de</strong> milho e forte opositor da abertura do mercadodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> às importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> terceiros países.164


elações brasil-estados unidos (2003-2007)No início <strong>de</strong> fevereiro, o Senador Richard Lugar encaminhou àEmbaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington, com pedido <strong>de</strong> comentários,minuta <strong>de</strong> proposta legislativa a ser apresentada ao Congresso, que teriao objetivo <strong>de</strong> complementar as iniciativas da Administração Bush <strong>de</strong>aproximação com o <strong>Brasil</strong> na área <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. A assessoria do SenadorRichard Lugar comentou que a intenção do projeto <strong>de</strong> lei era formulargesto político <strong>de</strong> apoio à parceria bilateral e sinalizar que a AméricaLatina não estaria marginalizada na formulação da política externa dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Observou que o projeto <strong>de</strong> lei instruiria o Executivo aorientar a cooperação bilateral <strong>no</strong> sentido do incremento da produção edo consumo <strong>de</strong> biocombustíveis não apenas <strong>no</strong>s dois países, mas também<strong>no</strong> restante da América Latina e <strong>no</strong> Caribe. Entre outros pontos, o projeto<strong>de</strong> lei exortaria os Departamentos <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> a negociarcom o <strong>Brasil</strong> uma parceria estratégica para o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal naárea <strong>de</strong> biocombustíveis. Estariam incluídos nessa parceria Argentina,Uruguai, Chile, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Paraguai, Peru,Haiti, São Cristóvão e Névis, Trinidad e Tobago, México, Costa Rica,El Salvador, República Dominicana, Guatemala, Honduras, Nicarágua ePanamá. Além disso, o projeto recomendava ao Departamento <strong>de</strong> Estadoe ao Escritório do Representante <strong>de</strong> Comércio (USTR) a negociação <strong>de</strong>um acordo bilateral para proteção <strong>de</strong> investimentos. Ressalte-se que nãohavia, na minuta do projeto <strong>de</strong> lei, referência à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar,mesmo que gradualmente, a tarifa secundária do eta<strong>no</strong>l. A assessoriado Senador Lugar comentou que a inclusão <strong>de</strong>sse ponto dificultaria aaprovação do projeto, mas reconheceu que haveria espaço para discutir otema, tendo em conta, entre outros aspectos, a pressão exercida pelo setor<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l sobre os preços do milho, o que estaria afetando o <strong>de</strong>sempenho<strong>de</strong> outras indústrias alimentícias dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 250 .Consultada sobre a minuta <strong>de</strong> proposta legislativa, a Secretaria <strong>de</strong>Estado das <strong>Relações</strong> Exteriores instruiu a Embaixada em Washington arealizar gestão para manifestar a preocupação brasileira com diversospontos do projeto e <strong>de</strong>sencorajar o Senador Lugar <strong>de</strong> apresentarformalmente o texto ao Congresso.250Telegramas 269, 08/02/2007, e 274, 09/02/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.165


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sNo momento em que o <strong>Brasil</strong> estuda o formato e o alcance <strong>de</strong> parceriaem biocombustíveis com os EUA preocupa, por prematuro, que aproposta do Senador Lugar abor<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira tão <strong>de</strong>talhada aspectossensíveis que ainda se encontram in<strong>de</strong>finidos (tais como sua limitaçãoà América Latina e Caribe e a menção explícita a países), bem comooutros que sequer foram objeto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração entre os representantesdos dois países (caso do acordo <strong>de</strong> investimentos) [...] Des<strong>de</strong> o início, aleitura da proposta revela que o congressista republica<strong>no</strong> trabalha compremissas muito mais amplas dos que as discutidas por <strong>Brasil</strong> e EUApara balizar a cooperação bilateral sobre biocombustíveis [...] rogoinformar ao congressista <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> que a proposta <strong>de</strong> legislaçãoem tela po<strong>de</strong>ria ter efeito contrário ao <strong>de</strong>sejado, isto é, causar mal-estare criar empecilhos para o avanço das tratativas sobre a cooperação embiocombustíveis. Tal situação seria <strong>de</strong> todo in<strong>de</strong>sejável <strong>no</strong> momento emque se planeja visita oficial do Presi<strong>de</strong>nte Bush ao <strong>Brasil</strong> 251 .No tocante ao projeto em si, a Secretaria <strong>de</strong> Estado observou que:A) Mencionar o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal como escopo geográficoda parceria não correspon<strong>de</strong>ria ao interesse <strong>de</strong> ambos os países emdisseminar a produção e o consumo <strong>de</strong> biocombustíveis em escala global.Nas negociações com o Departamento <strong>de</strong> Estado, o <strong>Brasil</strong> informaraque preferia evitar menção específica a áreas geográficas, por enten<strong>de</strong>rque as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação po<strong>de</strong>riam realizar-se até mesmo empaíses africa<strong>no</strong>s ou do su<strong>de</strong>ste asiático com potencial para produzirbiocombustíveis. Esclarecera, também, que teria dificulda<strong>de</strong>s políticasem trabalhar com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> contexto sul-america<strong>no</strong>, em quejá se <strong>de</strong>senvolviam iniciativas <strong>no</strong> âmbito do Mercosul e da Comunida<strong>de</strong>Sul-Americana <strong>de</strong> Nações. Dessa forma, o <strong>Brasil</strong> não po<strong>de</strong>ria endossara lista <strong>de</strong> países sugerida <strong>no</strong> projeto do Senador Lugar;B) Qualquer vinculação entre a proposta <strong>de</strong> parceria embiocombustíveis e a abertura <strong>de</strong> diálogo bilateral sobre acordo <strong>de</strong>promoção e proteção <strong>de</strong> investimentos (APPI) representaria <strong>no</strong>n-starter,que po<strong>de</strong>ria comprometer as negociações. Assinalou-se, a propósito, queo acordo APPI entre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, assinado em 1965, nuncaentrou em vigor;251Despacho telegráfico 126, 12/02/2007, para Brasemb Washington.166


elações brasil-estados unidos (2003-2007)C) O <strong>Brasil</strong> enten<strong>de</strong> que a cooperação bilateral em biocombustíveis<strong>de</strong>ve ficar restrita a combustíveis líquidos para propulsão <strong>de</strong> motores(como eta<strong>no</strong>l e biodiesel), utilizados <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> transportes. O <strong>Brasil</strong><strong>de</strong>tém conhecimento técnico e experiência acumulada nesse segmento,que po<strong>de</strong>riam servir <strong>de</strong> base para a atuação conjunta em terceiros países.A minuta elaborada pelo Senador Richard Lugar, entretanto, <strong>de</strong>finiabiocombustíveis como “any fuel <strong>de</strong>rived from biomass” e previa arealização <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> e a análise da <strong>de</strong>manda potencialpor bioenergias <strong>no</strong>s países participantes. Na avaliação da Secretaria <strong>de</strong>Estado, evi<strong>de</strong>nciava-se que os autores da minuta pretendiam utilizaros referidos estudos para mapear a <strong>de</strong>manda regional por energiasalternativas e i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s para o setor industrial e <strong>de</strong>serviços dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O texto mencionava tec<strong>no</strong>logias variadascomo a produção <strong>de</strong> biogás, carvão ativado e fogões pouco poluentes ea conversão <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> biomassa. Embora não <strong>de</strong>scartasse eventualinteresse brasileiro em cooperar nessas áreas, a Secretaria <strong>de</strong> Estadoenfatizou que o objetivo, <strong>no</strong> momento, era focar a parceria bilateral<strong>no</strong>s biocombustíveis automotivos, <strong>de</strong> maneira a explorar o potencial <strong>de</strong>tais produtos como fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável por meio dageração <strong>de</strong> empregos, renda, benefícios para o meio ambiente e para asaú<strong>de</strong> humana e incremento da segurança energética. Causou estranheza,também, a ausência <strong>de</strong> qualquer menção na minuta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fomentar o comércio internacional <strong>de</strong> biocombustíveis; o documentocontinha apenas referências a expressões como “barreiras à transferência<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias”, “cooperação econômica transfronteiriça” e “penetração<strong>de</strong> mercados” 252 .A assessoria do Senador Richard Lugar, após ser informada doscomentários brasileiros, manifestou interesse em continuar o diálogocom a Embaixada em Washington. Indicou, também, que o Senadoracataria as pon<strong>de</strong>rações da Secretaria <strong>de</strong> Estado e aguardaria os resultadosdos encontros presi<strong>de</strong>nciais, previstos para março <strong>de</strong> 2007, para darseguimento a outras iniciativas na área 253 .O Senador Charles Grassley, representante dos produtores <strong>de</strong> milho,realizou gestão junto à Casa Branca, manifestando oposição à parceria252Despacho telegráfico 126, 12/02/2007, para Brasemb Washington.253Telegrama 301, 14/02/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.167


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>scom o <strong>Brasil</strong>. Alegou que a iniciativa po<strong>de</strong>ria prejudicar os interessesda indústria <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e provocar aumento dasimportações oriundas do Caribe. Em correspondência ao Presi<strong>de</strong>nteGeorge W. Bush, datada <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007, Grassley manifestoupreocupação com a concorrência brasileira e com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>surgimento <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos centros <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong>s países caribenhos.Criticou o uso dos recursos do Tesouro america<strong>no</strong> para financiarprodutores estrangeiros. Afirmou, também, que o <strong>Brasil</strong> pretendiaincrementar o volume das exportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l ao abrigo da Iniciativa daBacia do Caribe (CBI) 254 . A gestão do Senador Grassley não surtiu o efeitoesperado. O Gover<strong>no</strong> Bush, embora sensível às <strong>de</strong>mandas do influentelobby agrícola, consi<strong>de</strong>rou ser do interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> levaradiante a parceria com o <strong>Brasil</strong>, até porque, <strong>no</strong> médio ou longo prazo,se antevia o crescimento da produção doméstica <strong>de</strong> biocombustíveisavançados, não vinculada ao setor <strong>de</strong> milho.O Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> paraAvançar a Cooperação em Biocombustíveis foi assinado durante a visitado Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush ao <strong>Brasil</strong>, em 8 e 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007,pelo Ministro Celso Amorim e pela Secretária <strong>de</strong> Estado CondoleezzaRice. O texto do Memorando incorporou as três vertentes <strong>de</strong> açãoprioritárias, propostas pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>: bilateral, com terceirospaíses e global 255 . Em <strong>no</strong>ta à imprensa, o Departamento <strong>de</strong> Estadoesclareceu que “as the world’s two largest producers of etha<strong>no</strong>l, theUnited States and Brazil intend to advance the research and <strong>de</strong>velopmentof new tech<strong>no</strong>logies to promote biofuels use advance the research and<strong>de</strong>velopment of new tech<strong>no</strong>logies to promote biofuels use” 256 . A <strong>no</strong>ta doDOS manifestou expectativa <strong>de</strong> que a cooperação bilateral contribuíssepara avanços na pesquisa do eta<strong>no</strong>l celulósico: “Working together withBrazil to encourage greater adoption of biofuels has the potential tospur renewable energy investment, facilitate tech<strong>no</strong>logy transfer…”.Mencio<strong>no</strong>u, também, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viabilizar a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lem escala global: “Reducing the cost of biofuels production, landuse <strong>de</strong>mands and price pressures on feedstocks, are key to increasingglobal adoption of biofuels”. O DOS antecipou, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>bate254Telegrama 413, 05/03/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.255Vi<strong>de</strong> Anexo III.256Vi<strong>de</strong> Anexo VI.168


elações brasil-estados unidos (2003-2007)que ganharia visibilida<strong>de</strong> <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em 2008, relacionado àpressão exercida pela produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l sobre os preços dos alimentos,e que justificaria a criação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> trabalho bilateral sobre asustentabilida<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong> biocombustíveis.Com relação ao escopo geográfico da parceria e ao mercadointernacional <strong>de</strong> biocombustíveis, o DOS reiterou a intenção dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong> estimular o investimento privado para produçãoe consumo <strong>de</strong> biocombustíveis em terceiros países, “beginning inCentral America and the Caribbean”, e <strong>de</strong> atuar, por meio do FórumInternacional <strong>de</strong> Biocombustíveis, com vistas ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>padrões uniformes e <strong>no</strong>rmas internacionais comuns para transformaros biocombustíveis em commodities. A <strong>no</strong>ta do DOS, entretanto, fezduas ressalvas. Primeiro, a cooperação com o <strong>Brasil</strong> era consi<strong>de</strong>radacomplementar a outras iniciativas em curso <strong>no</strong> âmbito do G-8 e daAPEC (Asia-Pacific Eco<strong>no</strong>mic Cooperation): “Greater cooperationwith Brazil is complementary to existing United States efforts inthe Global Bio-Energy Partnership endorsed by the Group of Eightand the Asia-Pacific Eco<strong>no</strong>mic Cooperation forum’s Biofuels TaskForce”. Segundo, o Gover<strong>no</strong> George W. Bush não cogitava a revisão<strong>de</strong> tarifas ou a negociação <strong>de</strong> quotas para acesso do eta<strong>no</strong>l brasileiro aomercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>: “this initiative does <strong>no</strong>t inclu<strong>de</strong> discussio<strong>no</strong>f United States tra<strong>de</strong>, tariffs or quotas”. Dessa forma, o DOSsinalizava aos parceiros do G-8 e da APEC que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>permaneceriam engajados nas respectivas frentes <strong>de</strong> cooperação.Internamente, respondia aos críticos do Congresso, assegurando quenão se consi<strong>de</strong>rava a suspensão, mesmo que temporária, da tarifasecundária do eta<strong>no</strong>l.O DOS <strong>de</strong>stacou a relevância do Memorando <strong>de</strong> Entendimento <strong>no</strong>contexto da segurança energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>:The agreement highlights the importance of biofuels as a transformativeforce in the region to diversify energy supplies [...] Etha<strong>no</strong>l and otherbiofuels are part of a larger strategy to address energy security, cleanerair, and climate change at home and in the region […] the United Statesis working closely with governments, private sector, and multilateralorganizations to advance energy security by encouraging market-led169


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong>velopment, transparency, integration, and investment in the energysector 257 .No dia 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007, durante evento <strong>no</strong> terminal da Transpetro,em Guarulhos, os Presi<strong>de</strong>ntes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bushanunciaram o lançamento da parceria bilateral em biocombustíveis. Osdiscursos foram marcados por certo grau <strong>de</strong> convergência quanto às trêsvertentes <strong>de</strong> ação prioritária. O Presi<strong>de</strong>nte Lula absteve-se <strong>de</strong> reivindicara suspensão da tarifa secundária do eta<strong>no</strong>l. Em seu discurso, preferiuenfatizar a superiorida<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>lógica da agroindústria brasileira, o papeldos biocombustíveis como instrumentos <strong>de</strong> políticas sociais e <strong>de</strong> reduçãoda pobreza e o propósito <strong>de</strong> estabelecer um mercado internacional:No campo do eta<strong>no</strong>l, temos um programa extremamente bem-sucedido,fruto <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> muito trabalho e <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógica [...]Hoje, a socieda<strong>de</strong> toda colhe o fruto <strong>de</strong>sse esforço, e outros países queremcompartilhar a experiência brasileira na produção <strong>de</strong> biocombustíveis.O Memorando é importante passo nessa direção, mas não é apenas umaparceria econômica entre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A estreita cooperaçãoentre os dois lí<strong>de</strong>res da produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l possibilitará a <strong>de</strong>mocratizaçãodo acesso à energia. O uso crescente <strong>de</strong> biocombustíveis será umacontribuição inestimável para a geração <strong>de</strong> renda, inclusão social eredução da pobreza em muitos países pobres do mundo. Queremos ver asbiomassas gerarem <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, sobretudo na Américado Sul, na América Central, <strong>no</strong> Caribe e na África. O <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>vem formar alianças com terceiros países para diversificarglobalmente a produção <strong>de</strong> biocombustíveis. Para isso é preciso criar asbases para um mercado mundial <strong>de</strong> biocombustíveis. Mas <strong>no</strong>ssa parceriaestratégica também está sendo reforçada com a criação do FórumInternacional <strong>de</strong> Biocombustíveis, com a participação dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, <strong>Brasil</strong>, Índia, China, África do Sul e União Européia. Somenteassim teremos a escala <strong>de</strong> produção necessária para potencializar osbenefícios do eta<strong>no</strong>l e do biodiesel 258 .257Vi<strong>de</strong> Anexo VI.258http://<strong>no</strong>ticias.terra.com.br/brasil/<strong>no</strong>ticias/0,,OI1463165-EI8330,00-Leia+a+integra+do+discurso+<strong>de</strong>+Lula.html170


elações brasil-estados unidos (2003-2007)O Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, durante o evento em Guarulhos,reconheceu a superiorida<strong>de</strong> do eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e enfatizou aexpectativa <strong>de</strong> engajar o <strong>Brasil</strong> em programas conjuntos <strong>de</strong> pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico:Sugarcane is by far the most efficient raw material for the production ofetha<strong>no</strong>l [....] In America, we’ve got a little different issue – we don’t have alot of sugarcane. And so our stock material, our base material for etha<strong>no</strong>lthus far has been corn […] If you’re the lea<strong>de</strong>r in etha<strong>no</strong>l I believe you’llcontinue to come up with tech<strong>no</strong>logies that should be available for others[...] There’s a lot we can do together. I appreciate so very much the i<strong>de</strong>aof Brazil and America sharing research and <strong>de</strong>velopment opportunities.You’ve got great scientists, we’ve got great scientists; it makes sense forus to collaborate for the good of mankind 259 .Bush manifestou interesse em incentivar a produção <strong>de</strong> energia<strong>no</strong>s países da América Central e do Caribe e observou que a criação domercado internacional <strong>de</strong> biocombustíveis po<strong>de</strong>ria contribuir para reduzira <strong>de</strong>manda internacional por petróleo, em particular da China e da Índia:I’m particularly anxious to work with the Presi<strong>de</strong>nt on helping CentralAmerica become less <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on oil, become energy self-sufficient. It’sin – it’s in the interest of the United States that there be a prosperousneighborhood. And one way to help spread prosperity in Central Americais for them to become energy producers […] And finally, the Presi<strong>de</strong>nt[Lula] mentioned the fact that at the United Nations, there was aInternational Biofuels Forum. What he didn’t tell you, it was his i<strong>de</strong>a. AndI applaud the fact, Mr. Presi<strong>de</strong>nt, that you put that i<strong>de</strong>a out. It makes a lotof sense for countries like China and India to un<strong>de</strong>rstand the potentialsof alternative sources of energy. And I believe that Brazil and the UnitedStates has got the capacity to help lead the way toward that better day 260 .Após a visita do Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush ao <strong>Brasil</strong>, as duasChancelarias iniciaram o planejamento da viagem do Presi<strong>de</strong>nte Luiz259http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/03/20070309-4.html260http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/03/20070309-4.html171


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sInácio Lula da Silva aos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, prevista para 31 <strong>de</strong> março<strong>de</strong> 2007. Durante reunião na Embaixada em Washington, em 21 <strong>de</strong>março, o Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Greg Manuel, indicouque o DOS pretendia anunciar, em 31 <strong>de</strong> março, a relação <strong>de</strong> países daAmérica Central e do Caribe, com os quais se iniciaria a coooperaçãotriangular. Para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, esses países <strong>de</strong>veriam ser Haiti,República Dominicana, São Cristóvão e Névis, Guatemala, Honduras eeventualmente Nicarágua. A intenção do DOS, segundo Manuel, seriasinalizar o engajamento <strong>de</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na concretização dosobjetivos previstos <strong>no</strong> Memorando <strong>no</strong> mais curto prazo. Informou queestudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> e assistência técnica já estariam em curso comEl Salvador e Honduras. Comentou ser necessário <strong>de</strong>finir os parâmetrospara a participação do setor privado na iniciativa e salientou que talparticipação <strong>de</strong>veria, do ponto <strong>de</strong> vista dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, abrangertoda a ca<strong>de</strong>ia produtiva, das montadoras (GM, Ford) aos produtores<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l (ADM, Cargill), passando pelas indústrias <strong>de</strong> bens e serviços(John Deere). Propôs, enfim, que os dois Presi<strong>de</strong>ntes anunciassem aquantia disponível para a execução dos projetos em terceiros países(US$ 7 milhões do BID, US$ 1 milhão da Missão dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>junto à OEA, US$ 1 milhão do Gover<strong>no</strong> brasileiro; e US$ 200 mil daUN Foundation) 261 .O Embaixador em Washington, Antonio <strong>de</strong> Aguiar Patriota, ressaltoua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo com os organismos regionais, como o SICA(Sistema <strong>de</strong> Integração da América Central), o CARICOM (Comunida<strong>de</strong>do Caribe) e a OECS (Organização dos <strong>Estados</strong> do Caribe Oriental),antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir os países que se beneficiariam da cooperação triangular.Enfatizou que a <strong>de</strong>cisão, do lado brasileiro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> avaliação <strong>no</strong>âmbito <strong>de</strong> Grupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial, coor<strong>de</strong>nado pela CasaCivil da Presidência da República. Manifestou, ainda, preocupação coma atuação do Presi<strong>de</strong>nte do BID, que já fizera, <strong>de</strong> forma precipitada,anúncio dos países beneficiários. A Secretaria <strong>de</strong> Estado informou, em27 <strong>de</strong> março, que o <strong>Brasil</strong> preferia adiar o anúncio, dada a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> realizar consultas juntos aos países interessados. Os dois Gover<strong>no</strong>spo<strong>de</strong>riam confirmar a criação do Fundo, que seria gerido por comitê261Telegrama 555, 21/03/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.172


elações brasil-estados unidos (2003-2007)composto por <strong>Brasil</strong>, <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e BID. O <strong>Brasil</strong> participaria comUS$ 1 milhão na fase inicial 262 .Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> insistiram, entretanto, na conveniência política<strong>de</strong> divulgar os <strong>no</strong>mes dos países beneficiários como forma <strong>de</strong> darcontor<strong>no</strong>s concretos à cooperação. Realizaram-se, então, consultasbilaterais e gestões junto a países da América Central e do Caribe, asquais possibilitaram a <strong>de</strong>finição do grupo <strong>de</strong> países a ser inicialmentebeneficiado pela cooperação triangular: Haiti, República Dominicana,El Salvador e São Cristóvão e Névis. O Gover<strong>no</strong> brasileiro sublinhoua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar prosseguimento às consultas junto aos paísesinteressados em participar do programa <strong>de</strong> cooperação e aos organismossub-regionais. Logrou, nesse sentido, compromisso com a realização <strong>de</strong>missão conjunta para apresentar a iniciativa aos países selecionados daAmérica Central e do Caribe, bem como aos organismos sub-regionais(SICA, OECS e CARICOM). Com relação aos estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>e assistência técnica, o Gover<strong>no</strong> brasileiro argumentou que, por suarelevância, tais estudos <strong>de</strong>veriam ser preparados com mais cautela efundamentação técnica, a partir <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong>finidos pelos doislados. Ressaltou a conveniência <strong>de</strong> consultar os agentes do setorprivado, não apenas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, mas também <strong>no</strong>spaíses envolvidos, <strong>de</strong> maneira a garantir a participação das empresas naelaboração e na execução dos projetos. Sugeriu, por último, que fosseconsi<strong>de</strong>rada oportunamente, nas discussões sobre ampliação do programa<strong>de</strong> cooperação com terceiros países, a inclusão <strong>de</strong> um país africa<strong>no</strong>, comoo Senegal, que reunisse condições para funcionar como “replicador” domo<strong>de</strong>lo naquele continente.O Itamaraty propôs ressaltar, <strong>no</strong> texto da Declaração Conjunta davisita do Presi<strong>de</strong>nte Lula a Camp David, a priorida<strong>de</strong> atribuída pelosdois países à iniciativa do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis,assim como apelo aos <strong>de</strong>mais participantes para que, até o final <strong>de</strong> 2007,finalizassem o acordo sobre padrões e <strong>no</strong>rmas técnicas. O Departamento<strong>de</strong> Estado preferiu, entretanto, não fazer menção ao Fórum, pois aindaestava pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> aprovação pela União Europeia o texto da Declaraçãoconstitutiva. O DOS confirmou, <strong>de</strong> todo modo, que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>consi<strong>de</strong>ravam o Fórum o principal mecanismo para tratar da <strong>de</strong>finição262Despacho telegráfico 320, 27/03/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.173


