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Três décadas de história - CT-UFPB - Universidade Federal da ...

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Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> ParaíbaCentro <strong>de</strong> TecnologiaPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Urbana e AmbientalMestradoAna Luiza Schuster <strong>da</strong> CostaPERÍMETRO DE PROTEÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA:<strong>Três</strong> <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresenta<strong>da</strong> à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba para a obtenção dograu <strong>de</strong> Mestre.João Pessoa – ParaíbaJunho/2009


Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> ParaíbaCentro <strong>de</strong> TecnologiaPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Urbana e AmbientalMestradoPERÍMETRO DE PROTEÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA:<strong>Três</strong> <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>Dissertação submeti<strong>da</strong> ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Urbana e Ambiental<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Paraíba como partedos requisitos necessários para a obtenção dotítulo <strong>de</strong> Mestre.Candi<strong>da</strong>ta: Ana Luiza Schuster <strong>da</strong> CostaORIENTADOR: Prof. Dr. Alberto José <strong>de</strong> SousaJoão Pessoa – ParaíbaJunho/2009


PERÍMETRO DE PROTEÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA:<strong>Três</strong> <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>PorAna Luiza Schuster <strong>da</strong> CostaProf. Edson Leite Ribeiro - <strong>UFPB</strong>Examinador InternoProf. Dr. Marcele TrigueiroExaminador ExternoProf. Dr. Alberto José <strong>de</strong> SousaOrientadorJoão Pessoa – ParaíbaJunho/2009


Aos meus pais pelo apoio incondicional.


AGRADECIMENTOSÀs pessoas que fazem parte do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação MDU/UFPE peloconhecimento disponibilizado durante as disciplinas cursa<strong>da</strong>s na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Recife, nos nomes <strong>de</strong>professor Tomas Lapa, professor Luiz Amorim, professora Ana Rita <strong>de</strong> Sá Carneiro e professor SilvioZanchetti. Ao professor Geraldo Gomes pela orientação inicial na elaboração <strong>de</strong>ssa dissertação.À professora Nelci Tinem que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a graduação incentivou à pesquisa e em ummomento especial, estimulou a prosseguir com essa dissertação.Às pessoas que fazem parte do Iphan, na Superintendência Regional Paraíba/ RioGran<strong>de</strong> do Norte, nos nomes <strong>de</strong> Eliane <strong>de</strong> Castro, Umbelino Peregrino, Christiane Finizola, LelisonAlmei<strong>da</strong>, Rejane Gusmão, além <strong>de</strong> todos aqueles com quem convivi no dia-a-dia <strong>de</strong> trabalho.Ao professor Edson Leite Ribeiro pela compreensão dos acontecimentos.projeto <strong>de</strong> pesquisa.Aos professores Francisco Gonçalves e Nilton Pereira pelas contribuições sobre oAo professor e orientador Alberto José <strong>de</strong> Sousa pela aceitação <strong>de</strong> orientação <strong>de</strong> umapesquisa já em an<strong>da</strong>mento e pela disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em prestar orientação.Aos colegas que dividiram angústias e momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração, em especial àsempre objetiva Carolina Tavares e à Roberta Paiva, com quem tive longas discussões sobre o CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa e seus problemas.Aos professores do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Urbana e Ambiental.A meu pai Faustino e minha mãe Lori<strong>da</strong> pela compreensão, a minha irmã Carolina,meu cunhado Fabiano pelas orientações metodológicas, a meu irmão André e minha cunha<strong>da</strong> Natáliapelo estímulo para continuar.


SumárioLista <strong>de</strong> figurasLista <strong>de</strong> QuadrosLista <strong>de</strong> Abreviaturas e SiglasResumo / AbstractIntroduçãoParte ICapítulo I – Ampliação do conceito <strong>de</strong> patrimônio1 CONSERVAÇÃO INTEGRADA 242 CARTAS PATRIMONIAIS 282.1 A Carta <strong>de</strong> Atenas (1933) 312.2 A Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964 322.3 Recomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> Paris III 332.4 Manifesto <strong>de</strong> Amsterdã <strong>de</strong> 1975 342.5 A Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1976 342.6 A Carta <strong>de</strong> Washington <strong>de</strong> 1986 352.7 Declaração <strong>de</strong> Xi’an 2005 363 O Brasil diante <strong>da</strong> evolução do conceito <strong>de</strong> patrimônio cultural 373.1 A prática <strong>de</strong> tombamento na primeira fase 383.2 A prática do tombamento na segun<strong>da</strong> fase 394 Consi<strong>de</strong>rações teóricas 42Capítulo II – Modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> sítios urbanos1 O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 452 Visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ambiência, entorno, paisagem: áreas tomba<strong>da</strong>s, conceitos diversos 462.1 Inventários <strong>de</strong> conhecimento: INRC e Inbi-su 573 Revisão do Estado <strong>da</strong> Arte 603.1 RECIFE 603.2 SÃO LUÍS-MA 69


13.3 SÃO CRISTÓVÃO - SE 763.3.1 O Plano urbanístico 774 Conjuntura atual sobre <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> poligonal 78Parte IICapítulo I – Formação urbana <strong>de</strong> João Pessoa - Paraíba1 A arquitetura <strong>de</strong> formação <strong>da</strong> paisagem urbana 882 As transformações, o embelezamento e a or<strong>de</strong>nação <strong>da</strong> paisagem urbana 932.1 O Século XIX 932.2 O Século XX 98Capítulo II – Delimitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa1- Os bens tombados pelo IPHAN 1062- Os primeiros trabalhos para a <strong>de</strong>limitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa - Paraíba 1083- IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado <strong>da</strong> Paraíba 1124- Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa 1195- Plano diretor <strong>de</strong> 1992 1246- O Decreto nº 25. 138, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004 1267- Tombamento nacional 131Consi<strong>de</strong>rações Finais 138Referências Bibliográficas 145


Lista <strong>de</strong> FigurasFigura 1 - Pavilhão <strong>de</strong> Óbitos – Derby. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981) 24Figura 2 - Escola Rural Alberto Torres. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981 24Figura 3- Mercado Casa Amarela. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981) 24Figura 4- Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição – João <strong>de</strong> Barros. Fonte: PREFEITURA MUNICIPALDO RECIFE (1981)Figura 5 - Planta do Bairro do Recife com as ZPRs (Tons <strong>de</strong> rosa) e ZPAs (Tons <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>) <strong>da</strong>subdivisão do PPSH-RMR (1978). Fonte: Acervo <strong>da</strong> 5ªSR/Iphan in (SILVA,Aline, 2007).Figura 6 - Planta do Bairro do Recife com as subdivisões <strong>da</strong>s ZPRs (bege e marrom) e ZPAs (tons <strong>de</strong>ver<strong>de</strong>) do Plano <strong>de</strong> Preservação Municipal (1981). Fonte: Acervo <strong>da</strong> 5ªSR/Iphan in (SILVA,Aline,2007).Figura 7 – Mapa <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem do Bairro do Recife elaborados por Silva, (Aline, 2007).Fonte: (SILVA, Aline, 2007)Figura 8 – Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís e suas <strong>de</strong>limitações pela UNESCO, pelo Iphan e pelo GovernoEstadual. Fonte: Acervo <strong>da</strong> Superintendência Regional do Iphan do Maranhão.2462626970Figura 9 – Mapa <strong>de</strong> São Luís-MA. Fonte: REIS FILHO, 2001. 75Figura 10 – Sobreposição <strong>de</strong> traçado <strong>de</strong> São Luís <strong>de</strong> mapa <strong>de</strong> 1998 sobre mapa <strong>de</strong> 1640. Fonte:Iphan in PESTANA, 2007.75Figura 11 – “Fre<strong>de</strong>rica Civitas” do Barleus (1647). Fonte: REIS, 2000. 83Figura 12 – “Reprodução <strong>de</strong> estampa holan<strong>de</strong>sa, grava<strong>da</strong> em 1635, Afbeeding <strong>de</strong>r Stadt enFortressan Van Parayba – Atlas van Stolk Roter<strong>da</strong>m.” Fonte: DIEB, 1999.Figura 13 – “Croquis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Parahyba feito por Manoel Francisco Granjeiro, capitão- piloto noano <strong>de</strong> 1692.”Fonte: Rodrigues, 1994.Figura 14 – Mapa <strong>de</strong> 1855, produzido no Governo <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan. Fonte: Comissão doCentro Histórico <strong>de</strong> JPA, 2002.Figura 15 - “1912- Antiga Igreja <strong>da</strong> Mãe dos Homens, no Tambiá (<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>)”. Fonte: Rodrigues,1974.Figura 16 – Desenho em perspectiva do Projeto do Instituto <strong>de</strong> Educação. Fonte: Depto <strong>de</strong>Estatística e Publici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>da</strong> Paraíba, 1938.Figura 17 – Construção do Instituto <strong>de</strong> Educação no ano <strong>de</strong> 1938. Fonte: Depto <strong>de</strong> Estatística ePublici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>da</strong> Paraíba, 1938.Figura 18 - “1920 – Antiga Rua <strong>da</strong> Imperatriz, atual <strong>da</strong> República, com <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> sua balaustra<strong>da</strong>,<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>”. Fonte: Rodrigues, 1974.Figura 19 – Transformações ocorri<strong>da</strong>s na administração <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan em área <strong>de</strong>ocupação espontânea (1 – Rua Formosa; 2 – Rua dos Quintais; 3 – Rua do Império). Fonte:8485879192929496


9VIDAL(2004)Figura 20 – Planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> elabora<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> Planta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba levanta<strong>da</strong> porAlberto <strong>de</strong> Barros e Vasconcelos <strong>de</strong> 1855 e <strong>de</strong> informações <strong>da</strong> Monografia <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahybado Norte <strong>de</strong> Vicente Gomes Jardim <strong>de</strong> 1889. Fonte: (VIDAL, 2004)Figura 21 – Planta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1923. Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e Aveni<strong>da</strong> Monsenhor Walfredo Leal.(VIDAL, 2004)Figura 22 - Urbanização do Parque Solon <strong>de</strong> Lucena em 1938, à esquer<strong>da</strong> a construção do atualLiceu Paraibano. Fonte: Depto <strong>de</strong> Estatística e Publici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>da</strong> Paraíba, 1938Figura 23 – Foto <strong>de</strong> 1928 a partir <strong>da</strong> Rua Maciel Pinheiro on<strong>de</strong> se observa o casario <strong>de</strong>molido para aabertura <strong>da</strong> Praça Antenor Navarro. Fonte: Rodrigues (1974)Figura 24 – Foto <strong>de</strong> 1910 que mostra o Pátio <strong>da</strong>s Mercês e sua Igreja e casario. Fonte: Rodrigues(1974).Figura 25 – Praça 1817, observando ao fundo as palmeiras <strong>da</strong> Praça João Pessoa. Fonte: AcervoHumberto NóbregaFigura 26 – Foto <strong>de</strong> 1920 on<strong>de</strong> se vê a Igreja do Rosário e todo casario antes <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> PraçaVi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros. Fonte: Rodrigues (1974)9799100101101102102Figura 27 – Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros ou Ponto dos Cem Réis. Fonte: Acervo Humberto Nóbrega 102Figura 28 – Mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> área <strong>de</strong> preservação rigorosa e ambiental do Plano Diretor doMunicípio <strong>de</strong> João Pessoa. (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa, 1976)Figura 29 – Perímetro <strong>de</strong> Atuação(linha vermelha) do Iphaep na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa em 1982.Perímetro <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> Comissão do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa (em azul). Fonte: IPHAN,2006.Figura 30 - Áreas <strong>de</strong> preservação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Fonte:Decreto nº25138(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004).Figura 31 - Eixos direcionais <strong>de</strong> estrutura urbana i<strong>de</strong>ntificados na caracterização do Centro Histórico<strong>de</strong> João Pessoa. 01 – Porto do Capim, 02 – Igreja <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves, 03 – ConjuntoFranciscano, 04 – Conjunto Beneditino, 05 – Conjunto Carmelita, 06 – Antigo Conjunto Jesuítico.Fonte: IPHAN, 2006.Figura 32 – Perímetro <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional do Centro Histórico <strong>de</strong>João Pessoa. Fonte: IPHAN, 2006.111117128136138


Lista <strong>de</strong> QuadrosQuadro 01 – Expansão do conceito <strong>de</strong> patrimônio cultural 23Quadro 02 – Levantamento do uso <strong>da</strong> figura <strong>de</strong> entorno nos registros do ArquivoCentral do IphanQuadro 03 – Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bens tombados por categoria. Fonte: (PREFEITURAMUNICIPAL DO RECIFE, 1981)5567Quadro 04 - Lista <strong>de</strong> bens tombados pelo Iphan em João Pessoa. Fonte: Arquivo Noronha Santos 107Quadro 05 - Lista <strong>de</strong> bens tombados pelo Iphaep no município <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong> 1979 a 2002 112


Lista <strong>de</strong> Abreviaturas e SiglasComissão – Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa-PBDphan – Departamento <strong>de</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalFi<strong>de</strong>m – Fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Região Metropolitana do RecifeInepac – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio <strong>de</strong> JaneiroIpac – Instituto do Patrimônio Artístico Cultural <strong>da</strong> BahiaIphaep – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado <strong>da</strong> ParaíbaIphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico NacionalPPSH –RMR – Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> Sítios Históricos – Região Metropolitana do RecifeSphan – Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


ResumoEssa dissertação discute sobre o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> poligonal <strong>de</strong> proteção do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa – Paraíba, no período <strong>de</strong> 1975 a 2007. A dissertação observa os modos <strong>de</strong><strong>de</strong>limitação adotados no Recife- Pernambuco, São Luís – Maranhão e São Cristóvão – Sergipe, além<strong>de</strong> fazer uma varredura sobre o conceito <strong>de</strong> patrimônio e como o meio urbano, como conjunto, foiadotado pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e pelos técnicos como patrimônio cultural. Foram i<strong>de</strong>ntificados modosdiferentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação: aqueles que valorizaram o bem arquitetônico isolado e exigiram aproteção <strong>de</strong> entorno, aqueles que i<strong>de</strong>ntificaram pequenos trechos urbanos e estipularam zonas <strong>de</strong>proteção rigorosa e <strong>de</strong> transição, aqueles que <strong>de</strong>finiram uma gran<strong>de</strong> poligonal <strong>de</strong> proteção sem fazerdiferenciação do grau <strong>de</strong> proteção, aqueles que <strong>de</strong>finiram to<strong>da</strong> a área urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> como bem aser protegido, ou ain<strong>da</strong>, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foi tomba<strong>da</strong> sem que uma poligonal tivesse sido <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. A<strong>de</strong>limitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa apresenta características particulares como ainfluência internacional através do Convênio com a AECI – Agência Espanhola <strong>de</strong> CooperaçãoInternacional e formação técnica <strong>de</strong> profissionais durante a construção <strong>de</strong>ssa poligonal <strong>de</strong> proteção.Sua <strong>de</strong>limitação única e não em ilha, representa o acompanhamento <strong>da</strong>s correntes internacionais <strong>de</strong>proteção, no entanto, embarca na falta <strong>de</strong> diferenciação do grau <strong>de</strong> proteção para ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>paisagem que faz parte do conjunto urbano ou mesmo na diferenciação entre zona <strong>de</strong> preservaçãorigorosa e zona <strong>de</strong> transição.AbstractThis essay discusses the process of <strong>de</strong>limitation of protection polygonal to the Historic Center of JoãoPessoa - Paraíba, in the period of 1975 to 2007. The essay observes the way of <strong>de</strong>limitation adoptedin Recife - Pernambuco, São Luís - Maranhão and São Cristóvão - Sergipe, and do a scan on theconcept of heritage and the urban environment as whole, was adopted by the society and theprofessionals as cultural heritage. There were different ways to <strong>de</strong>fine: those who value the goo<strong>da</strong>rchitectural insulated and <strong>de</strong>man<strong>de</strong>d the protection of environment, those who i<strong>de</strong>ntified smallportions of urban areas and provi<strong>de</strong> strict protection and transition areas, those who <strong>de</strong>fined a largepolygon of protection without differentiation of the <strong>de</strong>gree protection, those who set the wholeurban area of the city as well to be protected or, the city was registered without a polygonal been<strong>de</strong>fined. The <strong>de</strong>limitation of the Historic Center of João Pessoa has characteristics such as theinternational influence through the agreement with the AECI - Spanish Agency of InternationalCooperation and technical training of professionals in the construction of polygonal protection. Its<strong>de</strong>finition unique and not on island, represents the monitoring of the current internationalprotection, however, is absent the differentiation of the <strong>de</strong>gree of protection for each landscape unitthat is part of the whole city or even to distinguish between the area of strict preservation and thetransition zone.


“O futuro não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve ser construído àscustas do passado.”(Declaração <strong>de</strong> Amsterdã, 1975)“Se sentimos que temos uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> unifica<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento até a morte é apenas porqueconstruímos uma cômo<strong>da</strong> <strong>história</strong> sobre nós mesmosou uma confortadora ‘narrativa do eu’”(HALL, 2005)


IntroduçãoPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


A constatação <strong>de</strong> que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa teve ao longo <strong>de</strong> apenas 32 anos a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cinco <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> conjunto urbano causou estranheza emotivou a pesquisa sobre o tema. Quais eram essas <strong>de</strong>limitações, quais instituições as<strong>de</strong>terminaram, quais as razões para <strong>de</strong>limitá-las? . Como foram feitas as <strong>de</strong>limitações e por quecertas áreas foram incluí<strong>da</strong>s num perímetro em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outras, contempla<strong>da</strong>s noutras<strong>de</strong>limitações? Respon<strong>de</strong>r a essas questões foi a motivação inicial <strong>da</strong> pesquisa que esta dissertaçãosintetiza.O conjunto <strong>de</strong>ssas cinco <strong>de</strong>limitações é, portanto, o objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sta pesquisa,cujo recorte temporal é o período compreendido entre 1975 e 2007.Foi com a Lei Municipal n° 2.102, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1975 (Código <strong>de</strong> Urbanismo)que o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa passou a ser reconhecido oficialmente, sendo então<strong>de</strong>limitado. Novas <strong>de</strong>limitações foram feitas, por outros agentes, em 1982, 1987, 2004 e 2007. A <strong>de</strong>1982 foi feita pelo Iphaep (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado <strong>da</strong> Paraíba), órgãodo governo estadual. A <strong>de</strong> 1987, pela Comissão do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, e,diferentemente <strong>da</strong>s duas anteriores, resultou também em um inventário <strong>da</strong>s edificações inseri<strong>da</strong>s namesma. Tais <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong>finiam perímetros distintos, a última estando inseri<strong>da</strong> na primeira. Elaslevaram a que a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> 1975 fosse <strong>de</strong>spreza<strong>da</strong>, por estar conti<strong>da</strong> na <strong>de</strong>limitação feita pelaComissão. Passados 17 anos, uma nova <strong>de</strong>limitação foi estabeleci<strong>da</strong>, unificando a área <strong>de</strong> atuação<strong>da</strong>s duas últimas instituições com o Decreto N° 25.138 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004. Enquanto issoacontecia, corria em paralelo o processo <strong>de</strong> tombamento nacional do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa, ratificado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2007.


15A pesquisa teve dois objetivos principais: um foi construir uma <strong>história</strong> <strong>da</strong>s<strong>de</strong>limitações do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, reunindo e sistematizando informações que atéentão estavam dispersas; o outro foi fazer uma análise crítica <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>limitações, uma vez quenosso levantamento histórico apontou contradições entre elas.Para alcançar esses objetivos seria necessário estu<strong>da</strong>r a documentação e bibliografiainternacional e nacional relativas ao patrimônio cultural e aos modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> sítioshistóricos no Brasil, com vistas a: (1) analisar a abor<strong>da</strong>gem do espaço urbano nas cartas patrimoniais,observando referências a espaços públicos, traçado urbano e elementos <strong>de</strong> gestão relacionados à<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção; (2) i<strong>de</strong>ntificar os métodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong>sítios históricos no Brasil, verificando como são abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s ferramentas administrativas, manuais <strong>de</strong>referência, influências internacionais, etc.; (3) conhecer a situação atual <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação, pelo Iphan,<strong>de</strong> poligonais <strong>de</strong> tombamento no Brasil. Apresentar ao público, <strong>de</strong> modo sistematizado, osconhecimentos obtidos com tal estudo – no nosso enten<strong>de</strong>r uma contribuição significativa à difusãodo saber – foi um objetivo secundário <strong>de</strong> nossa dissertação, bem como estabelecer relações entre asituação atual <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> poligonal <strong>de</strong> conservação do traçado do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa e o espaço urbano abor<strong>da</strong>do nas Cartas Patrimoniais.A relevância acadêmica <strong>de</strong> nossa pesquisa está em explicar o complexo processo <strong>de</strong><strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> sítios históricos, que tem forte influência sobre seus habitantes e mesmo sobre oconjunto <strong>da</strong> população <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em que eles se inserem. O processo envolve as três esferasadministrativas que tem por obrigação proteger a cultura e a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Além <strong>de</strong>características políticas, a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> centros históricos apresenta características técnicas que<strong>de</strong>vem ser adota<strong>da</strong>s. No entanto, é possível observar uma gran<strong>de</strong> variação <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong>abor<strong>da</strong>gem, gerando dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s técnicas, engessamento e incoerências nas <strong>de</strong>cisões. Levantandosea atuação <strong>de</strong> apenas uma instituição, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -Iphan, no que concerne à <strong>de</strong>limitação em foco, encontrou-se dois tipos <strong>de</strong> processo: o <strong>de</strong>tombamento e o <strong>de</strong> entorno, ambos se aplicam à <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção. Nos doistipos <strong>de</strong> processo, po<strong>de</strong>mos encontrar bens tombados com apenas uma área <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>; em outrosencontramos a distinção entre área ou zona <strong>de</strong> preservação rigorosa e área ou zona <strong>de</strong> transição. Emalguns, não encontramos área <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, como nos casos <strong>de</strong> algumas <strong>da</strong>s pequenas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tomba<strong>da</strong>s.A falta <strong>de</strong> uma conduta pauta<strong>da</strong> em diretrizes únicas promove embates entre asinstituições <strong>de</strong> proteção e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois a interferência dos mecanismos <strong>de</strong> proteção sobre aproprie<strong>da</strong><strong>de</strong> priva<strong>da</strong> é significativa, provocando reações <strong>da</strong>nosas ao patrimônio cultural e à


16i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social. A falta <strong>de</strong> clareza <strong>da</strong> conduta <strong>da</strong>s instituições sobre o patrimônio cultural tambémcontribui para que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> não se integre às ações <strong>de</strong>las e promova outras, prejudiciais a ele.Portanto, a pesquisa se justifica pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> clareza e unificação dos modos<strong>de</strong> atuação sobre a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> conjuntos urbanos, contribuindo pararevelar alguns métodos utilizados e seus pontos positivos e negativos.A pesquisa revelou o processo <strong>de</strong>corrido sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa e pô<strong>de</strong>estabelecer um breve comparativo com outras situações ocorri<strong>da</strong>s em outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s.A revisão do estado <strong>da</strong> arte levantou a situação do Recife /PE, São Luís /MA e SãoCristóvão/SE, i<strong>de</strong>ntificando tipos diferentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação. No Recife foram i<strong>de</strong>ntificados bensisolados e entorno, pequenos conjuntos e alguns conjuntos maiores. São Luís apresentou influênciainternacional na condução do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação e abordou o traçado <strong>de</strong> forma generosa,aceitando algumas intervenções realiza<strong>da</strong>s na malha urbana; sua <strong>de</strong>limitação adota um limite <strong>de</strong>preservação rigorosa e outro <strong>de</strong> entorno ou transição. São Cristóvão é um caso particular, pois ela foitomba<strong>da</strong> inicialmente sem estabelecer uma <strong>de</strong>limitação, o que se repete em outros casos quando setrata <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que tem o <strong>de</strong>senvolvimento urbano muito lento ou interrompido; na revisão doprocesso procura-se estabelecer uma zona <strong>de</strong> preservação rigorosa e outra <strong>de</strong> transição emassociação ao Plano Urbanístico.A busca <strong>de</strong> informações sobre o tema <strong>de</strong>monstrou que até o momento não foirealizado levantamento histórico sobre a gestão do patrimônio cultural no que tange a <strong>de</strong>limitação<strong>de</strong> perímetro <strong>de</strong> proteção para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa. O trabalho <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> Scocuglia (2004) 1trata <strong>de</strong> um período menor e está voltado para a avaliação <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> revitalização realiza<strong>da</strong>s pelaComissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa e seus impactossócio-econômicos, não se enquadrando no foco <strong>de</strong>ssa pesquisa.Em João Pessoa – que teve em seu processo histórico <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação a influênciainternacional do convênio com o governo espanhol – a <strong>de</strong>limitação consistiu sempre em umperímetro único, cuja abrangência variou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> instância administrativa que o criou, sendoque a área que <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo Iphan bem menor que as instituí<strong>da</strong>s pelo Iphaep e pela menciona<strong>da</strong>comissão.1 Scocuglia, Jovanka B.C. Revitalização urbana e (Re)invenção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa (1987-2002). Editora Universitária <strong>UFPB</strong>, João Pessoa, 2004.


17Através <strong>da</strong> observação <strong>de</strong> mapas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa e <strong>de</strong> leituras sobre a<strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> sua forma urbana foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s características persistentes no traçado urbano,apesar <strong>de</strong> “cirurgias urbanas” ocorri<strong>da</strong>s em trechos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.A bibliografia pesquisa<strong>da</strong> não evi<strong>de</strong>nciou nenhum estudo <strong>de</strong> caso ou abor<strong>da</strong>gem dotema assemelhados com a nossa pesquisa. A revisão do estado <strong>da</strong> arte revelou a preocupação dospesquisadores com (a) a <strong>de</strong>finição clara <strong>de</strong> perímetro para aqueles casos em que ele ain<strong>da</strong> não haviasido estabelecido e (b) com a nova teoria referente ao patrimônio cultural – paisagem cultural. Olevantamento <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação não foi abor<strong>da</strong>do em nenhuma bibliografia estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, o quemais se aproximou disso foi uma referência elabora<strong>da</strong> pelo próprio Iphan sobre a narrativa <strong>de</strong>processos que envolveram a <strong>história</strong> do entorno 2 ao longo <strong>de</strong> 70 anos <strong>de</strong> trabalhos <strong>da</strong> instituição.A pesquisa está <strong>de</strong>sdobra<strong>da</strong> em duas partes: a primeira, <strong>de</strong> caráter genérico econceitual-teórico e a segun<strong>da</strong>, um estudo <strong>de</strong> caso tendo João Pessoa por objeto.Na primeira, abor<strong>da</strong>-se o processo <strong>da</strong> assimilação do conceito <strong>de</strong> patrimônio cultural,a partir do primeiro momento em que um conjunto urbano foi consi<strong>de</strong>rado como tal e como foisendo inserido no dia a dia. Essa inserção foi também verifica<strong>da</strong> diante <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> principalinstituição do Brasil sobre o assunto, o Iphan, e também na atuação <strong>de</strong> uma agência <strong>da</strong> esferaestadual, a Fi<strong>de</strong>m – Fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Região Metropolitana do Recife. A revisão doestado <strong>da</strong> arte foi realiza<strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificando os modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação empregados pelas instituições nasci<strong>da</strong><strong>de</strong>s seleciona<strong>da</strong>s.O exame <strong>da</strong> atuação dos órgãos <strong>de</strong> proteção levou ao questionamento <strong>de</strong> como se<strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do perímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Por suavez, houve a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se observar como eram os perímetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação em outrasci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que se apresentaram <strong>de</strong> modo heterogêneo país afora. Freqüentemente encontrado, umdos modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação se voltava especialmente para o bem isolado, para o qual se <strong>de</strong>finia umentorno a ser protegido. Uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> apresentar vários bem isolados tombados e seu entornoprotegido, sem que seja <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> uma área <strong>de</strong> proteção maior que os contenha. Essa situaçãopermite que intervenções na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> sejam realiza<strong>da</strong>s sem a preocupação <strong>de</strong> interferência napaisagem.2 Apresenta como sinônimos áreas <strong>de</strong> vizinhança, ambiência e tutela. Entorno:. o"[...] conceito se refere à áreaque envolve o bem tombado, cuja preservação é necessária para manter sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os significados evalores atribuídos a essa área variaram com o tempo, até o reconhecimento atual <strong>da</strong> pertinência <strong>da</strong> atribuição<strong>de</strong> valor cultural aos bens tombados." (IPHAN/UNESCO, 2007, p.11)


18Teórica, como dissemos, a Parte I examina a ampliação do conceito <strong>de</strong> patrimôniocultural e a influência sob os modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> poligonais <strong>de</strong> preservação, fazendo tambémuma varredura sobre a atuação do Iphan no contexto <strong>de</strong> conjuntos urbanos. Nela são <strong>de</strong>lineadosconceitos para a abor<strong>da</strong>gem dos elementos encontrados nas <strong>de</strong>limitações, permitindo estabelecerum quadro do patrimônio cultural para o sítio urbano. Em seus dois capítulos se i<strong>de</strong>ntificamsituações <strong>de</strong> vanguar<strong>da</strong> e contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> adota<strong>da</strong>s em <strong>de</strong>limitações do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa, e se estabelece um quadro do pensamento dos técnicos que discutiram o assunto antes edurante o período coberto pela pesquisa, além <strong>de</strong> se mostrar como esse pensamento foi colocadoem prática.A segun<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> pesquisa, o estudo <strong>de</strong> caso, tem João Pessoa como foco.Preliminarmente foi feita, num capítulo inicial, uma síntese do processo <strong>de</strong> urbanização do núcleoantigo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, consi<strong>de</strong>rando sua expansão até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940, quando elaabrangia uma área que inclui os bens <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tombados pelo Iphan e Iphaep. 3 Não houve interesse<strong>de</strong> se aprofun<strong>da</strong>r no exame <strong>de</strong>sse processo, pois o que se visava era apontar os elementosnecessários para a análise <strong>da</strong>s <strong>de</strong>limitações do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Tal síntese serviria<strong>de</strong> subsídio para a <strong>de</strong>scrição e análise crítica <strong>da</strong>s cinco <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> tal centro, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s queformavam o núcleo primordial do nosso estudo <strong>de</strong> caso, apresentado no segundo capítulo <strong>da</strong> parteem questão. As informações necessárias à realização <strong>de</strong>ste estudo foram levanta<strong>da</strong>s em instituiçõesque li<strong>da</strong>m com a proteção do patrimônio cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa ou retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong>documentos <strong>da</strong> Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa, como a edição do Diário Oficial que publicava oPlano Diretor <strong>de</strong> 1975.O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetro <strong>de</strong> proteção em João Pessoa se mostrou<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início bastante significativo por apresentar uma <strong>de</strong>limitação única para o centro histórico<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro Plano Diretor <strong>da</strong> capital paraibana, o que já representava uma contribuição para aproteção <strong>de</strong> um setor urbano com gran<strong>de</strong> relevância cultural, inseri<strong>da</strong> no conjunto do planejamentoe gestão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. João Pessoa foi a terceira ci<strong>da</strong><strong>de</strong> fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na colonização do Brasil, suaimplantação possuindo características históricas relevantes e apresentando característicasurbanísticas peculiares – valores esses que se somam aos seus valiosos bens arquitetônicos, há muitoreconhecidos.3 Foram excluídos a Igreja <strong>da</strong> Penha, o Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Graça e outros bens, por estarem fora donúcleo inicial <strong>de</strong> formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> se encontrarem no território do município <strong>de</strong> João Pessoa.


19Fechando esta introdução, apresentamos abaixo uma síntese do conteúdo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>um dos quatro capítulos <strong>da</strong> dissertação.O Capítulo I (Parte I) examina o discurso corrente no meio preservacionista culturalsobre a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> poligonais, através <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação<strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> sítios históricos no Brasil e <strong>da</strong> varredura <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Iphan, e enfoca também odiscurso revelado nas cartas patrimoniais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1933 até 2005, referente à valorização dosconjuntos urbanos e à <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s poligonais <strong>de</strong> proteção. Ele constata que a preservação dotraçado apenas teve referência direta em 1976 com a Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi, que se refere a doistipos <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> proteção, uma rigorosa e uma <strong>de</strong> transição. Nele observa-se também que, apesar<strong>da</strong>s transformações morfológicas que ocorriam nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, os elementos urbanos não foramconsi<strong>de</strong>rados como bens a serem protegidos, ain<strong>da</strong> que eles ficassem protegidos indiretamente, emconseqüência <strong>da</strong> proteção dos bens arquitetônicos.O capítulo seguinte expõe a atuação do Iphan diante <strong>da</strong> ampliação do conceito <strong>de</strong>patrimônio e a abor<strong>da</strong>gem relativa à <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção. Ao longo <strong>de</strong> sua <strong>história</strong><strong>de</strong> atuação, a instituição construiu conceitos para viabilizar o trabalho sobre áreas tomba<strong>da</strong>s.Ferramentas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do patrimônio cultural, os inventários <strong>de</strong> conhecimento, foraminstrumentos recentes elaborados pela instituição na busca <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem padroniza<strong>da</strong> <strong>de</strong>gestão <strong>de</strong> seus bens, que, no entanto, não atingirá ain<strong>da</strong> nível satisfatório <strong>de</strong> padronização <strong>de</strong><strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> proteção por se tratar <strong>de</strong> uma ferramenta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Nesse capítulo também seencontra a revisão <strong>de</strong> estado <strong>da</strong> arte, sobre as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Recife-PE, São Luís-MA e São Cristóvão-SE.O capítulo termina com a apresentação <strong>da</strong> situação atual <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação dos perímetros <strong>de</strong> proteção.O capítulo I <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> parte apresenta <strong>da</strong>dos e imagens <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fun<strong>da</strong>ção, a arquitetura que formou a paisagem urbana do Centro Histórico, e astransformações urbanas ocorri<strong>da</strong>s no núcleo inicial <strong>de</strong> formação nos séculos XIX e XX, <strong>de</strong>vido àspráticas <strong>de</strong> embelezamento e or<strong>de</strong>namento urbano então adota<strong>da</strong>s.O capítulo final discute as cinco <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s para o Centro Histórico <strong>de</strong>João Pessoa ao longo <strong>de</strong> 32 anos, i<strong>de</strong>ntificando a instituição responsável, a legislação ounormatização relaciona<strong>da</strong> e as imagens que apresentam, <strong>de</strong> forma gráfica, o perímetro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><strong>de</strong>limitação. As listas <strong>de</strong> bens tombados nacional e estadualmente compuseram a análise dosperímetros tombados e fez-se uma breve <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>s instituições que <strong>de</strong>finiram as <strong>de</strong>limitações. Aanálise <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação permitiu i<strong>de</strong>ntificar quais foram os critérios adotados e ver se estes serelacionavam aos elementos discutidos nas cartas patrimoniais.


Parte ICapítulo IAmpliação do conceito <strong>de</strong> patrimônioPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


A evolução dos conceitos <strong>de</strong> MONUMENTO, MONUMENTO HISTÓRICO EPATRIMÔNIO CULTURAL permitiram atingir o estado corrente <strong>de</strong> atuação do planejamento emci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas. Assim o traçado é i<strong>de</strong>ntificado como um dos elementos do patrimônio cultural aser discutido e conservado com os mesmos objetivos <strong>de</strong> um bem arquitetônico ou imagem sacra.O MONUMENTO era um objeto erguido para transmitir um feito histórico aos<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, era um registro físico <strong>da</strong> memória, edificado com a intençãopraticamente exclusiva <strong>de</strong> rememorar, a outras gerações, sacrifícios, ritos e crenças (CHOAY, 2001).O termo MONUMENTO HISTÓRICO foi difundido na primeira meta<strong>de</strong> do século XVII com o trabalho<strong>da</strong> Comissão dos Monumentos Históricos <strong>da</strong> França que selecionou os monumentos <strong>de</strong> acordo comtrês categorias: remanescentes <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, edifícios religiosos <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média e alguns Castelos.Após a Segun<strong>da</strong> Guerra à idéia se mantinha à arquitetura erudita e a reminiscências arqueológicas. OPATRIMÔNIO CULTURAL trabalhado por Choay (2001) trata especialmente do patrimônio edificadoque é diferenciado do monumento histórico.“A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, os monumentos históricos já não representam senãoparte <strong>de</strong> uma herança que não pára <strong>de</strong> crescer com a inclusão <strong>de</strong> novos tipos <strong>de</strong>bens e com o alargamento do quadro cronológico e <strong>da</strong>s áreas geográficas nointerior <strong>da</strong>s quais esses bens se inscrevem” (CHOAY, 2001, p.12).Quando a arquitetura menor é aceita como patrimônio histórico o conjunto seamplia: as construções “eruditas e populares”, “urbanas e rurais”, “públicas e priva<strong>da</strong>s”, “santuáriose utilitários”, a arquitetura vernacular e a industrial, e ain<strong>da</strong>, os aglomerados <strong>de</strong> edificações e amalha urbana (CHOAY, 2001).Com a aceleração <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o processo mercantil agilizado e asmu<strong>da</strong>nças exigi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> higienização <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as ameaças <strong>de</strong>struidoras <strong>de</strong> tecidos urbanoshistóricos se multiplicaram e não mais era suficiente a preservação do monumento excepcional. Sãoestipulados, então, os monumentos maiores – “representativos <strong>de</strong> arquitetura erudita – e os


22monumentos menores – referentes à arquitetura popular”. A arquitetura menor <strong>de</strong>veria serpreserva<strong>da</strong> para não alterar o entorno imediato <strong>da</strong> arquitetura maior, erudita. (GIOVANNONI 4 citadopor MOURA FILHA, 2000)• Quadro 01 – Expansão do conceito <strong>de</strong> patrimônio cultural (Fonte:CHOAY, 2001)Fonte: (CHOAY, 2001).Um exemplo brasileiro que está caracterizado no Quadro 01 a partir <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong>Veneza é o PPSH-RMR – Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> Sítios Históricos <strong>da</strong> Região Metropolitana do Recife,que <strong>de</strong>ntre os edifícios isolados, inseriu a arquitetura mo<strong>de</strong>rnista através <strong>da</strong> proteção <strong>de</strong> exemplarescomo o Pavilhão <strong>de</strong> Óbitos – Derby (Decreto 11.601 <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1980) (Figura 01), a EscolaRural Alberto Torres (Decreto 11.613 <strong>de</strong> 04 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1980) (Figura 02) e a Arquitetura Cubista <strong>da</strong>Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Suassuna (Decreto 11.879 <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1980) e a arquitetura <strong>de</strong> ferro através <strong>da</strong>proteção <strong>de</strong> exemplares como o Mercado <strong>da</strong> Casa Amarela (Decreto 11.794 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>4 G. GIOVANNONI (1873-1948)


231980) (Figura 03) e a Casa <strong>da</strong> Cultura/ Estação Central 5 (Decreto 11.627 <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1980).(PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE, 1981)Figura 1 Pavilhão <strong>de</strong> Óbitos – Derby. Fonte:PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981)Figura 2 - Escola Rural Alberto Torres. Fonte:PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981)Figura 3- Mercado Casa Amarela. Fonte:PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981)Figura 4- Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong>Conceição – João <strong>de</strong> Barros. Fonte:PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE (1981)5 O Decreto tomba o conjunto, a arquitetura <strong>de</strong> ferro se refere apenas a Estação Central.