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong> padrões e <strong>no</strong>rmas comuns. No texto da Declaração Conjunta, foimantida a linguagem sugerida pelo DOS. Os Presi<strong>de</strong>ntes manifestarama intenção <strong>de</strong> dar início ao intercâmbio científico e tec<strong>no</strong>lógico na área<strong>de</strong> biocombustíveis e à cooperação com terceiros países:They expressed their governments’ intention to arrange for Brazilianscientists and researchers to visit state-of-the-art biofuels researchlaboratories in the United States, as well as visits to Brazil by seniorofficials of the United States Departments of Energy, State, and Agriculturein Spring 2007 […] Brazil and the United States plan to begin efforts towork together, initially, with Haiti, the Dominican Republic, St. Kitts andNevis, and El Salvador 263 .Durante a conferência <strong>de</strong> imprensa, em Camp David, o Presi<strong>de</strong>nteGeorge W. Bush manifestou apoio ao Fórum Internacional <strong>de</strong>Biocombustíveis, assim como expectativa <strong>de</strong> que a parceria com o<strong>Brasil</strong> contribuísse para disseminar a produção e o consumo <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l ebiodiesel, sobretudo <strong>no</strong>s países da América Central e do Caribe:I told the Presi<strong>de</strong>nt that <strong>no</strong>t only are we committed domestically topromoting an alternative fuel industry, we’re committed to workingwith Brazil. And that’s why we support the Presi<strong>de</strong>nt’s initiative onthe international biofuels forum […] and signed a memorandum ofun<strong>de</strong>rstanding, and that is to help nations in our own hemisphere realizethe benefits of etha<strong>no</strong>l and biodiesel 264 .O Presi<strong>de</strong>nte Lula, por sua vez, esclareceu que o Gover<strong>no</strong> brasileiroavaliava <strong>de</strong> maneira mais ampla as possibilida<strong>de</strong>s abertas pela cooperaçãocom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na área <strong>de</strong> biocombustíveis, inclusive do ponto<strong>de</strong> vista das gran<strong>de</strong>s questões globais:O Memorando <strong>de</strong> Entendimento que foi assinado em São Paulo fornecea base para uma ambiciosa parceria que permitirá encontrar soluçõespara os <strong>de</strong>safios do século que se inicia; em primeiro lugar, uma saída263http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/03/20070331-1.html264http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/03/20070331-3.html174


elações brasil-estados unidos (2003-2007)para a crise energética que afeta quase todos os países; em segundolugar, a proteção ao meio ambiente ameaçado pelo aquecimento global;e finalmente, o combate à pobreza e à exclusão social por meio dacriação <strong>de</strong> empregos e do aumento da renda dos trabalhadores em todoo mundo 265 .Sublinhou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eliminar subsídios e barreiras tarifáriasao comércio <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l:Sem a eliminação dos subsídios, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorepresentada pelos biocombustíveis será perdida e, com ela, apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhoria das condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pessoasem todo o mundo. É, portanto, necessário suprimir as barreiras tarifáriasao comércio <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, <strong>de</strong> tal forma que seja possível criar uma <strong>no</strong>vacommodity energética 266 .O Presi<strong>de</strong>nte Lula ressaltou, ainda, o compromisso <strong>de</strong> fortalecero Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis. Confirmou a disposiçãobrasileira para promover intercâmbio científico e tec<strong>no</strong>lógico sobre oeta<strong>no</strong>l celulósico, por meio <strong>de</strong> missões técnicas a centros <strong>de</strong> pesquisa<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Formulou, por fim, convite para aparticipação do Presi<strong>de</strong>nte George Bush <strong>no</strong> segmento <strong>de</strong> Cúpula daConferência Internacional sobre Biocombustíveis, que seria organizadapelo <strong>Brasil</strong> em 2008.Os discursos dos Presi<strong>de</strong>ntes Lula e Bush, em Camp David,<strong>de</strong>monstram que os dois Gover<strong>no</strong>s avaliam <strong>de</strong> forma distinta o alcanceda parceria em biocombustíveis. O DOS e o DOE enfatizam o papeldo eta<strong>no</strong>l e <strong>de</strong> outros biocombustíveis como fator <strong>de</strong> transformação eestabilização do entor<strong>no</strong> regional e <strong>de</strong> diversificação das fontes <strong>de</strong> energiados <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Itamaraty, por sua vez, consi<strong>de</strong>ra a aproximaçãocom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na área do eta<strong>no</strong>l como parte <strong>de</strong> estratégia maisampla <strong>de</strong> política externa. O Ministro Celso Amorim, em entrevistaconcedida na Embaixada do <strong>Brasil</strong> em Washington, ao final da visitapresi<strong>de</strong>ncial, observou que as relações entre o <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>265http://www.mre.gov.br/portugues/politica_externa/discursos/discurso_<strong>de</strong>talhe3.asp?ID_DISCURSO=3052266I<strong>de</strong>m.175


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>salcançavam um patamar mais elevado, na medida em que os Presi<strong>de</strong>ntesLuiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush se encontravam comfrequência para discutir uma pauta <strong>de</strong> temas comuns. Para o ChancelerAmorim, o eta<strong>no</strong>l impulsio<strong>no</strong>u a aproximação entre os dois países,mas não é o único assunto <strong>de</strong> interesse bilateral. Citou, por exemplo, ointeresse em aprofundar as relações empresariais e a criação do Foro <strong>de</strong>Altos Executivos 267 . O Embaixador em Washington, Antonio Patriota,assinalou a ampla pauta <strong>de</strong> temas estratégicos <strong>de</strong> interesse comum:É um momento promissor para a relação bilateral, em que os dois paísescooperam em questões que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas estratégicas, nãosó para ambos, como em nível mundial, a exemplo da promoção dosbiocombustíveis, da busca <strong>de</strong> um equacionamento para a Rodada <strong>de</strong>Doha, na Organização Mundial <strong>de</strong> Comércio (OMC), e da questão doHaiti 268 .Além <strong>de</strong> relacionar o tema <strong>de</strong> biocombustíveis aos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safiosglobais (crise energética, mudança do clima e combate à pobreza eà exclusão social), o Gover<strong>no</strong> brasileiro tem procurado <strong>de</strong>stacar asoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação em outros setores energéticos, como aindústria <strong>de</strong> petróleo e gás natural. Durante encontro com o Secretário--Adjunto para Eficiência Energética e <strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vável, Alexan<strong>de</strong>rKarsner, para tratar da implementação do Memorando <strong>de</strong> Entendimentosobre Biocombustíveis, o Diretor-Geral do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>,Embaixador Antonio Simões, recordou que a Petrobras, uma dasempresas petrolíferas com maior volume <strong>de</strong> reservas <strong>no</strong> mundo, “caminhapara se tornar exportadora líquida <strong>de</strong> petróleo”. Comentou que a empresabrasileira planejava ampliar investimentos na região do Golfo do México,<strong>de</strong> maneira a incrementar a produção petrolífera <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Comrelação aos biocombustíveis, o Diretor-Geral do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>sublinhou que os benefícios ambientais <strong>de</strong> sua utilização conferiam aotema dimensão vasta, que englobava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a questão climática até outrosaspectos, como a saú<strong>de</strong> humana. Sugeriu, nesse sentido, a realização267Agência <strong>Brasil</strong>. “Eta<strong>no</strong>l alavancou aproximação entre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, diz Ministro”.Publicado em 31/03/2007.268Agência <strong>Brasil</strong>. “Visita <strong>de</strong> Lula aos EUA ocorre em momento promissor, diz Embaixadorbrasileiro”. Publicado em 29/03/2007.176


elações brasil-estados unidos (2003-2007)<strong>de</strong> estudo para quantificar o impacto positivo dos biocombustíveis naredução das emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa 269 .C - O Fórum Internacional <strong>de</strong> BiocombustíveisEm paralelo ao avanço das negociações sobre cooperação bilateralem biocombustíveis, o <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>cidiu apresentar, em 2006, proposta<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um Fórum Eta<strong>no</strong>l. Conforme visto <strong>no</strong> Capítulo II, asexportações brasileiras <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> cresceramsignificativamente a partir <strong>de</strong> 2004. Além do mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>,o <strong>Brasil</strong> abastecia mercados na Europa e na Ásia, como Países Baixos,Suécia e Japão. Tais circunstâncias, aliadas ao fato <strong>de</strong> o <strong>Brasil</strong> ser pioneirona utilização em larga escala do álcool combustível, cre<strong>de</strong>nciavam opaís a exercer papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na organização do mercado mundialpara o eta<strong>no</strong>l. O Itamaraty avaliou que, apesar <strong>de</strong> estarem disponíveisa tec<strong>no</strong>logia e o k<strong>no</strong>w-how para fomentar a produção e o consumo<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l em escala global, se tornava imprescindível esforço <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação entre os principais países produtores e consumidores comvistas a criar os parâmetros básicos para o incremento da participaçãodos biocombustíveis na matriz energética. Decidiu-se propor a criaçãodo Fórum Eta<strong>no</strong>l como mecanismo <strong>de</strong> diálogo sobre temas relacionadosà organização do mercado internacional, tais como a adoção <strong>de</strong> padrõesinternacionais para os biocombustíveis, problemas <strong>de</strong> infraestrutura elogística e instrumentos para garantir a estabilida<strong>de</strong> do fornecimento <strong>de</strong>eta<strong>no</strong>l 270 .Por ocasião <strong>de</strong> evento sobre combustíveis re<strong>no</strong>váveis, organizadopela Clinton Global Initiative, em Nova York, a Ministra Chefe daCasa Civil, Dilma Rousseff, discorreu sobre os principais elementosda visão brasileira. Destacou, entre outros pontos, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>transformar o eta<strong>no</strong>l em commodity, com base em padrões confiáveis,a salvo <strong>de</strong> subsídios ou medidas protecionistas e com disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> financiamento. Ressaltou o papel do eta<strong>no</strong>l nas políticas <strong>de</strong> combateà pobreza em países em <strong>de</strong>senvolvimento, assim como a disposição do<strong>Brasil</strong> para difundir os processos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, “em particular269Despacho telegráfico 474, 10/05/2007, para Brasemb Washington.270Despacho telegráfico 14, 05/01/2007, para Brasemb Washington.177


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>snas regiões situadas entre os trópicos <strong>de</strong> Câncer e <strong>de</strong> Capricórnio”.Rousseff pon<strong>de</strong>rou, ainda, sobre a conveniência <strong>de</strong> contar com o eta<strong>no</strong>lpara garantir transição suave a <strong>no</strong>vos mo<strong>de</strong>los energéticos; o consumoampliado do eta<strong>no</strong>l tornaria <strong>de</strong>snecessárias transformações abruptas <strong>no</strong>setor automotivo ou <strong>no</strong>s sistemas <strong>de</strong> distribuição 271 .Em junho <strong>de</strong> 2006, o Diretor-Geral do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> doMRE, Ministro Antonio Simões, manteve encontros, em Washington,com vários setores da Administração George W. Bush para apresentar aproposta do Fórum Eta<strong>no</strong>l. Na avaliação brasileira, o Fórum <strong>de</strong>veria reuniros principais países produtores e consumidores (<strong>Brasil</strong>, <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,China, Índia, Japão, União Europeia, África do Sul, Nigéria e Austrália),ter caráter temporário e informal e dar priorida<strong>de</strong> à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> açõespara transformar o eta<strong>no</strong>l em commodity. Foram sugeridos como itensprincipais da agenda do Fórum Eta<strong>no</strong>l: a) intercâmbio <strong>de</strong> informaçõessobre legislações domésticas para o eta<strong>no</strong>l; b) <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> padrõesinternacionais; c) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta dos países produtores; e d)transações comerciais <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l nas principais bolsas <strong>de</strong> mercadorias efuturos. O Ministro Simões observou que o Gover<strong>no</strong> brasileiro atribuíaespecial atenção aos benefícios potenciais da iniciativa para os países<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r <strong>de</strong>senvolvimento relativo. Avaliou que, com a consolidação<strong>de</strong> um mercado internacional para o eta<strong>no</strong>l, países hoje <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesda exportação <strong>de</strong> número restrito <strong>de</strong> produtos agrícolas passariam abeneficiar-se das vendas <strong>de</strong> uma commodity energética, que po<strong>de</strong>riaincrementar substantivamente as receitas externas 272 .A proposta <strong>de</strong> criação do Fórum Eta<strong>no</strong>l foi bem recebida peloGover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A Secretária-Assistente para Políticas eAssuntos Internacionais do DOE, Karen Harbert, reagiu favoravelmentee ressaltou a “priorida<strong>de</strong> atribuída pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> à cooperaçãoenergética com vistas à diversificação do portfólio energético dos paísescaribenhos” 273 . Harbert sinalizou o interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> emengajar o <strong>Brasil</strong> nas iniciativas <strong>de</strong> cooperação energética para o Caribe.Formulou, ainda, convite para participação brasileira em reunião com osMinistros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos países do CARICOM, prevista para setembro<strong>de</strong> 2006, em Trinidad e Tobago. No Conselho <strong>de</strong> Segurança Nacional, o271Telegrama 2398, 06/10/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.272Telegrama 1482, 27/06/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.273I<strong>de</strong>m.178


elações brasil-estados unidos (2003-2007)Diretor para o Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, Dan Fisk, e o Diretor para ComércioInternacional, <strong>Energia</strong> e Meio Ambiente, Roszell Hunter, qualificarama proposta brasileira como “excelente oportunida<strong>de</strong> para se trabalharmultilateralmente sobre questão relevante para o Hemisfério” 274 . Fiskacrescentou que o Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush teria interesse pessoal<strong>no</strong> tema e que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o encontro com o Presi<strong>de</strong>nte Lula em Brasília,em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2005, teria mencionado por diversas vezes o eta<strong>no</strong>lbrasileiro como mo<strong>de</strong>lo. A Subsecretária Adjunta para Serviços AgrícolasEstrangeiros do Departamento <strong>de</strong> Agricultura, Ellen Terpstra, <strong>de</strong>monstrouinteresse na cooperação sobre pesquisa do eta<strong>no</strong>l e <strong>no</strong> intercâmbio <strong>de</strong>dados sobre produção e consumo. O Diretor <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e IndústriasAmbientais do Departamento <strong>de</strong> Comércio, Joe Neuhoff III, qualificou ainiciativa brasileira como “gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a Administração” 275 .Em julho <strong>de</strong> 2006, o Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva encaminhoucarta ao Presi<strong>de</strong>nte George W. Bush, em que relatava os resultados dasgestões realizadas a respeito do Fórum Eta<strong>no</strong>l e formulava convite parareunião <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:Propomos a criação <strong>de</strong> um Fórum Internacional do Eta<strong>no</strong>l [...] cujoobjetivo principal será estabelecer condições para um entendimentoentre os gran<strong>de</strong>s países produtores e consumidores [...] a proposta já foiapresentada por um emissário do Ministério das <strong>Relações</strong> Exteriores do<strong>Brasil</strong>, durante recente visita a Washington. Na ocasião, recebemos umaresposta positiva, em caráter preliminar. Os Gover<strong>no</strong>s da Índia, Áfricado Sul e a União Européia estão, também, interessados na iniciativa.Encorajado por essa resposta inicial, solicitei providências <strong>no</strong> sentido daorganização <strong>de</strong> uma reunião informal <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> [...] para discutir a idéiado Fórum.Ao fazer a entrega da carta, o Embaixador do <strong>Brasil</strong> em Washingtonreforçou a visão <strong>de</strong> que o Fórum <strong>de</strong>veria reunir apenas os principaispaíses com programas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, levando-se em conta uma distribuiçãogeográfica equilibrada entre os participantes. Teria, ainda, caráterinformal e temporário. O objetivo, conforme ressaltado pelo Presi<strong>de</strong>nte274Telegrama 1482, 17/06/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.275I<strong>de</strong>m.179


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sLula, era promover entendimento entre os gran<strong>de</strong>s países produtores econsumidores e a li<strong>de</strong>rança dos Gover<strong>no</strong>s <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> estabelecimentodos padrões internacionais, que possibilitariam maior produção, consumoe comércio do eta<strong>no</strong>l em escala mundial 276 .No mês seguinte, o Diretor <strong>de</strong> Planejamento Político do DOS,Stephen Krasner, acompanhado dos assessores Greg Manuel (energia)e William McIlhenny (América Latina e Caribe), encontrou-se com oDiretor Geral (DG) <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> do Itamaraty, Ministro Antonio Simões,em Brasília, para discutir a criação do Fórum Eta<strong>no</strong>l. Na ocasião, Krasnerconfirmou o interesse <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> em cooperar com o <strong>Brasil</strong> ena constituição do Fórum Eta<strong>no</strong>l. Enfatizou a disposição dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> para privilegiar a vertente da cooperação com terceiros países ecitou especificamente o Haiti. Afirmou ser essencial <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong> on<strong>de</strong>viriam os investimentos para os projetos conjuntos. Quanto ao Fórum,indagou sobre a posição brasileira diante da sugestão ventilada pelaUnião Europeia <strong>de</strong> ampliação do escopo do exercício, que passaria a<strong>de</strong><strong>no</strong>minar-se Fórum <strong>de</strong> Biocombustíveis. O DG <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> respon<strong>de</strong>uque o <strong>Brasil</strong> não teria dificulda<strong>de</strong>s com a mudança do <strong>no</strong>me, mas queos trabalhos do Fórum <strong>de</strong>veriam começar com o eta<strong>no</strong>l, uma vez quejá haveria condições para promover a conversão <strong>de</strong>sse produto emcommodity energética. Outros biocombustíveis, como o biodiesel,teriam <strong>de</strong> esperar mais um pouco. O DG <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> mencio<strong>no</strong>u, ainda, aexpectativa otimista quanto ao processo industrial do H-bio, patenteadopela Petrobras, que adiciona óleo vegetal (<strong>de</strong> soja ou outra oleagi<strong>no</strong>sa)ao diesel e produz biocombustível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior em termos <strong>de</strong>benefícios ambientais 277 .O Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>u <strong>de</strong>legação integrada porrepresentantes <strong>de</strong> três Departamentos: Greg Manuel (Estado), SarahLadislaw (<strong>Energia</strong>) e Morgan Perkins (Agricultura), além <strong>de</strong> diplomatada Embaixada, à primeira reunião preparatória do Fórum Eta<strong>no</strong>l, realizada<strong>no</strong>s dias 4 e 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, em Brasília. O encontro contoucom participação <strong>de</strong> União Europeia, China, Índia e África do Sul. ODOE anunciou que <strong>de</strong>signaria a Subsecretária Adjunta para Políticas eAssuntos Internacionais, Kathy Fredriksen, para integrar a <strong>de</strong>legação276Despacho telegráfico 850, 14/07/2006, para Brasemb Washington.277Despacho telegráfico 984, 11/08/2006, para Brasemb Washington.180


elações brasil-estados unidos (2003-2007)<strong>no</strong>rte-americana. Durante a reunião, porém, o DOE esteve representadopela <strong>de</strong>sk do <strong>Brasil</strong>, Sarah Ladislaw. O DOS, com a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> GregManuel para o cargo <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, assumiriaa chefia da <strong>de</strong>legação <strong>no</strong>rte-americana. Na abertura da primeira reuniãopreparatória, o Subsecretário-Geral <strong>de</strong> Assuntos Políticos I do Itamaraty,Embaixador Antonio Patriota, discorreu sobre a visão brasileira a respeitodos trabalhos do Fórum, <strong>de</strong>stacando que: a) a expansão da produção edo consumo do eta<strong>no</strong>l em escala global <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> impulso inicialdado pelos Gover<strong>no</strong>s, uma vez que o setor privado não tinha condições<strong>de</strong>, por si só, criar as condições necessárias; b) os objetivos do Fórumnão se restringiam aos aspectos comerciais, mas englobavam a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> construir uma parceria estratégica entre os países envolvidos, <strong>de</strong>forma a aproveitar os benefícios oferecidos pelos biocombustíveis <strong>no</strong>spla<strong>no</strong>s econômico, ambiental, social e <strong>de</strong> segurança energética. O <strong>Brasil</strong>acolheu, também, a sugestão da União Europeia, apoiada pelas <strong>de</strong>mais<strong>de</strong>legações, <strong>de</strong> ampliar o escopo do Fórum, que passaria a intitular-seFórum <strong>de</strong> Biocombustíveis 278 .A segunda reunião preparatória do Fórum ocorreu <strong>no</strong>s dias 27 e 28<strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2006. A <strong>de</strong>legação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> era integradapor Greg Manuel, Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>; Lisa Kubiske, Diretorada Divisão do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal; e Gabrielle Serra<strong>no</strong>, funcionáriada Embaixada em Brasília. O Departamento <strong>de</strong> Agricultura mantevea indicação <strong>de</strong> Morgan Perkins, Diretor do Escritório <strong>de</strong> ComércioAgrícola, do Consulado-Geral em São Paulo. O DOE não <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>urepresentante para integrar a <strong>de</strong>legação. Durante a reunião, a <strong>de</strong>legaçãodos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> reafirmou priorida<strong>de</strong> ao Fórum <strong>de</strong> Biocombustíveis,o qual, na visão do DOS, se diferenciava <strong>de</strong> outros processos em cursoem razão <strong>de</strong> suas vantagens comparativas, como a participação dospaíses com maior peso na produção e <strong>no</strong> consumo mundial <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l eo propósito <strong>de</strong> estabelecer o mercado internacional <strong>de</strong> biocombustíveis.As <strong>de</strong>clarações foram bem recebidas pelo Gover<strong>no</strong> brasileiro, pois<strong>de</strong>monstravam compromisso dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> com os trabalhos doFórum. O apoio explícito dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> contrastou com a posturaambígua da União Europeia. A Comissão não <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>u <strong>de</strong>legação <strong>de</strong>alto nível para a reunião e <strong>de</strong>senvolvia extensa agenda paralela, não278Circular telegráfica 61.295, <strong>de</strong> 19/09/2006.181