24<strong>Três</strong> períodos diferentes já estão incluídos numa mesma categoria valorativa: aarquitetura mo<strong>de</strong>rnista <strong>da</strong>s Figuras 1 e 2, a arquitetura do ferro na Figura 3 e a já reconheci<strong>da</strong>monumentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> arquitetura religiosa colonial <strong>da</strong> Figura 4.Os bens selecionados também se caracterizavam pela nova vertente <strong>de</strong>vido à função,se inserindo no público, no privado, no utilitário, no erudito, no popular. A malha urbana éreferencia<strong>da</strong> apenas indiretamente através <strong>da</strong> discussão sobre entorno.“… no domínio <strong>da</strong> arquitetura, urbanismo e paisagismo, são poucos os bensremanescentes do século XX tombados pelo Instituto, como a produção doecletismo e do mo<strong>de</strong>rnismo, além <strong>da</strong>s lacunas em relação às regiões brasileirascontempla<strong>da</strong>s pelo tombamento. No que se refere a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e centros históricos,edificações isola<strong>da</strong>s e espaços livres, como praças, parques e jardins, a preservaçãodo entorno é objeto <strong>de</strong> discussão nacional e representa uma <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>instituição, em função do acelerado processo <strong>de</strong> urbanização que leva aoa<strong>de</strong>nsamento construtivo e à <strong>de</strong>scaracterização <strong>da</strong> paisagem <strong>da</strong> qual faz parte obem tombado.” (SILVA, 2007, p.46)No PPSH a paisagem rural também já é inseri<strong>da</strong> nas categorias <strong>de</strong> preservação, quandose caracteriza os engenhos, on<strong>de</strong> se apresenta uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> dos problemas enfrentados coma industrialização <strong>da</strong> produção do açúcar e a expansão urbana.<strong>de</strong> arquitetura:O PPSH classificou os sítios pesquisados quanto à época <strong>de</strong> construção e também ao tipoa) “Antigo – Consi<strong>de</strong>rou-se Antigo o edifício ou sítio erigido até o século XX, exclusive[sic];b) Do Início do Século. - Trata-se <strong>de</strong> edificação construí<strong>da</strong> nos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong> ArquiteturaEclética surgi<strong>da</strong> nas zonas urbanas <strong>da</strong> RMR, nas três primeiras <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> do SéculoXX;c) Recente. – Classificaram-se como Recente os edifícios construídos na segun<strong>da</strong>meta<strong>de</strong> do século XX, já incorporando, na sua concepção e obra, os princípios e atecnologia <strong>da</strong> Arquitetura Mo<strong>de</strong>rna.” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/FIDEM, 1978)1 CONSERVAÇÃO INTEGRADACamillo Sitte (1889) é consi<strong>de</strong>rado pioneiro na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> preservação <strong>de</strong> Centros Históricos,por Carlos Roberto Monteiro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (1992), autor <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong> tradução brasileira <strong>de</strong> DerStädtebau nach seinen künstlerischen Grundsätzen. Mas Choay (2001) acredita que ele não tenha <strong>de</strong>senvolvido


25a filosofia conservadora, pois ele apresenta apenas poucas vezes frases como: “salvar, se ain<strong>da</strong> houver tempo,nossas velhas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição que as ameaça ca<strong>da</strong> vez mais.” Além disso, no 1º capítulo ele diz:“Tudo o que já se evi<strong>de</strong>nciou como necessário segundo aspectos higiênicos ou poroutros motivos prioritários <strong>de</strong>ve ser realizado ain<strong>da</strong> que em <strong>de</strong>trimento dosmotivos pinturescos, sejam estes quais forem. Porém, esta convicção não nos <strong>de</strong>veimpedir <strong>de</strong> investigar minuciosamente todos os motivos pinturescos <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>santigas, estabelecendo um paralelo entre eles e as condições mo<strong>de</strong>rnas, para queassim possamos esclarecer os aspectos artísticos <strong>de</strong>sta questão, bem comoi<strong>de</strong>ntificar com precisão o que ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong> ser resgatado, em nosso benefício, <strong>da</strong>sbelezas dos conjuntos urbanos antigos, conservando-as ao menos comopatrimônio.” (SITTE in ANDRADE, 1992, p.30)A questão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para SITTE (1992) era que ela fosse observa<strong>da</strong> e percebi<strong>da</strong> porto<strong>da</strong> a população e que ela não transmitisse apenas quali<strong>da</strong><strong>de</strong> artística aos estudiosos <strong>da</strong> arte earquitetura. Sitte (1889) escreve A construção <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s segundo seus princípios artísticos, emmeio a um conturbado quadro <strong>de</strong> transformações urbanas <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à novaconjuntura. A <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração do traçado como bem artístico valorizado é um dos temasconfrontados com o sistema mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> urbanização aplicado nesta circunstância. Suasconsi<strong>de</strong>rações não eram ‘ruskinianas’, eram a favor dos confortos e vantagens <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rnização, noentanto percebia que as questões técnicas podiam ser elabora<strong>da</strong>s correspon<strong>de</strong>ndo também aosapelos estéticos que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tradicional apresentava espontaneamente.“Sistemas mo<strong>de</strong>rnos! Pois sim! Abor<strong>da</strong>r tudo <strong>de</strong> maneira rígi<strong>da</strong> e sistemática, nãoalterar em um milímetro os padrões já estabelecidos, até que o espírito genial sejatorturado à morte e to<strong>da</strong> a sensação prazerosa seja abafa<strong>da</strong> – é essa a marca <strong>de</strong>nosso tempo. *…+ a regularização do traçado <strong>da</strong>s ruas é a meta <strong>de</strong> todos eles, umobjetivo puramente técnico. Um traçado <strong>de</strong> ruas serve apenas à comunicação,jamais à arte, já que nunca po<strong>de</strong> ser apreendido pelos sentidos ou visto em suatotali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a não ser em sua planta. *…+ Por serem inapreensíveis enquanto umtodo, não apresentam nenhum interesse artístico. Artisticamente relevante só éaquilo que po<strong>de</strong> ser visto como um todo, ser apreendido em sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong> –portanto, uma única rua, uma única praça.A partir <strong>de</strong>sta consi<strong>de</strong>ração tão simples, constatamos que, sob <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>scondições, se po<strong>de</strong>m obter efeitos artísticos em qualquer traçado <strong>de</strong> ruas, cujaexecução <strong>de</strong>veria evitar, sobretudo, a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração brutal que caracteriza ogenius loci nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Novo Mundo, um hábito que se difundiu,lamentavelmente e em larga escala, também entre nós.” (SITTE in ANDRADE, 1992,p.100)


26A conservação urbana surgiu <strong>da</strong> evolução <strong>de</strong> conceitos que remontam os trabalhos<strong>de</strong> restauração <strong>de</strong> estilística <strong>de</strong> Viollet-le-Duc 6 , a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> monumento histórico e as discussõeselabora<strong>da</strong>s por Ruskin.Des<strong>de</strong> a atuação <strong>de</strong> Haussmann em Paris, observou-se em todo o mundo o objetivo<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s com intervenções pauta<strong>da</strong>s nas melhorias <strong>de</strong> higienização, estética ecirculação. Este movimento li<strong>de</strong>rado por Haussmann e propagado por outros franceses nãoconsi<strong>de</strong>rava a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> “como objeto patrimonial autônomo” (CHOAY, 2001). Apenas monumentospúblicos e religiosos resultavam em protestos contra a <strong>de</strong>molição para a implantação <strong>de</strong> novas ruas emalhas viárias (CHOAY, 2001).muitos elementos:Choay (2001) afirma que a <strong>de</strong>mora em assimilar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica foi ocasiona<strong>da</strong> por“Numerosos fatores contribuíram para retar<strong>da</strong>r <strong>de</strong> uma só vez a objetivação e ainserção do espaço urbano numa perspectiva histórica: <strong>de</strong> um lado, sua escala, suacomplexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a longa duração <strong>de</strong> uma mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> que i<strong>de</strong>ntificava a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a umnome, a uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a uma genealogia, a uma <strong>história</strong> <strong>de</strong> certo modopessoal, mas que era indiferente ao seu espaço; <strong>de</strong> outro, a ausência, antes doinício do século XIX, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>stros e documentos cartográficos confiáveis, adificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir arquivos relativos aos modos <strong>de</strong> produção e àstransformações do espaço urbano ao longo do tempo.” (CHOAY, 2001, p.178)Assim, é atribuído a Haussmann o uso do recurso <strong>de</strong> curvas <strong>de</strong> nível para elaborar oplano <strong>de</strong> intervenção em Paris. (CHOAY, 2001, p.178)Apesar <strong>da</strong> criação e evolução do urbanismo, o conceito <strong>de</strong> patrimônio históricourbano não evolui do mesmo modo; para Choay (2001), isso ocorre apenas em três abor<strong>da</strong>genssucessivas posteriores: a memorial, a histórica e a historial.A abor<strong>da</strong>gem memorial é elabora<strong>da</strong> por Ruskin 7 , quando ele relaciona a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> aoconceito <strong>de</strong> monumento intencional – este monumento atinge a memória <strong>de</strong> quem o vê e vive,6 Viollet-le-duc foi um restaurador, nascido em 1814, francês, cresceu na convivência <strong>de</strong> arquitetos e emambiente <strong>de</strong> muita arte e cultura. Influenciado pelas idéias iluministas, iniciou a transformação <strong>da</strong> restauraçãocomo ciência. O período Iluminista é caracterizado pelo estudo <strong>de</strong> antigos tratados <strong>de</strong> arquitetura, inclusive <strong>de</strong>Arquitetura Medieval e a iniciativa <strong>da</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> procurava elaborar métodos <strong>de</strong> levantamento e análise dopatrimônio. A restauração <strong>de</strong> Viollet tinha como objetivo reinserir o patrimônio no dia-a-dia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, noentanto, não era <strong>da</strong><strong>da</strong> importância à originali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos materiais como exemplo. Como arquiteto restauradorfoi responsável pela sistematização <strong>de</strong> um método <strong>de</strong> restauração reconheci<strong>da</strong> pelo direcionamentohistoricista – que reconhecia o valor do monumento no estabelecimento <strong>de</strong> sua construção como no estado <strong>de</strong>origem –, em que costumava se colocar no lugar <strong>de</strong> quem projetou a obra.


27provocando a atribuição do valor (CHOAY, 2001). A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com a sua malha urbana, a distribuição <strong>de</strong>seu ambiente doméstico, associado às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aos edifícios públicos e religiosos, produztambém um sentimento <strong>de</strong> valorização (CHOAY, 2001).A abor<strong>da</strong>gem histórica é representa<strong>da</strong> por Camillo Sitte, que em seu levantamentohistórico <strong>da</strong>s formas urbanísticas se <strong>de</strong>para com elementos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética que não sereconhece no novo urbanismo industrial – sua abor<strong>da</strong>gem questiona como po<strong>de</strong> ser aceito este nível<strong>de</strong> carência estética nas novas implantações urbanas (CHOAY, 2001). Sua i<strong>de</strong>ologia não consistia nohistoricismo baseado no pastiche ou reprodução fictícia <strong>de</strong> elementos estéticos urbanos, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ele exigia do período industrial a elaboração e a prática <strong>de</strong> uma nova estética, própria <strong>de</strong> seu período(CHOAY, 2001).A abor<strong>da</strong>gem historial é a mais coerente com o pensamento atual e estárepresenta<strong>da</strong> na figura <strong>de</strong> G.Giovannoni (1873-1943) “que atribuiu simultaneamente um valor <strong>de</strong> usoe um valor museal aos conjuntos urbanos antigos, integrando-os numa concepção geral <strong>da</strong>organização do território” (CHOAY, 2001, p.194). Ele reconhece que o novo modo <strong>de</strong> produzirci<strong>da</strong><strong>de</strong>s com a introdução <strong>da</strong> industrialização irá gerar novas formas e novos modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> – “Eleavalia o papel inovador <strong>da</strong>s novas técnicas <strong>de</strong> transporte e <strong>de</strong> comunicação e prevê seu crescenteaperfeiçoamento. *…+ A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do presente e, mais ain<strong>da</strong>, a do futuro estarão em movimento. *…+ Eleé praticamente o primeiro a perceber a fragmentação e a <strong>de</strong>sintegração <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em proveito <strong>de</strong>uma urbanização generaliza<strong>da</strong> e difusa.” (CHOAY, 2001, p.195-196)Os novos modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> com o aumento <strong>da</strong> comunicação – neste períodoespecialmente <strong>de</strong>vido ao transporte – exigem <strong>da</strong> nova ci<strong>da</strong><strong>de</strong> uma nova forma que abrigue este novomodo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana.“Os centros, os bairros, os conjuntos <strong>de</strong> quarteirões antigos po<strong>de</strong>m respon<strong>de</strong>r aessa função. Sob a forma <strong>de</strong> zonas isola<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> fragmentos, <strong>de</strong> núcleos, eles po<strong>de</strong>mrecuperar uma atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que lhes era nega<strong>da</strong> por Viollet-le-Duc e por Sitte: suaprópria escala indica que estão aptos a <strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong>ssa nova enti<strong>da</strong><strong>de</strong>espacial. *…+ <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que neles não se implantem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s incompatíveis com suamorfologia, essas malhas urbanas antigas ganham dois novos privilégios: elas são,<strong>da</strong> mesma forma que os monumentos históricos, portadoras <strong>de</strong> valores artísticos ehistóricos, bem como <strong>de</strong> valor pe<strong>da</strong>gógico e <strong>de</strong> estímulo imaginados por Viollet-le-7 John Ruskin nascido em 1819, inglês, acreditava que o monumento erigido tinha um momento único e porisso não <strong>de</strong>via ser restaurado ou renovado. O monumento <strong>de</strong>veria seguir o curso do tempo sem interferênciase não se podia impedir a sua “morte”. A pátina acumula<strong>da</strong> não <strong>de</strong>via ser removi<strong>da</strong>, apenas se evitava <strong>da</strong>nos e<strong>de</strong>sgastes excessivos e efetuar a manutenção com limpeza diária e pequenos consertos. A restauração não eraaceitável.


28Duc e por Sitte, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros catalisadores no processo <strong>de</strong> invenção <strong>de</strong> novasconfigurações espaciais.” (CHOAY, 2001, p.197-198)Giovannoni, ao instituir a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica como o monumento e ao mesmo tempotecido urbano vivo, <strong>de</strong>fine a “doutrina <strong>de</strong> conservação e restauração do patrimônio urbano”: “todofragmento urbano antigo <strong>de</strong>ve ser integrado num plano diretor *…+ que simboliza sua relação com avi<strong>da</strong> presente”; “o conceito <strong>de</strong> monumento histórico não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>signar um edifício isolado,separado do contexto <strong>da</strong>s construções no qual se insere” e; “os conjuntos urbanos antigos requeremprocedimentos <strong>de</strong> preservação e <strong>de</strong> restauração análogos aos que foram <strong>de</strong>finidos por Boito para osmonumentos” (CHOAY, 2001, p200-201)Os procedimentos <strong>de</strong> preservação e restauração aplicados ao meio urbano “têm porobjetivo essencial respeitar sua escala e sua morfologia, preservar as relações originais que nelesligaram uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s parcelares e vias <strong>de</strong> trânsito” (CHOAY, 2001, p.201).Para CHOAY (2001) “Giovannoni foi praticamente o único teórico do urbanismo doséculo XX a eleger como centro <strong>de</strong> suas preocupações a dimensão estética do estabelecimentohumano.”“É certo que não se po<strong>de</strong> chegar ao extremo <strong>da</strong> preservação absoluta em que na<strong>da</strong>se modifique. Isso geraria um conflito radical com os propósitos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento econômico. A preservação <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>da</strong>, porém, como uminstrumento vivo, mediante o qual não se isolam os grupos <strong>de</strong> edificações queabrigam apenas sombras e vestígios do passado, isto é, não se há <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar osítio histórico como um conjunto edificado inerte, pois os usuários são osresponsáveis pela sua animação. Os objetos preservados <strong>de</strong>vem possuir, tantoquanto possível, utilizações coerentes com a sua digni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Muitas vezes, o quevelhas construções pe<strong>de</strong>m é maquilagem externa e reformas interiores quepropiciem ambiente salubre, <strong>de</strong> acordo com as exigências mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> higiene.Assegura<strong>da</strong>s essas condições, não há por que <strong>da</strong>r, às edificações preserva<strong>da</strong>s<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> museu. Antes, a conservação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>stinações originais representaeconomia dos recursos que, inevitavelmente, se investiriam à conta doremanejamento que uma preservação cega suscita.” (Governo do Estado <strong>de</strong>Pernambuco/ FIDEM, 1978, p.12)2 CARTAS PATRIMONIAIS


29O primeiro manifesto coletivo mundial elaborado em prol do Patrimônio Históricosurgiu com a Carta <strong>de</strong> Atenas 8 , em 1931. Já se observa a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> “manutenção regular epermanente” evitando as reconstituições integrais, inclusive “recomen<strong>da</strong> que se respeite a obrahistórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo <strong>de</strong> nenhuma época”. Nela também seencontra a referência à proteção do “caráter” e <strong>da</strong> “fisionomia <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sobretudo na vizinhançados monumentos antigos, cuja proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser objeto <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos especiais. Em certosconjuntos, algumas perspectivas particularmente pitorescas <strong>de</strong>vem ser preserva<strong>da</strong>s.”A Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> 1933 9 , elabora<strong>da</strong> com referência nas discussões do CIAM,preconizava um estudo sobre a elaboração <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s – que tinham <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s quatro funçõesbásicas: habitar, trabalhar, circular e recrear-se – acrescentava-se a ela a valorização do MonumentoHistórico ou Artístico ou Científico <strong>de</strong> maior importância, o chamado monumento excepcional,subestimando muitas vezes edifícios e sítios urbanos bem caracterizados, limitando o apreço apenasà vizinhança imediata do monumento. Ain<strong>da</strong>, a valorização <strong>de</strong> uma arquitetura internacional<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rava culturas e, conseqüentemente, clima, técnicas construtivas, hábitos. Mesmo assim,já se via um avanço à proteção <strong>de</strong> elementos mais significativos. Além disso, a Carta <strong>de</strong> Atenasrenegava a imitação <strong>da</strong>s obras tal como construí<strong>da</strong>s no passado e ain<strong>da</strong> exaltava a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>diferenciar o antigo do novo, não permitindo falsas impressões.Um fato importante ocorrido na <strong>história</strong> mundial impulsionou o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> preservação e restauração: a Segun<strong>da</strong> Guerra <strong>de</strong>struiu ci<strong>da</strong><strong>de</strong>sinteiras e com elas referências para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> populações. Assim, tanto monumentosexcepcionais foram perdidos como as casas dos sobreviventes <strong>da</strong> guerra e seus ambientescotidianos. No intuito <strong>de</strong> amenizar os efeitos <strong>da</strong> guerra houve reconstruções basea<strong>da</strong>s em estilos quei<strong>de</strong>ntificassem as obras anteriores e em outras formas <strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando teorias ounormas já sistematiza<strong>da</strong>s.“Até bem pouco tempo, prevalecia a teoria <strong>da</strong> ‘mise en valeur’, em função <strong>da</strong> qualse registraram <strong>de</strong>sastrosas intervenções, com efeito, visando preservar um edifício,nele se concentrava a atenção e promovia-se a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong>s edificações vizinhasmais recentes, ou permitia-se a <strong>de</strong>scaracterização, por sucessivas reformas, <strong>da</strong>sconstruções <strong>da</strong> mesma época do monumento, situa<strong>da</strong>s nas suas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Nãofoi, portanto, somente o urbanismo <strong>de</strong>molidor e retificador o único responsávelpelo <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> diversos testemunhos <strong>da</strong> cultura. Destruiu-se, também,em nome <strong>da</strong> preservação.” (Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco/ FIDEM, 1978,p.11)8 Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1931, Escritório Internacional dos Museus Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s Nações.9 Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> 1933. CIAM (Le Corbusier)