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>snecessariamente convergente com a do Fórum <strong>de</strong> Biocombustíveis. A<strong>de</strong>legação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> manifestou interesse em que os seguintesobjetivos fossem consi<strong>de</strong>rados <strong>no</strong> âmbito do Fórum: a) fomento dacooperação em pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento; b) <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> padrõesinternacionais; c) integração do setor privado; d) criação <strong>de</strong> mecanismopara racionalizar a troca <strong>de</strong> informações; e e) realização <strong>de</strong> estudostécnicos e <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> econômica e social 279 .Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006, durante reunião técnica em Genebra paratratar do projeto <strong>de</strong> Declaração Ministerial para o lançamento do FórumInternacional <strong>de</strong> Biocombustíveis, a <strong>de</strong>legação da China, com o apoioda Índia e da União Europeia, apresentou proposta <strong>de</strong> redação para oprimeiro parágrafo preambular da Declaração <strong>de</strong> maneira a enfatizaro conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>: “criando um mercado internacionalpara o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável dos biocombustíveis”. Com apoioda <strong>de</strong>legação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, o <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u redação maisconcisa para o primeiro parágrafo preambular: “criando um mercadointernacional para os biocombustíveis”. A <strong>de</strong>legação <strong>no</strong>rte-americanaafirmou que favorecia o texto proposto pelo <strong>Brasil</strong>, uma vez que o objetivodo Fórum <strong>de</strong>veria ser criar plataforma para promover os biocombustíveisem escala global, e não prescrever mo<strong>de</strong>los para as políticas domésticas.Ao final da reunião técnica, o texto da minuta <strong>de</strong> Declaração Ministerialmanteve a formulação sugerida pelo <strong>Brasil</strong> para o primeiro parágrafopreambular 280 .O Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis foi lançado em 02 <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 2007, nas Nações Unidas, em Nova York, durante conferência<strong>de</strong> imprensa, à margem <strong>de</strong> reunião da Comissão sobre DesenvolvimentoSustentável. Do lado brasileiro, participaram da cerimônia o Embaixadorem Washington, Antonio Patriota, o DG do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>,Ministro Antonio Simões, representantes do MME e do MAPA e oPresi<strong>de</strong>nte da UNICA, Eduardo Carvalho. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> foramrepresentados pelo Secretário <strong>de</strong> Estado Assistente para o HemisférioOci<strong>de</strong>ntal, Thomas Shan<strong>no</strong>n. Em resposta às indagações da imprensasobre a disposição <strong>no</strong>rte-americana para eliminar barreiras tarifárias aoeta<strong>no</strong>l, Shan<strong>no</strong>n afirmou que o Fórum não trataria do tema. O Embaixador279Circular telegráfica 62.304, <strong>de</strong> 08/12/2006.280Circular telegráfica 62.565, <strong>de</strong> 04/01/2007.182


elações brasil-estados unidos (2003-2007)do <strong>Brasil</strong>, por sua vez, reiterou o interesse em buscar solução para aquestão tarifária <strong>no</strong>s foros a<strong>de</strong>quados.Não foi possível, durante a conferência <strong>de</strong> lançamento do Fórum,em 2 <strong>de</strong> março, divulgar o texto da Declaração Ministerial, por causado impasse sobre a participação europeia, motivado em parte pelainsatisfação com a linguagem do primeiro parágrafo preambular.No dia anterior à Conferência, a Comissão Europeia confirmou, porintermédio da Direção-Geral <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Transportes, apoio à iniciativado Fórum, mas disse que não seria possível comprometer-se com o teorda Declaração. A Missão do <strong>Brasil</strong> junto às Comunida<strong>de</strong>s Europeiasesclareceu que houve problema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre diferentes setoresda Comissão Europeia, que retardou a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre o tema.A Direção-Geral <strong>de</strong> Meio Ambiente insistia em enfatizar a questão dasustentabilida<strong>de</strong> da produção dos biocombustíveis, na linha do propostopela <strong>de</strong>legação da China, em Genebra. O Encarregado <strong>de</strong> Negóciosda Delegação da Comissão Europeia junto à ONU, Esa Paasivirta,compareceu ao evento <strong>de</strong> lançamento do Fórum e informou que serianecessário aguardar a finalização do processo <strong>de</strong> consultas na UE antes<strong>de</strong> divulgar o texto da Declaração Ministerial 281 .Durante reunião na Embaixada em Washington, em 21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>2007, o Coor<strong>de</strong>nador Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Greg Manuel, propôs que,durante o encontro dos Presi<strong>de</strong>ntes Luiz Inácio Lula da Silva e GeorgeW. Bush em Camp David, previsto para 31 <strong>de</strong> março, fosse divulgadoo texto da Declaração do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis(que ainda permanecia pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> aprovação europeia). Sugeriu queos dois Presi<strong>de</strong>ntes anunciassem a data da primeira reunião do Fórum,que po<strong>de</strong>ria ser organizada, na sua avaliação, após a Cúpula <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>–União Europeia (31 <strong>de</strong> abril, em Bruxelas). Greg Manuelconsultou sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar pública, durante a Cúpula emBruxelas, a “estratégia ora em discussão entre <strong>Brasil</strong>, <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> eUnião Europeia para se chegar, até o final do a<strong>no</strong>, a padrões e <strong>no</strong>rmascompatíveis para os biocombustíveis” 282 . O Itamaraty argumentou quenão seria oportu<strong>no</strong> realizar o anúncio, uma vez que tal procedimentopo<strong>de</strong>ria criar percepções negativas junto a outros membros do Fórum,281Telegrama 236, 02/03/2007, <strong>de</strong> Braseuropa.282Telegrama 555, 21/03/2007, <strong>de</strong> Brasemb Washington.183


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>scomo China, Índia e África do Sul. Mesmo que o exercício <strong>de</strong> cooperaçãofosse inicialmente trilateral – <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, com apoio da UE,<strong>no</strong> caso do eta<strong>no</strong>l e <strong>Brasil</strong>–UE, com apoio dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, <strong>no</strong> caso dobiodiesel – o Gover<strong>no</strong> brasileiro preferia <strong>de</strong>ixar claro que as conversaçõesseriam posteriormente expandidas aos <strong>de</strong>mais países do Fórum. Alémdisso, o <strong>Brasil</strong> entendia ser mais oportu<strong>no</strong> lançar o texto da Declaraçãodurante a primeira reunião do Fórum 283 . Por ocasião da reunião inauguraldo Fórum, em Bruxelas, <strong>no</strong> dia 5 <strong>de</strong> junho, os participantes aprovarama versão final da Declaração, que incorporou a proposta chinesa para oprimeiro parágrafo preambular, apesas das resistências do <strong>Brasil</strong> e dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 284 .283Despacho telegráfico, 320, 27/03/2007, para Brasemb Washington.284Vi<strong>de</strong> Anexo IV.184


ConclusõesA – Estratégia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para a cooperação energéticacom o <strong>Brasil</strong>Conforme visto, o Energy Task Force recomendou o fortalecimento dasparcerias internacionais como forma <strong>de</strong> promover a segurança energéticados <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Enfatizou o papel do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal comofornecedor <strong>de</strong> petróleo e gás natural para o mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>,singularizando, como principais atores regionais, Canadá, México,Venezuela, <strong>Brasil</strong> e Trinidad e Tobago. Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a estratégia<strong>no</strong>rte-americana para a cooperação energética com o <strong>Brasil</strong>, cabemencionar, ainda, dois testemunhos sobre a política energética do Gover<strong>no</strong>George W. Bush. Em março <strong>de</strong> 2006, a Secretária-Assistente para Políticase Assuntos Internacionais do DOE, Karen A. Harbert, durante sessão doSubcomitê do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal (Comitê <strong>de</strong> Assuntos Estrangeirosda Câmara) discorreu sobre a visão do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> arespeito do relacionamento com os países das Américas e do Caribe <strong>no</strong>setor energético. Harbert baseou sua apresentação na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> segurançaenergética hemisférica, conceito utilizado <strong>no</strong>s meios oficiais e acadêmicos<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s, segundo o qual a segurança energética dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> e dos seus parceiros do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal seria indissociável:185


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s“As part of the Western Hemisphere, our energy future rises and falls withour neighbors in the hemisphere” 285 .Segundo Harbert, o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e outros órgãosda Administração estão empenhados em promover a integração e adiversificação dos mercados <strong>de</strong> energia <strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, ainterconexão e mo<strong>de</strong>rnização da infraestrutura e o uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logiasavançadas. A segurança energética nas Américas e <strong>no</strong> Caribe <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria, naavaliação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, da adoção por seus parceiros hemisféricos<strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> expansão e diversificação da produção energética, doaumento da eficiência, da utilização <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias avançadas para aredução dos impactos ambientais, <strong>de</strong> maior transparência e eficáciana operação dos mercados energéticos e do aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>resposta a eventuais interrupções da oferta <strong>de</strong> petróleo. Entre os principais<strong>de</strong>safios para a segurança energética do Hemisfério, Harbert citou avulnerabilida<strong>de</strong> da infraestrutura, a instabilida<strong>de</strong> política em algumasregiões produtoras, a imprevisibilida<strong>de</strong> dos marcos regulatórios, fiscaise legais e a ampliação da presença estatal <strong>no</strong> setor energético. Observouque os países da região são sobera<strong>no</strong>s para tomar <strong>de</strong>cisões sobre segurançaenergética, mas que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> insistiriam em que as políticasnacionais incluíssem compromissos com o livre fluxo do comércio edos investimentos. Ressaltou a natureza global da questão energética eafirmou que todos os países são responsáveis pelo bom funcionamentodos mercados e que a execução <strong>de</strong> políticas energéticas nacionaisina<strong>de</strong>quadas teria repercussão negativa para a comunida<strong>de</strong> internaconal.Advertiu, por fim, que a crescente escassez e o restrito acesso aos recursosenergéticos tornam a segurança energética um dos componentes maiscríticos da segurança nacional e econômica 286 .Em seu testemunho ao Subcomitê do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, KarenHarbert mencio<strong>no</strong>u que o <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>tém a segunda maior reserva <strong>de</strong> petróleoda América do Sul (11,2 bilhões <strong>de</strong> barris). Assinalou a satisfação doGover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> com a <strong>de</strong>cisão brasileira <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong>à abertura do setor petrolífero: “We are encouraged by Brazil’s <strong>de</strong>cision tocontinue its opening up of its oil sector to foreign companies”. Comentou,em seguida, que a conjuntura política e econômica po<strong>de</strong>ria levar alguns285http://www.pi.energy.gov/documents/HarbertTestimony.pdf286http://www.pi.energy.gov/documents/HarbertTestimony.pdf186


conclusõespaíses do Hemisfério a abandonar as políticas <strong>de</strong> livre mercado, masque os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> gostariam <strong>de</strong> manter diálogo aberto com asli<strong>de</strong>ranças políticas da região com o objetivo <strong>de</strong> formar visão <strong>de</strong> consensosobre como adaptar a política energética ao cenário <strong>de</strong> altos preços dopetróleo. Elogiou o setor <strong>de</strong> biocombustíveis (“a mo<strong>de</strong>l for the region”),o programa nuclear e a participação do <strong>Brasil</strong> em diversas iniciativasmultilaterais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas, comoa Parceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE), o Foro<strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança sobre Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (CSLF), o Meta<strong>no</strong> para osMercados e o GIF (Generation IV International Forum).Em julho <strong>de</strong> 2008, o Secretário-Assistente para Assuntos <strong>de</strong>Eco<strong>no</strong>mia, <strong>Energia</strong> e Negócios, Daniel S. Sullivan, do Departamento<strong>de</strong> Estado, prestou testemunho diante do Subcomitê do HemisférioOci<strong>de</strong>ntal a respeito das priorida<strong>de</strong>s da política externa dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> na área energética. Sullivan esclareceu, inicialmente, que oDOS está engajado em estratégia <strong>de</strong> longo prazo para fazer avançar,<strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, os objetivos da política energética <strong>no</strong>rte--americana, em particular a diversificação das fontes <strong>de</strong> energia, oaumento do fluxo <strong>de</strong> comércio com os principais fornecedores, o<strong>de</strong>senvolvimento das fontes alternativas, como os biocombustíveis,a promoção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> conservação e eficiência energética, aredução dos impactos ambientais do uso da energia e a estabilida<strong>de</strong>e segurança do sistema energético. A estratégia do DOS teria osseguintes componentes: a) Manter e ampliar o fornecimento <strong>de</strong>petróleo e gás natural oriundo dos parceiros tradicionais – Canadá,México e Venezuela; b) Desenvolver a produção <strong>de</strong> hidrocarbonetosem <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> exploração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e Colômbia (petróleo),Canadá e Alasca (gás natural) e na região do Ártico; c) Estimulara produção e o consumo <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, principalmentebiocombustíveis, com base <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> parceria celebrado, em2007, com o <strong>Brasil</strong>; d) Conferir priorida<strong>de</strong> ao tema <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>âmbito da Organização dos <strong>Estados</strong> America<strong>no</strong>s (OEA) e utilizara diplomacia para enfrentar o <strong>de</strong>safio do nacionalismo <strong>no</strong> setorenergético (“resource nationalism”) presente em alguns paísesda região. Na OEA, a atuação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> enfatizaria a<strong>de</strong>mocratização da energia (“<strong>de</strong>mocratization of energy”), conceitoque envolve o aumento do número <strong>de</strong> exportadores <strong>de</strong> energia, a187


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sexpansão dos mercados, o crescimento do comércio intrarregional<strong>de</strong> petróleo e gás natural e o estímulo à energia re<strong>no</strong>vável 287 .O Secretário-Assistente Daniel Sullivan <strong>de</strong>clarou que as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong>petróleo e gás natural na camada pré-sal tornavam o <strong>Brasil</strong> um país-chave doponto <strong>de</strong> vista da segurança energética <strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, “especiallyconsi<strong>de</strong>ring the market-oriented approach that Brazil has taken thus far”.Sullivan <strong>de</strong>stacou o crescimento das exportações <strong>de</strong> petróleo para os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> (200 mil barris diários, em 2006) e a perspectiva <strong>de</strong> ampliaçãodas vendas brasileiras. Advertiu que o nacionalismo <strong>no</strong> setor energético écontrário aos interesses dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e dos próprios países envolvidos:In the case of investment disputes involving U.S. firms, we forcefullyadvocate for just, a<strong>de</strong>quate and fair compensation to affected investors.Our embassies in the Hemisphere have been a very effective componentof this work […] our work in previous years to negotiate free tra<strong>de</strong>agreements and bilateral investment treaties is helping to preserveAmerican investors’ interests in this region 288 .Sullivan <strong>de</strong>stacou a parceria entre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong>setor <strong>de</strong> biocombustíveis. Avaliou que os biocombustíveis po<strong>de</strong>riamatuar como fator <strong>de</strong> mudança <strong>no</strong>s países das Américas e do Caribe (“atransformative force in the region”) e contribuir para a diversificação dasfontes <strong>de</strong> energia. Mencio<strong>no</strong>u iniciativas <strong>de</strong> cooperação em curso comArgentina, Colômbia, Chile, Peru e Uruguai, além <strong>de</strong> encontros comgrupos da socieda<strong>de</strong> civil Segundo Sullivan, <strong>no</strong> contexto da parceriacom o <strong>Brasil</strong>, o DOS atribui priorida<strong>de</strong> às pesquisas conjuntas sobre oeta<strong>no</strong>l celulósico, à promoção dos investimentos privados na produção<strong>de</strong> biocombustíveis para consumo local e aos esforços para organizaro mercado internacional. O Secretário-Assistente do DOS sublinhou,ainda, a preocupação em favorecer os investimentos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s <strong>no</strong>setor: “We are confi<strong>de</strong>nt that our efforts have helped to spotlight biofuelsopportunities in these countries […] and improve the investment climateso that private investment will follow” 289 .287http://foreignaffairs.house.gov/110/sul073108.pdf288http://foreignaffairs.house.gov/110/sul073108.pdf289I<strong>de</strong>m.188


conclusõesO setor energético brasileiro, conforme <strong>de</strong>monstram os testemunhosda Secretária-Assistente Karen Harbert (DOE) e do Secretário-AssistenteDaniel Sullivan (DOS), é consi<strong>de</strong>rado pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> como mo<strong>de</strong>lopara os <strong>de</strong>mais países da região em aspectos como a diversificação damatriz energética, a participação elevada das fontes re<strong>no</strong>váveis, osavanços tec<strong>no</strong>lógicos na exploração petrolífera em alto-mar, a estabilida<strong>de</strong>regulatória, o respeito aos contratos e a abertura aos investimentosestrangeiros. O <strong>Brasil</strong> é visto como um parceiro energético promissorcom gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir para a segurança energética doHemisfério, em particular por meio da exploração das reservas do pré-sale da cooperação em biocombustíveis em escala continental.A partir das informações obtidas durante a redação do trabalho,em particular <strong>no</strong>s Capítulos III e IV (que tratam da Política EnergéticaNacional e das negociações bilaterais durante o Gover<strong>no</strong> George W. Bush,respectivamente), da leitura da bibliografia, <strong>de</strong> consultas a documentosoficiais e da realização <strong>de</strong> entrevistas, é possível concluir que os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> têm conduzido as relações com o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> setor <strong>de</strong> energiacom base em objetivos <strong>de</strong> longo prazo: a liberalização e a integraçãodos mercados energéticos regionais e a promoção das Parcerias para oDesenvolvimento Sustentável.A) Liberalização dos mercados energéticos regionais. Os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> favorecem a adoção – ou a manutenção – pelo Gover<strong>no</strong> brasileiro<strong>de</strong> arcabouços jurídicos, fiscais e regulatórios que promovam a liberalizaçãocomercial <strong>no</strong> setor energético. Tal estratégia <strong>de</strong>ve ser compreendida à luz dosesforços dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para a abertura <strong>de</strong> mercados e a promoção dosinvestimentos privados <strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal. Recor<strong>de</strong>-se que, em 27 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 1990, o Presi<strong>de</strong>nte George H. Bush anunciou a Iniciativa Enterprisefor the Americas, que incluía proposta <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> livre comércio“stretching from the port of Anchorage to the Tierra <strong>de</strong>l Fuego” 290 . Quatro a<strong>no</strong>smais tar<strong>de</strong>, por ocasião da Primeira Cúpula das Américas (9-11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1994), durante o Gover<strong>no</strong> Clinton, aprovou-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> umaÁrea <strong>de</strong> Livre Comércio das Américas (ALCA), com prazo para implantaçãoem 2005. O Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Miami relacio<strong>no</strong>u uma série <strong>de</strong> iniciativas,agrupadas em 22 temas, <strong>de</strong>ntre os quais a cooperação energética 291 . O <strong>Brasil</strong>,290http://www.presi<strong>de</strong>ncy.ucsb.edu/ws/in<strong>de</strong>x.php?pid=18644291http://www.summit-americas.org/eng-2002/summit-process.htm189


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sdurante esse período, adotou legislação favorável ao fluxo dos investimentosprivados estrangeiros <strong>no</strong> setor energético. Em 1995, a Emenda ConstitucionalN o 06 elimi<strong>no</strong>u a distinção entre empresas em função da origem <strong>de</strong> seu capital.Passou a ser consi<strong>de</strong>rada empresa brasileira toda aquela estabelecida sob aégi<strong>de</strong> da lei brasileira, com se<strong>de</strong> e administração <strong>no</strong> País. A pesquisa, a lavrae o aproveitamento dos recursos minerais, mediante autorização ou concessãoda União, foram facultados às filiais <strong>de</strong> empresas estrangeiras estabelecidas<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 292 . Em 1997, a Lei 9.478 regulamentou as ativida<strong>de</strong>s relativas àexploração do petróleo e criou a Agência Nacional do Petróleo (ANP) quedaria início, a partir <strong>de</strong> 1999, às rodadas <strong>de</strong> licitações 293 .Por meio da cooperação energética com o <strong>Brasil</strong>, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>atuam <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar ou criar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércioe <strong>de</strong> investimento para empresas <strong>no</strong>rte-americanas, não apenas asgran<strong>de</strong>s petrolíferas e os conglomerados do setor <strong>de</strong> commodities,mas também as empresas <strong>de</strong> seguros, <strong>de</strong> consultoria, <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong>serviços, distribuidoras <strong>de</strong> energia elétrica, construtoras, fornecedores<strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> alta tec<strong>no</strong>logia e agências <strong>de</strong> financiamento. Paraos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a liberalização dos mercados <strong>de</strong> energia <strong>no</strong>s paísesdo Hemisfério, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não afete a política <strong>de</strong> proteção vigente parasetores domésticos (agroindústria do eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho), resulta em maiorpo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão dos agentes privados sobre a conformação e a evoluçãodo comércio e da integração energética nas Américas e <strong>no</strong> Caribe.O Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> avalia que a liberalização do setor<strong>de</strong> hidrocarbonetos em países como o Canadá, a Colômbia e Trinidad eTobago, permitiu elevar consi<strong>de</strong>ravelmente o volume das exportações<strong>de</strong> petróleo e gás natural. No caso do <strong>Brasil</strong>, há expectativa <strong>de</strong> que amanutenção do regime <strong>de</strong> concessão para os blocos já licitados da camadapré-sal contribua para imprimir ritmo mais acelerado à exploraçãodos recursos e gere exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> óleo bruto e gás natural (GNL) paraexportação 294 . O México e a Venezuela, embora vistos com reservapelas autorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanas, por causa do controle estatal sobreo setor <strong>de</strong> hidrocarbonetos, cumprem satisfatoriamente a função <strong>de</strong>fornecedores <strong>de</strong> petróleo. O aumento do fluxo <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> petróleoe gás oriundo dos países do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal aten<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ssa forma,292http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc06.htm293http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9478.htm294http://www.internationalrelations.house.gov/110/engel073108.pdf190


conclusõesàs recomendações da Política Energética Nacional (NEP), que buscamreduzir a <strong>de</strong>pendência <strong>no</strong>rte-americana do petróleo importado do OrienteMédio.A <strong>de</strong>fesa da liberalização dos mercados não se aplica, como se sabe,ao comércio bilateral <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> importam o produtobrasileiro na proporção em que a produção doméstica <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho(e, <strong>no</strong> médio prazo, <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico) não seja suficiente para cumpriras metas <strong>de</strong> mistura estabelecidas pela legislação <strong>no</strong>rte-americana.Apesar das <strong>de</strong>clarações públicas feitas por alguns representantes doExecutivo <strong>no</strong> sentido da revogação da tarifa secundária, os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> não favorecem a liberalização do comércio <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l como <strong>Brasil</strong> e outros países da região, a não ser <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong> acordosbilaterais <strong>de</strong> livre comércio 295 . Por meio da cooperação triangular, <strong>no</strong>âmbito do Memorando <strong>de</strong> Entendimento sobre biocombustíveis, os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> buscam estimular a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l principalmentepara consumo local, conforme ressaltado pelo Secretário-AssistenteDaniel S. Sullivan, do DOS, durante testemunho diante do Subcomitê doHemisfério Oci<strong>de</strong>ntal: “we are working with <strong>de</strong>veloping countries in theHemisphere to support feasibility analyses and technical assistance aimedat stimulating private sector investment in domestic biofuels productionfor local consumption” 296 .A estratégia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> envolve não apenas o estímulo àsexportações <strong>de</strong> petróleo e gás natural do <strong>Brasil</strong>, mas também a promoçãodos investimentos diretos das empresas <strong>no</strong>rte-americanas. As principaisempresas petrolíferas dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> – ExxonMobil, Chevron,El Paso, Devon Energy, Amerada Hess e Anadarko – participam daexploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, em parceria com aPetrobras ou como operadoras <strong>de</strong> blocos, seja na camada pré-sal, sejaem regiões marítimas me<strong>no</strong>s profundas, como a Bacia <strong>de</strong> Campos.295Em setembro <strong>de</strong> 2005, durante encontro com o MDIC Luiz Fernando Furlan, em Washington,o Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Samuel Bodman admitiu que, do ponto <strong>de</strong> vista do DOE, haveriarazões suficientes para eliminar as restrições tarifárias às importações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l do <strong>Brasil</strong>.Argumentou, porém, que o avanço dos entendimentos sobre o tema estaria condicionado ànegociação <strong>de</strong> um “<strong>de</strong>al/road map” sobre o quadro geral do comércio <strong>Brasil</strong>–<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Sugeriu que a questão da tarifa “secundária” do eta<strong>no</strong>l po<strong>de</strong>ria ser encaminhada <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong>um acordo comercial amplo, em que ambos os lados <strong>de</strong>monstrassem flexibilida<strong>de</strong> para tratar<strong>de</strong> suas respectivas <strong>de</strong>mandas (telegrama 2284 da Embaixada em Washington, <strong>de</strong> 28/09/05).296http://foreignaffairs.house.gov/110/sul073108.pdf191