30Mais recentemente, a Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1964 10 (MINISTÉRIO DA CULTURA,1995) propôs e reconheceu o valor <strong>da</strong> transmissão do patrimônio para gerações futuras em plenaautentici<strong>da</strong><strong>de</strong>, remetendo ao impulso fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> 1931, sugerindo eelaborando uma revisão e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s questões levanta<strong>da</strong>s neste ano. Ela adotou oconceito mais amplo para o monumento histórico, estando ele compreendido tanto em umaarquitetura isola<strong>da</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ou mo<strong>de</strong>sto valor estético quanto em sítio urbano ou rural querepresente uma civilização particular, uma evolução ou um acontecimento histórico. Háapontamento para a multidisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> no restauro e conservação. A escala monumental do sítioou edifício foi objeto <strong>de</strong> conservação 11 tratado na Carta, que <strong>de</strong>terminou parâmetros para seguir asreformas e novas construções, respeitando a escala existente. Segundo a Carta, a recomposição <strong>de</strong>partes <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ve ser feita harmonicamente, no entanto, <strong>de</strong>ve possibilitar a diferenciação entreo original e o novo.As Recomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> Paris II 12 , também <strong>de</strong> 1964, <strong>de</strong>finem o que são os bensculturais, consi<strong>de</strong>rando que são eles:“… os bens móveis e imóveis <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o patrimônio cultural <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> país, tais como as obras <strong>de</strong> arte e <strong>de</strong> arquitetura, os manuscritos, os livros eoutros bens <strong>de</strong> interesse artístico, histórico ou arqueológico, os documentosetnológicos, os espécimens-tipo <strong>da</strong> flora e <strong>da</strong> fauna, as coleções científicas e ascoleções importantes <strong>de</strong> livros e arquivos, incluídos os arquivos musicais.”.(MINISTÉRIO DA CULTURA, 1995, p.118)Atualmente, o Brasil e vários países europeus e latino-americanos possuem cartas,recomen<strong>da</strong>ções e leis que primam por preservar, usufruir e respeitar os diversos tipos <strong>de</strong> bensculturais que a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> – representa<strong>da</strong> pelos técnicos – pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar. Os bens culturais,hoje, ultrapassaram o meio físico e invadiram o meio abstrato em busca <strong>de</strong> conservar costumespeculiares <strong>de</strong> convívio social, cerimônias religiosas e civis e culinária particular.10 Carta Internacional sobre Conservação e Restauração <strong>de</strong> Monumentos e Sítios elabora<strong>da</strong> no II CongressoInternacional <strong>de</strong> Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos pelo Conselho Internacional <strong>de</strong>Monumentos e Sítios.11 “o termo conservação <strong>de</strong>signará os cui<strong>da</strong>dos a serem dispensados a um bem para preservar-lhe ascaracterísticas que apresentem uma significação cultural. De acordo com as circunstâncias, a conservaçãoimplicará ou não a preservação ou a restauração, além <strong>da</strong> manutenção; ela po<strong>de</strong>rá, igualmente, compreen<strong>de</strong>robras mínimas <strong>de</strong> reconstrução ou a<strong>da</strong>ptação que aten<strong>da</strong>m às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e exigências práticas.” CARTA DEBURRA,1980.12 Recomen<strong>da</strong>ções sobre medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a proibir e impedir a exportação, a importação e a transferência<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s ilícitas <strong>de</strong> bens culturais, realiza<strong>da</strong>s na Conferência Geral <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spara a Educação, a Ciência e a Cultura 13ª Sessão <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1964.


312.1 A Carta <strong>de</strong> Atenas (1933)O documento que é marco <strong>da</strong> arquitetura e urbanismo mo<strong>de</strong>rnistas tratou <strong>da</strong>questão dos núcleos históricos <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao seu modo. O mo<strong>de</strong>rnismo buscava soluções práticaspara o dia-a-dia, no que se referia à circulação, habitação, trabalho e lazer. A busca <strong>da</strong> salubri<strong>da</strong><strong>de</strong>dos ambientes urbanos era persegui<strong>da</strong> com o suporte <strong>da</strong> maquinização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diárias, queera admiti<strong>da</strong> como única solução possível. As referências aos monumentos e às ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionaiseram assim abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s:“Os valores arquitetônicos <strong>de</strong>vem ser salvaguar<strong>da</strong>dos (edifícios isolados ouconjuntos urbanos). *…+ Eles serão salvaguar<strong>da</strong>dos se constituírem expressão <strong>de</strong>uma cultura anterior e se correspon<strong>de</strong>rem a um interesse geral, se sua conservaçãonão acarreta o sacrifício <strong>de</strong> populações manti<strong>da</strong>s em condições insalubres 13, se forpossível remediar sua presença prejudicial com medi<strong>da</strong>s radicais: por exemplo, o<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> elementos vitais <strong>de</strong> circulação ou mesmo o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> centrosconsi<strong>de</strong>rados até então imutáveis.” (LE CORBUSIER, 1993)A Carta <strong>de</strong> Atenas ain<strong>da</strong> recomen<strong>da</strong>va a <strong>de</strong>molição dos cortiços e casas insalubres noentorno dos monumentos para a criação <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s: “Os vestígios do passado mergulharão emuma ambiência nova, inespera<strong>da</strong> talvez, mas certamente tolerável, e <strong>da</strong> qual, em todo caso, osbairros vizinhos se beneficiarão amplamente.” (LE CORBUSIER, 1993)Uma <strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong>ções mais dissemina<strong>da</strong>s pelo mo<strong>de</strong>rnismo foi a <strong>de</strong> não empregarestilos do passado em construções novas só para se a<strong>de</strong>quar às zonas históricas:“Copiar servilmente o passado é con<strong>de</strong>nar-se à mentira, é erigir o ‘ falso’ comoprincípio, pois as antigas condições <strong>de</strong> trabalho não po<strong>de</strong>riam ser reconstituí<strong>da</strong>s e aaplicação <strong>da</strong> técnica mo<strong>de</strong>rna a um i<strong>de</strong>al ultrapassado sempre leva a um simulacro<strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> qualquer vi<strong>da</strong>.” (LE CORBUSIER, 1993)O mo<strong>de</strong>rnista e seu pensamento positivista acreditavam que a arquitetura e ourbanismo resolveriam os problemas sociais e econômicos e assim eles registraram:13 “…em nenhum caso, culto do pitoresco e <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong>ve ter primazia sobre a salubri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> moradia <strong>da</strong>qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m tão estreitamente o bem-estar e a saú<strong>de</strong> moral do indivíduo.”


32“Embora as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s estejam em estado <strong>de</strong> permanente transformação, seu<strong>de</strong>senvolvimento é conduzido sem precisão nem controle, e sem que sejamlevados em consi<strong>de</strong>ração os princípios do urbanismo contemporâneo atualizadosnos meios técnicos qualificados” (LE CORBUSIER, 1993)As quatro funções básicas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnista (habitar, trabalhar, recrear-se,circular) eram ti<strong>da</strong>s como essenciais para a solução dos pontos negativos <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais,que os mo<strong>de</strong>rnistas acreditavam só beneficiar a circulação a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ao seu período <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção, ouseja, sem os automóveis. O zoneamento em setores divididos por funções era completamenteantagônico aos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tradicional, o que a tornava completamente insalubre e antifuncionalpara o i<strong>de</strong>al mo<strong>de</strong>rnista. A circulação <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong>veria ser hierarquiza<strong>da</strong>, permitindo oemprego <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos carros para as longas distâncias e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>streamplas, seguras e arboriza<strong>da</strong>s. A falta <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> tráfego, as ruas estreitas e inclina<strong>da</strong>s, apavimentação irregular eram características negativas para uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que quisesse se mo<strong>de</strong>rnizar,então <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> sua relevância histórica, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> seria reformula<strong>da</strong> com viadutos, ruasasfalta<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> quadras e praças ou coloca<strong>da</strong> à parte.Ao traçado tradicional não se atribuía valor, apenas em casos especiais, eles setornavam protegidos indiretamente a partir <strong>da</strong> proteção <strong>de</strong> conjuntos muito peculiares, congeladosno tempo.2.2 A Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964Existem mais <strong>de</strong> 20 cartas e recomen<strong>da</strong>ções internacionais que versam sobrepatrimônio cultural, ca<strong>da</strong> qual com a sua contribuição, acrescentando ou transformando conceitos eformas <strong>de</strong> atuar. A Carta <strong>de</strong> Veneza, como a Carta <strong>de</strong> Atenas, marcou uma época porque ampliou oconceito <strong>de</strong> patrimônio cultural em aspectos geográfico, cronológico e <strong>de</strong> gênero. Estabeleceuparâmetros para o conceito <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> restauração, apresentando como mais <strong>de</strong>sejável aconservação através <strong>da</strong> manutenção permanente.“Artigo 1º - A noção <strong>de</strong> monumento histórico compreen<strong>de</strong> a criação arquitetônicaisola<strong>da</strong>, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho <strong>de</strong> uma civilizaçãoparticular, <strong>de</strong> uma evolução significativa ou <strong>de</strong> um acontecimento histórico.


33Esten<strong>de</strong>-se não só às gran<strong>de</strong>s criações mas também às obras mo<strong>de</strong>stas, quetenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural.Artigo 2º - A conservação e a restauração dos monumentos constituem umadisciplina que reclama a colaboração <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ciências e técnicas que possamcontribuir para o estudo e a salvaguar<strong>da</strong> do patrimônio monumental.*…+Artigo 14º - Os sítios monumentais <strong>de</strong>vem ser objeto <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos especiais quevisem salvaguar<strong>da</strong>r sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e assegurar seu saneamento, sua manutençãoe valorização. Os trabalhos <strong>de</strong> conservação e restauração que neles se efetuarem<strong>de</strong>vem inspirar-se nos princípios enunciados nos artigos prece<strong>de</strong>ntes.”(MINISTÉRIO DA CULTURA, 1995)Nos inúmeros trabalhos realizados pelo Iphan ou outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s estaduais emunicipais envolvi<strong>da</strong>s com a preservação do patrimônio, há com freqüência a citação <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong>Veneza e seus conceitos e recomen<strong>da</strong>ções, que são utilizados como parâmetro.2.3 Recomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> Paris III 14Esta carta recomen<strong>da</strong>, como princípios gerais para preservar e salvaguar<strong>da</strong>r os bensculturais, medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> caráter preventivo e corretivo diante <strong>de</strong> ameaças por obras públicas oupriva<strong>da</strong>s. Algumas que se relacionam ao traçado:“Os projetos <strong>de</strong> expansão ou <strong>de</strong> renovação urbana, ain<strong>da</strong> que respeitemmonumentos protegidos por lei mas possam vir a modificar estruturas <strong>de</strong> menorimportância e, assim, <strong>de</strong>struir as vinculações e o quadro que envolve osmonumentos nos bairros históricos.*…+A construção ou alteração <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação, o que constitui um perigoespecialmente grave para os sítios, monumentos ou conjuntos <strong>de</strong> monumentos <strong>de</strong>importância histórica.” (RECOMENDAÇÕES DE PARIS III, 1968)14 Conferência Geral <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Educação, a Ciência e a Cultura 15ª Sessão 19 <strong>de</strong>novembro <strong>de</strong> 1968. RECOMENDAÇÃO SOBRE A CONSERVAÇÃO DOS BENS CULTURAIS AMEAÇADOS PELAEXECUÇÃO DE OBRAS PÚBLICAS OU PRIVADAS


342.4 Manifesto <strong>de</strong> Amsterdã <strong>de</strong> 1975A Declaração e o Manifesto <strong>de</strong> Amsterdã trazem proposições para se evitar asubstituição <strong>de</strong> população resi<strong>de</strong>nte nos casos <strong>de</strong> reabilitação, bem como recomen<strong>da</strong> a ampliação douso <strong>de</strong> inventários além <strong>de</strong> construções monumentais, consi<strong>de</strong>rando conjuntos e sítios, com oobjetivo <strong>de</strong> ser empregado como instrumento <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance para a administração <strong>da</strong>conservação dos bens. A conservação integra<strong>da</strong> é proposta em vários trechos em referências diretase indiretas.“O que hoje necessita <strong>de</strong> proteção são as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas, os bairros urbanosantigos e al<strong>de</strong>ias tradicionais, aí incluídos os parques e jardins históricos. Aproteção <strong>de</strong>sses conjuntos arquitetônicos só po<strong>de</strong> ser concebi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umaperspectiva global, tendo em conta todos os edifícios com valor cultural, dos maisimportantes aos mais mo<strong>de</strong>stos, sem esquecer os <strong>da</strong> época mo<strong>de</strong>rna, assim comoo ambiente em que se integram. Essa proteção global completará a proteçãopontual dos monumentos e sítios isolados.” (DECLARAÇÃO DE AMSTERDÃ, 1975)Esse documento recomen<strong>da</strong> o uso do inventário em ampla escala, para fornecer aleitura mais realista dos conjuntos urbanos: “Tal inventário fornecerá uma base realista para aconservação, no que diz respeito ao elemento qualitativo fun<strong>da</strong>mental para a administração dosespaços.” (DECLARAÇÃO DE AMSTERDÃ, 1975)2.5 A Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1976A Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1976 é a primeira a reportarespecialmente aos conjuntos históricos que assim consi<strong>de</strong>ra:“… os conjuntos históricos ou tradicionais constituem através <strong>da</strong>s i<strong>da</strong><strong>de</strong>s ostestemunhos mais tangíveis <strong>da</strong> riqueza e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s criações culturais,religiosas e sociais <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e que sua salvaguar<strong>da</strong> e integração na vi<strong>da</strong>contemporânea são elementos fun<strong>da</strong>mentais na planificação <strong>da</strong>s áreas urbanas edo planejamento físico-territorial. *…+ Consi<strong>de</strong>rando que, no mundo inteiro, sobpretexto <strong>de</strong> expansão ou <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, <strong>de</strong>struições que ignoram o que<strong>de</strong>stroem e reconstruções irracionais e ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s ocasionam grave prejuízo aesse patrimônio histórico.” (MINISTÉRIO DA CULTURA, 1995)A Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi (1976) <strong>de</strong>fine:


35“conjunto histórico ou tradicional todo agrupamento <strong>de</strong> construções e <strong>de</strong> espaços,inclusive os sítios arqueológicos e paleontológicos, que constituam umassentamento humano, tanto no meio urbano quanto no rural e cuja coesão evalor são reconhecidos do ponto <strong>de</strong> vista arqueológico, arquitetônico, préhistórico,histórico, estético ou sócio-cultural. Entre esses ‘conjuntos’, que sãomuito variados, po<strong>de</strong>m se distinguir especialmente os sítios pré-históricos, asci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas, os bairros urbanos antigos, as al<strong>de</strong>ias e lugarejos, assim como osconjuntos monumentais homogêneos, ficando entendido que estes últimos<strong>de</strong>verão, em regra, ser conservados em sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (MINISTÉRIO DACULTURA, 1995)Nela, as recomen<strong>da</strong>ções para os países membros já inserem que os planos edocumentos <strong>de</strong> salvaguar<strong>da</strong> <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>finir ‘as zonas e elementos a serem protegidos’ e ‘as condiçõese restrições específicas que lhe dizem respeito’.Outra recomen<strong>da</strong>ção que induz a um gran<strong>de</strong> avanço é a <strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ração <strong>da</strong>smanifestações dos vários períodos sob o conjunto histórico, não elegendo apenas um ou outro<strong>de</strong>terminado período. Recomen<strong>da</strong>-se a análise <strong>de</strong> todo o conjunto, bem como o inventário <strong>de</strong>espaços abertos, públicos e privados e <strong>de</strong> sua vegetação.2.6 A Carta <strong>de</strong> Washington <strong>de</strong> 1986A Carta <strong>de</strong> Washington <strong>de</strong> 1986 para a salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas se instituicomo complemento <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964 para <strong>de</strong>finir:“… os princípios e os objetivos, os métodos e os instrumentos <strong>de</strong> ação apropriadosa salvaguar<strong>da</strong>r a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas, a favorecer a harmonia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>individual e social e a perpetuar o conjunto <strong>de</strong> bens que, mesmo mo<strong>de</strong>stos,constituem a memória <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (MINISTÉRIO DA CULTURA, 1995)Esta Carta <strong>de</strong>fine os elementos materiais e espirituais a serem preservados nasci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e bairros históricos; para esta pesquisa, em especial, se <strong>de</strong>stacam ‘a forma urbana <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>pelo traçado e parcelamento’ e ‘as relações entre os diversos espaços urbanos, espaços construídos,espaços abertos e espaços ver<strong>de</strong>s’. Duas recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Washington (1986) se referema elementos importantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna: as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> infra-estrutura e equipamentos <strong>de</strong> serviços eas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tráfego. Assim:


36“As novas funções <strong>de</strong>vem ser compatíveis com o caráter, a vocação e a estrutura<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas. A a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica à vi<strong>da</strong> contemporânearequer cui<strong>da</strong>dosas instalações <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> infra-estrutura e equipamento dosserviços públicos. *…+ Os gran<strong>de</strong>s traçados rodoviários previstos no planejamentofísico territorial não <strong>de</strong>vem penetrar nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas, mas somente facilitar otráfego nas cercanias para permitir-lhe um fácil acesso.” (MINISTÉRIO DA CULTURA,1995)2.7 Declaração <strong>de</strong> Xi’an 2005 15Diante <strong>de</strong> todo um contexto anterior que fun<strong>da</strong>mentou as <strong>de</strong>clarações conti<strong>da</strong>s nacarta <strong>de</strong> Xi’an sobre entorno e seus bens culturais:“… para diminuir a ameaça que representam estes processos <strong>de</strong> transformaçãocontra o patrimônio cultural em to<strong>da</strong> a riqueza <strong>de</strong> sua autentici<strong>da</strong><strong>de</strong>, seusignificado, seus valores, sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e sua diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>;” (ICOMOS, 2006)A <strong>de</strong>claração tem como objetivo “Reconhecer a contribuição do entorno para osignificado dos monumentos, sítios e áreas <strong>de</strong> patrimônio cultural”, on<strong>de</strong> se estabelece a <strong>de</strong>finição ea compreensão do que se necessita reconhecer como entorno:1) “O entorno <strong>de</strong> uma edificação, um sítio ou uma área <strong>de</strong> patrimônio culturalse <strong>de</strong>fine como o meio característico seja <strong>de</strong> natureza reduzi<strong>da</strong> ou extensa, queforma parte <strong>de</strong> - ou contribui para – seu significado e caráter peculiar.Mas, além dos aspectos físicos e visuais, o entorno supõe uma interação com oambiente natural; práticas sociais ou espirituais passa<strong>da</strong>s ou presentes, costumes,conhecimentos tradicionais, usos ou ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e outros aspectos do patrimôniocultural intangível que criaram e formaram o espaço, assim como o contexto atuale dinâmico <strong>de</strong> natureza cultural, social e econômica.” (ICOMOS, 2006)A Declaração apresenta o que é consi<strong>de</strong>rado necessário e i<strong>de</strong>al para a gestão <strong>da</strong>conservação do entorno dos bens culturais, que <strong>de</strong>vem ser compreendidos, documentados einterpretados diante <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contextos que se apresenta “para <strong>de</strong>finir e avaliar aimportância como patrimônio <strong>de</strong> qualquer edificação, sítio ou área”.15 SOBRE A CONSERVAÇÃO DO ENTORNO EDIFICADO, SÍTIOS E ÁREAS DO PATRIMÔNIO CULTURAL.Adota<strong>da</strong> emXi’an, China, 21 Outubro 2005. Tradução em Língua Portuguesa: ICOMOS/BRASIL, Março 2006


37“A <strong>de</strong>finição do entorno requer compreen<strong>de</strong>r a <strong>história</strong>, a evolução e o caráter dosarredores do bem cultural. Trata-se <strong>de</strong> um processo que <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar múltiplosfatores, inclusive a experiência <strong>de</strong> aproximação ao sítio e ao próprio bem cultural.”(ICOMOS, 2006)Dentre as ferramentas <strong>de</strong> gestão a Declaração sugere a elaboração <strong>de</strong> “instrumentos<strong>de</strong> planejamento e práticas para a conservação e a gestão do entorno” que <strong>de</strong>vem prever a“<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> uma zona <strong>de</strong> proteção ou respeito ao seu arredor que reflita e contribua paraconservar o significado e o caráter diferenciado do entorno”.O caráter <strong>de</strong> gestão e planejamento sobre o que ameace o entorno na Declaração <strong>de</strong>Xi`an <strong>de</strong>staca os conceitos <strong>de</strong> reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e também a valorização <strong>da</strong> paisagem2) “A envergadura <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças e seus impactos, tanto isolados como <strong>de</strong>caráter cumulativo, assim como a transformação do entorno <strong>da</strong>s edificações, sítiose áreas <strong>de</strong> valor patrimonial, são um processo contínuo que requer umacompanhamento e uma gestão.A transformação rápi<strong>da</strong> e progressiva <strong>da</strong>s paisagens rurais e urbanas, as formas <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>, os fatores econômicos, ou o meio ambiente natural po<strong>de</strong>m afetar <strong>de</strong> formasubstancial ou irreversível a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira contribuição do entorno para o significado<strong>de</strong> uma edificação, um sítio ou uma área <strong>de</strong> valor patrimonial.3) Deve-se gerir a mu<strong>da</strong>nça do entorno <strong>da</strong>s edificações, dos sítios e <strong>da</strong>s áreas<strong>de</strong> valor patrimonial <strong>de</strong> modo que seu significado cultural e seu caráter peculiarsejam mantidos.Gerir a mu<strong>da</strong>nça do entorno <strong>da</strong>s edificações, dos sítios e <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> valorpatrimonial não significa necessariamente evitar ou impedir a mu<strong>da</strong>nça.” (ICOMOS,2006)3 O BRASIL DIANTE DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO CULTURALDes<strong>de</strong> a criação do IPHAN, em 1937, a instituição passou por duas fases em relação àforma <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r o patrimônio cultural <strong>de</strong> acordo com Fonseca (2005). O momento fun<strong>da</strong>dormarcado pelas <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1930 e 1940, chama<strong>da</strong> também <strong>da</strong> fase pedra e cal, coinci<strong>de</strong> com avalorização principal recaindo sobre o monumento excepcional. O momento renovador durante as


38<strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1970 e 1980 introduz as pesquisas sobre o bem cultural e a disseminação do conceitodiante <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> preservação.3.1 A prática <strong>de</strong> tombamento na primeira faseOs valores artístico e histórico intrinsecamente relacionados ao conceito <strong>de</strong>excepcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto à geniali<strong>da</strong><strong>de</strong> e à originali<strong>da</strong><strong>de</strong> restringiam o número <strong>de</strong> bens tombados. Osbens que eram submetidos ao processo <strong>de</strong> tombamento eram valorizados quanto à originali<strong>da</strong><strong>de</strong> e àgeniali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> um estilo arquitetônico, <strong>da</strong> matéria que resistiu por séculos, <strong>da</strong> formaarquitetônica, <strong>da</strong> relação com um fato memorável <strong>da</strong> <strong>história</strong>.Os valores artísticos restringiam os bens com estilos específicos como a arquiteturacolonial. Assim, no primeiro momento, os exemplares arquitetônicos <strong>de</strong> estilos como o art nouveau eo ecletismo não se a<strong>de</strong>quavam ao que se entendia por bens representativos <strong>de</strong> valor nacional.Os valores históricos dos bens a serem tombados eram <strong>de</strong>limitados entre aquelesque estivessem relacionados a fatos memoráveis e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância <strong>da</strong> <strong>história</strong> nacional. Alémdisso, <strong>de</strong> acordo com Fonseca (2005), estes valores eram consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> classe, pois osdossiês <strong>de</strong> tombamento que apresentavam como justificativas principais os valores históricos tinhamaior índice <strong>de</strong> não ratificação do tombamento.Um exemplar <strong>de</strong> tombamento <strong>da</strong> primeira fase, a Capela do Engenho Una (SantaRita, PB), também nomeado <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Nossa Senhora do Patrocínio, foi tombado no Livro <strong>de</strong>Belas Artes Inscrição 427 e número <strong>de</strong> processo 0473-T-53 16 . Seu entorno, que ain<strong>da</strong> hoje contém acasa gran<strong>de</strong>, casas <strong>de</strong> moradores e plantação <strong>de</strong> cana, não está inserido no tombamento.16 Arquivo Noronha Santos.


393.2 A prática do tombamento 17 na segun<strong>da</strong> faseOs conceitos <strong>de</strong> valor nacional e excepcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> na segun<strong>da</strong> fase foramflexibilizados e possibilitaram a ampliação dos valores histórico e artístico, o que gerou um aumentono número <strong>de</strong> bens tombados – <strong>de</strong>monstrando uma mu<strong>da</strong>nça significativa na maneira <strong>de</strong> ver opatrimônio, reflexo <strong>de</strong> uma nova construção, ou melhor, <strong>de</strong> uma ampliação <strong>de</strong> valores e símbolosconsi<strong>de</strong>rados representativos <strong>da</strong> nossa nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>.A ampliação dos bens selecionados, a adoção do conceito <strong>de</strong> conjunto arquitetônico,urbanístico, paisagístico, abor<strong>da</strong>gem do conceito <strong>de</strong> registro do imaterial, são algumas <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasque se observa na segun<strong>da</strong> fase <strong>de</strong> aplicação do instrumento <strong>de</strong> tombamento. As técnicaspatrimoniais, o saber do povo, o patrimônio visto como parte do cotidiano são alguns exemplos<strong>de</strong>ssa ampliação dos bens selecionados.“A Unesco <strong>de</strong>fine como Patrimônio Cultural Imaterial ‘as práticas, representações,expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos elugares culturais que lhes são associados - que as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, os grupos e, em alguns casos,os indivíduos reconhecem como parte integrante <strong>de</strong> seu patrimônio cultural. ’" 1817 “O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Po<strong>de</strong>r Público com o objetivo <strong>de</strong> preservar, porintermédio <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> legislação específica, bens <strong>de</strong> valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental etambém <strong>de</strong> valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser <strong>de</strong>struídos ou <strong>de</strong>scaracterizados.” 18 Patrimônio Imaterial.


40Essa nova abor<strong>da</strong>gem permite a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e a recriação natural <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>sgerações, respeitando a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural (IPHAN, 2007) 19 .Um exemplar incluído nesta fase é a celebração do Círio <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaréna ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém do Pará, que foi registrado no Livro <strong>da</strong>s Celebrações. É necessário observar adiferença entre o registro e o tombamento, pois aquele não impe<strong>de</strong> que mu<strong>da</strong>nças ocorram <strong>de</strong>vido ànatural continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e transformações que acontecem com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s gerações. O Círio<strong>de</strong> Nazaré em suas características não teve o andor tombado ou a imagem sacra que nele vaiprotegi<strong>da</strong>, mas teve registra<strong>da</strong> a forma como se apresenta a manifestação religiosa e o vínculo que apopulação possui com a celebração. O que não impe<strong>de</strong> a renovação a ca<strong>da</strong> manifestação.No entanto, Fonseca (2005) relata que os técnicos do Iphan não absorveram <strong>de</strong>imediato o conceito diverso do registro e do tombamento.Fonseca (2005) elabora a reflexão sobre os processos <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> valorconsi<strong>de</strong>rando que assim há uma melhor compreensão <strong>da</strong> construção do conceito <strong>de</strong> patrimôniocultural. A “construção do universo simbólico dos patrimônios culturais nacionais” (Fonseca, 2005,p.35) é dividido pela autora quanto a sua constituição, “a partir <strong>de</strong> um estatuto jurídico próprio”,quanto a sua proposição, “como uma forma <strong>de</strong> comunicação social”, e quanto a suainstitucionalização, “enquanto objeto <strong>de</strong> política pública”.Quanto ao bem patrimonial Fonseca (2005) distingue a coisa do valor, utilizando-se<strong>de</strong> referências <strong>de</strong> ARGAN (1998) sobre as obras <strong>de</strong> arte, que diz que a coisa é procura<strong>da</strong>, i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>,classifica<strong>da</strong>, conserva<strong>da</strong>, restaura<strong>da</strong>, exibi<strong>da</strong>, compra<strong>da</strong>, vendi<strong>da</strong>, enquanto o valor é a pesquisasobre o que o consiste, como é gerado, transmitido, reconhecido e usufruído.Em sua análise, Fonseca (2005) afirma que as políticas <strong>de</strong> preservação estão volta<strong>da</strong>spara as coisas, sendo estas a principal preocupação dos atores envolvidos na preservação, pois aresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> penal atua sobre isso. A autora i<strong>de</strong>ntifica no processo <strong>de</strong> produção do universo dosbens patrimoniais critérios <strong>de</strong> seleção e justificativas <strong>de</strong> proteção, seus atores e objetivos, a posiçãodo Estado em relação aos bens patrimoniais e o grau <strong>de</strong> envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Define como“uma dimensão menos visível, mas nem por isso menos significativa, <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> preservação”(FONSECA, p.36).http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan19 I<strong>de</strong>m


41Fonseca (2005) registra que os Códigos Civil e Penal brasileiros distinguem entre osdireitos e os <strong>de</strong>veres os bens materiais e imateriais, que são caracterizados como apropriáveis einapropriáveis individualmente respectivamente. Os bens imateriais (valores) compreen<strong>de</strong>m osdireitos culturais e são inapropriáveis por serem caracterizados por “irradiações <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong>”não “suscetíveis <strong>de</strong> medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> valor” (Fonseca, 2005).O instituto do tombamento 20 incidindo sobre os valores e a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> causaefeitos importantes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O direito à proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> já é limitado pela sua função social naConstituição, assim, fica tutelado à administração pública o exercício do direito <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Acrescido a isso, para o bem tombado, inci<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> sobre ele uma “autori<strong>da</strong><strong>de</strong> estatal competente”representado nacionalmente pelo Conselho Consultivo <strong>da</strong> Sphan (Iphan): “exercer tutela no sentido<strong>de</strong> proteger ‘os valores culturais ínsitos no bem material, público ou particular, a cujospredicamentos, particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s é sensível a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e importa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r econservar em nome <strong>da</strong> educação, como elementos indicativos <strong>da</strong> origem, <strong>da</strong> civilização e <strong>da</strong> culturanacionais’(ROCHA, 1967, p.31)” (FONSECA, 2005, p.39).Os valores culturais protegidos não retiram o valor econômico do bem, assim se faznecessária uma maior regulação sobre a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> individual. A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> coisa estáintrinsecamente liga<strong>da</strong> ao valor econômico que o proprietário po<strong>de</strong> usufruir. A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> dosvalores culturais é <strong>de</strong> posse <strong>da</strong> nação, é o objetivo <strong>de</strong> bem coletivo <strong>de</strong>terminado pelo tombamento.O duplo exercício <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> gera conflito <strong>de</strong> interesses: público/ privado, público/ público. Apolítica <strong>de</strong> preservação tomba as coisas que têm valores atribuídos resultando em valores culturais<strong>de</strong> interesse público, no entanto as coisas estão apropria<strong>da</strong>s individualmente e possuem valoresculturais que são <strong>de</strong> todos.O instituto <strong>de</strong> tombamento é confundido como sinônimo <strong>de</strong> preservação, o que po<strong>de</strong>se observar não ser real, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> o tombamento não ser capaz <strong>de</strong> obrigar a execução <strong>de</strong>manutenção constante, restauração ou outra técnica. A apropriação do tombamento pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>tem situações positivas, como foi o caso do Terreiro <strong>de</strong> Casa Branca, que beneficiou um grupoeconômica e socialmente <strong>de</strong>sfavorecidos, tanto material como simbolicamente e, negativas, como otombamento <strong>de</strong> centros históricos <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>dos que sofreram o processo intenso <strong>de</strong> gentrificação,retirando os moradores <strong>de</strong> menor ren<strong>da</strong>, substituindo-os por pessoas <strong>de</strong> maior ren<strong>da</strong>, representadono Brasil pelo Pelourinho em Salvador.20 “…inci<strong>de</strong> sobre o sistema <strong>de</strong> valores dos bens por ele atingidos e sobre o estatuto <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssesbens <strong>de</strong> forma peculiar e específica.” (FONSECA, 2005)


42Como é visto, o bem arquitetônico é o mais atingido por conseqüências do processo<strong>de</strong> tombamento, sejam negativas ou positivas. As restrições <strong>de</strong> uso que o tombamento impõetambém atingem a classe média e alta. Empresários <strong>da</strong> construção civil e proprietários <strong>de</strong> bensimóveis em áreas urbanas antigas os vêem limitados em especial no potencial construtivo doterreno, na falta <strong>de</strong> garagem nas edificações e proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre outras ina<strong>da</strong>ptações. Otombamento <strong>de</strong> bens móveis são, por sua vez, praticamente <strong>de</strong> todo benéfico para os proprietários,pois o instituto do tombamento valoriza economicamente o bem.4 CONSIDERAÇÕES TEÓRICASAs transformações ocorri<strong>da</strong>s no meio urbano ao longo <strong>de</strong> sua <strong>história</strong> não diminuemseu valor patrimonial. Assim, não se po<strong>de</strong> incorrer no erro <strong>de</strong> Viollet-le-Duc que almejava aoriginali<strong>da</strong><strong>de</strong> do projeto, <strong>de</strong>sejando reconstituir um plano urbanístico em um meio urbano vivo. Nemtampouco agir como Ruskin, que transferindo sua teoria para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> consi<strong>de</strong>raria qualquer tecidourbano como inalterável, sendo aqueles que houvessem recebido intervenções, patrimônio<strong>de</strong>svalorizado.Assim, os bens que sofreram intervenções ao longo <strong>de</strong> sua <strong>história</strong> não po<strong>de</strong>m ser<strong>de</strong>sprezados <strong>da</strong> preservação por este motivo, nem tão pouco a preservação absoluta é o objetivoque se <strong>de</strong>seja alcançar com preservação dos centros históricos.A equi<strong>da</strong><strong>de</strong> inter-gerações é <strong>de</strong>sejável e esse conceito se refere ao direito que to<strong>da</strong>sas gerações possuem <strong>de</strong> conhecer o seu passado e usufruir <strong>de</strong>ssa herança, mas também <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r


43construir seu futuro e permitir que as gerações futuras também recebam a herança <strong>de</strong> seusantepassados, compatibilizando com as novas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mantendo em mente areversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ações, talvez se atinja melhores resultados <strong>de</strong> conservação.É possível i<strong>de</strong>ntificar sugestão <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong><strong>de</strong> inter-gerações e reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, nosobjetivos e estratégias do PPSH-RMR:“Em termos gerais, reconhece-se que é preciso assegurar a convergência econciliação <strong>da</strong>s intenções <strong>de</strong> transformar as estruturas sócio-econômicas e <strong>de</strong>preservar as manifestações espaciais <strong>de</strong> cultura, na RMR e nos Municípios que aconstituem. Com efeito, se é certo que as gerações presentes <strong>de</strong>vem encontrar asolução dos seus problemas, não parece a<strong>de</strong>quado que restrinjam o horizontetemporal para julgamento <strong>da</strong>s soluções vislumbra<strong>da</strong>s. Ao contrário, tais soluções<strong>de</strong>vem ser gera<strong>da</strong>s numa perspectiva <strong>de</strong> amplo e não imediato futuro, até porque ocusto social não as torne inviáveis. Assim também com relação ao passado, pois acivilização hoje realiza<strong>da</strong>, com base nos elementos <strong>da</strong> cultura já vivi<strong>da</strong>, retira dotempo sua sabedoria, para construir a própria continui<strong>da</strong><strong>de</strong>. A conciliação,portanto, está em que as gerações dêem solução a seus problemas, sem o sacrifício<strong>da</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conjunto social. Ora, o ambiente é parte <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>,enquanto a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> humana nele vive e se integra. Por isso mesmo, suapreservação representa um valor em si.” (Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco/FIDEM, 1978, p.16)Apesar <strong>de</strong> o Iphan <strong>de</strong>monstrar ter acompanhado a ampliação do conceito <strong>de</strong>Patrimônio Cultural no meio internacional e nacional, tombando e registrando novas categorias <strong>de</strong>bens, não se percebe uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conduta na instituição. As políticas e os instrumentos <strong>de</strong>preservação não são assimilados por todo o corpo técnico, havendo práticas que variam quanto àcondução <strong>da</strong> qualificação do bem patrimonial.


Parte ICapítulo IIModos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> sítios urbanosPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


1 O IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONALO DECRETO-LEI Nº25 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937 que organiza a proteção dopatrimônio histórico e artístico nacional, estabeleceu o Serviço do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional (então SPHAN) e, com ele, foram abertos quatro Livros <strong>de</strong> Tombo: o Livro do TomboArqueológico, Etnográfico e Paisagístico; o Livro do Tombo Histórico; o Livro do Tombo <strong>da</strong>s BelasArtes e o Livro do Tombo <strong>da</strong>s Artes Aplica<strong>da</strong>s. Aquele documento <strong>de</strong>screve o que o constitui econdiciona estes bens a apenas serem parte integrante do patrimônio nacional se estiverem inscritosem um dos quatro Livros do Tombo. O SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacionalfoi criado com a função <strong>de</strong> executar os tombamentos e fiscalizar os serviços <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong>stesbens. Este Decreto-lei equipara o monumento natural aos <strong>de</strong>mais bens, portanto, paisagens naturaistambém foram <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente inseri<strong>da</strong>s no contexto preservacionista <strong>de</strong>sta lei. Além disso,<strong>de</strong>terminou-se que o tombamento po<strong>de</strong>ria ser aplicado voluntária ou compulsoriamente aoproprietário que po<strong>de</strong> ser um particular, a municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o Estado ou a União. O bem que estiverproposto ao tombamento, imediatamente estará protegido por esta lei, mesmo queprovisoriamente, até que seja <strong>de</strong>finitivamente incluído no Livro do Tombo correspon<strong>de</strong>nte. Essa lei<strong>de</strong>fine os efeitos do tombamento, o direito à preferência em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação.Des<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1937, a instituição promoveu o tombamento <strong>de</strong> muitos bens emtodo o Brasil, mas seu enfoque inicialmente era <strong>de</strong> monumento histórico e tombou em especialmuitas edificações religiosas e administrativas dos séculos XVII, XVIII e 1ª meta<strong>de</strong> do XIXprincipalmente. A arquitetura <strong>de</strong> estilo colonial era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a referência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> para oBrasil e, portanto, as novas influências estilísticas como o neoclassicismo, o ecletismo e a art déco


46não eram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s arquiteturas relevantes para o tombamento. Alguns <strong>de</strong>sses bens foram<strong>de</strong>molidos ou <strong>de</strong>sfigurados, bem como edificações e urbanizações mo<strong>de</strong>rnistas não tinham nenhumaferramenta <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa até pouco tempo.O IPHAN atualmente conta com 1007 bens tombados (IPHAN, 2007) dos quais 59 sãosítios históricos urbanos nacionais e 42 conjuntos urbanos <strong>de</strong> monumentos nacionais 21(BRASIL,2005). Dentre os sítios tombados po<strong>de</strong>mos citar Cachoeira, Lençóis e Salvador na Bahia; Recife eOlin<strong>da</strong> em Pernambuco; Alcântara e São Luís no Maranhão; Belém no Pará; São Cristóvão emSergipe; entre outras.2 VISIBILIDADE, AMBIÊNCIA, ENTORNO, PAISAGEM: ÁREAS TOMBADAS, CONCEITOSDIVERSOSPara o Iphan fica consi<strong>de</strong>rado como sinônimos áreas <strong>de</strong> vizinhança, ambiência etutela, como entorno. "... como conceito se refere à área que envolve o bem tombado, cujapreservação é necessária para manter sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os significados e valores atribuídos a essaárea variaram com o tempo, até o reconhecimento atual <strong>da</strong> pertinência <strong>da</strong> atribuição <strong>de</strong> valorcultural aos bens tombado." (IPHAN/UNESCO, 2007, p.11)A discussão sobre entorno se inicia na Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> 1931 e na <strong>de</strong> 1933 on<strong>de</strong> sediscutia "tratamento <strong>de</strong> vizinhança, proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e ambiência dos monumentos antigos ouhistóricos" (IPHAN/UNESCO, 2007, p.13)"A conferência recomen<strong>da</strong> respeitar, na construção <strong>de</strong> edifícios, o caráter e afisionomia <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos, cujaproximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser objeto <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>dos especiais. Em certos conjuntos, algumasperspectivas particularmente pitorescas <strong>de</strong>vem ser preserva<strong>da</strong>s. Deve-se tambémestu<strong>da</strong>r as plantações e ornamentações vegetais convenientes a <strong>de</strong>terminadosconjuntos <strong>de</strong> monumentos para lhes conservar o caráter antigo. Recomen<strong>da</strong>-se,sobretudo, a supressão <strong>de</strong> to<strong>da</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> to<strong>da</strong> presença abusiva <strong>de</strong> postes ou21 Nesse quantitativo ain<strong>da</strong> não se contabilizava o Conjunto Histórico Urbanístico e Paisagístico <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Areia (2006) e o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa (2007), bem como outros sítios tombados.


47fios telegráficos, <strong>de</strong> to<strong>da</strong> indústria ruidosa, mesmo <strong>de</strong> altas chaminés, na vizinhançaou na proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos monumentos <strong>de</strong> arte ou <strong>de</strong> <strong>história</strong>." (CARTA DE ATENAS,1931)A Carta <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong> 1933 do CIAM não tinha o mesmo teor apesar <strong>de</strong> tratartambém <strong>de</strong> vizinhança e ambiência:"A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> cortiços ao redor dos monumentos históricos <strong>da</strong>rá ocasião paracriar superfícies ver<strong>de</strong>s.É possível que, em certos casos, a <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> casas insalubres e <strong>de</strong> cortiços aoredor <strong>de</strong> algum monumento <strong>de</strong> valor histórico <strong>de</strong>strua uma ambiência secular. Éuma coisa lamentável, mas inevitável. Aproveitar-se-á a situação para introduzirsuperfícies ver<strong>de</strong>s. Os vestígios do passado mergulharão em uma ambiência nova,inespera<strong>da</strong> talvez, mas certamente tolerável, e <strong>da</strong> qual, em todo caso, os bairrosvizinhos se beneficiarão amplamente. (CP: 53 e 54)" (IPHAN/UNESCO, 2007)Nas duas Cartas a criação <strong>de</strong> um cenário mais funcional, no sentido mo<strong>de</strong>rnista, éestimulado e consi<strong>de</strong>rado como prática mais saudável e lógica para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais. Seuradicalismo reconhecia a per<strong>da</strong> “lamentável”, mas que não havia outra solução, pois se almejava <strong>da</strong>r<strong>de</strong>staque ao monumento excepcional acreditando-se em uma benfeitoria ao conjunto como umtodo.O caso do Rio <strong>de</strong> Janeiro foi guiado pelo princípio <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Atenas. O pensamentomo<strong>de</strong>rnista procurava <strong>da</strong>r a funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> nova, mo<strong>de</strong>rna e setoriza<strong>da</strong> às estruturasurbanas antigas, mesmo que isso significasse <strong>de</strong>struir casario característico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> paravalorizar o monumento com novas perspectivas visuais.[...] Outeiro <strong>da</strong> Glória, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940; <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> área significativa <strong>da</strong> Lapa,para <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> aos Arcos, nos anos <strong>de</strong> 1970; e na discussão sobre o entornodos prédios do atual Arquivo Nacional (Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>) e Casa <strong>de</strong> Deodoro, no final<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, que versou sobre a opção <strong>de</strong> se restituir a volumetria perdi<strong>da</strong>com a <strong>de</strong>molição do casario na sua vizinhança ou <strong>de</strong> se aproveitar a área <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>para criar uma superfície ver<strong>de</strong>." (IPHAN/UNESCO, 2007, p.14)A primeira fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> entorno se configura pelo pensamento mo<strong>de</strong>rnista<strong>de</strong> abrir visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao monumento tombado. E ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> se ter subentendido que a área <strong>de</strong> entornoé conseqüência do ato <strong>de</strong> tombamento do monumento isolado.“Essas áreas <strong>de</strong> ‘vizinhança <strong>da</strong> coisa tomba<strong>da</strong>’, ao longo do tempo, passaram a sertrata<strong>da</strong>s como entorno, ganhando novas conotações diante <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> noção<strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> não apenas com base nas referências internacionais, mas também eespecialmente com base nos embates judiciais travados a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1940, tendo como protagonista o IPHAN.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.19)


48“Essa visão po<strong>de</strong> ser percebi<strong>da</strong> também no parecer <strong>de</strong> Lúcio Costa para o processo<strong>de</strong> urbanização do Outeiro <strong>da</strong> Glória 22 , o qual ele consi<strong>de</strong>ra se tratar <strong>de</strong> ‘um dosproblemas paisagísticos mais importantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>’ (COSTA, 1943), propondo,inclusive, que as casas fronteiriças ao adro <strong>da</strong> igreja fossem <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>s:‘Uma visita ao Largo <strong>da</strong> Glória convencerá imediatamente <strong>da</strong> absolutainconveniência <strong>de</strong> se permitirem edificações novas naquela faixa <strong>de</strong> encosta, e <strong>de</strong>como, pelo contrário, se impõe a <strong>de</strong>molição dos velhos prédios ali existentes, afim<strong>de</strong> que a orla valoriza<strong>da</strong> do outeiro, conforme já ficou dito, se incorpore<strong>de</strong>finitivamente aos jardins. ’” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.20)O pensamento <strong>de</strong> entorno ser a conseqüência do tombamento isolado persistiu aolongo <strong>da</strong> <strong>história</strong> do Iphan. Apesar <strong>de</strong> se encontrar <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> sítios urbanos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1938,permaneceu como hábito o tombamento <strong>de</strong> monumentos isolados e entornos estabelecidos porconseqüência. Informalmente observam-se vários sítios urbanos <strong>de</strong>finidos a partir <strong>da</strong> reunião <strong>de</strong> umaquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> monumentos isolados próximos, ora com perímetro <strong>de</strong>limitado oficialmente peloIphan, ora pelo órgão estadual ou municipal.O traçado se encaixa nesta situação <strong>de</strong> relação com o objeto principal tombado.tombamentos:“A visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e vizinhança, estipula<strong>da</strong>s no DL 25/37, passaram a ter um novosentido, no qual <strong>de</strong>veria ser consi<strong>de</strong>rado o sítio <strong>de</strong> implantação, a escala dos benstombados, os estilos compatíveis a seu redor, a ‘respeitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>’ do ambiente,abrindo caminho para os trabalhos subseqüentes, com a adoção <strong>de</strong> conceitos maisamplos <strong>de</strong> entorno especialmente na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980.De maneira geral, os trabalhos apresentados <strong>de</strong>monstram que os problemasrelativos ao entorno foram mais bem sucedidos quando envolveram as prefeiturasmunicipais e que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>da</strong> atuação do IPHAN, houve investimentos nestetipo <strong>de</strong> parceria.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.11)O Iphan passa por duas fases características <strong>de</strong> enfrentamento do entorno em seus"a primeira, que se esten<strong>de</strong> até o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, caracteriza-se peloembate legal sobre a matéria, marcado por 'memoráveis batalhas judiciais' quefirmaram 'to<strong>da</strong> uma jurisprudência em torno <strong>da</strong>s noções <strong>de</strong> vizinhança evisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>' (SANT'ANNA, 1990, p.205); e a segun<strong>da</strong>, que se inicia no final <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950 e consoli<strong>da</strong>-se nos anos 80, manisfesta-se através <strong>da</strong>institucionalização dos procedimentos para a <strong>de</strong>finição dos entornos e também poruma nova abor<strong>da</strong>gem, incluindo a publicação <strong>de</strong> portarias <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong>Instituição, <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> alguns entornos e sua normatização, assim como <strong>da</strong>realização <strong>de</strong> seminários, no IPHAN, para <strong>de</strong>bater o tema” (IPHAN/UNESCO, 2007,p.14)22 “ Em 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1943, o prefeito do então Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Henrique Dodsworth, encaminhou um pedido<strong>de</strong> parecer ao SPHAN (processo n°.8979/943), referente ao anteprojeto <strong>de</strong> esca<strong>da</strong>ria e rampa monumental <strong>de</strong>acesso à Igreja, elaborado pela Comissão do Plano <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Secretária Geral <strong>de</strong> Viação e Obras <strong>da</strong>Prefeitura, no qual constava também a construção <strong>de</strong> prédios <strong>de</strong> apartamentos <strong>de</strong> até 10 an<strong>da</strong>res na áreacompreendi<strong>da</strong> entre o Largo <strong>da</strong> Glória e a la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> acesso ao adro <strong>da</strong> igreja.” (IPHAN/UNESCO,Nota <strong>de</strong>ro<strong>da</strong>pé, 2007, p.20)


49A retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> discussão sobre o entorno retorna na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960. A Carta <strong>de</strong>Veneza “é a que po<strong>de</strong> ser aponta<strong>da</strong> como o marco para a preservação <strong>da</strong>s áreas envoltórias dosmonumentos, tornando-se referência para a atuação dos órgãos <strong>de</strong> preservação no Brasil duranteum longo período.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.15)“As noções <strong>de</strong> ‘civilização particular’, ‘evolução significativa’, ‘obras mo<strong>de</strong>stas’ e‘significação cultural’, assim como <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> relação inseparável <strong>de</strong>ssasobras com o meio em que se situam, foram fun<strong>da</strong>mentais para a ampliação <strong>da</strong>noção <strong>de</strong> patrimônio e <strong>da</strong> adoção do conceito <strong>de</strong> ambiência adotados no Brasil nas<strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1970 e 1980.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.15)A Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi <strong>de</strong> 1976 <strong>de</strong>finiu um conceito <strong>de</strong> ambiência:tempo presente:“Enten<strong>de</strong>-se por ‘ambiência’ dos conjuntos históricos ou tradicionais o quadronatural ou construído que influi na percepção estática ou dinâmica <strong>de</strong>ssesconjuntos, ou a eles se vincula <strong>de</strong> maneira imediata no espaço, ou por laços sociais,econômicos ou culturais.”A Carta <strong>de</strong> Washington abre o tema <strong>de</strong> permitir que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> também faça parte do“… tem como princípio que faz parte do <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social doscentros urbanos a preservação <strong>de</strong> valores, que são constituídos pelo caráterhistórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e por um conjunto <strong>de</strong> elementos materiais e espirituais queexpressam sua imagem. Dentre esses elementos, estão ‘d) as relações <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>com seu entorno natural ou criado pelo homem” *…+. Consi<strong>de</strong>ra, ain<strong>da</strong>, apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novas edificações, mesmo que <strong>de</strong> carátercontemporâneo, ‘<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não pertube a harmonia do conjunto’ e respeite ‘aorganização espacial existente, especialmente seu parcelamento, volume e escala,nos termos em que o impõem a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o valor do conjunto <strong>da</strong>s construçõesexistentes”. (IPHAN/UNESCO, 2007, p.16)Dentre as fases vivi<strong>da</strong>s pelo Iphan diante <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem do entorno, apenas em 1986é que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> se torna rotineira, no entanto, seu respaldo metodológico ain<strong>da</strong> é incipiente,justificado pela urgência <strong>de</strong> ação diante <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> transformação que as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras viviamnesse período:“Nesse período, além <strong>da</strong>s tensões provenientes <strong>da</strong>s transformações que ain<strong>da</strong>ocorriam nas gran<strong>de</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, novos problemas surgiram com o crescimento <strong>da</strong>speriferias <strong>da</strong>s pequenas, provocados pelo êxodo rural ou em função do turismo. Emmuitos casos, as áreas <strong>de</strong> entorno foram estabeleci<strong>da</strong>s em caráter emergencialcomo referencial para a aprovação <strong>de</strong> projetos, sem sua formalização em atosadministrativos tramitados conforme as <strong>de</strong>terminações administrativas. Tratava-se<strong>de</strong> um esforço para a aplicação <strong>de</strong> critérios técnicos coerentes para as aprovações<strong>de</strong> projetos na vizinhança <strong>de</strong> um mesmo bem tombado, isonômicos para oconjunto dos moradores e usuários, enquanto estudos mais <strong>de</strong>talhados não fossem<strong>de</strong>senvolvidos ou os trâmites burocráticos não fossem concluídos.”(IPHAN/UNESCO, 2007, p.10)


50A falta <strong>de</strong> respaldo metodológico provocou embaraços administrativos, inclusivelevando a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> causas judiciais. O trabalho dos técnicos do IPHAN voltava-se para oacompanhamento e incentivo do ingresso do po<strong>de</strong>r local na política <strong>de</strong> preservação. Uma <strong>da</strong>s formasem que isso se concretizou com o ato do Diretor do Departamento Geral <strong>de</strong> Edificações do Rio <strong>de</strong>Janeiro, referente ao caso do Outeiro <strong>da</strong> Glória, através do incentivo do IPHAN abrindo mão <strong>de</strong> editaro documento, solicitando ao órgão local. Outros instrumentos municipais reforçaram essepensamento como o Código <strong>de</strong> Obras.“Os esforços do IPHAN foram dirigidos para a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conjuntospaisagísticos, enfocando os morros do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Constatam-se apenas duasexceções: o estudo <strong>da</strong>s ruas Sorocaba e <strong>da</strong>s Palmeiras, em Botafogo (Portaria 29,<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1980), e o estudo <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Praça 15 <strong>de</strong> Novembro. O estudo<strong>de</strong> Botafogo foi consoli<strong>da</strong>do, limitando-se os gabaritos na região por meio <strong>de</strong>Portaria do Diretor do IPHAN, e o estudo <strong>da</strong> Praça 15, iniciado em 1979 e que seesten<strong>de</strong>u ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, resultou no tombamento <strong>da</strong> área.”(IPHAN/UNESCO, 2007, p.34)A Portaria n°. 08 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980 23 (BRASIL, 1980), tratando <strong>de</strong> monumentosisolados muito próximos, estabeleceu para o conjunto altura máxima <strong>da</strong>s edificações em proteçãoaos monumentos e à visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e à ambiência. Sua <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> altura <strong>de</strong> edifícios se <strong>de</strong>uatravés <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> rua, relacionando a altura máxima permiti<strong>da</strong>. A Portaria não trazia imagensou mapas:“Rua Santo Amaro1- Do início do logradouro até uma distância <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 510,00m <strong>de</strong>ste eque correspon<strong>de</strong> aos n.°s 133 e 144 inclusive, a altura máxima permiti<strong>da</strong> paraedificação é <strong>de</strong> 30,00m, medi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> soleira.2- No trecho do logradouro entre este ponto, distante 510,00, contados do início<strong>de</strong>ste e que correspon<strong>de</strong> aos n.°s 133 e 144 inclusive, e outro, distante 610, 00mdo mesmo início e que correspon<strong>de</strong> ao n.° 184 e o terreno contíguo e acima ao165 inclusive, a altura máxima permiti<strong>da</strong> para edificação é <strong>de</strong> 24,00m, medi<strong>da</strong> apartir <strong>da</strong> soleira.” (IPHAN/UNESCO, 2007)A Portaria 002 <strong>de</strong> 1986 trata sobre construções, reformas e acréscimos nas áreas <strong>de</strong>entorno <strong>de</strong> 11 monumentos isolados, <strong>de</strong>fine poligonais (áreas A, B, C, D e E) on<strong>de</strong> são estabeleci<strong>da</strong>sregras comuns a estes setores. É importante observar que as áreas <strong>de</strong> entorno não se enquadravamcomo tomba<strong>da</strong>s.23 “Resolve fixar gabaritos que <strong>de</strong>finem a altura máxima <strong>da</strong>s edificações <strong>da</strong>s construções nas imediações dosmonumentos Casa <strong>da</strong> Rua do Catete n.° 6, a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Glória do Outeiro, o Passeio Público, oPasseio Público, a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora do Carmo <strong>da</strong> Lapa do Desterro, o Aqueduto <strong>da</strong> Carioca e o Conventoe Igreja <strong>de</strong> Santa Teresa.