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sResguardar o posicionamento alcançado pelas empresas <strong>no</strong>rte-americanas<strong>no</strong> setor <strong>de</strong> hidrocarbonetos do <strong>Brasil</strong> constitui objetivo fundamental daestratégia <strong>de</strong> cooperação energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A agroindústriado eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar oferece, também, atrativos consi<strong>de</strong>ráveis aosinvestidores <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Mesmo sem a possibilida<strong>de</strong>, em princípio,<strong>de</strong> produzir eta<strong>no</strong>l para exportação em larga escala para o mercado dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, os grupos estrangeiros recém-estabelecidos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> –entre os quais a ADM, Cargill, Bunge e Infinity Bio-Energy – beneficiam-sedo crescimento do mercado inter<strong>no</strong>, da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exportar paramercados europeus e asiáticos, do marco regulatório estável e aberto, e,sobretudo, da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperar com empresas e instituições <strong>de</strong>pesquisa brasileiras para <strong>de</strong>senvolver tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>lcelulósico.B) Integração dos mercados energéticos regionais. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>conduzem a cooperação energética com o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> favorecera execução <strong>de</strong> projetos e a adoção <strong>de</strong> marcos regulatórios, fiscais etributários que contribuam para a integração dos mercados energéticosregionais e permitam maior participação dos capitais privados <strong>no</strong>rte--america<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s projetos energéticos. Autorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanasconsi<strong>de</strong>ram que a integração dos mercados energéticos regionaispropiciará o sustentáculo necessário para a formação <strong>de</strong> um espaçoeconômico hemisférico, tal como ocorreu na Europa, com a criação daComunida<strong>de</strong> Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951.Trata-se, igualmente, <strong>de</strong> objetivo <strong>de</strong> longo prazo, que remonta aolançamento da Enterprise for the Americas. Durante a Primeira Cúpuladas Américas, em Miami, em 1994, os Chefes <strong>de</strong> Estado aprovaramPla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação com recomendações aos Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>no</strong> sentido<strong>de</strong> promover a integração energética regional, fomentar os investimentosprivados <strong>no</strong> setor energético e estabelecer Parceria Hemisférica para oUso Sustentável da <strong>Energia</strong> 297 . Na Primeira Reunião <strong>de</strong> Ministros <strong>de</strong><strong>Energia</strong> das Américas, realizada em Washington D.C., em outubro <strong>de</strong>1995, foi lançada a Iniciativa Energética Hemisférica, foro político parao diálogo e o intercâmbio <strong>de</strong> experiências, aberto à participação do setorprivado 298 . Em paralelo às negociações do Acordo <strong>de</strong> Livre Comércio297http://www.summit-americas.org/eng-2002/summit-process.htm298http://www.cumbres<strong>de</strong>lasamericas.org/Miami%20Summit/Energy%20(revised)%20Eng.htm192


conclusõesdas Américas (ALCA), os Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> realizaram sucessivasreuniões – em Santa Cruz <strong>de</strong> La Sierra (1996), Caracas (1998), NovaOrleans (1999), Cida<strong>de</strong> do México (2001) e Trinidad e Tobago (2004) –com o objetivo <strong>de</strong> discutir a integração dos mercados regionais <strong>de</strong> energia.A Iniciativa Energética Hemisférica contribuiu para a consolidação<strong>de</strong> processos sub-regionais <strong>de</strong> integração e para a reforma do marcoregulatório do setor energético em países como El Salvador, Guatemala,Guiana, Nicarágua e Panamá. A Declaração <strong>de</strong> Compromisso da QuintaCúpula das Américas, realizada em Port of Spain, em 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2009,contém seção sobre segurança energética (promoting energy security).O parágrafo 56 da Declaração estabelece que os Ministros <strong>de</strong> <strong>Energia</strong><strong>de</strong>verão elaborar Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação, com ênfase <strong>no</strong>s temas <strong>de</strong> acesso aenergia, eficiência e diversificação energética, energia limpa e reduçãodos impactos ambientais, para exame por ocasião da próxima Cúpula 299 .A integração energética tem avançado <strong>no</strong> âmbito do NAFTA 300 . Em2001, durante a Terceira Cúpula das Américas, em Québec, os Gover<strong>no</strong>sdos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, Canadá e México criaram o Grupo <strong>de</strong> Trabalhosobre <strong>Energia</strong> da América do Norte (NAEWG), com o objetivo <strong>de</strong>fomentar a cooperação nas áreas <strong>de</strong> regulação e eficiência energética,ciência e tec<strong>no</strong>logia, comércio e distribuição <strong>de</strong> gás natural, proteção dainfraestrutura crítica, energia nuclear e exploração <strong>de</strong> hidrocarbonetos 301 .Em 2005, o Grupo <strong>de</strong> Trabalho foi incorporado à Parceria para aSegurança e a Prosperida<strong>de</strong> (SPP), iniciativa lançada pelos Presi<strong>de</strong>ntesGeorge W. Bush e Vicente Fox e pelo Primeiro-Ministro Paul Martin. Opla<strong>no</strong> energético da SPP prevê a harmonização dos padrões <strong>de</strong> eficiênciaenergética e a eliminação <strong>de</strong> barreiras ao comércio <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logiasenergéticas limpas 302 .Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> estão empenhados em aprofundar o <strong>de</strong>bate sobrea integração energética hemisférica <strong>no</strong> âmbito da Assembleia Geral daOEA. Em junho <strong>de</strong> 2007, durante a 37ª Assembleia Geral da OEA, ospaíses-membros manifestaram299http://www.state.gov/documents/organization/122843.pdf300Em 01 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994, entrou em vigor o Acordo <strong>de</strong> Livre Comércio da América doNorte (NAFTA).301http://www.pi.energy.gov/naewg.htm302http://www.spp-psp.gc.ca/eic/site/spp-psp.nsf/eng/00045.html193


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as infra-estruturas energéticas <strong>no</strong> âmbitonacional, sub-regional e regional e investir nas mesmas, a fim <strong>de</strong> facilitara disponibilida<strong>de</strong> da energia e o acesso a ela, bem como protegê-las eavançar na integração energética sub-regional e regional 303 .Ao discursar para as <strong>de</strong>legações, a Secretária <strong>de</strong> Estado CondoleezzaRice afirmou:The <strong>de</strong>claration of Panama drafted here <strong>de</strong>monstrates that energy is avital part of our hemispheric agenda and that we will work together toaddress the challenges of energy security, climate change, environmentalstewardship, and sustainable <strong>de</strong>velopment. These four challenges areindivisible and we must tackle them together 304 .Por meio da OEA, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> têm patrocinado conferênciassub-regionais sobre energia, tal como o Seminário Regional do Cone Sulsobre <strong>Energia</strong> Sustentável, Cooperação e Integração Energética, realizadoem Santiago do Chile, em julho <strong>de</strong> 2008, na se<strong>de</strong> da CEPAL (ComissãoEconômica para a América Latina e o Caribe), on<strong>de</strong> se discutiu o comérciointrarregional <strong>de</strong> gás natural 305 .Gover<strong>no</strong>s <strong>de</strong>mocratas e republica<strong>no</strong>s têm fomentado a integraçãodos mercados energéticos regionais. O Gover<strong>no</strong> Bill Clinton apoiou, porexemplo, o projeto <strong>de</strong> construção do Gasoduto Bolívia–<strong>Brasil</strong>, obra querecebeu financiamento do Banco Mundial, do BID e do Banco Europeu <strong>de</strong>Investimentos e que contou com participação <strong>de</strong> empresas <strong>no</strong>rte-americanase europeias. Segundo a Agência Internacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, o controleacionário da empresa Transportadora <strong>Brasil</strong>eira Gasoduto Bolívia–<strong>Brasil</strong>S.A., <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, era compartilhado entre a Petrobras/Gaspetro (51%),o consórcio El Paso/British Gas/TotalFinaElf (29%), a Shell (4%), aEnron (4%) e a empresa boliviana Transre<strong>de</strong>s (12%), nacionalizada peloPresi<strong>de</strong>nte Evo Morales, em 2008 306 . O Gover<strong>no</strong> George W. Bush, por sua303Declaração do Panamá: <strong>Energia</strong> para o Desenvolvimento Sustentável. Parágrafo operativo 9.http://www.oas.org/37ag/docs/por/52.doc304http://www.usoas.usmission.gov/rice_37ga_plenary.html305http://www.eclac.org/prensa/<strong>no</strong>ticias/discursossecretaria/4/33604/Discursoenergia_11<strong>de</strong>julio.pdf306South America Gas. Daring to tap the bounty. 2003. http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2000/southa_2003.pdf194


conclusõesvez, exerceu influência favorável à integração energética regional junto àsinstituições financeiras. Em seu testemunho ao Subcomitê do HemisférioOci<strong>de</strong>ntal, em março <strong>de</strong> 2006, a Secretária-Assistente para Políticas eAssuntos Internacionais Karen A. Harbert, do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>,ressaltou o interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do comérciointerregional <strong>de</strong> gás natural. Citou dois projetos prioritários <strong>de</strong> integraçãogasífera <strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal: um Gasoduto ligando os países doMercosul, Bolívia, Chile e Peru; e um gasoduto ligando a Colômbia aoMéxico, que percorre países da América Central 307 .Karen Harbert enfatizou a disposição dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> parafomentar o comércio <strong>de</strong> gás natural liquefeito (GNL) com os países daAmérica do Sul:The U.S appetite for LNG supplies is growing and new authoritiesprovi<strong>de</strong>d in EPAct 2005 should allow for increased import capability. Ourfuture LNG supplies are expected to either originate in this hemisphereor at least to pass through LNG facilities in our hemisphere. Mexico hastwo LNG regasification plants un<strong>de</strong>r construction – one on the Pacificcoast and a<strong>no</strong>ther in the Gulf of Mexico […]At present, however, we have<strong>no</strong> greater or more reliable LNG partner than Trinidad and Tobago. [...]A<strong>no</strong>ther exciting source of LNG continues to take shape in Peru, as thehuge natural gas field at Camisea <strong>de</strong>velops. […] Bolivia’s proven naturalgas reserves of 24 Tcf – the second largest in South America – couldprovi<strong>de</strong> a tremendous platform for eco<strong>no</strong>mic prosperity if those resourcesreach the international market.Harbert não mencio<strong>no</strong>u as reservas <strong>de</strong> gás do pré-sal, que ainda nãoeram <strong>de</strong> conhecimento público. O <strong>Brasil</strong>, entretanto, <strong>de</strong> acordo comrepresentantes da Petrobras e <strong>de</strong> outras empresas concessionárias <strong>de</strong>blocos <strong>no</strong> pré-sal, <strong>de</strong>verá integrar a relação dos fornecedores <strong>de</strong> GNLpara os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. A Petrobras e a British Gas (BG) assinaram,em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2009, acordo para a construção <strong>de</strong> terminal flutuante<strong>de</strong> GNL para escoar o gás do pré-sal da Bacia <strong>de</strong> Santos. Segundo oPresi<strong>de</strong>nte da BG <strong>Brasil</strong>, Nelson Silva, a distância entre o terminal eas instalações <strong>de</strong> regaseificação <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>no</strong> Ceará favorece307http://www.pi.energy.gov/documents/HarbertTestimony.pdf195


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>so <strong>Brasil</strong> como mercado prioritário, mas o objetivo do projeto, na óticaprivada, é “garantir rentabilida<strong>de</strong>, seja qual for a nacionalida<strong>de</strong> dosconsumidores” 308 . O Diretor <strong>de</strong> Gás e <strong>Energia</strong> da Shell Cone Sul,Antonio Assumpção, <strong>de</strong>clarou que somente Tupi e Júpiter teriam recursossuficientes para dobrar o volume das reservas provadas brasileiras (12,9tcf, em 2009): “Teremos uma reserva exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s 50 TCFs...para <strong>de</strong>stinar para exportação a partir <strong>de</strong> 2020, quando as áreas do pré-salcomeçarem a produzir” 309 .C) Parcerias para o Desenvolvimento Sustentável. A estratégiados <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> para a cooperação energética com o <strong>Brasil</strong>compreen<strong>de</strong>, também, elementos relacionados às políticas ambiental e<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. O Gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, como sesabe, tem encorajado abertamente o protagonismo e a li<strong>de</strong>rança do <strong>Brasil</strong>na área <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável. O <strong>Brasil</strong> é visto como uma plataforma paraa transferência, adaptação e comercialização <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticase ambientais na América do Sul. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> preten<strong>de</strong>m, pormeio da parceria com o <strong>Brasil</strong>, estimular a adoção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável pelos <strong>de</strong>mais países da região. Esperam,<strong>de</strong>ssa forma, acelerar o <strong>de</strong>senvolvimento dos mercados <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>,abrir oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócios para as empresas <strong>no</strong>rte-americanas eexportar bens, serviços e tec<strong>no</strong>logias energéticas, como o carvão limpo,o sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e a gaseificação <strong>de</strong> carvão. Planejam utilizar oconjunto dos programas científicos do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> comobase para expandir o comércio com os países do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal,resguardando a vanguarda tec<strong>no</strong>lógica da indústria <strong>no</strong>rte-americana.Boa parte dos projetos bilaterais <strong>de</strong> cooperação energética – como,por exemplo, os projetos <strong>de</strong> eficiência energética, carvão limpo,reflorestamento, sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, aterros sanitários, pequenascentrais hidrelétricas, energia solar e eólica – estão inseridos <strong>no</strong> contextodas Parcerias para o Desenvolvimento Sustentável, lançadas por ocasiãoda Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Johannesburg,África do Sul, 2002). Segundo informação do DOS (Bureau of PublicAffairs), os países do Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal participam atualmente <strong>de</strong> 20Parcerias para o Desenvolvimento Sustentável, algumas <strong>de</strong>las com foco308O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, “Petrobras e BG vão fazer o 1º terminal flutuante <strong>de</strong> gás”, publicadoem 18/11/2009.309O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. “<strong>Brasil</strong> terá tsunami <strong>de</strong> gás em 2010”, publicado em 20/11/09.196


conclusões<strong>no</strong> setor energético, como International Partnership for the HydrogenEco<strong>no</strong>my, Methane to Markets Partnership, Partnership for Clean Fuelsand Vehicles, Green Power Partnership, Clean Energy Initiative e GlobalVillage Energy Partnership 310 .Os esforços do DOS para promover as Parcerias para o DesenvolvimentoSustentável encontram respaldo na legislação fe<strong>de</strong>ral <strong>no</strong>rte-americana.Com a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ratificar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobreMudança do Clima, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> se comprometeram a adotar umPla<strong>no</strong> Nacional, além <strong>de</strong> políticas para a redução das emissões <strong>de</strong> gasesdo efeito estufa. O EPAct of 92 (Energy Policy Act of 1992), aprovadoquatro meses após a Conferência do Rio, estabeleceu programas fe<strong>de</strong>raisnas áreas <strong>de</strong> eficiência e conservação energética, carvão limpo e uso<strong>de</strong> combustíveis alternativos. A Environmental Protection Agencytem atuado, também, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> favorecer reduções voluntárias <strong>de</strong>emissões pela indústria <strong>no</strong>rte-americana.Des<strong>de</strong> as negociações do Protocolo <strong>de</strong> Quioto, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>enfatizam a utilização <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> mercado para a obtenção <strong>de</strong>recursos para a mitigação da mudança do clima. Como se recorda, oGover<strong>no</strong> Bill Clinton, durante a I Conferência das Partes da Convenção<strong>de</strong> Mudança Climática (Berlim, 1995), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u metas obrigatórias <strong>de</strong>redução <strong>de</strong> emissões para os países <strong>de</strong>senvolvidos. Posteriormente, na IIConferência das Partes (Genebra, 1996), os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, pressionadospor setores da indústria e do Congresso, introduziram a questão <strong>de</strong> cotascomercializáveis <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, que serviriam como mecanismoflexibilizador complementar na redução das emissões dos países do AnexoI da Convenção 311 . Nas negociações que antece<strong>de</strong>ram a III Conferênciadas Partes (Quioto, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1997), o <strong>Brasil</strong> apresentou a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> umFundo <strong>de</strong> Desenvolvimento Limpo (FDL), que promoveria transferência<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia e proveria recursos financeiros para projetos <strong>de</strong> mitigaçãoe adaptação à mudança do clima em países em <strong>de</strong>senvolvimento. Os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> manifestaram objeção à proposta do FDL, que previa aimposição <strong>de</strong> penalida<strong>de</strong>s pelo não cumprimento <strong>de</strong> metas <strong>de</strong> redução<strong>de</strong> emissões por países <strong>de</strong>senvolvidos. Defen<strong>de</strong>ram incentivos paramaior participação do setor privado. Após reunião <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, em310Vi<strong>de</strong> relação completa em http://www.sdp.gov/region/wha/311O Regime Internacional <strong>de</strong> Mudança Climática e o <strong>Brasil</strong>. In Revista <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> CiênciasSociais. Vol. 17. No. 50. Outubro <strong>de</strong> 2002. Eduardo Viola. São Paulo, SP: ANPOCS, 2002.197


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007, <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> chegaram a uma propostaconjunta, que incorporava preocupações dos dois lados. A proposta foimodificada posteriormente, durante as sessões da Conferência das Partesem Quioto, em <strong>de</strong>zembro, tendo sido finalmente aprovada ao final dareunião e adotada como o artigo 12 do Protocolo, que estabeleceu oMecanismo <strong>de</strong> Desenvolvimento Limpo (MDL) 312 .O MDL ofereceu a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um país do Anexo I daConvenção adquirir Reduções Certificadas <strong>de</strong> Emissões (RCE) empaíses em <strong>de</strong>senvolvimento como forma <strong>de</strong> cumprir parte <strong>de</strong> seuscompromissos. De acordo com o Mecanismo, cada tonelada <strong>de</strong> CO 2equivalente que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser emitida ou for retirada da atmosfera porum país em <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>rá ser negociada <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong>carbo<strong>no</strong>, o que resulta em atrativo para participação do setor privado<strong>no</strong> esforço <strong>de</strong> redução das emissões. A participação <strong>no</strong> MDL seriavoluntária e os projetos <strong>de</strong>veriam gerar reduções adicionais àquelas queocorreriam na ausência do Mecanismo, <strong>de</strong> maneira a garantir benefíciosreais, mensuráveis e <strong>de</strong> longo prazo para a mitigação da mudança doclima 313 . Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> passaram, então, a estimular projetos <strong>de</strong>cooperação energética com países em <strong>de</strong>senvolvimento que po<strong>de</strong>riamser enquadrados <strong>no</strong> MDL, como, por exemplo, a geração <strong>de</strong> energiapor fontes re<strong>no</strong>váveis (biomassa, pequenas hidrelétricas, energia solar eeólica), a substituição <strong>de</strong> combustíveis, a geração <strong>de</strong> meta<strong>no</strong> a partir <strong>de</strong>resíduos orgânicos em aterros sanitários (biogasificação) e os projetos<strong>de</strong> eficiência e conservação energética.O Gover<strong>no</strong> Bill Clinton assi<strong>no</strong>u o Protocolo <strong>de</strong> Quioto, masnão o enviou para ratificação do Congresso. A <strong>de</strong>cisão do Executivofundamentava-se, entre outros aspectos, na posição do Senado, que jáse manifestara, em julho <strong>de</strong> 1997, contrário à ratificação do Protocolo,caso não fossem estabelecidas metas para países em <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>renda média com rápido crescimento das emissões 314 . O Gover<strong>no</strong> Clinton312O Mecanismo <strong>de</strong> Desenvolvimento Limpo: a Proposta e as Perspectivas <strong>Brasil</strong>eiras.Seminário Sustentabilida<strong>de</strong> na Geração e Uso <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: os Próximos 20 a<strong>no</strong>s.José Domingos Gonzalez Miguez. UNICAMP. 18 a 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2002.313O Mecanismo <strong>de</strong> Desenvolvimento Limpo: a Proposta e as Perspectivas <strong>Brasil</strong>eiras.Seminário Sustentabilida<strong>de</strong> na Geração e Uso <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: os Próximos 20 a<strong>no</strong>s.José Domingos Gonzalez Miguez. UNICAMP. 18 a 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2002.314O Regime Internacional <strong>de</strong> Mudança Climática e o <strong>Brasil</strong>. In Revista <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> CiênciasSociais. Vol. 17. No. 50. Outubro <strong>de</strong> 2002. Eduardo Viola. São Paulo, SP: ANPOCS, 2002.198


conclusõescontinuaria, entretanto, a executar programas voluntários <strong>de</strong> redução <strong>de</strong>emissões. O Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação do Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong>mocrata (The Climate ChangeAction Plan) privilegiou a promoção da eficiência e da conservaçãoenergética por meio <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> mercado. Enfatizou, também, aconstituição <strong>de</strong> parcerias público-privadas para <strong>de</strong>senvolver e utilizartec<strong>no</strong>logias i<strong>no</strong>vadoras na área <strong>de</strong> eficiência energética. O objetivo centraldo Pla<strong>no</strong> era reduzir as emissões <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e, ao mesmo tempo, ampliara produtivida<strong>de</strong> e a competitivida<strong>de</strong> da eco<strong>no</strong>mia dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 315 .O Gover<strong>no</strong> George W. Bush retirou-se das negociações sobremudança do clima, em março <strong>de</strong> 2001, alegando que o Protocolo <strong>de</strong>Quioto não estabelecia compromissos <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões para ospaíses <strong>de</strong> renda média e não conferia a ênfase necessária aos mecanismos<strong>de</strong> mercado 316 . A questão climática não recebeu tratamento prioritário <strong>no</strong>âmbito da Política Energética Nacional (NEP). O Presi<strong>de</strong>nte George W.Bush propôs abordagem para a mudança do clima com foco na ciência,na i<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógica e <strong>no</strong>s mecanismos <strong>de</strong> mercado, <strong>de</strong> maneira anão comprometer o crescimento econômico dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>: “myAdministration’s climate change policy will be science-based, encourageresearch breakthroughs that lead to tech<strong>no</strong>logical in<strong>no</strong>vation, and takeadvantage of the power of markets” 317 . No pla<strong>no</strong> multilateral, o Gover<strong>no</strong>George W. Bush buscou influenciar as negociações sobre mudança doclima por meio <strong>de</strong> parcerias regionais e reuniões com os principais paísesem <strong>de</strong>senvolvimento. Em julho <strong>de</strong> 2005, lançou a Parceria Ásia-Pacíficosobre Clima e Desenvolvimento Limpo (APP), integrada por China, Índia,Japão, Coreia do Sul, Austrália e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Em setembro <strong>de</strong> 2007,organizou, em Washington, a primeira Reunião das Gran<strong>de</strong>s Eco<strong>no</strong>miassobre Segurança Energética e Mudança do Clima 318 .A atuação diplomática e as propostas apresentadas pelas autorida<strong>de</strong>s<strong>no</strong>rte-americanas durante as negociações do Memorando <strong>de</strong> Entendimentopara Estabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação naÁrea <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (2003) e do Memorando <strong>de</strong> Entendimento para Avançara Cooperação em Biocombustíveis (2007) po<strong>de</strong>m ser compreendidas,315http://www.gcrio.org/USCCAP/execsum.html316O Regime Internacional <strong>de</strong> Mudança Climática e o <strong>Brasil</strong>. In Revista <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> CiênciasSociais. Vol. 17. No. 50. Outubro <strong>de</strong> 2002. Eduardo Viola. São Paulo, SP: ANPOCS, 2002.317http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/07/20010713-2.html318http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2007/09/20070928-1.html199


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sportanto, à luz da proposição <strong>de</strong> que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> orientam asrelações com o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> setor energético com base <strong>no</strong>s objetivosmencionados: a liberalização, a integração dos mercados energéticosregionais e a parceria para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.Examine-se, por exemplo, o estabelecimento do Mecanismo <strong>de</strong>Consultas sobre Cooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>. Em correspondênciaenviada à Embaixada em Washington, o DOE enfatizou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dasconversações em 2001, o interesse em explorar oportunida<strong>de</strong>s comerciaisoferecidas pela “<strong>no</strong>na maior eco<strong>no</strong>mia do mundo” para as empresas<strong>no</strong>rte-americanas, em particular <strong>no</strong>s setores <strong>de</strong> petróleo, gás natural eeletricida<strong>de</strong> 319 . A Subsecretária para Democracia e Assuntos Globais doDOS, Paula Dobriansky, informou, às vésperas da Cúpula Presi<strong>de</strong>ncial<strong>de</strong> 2003, que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> pretendiam negociar acordo bilateral naárea <strong>de</strong> exploração offshore <strong>de</strong> petróleo e gás natural, com o objetivo <strong>de</strong>aten<strong>de</strong>r aos aspectos <strong>de</strong> segurança da infraestrutura e <strong>de</strong> proteção do meioambiente. A preocupação do Departamento <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong>corria do númerocrescente <strong>de</strong> empresas <strong>no</strong>rte-americanas que participavam das rodadas <strong>de</strong>licitações promovidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1999, e adquiriam, sob o regime <strong>de</strong> concessão, direitos <strong>de</strong> exploração<strong>de</strong> blocos situados na plataforma continental brasileira, inclusive <strong>no</strong>pré-sal. O texto final do Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o MME eo DOE relacio<strong>no</strong>u como área prioritária o planejamento e a regulaçãoenergética, especialmente nas áreas <strong>de</strong> segurança da infraestrutura <strong>de</strong>exploração offshore e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do sistema elétrico. Em 2008, oDepartamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> voltou a manifestar interesse <strong>no</strong> Mecanismo<strong>de</strong> Consultas, motivado pelos anúncios das <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo e gásnatural na região do pré-sal.A negociação do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas evi<strong>de</strong>nciou, a<strong>de</strong>mais, apriorida<strong>de</strong> atribuída pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> à integração energética doHemisfério Oci<strong>de</strong>ntal. Durante reunião <strong>no</strong> MME, <strong>no</strong> dia 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>2002, funcionários do DOE, da USAID e diplomatas <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>sassinalaram que o conceito <strong>de</strong> segurança energética hemisférica<strong>de</strong>veria ser visto como pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo para a cooperação com o <strong>Brasil</strong>.Argumentaram que a segurança energética hemisférica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>esforço concertado para promover a abertura, a <strong>de</strong>sregulamentação e a319Telegrama 2695, 08/11/2001, <strong>de</strong> Brasemb Washington.200


conclusõesintegração dos sistemas <strong>de</strong> geração e distribuição <strong>de</strong> energia 320 . A propostasuscitou reação contrária do Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong>, que apontoua inconveniência <strong>de</strong> utilizar <strong>no</strong> texto do Memorando <strong>de</strong> Entendimentoconceitos sensíveis, como segurança energética, investimentos,regulamentação e planejamento, que abririam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>discussão sobre o marco regulatório do setor 321 . Apesar da forte reaçãodo MME, a proposta <strong>no</strong>rte-americana foi incorporada à parte operativado Memorando <strong>de</strong> Entendimento, com a seguinte redação:(1) Os Participantes preten<strong>de</strong>m estabelecer mecanismo <strong>de</strong> consultas,em nível ministerial, para o tratamento <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> mútuo interessena área <strong>de</strong> energia, incluindo planejamento energético e análises <strong>de</strong>políticas energéticas, comércio e investimentos e cooperação na área <strong>de</strong>tec<strong>no</strong>logias energéticas [...] (2) Essas consultas visam à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>cooperação futura [...] (3) Os Participantes enten<strong>de</strong>m que tais consultasnão visam criar obrigações legais vinculantes entre si 322 .A participação do <strong>Brasil</strong> nas Parcerias para o DesenvolvimentoSustentável constituiu, também, priorida<strong>de</strong> para os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>durante o processo <strong>de</strong> negociação do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas. A umasemana da Cúpula Presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> 2003, o <strong>Brasil</strong> foi convidado a a<strong>de</strong>rir àParceria Internacional para a Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE), programa<strong>de</strong> cooperação recém-lançado pelos Departamentos <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e <strong>de</strong>Transporte, com foco na pesquisa, <strong>de</strong>monstração e utilização comercialdo hidrogênio e das células a combustível, na elaboração <strong>de</strong> códigos epadrões comuns e <strong>no</strong> intercâmbio <strong>de</strong> informação sobre <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> infraestrutura. O <strong>Brasil</strong> foi convidado, além disso, a participar doFórum <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança sobre Sequestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (CSLF), outro programa<strong>de</strong> pesquisa patrocinado pelo Gover<strong>no</strong> George W. Bush, voltado parao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para separação, captura, transportee armazenamento <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>. A primeira reunião do Foroocorreria em Washington, após a visita presi<strong>de</strong>ncial. A Embaixada dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em Brasília propôs a inclusão <strong>de</strong> dois parágrafos <strong>no</strong>texto do Memorando <strong>de</strong> Entendimento para explicitar a disposição do320Despacho telegráfico 352, 10/04/2002, para a Embaixada em Washington.321Despacho telegráfico 487, 29/05/2003, para a Embaixada em Washington.322Vi<strong>de</strong> Anexo II.201