51“A região possuía nove bens tombados pelo IPHAN, o que motivou a proposta <strong>de</strong>utilizar o instrumento do entorno como <strong>de</strong>fesa do conjunto urbano. Tratava-se <strong>da</strong>preservação sem tombamento, utilizando pólos <strong>de</strong>limitados <strong>de</strong> entorno. Depois dolevantamento e <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> referências para a valorização do conjunto <strong>de</strong>imóveis, <strong>de</strong>u-se a limitação <strong>de</strong> gabaritos <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestimular as<strong>de</strong>molições e indiretamente alcançar a preservação do bairro – o chamado’tombamento branco’. Destaca-se neste trabalho uma visão <strong>de</strong> preservação comoum processo, envolvendo convencimento e educação patrimonial, pois previa ainstalação <strong>de</strong> um escritório técnico na região que atuasse no sentido <strong>de</strong> orientar osmoradores nas reformas e na manutenção dos imóveis.” (IPHAN/UNESCO, p.34,2007)Uma limitação <strong>da</strong> gestão, <strong>de</strong>vido ao escritório técnico não ter sido instituído, impediuque o conceito <strong>de</strong> entorno para a preservação <strong>de</strong> uma área não cumprisse sua função como umtodo, pois não impedia a <strong>de</strong>molição. Assim, estabeleceu-se uma lacuna que limitava a preservaçãodo conjunto.“A relação entre a preservação <strong>de</strong> imóveis históricos no Centro do Rio <strong>de</strong> Janeiro eas idéias <strong>de</strong> transformação urbanística vinham sendo modifica<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, após um tratamento <strong>de</strong>nominado ’urbanização rodoviarista’ porLeonardo Mesentier (1992), através do qual várias intervenções foramresponsáveis pela mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> paisagem tradicional do Rio, tendo sido feitas ‘àrevelia do Dphan’. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, essa relação começava a mu<strong>da</strong>r apartir <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> prefeitura e <strong>da</strong> pressão <strong>da</strong>s associações <strong>de</strong> moradores, doscomerciantes, além <strong>da</strong> atuação <strong>de</strong> outros setores, como artistas e representantesdo turismo, no sentido <strong>de</strong> valorizar a preservação <strong>de</strong> imóveis e conjuntoshistóricos. A preocupação também do IPHAN com áreas do Centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> situasenesse contexto <strong>de</strong> ‘renovação preservacionista’, que se caracterizava, segundoMesentier, por uma nova postura <strong>da</strong> Prefeitura, que começava a estabelecer<strong>de</strong>cretos que limitavam gabaritos e impediam a reunificação <strong>de</strong> lotes, apontandopara um consenso entre o po<strong>de</strong>r público e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil (Ibid., p.57)”(IPHAN/UNESCO, 2007, p.35)O incentivo à criação <strong>de</strong> órgãos estaduais e municipais para complementar a atuaçãodo trabalho <strong>de</strong> conservação do Iphan foi uma <strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s toma<strong>da</strong>s para reduzir essas lacunas napreservação dos sítios históricos. O trabalho do Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> Sítios Históricos <strong>da</strong> RegiãoMetropolitana do Recife apresenta a justificativa para a criação dos órgãos e instituições estaduais emunicipais para a preservação do patrimônio cultural local.“De modo geral, verifica-se insuficiência <strong>de</strong> recursos financeiros, para proteger osmonumentos nacionais, e a impotência legal, para impedir a construçãoindiscrimina<strong>da</strong> na vizinhança <strong>de</strong>les. Enquanto isso, assiste-se, sob protestos semeco, a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> valiosos marcos <strong>da</strong> <strong>história</strong> nacional e regional. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,não seria possível ao IPHAN, <strong>de</strong>vido às suas limitações, promover o inventário <strong>de</strong>todos os bens <strong>de</strong> valor histórico, artístico, arqueológico e paisagístico, em âmbitonacional, nem realizar os estudos e pesquisas necessários à <strong>de</strong>claração dotombamento <strong>de</strong>sses bens. Menores condições ain<strong>da</strong> o teria <strong>de</strong> promover efiscalizar a proteção <strong>de</strong> tal acervo.” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/FIDEM, 1978,p.10)


52“Assim, ante as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que enfrentaria o IPHAN, para ampliar suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<strong>de</strong> forma a abranger o patrimônio histórico local e regional, e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>imperiosa <strong>de</strong> salvaguardá-lo, suce<strong>de</strong>m-se recomen<strong>da</strong>ções sobre a criação <strong>de</strong>órgãos que a nível estadual e municipal, tenham por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> específica apreservação dos bens culturais. Nesse sentido, convergem documentos editadospela UNESCO, organização internacional a que o Brasil é filiado, e documentosnacionais, firmados por autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais e estaduais, liga<strong>da</strong>s às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>preservação, tais como Ministros <strong>da</strong> Educação e Cultura, Governadores <strong>de</strong> Estado,Secretários Estaduais <strong>de</strong> Educação e Presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Conselhos Estaduais <strong>de</strong>Cultura. Do ‘Compromisso <strong>de</strong> Brasília’ (1970) e do ‘Documento <strong>de</strong> Salvador’ (1972)– por exemplo, representantes do Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco foramsignatários.” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.10)Após <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas através <strong>de</strong> seminários foi instituído o processo<strong>de</strong> entorno “que organizaria administrativamente os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação e regulamentação dosentornos.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.35)Os planos diretores foram instrumentos importantes para a preservação através do“envolvimento <strong>de</strong> outras instâncias <strong>de</strong> governo na preservação do patrimônio brasileiro” –valorizando o turismo.“O alvo do governo era o uso econômico do patrimônio cultural com ênfase noturismo. *…+ Embora sejam poucas as referências explícitas ao tema do entorno,este estava implícito diante <strong>da</strong> visão integra<strong>da</strong> que haviam trazido, basea<strong>da</strong> naexperiência européia do planejamento urbano e territorial, assim como na Carta <strong>de</strong>Veneza. Associavam as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os monumentos à paisagem e ao território <strong>de</strong> suaimplantação.Em ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s menores, como Parati e Alcântara, Parent propunha a criação <strong>de</strong>perímetros concêntricos <strong>de</strong> proteção. Sugeria o estabelecimento <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>snon aedificandi, caracteriza<strong>da</strong>s por critérios rigorosos <strong>de</strong> contenção do crescimentourbano e outras áreas vizinhas mais flexíveis, com <strong>de</strong>senvolvimento horizontal evertical planejados antecipa<strong>da</strong>mente.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.26)O Compromisso <strong>de</strong> Salvador <strong>de</strong> 1971 recomen<strong>da</strong> a criação <strong>de</strong> legislaçãocomplementar para aten<strong>de</strong>r ao conceito <strong>de</strong> ambiência, ampliando o conceito <strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do bemtombado.Como signatário dos dois compromissos 24 , o Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, embusca dos recursos financeiros do Programa Integrado <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s Históricas do Nor<strong>de</strong>ste com aconsultoria do IPHAN, encarava a revitalização dos centros históricos “como um dos elementos <strong>de</strong>sustentação do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento socio-econômico <strong>da</strong> Região Metropolitana <strong>de</strong> Recife”(GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO in IPHAN/UNESCO, 2007).24Compromisso <strong>de</strong> Brasília <strong>de</strong> 1970: I Encontro <strong>de</strong> Governadores <strong>de</strong> Estado, Secretários Estaduais <strong>da</strong> ÁreaCultural, Prefeitos <strong>de</strong> Municípios Interessados, Presi<strong>de</strong>ntes e Representantes <strong>de</strong> Instituições Culturais; e oCompromisso <strong>de</strong> Salvador <strong>de</strong> 1971.


53“A idéia <strong>de</strong> sítio histórico não abarcava somente os monumentos excepcionais, nãorepresentando ‘unicamente um bem cultural, senão um notável bem econômico eurbanístico <strong>de</strong> valor inestimável, porquanto insubstituível’Nesse Plano também não era feita referência explícita a entorno, porque o sítiohistórico era visto como um conjunto específico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Baseando-se nasNormas <strong>de</strong> Quito, a área foi <strong>de</strong>limita<strong>da</strong> em dois tipos <strong>de</strong> zonas, as <strong>de</strong> preservaçãorigorosa (ZPR) e as <strong>de</strong> preservação ambiental (ZPA), <strong>de</strong> forma que:‘… as Zonas <strong>de</strong> Preservação Rigorosas <strong>de</strong>marcam áreas em que as construçõespermiti<strong>da</strong>s não interferem na percepção visual do monumento, tanto pelo volumeocupado como pelos materiais utilizados… (nelas) somente serão permiti<strong>da</strong>s obras<strong>de</strong> conservação, restauração e reforma… (Já nas Zonas <strong>de</strong> Preservação Ambiental)serão disciplina<strong>da</strong>s as alturas dos edifícios e sua forma <strong>de</strong> ocupação no terreno.’(Ibid.,p .22)” (IPHAN/UNESCO, 2007,p.29)O Plano Urbanístico para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Cristóvão (que teve seu Centro Históricotombado em 1968) dividiu as áreas preserva<strong>da</strong>s em três setores:1. “Setor Central ou <strong>de</strong> Preservação Integral (SC): zona <strong>de</strong> maiorhomogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> monumental;2. Setor intermediário ou <strong>de</strong> Preservação Ambiental (SI): zona <strong>de</strong>transição para as áreas mais novas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>;3. Setor Periférico ou <strong>de</strong> Preservação <strong>da</strong> Visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e Paisagem (SP):“área relativamente nova, <strong>de</strong> pequena ocupação, cuja utilização está sujeitaa normas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a assegura visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e emolduramento paisagísticodo núcleo antigo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. (Plano…, 1980, p.66)” (IPHAN/UNESCO, 2007,p.30)A socie<strong>da</strong><strong>de</strong> urbana e os agentes <strong>da</strong> especulação imobiliária pressionaram oIPHAN e outras instituições <strong>de</strong> preservação a atuar <strong>de</strong> modo mais claro e eficaz, ca<strong>da</strong> qual com seusinteresses, aquela i<strong>de</strong>ntificando a preservação do patrimônio cultural como prece<strong>de</strong>nte para aquali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e estes buscando uma maior transparência nas <strong>de</strong>cisões toma<strong>da</strong>s pelas instituições<strong>de</strong> preservação.O início <strong>da</strong> estruturação dos procedimentos internos foi marcado por doisseminários em 1983. No Primeiro Seminário sobre Entornos dos Monumentos Tombados “foramenfocados os <strong>de</strong>veres e competências do IPHAN quanto às limitações do direito <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>conseqüentes <strong>da</strong> preservação <strong>de</strong>ssas áreas, <strong>de</strong>stacando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecerem critériostécnicos e métodos para essa atuação e, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong> se trabalhar em conjunto com prefeituras ecomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.36)Durante este seminário houve a primeira <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> situações típicas vivi<strong>da</strong>spelo IPHAN ao longo <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong> instituição. Definiram-se situações típicas <strong>de</strong> entorno para <strong>de</strong>finirseus métodos específicos:1. “o monumento é apenas um documento sem mais nenhuma relação com oambiente envoltório;


542. o monumento com entorno <strong>de</strong> arquitetura <strong>de</strong>scaracteriza<strong>da</strong>, mas que ain<strong>da</strong>mantém volumetria compatível;3. o monumento ambientado;4. a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou núcleo histórico;5. o edifício isolado na paisagem.” (IPHAN/UNESCO, 2007)A análise feita pelo próprio IPHAN sobre essa classificação indicou serinsuficiente:“Embora essa classificação seja um interessante indicativo metodológico para seiniciar uma abor<strong>da</strong>gem sistemática dos entornos, no geral, o documento resultantedo seminário não abordou referenciais conceituais relacionados ao tema, po<strong>de</strong>ndoser consi<strong>de</strong>rado, aos olhos <strong>de</strong> hoje, falho. *…+ a consciência <strong>de</strong> que a área <strong>de</strong>proteção aos bens tombados se tratava <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong> planejamento global e,portanto, <strong>de</strong> caráter político, pois que envolvia as administrações locais. Na parteem que abor<strong>da</strong> o relacionamento <strong>da</strong> SPHAN com os po<strong>de</strong>res estaduais emunicipais, é <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>, no documento, a situação i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> um planejamento <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que leve em consi<strong>de</strong>ração medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> preservação” (IPHAN/UNESCO, 2007)O levantamento feito pelo Iphan sobre os usos <strong>da</strong> figura do entorno em registrosencontrados no Arquivo Central <strong>da</strong> instituição <strong>de</strong> 1986 a 2003 (Quadro 02) trouxeram os seguintesnúmeros:Quadro 02 – Levantamento do uso <strong>da</strong> figura <strong>de</strong> entorno nos registros do Arquivo Central doIphanSPHAN (Secretaria doMinC)IBPC (MinC comoSecretaria <strong>de</strong> Cultura)Período Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bens tombados1985-1990 41 bens tombados 80 bens imóveis – 45 fazemmenção a entorno – <strong>de</strong>stes23 discutem a <strong>de</strong>limitação1990-1994 5 bens tomados <strong>da</strong> área <strong>de</strong> entorno e 22fazem algum tipo <strong>de</strong>referênciaIPHAN 1994- 41 bens tombadosFonte: (IPHAN/UNESCO, 2007)O entorno como instrumento <strong>de</strong> preservação precisava ser <strong>de</strong>finido e diferenciadodo tombamento – dois instrumentos com a mesma função preservacionista, mas com mecanismosdiferentes.“Por vezes, houve ocasiões em que foi discutido qual o melhor enquadramentopara a área, se tombamento ou entorno. *…+ A utilização do entorno para as áreascircun<strong>da</strong>ntes do perímetro tombado *…+ era encara<strong>da</strong> como um recuo <strong>da</strong> SPHAN,pois, apesar <strong>de</strong> haver dois caminhos – ‘manter o tombamento original e consi<strong>de</strong>rara área dos morros como entorno ou vizinhança estabelecendo normas para a suaocupação, ou tombar a área dos morros, estabelecendo, <strong>da</strong> mesma forma , normaspara sua ocupação’ -, privilegiava-se o tombamento: ‘…o tombamento é uminstrumento <strong>de</strong> maior comprometimento <strong>da</strong> SPHAN’ (MOTTA< 1988)”(IPHAN/UNESCO, 2007)


55A preferência por entorno como instrumento <strong>de</strong> proteção era mais empregadoquando se tinha a intenção <strong>de</strong> permitir a expansão urbana com menos restrição do que otombamento.Foram i<strong>de</strong>ntificados 5 critérios diferentes para <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> área <strong>de</strong> entorno:1. De escala e ambiência – “aquele que enfatiza a ambiência, o não amesquinhamentodo monumento e a visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>.”“A ênfase na escala e no aspecto visual foi encontrado em dois processosreferentes a bens tombados no Estado do Ceará: Icó e Sobral. Apesar do estudoexaustivo, que leva em conta também o contexto histórico do sítio urbano, oobjetivo final é manter a relação <strong>de</strong> escala com o bem tombado. É o caso doProcesso 0968-T-98, <strong>de</strong> Icó (CE): ‘… Já as quadras incluí<strong>da</strong>s no entorno do MercadoPúblico e <strong>da</strong> Igreja do Rosário servirão para proteger <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s relações <strong>de</strong>escala, altura e ocupação que preservam os traços básicos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> urbanaque ambientam esses monumentos… (SANT’ANNA, 1985)” (IPHAN/UNESCO, 2007)2. Contexto histórico e paisagístico – além <strong>da</strong> proteção <strong>de</strong> escala e ambiência do bemtombado, esses processos apresentaram relações históricas e paisagísticas doentorno com o bem tombado. (IPHAN/UNESCO, 2007, p.43)“E, ain<strong>da</strong> para Laranjeiras (SE), Processo 1288 –T-89, ‘o entorno é instrumentocontextualizado que amplia as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura dos significados históricose, conseqüentemente, do valor documental dos bens tombados”. (IPHAN/UNESCO,2007, p.44)3. Legal – é aplicado a processos sem justificativa apresenta<strong>da</strong> para a <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>área <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> no tombamento:“É o caso do tombamento <strong>da</strong> Base Aérea <strong>de</strong> Santa Cruz: Hangar e Zepelin, no Rio <strong>de</strong>Janeiro (Processo 0994 –T-78), para o qual a área <strong>de</strong>marca<strong>da</strong> <strong>de</strong> entorno ficou<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> em 500 metros ao redor do hangar sem explicação dos critériosadotados.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.44)4. Área <strong>de</strong> proteção – apenas um caso – “… lança mão <strong>da</strong> figura do entorno como umaárea <strong>de</strong> proteção ‘… <strong>da</strong> ambiência do acervo vegetal do parque do Museu, <strong>de</strong>vido àdiminuição do período <strong>de</strong> insolação a que o mesmo está sujeito e também pelamu<strong>da</strong>nça no regime <strong>de</strong> ventos, ambos provocados pela construção <strong>de</strong> edifícios altosna sua vizinhança imediata. (DERENJI, 1989)” (IPHAN/UNESCO, 2007)5. Caso peculiar – O caso <strong>da</strong> Igreja <strong>da</strong> Venerável Or<strong>de</strong>m Terceira do Carmo e Painéis doPadre Jesuíno <strong>de</strong> Monte Carmelo, em São Paulo, Processo 1176-T-85, que possuíapartes sem interesse ao tombamento:


56“‘… enten<strong>de</strong>mos, assim, como solução para o caso, uma proposta ain<strong>da</strong> nãoutiliza<strong>da</strong> em situações congêneres: a <strong>de</strong> usarmos o expediente <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>‘entorno’, consi<strong>de</strong>rando como tal as três frontarias e mais os acréscimos existentesà direita <strong>da</strong> igreja. Indicamos, portanto, a seguinte re<strong>da</strong>ção para a preservação<strong>de</strong>stes acervos: ‘Igreja <strong>de</strong> Santa Tereza <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Terceira do Carmo <strong>de</strong> São Paulo,restrita à frontaria, à nave, capela-mor, sacristia, biblioteca e sala <strong>de</strong> reuniões,especialmente a obra pictórica do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, obra <strong>de</strong> talha,imaginária e pinturas aí localiza<strong>da</strong>s, assim como o acervo <strong>de</strong> bens móveis e oarquivo <strong>da</strong> confraria. O tombamento inclui o conjunto <strong>de</strong> 18 painéis do PadreJesuíno, provenientes do antigo recolhimento <strong>de</strong> Santa Teresa. As frontarias eposterior, assim como os anexos existentes à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> igreja constituem seuentorno… (TELLES, 1996)” (IPHAN/UNESCO, 2007)To<strong>da</strong> essa discussão sobre entorno faz-se perceber que as <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> poligonaistambém recaem sobre este tipo <strong>de</strong> instrumento, ou seja, uma poligonal 25 po<strong>de</strong> servir para<strong>de</strong>terminar uma área tomba<strong>da</strong> ou uma área <strong>de</strong> entorno.“O que distingue então as áreas tomba<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> entorno é o valor atribuídoa ca<strong>da</strong> uma. A área <strong>de</strong> entorno será <strong>de</strong> referência para a compreensão <strong>da</strong> coisatomba<strong>da</strong>, cabendo, então, parâmetros <strong>de</strong> proteção apropriados ao valor <strong>de</strong>entorno, sempre a<strong>de</strong>quados ao valor atribuído.” (IPHAN/UNESCO, 2007, p.52)25 “Normalmente as áreas <strong>de</strong> entorno são <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>s por poligonais <strong>de</strong>scritas utilizando ruas, incluindo oslotes que para elas se abrem ou cotas <strong>da</strong> topografia. Também são usa<strong>da</strong>s linhas imaginárias que se ligam pormeio <strong>de</strong> pontos geográficos <strong>de</strong> referência.” (p.46) (IPHAN/UNESCO,p.46, 2007)