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>Brasil</strong> para atuar <strong>no</strong> âmbito dos Foros IPHE e CSLF. O adido científicoda Embaixada chegou a sugerir que a aceitação dos dois parágrafosfosse condição para a assinatura do Memorando. Ao final da negociação,<strong>de</strong>cidiu-se que o texto do Memorando não mencionaria os dois Foros.O Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> argumentou que não dispunha <strong>de</strong>elementos para <strong>de</strong>cidir sobre possível participação brasileira. Aindaassim, durante a visita do Presi<strong>de</strong>nte Lula a Washington, em 20 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 2003, o Porta-Voz da Casa Branca divulgou <strong>no</strong>ta em que anunciou olançamento <strong>de</strong> uma parceria energética entre os dois países (US–BrazilEnergy Partnership). A <strong>no</strong>ta informou que a parceria bilaterial enfatizariaa eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio e o sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, entre outras áreas 323 .No pla<strong>no</strong> bilateral, o Memorando <strong>de</strong> Entendimento entre o MME eo DOE relacio<strong>no</strong>u sete áreas prioritárias para a cooperação energética,a maioria com foco em <strong>de</strong>senvolvimento sustentável: a) Tec<strong>no</strong>logiasenergéticas eficientes e avançadas, especialmente na área <strong>de</strong> energia <strong>de</strong>hidrogênio; b) Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>; c) Carvão e outrossistemas <strong>de</strong> potência avançados; d) Tec<strong>no</strong>logias para o <strong>de</strong>senvolvimentosustentável; e) Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, incluindo biodiesel ebiomassa e sistemas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> energia; f) Pesquisa básica emenergia; e g) Informação, planejamento e regulação, especialmente nasáreas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e segurança da infraestrutura<strong>de</strong> energia offshore. A ênfase do Memorando na pesquisa tec<strong>no</strong>lógica<strong>de</strong><strong>no</strong>ta o interesse dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> em orientar a cooperação bilateral<strong>no</strong> sentido da transferência e adaptação <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticase ambientais para comercialização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais países daAmérica do Sul. No caso do carvão, por exemplo, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> sãoo segundo maior fornecedor exter<strong>no</strong> do <strong>Brasil</strong> (26% das importações),<strong>de</strong>pois da Austrália (35%) 324 . Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007, o DOE assi<strong>no</strong>uconvênio <strong>de</strong> cooperação técnica e científica com a Associação <strong>Brasil</strong>eirado Carvão Mineral (ABCM) para <strong>de</strong>senvolver tec<strong>no</strong>logias limpas parauso do carvão, além <strong>de</strong> pesquisas para sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> 325 .A atuação dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na negociação do Memorando<strong>de</strong> Entendimento sobre Biocombustíveis foi marcada, também, pelapreocupação em avançar os três objetivos estratégicos: a liberalização323http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2003/06/20030620-12.html324Balanço Mineral <strong>Brasil</strong>eiro 2008. Departamento Nacional <strong>de</strong> Produção Mineral.325http://www.satc.edu.br/siecesc/ver_<strong>no</strong>ticia.asp?evento=73202


conclusõese a integração dos mercados energéticos regionais e a parceria para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. O <strong>Brasil</strong>, conforme visto, <strong>de</strong>u impulsoinicial às negociações. De acordo com o Embaixador Antonio Simões,Diretor-Geral do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> durante as negociações doMemorando, a i<strong>de</strong>ia central do Gover<strong>no</strong> brasileiro era a criação domercado internacional do eta<strong>no</strong>l, não necessariamente a constituição <strong>de</strong>uma parceria com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 326 . O Gover<strong>no</strong> brasileiro esclareceuao lado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> que teria interesse na estruturação do mercadointernacional do eta<strong>no</strong>l, não apenas para promover o consumo mundial, eassim ampliar as exportações, mas também para beneficiar-se do produtoimportado, na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insuficiência da produção nacional.Enfatizou, portanto, os limites à capacida<strong>de</strong> da agroindústria brasileira<strong>de</strong> produzir eta<strong>no</strong>l em escala suficiente para abastecer o mercadointer<strong>no</strong> e ainda exportar volumes crescentes do produto para o mercadointernacional 327 . O Gover<strong>no</strong> brasileiro continuaria a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a revogaçãoda tarifa secundária do eta<strong>no</strong>l, mas o tema não foi tratado <strong>no</strong> contextodas negociações do Memorando. O Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento privilegiava a atuação conjunta dos dois maioresprodutores mundiais para transformar o eta<strong>no</strong>l em commodity, negociadaem bolsas <strong>de</strong> valores, com padrões técnicos <strong>de</strong>finidos e harmonizados 328 .O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por suavez, <strong>de</strong>fendia a associação entre empresas brasileiras e <strong>no</strong>rte-americanas,maior esforço do Gover<strong>no</strong> para promover exportações <strong>de</strong> veículos flexfuel e a participação <strong>de</strong> empresas brasileiras na distribuição <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l<strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 329 .A reação preliminar dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> foi favorável. Duranteencontro com o MME Silas Ron<strong>de</strong>au, em julho <strong>de</strong> 2006, o Secretário <strong>de</strong>326Segundo o Embaixador Antonio Simões, a negociação do Memorando <strong>de</strong> Entendimento<strong>de</strong>monstrou a capacida<strong>de</strong> do <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong> construir agenda positiva com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> pormeio da assinatura <strong>de</strong> um acordo específico na área <strong>de</strong> biocombustíveis. O DOE, na avaliaçãodo Embaixador Simões, tinha clara preocupação com a <strong>de</strong>svantagem competitiva do eta<strong>no</strong>l<strong>de</strong> milho e <strong>de</strong>monstrou disposição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das negociações, para investir em pesquisastec<strong>no</strong>lógicas conjuntas. O DOS, por sua vez, i<strong>de</strong>ntificou oportunida<strong>de</strong>s estratégicas na parceriacom o <strong>Brasil</strong> e, por isso, engajou-se ativamente nas <strong>de</strong>mais vertentes do Memorando: acooperação com terceiros países e os trabalhos do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis.Entrevista com o Embaixador Antonio Simões. Novembro <strong>de</strong> 2009.327Telegrama 418, 21/02/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.328Telegrama 960, 26/04/2006, <strong>de</strong> Brasemb Washington.329Despacho telegráfico 702, 08/06/2006, para Brasemb Washington.203


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>s<strong>Energia</strong> Samuel Bodman confirmou que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> favoreciamesforços conjuntos para transformar o eta<strong>no</strong>l em commodity. Ressaltou,porém, o interesse do Gover<strong>no</strong> George W. Bush em promover projetosconjuntos <strong>de</strong> pesquisa do eta<strong>no</strong>l celulósico e estimular a cooperaçãotriangular com países centro-america<strong>no</strong>s e caribenhos 330 . Bodmansinalizava, assim, a intenção <strong>no</strong>rte-americana <strong>de</strong> orientar a parceria embiocombustíveis para o contexto hemisférico e para a cooperação emtec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável.Ao assinar o Memorando <strong>de</strong> Entendimento sobre Biocombustíveis,os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong> e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> firmaram, na prática,uma parceria na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, com foco naspesquisas <strong>de</strong> biocombustíveis avançados, como o eta<strong>no</strong>l celulósico,que possibilitariam a redução das emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufae garantiriam a sustentabilida<strong>de</strong> do setor <strong>no</strong> longo prazo. Os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> buscavam apoio do <strong>Brasil</strong> não apenas para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, mas também na busca <strong>de</strong> soluçõespara problemas técnicos do setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> milho, como a ausência<strong>de</strong> infraestrutura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> estocagem e <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> álcool.Durante as consultas interministeriais que antece<strong>de</strong>ram a assinatura doMemorando, avaliou-se que a cooperação com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> po<strong>de</strong>riaincluir a transferência <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias e <strong>de</strong> experiências na produção,comercialização e distribuição <strong>de</strong> biocombustíveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que com a<strong>de</strong>vida cautela, na medida em que o <strong>Brasil</strong>, por ser <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia,po<strong>de</strong>ria não ser beneficiado, se não houvesse contrapartidas 331 . Antesmesmo da assinatura do Memorando, o Secretário <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> SamuelBodman propôs a realização <strong>de</strong> missão técnica brasileira para visitar oNational Renewable Energy Laboratory (NREL), centro <strong>de</strong> excelênciadas pesquisas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico.Sem prejuízo do apoio construtivo à vertente global do Memorando<strong>de</strong> Entendimento e aos trabalhos do Fórum Internacional <strong>de</strong>Biocombustíveis, a reação das autorida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>rte-americanas à propostada parceria em biocombustíveis orientou-se, primordialmente, pelaperspectiva da liberalização e da integração dos mercados energéticosregionais. Ao apresentar formalmente as propostas para a condução330Telegrama 1637, <strong>de</strong> Brasemb Washington, em 13/07/06.331Despacho telegráfico 705, para Brasemb Washington, em 08/06/06.204


conclusõesda parceria bilateral, durante reunião em Brasília, o Coor<strong>de</strong>nadorInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Greg Manuel, afirmou que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>consi<strong>de</strong>ravam os biocombustíveis como instrumento para a consecução<strong>de</strong> objetivos geopolíticos <strong>no</strong> Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, tais como apromoção da <strong>de</strong>mocracia, a criação <strong>de</strong> alternativas socioeconômicas,a diversificação da matriz energética e a redução das emissões <strong>de</strong>carbo<strong>no</strong> e do consumo <strong>de</strong> petróleo. Nesse contexto, indicou que acooperação triangular <strong>de</strong>veria incluir prioritariamente Haiti, RepúblicaDominicana, São Cristóvão e Névis, Guatemala, El Salvador, Colômbiae Bolívia. Os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> esperavam, assim, engajar o <strong>Brasil</strong> emações voltadas para maior produção <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável <strong>no</strong>s paísesdo Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, o que teria, na avaliação do Departamento <strong>de</strong>Estado, efeitos benéficos sobre a estabilida<strong>de</strong> regional e a redução dosfluxos migratórios. O Subsecretário-Geral <strong>de</strong> Assuntos Políticos I doItamaraty, Embaixador Antonio Patriota, esclareceu, na ocasião, que oGover<strong>no</strong> brasileiro concordava em realizar ações conjuntas com paísesda América Central e do Caribe, mas que po<strong>de</strong>ria ter dificulda<strong>de</strong>s emtrabalhar com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> contexto sul-america<strong>no</strong> (Bolíviae Colômbia) 332 .Greg Manuel assinalou a disposição <strong>no</strong>rte-americana para promovera abertura dos mercados regionais e i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s parainvestimentos privados. Observou que os Gover<strong>no</strong>s locais, beneficiadospela cooperação triangular, <strong>de</strong>veriam assumir a prerrogativa <strong>de</strong> criarambiente institucional a<strong>de</strong>quado para a atuação do setor privado; senecessário, receberiam capacitação institucional <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> a gover<strong>no</strong> 333 .Previsivelmente, o mercado brasileiro revelou-se mais atrativo para asempresas <strong>no</strong>rte-americanas do que os centro-america<strong>no</strong>s e caribenhos.Cite-se, por exemplo, a Amyris Biotech. Criada em 2003, a Amyriscelebrou joint venture com a empresa Crystalsev, do Grupo Santa ElisaVale, em abril <strong>de</strong> 2008, para produzir e comercializar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> o biodiesel<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, com uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>senvolvida pela empresana Califórnia. Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2009, a Embraer, a Amyris e a GeneralElectric assinaram Memorando <strong>de</strong> Entendimento para avaliar os aspectostécnicos e <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do combustível re<strong>no</strong>vável para jatos (No332Despacho telegráfico 1180, para Brasemb Washington, em 27/09/06.333I<strong>de</strong>m.205


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sCompromise TM), produzido pela Amyris e testado pelo Laboratório<strong>de</strong> Pesquisas da Força Aérea dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 334 . O ex-Coor<strong>de</strong>nadorInternacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, Greg Manuel, ocupa atualmente o cargo <strong>de</strong>Vice-Presi<strong>de</strong>nte Sênior para Estratégia e Desenvolvimento Empresarialda Amyris.B – Limites para a construção <strong>de</strong> uma parceria energéticaDurante o Gover<strong>no</strong> George W. Bush, <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> foramos protagonistas <strong>de</strong> duas tentativas <strong>de</strong> parceria <strong>no</strong> setor energético,com resultados distintos. O Mecanismo <strong>de</strong> Consultas entre o MMEe o DOE sobre Cooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, criado em 2003 poriniciativa dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, com base em recomendação da NationalEnergy Policy (NEP), reuniu-se em uma única ocasião, em abril <strong>de</strong>2004. O processo <strong>de</strong> consultas permanece paralisado. O Memorando<strong>de</strong> Entendimento na área <strong>de</strong> biocombustíveis tem propiciado avanços<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> bilateral, como <strong>de</strong>monstra a assinatura <strong>de</strong> convênio entre aPetrobras e o Laboratório Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>s Re<strong>no</strong>váveis (NREL) parapesquisa <strong>de</strong> biocombustíveis avançados. O escopo da cooperação comterceiros países foi ampliado para incorporar países africa<strong>no</strong>s (Senegale Guiné-Bissau) e po<strong>de</strong>rá esten<strong>de</strong>r-se a países asiáticos 335 . A vertentemultilateral do Memorando <strong>de</strong> Entendimento apresenta resultados aquémdo esperado em razão, entre outros fatores, dos processos <strong>no</strong>rmativos emcurso <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e na União Europeia, que sofrem a pressão dosrespectivos lobbies agrícolas e dos grupos ambientalistas.Após a vitória <strong>de</strong> Barack Obama nas eleições presi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> 2008, oGover<strong>no</strong> brasileiro <strong>de</strong>cidiu propor a ampliação da cooperação energéticabilateral. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, o Secretário-Executivo do MME, MárcioZimmerman, participou <strong>de</strong> reuniões <strong>no</strong> DOE e sugeriu o incremento dacooperação <strong>no</strong> setor nuclear e em tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> carvãolimpo 336 . Durante visita a Washington, em julho <strong>de</strong> 2009, o Ministro <strong>de</strong>Minas e <strong>Energia</strong> Edison Lobão manifestou disposição para aprofundar334Defesa <strong>Brasil</strong>. “Embraer, General Electric, Azul e Amyris anunciam projeto <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>bioquerosene <strong>de</strong> aviação”, publicado em 19/11/09.335Entrevista com o Subsecretário-Geral <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> e Alta Tec<strong>no</strong>logia, Embaixador AndréAmado, em 18/12/2009.336Telegrama 3110, <strong>de</strong> Brasemb Washington, em 19/12/2008.206


conclusõesa cooperação bilateral não apenas <strong>no</strong>s setores <strong>de</strong> petróleo, gás natural ebiocombustíveis, mas também <strong>no</strong> tocante à energia nuclear e eólica e aoutras fontes re<strong>no</strong>váveis 337 .A análise do processo <strong>de</strong> negociação dos dois Memorandos<strong>de</strong> Entendimento permite chegar a algumas conclusões sobre oencaminhamento da cooperação energética bilateral. Em primeiro lugar,ressalte-se o papel do Ministério das <strong>Relações</strong> Exteriores na condução dorelacionamento com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> setor energético, assim comona formulação da política energética nacional. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promovermaior articulação, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, entre as políticas <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> relaçõesexteriores tem sido apontada por alguns autores 338 . A participação doItamaraty <strong>no</strong> planejamento e na execução das iniciativas internacionaisna área <strong>de</strong> energia é fundamental, tendo em vista, entre outros aspectos,a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociar acordos e tratados para garantir estabilida<strong>de</strong>jurídica aos projetos <strong>de</strong> cooperação e disciplinar as relações <strong>de</strong>inter<strong>de</strong>pendência energética, características do cenário contemporâneo.Na América do Sul, por exemplo, o processo <strong>de</strong> integração energéticacompreen<strong>de</strong> inúmeras variáveis que exigem constante acompanhamentodiplomático e repercutem sobre a evolução do sistema energético nacional.Os acordos <strong>de</strong> complementação energética e os empreendimentosbinacionais na América do Sul, a internacionalização <strong>de</strong> empresasbrasileiras, como a Petrobras, a Eletrobras e as gran<strong>de</strong>s construtorasprivadas, e a perspectiva <strong>de</strong> que o <strong>Brasil</strong> se torne ator relevante <strong>no</strong>mercado <strong>de</strong> energia (petróleo, GNL, eta<strong>no</strong>l) são fatores que conduzemà ampliação da agenda externa, o que exigirá do Itamaraty maiorenvolvimento com as questões energéticas e com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>planejamento inter<strong>no</strong>. Como se sabe, o Decreto N o 3.520, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 2000, que <strong>de</strong>fine a estrutura e o funcionamento do ConselhoNacional <strong>de</strong> Política Energética (CNPE), não relacio<strong>no</strong>u o Ministério das<strong>Relações</strong> Exteriores como integrante do órgão 339 . Além <strong>de</strong> responsável337Telegrama 1744, <strong>de</strong> Brasemb Washington, em 23/07/2009.338Vi<strong>de</strong> I Conferência Nacional <strong>de</strong> Política Externa e Política Internacional, <strong>Energia</strong>, LuizAlfredo Salomão e José Malhães da Silva, FUNAG, Brasília, 2007.339O CNPE é integrado, atualmente, pelos Ministérios <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> (que presi<strong>de</strong> oórgão); do Meio Ambiente; <strong>de</strong> Ciência e Tec<strong>no</strong>logia; da Fazenda; do Planejamento, Orçamentoe Gestão; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; além da Casa Civil; <strong>de</strong> umrepresentante dos <strong>Estados</strong> e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral; <strong>de</strong> um cidadão brasileiro especialista emenergia; e <strong>de</strong> um representante <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> brasileira.207


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>spela formulação da política energética, o CNPE, tal como previsto naproposta do marco regulatório para o setor <strong>de</strong> hidrocarbonetos, será umdos órgãos encarregados <strong>de</strong> planejar a exploração e a gestão dos recursosdo pré-sal.Há limites para a construção <strong>de</strong> uma parceria energética com os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Tratando-se <strong>de</strong> uma situação assimétrica, em que acontraparte apresenta inúmeras vantagens comparativas – em termos <strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> financeira, industrial, institucional, tec<strong>no</strong>lógica, científica e<strong>de</strong> planejamento, escala <strong>de</strong> produção e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comercialização, porexemplo – a negociação <strong>de</strong> uma parceria energética com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>verá aten<strong>de</strong>r, necessariamente, a uma série <strong>de</strong> pré-condições,estabelecidas <strong>de</strong> maneira a garantir que a cooperação bilateral leveem conta as características do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento energéticonacional e não resulte em <strong>de</strong>sarticulação do processo <strong>de</strong> integraçãoenergética na América do Sul. Do ponto <strong>de</strong> vista brasileiro, uma parceriaenergética com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>ve contribuir para avançar o<strong>de</strong>senvolvimento nacional, para aten<strong>de</strong>r a objetivos específicos da políticaenergética e, em particular, para superar o gap tec<strong>no</strong>lógico e produtivoentre os respectivos setores industriais e energéticos.A visão do <strong>Brasil</strong> como exportador em larga escala <strong>de</strong> petróleo,produtos <strong>de</strong>rivados e gás natural liquefeito (GNL) correspon<strong>de</strong>, emgran<strong>de</strong> medida, às expectativas das empresas que atuam <strong>no</strong> pré-sal,inclusive a Petrobras. Enquadra-se, também, na concepção estratégicados formuladores da política energética dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, conformevisto <strong>no</strong> exame da National Energy Policy (NEP), realizado <strong>no</strong> CapítuloIII. Não se coaduna, entretanto, com os objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentonacional e <strong>de</strong> segurança energética. A exploração em ritmo aceleradodos recursos do pré-sal não ten<strong>de</strong> a contribuir para a geração endógena<strong>de</strong> conhecimento e tec<strong>no</strong>logia, indispensável para que as empresasnacionais integrantes da ca<strong>de</strong>ia produtiva do pré-sal alcancem patamarmais elevado <strong>de</strong> capacitação em áreas sensíveis, como a produção <strong>de</strong>equipamentos submari<strong>no</strong>s (umbilicais, dutos e linhas flexíveis). O foconas exportações permitirá, seguramente, que o <strong>Brasil</strong> se posicione entreos gran<strong>de</strong>s produtores <strong>de</strong> petróleo, mas po<strong>de</strong>rá ocasionar problemas<strong>de</strong> sobrevalorização cambial, perda <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> produtiva,atrelamento da eco<strong>no</strong>mia ao ritmo da <strong>de</strong>manda por petróleo e atémesmo <strong>de</strong>sequilíbrio da balança comercial em função da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>208


conclusõesmaior financiamento exter<strong>no</strong>, <strong>de</strong> importações <strong>de</strong> bens e equipamentosainda não produzidos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e do aumento das remessas <strong>de</strong> lucrose divi<strong>de</strong>ndos das filiais <strong>de</strong> empresas estrangeiras. No caso do pré-sal,partindo do pressuposto <strong>de</strong> que o Gover<strong>no</strong> brasileiro <strong>de</strong>terminaráo ritmo <strong>de</strong> exploração dos recursos <strong>de</strong> maneira a <strong>de</strong>senvolver aca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong> petróleo e gás (metal-mecânica, eletroeletrônico,construção naval, petroquímica, projetos <strong>de</strong> engenharia, tec<strong>no</strong>logia dainformação, refrigeração e equipamentos <strong>de</strong> segurança), a negociação<strong>de</strong> uma parceria com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>ve prever, por exemplo,estímulos aos investimentos diretos, às associações entre empresas e aosprojetos conjuntos para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos e processos emáreas <strong>de</strong> fronteira tec<strong>no</strong>lógica, como <strong>no</strong>vos materiais (aços especiais),na<strong>no</strong>tec<strong>no</strong>logia, equipamentos <strong>de</strong> águas profundas e software.Além <strong>de</strong> levar em conta as políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industriale energético e as diretrizes para a exploração dos recursos do pré-sal, anegociação <strong>de</strong> uma parceria com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>no</strong> setor energético<strong>de</strong>ve orientar-se pelos princípios e pelas priorida<strong>de</strong>s da política externabrasileira. Interessa ao <strong>Brasil</strong>, por exemplo, explorar convergênciase i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>na perspectiva <strong>de</strong> consolidar a agenda positiva na área energética. Acooperação bilateral não <strong>de</strong>ve, entretanto, comprometer os esforços do<strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> sentido da construção <strong>de</strong> um espaço econômico ampliado eautô<strong>no</strong>mo na América do Sul. O fortalecimento e a integração do sistemaenergético é um dos eixos principais do projeto sul-america<strong>no</strong>. O Gover<strong>no</strong>brasileiro atribui priorida<strong>de</strong> à busca da auto<strong>no</strong>mia regional em energia 340 .A garantia do abastecimento energético <strong>no</strong> longo prazo constitui condiçãosine qua <strong>no</strong>n para o crescimento sustentado da eco<strong>no</strong>mia sul-americana.Alguns países sul-america<strong>no</strong>s, como Uruguai, Chile e Argentina, têmdéficits <strong>de</strong> energia, cuja correção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do avanço da integraçãoenergética regional. A concepção da América do Sul como um bloco<strong>de</strong> países com exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> energia, exportadores <strong>de</strong> petróleo e gásnatural para o mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, tal como <strong>de</strong>scrito na NationalEnergy Policy (NEP), não reflete a realida<strong>de</strong> do continente, e tampoucose harmoniza com o projeto <strong>de</strong> integração do continente sul-america<strong>no</strong>.340O Mundo Multipolar e a Integração Sul-Americana. In Revista Comunicação & Política.V.25, n .3, p.169-189. Samuel Pinheiro Guimarães. Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ: Centro <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong>Estudos Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong>s, 2007.209


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sOutro aspecto relevante da construção <strong>de</strong> uma parceria energéticacom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômicae comercial. Conforme visto, a estratégia <strong>no</strong>rte-americana paraa cooperação energética bilateral fundamenta-se <strong>no</strong> propósito <strong>de</strong>liberalizar e integrar os mercados regionais, promover a adoção <strong>de</strong>marcos regulatórios propícios aos investimentos privados, fomentaro <strong>de</strong>senvolvimento dos mercados <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> e adaptar tec<strong>no</strong>logiasenergéticas e ambientais para comercialização <strong>no</strong>s países do HemisférioOci<strong>de</strong>ntal. Por meio da cooperação energética, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>buscam obter acesso aos mercados regionais, i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>spara a exportação <strong>de</strong> bens, equipamentos, serviços e tec<strong>no</strong>logias efavorecer os investimentos das empresas <strong>no</strong>rte-americanas que atuam<strong>no</strong> cenário regional. Do ponto <strong>de</strong> vista do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro,entretanto, a negociação <strong>de</strong> uma parceria energética com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>ve centrar-se na pesquisa <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias energéticas avançadas,fundamentais para garantir, <strong>no</strong> longo prazo, a inserção competitiva do<strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> cenário energético internacional. Citem-se, por exemplo, ascélulas a combustíveis e fotovoltaicas, os aerogeradores, as bateriaseletroquímicas, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> veículos híbridos e elétricos, aenergia <strong>de</strong> fusão e a na<strong>no</strong>tec<strong>no</strong>logia.Eventual negociação <strong>de</strong> uma parceria energética com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>ve, portanto, resguardar os interesses comerciais e econômicosdo <strong>Brasil</strong>, sobretudo na América do Sul, e não contemplar propostas<strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> mercados, sem contrapartidas a<strong>de</strong>quadas. Há interesse,seguramente, em explorar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios <strong>no</strong> mercado<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>. O <strong>Brasil</strong> reúne amplas condições para incrementar ointercâmbio comercial e reforçar a parceria energética com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong>, sem restringir-se ao papel <strong>de</strong> exportador <strong>de</strong> petróleo e gásnatural liquefeito. A Petrobras America Inc (PAI), por exemplo, além daexploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural <strong>no</strong> Golfo do México, tem procuradoampliar sua presença <strong>no</strong> refi<strong>no</strong>, na comercialização e na prestação <strong>de</strong>serviços 341 . A empresa dispõe <strong>de</strong> refinarias e canais <strong>de</strong> distribuição <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. No médio prazo, a Petrobras America po<strong>de</strong>rá ocuparmaior espaço <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados, tendo em vistao <strong>de</strong>clínio da participação <strong>de</strong> empresas como a PDVSA e a PEMEX.341http://www.petrobras-usa.com/whatwedo.aspx210


conclusõesA Petrobras po<strong>de</strong>ria, também, atuar <strong>no</strong> mercado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> <strong>de</strong>biocombustíveis, beneficiando-se <strong>de</strong> sua experiência <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> alcooldutos, aspecto central da logística do eta<strong>no</strong>l.Consultado sobre essa possibilida<strong>de</strong>, o ex-Presi<strong>de</strong>nte da PetrobrasAmerica, Alberto Guimarães, afirmou que:Havendo condições comerciais, a Petrobras inexoravelmente entraránesse mercado, pois a presença e a expertise comercial <strong>no</strong>s mercados<strong>de</strong> gasolina e diesel são as mesmas requeridas para o mercado <strong>de</strong> álcoolcombustível e biodiesel. Não temos pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> investir em logística, excetoem tanques e terminais, que po<strong>de</strong>rão estar <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s da empresa se ascondições macroeconômicas o permitirem 342 .Guimarães avalia que a empresa po<strong>de</strong>ria prestar assistência ao setorprivado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> <strong>no</strong> que diz respeito a políticas <strong>de</strong> proteção, linhas<strong>de</strong> crédito especial, logística <strong>de</strong> transporte do eta<strong>no</strong>l, apoio à produção eformação <strong>de</strong> cooperativas. Ressaltou, porém, que o mercado brasileiroconstitui a base <strong>de</strong> operações da empresa:A Petrobras converge todo seu esforco <strong>de</strong> P&D para o Centro <strong>de</strong> Pesquisa<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Acredito que se viabilizarmos o álcool celulósico em basescompetitivas, o setor agroindustrial brasileiro será <strong>no</strong>ssa fonte natural<strong>de</strong> suprimento para uma estratégia comercial da Petrobras América <strong>no</strong>s<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Mesmo com o álcool tradicional, o <strong>Brasil</strong> continuará aser <strong>no</strong>ssa fonte <strong>de</strong> abastecimento. Eventualmente, alguma participaçãomi<strong>no</strong>ritária e não-operadora em instalações produtivas <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> po<strong>de</strong>ria ocorrer, mas apenas <strong>de</strong> forma complementar a umaestratégia maior com base <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 343 .A <strong>de</strong>speito da aproximação entre os dois países na área energética,que resultou <strong>no</strong> estabelecimento da parceria em biocombustíveis, nãohouve progresso na questão da tarifa do eta<strong>no</strong>l. O ex-Presi<strong>de</strong>nte daPetrobras America vislumbra possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> avançar a cooperaçãoem biocombustíveis, mas com ressalvas na área comercial:342Entrevista com o Presi<strong>de</strong>nte da Petrobras America Inc (PAI), Alberto Guimarães. Março <strong>de</strong> 2008.343I<strong>de</strong>m.211


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sNos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, a produção <strong>de</strong> álcool é muito centralizada na ADM(Archer Daniels Midland), empresa privada com forte representação<strong>no</strong> Congresso [...] Vejo como provável o interesse em alinhar esforçosacadêmicos e investimentos para viabilizar soluções duradouras. Umaquestão pouco abordada é até que ponto o <strong>Brasil</strong> será competitivoe exportador num cenário em que o álcool celulósico se viabilizecomercialmente – isto é, tenha custos <strong>de</strong> produção alinhados com os <strong>de</strong>outras fontes. Neste caso teórico, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e qualquer outropaís po<strong>de</strong>riam produzir álcool a partir <strong>de</strong> qualquer fonte <strong>de</strong> celulose,reduzindo muito a vantagem competitiva que a cana tem hoje em relaçãoao milho 344 .Com relação à questão da tarifa secundária do eta<strong>no</strong>l, AlbertoGuimarães pon<strong>de</strong>rou que:Seria ótimo que houvesse solução diplomática para o problema da barreira<strong>de</strong> importação, mas ainda que não haja, a questão se resolverá, apenasem tempo mais longo. Hoje, se a sobretaxa caísse, não haveria oferta <strong>de</strong>álcool brasileiro suficiente para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda potencial do <strong>Brasil</strong>e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (o álcool brasileiro é muito mais competitivo e oefeito seria uma disparada <strong>no</strong>s preços). A indústria precisa ser construídaa partir <strong>de</strong> sinais sérios e duradouros do Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, <strong>no</strong>sentido <strong>de</strong> estimular a substituição, reduzir gradualmente a sobretaxa ecriar regulamentações e programas <strong>de</strong> obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso do eta<strong>no</strong>l,com prazos claros para implementação. A perspectiva confiável <strong>de</strong>crescimento do consumo faria o próprio mercado e a indústria reagiremnaturalmente; a sobretaxa passaria a ser coisa do passado ou cadavez me<strong>no</strong>s importante. Da mesma forma, os investimentos brasileiroscresceriam para vir aten<strong>de</strong>r aquela <strong>de</strong>manda 345 .A eliminação da tarifa “secundária” do eta<strong>no</strong>l constitui <strong>de</strong>mandaprioritária <strong>no</strong> contexto da cooperação energética com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>.Há necessida<strong>de</strong>, porém, <strong>de</strong> aprofundar a reflexão interna sobre questõesrelacionadas à evolução do mercado <strong>de</strong> biocombustíveis e ao padrão344Entrevista com o Presi<strong>de</strong>nte da Petrobras America Inc (PAI), Alberto Guimarães. Março <strong>de</strong> 2008.345I<strong>de</strong>m.212


conclusões<strong>de</strong> relacionamento que o <strong>Brasil</strong> preten<strong>de</strong> estabelecer com os <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> e outros países produtores e consumidores <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Entre outrosaspectos, caberia ressaltar que: a) o <strong>Brasil</strong> tem interesse em exportareta<strong>no</strong>l, mas também serviços, bens e equipamentos <strong>de</strong> valor agregadodo setor sucroalcooleiro, processos e produtos industriais, projetos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento rural, biorrefinarias, usinas para cogeração e veículosflex fuel; b) a produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l celulósico em escala comercial,prevista para os próximos a<strong>no</strong>s, abrirá frentes <strong>de</strong> expansão para o setor<strong>de</strong> biocombustíveis <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e provavelmentereduzirá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importações <strong>de</strong>ste último; c) a parceriabilateral na pesquisa e <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do eta<strong>no</strong>l celulósico <strong>de</strong>veriaassegurar contrapartidas específicas ao <strong>Brasil</strong>, sobretudo quando houvertransferência <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias nacionais e <strong>de</strong> experiências na produção,comercialização e utilização <strong>de</strong> biocombustíveis; d) o setor <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong>cana-<strong>de</strong>-açúcar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> registrou aumento expressivo da participação <strong>de</strong>empresas <strong>no</strong>rte-americanas e europeias, interessadas na produção para osmercados inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong> e na pesquisa <strong>de</strong> biocombustíveis avançados,o que po<strong>de</strong>rá influenciar as conversações sobre o comércio bilateral eo mercado internacional <strong>de</strong> biocombustíveis; e) <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong> umaparceria energética, o Gover<strong>no</strong> brasileiro po<strong>de</strong>rá explorar oportunida<strong>de</strong>spara associações estratégicas com empresas e instituições <strong>de</strong> pesquisa<strong>no</strong>rte-americanas que assegurem ao País o domínio do ciclo <strong>de</strong> produçãodos biocombustíveis avançados (eta<strong>no</strong>l celulósico) e o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para biorrefinarias.C – Proposta <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> AçãoSugerem-se as seguintes linhas <strong>de</strong> ação para encaminhar o diálogoe a cooperação energética com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>:1) Planejamento estratégico e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s. Conformevisto <strong>no</strong> Capítulo III (item B), os projetos <strong>de</strong> cooperação energéticabilateral envolvem expressivo número <strong>de</strong> agências governamentais,instituições acadêmicas, empresas e setores da socieda<strong>de</strong> civil, em áreasdiversas como eficiência energética, energia re<strong>no</strong>vável, combustíveisfósseis, células a combustível, hidrogênio, sequestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>,gaseificação <strong>de</strong> carvão, otimização <strong>de</strong> sistemas energéticos, tec<strong>no</strong>logiaspara seleção genética e propagação da cana-<strong>de</strong>-açúcar e políticas213


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sgovernamentais para utilização <strong>de</strong> biocombustíveis. Em alguns casos,a cooperação energética bilateral tem avançado sem acompanhamentogovernamental a<strong>de</strong>quado. Há necessida<strong>de</strong>, portanto, <strong>de</strong> realizar ummapeamento <strong>de</strong>talhado das ações e dos projetos <strong>de</strong> cooperação em cursocom os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, o que somente será possível mediante esforçoarticulado das várias agências e órgãos do Executivo que respon<strong>de</strong>m pelacooperação bilateral (MME, MRE, MCT, MMA, MDIC, MAPA, CNPQe EMBRAPA, entre outros). Por sua dimensão estratégica, a discussãosobre os rumos da cooperação energética com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> – e anegociação <strong>de</strong> projetos específicos – requer maior esforço <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<strong>no</strong> âmbito governamental, assim como exercício regular <strong>de</strong> reflexãocom vistas a subsidiar o processo <strong>de</strong>cisório em nível presi<strong>de</strong>ncial. Sobcoor<strong>de</strong>nação do Ministério das <strong>Relações</strong> Exteriores, recomenda-se, <strong>de</strong>ssaforma, organizar consultas interministeriais, abertas à participação dossetores privado e acadêmico, para tratar da seleção das áreas <strong>de</strong> interesseprioritário do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> contexto da cooperação energética bilateral.2) Revisão dos acordos <strong>de</strong> cooperação energética. O Gover<strong>no</strong>brasileiro po<strong>de</strong>ria examinar a conveniência <strong>de</strong> propor a atualização dosacordos e mecanismos <strong>de</strong> cooperação energética. Além dos Memorandos<strong>de</strong> Entendimento <strong>de</strong> 2003 e 2007, o marco jurídico atual inclui doisacordos assinados durante a visita do Presi<strong>de</strong>nte Bill Clinton ao <strong>Brasil</strong>, em14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1997: o Acordo <strong>de</strong> Cooperação sobre os Usos Pacíficosda <strong>Energia</strong> Nuclear, com vigência <strong>de</strong> trinta a<strong>no</strong>s; e o Ajuste Complementarpara Cooperação na Área <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia Energética, sujeito aos termos doAcordo relativo à Cooperação em Ciência e Tec<strong>no</strong>logia, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1984, ambos com vigência <strong>de</strong> cinco a<strong>no</strong>s, cuja prorrogação requermanifestação por escrito das Partes Contratantes. Os Gover<strong>no</strong>s do <strong>Brasil</strong>e dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> teriam a opção <strong>de</strong> manter o arcabouço jurídicoem vigor ou negociar um acordo amplo <strong>de</strong> cooperação energética, quepo<strong>de</strong>ria incorporar os mecanismos existentes e acrescentar <strong>no</strong>vos temas,selecionados <strong>de</strong> comum acordo. Recor<strong>de</strong>-se que o Ministro <strong>de</strong> Minase <strong>Energia</strong>, Edison Lobão, e o Secretário-Executivo do MME, MárcioZimmerman, já manifestaram interesse <strong>no</strong> reforço da cooperação bilateralem energias re<strong>no</strong>váveis e <strong>no</strong>s setores nuclear e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> carvão 346 .346Telegrama 3110, 19/12/2008, e telegrama 1744, 23/07/2009, <strong>de</strong> Brasemb Washington.214


conclusões3) Diálogo MRE–DOS sobre energia. Os canais <strong>de</strong> diálogo sobretemas energéticos com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>vem ser redimensionadose reestruturados <strong>de</strong> maneira a permitir, por parte do Itamaraty, melhoracompanhamento das iniciativas <strong>de</strong> cooperação energética, assim comomaior participação na <strong>de</strong>finição das áreas prioritárias, em consonância comas diretrizes e as priorida<strong>de</strong>s da política externa brasileira. O Ministério das<strong>Relações</strong> Exteriores po<strong>de</strong>ria examinar, em conjunto com o Departamento<strong>de</strong> Estado, o estabelecimento <strong>de</strong> um Foro para Consultas Políticas sobre<strong>Energia</strong>, em nível <strong>de</strong> Subsecretários, que se diferenciaria do Mecanismo <strong>de</strong>Consultas entre o MME e o DOE <strong>no</strong>s seguintes aspectos: a) o objetivo doForo seria proporcionar orientação política para a cooperação energéticabilateral. Não trataria diretamente dos projetos e iniciativas <strong>de</strong> naturezatécnica e da pesquisa em ciência e tec<strong>no</strong>logia, que continuariam a seracompanhados pelas instituições pertinentes; b) o Foro promoveria diálogosobre temas da agenda multilateral <strong>de</strong> energia, como a criação do mercado<strong>de</strong> biocombustíveis, a evolução das indústrias <strong>de</strong> petróleo, carvão e gásnatural e as parcerias internacionais (Eficiência Energética, Sequestro<strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> e Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio); e c) o Foro buscaria garantir otratamento coor<strong>de</strong>nado das diversas vertentes da cooperação energéticabilateral, evitando a execução <strong>de</strong> iniciativas isoladas, que não contassemcom aval político. Procuraria, também, i<strong>de</strong>ntificar possíveis áreas para oaprofundamento da cooperação bilateral.Eventual aprofundamento da cooperação com os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>no</strong> setor energético po<strong>de</strong>ria ter impacto sobre a evolução <strong>de</strong> projetosprioritários da diplomacia brasileira, como a integração energética daAmérica do Sul, o que justifica a criação <strong>de</strong> mecanismo <strong>de</strong> consultaspolíticas entre o Itamaraty e o DOS. Conforme visto, o Departamento <strong>de</strong>Estado dispõe, em sua estrutura regimental, <strong>de</strong> áreas específicas voltadaspara o planejamento <strong>de</strong> ações internacionais na área energética, que seriamas contrapartes do Itamaraty para a realização das consultas políticas.O Coor<strong>de</strong>nador Internacional para Assuntos <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, assessor diretoda Secretária <strong>de</strong> Estado Hillary Clinton, respon<strong>de</strong> pela formulação <strong>de</strong>estratégias <strong>de</strong> política externa para promover a segurança energética dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. O Subsecretário para Assuntos <strong>de</strong> Eco<strong>no</strong>mia, <strong>Energia</strong> eAgricultura é o principal assessor para temas econômicos, comerciais,energéticos e para política econômica internacional. O Escritório <strong>de</strong><strong>Energia</strong> Internacional e Política <strong>de</strong> Commodities (IEC), subordinado à215


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sSubsecretaria <strong>de</strong> Eco<strong>no</strong>mia, <strong>Energia</strong> e Agricultura, é responsável poracordos e parcerias com países consumidores e produtores <strong>de</strong> energia.O Escritório tem duas subdivisões: a Divisão para Países Produtores <strong>de</strong><strong>Energia</strong> (EPC), que promove o diálogo com os principais produtores <strong>de</strong>energia por meio <strong>de</strong> foros distintos, como o Grupo <strong>de</strong> Trabalho sobre<strong>Energia</strong> da América do Norte, o Mecanismo <strong>de</strong> Consultas EUA–Canadásobre <strong>Energia</strong> e a Iniciativa para Cooperação Energética <strong>no</strong> Hemisfério.A Divisão para <strong>Energia</strong> e Recursos Naturais (ENR), que acompanha ofuncionamento dos mercados <strong>de</strong> petróleo, gás natural, carvão e energianuclear e re<strong>no</strong>vável.O estabelecimento <strong>de</strong> um Foro para consultas políticas sobre energiaseguiria, em parte, o mo<strong>de</strong>lo estabelecido pelo Itamaraty e pelo DOS,em março <strong>de</strong> 1996, quando se realizou a primeira reunião da AgendaComum para o Meio Ambiente. Aberto à participação das agências edos Ministérios responsáveis pelos projetos <strong>de</strong> cooperação energéticabilateral, o Foro po<strong>de</strong>ria contar, também, com representantes <strong>de</strong>instituições acadêmicas e educacionais. Além disso, absorveria algunsitens da Agenda Comum para o Meio Ambiente, como, por exemplo,o compartilhamento <strong>de</strong> experiências em energias re<strong>no</strong>váveis, eficiênciaenergética, eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio e pesquisa energética avançada.4) Reativação do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas MME-DOE. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>criar um Foro político sobre energia integrado pelo Itamaraty e peloDOS não implicaria a suspensão do processo <strong>de</strong> consultas técnicasentre o MME e o DOE. Embora paralisado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004, o Mecanismo<strong>de</strong> Consultas abrange áreas vitais para o <strong>de</strong>senvolvimento tec<strong>no</strong>lógicodo setor energético brasileiro, como a eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio e asenergias re<strong>no</strong>váveis (solar, eólica e biocombustíveis avançados). Acriação <strong>de</strong> um Foro político po<strong>de</strong>ria propiciar o impulso necessário àrevitalização das consultas técnicas. Ressalte-se que alguns conceitosinseridos <strong>no</strong> texto do Memorando <strong>de</strong> Entendimento <strong>de</strong> 2003, tais como“planejamento energético e análises <strong>de</strong> políticas energéticas, comércioe investimentos”, po<strong>de</strong>riam ser reavaliados com base <strong>no</strong>s resultados dasconsultas interministeriais propostas <strong>no</strong> item 1. Há necessida<strong>de</strong>, também,<strong>de</strong> garantir que a execução dos projetos <strong>de</strong> pesquisa resulte em benefíciosconcretos para o <strong>Brasil</strong> do ponto <strong>de</strong> vista científico. Os programas <strong>de</strong>cooperação entre instituições acadêmicas <strong>de</strong>vem servir para a qualificaçãodos pesquisadores brasileiros em áreas <strong>de</strong> fronteira tec<strong>no</strong>lógica, como a216


conclusõeseco<strong>no</strong>mia do hidrogênio, e para promover a competitivida<strong>de</strong> da indústriabrasileira – ou resguardá-la, como <strong>no</strong> caso da produção <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l 347 . Osprojetos bilaterais <strong>de</strong> pesquisa em eta<strong>no</strong>l celulósico <strong>de</strong>vem ser guiadospor critérios <strong>de</strong> transparência, equida<strong>de</strong>, equilíbrio e simetria na tomada<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. O DOE, a propósito, segue uma orientação bem <strong>de</strong>finida arespeito da cooperação em ciência e tec<strong>no</strong>logia:International science and tech<strong>no</strong>logy relationships have become integraltools in achieving overall U.S. foreign policy and other national goals[…] International agreements also serve as valuable instruments of U.S.eco<strong>no</strong>mic competitiveness by providing U.S. scientists with opportunitiesto gain access to, and build upon, other nations’ research 348 .Na maioria dos países produtores, a viabilização comercial do eta<strong>no</strong>lcelulósico po<strong>de</strong>rá representar solução para garantir a sustentabilida<strong>de</strong> dosetor <strong>de</strong> biocombustíveis <strong>no</strong> longo prazo e superar os impasses em tor<strong>no</strong>das questões ambientais e <strong>de</strong> segurança alimentar. Apesar das diferençasestruturais – <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, as pesquisas são feitas a partir do bagaço e da palha<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar; <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, são utilizados capim, resíduose sobras da agricultura – há espaço para que as instituições científicasdos dois países promovam maior intercâmbio com vistas a obter ganhosrecíprocos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>. A criação do mercado internacional <strong>de</strong>biocombustíveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do aumento do número <strong>de</strong> países produtorese consumidores e também <strong>de</strong> avanços tec<strong>no</strong>lógicos que permitam ampliaro consenso sobre o papel dos biocombustíveis na matriz energética 349 .O objetivo do <strong>Brasil</strong>, nesse contexto, <strong>de</strong>ve ser não apenas aumentar ovolume das exportações <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l, mas também garantir a vanguardatec<strong>no</strong>lógica. Malgrado as imensas vantagens comparativas da produção<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, a inserção competitiva dos produtoresbrasileiros <strong>no</strong>s mercados inter<strong>no</strong> e exter<strong>no</strong> exigirá maiores investimentos347Cooperação internacional em ciência e tec<strong>no</strong>logia: oportunida<strong>de</strong>s e riscos. In Revista<strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Política Internacional. V. 50, n.1. Darly H. da Silva. Brasília, DF: Instituto<strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> <strong>Relações</strong> Internacionais, 2007.348http://www.fossil.energy.gov/international/International_Partners/International_Partners.html349Em busca da produção sustentável <strong>de</strong> biocombustíveis. In Política Externa. Vol 17 No. 2set/out/Nov 2008. José Grazia<strong>no</strong> da Silva, Guilherme Schuetz e Lucas Tavares. São Paulo, SP:Editora Paz e Terra, 2008.217


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sem pesquisa científica para garantir o domínio do ciclo <strong>de</strong> produção dosbiocombustíveis avançados.O fortalecimento do diálogo e da cooperação energética com os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, sobretudo, <strong>de</strong> um esforço preliminar <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong> planejamento estratégico <strong>no</strong> âmbito do Gover<strong>no</strong>brasileiro – em particular entre o Itamaraty e o MME – que permita,entre outros aspectos, <strong>de</strong>finir claramente as áreas prioritárias, do ponto<strong>de</strong> vista do <strong>de</strong>senvolvimento nacional, integrar a perspectiva da políticaexterna brasileira na cooperação energética bilateral e respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>maneira a<strong>de</strong>quada às iniciativas das diversas agências governamentaise às <strong>de</strong>mandas do setor privado e da socieda<strong>de</strong> civil <strong>no</strong>s dois países. Oesforço <strong>de</strong> planejamento estratégico permitirá que o Gover<strong>no</strong> brasileiroadote postura mais propositiva na condução do relacionamento bilaterale evitará o esgotamento ou a paralisia dos processos <strong>de</strong> cooperação, talcomo ocorreu com o Mecanismo <strong>de</strong> Consultas entre o MME e o DOE.218


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anexos


Anexo IAjuste Complementar entre a RepúblicaFe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>da América para a Cooperação na Área <strong>de</strong>Tec<strong>no</strong>logia EnergéticaO Gover<strong>no</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong>eO Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América(doravante <strong>de</strong><strong>no</strong>minados as “Partes”),Tendo um interesse mútuo em trocar informações, experiência e pontos<strong>de</strong> vista <strong>no</strong> que se refere ao <strong>de</strong>senvolvimento e análise da informação,regulamentação e planejamento energéticos, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégiaspara estabelecer e promover sistemas baseados <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável, tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> eficiência energética e tec<strong>no</strong>logia para energia fóssil;Reconhecendo a contribuição das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável,<strong>de</strong> eficiência energética e <strong>de</strong> energia fóssil para aumentar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>energia, tratar preocupações ambientais, melhorar a segurança energética; eDesejando cooperar na promoção da eletrificação rural e o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, e expandir as oportunida<strong>de</strong>s para ocomércio internacional <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável e <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias emeficiência energética entre o <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>;Acordam o seguinte:229


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sArtigo IEscopo e ObjetivoA. O presente Ajuste Complementar está sujeito aos termos e condiçõesdo Acordo Relativo à Cooperação em Ciência e Tec<strong>no</strong>logia entre a RepúblicaFe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América, assinado em 6 <strong>de</strong>Fevereiro <strong>de</strong> 1984, e que foi revalidado pela Emenda e Protocolo <strong>de</strong> Extensãoassinado em 21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1994, doravante <strong>de</strong><strong>no</strong>minado Acordo Quadro.B. O objetivo do presente Ajuste Complementar é estabelecer umaestrutura para a cooperação científica e tec<strong>no</strong>lógica entre as Partes <strong>no</strong> campoda tec<strong>no</strong>logia energética em bases <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> benefício mútuo.C. Para os propósitos do presente Ajuste Complementar, o Ministério dasMinas e <strong>Energia</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> (MME) e o Departamento<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América (DOE) são os Órgãos Executores.Artigo IIÁreas <strong>de</strong> CooperaçãoA cooperação sob este Ajuste Complementar po<strong>de</strong> ser realizada nasseguintes áreas, incluindo as áreas <strong>de</strong>talhadas <strong>no</strong>s Anexos I, II, e III:a) tec<strong>no</strong>logias energéticas eficientes e avançadas;b) carvão e outros sistemas <strong>de</strong> potência avançados;c) tec<strong>no</strong>logias ambientais;d) tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável;e) informações, planejamento e regulamentação energética;f) pesquisa básica em energia, eg) outras áreas tais que possam ser mutuamente acordadas, porescrito, pelos Órgãos Executores.Artigo IIIFormas <strong>de</strong> CooperaçãoA cooperação sob este Ajuste Complementar po<strong>de</strong>rá incluir:a) intercâmbio <strong>de</strong> informações e dados sobre ativida<strong>de</strong>s tec<strong>no</strong>lógicase científicas, <strong>de</strong>senvolvimentos, práticas, métodos e resultados;230


anexosb) intercâmbio <strong>de</strong> cientistas, engenheiros e outros especialistas porperíodos <strong>de</strong> tempo acordados, para participar em experiências, análises,projetos e outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento em centros<strong>de</strong> pesquisa, laboratórios, escritórios <strong>de</strong> engenharia e outras instalaçõese empreendimentos dos Órgãos Executores, ou <strong>de</strong> seus agentes;c) visitas curtas da equipe ou representantes <strong>de</strong>signados da equipe;d) organização <strong>de</strong>, ou participação em seminários, “workshops” eoutras reuniões;e) intercâmbio e fornecimento <strong>de</strong> amostras, materiais, instrumentose componentes para experimentos, testes e avaliações;f) execução <strong>de</strong> estudos conjuntos, projetos ou experiências, incluindo“<strong>de</strong>sign” conjunto e ativida<strong>de</strong>s operacionais e <strong>de</strong> construção; eg) outras formas <strong>de</strong> cooperação acordadas mutuamente pelos ÓrgãosExecutores, por escrito.Artigo IVGerenciamentoA. O MME e o DOE <strong>no</strong>mearão um coor<strong>de</strong>nador, cada um,para supervisionar as ativida<strong>de</strong>s sob este Ajuste Complementar. OsCoor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong>verão aprovar e monitorar todas as ativida<strong>de</strong>s realizadassob este Ajuste Complementar e <strong>de</strong>verão avaliar oportunida<strong>de</strong>s paraexpandir a cooperação.B. Os Coor<strong>de</strong>nadores po<strong>de</strong>rão estabelecer sub-comitês para facilitara implementação <strong>de</strong> projetos iniciados sob este Ajuste Complementar.C. Os Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong>verão reunir-se periodicamente,alternadamente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, para avaliar todos osaspectos <strong>de</strong> cooperação realizados sob este Ajuste Complementar.Artigo VOrganizações AdicionaisCada Órgão Executor <strong>de</strong>verá encorajar e facilitar o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> contatos e cooperação diretos entre agências governamentais e outrasinstituições públicas e privadas em seus respectivos países para avançaros objetivos <strong>de</strong>ste Ajuste Complementar.231


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sArtigo VIDocumentos <strong>de</strong> ProjetoPara realizar uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação como <strong>de</strong>scrito <strong>no</strong> Artigo3(F), os Órgãos Executores <strong>de</strong>verão concluir um Documento <strong>de</strong> Projeto.Cada Documento <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong>verá incluir condições <strong>de</strong>talhadas pararealizar a forma específica <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> cooperativa e <strong>de</strong>verá cobrir taisquestões como escopo técnico, gerenciamento, <strong>de</strong>signação da equipe eintercâmbio <strong>de</strong> equipamentos, custos totais, compartilhamento dos custos,e o cro<strong>no</strong>grama, como apropriado.Artigo VIIIntercâmbio <strong>de</strong> EquipamentoA. Cada Órgão Executor po<strong>de</strong>rá prover equipamento ao outro ÓrgãoExecutor para ser utilizado em ativida<strong>de</strong>s conjuntas. O Órgão Executorremetente <strong>de</strong>verá prontamente entregar uma listagem <strong>de</strong>talhada doequipamento a ser fornecido, junto com as especificações relevantes e adocumentação técnica apropriada relativa ao uso, manutenção e reparodo equipamento para o Órgão Executor que o recebe.B. Salvo quando diversamente acordado, por escrito, pelos ÓrgãosExecutores, o Órgão Executor remetente <strong>de</strong>verá reter a proprieda<strong>de</strong> doequipamento e das peças <strong>de</strong> reposição fornecidos ao outro Órgão Executor,e o Órgão Executor que as receber <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>volver tais equipamentos aoÓrgão Executor remetente ao térmi<strong>no</strong> da ativida<strong>de</strong> conjunta.C. O equipamento fornecido <strong>no</strong> âmbito do presente AjusteComplementar <strong>de</strong>verá ser posto em operação nas instalações do receptorsomente mediante acordo dos Órgãos Executores.D. O equipamento fornecido <strong>no</strong> âmbito do presente AjusteComplementar para uso em ativida<strong>de</strong>s conjuntas <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>radocomo científico, não tendo caráter comercial, e cada Órgão Executor<strong>de</strong>verá empenhar-se o máximo possível para internalizá-lo sem imposto.O Órgão Executor receptor <strong>de</strong>verá envidar seus melhores esforços parafacilitar a entrada e saída dos equipamentos e peças sobressalentes dooutro Órgão Executor, para <strong>de</strong>ntro e fora do seu território.E. Salvo quando estipulado em contrário, o Órgão Executor remetenteserá responsável e <strong>de</strong>verá custear as <strong>de</strong>spesas pelo transporte dos232


anexosequipamentos e materiais, através <strong>de</strong> navio ou avião, até um porto <strong>de</strong>entrada autorizado do país do Órgão Executor receptor, conveniente parao <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> final, e pela guarda dos equipamentos e pelo seguro duranteo transporte.F. Salvo quando formalmente estabelecido em um Documento<strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong>ste Ajuste Complementar, o estabelecimento receptor<strong>de</strong>verá prover as necessárias instalações para o equipamentorecebido, incluindo serviços tais como eletricida<strong>de</strong>, água e gás. Oestabelecimento anfitrião <strong>de</strong>verá prover <strong>no</strong>rmalmente os materiaisa serem testados, conforme os requisitos técnicos acordadosmutuamente pelos Órgãos Executores.Artigo VIIIIntercâmbio <strong>de</strong> PessoalA. Sempre que se contemple o intercâmbio ou <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> pessoal,cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá garantir a seleção a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> pessoalcom as capacida<strong>de</strong>s e competências necessárias para levar a cabo asativida<strong>de</strong>s planejadas sob este Ajuste Complementar. Cada intercâmbio<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong>verá ser mutuamente aprovado antecipadamente, mediantea troca <strong>de</strong> cartas entre os Órgãos Executores, fazendo referência aopresente Ajuste Complementar e disposições pertinentes sobre aproprieda<strong>de</strong> intelectual.B. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá ser responsável pelos salários,seguros e diárias pagos ao seu pessoal ou seus contratados.C. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá pagar pelas <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> viageme estada do seu pessoal ou contratados enquanto estiverem <strong>no</strong>estabelecimento do Órgão Executor anfitrião, salvo quando acordadodiversamente.D. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá auxiliar o pessoal do outro ÓrgãoExecutor ou seus contratados (e suas famílias) a obter acomodaçõesa<strong>de</strong>quadas, numa base <strong>de</strong> acordo mútuo e recíproco.E. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá auxiliar o pessoal do outro ÓrgãoExecutor ou seus contratados nas formalida<strong>de</strong>s administrativas.F. O pessoal <strong>de</strong> cada Órgão Executor ou seus contratados <strong>de</strong>vemater-se às <strong>no</strong>rmas gerais <strong>de</strong> trabalho e regras <strong>de</strong> segurança vigentes <strong>no</strong>estabelecimento anfitrião.233


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sArtigo IXInformação DisponívelA. Os Órgãos Executores trocarão as informações necessárias paralevar adiante este Ajuste Complementar. Toda informação surgida sobeste Ajuste Complementar será prontamente trocada entre os ÓrgãosExecutores.B. A informação transmitida por um dos Órgãos Executores para ooutro Órgão Executor sob este Ajuste Complementar <strong>de</strong>verá ser acuradasegundo o melhor conhecimento e crença do Órgão Executor transmissor,porém, este não garante a a<strong>de</strong>quação da informação transmitida para usoou aplicação particular do Órgão Executor receptor ou para qualquerterceira Parte.Artigo XProprieda<strong>de</strong> Intelectual; Informação Confi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> NegóciosA proteção e alocação da proprieda<strong>de</strong> intelectual e o tratamento dainformação confi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> negócios, criada ou fornecida <strong>no</strong> curso dasativida<strong>de</strong>s cooperativas sob este Ajuste Complementar serão regidaspelas condições do Anexo I do Acordo <strong>de</strong> Modificação e Extensão aoAcordo entre o Gover<strong>no</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Gover<strong>no</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América relativo à Cooperação em Ciência eTec<strong>no</strong>logia, referidos <strong>no</strong> Artigo I.Artigo XIDisposições GeraisA. Salvo estipulação em contrário, por escrito, os custos resultantesdas ativida<strong>de</strong>s executadas sob este Ajuste Complementar, <strong>de</strong>verão ser<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do Órgão Executor que os incorre.B. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá conduzir as ativida<strong>de</strong>s previstasneste Ajuste Complementar sujeitas aos regulamentos e as leis aplicáveise <strong>de</strong>verá prover os recursos conforme a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoal efundos apropriados.234


anexosC. Cada Órgão Executor <strong>de</strong>verá envidar seus melhores esforços naobtenção <strong>de</strong> todas as autorizações e licenças requeridas por lei para levaradiante o presente Ajuste Complementar.D. Qualquer disputa relativa à interpretação <strong>de</strong>ste AjusteComplementar <strong>de</strong>verá ser resolvida por acordo mútuo entre as Partes.Artigo XIIDisposições FinaisA. O presente Ajuste Complementar entrará em vigor na data <strong>de</strong> suaassinatura e <strong>de</strong>verá permanecer válido por 5 (cinco) a<strong>no</strong>s ou enquanto oAcordo Quadro estiver válido, prevalecendo o que primeiro ocorrer. Salvose uma das Partes <strong>no</strong>tificar a outra Parte, por escrito, <strong>de</strong> sua intenção <strong>de</strong>pôr fim a este Ajuste Complementar, com antecedência mínima <strong>de</strong> três3 (meses) da data <strong>de</strong> sua expiração, o presente Ajuste Complementarserá automaticamente prorrogado por outro período <strong>de</strong> 5 (cinco) a<strong>no</strong>se po<strong>de</strong>rá ser alterado ou prorrogado por concordância escrita entre asPartes, enquanto o Acordo-Quadro vigorar.B. Os Órgãos Executores po<strong>de</strong>rão dar continuida<strong>de</strong> a todas asativida<strong>de</strong>s iniciadas, mas não completadas ao térmi<strong>no</strong> ou <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong>steAjuste Complementar, até seu térmi<strong>no</strong> segundo concordância mútuaescrita pelas Partes.C. Qualquer Parte po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>nunciar o presente Ajuste Complementar,a qualquer momento, após 6 (seis) meses <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação antecipada, porescrito. Tal encerramento terá efeito sem prejuízo dos direitos que possamser extraídos <strong>de</strong>ste Ajuste Complementar por qualquer uma das Partesaté a data <strong>de</strong> expiração.Feito em Brasília, em 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1997, em dois exemplaresoriginais, <strong>no</strong>s idiomas português e inglês, sendo ambos os textosigualmente autênticos.Pelo Gover<strong>no</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do<strong>Brasil</strong>Luiz Felipe LampreiaMinistro <strong>de</strong> Estado das <strong>Relações</strong> ExterioresPelo Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> daAméricaMelvyn LevtskyEmbaixador235


Anexo IIMemorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Ministério<strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do<strong>Brasil</strong> e o Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> da América para o Estabelecimento <strong>de</strong>Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobre Cooperação naÁrea <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>O Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong>eO Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América(doravante <strong>de</strong><strong>no</strong>minados “os Participantes”),Tendo em mente a importância que tem para ambos os Participantes<strong>de</strong>senvolver fontes confiáveis e diversificadas <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong> formasustentável, para garantir o <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social;Reconhecendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar sua infra-estrutura <strong>de</strong> energiasegundo critérios ambientais sólidos e, para esse fim, <strong>de</strong> criar um climaapropriado para investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, naexpansão <strong>de</strong> energia;Tomando <strong>no</strong>ta do Acordo Relativo a Cooperação em Ciência eTec<strong>no</strong>logia entre a República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>da América, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1984, conforme emendado e prorrogado,e seu Ajuste Complementar entre a República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e os<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América para a Cooperação na Área <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logiaEnergética, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1997, doravante <strong>de</strong><strong>no</strong>minado “AjusteComplementar”;237


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sDado o interesse comum em fortalecer o mecanismo <strong>de</strong> implementaçãoprevisto <strong>no</strong> Ajuste Complementar;Desejosos <strong>de</strong> trocar idéias e informações sobre questões <strong>de</strong> energiarelevantes para ambos os Participantes, incluindo mas não limitadas a:a) Tec<strong>no</strong>logias energéticas eficientes e avançadas, especialmentena área <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> hidrogênio, visando à cooperação bilateral ou aoamparo <strong>de</strong> qualquer acordo multilateral que seja firmado para promovera eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> hidrogênio;b) Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> seqüestro <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, visando à cooperaçãobilateral ou ao amparo <strong>de</strong> qualquer acordo multilateral que seja firmadopara promover a pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa tec<strong>no</strong>logia;c) Carvão e outros sistemas <strong>de</strong> potência avançados;d) Tec<strong>no</strong>logias para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável;e) Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> energia re<strong>no</strong>vável, incluindo biodiesel e biomassae sistemas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> energia;f) Pesquisa básica em energia; eg) Informação, planejamento e regulação, especialmente nas áreas <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e segurança da infra-estrutura <strong>de</strong> energiaoffshore;Alcançaram o seguinte entendimento:1. Os Participantes preten<strong>de</strong>m estabelecer mecanismo <strong>de</strong> consultas,em nível ministerial, para o tratamento <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> mútuo interessena área <strong>de</strong> energia, incluindo planejamento energético e análises <strong>de</strong>políticas energéticas, comércio e investimentos e cooperação na área <strong>de</strong>tec<strong>no</strong>logias energéticas.2. Essas consultas visam à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> cooperação futura nasáreas <strong>de</strong> planejamento energético e análises <strong>de</strong> políticas energéticas,comércio e investimentos em energia e cooperação na área <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logiasenergéticas e para passar em revista e avaliar o progresso alcançado nacooperação.238


anexos3. Os Participantes enten<strong>de</strong>m que tais consultas não visam criarobrigações legais vinculantes entre si.4. As consultas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ste Memorando <strong>de</strong> Entendimento serãorealizadas uma vez por a<strong>no</strong>, alternadamente em Brasília e em Washington,sujeitas à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos orçamentários. A primeira reuniãoserá realizada em Brasília, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003.5. Para facilitar a troca <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista, cada Participante <strong>de</strong>signaráum Ponto Focal <strong>no</strong> Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> e <strong>no</strong> Departamento <strong>de</strong><strong>Energia</strong>, que será responsável pela preparação da reunião ordinária domecanismo <strong>de</strong> consultas, quando ela ocorrer em sua capital.6. O Ponto Focal <strong>de</strong> um Participante <strong>de</strong>ve coor<strong>de</strong>nar com o PontoFocal do outro Participante, por intermédio das respectivas embaixadas,o <strong>de</strong>senvolvimento e aprovação <strong>de</strong> cada minuta <strong>de</strong> agenda <strong>de</strong> reunião.Cada agenda acordada <strong>de</strong>ve ser concluída pelo me<strong>no</strong>s duas semanasantes da data da respectiva reunião.7. Mudanças neste Memorando <strong>de</strong> Entendimento po<strong>de</strong>m serpropostas por escrito a qualquer tempo. Qualquer dos Participantes po<strong>de</strong>terminar este Memorando <strong>de</strong> Entendimento a qualquer tempo, medianteaviso escrito dado com 30 dias <strong>de</strong> antecedência ao outro.Firmado <strong>no</strong>s idiomas português e inglês, em Washington, em 20 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 2003.PELO MINISTÉRIO DE MINAS EENERGIA DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASILDilma RousseffMinistraPELO DEPARTAMENTO DE ENERGIADOS ESTADOS UNIDOSDA AMÉRICASpencer AbrahamSecretário239


Anexo IIIMemorando <strong>de</strong> Entendimento entre o Gover<strong>no</strong>da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Gover<strong>no</strong>dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América para avançar aCooperação em BiocombustíveisO Gover<strong>no</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong>eO Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América(doravante <strong>de</strong>signados como “Participantes”),Reconhecendo os interesses comuns compartilhados pelosParticipantes com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> recursos energéticosbaratos, limpos e sustentáveis;Consi<strong>de</strong>rando a importância estratégica dos biocombustíveis comouma força transformadora na região para a diversificação <strong>de</strong> recursosenergéticos, para a promoção <strong>de</strong> crescimento econômico, para o avançoda agenda social e para a melhoria do meio ambiente;Conscientes dos benefícios <strong>de</strong> forjar uma parceria <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong><strong>Unidos</strong> para direcionar os recursos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssos setores público e privado nadireção do fortalecimento dos biocombustíveis e tec<strong>no</strong>logias relacionadas;Levando em conta os mecanismos e a cooperação existentes nasáreas <strong>de</strong> energia, agricultura, meio-ambiente, ciência e tec<strong>no</strong>logia sobrebiocombustíveis;241


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sTendo presente que este Memorando tem por objetivo prover umquadro geral e expressar a intenção <strong>de</strong> cooperação entre os Gover<strong>no</strong>s;Observando que os temas relacionados com comércio domésticoe tarifas <strong>de</strong>vem ser tratados em outros foros multilaterais, regionais ebilaterais,Expressam aqui a intenção <strong>de</strong> cooperar <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e difusãodos biocombustíveis numa estratégia <strong>de</strong> três níveis (bilateral, em terceirospaíses e global):I. Bilateral: Os Participantes preten<strong>de</strong>m avançar na pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia para biocombustíveis <strong>de</strong> <strong>no</strong>va geração,potencializando, sempre que possível, o trabalho em andamento <strong>no</strong> âmbitodo Mecanismo <strong>de</strong> Consultas entre o Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio do <strong>Brasil</strong> e o Departamento <strong>de</strong> Comércio dos<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> (Diálogo Comercial <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>); doComitê Consultivo Agrícola (2003); do Mecanismo <strong>de</strong> Consultas sobreCooperação na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> (2003); da Agenda Comum <strong>Brasil</strong> -<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> sobre Meio Ambiente (1995); e da Comissão Mista<strong>Brasil</strong> - <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>de</strong> Cooperação Científica e Tec<strong>no</strong>lógica (1984,emendada e ampliada pelo Protocolo assinado em 21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1994).II. Terceiros Países: Os Participantes tencionam trabalharconjuntamente para levar os benefícios dos biocombustíveis a terceirospaíses selecionados por meio <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> e assistência técnicaque visem a estimular o setor privado a investir em biocombustíveis. Ospaíses tencionam começar a trabalhar na América Central e <strong>no</strong> Caribeencorajando a produção local e o consumo <strong>de</strong> biocombustíveis, comvistas a trabalhar conjuntamente em regiões-chave do globo.III. Global: Os Participantes <strong>de</strong>sejam expandir o mercado <strong>de</strong>biocombustíveis por meio da cooperação para o estabelecimento <strong>de</strong>padrões uniformes e <strong>no</strong>rmas. Para atingir esse objetivo, os Participantestencionam cooperar <strong>no</strong> âmbito do Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis(FIB), levando em conta o trabalho realizado pelo Instituto Nacional<strong>de</strong> Metrologia, Normalização e Qualida<strong>de</strong> do <strong>Brasil</strong> (INMETRO) e o242


anexosInstituto Norte-America<strong>no</strong> <strong>de</strong> Padrões e Tec<strong>no</strong>logia (NIST), bem comocoor<strong>de</strong>nando posições em fóruns internacionais complementares.Os Participantes tencionam estabelecer um Grupo <strong>de</strong> Trabalho parasupervisionar as ativida<strong>de</strong>s realizadas sob os auspícios <strong>de</strong>ste Memorandopara que seja assegurada coor<strong>de</strong>nação a<strong>de</strong>quada entre os três níveis <strong>de</strong>cooperação.O Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América indica o Subsecretário<strong>de</strong> Assuntos Econômicos, <strong>Energia</strong> e Temas Agrícolas do Departamento<strong>de</strong> Estado como o ponto focal <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> para a implementação<strong>de</strong>ste Memorando.O Gover<strong>no</strong> da República Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>signa o Subsecretário--Geral Político I do Ministério das <strong>Relações</strong> Exteriores como o pontofocal brasileiro para a implementação <strong>de</strong>ste Memorando.Cada representante ou as pessoas por ele <strong>de</strong>signadas são responsáveisem prover informações sobre ações tomadas pelos Gover<strong>no</strong>s que os<strong>de</strong>signaram.Esse Memorando entra em vigor na data <strong>de</strong> sua assinatura.Feito em São Paulo, <strong>no</strong>s idiomas português e inglês, <strong>no</strong> dia 9 <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 2007.PELO GOVERNO DAREPÚBLICA FEDERATIVA DOBRASIL:Celso AmorimMinistro das <strong>Relações</strong> ExterioresPELO GOVERNO DOSESTADOS UNIDOSDA AMÉRICA:Condoleezza RiceSecretaria <strong>de</strong> Estado243


Anexo IVDeclaração do Fórum Internacional <strong>de</strong>Biocombustíveis<strong>Brasil</strong>, China, Índia, África do Sul, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e a ComissãoEuropéia, unidos na missão comum <strong>de</strong> promover o mercado internacionalpara o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável dos biocombustíveis;Comprometidos com o aperfeiçoamento da troca <strong>de</strong> informaçõesrelacionadas com a produção, consumo, distribuição, armazenagem ecomércio <strong>de</strong> biocombustíveis, bem como o apoio à i<strong>no</strong>vação <strong>no</strong> mercado<strong>de</strong> biocombustíveis;Decididos a trabalhar para promover o mercado internacional parabiocombustíveis por meio do estabelecimento <strong>de</strong> padrões e <strong>no</strong>rmastécnicas comuns;Conscientes dos benefícios dos biocombustíveis na geração <strong>de</strong> empregoe renda, em particular em áreas rurais, assim como para a redução da<strong>de</strong>pendência dos combustíveis fósseis e para a diversificação das fontes<strong>de</strong> energia;Cientes das necessida<strong>de</strong>s dos países <strong>de</strong> assegurar um equilíbrio entresegurança alimentar e preocupações energéticas, quando engajados<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da produção e do uso dos biocombustíveis,245


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sespecialmente pelo estímulo, quando possível, do uso <strong>de</strong> matérias-primasalternativas aos grãos e <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias como eta<strong>no</strong>l celulósico;Adotando uma abordagem <strong>de</strong> mercado por meio <strong>de</strong> envolvimentoregular e contínuo dos setores público e privado e organizações não--governamentais;Deci<strong>de</strong>m estabelecer o Fórum Internacional <strong>de</strong> Biocombustíveis (FIB)que preten<strong>de</strong> operar <strong>de</strong> acordo com os seguintes objetivos:1) Avaliar, preparar e disseminar recomendações para aumentar aprodução, distribuição, armazenagem e consumo <strong>de</strong> biocombustíveis;2) Promover padrões e <strong>no</strong>rmas técnicas comuns necessários àcomoditização dos biocombustíveis <strong>de</strong> acordo com as obrigaçõesinternacionais <strong>de</strong> cada país;3) Harmonizar os esforços com outros fóruns que tratam <strong>de</strong>biocombustíveis para evitar a duplicação <strong>de</strong> esforços e maximizar osrecursos coletivos;4) Coor<strong>de</strong>nar-se para a preparação da Conferência Internacional sobreBiocombustíveis, programada para ocorrer <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, em 2008.Duração e ParticipantesO FIB terá a duração inicial <strong>de</strong> um a<strong>no</strong> e será integrado por representantesdo setor público dos seis membros originais do Fórum. Os representantesdo setor público, privado e organizações não-governamentais serãoacolhidos como parte das <strong>de</strong>legações participantes das reuniões tantodo FIB quanto dos Grupos <strong>de</strong> Trabalho.A admissão <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos membros <strong>no</strong> Fórum será <strong>de</strong>cidida por consenso,levando em consi<strong>de</strong>ração, entre outros, a existência <strong>de</strong> programas<strong>de</strong> biocombustíveis <strong>no</strong> país que esteja apresentando candidatura,um equilíbrio entre países <strong>de</strong>senvolvidos e em <strong>de</strong>senvolvimento, edistribuição geográfica a<strong>de</strong>quada.246


anexosGrupos <strong>de</strong> TrabalhoInicialmente serão estabelecidos dois Grupos <strong>de</strong> Trabalho que <strong>de</strong>verãoreportar-se diretamente ao FIB.Um Grupo <strong>de</strong> Trabalho sobre Troca <strong>de</strong> Informações, que terá comoprincipal objetivo o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um sistema para aperfeiçoar a troca <strong>de</strong>informações sobre biocombustíveis, e disseminar as experiências nacionais<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e uso <strong>de</strong> biocombustíveis, incluindo aspectos sociais,econômicos e ambientais da produção dos biocombustíveis <strong>no</strong>s paísesmembros; eUm Grupo <strong>de</strong> Trabalho sobre Padrões e Normas Técnicas que <strong>de</strong>verápropor diretrizes, princípios e roteiro para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> padrõese <strong>no</strong>rmas técnicas internacionalmente aceitas.Local e data das reuniõesO FIB e os Grupos <strong>de</strong> Trabalho realizarão reuniões conforme requerido.O FIB e os Grupos <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong>verão reunir-se <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, em princípio,ainda que sejam bem-vindas ofertas dos países membros para sediar asreuniões.Bruxelas, em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007.247


Anexo VPrimeira Reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consultasentre o Ministério <strong>de</strong> Minas e <strong>Energia</strong> daRepública Fe<strong>de</strong>rativa do <strong>Brasil</strong> e o Departamento<strong>de</strong> <strong>Energia</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> da América.RelatórioDurante a primeira reunião do mecanismo <strong>de</strong> consultas entre oMME e o DOE, em 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004, foi aprovado Relatório sobre aSituação da Cooperação <strong>Brasil</strong>-<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na Área <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, quemencio<strong>no</strong>u as seguintes áreas prioritárias:A) Regulação na Plataforma Continental. O Escritório <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Fóssil do DOE enviou missão ao <strong>Brasil</strong>, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003, paraintercâmbio <strong>de</strong> experiências e pontos <strong>de</strong> vista sobre a política regulatóriapraticada <strong>no</strong>s dois países <strong>no</strong> setor petrolífero. Ocorreram reuniões <strong>no</strong>MME, IBAMA, Petrobras, Agência Nacional do Petróleo, Gás Naturale Biocombustíveis (ANP) e Instituto <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> Petróleo e Gás (IBP).O DOE manifestou disposição <strong>de</strong> dar seguimento ao intercâmbio, comparticipação <strong>de</strong> outros órgãos do Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, como a“Environmental Protection Agency – EPA” e o Departamento do Interior.B) Intercâmbio Regulatório. Delegação da “Fe<strong>de</strong>ral EnergyRegulatory Commission (FERC)” visitou o <strong>Brasil</strong>, em 2003, paraencontros na Agência Nacional <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Elétrica (ANEEL). O objetivofoi a troca <strong>de</strong> experiências com os reguladores na área <strong>de</strong> energia.249


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sC) Intercâmbio <strong>de</strong> Informações sobre <strong>Energia</strong>. Representantesda “Energy Information Administration (EIA)” reuniram-se comfuncionários do MME, em setembro <strong>de</strong> 2003, para discutir métodos <strong>de</strong>coleta <strong>de</strong> dados para o planejamento, prognóstico e análise energética.As partes concordaram em negociar Memorando <strong>de</strong> Entendimento entrea EIA e a Empresa <strong>de</strong> Pesquisa Energética.D) Simpósio sobre Investimentos. Realizou-se, em 21/11/03, emWashington D.C., o Simpósio sobre Investimentos na área energética,patrocinado pelo MME e DOE. A <strong>de</strong>legação brasileira, integrada pelaMinistra Dilma Rousseff, presi<strong>de</strong>ntes da Petrobras e da Eletrobras,diretores-gerais da ANEEL e da ANP e representante do CongressoNacional, apresentou o <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo do setor elétrico e discorreu sobreavanços na indústria brasileira <strong>de</strong> petróleo e gás. O evento contoucom participação <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> empresas estaduni<strong>de</strong>nses cominvestimentos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Ao final do Simpósio, <strong>de</strong>cidiu-se que o MMEe o DOE continuariam a explorar meios <strong>de</strong> captar investimentos na área<strong>de</strong> energia por meio <strong>de</strong> diálogo entre os setores público e privado.E) Cooperação na Área <strong>de</strong> Biomassa e Biodiesel. Na reunião <strong>de</strong> abril<strong>de</strong> 2004, a Ministra Rousseff e o Secretário Spencer concordaram emorganizar, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, seminário sobre tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> biomassa e <strong>de</strong> biodiesel,com a participação <strong>de</strong> especialistas e representantes do setor privado e <strong>de</strong>instituições financeiras dos dois países. O objetivo seria avaliar o estado daarte das tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> biomassa e biodiesel e i<strong>de</strong>ntificar oportunida<strong>de</strong>s paraoperações comerciais e <strong>de</strong>senvolvimento tec<strong>no</strong>lógico. O MME e o DOE<strong>de</strong>cidiram, também, elaborar estudo para examinar os benefícios da produção<strong>de</strong> biodiesel <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, assim como a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projetos conjuntos.F) Carvão e Sistemas Elétricos. O <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><strong>de</strong>senvolvem intensa colaboração nesse setor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997. Além <strong>de</strong>missões comerciais e tec<strong>no</strong>lógicas brasileiras, foram realizadas váriasconferências sobre a produção <strong>de</strong> carvão, com o emprego <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logiaslimpas, em particular <strong>no</strong>s estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Santa Catarina.Criou-se parceria entre a Junta dos <strong>Estados</strong> do Su<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong> e a Juntados <strong>Estados</strong> do Su<strong>de</strong>ste dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Financiaram-se estudossobre projetos <strong>de</strong> gaseificação do carvão.250


anexosG) Cooperação sobre <strong>Energia</strong> Re<strong>no</strong>vável. Des<strong>de</strong> o início dosa<strong>no</strong>s 90, o <strong>Brasil</strong> e os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> cooperam na área <strong>de</strong> energiare<strong>no</strong>vável. Em parceria com instituições nacionais, o DOE, a USAID(“US Agency for International Development”) e o NREL (“NationalRenewable Energy Laboratory”) têm apoiado os esforços do Gover<strong>no</strong>brasileiro para universalizar o acesso à eletricida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolverativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação, em particular na região amazônica. Em2003, o NREL assi<strong>no</strong>u acordos com as Universida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais do Pará(UFPA) e do Amazonas (UFAM), com vistas a implementar cursos <strong>de</strong>treinamento e i<strong>de</strong>ntificar opções <strong>de</strong> energia rural <strong>de</strong> baixo custo. O NRELdisponibilizou, também, o uso <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados geo-referenciados paraauxiliar a CEAM (Companhia Energética do Amazonas) <strong>no</strong> planejamentoda eletrificação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s isoladas, <strong>no</strong> contexto do ProgramaNacional <strong>de</strong> Universalização do Acesso e Uso da <strong>Energia</strong> Elétrica – Luzpara Todos, iniciado em 2004.H) Tec<strong>no</strong>logias do Hidrogênio. A cooperação na área <strong>de</strong> hidrogêniofoi listada como prioritária <strong>no</strong> texto do Memorando <strong>de</strong> Entendimento,<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2003, que estabeleceu o Mecanismo <strong>de</strong> Consultas Bilaterais.Em 2004, o MME e o DOE estabeleceram equipe conjunta para atuar<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas e aplicação <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para uso dohidrogênio como fonte <strong>de</strong> energia. A Ministra Rousseff e o SecretárioAbraham assinaram, em 19/04/04, o “Memorando <strong>de</strong> Cooperação entreo MME e o DOE para Cooperação na Área <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> doHidrogênio”. Criou-se estrutura para viabilizar conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s,que incluiriam: (i) - intercâmbios <strong>de</strong> especialistas para compartilharperspectivas e informações sobre tec<strong>no</strong>logias do hidrogênio, com vistasà elaboração <strong>de</strong> política do hidrogênio para o <strong>Brasil</strong> (“roadmap”). Ainiciativa buscaria i<strong>de</strong>ntificar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse conjunto para usodo hidrogênio como fonte <strong>de</strong> energia, cujos custos seriam divididosentre <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, por meio <strong>de</strong> parcerias público-privadas;(ii) - troca geral <strong>de</strong> informações sobre energia <strong>de</strong> hidrogênio, por meio<strong>de</strong> visitas técnicas recíprocas; e (iii) - planejamento <strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong>trabalho conjunto, para criar maior interesse na energia <strong>de</strong> hidrogênio <strong>no</strong>spaíses das Américas. Durante encontro na Embaixada em Washington,em fevereiro <strong>de</strong> 2007, o Sr. Michael Mills, do escritório <strong>de</strong> eficiênciaenergética e energia re<strong>no</strong>vável do Departamento <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>, avaliou251


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sque a cooperação na eco<strong>no</strong>mia do hidrogênio estaria avançandosatisfatoriamente do ponto <strong>de</strong> vista dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Informou queo gover<strong>no</strong> brasileiro finalizaria a versão nacional do “hydrogen roadmap<strong>de</strong>velopment process”, sem assistência direta dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>,conforme <strong>de</strong>cidido entre as partes, mas com apoio <strong>de</strong> especialistas do“National Renewable Energy Laboratory”. Acrescentou que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o início da parceria, foram realizadas diversas visitas técnicas, quepermitiram i<strong>de</strong>ntificar as seguintes áreas prioritárias <strong>de</strong> colaboração:sistemas integrados <strong>de</strong> análise, hidrogênio biológico e padrões e códigos<strong>de</strong> segurança.I) Fórum <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança sobre Seqüestro <strong>de</strong> Carbo<strong>no</strong> (FLSC). <strong>Brasil</strong>e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são membros fundadores do FLSC, cujo objetivo éestimular o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias para separação, captura,transporte e armazenamento <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong> em formaçõesgeológicas subterrâneas. Criado em junho <strong>de</strong> 2003, o FLSC buscapromover o compartilhamento <strong>de</strong> informações e a participação conjuntaem projetos para tornar comercialmente competitivos e seguros a capturae o armazenamento subterrâneo <strong>de</strong> CO2, tendo em vista controlar asemissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa e reduzir o ritmo do aquecimentoglobal. Participam, também, do Fórum <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança a África do Sul,Alemanha, Austrália, Canadá, China, Colômbia, Comissão Européia,França, Índia, Japão, México, Noruega, Rei<strong>no</strong> Unido e Rússia.J) Parceria Internacional para uma Eco<strong>no</strong>mia do Hidrogênio (IPHE).O Gover<strong>no</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> sondou o interesse brasileiro em integrara IPHE durante os preparativos para a visita do Presi<strong>de</strong>nte Luiz InácioLula da Silva a Washington, em junho <strong>de</strong> 2003. A IPHE somente foilançada oficialmente em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2003, durante reunião ministerial,em Washington D.C., que contou com a participação da Ministra DilmaRousseff. <strong>Brasil</strong> e <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> são, portanto, membros fundadores daIPHE. Os termos <strong>de</strong> referência da Parceria criaram estrutura operacional,com um Comitê <strong>de</strong> Direção e um Comitê <strong>de</strong> Implementação e Ligação. Orepresentante do MME é Vice-Presi<strong>de</strong>nte do Comitê <strong>de</strong> Implementaçãoe Ligação. Outros membros da IPHE incluem a Alemanha, Austrália,Canadá, China, Comissão Européia, Coréia do Sul, França, Islândia,Índia, Itália, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Rei<strong>no</strong> Unido e Rússia.252


Anexo VINota do Departamento <strong>de</strong> Estado sobre aAssinatura do Memorando <strong>de</strong> Entendimentopara Avançar a Cooperação Bilateral emBiocombustíveis09 March 2007U.S., Brazil Sign Agreement To Advance Cooperation on BiofuelsU.S. DEPARTMENT OF STATEOffice of the SpokesmanMarch 9, 2007Advancing Cooperation with Brazil on BiofuelsOn March 9, Secretary of State Condoleezza Rice and BrazilianForeign Minister Celso Amorim signed a memorandum of un<strong>de</strong>rstandingto advance cooperation on biofuels. The agreement highlights theimportance of biofuels as a transformative force in the region to diversifyenergy supplies, bolster eco<strong>no</strong>mic prosperity, advance sustainable<strong>de</strong>velopment, and protect the environment.As the world’s two largest producers of etha<strong>no</strong>l, the United Statesand Brazil intend to advance the research and <strong>de</strong>velopment of newtech<strong>no</strong>logies to promote biofuels use. Reducing the cost of biofuelsproduction, land use <strong>de</strong>mands and price pressures on feedstocks, are keyto increasing global adoption of biofuels.253


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sThe United States and Brazil already are working through existingmechanisms such as the U.S.-Brazil Commercial Dialogue launched in2006, the U.S.-Brazil Consultative Committee on Agriculture establishedin 2003, the 1999 U.S.-Brazil Memorandum of Un<strong>de</strong>rstanding on Energy,the U.S.-Brazil Common Agenda for the Environment established in1995, and our 1984 Framework Agreement on Science and Tech<strong>no</strong>logy.Regionally, the two nations intend to help third countries, beginningin Central America and the Caribbean, to stimulate private investmentfor local production and consumption of biofuels. The United Statesand Brazil expect to support feasibility studies and technical assistancein partnership with the Inter-American Development Bank, the UnitedNations Foundation, and the Organization of the American States.Multilaterally, the United States and Brazil intend to work throughthe International Biofuels Forum to examine <strong>de</strong>velopment of commonbiofuels standards and co<strong>de</strong>s to facilitate commoditization of biofuels.Greater cooperation with Brazil is complementary to existing UnitedStates efforts in the Global Bio-Energy Partnership endorsed by theGroup of Eight and the Asia-Pacific Eco<strong>no</strong>mic Cooperation forum’sBiofuels Task Force.Bilateral cooperation on research, promotion of greater biofuels usein the region, and discussion of biofuels standards and co<strong>de</strong>s advanceenergy security, reduce <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy on fossil fuels, lower greenhousegases, and foster prosperity. Working together with Brazil to encouragegreater adoption of biofuels has the potential to spur renewable energyinvestment, facilitate tech<strong>no</strong>logy transfer, stimulate rural <strong>de</strong>velopment,and boost job creation in countries around the world; this initiative does<strong>no</strong>t inclu<strong>de</strong> discussion of United States tra<strong>de</strong>, tariffs or quotas.Etha<strong>no</strong>l and other biofuels are part of a larger strategy to addressenergy security, cleaner air, and climate change at home and in the region.Domestically, Presi<strong>de</strong>nt Bush has set a goal of reducing America’sprojected annual gasoline use by 20 percent in 10 years by increasingalternative energy and improving energy efficiency. A key pillar of254


anexosachieving the Presi<strong>de</strong>nt’s goal is diversification of supply, including thepromotion of alternative fuels such as biofuels. The Presi<strong>de</strong>nt’s plan willhelp confront climate change by stopping the projected growth of carbondioxi<strong>de</strong> emissions from cars, light trucks, and SUVs within 10 years.Internationally, the United States is working closely withgovernments, private sector, and multilateral organizations to advanceenergy security by encouraging market-led <strong>de</strong>velopment, transparency,integration, and investment in the energy sector. The MesoamericanEnergy Initiative is a key example of regional energy integration thatthe United States supports through assistance from the EnvironmentalProtection Agency, the Tra<strong>de</strong> and Development Agency and the UnitedStates Agency for International Development.(Distributed by the Bureau of International Information Programs,U.S. Department of State)255


Anexo VIIMapas, Gráficos, Tabelas e QuadrosMAPA 1 – Consumo <strong>de</strong> energia primária per capitaFonte: Statistical Review of World Energy 2009 - BP257


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sTABELA 1 – Consumo Mundial <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>Consumo Mundial <strong>de</strong> <strong>Energia</strong>472 quadrilhões <strong>de</strong> Btu(British Termal Unit)• <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 21%• China 16%• Rússia 6%• Japão 5%• Índia 4%• Alemanha 3%Consumo Per Capita• <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> 335 milhões Btu• Rússia 214 milhões Btu• Alemanha 178 milhões Btu• Japão 179 milhões Btu• China 56 milhões BtuFonte: Energy Information Administration (EIA). 2006. Tabela com dados sobreprodução mundial <strong>de</strong> energia primária po<strong>de</strong> ser consultada <strong>no</strong> en<strong>de</strong>reço:http://www.texscience.org/energy/world-energy-production.htm258


anexosGRÁFICO 1 – Evolução dos preços do petróleo (1946-2009).Fonte: www.inflationdata.comQUADRO 1 - Organização dos Países Exportadores <strong>de</strong> Petróleo(OPEP). Reservas provadas <strong>de</strong> petróleo.259


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGRÁFICO 2 – Produção Mundial <strong>de</strong> <strong>Energia</strong> Primária. Fontes.Fonte: Energy Information Administration.QUADRO 2 – Combustíveis fósseis <strong>no</strong> mundo. Relação reservas/produção.Fonte: Statistical Review of World Energy 2009 – BP260


MAPA 2 – Comércio <strong>de</strong> gás natural. Mercados.anexosFonte: BP Statistical Review of World Energy 2009.QUADRO 3 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Matriz Energética. Consumo <strong>de</strong> energia.Fonte: EIA.261


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sQUADRO 4 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Matriz Energética. Produção <strong>de</strong> energia.U.S. Energy Production by Energy Source, 2008Fonte: EIA.GRÁFICO 3 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Consumo <strong>de</strong> petróleo.Leading Cru<strong>de</strong> Oil ConsumersFonte: EIA.262


anexosGRÁFICO 4 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Produção <strong>de</strong> petróleo.Leading Cru<strong>de</strong> Oil ProducersFonte: EIA.GRÁFICO 5 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Petróleo. Curvas <strong>de</strong> produçãoe consumo.Fonte: EIA.263


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sQUADRO 5 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Importações <strong>de</strong> petróleo.Fonte: EIA.GRÁFICO 6 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Gás natural. Curvas <strong>de</strong> produçãoe consumo.Fonte: EIA.264


anexosGRÁFICO 7 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Carvão. Curvas <strong>de</strong> produção econsumo.Fonte: EIA.QUADRO 6 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Usinas nucleares. Licenças <strong>de</strong>operação.Fonte: EIA.265


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGRÁFICO 8 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. <strong>Energia</strong> re<strong>no</strong>vável. Curvas <strong>de</strong>produção e consumo.Fonte: EIA.GRÁFICO 9 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Consumo <strong>de</strong> energia. Evoluçãohistórica.Fonte: EIA.266


GRÁFICO 10 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Petróleo. Importações.U.S. Primary Energy Imports and ExportsanexosFonte: EIA.GRÁFICO 11 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Produção <strong>de</strong> energia. Evoluçãohistórica.Fonte: EIA.267


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sGRÁFICO 12 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Gás natural. Relaçãoimportações/consumo.Natural gas net imports as share of consumptionGRÁFICO 13 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. <strong>Setor</strong> energético. Dependênciaexterna.Fonte: EIA.268


anexosGRÁFICO 14 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. <strong>Energia</strong>. Exportações eimportações.QUADRO 7 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Importações <strong>de</strong> óleo cru.Fonte: EIA.269


neil giovanni paiva benevi<strong>de</strong>sQUADRO 8 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Importações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong>petróleo.Fonte: EIA.GRÁFICO 15 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Importações <strong>de</strong> petróleo. Paísesda OPEP.Fonte: EIA.270


anexosGRÁFICO 16 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Eta<strong>no</strong>l. Consumo.Fonte: EIA.MAPA 3 – <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Usinas <strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. ConcentraçãogeográficaLocation of U.S. etha<strong>no</strong>l plants by capacityFonte: Renewable Fuels Association e Universida<strong>de</strong> do estado <strong>de</strong> Kansas.271


FormatoMancha gráficaPapelFontes15,5 x 22,5 cm12 x 18,3cmpólen soft 80g (miolo), duo <strong>de</strong>sign 250g (capa)Times New Roman 17/20,4 (títulos),12/14 (textos)

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