572.1 Inventários <strong>de</strong> conhecimento: INRC e Inbi-suNo Brasil se reconhece como primeiro inventário o realizado por Sylvio <strong>de</strong>Vasconcellos em Ouro Preto no ano <strong>de</strong> 1948 (BRASIL, 2001), mas a valorização e sistematização <strong>da</strong>pesquisa metodológica sobre o inventário se consoli<strong>da</strong>ram na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, quando tambémocorreu o processo <strong>de</strong> regionalização <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> preservação pelo Brasil, marca<strong>da</strong> por trêsinventários realizados por órgãos estaduais: Ipac na Bahia, Inepac no Rio <strong>de</strong> Janeiro e Fi<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Pernambuco. Foram inventários <strong>de</strong> edificações e conjuntos históricos.Inicia-se uma fase no Iphan, on<strong>de</strong> se estabelece uma nova abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> pesquisa apartir <strong>da</strong>s coor<strong>de</strong>nações regionais 26 que vivenciavam “<strong>de</strong> perto as limitações dos critérios <strong>de</strong>seleção, empregados pela instituição”. (MOTTA&SILVA, 1998)“Nesses inventários foram empregados métodos e recortes temáticos diferentes,produzindo um acúmulo significativo <strong>de</strong> informações sobre os bens culturais, comfotos, <strong>de</strong>senhos <strong>da</strong>s edificações, mapas, plantas ca<strong>da</strong>strais, informaçõesbibliográficas e arquivísticas e <strong>da</strong>dos sócio-econômicos. Além <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> métodos, verificou-se nas pesquisas, a tendência <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r nummesmo inventário diversos tipos <strong>de</strong> bens – móveis, imóveis, fazeres culturais etc.”(MOTTA&SILVA, 1998, p. 17)Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 e 1990 o Iphan registra a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> áreas em sítios urbanossobre inventários em escalas já mais amplas, em que po<strong>de</strong> se encontrar escala <strong>de</strong> bairro, <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>/município, região ou estado como exemplifica através dos títulos <strong>de</strong> inventários propostos pelascoor<strong>de</strong>nações regionais: Inventário <strong>da</strong> imigração alemã em Santa Catarina, Inventário <strong>da</strong> arquiteturamo<strong>de</strong>rna em São Paulo. (MOTTA&SILVA, 1998)“Quanto à forma <strong>de</strong> coleta, constatou-se que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s propostas adotacritérios estritamente arquitetônicos e estilísticos, na seleção dos bens a sereminventariados. Apenas 28% dos métodos incluem algum tipo <strong>de</strong> consulta ouenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a i<strong>de</strong>ntificação dos bens. *…+ Concluindo, foipossível i<strong>de</strong>ntificar, com base nesse primeiro levantamento dos inventários, que oIPHAN vem trabalhando no sentido <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r à nova <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dopatrimônio, especialmente nas regiões on<strong>de</strong> o acervo tombado é pouco numeroso.Entretanto, fica constata<strong>da</strong> a inexistência <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> inventários nainstituição, pois essas ações, até o momento, vêm se <strong>da</strong>ndo <strong>de</strong> forma dispersa eheterogênea. As informações coleta<strong>da</strong>s não são previstas <strong>de</strong> maneira a integrar um26 “Estando próximas dos acervos e <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s envolvi<strong>da</strong>s, as regionais sentiram necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>respon<strong>de</strong>r às novas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s em relação à proteção <strong>de</strong> ‘outros patrimônios’ ain<strong>da</strong> não reconhecidos,recorrendo ao registro <strong>de</strong> suas características como forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar seu valor.” (MOTTA&SILVA, 1998)


58sistema <strong>de</strong> informações do IPHAN, possibilitando seu intercâmbio. Uma políticainstitucional <strong>de</strong>verá formular conceitos e critérios claros, prevendo a criação <strong>de</strong> umsistema <strong>de</strong> informações e oferecendo o apoio financeiro, material e humanonecessário para que essas ações possam se realizar <strong>de</strong> forma sistemática econtínua.” (MOTTA&SILVA, 1998, p. 21)Diante <strong>de</strong>ssa conjuntura o Iphan envere<strong>da</strong> em pesquisas persistentes sobre ametodologia <strong>de</strong> inventário e lança manuais <strong>de</strong> inventários no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 e início <strong>da</strong> <strong>de</strong>2000: INBA (Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Arquitetônicos), INRC (Inventário Nacional <strong>de</strong> ReferênciasCulturais), INBI-SU (Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis – Sítios Urbanos), entre outros. Essesmanuais sempre são marcados pelo pensamento corrente sobre o patrimônio e suas formas <strong>de</strong>abor<strong>da</strong>gem, trazendo sempre textos introdutórios <strong>de</strong> autores como Márcia Chuva 27 , Lia Motta 28 ,Cecília Londres 29 e Sônia Rabello.O INRC, como introdutor <strong>de</strong> uma metodologia que consi<strong>de</strong>ra tanto o patrimôniomaterial quanto o imaterial, para a condução ou não ao tombamento ou registro respectivamente, é<strong>de</strong>finido por:“O INRC é, antes, um instrumento <strong>de</strong> conhecimento e aproximação do objeto <strong>de</strong>trabalho do IPHAN, configurado nos dois objetivos principais que <strong>de</strong>terminaramsua concepção:1. i<strong>de</strong>ntificar e documentar bens culturais, <strong>de</strong> qualquer natureza, para aten<strong>de</strong>r à<strong>de</strong>man<strong>da</strong> pelo reconhecimento <strong>de</strong> bens representativos <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> eplurali<strong>da</strong><strong>de</strong> culturais dos grupos formadores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; e2. apreen<strong>de</strong>r os sentidos e significados atribuídos ao patrimônio cultural pelosmoradores <strong>de</strong> sítios tombados, tratando-os como intérpretes legítimos <strong>da</strong> culturalocal e como parceiros preferenciais <strong>de</strong> sua preservação.” (Corsino in BRASIL, 2000)Com a elaboração do instrumento <strong>de</strong> tombamento em 1937, a base <strong>de</strong> justificativasse <strong>da</strong>va através <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual e moral dos mo<strong>de</strong>rnistas que tocavam a fase inicial doIPHAN.“De um lado se tinha a cultura “oficial” referi<strong>da</strong> a um passado “morto”, que eramuseificado. De outro, se verificava a absorção acrítica dos valores exógenos, <strong>da</strong>mo<strong>de</strong>rnização, <strong>da</strong> tecnologia e do mercado. A reação a esse processo <strong>de</strong>via serbusca<strong>da</strong> na cultura, domínio do particular, <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas não na cultura“morta” do patrimônio do passado, referências concretas porém estáticas edistantes <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Era preciso buscar as raízes vivas <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>nacional exatamente naqueles contextos e bens que o SPHAN excluíra <strong>de</strong> suaativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, por consi<strong>de</strong>rar estranhos aos critérios (histórico, artístico, <strong>de</strong>excepcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>) que presidiam os tombamentos.” (BRASIL, 2000, p. 16)27 Servidora do Iphan <strong>da</strong> COPEDOC (Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Pesquisa e Documentação)28 Servidora do Iphan e Coor<strong>de</strong>nadora <strong>da</strong> COPEDOC (Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Pesquisa e Documentação)29 Socióloga, membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan


59A mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> política <strong>de</strong> valores adota<strong>da</strong> para a seleção <strong>de</strong> bens culturais semodificou com as reavaliações realiza<strong>da</strong>s sobre a prática <strong>de</strong> preservação emprega<strong>da</strong> até então.Inicia-se a fase <strong>de</strong> políticas culturais, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surge o termo ‘referências culturais’:“Quando se fala em ‘referências culturais’, se pressupõem sujeitos para os quaisessas referências façam sentido (referências para quem?). Essa perspectiva veio<strong>de</strong>slocar o foco dos bens – que em geral se impõem por sua monumentali<strong>da</strong><strong>de</strong>, porsua riqueza, por seu (peso) material e simbólico – para a dinâmica <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong>sentidos e valores. Ou seja, para o fato <strong>de</strong> que os bens culturais não valem por simesmos, não têm um valor intrínseco. O valor lhes é sempre atribuído por sujeitosparticulares e em função <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados critérios e interesses historicamentecondicionados. Leva<strong>da</strong> às últimas conseqüências, essa perspectiva afirma arelativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer processo <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> valor – seja valor histórico,artístico, nacional, etc. – a bens, e põe em questão os critérios até então adotadospara a constituição <strong>de</strong> ‘patrimônios culturais’, legitimados por disciplinas como a<strong>história</strong>, a <strong>história</strong> <strong>da</strong> arte, a arqueologia, a etnografia, etc.*…+ Relativizando ocritério do saber, chamava-se a atenção para o papel do po<strong>de</strong>r.” (BRASIL, 2000)O INBI-SU (BRASIL, 2001) trouxe como objetivos “apoiar os trabalhos <strong>de</strong>planejamento e atualização <strong>da</strong>s intervenções, contribuindo diretamente para o estabelecimento <strong>de</strong>critérios e parâmetros <strong>de</strong> preservação”. Consi<strong>de</strong>rando também como função dos inventários“constituir-se em uma ação <strong>de</strong> preservação do patrimônio, na medi<strong>da</strong> em que conservam em outrossuportes as informações conti<strong>da</strong>s nos bens culturais, permitindo o acesso e a produção <strong>de</strong>conhecimento sobre os mesmos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos seus suportes originais” (BRASIL, 2001).O INBI-SU foi tratado como importante “instrumento para a ação institucional” queiria “reunir e sistematizar as informações sobre esses bens, coleta<strong>da</strong>s a partir dos levantamentos <strong>de</strong>campo, dos levantamentos <strong>de</strong> fontes documentais, e sobre a <strong>história</strong> <strong>de</strong> atuação do IPHAN” (BRASIL,2001). Na Paraíba, essa metodologia foi aplica<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Areia, no trabalho realizado antes dotombamento do conjunto urbano, respal<strong>da</strong>ndo a instrução do processo <strong>de</strong> tombamento.A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sítio urbano emprega<strong>da</strong> pelo Iphan nesse período foi a seguinte:“… resultado do processo histórico <strong>de</strong> apropriação do território, que <strong>de</strong>fine aconsoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> um espaço, integrado a fenômenos que o relacionam a umcontexto geográfico mais amplo – procura abranger a maioria dos tombamentos <strong>de</strong>áreas urbanas do IPHAN. Incluem-se nessa categoria não só as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e centroshistóricos, mas também trechos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s como conjuntos arquitetônicos, ruas epraças, valorizados a partir <strong>de</strong> sua inserção no contexto urbano maior,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong>s suas dimensões ou do modo com estão <strong>de</strong>scritas na<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> tombamento.” (BRASIL, 2001, p.9)Os resultados obtidos pelo Iphan, atribuídos aos inventários:“Assim sendo, o trabalho <strong>de</strong> inventário com seus levantamentos e análises vemcontribuindo para atualizar os referenciais <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> valor do patrimônio


60urbano, permitindo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> intervenção tecnicamenteembasados e explicitando os limites <strong>de</strong> competência institucional na gestão <strong>da</strong>sci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Por outro lado, o registro sistemático permite disponibilizar os <strong>da</strong>dos einformações produzidos para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os po<strong>de</strong>res públicos,estabelecendo condições justas para parcerias e para um trabalho <strong>de</strong> caráter<strong>de</strong>mocrático.” (BRASIL, 2001, p.9)3 REVISÃO DO ESTADO DA ARTE3.1 RECIFEO Recife atualmente apresenta dois sítios urbanos tombados fe<strong>de</strong>ralmente, sendoque um <strong>de</strong>les apresenta características <strong>de</strong> monumento isolado e raio <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> entorno,<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Igreja <strong>de</strong> São Pedro dos Clérigos ou Pátio <strong>de</strong> São Pedro, sob o código 123-T-38 noLivro <strong>de</strong> Belas Artes com registro <strong>de</strong> duas <strong>da</strong>tas 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1938 e 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1985, com áreaaproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong> 5,5 ha. A segun<strong>da</strong> área é <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Conjunto Arquitetônico e Urbanístico do Bairrodo Recife com aproxima<strong>da</strong>mente 32 ha <strong>de</strong> área e 13 imóveis tombados isola<strong>da</strong>mente. É tombado sobo código 1.168-T-85 no IPHAN, nos Livros <strong>de</strong> Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico ePaisagístico. (BRASIL, 2005)Estadual e municipalmente, o Recife apresenta outras áreas tomba<strong>da</strong>s e protegi<strong>da</strong>spor outras ferramentas que não exatamente o tombamento. O PPSH- Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> SítiosHistóricos – Região Metropolitana do Recife, do Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, pela FIDEM –Fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Região Metropolitana do Recife <strong>de</strong> 1978, foi um importantedocumento elaborado que serviu <strong>de</strong> início aos trabalhos do município do Recife, elaborado 2 anos


61<strong>de</strong>pois. O PPSH abarcou nove municípios 30 que compreendiam a região metropolitana do Recife.(GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978)A justificativa do plano utiliza a per<strong>da</strong> do conjunto urbano como propulsor <strong>da</strong>s ações<strong>de</strong> preservação e o discurso se repetia em to<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s.“Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, esses monumentos não foram os alvos visados: quase semprefaziam parte <strong>de</strong> conjuntos que <strong>de</strong>veriam ser sacrificados à se<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso dosadministradores <strong>de</strong> então; e eram justamente esses conjuntos, sobretudo osurbanos, que, por sua forma e cor, caracterizavam a área. Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s construí<strong>da</strong>s emséculos, amputa<strong>da</strong>s em anos, ao sabor <strong>de</strong> experiências urbanísticas. Os conjuntossão <strong>de</strong>struídos aos poucos e menos espetacularmente, do que os edifícios isolados.Por isso que um plano <strong>de</strong>stinado a preservar o que restou, não po<strong>de</strong>ria tar<strong>da</strong>rmais.” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.09)O trabalho realizado pelo Governo Estadual <strong>de</strong> Pernambuco para a preservação doseu patrimônio foi exposto em <strong>de</strong>talhes na publicação <strong>de</strong> 1978.“A informação documental, a observação direta e a análise compara<strong>da</strong> foram osmétodos básicos adotados. Aplicados, porém , processualmente, eles se<strong>de</strong>senvolveram em nove momentos distintos: pesquisa histórica. I<strong>de</strong>ntificaçãoinicial, classificação e seleção preliminar dos sítios históricos, levantamento <strong>de</strong>campo, mapeamento, análise e <strong>de</strong>limitação dos sítios e inferência acerca <strong>da</strong>sformas <strong>de</strong> intervenção nas zonas <strong>de</strong>marca<strong>da</strong>s.” (GOVERNO DO ESTADO DEPERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.19)Os sítios foram classificados em sete categorias em função <strong>da</strong> ´diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>caracteres´ que não permitia que todos os sítios fossem comparados uns aos outros: sítiostombados, conjuntos antigos, edifícios isolados, povoados antigos, ruínas 31 , se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> engenho 32 evilas operárias 33 .Dentre os que foram selecionados para a pesquisa estão os quatro iniciais que seconfiguram como estruturas urbanas gerais, sem caráter funcional específico como é o caso <strong>da</strong>s vilasoperárias. A se<strong>de</strong> <strong>de</strong> engenho e as ruínas foram <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s por se caracterizarem por uma30 Igarassu, Itamaracá, Cabo, Jaboatão, Moreno, Olin<strong>da</strong>, Paulista, Recife e São Lourenço <strong>da</strong> Mata31 “Algumas edificações somente pu<strong>de</strong>ram ser ti<strong>da</strong>s como Ruínas. No entanto, por se constituírem preciososdocumentos <strong>de</strong> um passado longínquo, consi<strong>de</strong>rou-se pertinente a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s estruturas ain<strong>da</strong>existentes;” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.20)32 “ As Se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Engenho são os testemunhos <strong>da</strong> razão primeira <strong>de</strong> ocupação territorial <strong>da</strong> RMR – a culturacanavieira – e caracterizam-se como um conjunto edificado na zona rural, composto <strong>da</strong> Casa Gran<strong>de</strong>(residência original do proprietário). Senzala (habitação <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> aos escravos), Capela e Moita (local on<strong>de</strong> semoía a cana e se fabricavam seus <strong>de</strong>rivados);” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.20)33 “Foram consi<strong>de</strong>rados Vilas Operárias os conjuntos habitacionais edificados na vizinhança <strong>da</strong>s indústrias quese fixaram na RMR em fins do século passado e princípios do atual. A construção <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas vilas resultou<strong>de</strong> iniciativa <strong>da</strong>s indústrias e são notáveis não somente pelo pioneirismo <strong>da</strong> iniciativa, como também pelatipici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções arquitetônicas.” (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.20)


62estrutura rural particular e estrutura documental <strong>de</strong> um passado remoto, respectivamente. As ruínasnão necessariamente se configuram como urbanas. Assim são <strong>de</strong>scritos os elementos a seremtrabalhados nesta pesquisa <strong>de</strong> acordo com o Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco (1978):a) “Sítios tombados (Categoria 01). – Sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Sítios Tombados,agruparam-se aqueles ambientes urbanos ou rurais já protegidos pela únicalegislação existente na RMR, a do IPHAN, que os <strong>de</strong>limitou;b) Conjuntos antigos (Categoria 02) – Os Conjuntos Antigos são complexosurbanos notáveis, formados por edificações típicas, ora contendo exemplares <strong>de</strong>excepcional arquitetura, ora constituindo núcleos <strong>de</strong> forte significado históricopara a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> se situam. Esses conjuntos evi<strong>de</strong>nciam um processo <strong>de</strong><strong>de</strong>scaracterização crescente, pois se modificam sempre, em função <strong>de</strong> usos epadrões culturais mais recentes;c) Edifícios isolados (Categoria 03) – Os Edifícios Isolados são exemplaresexcepcionais <strong>de</strong> arquitetura religiosa, civil, militar ou oficial, cuja ambiência estácomprometi<strong>da</strong> ou ameaça<strong>da</strong> pela ocupação expontânea [sic] ou permiti<strong>da</strong> do solovizinho, com edificações em geral mais recentes, as quais necessitam serdisciplina<strong>da</strong>s, a fim <strong>de</strong> preservar a escala <strong>de</strong> monumento. Enquadram-se nessacategoria não somente edifícios antigos, como também alguns dos exemplares dosanos 30 <strong>de</strong>ste século, que figuram na <strong>história</strong> <strong>da</strong> arquitetura brasileira, comopioneiros na aplicação dos princípios <strong>da</strong> arquitetura mo<strong>de</strong>rna;Povoados Antigos (Categoria 04) – Classificaram-se como povoados antigos osconjuntos urbanos que já tiveram razão econômica ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, em certo período,mas que entraram em fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência;” (GOVERNO DO ESTADO DEPERNAMBUCO/ FIDEM, 1978)A seleção dos sítios históricos a serem preservados foram analisados a partir <strong>de</strong> umaescala <strong>de</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong> que levou em consi<strong>de</strong>ração o estado <strong>de</strong> conservação, o grau <strong>de</strong><strong>de</strong>scaracterização <strong>da</strong>s edificações “em relação a sua presumível forma original”, a época <strong>da</strong>construção, a representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tipológica e a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revitalização. (GOVERNO DOESTADO DE PERNAMBUCO, 1978)mesmos critérios e:Dentre essa seleção foi consi<strong>de</strong>rado que as ruínas não podiam ser excluí<strong>da</strong>s pelos“De igual modo, mesmo se tendo que, quanto mais antigo um sítio histórico, tantomaior a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua preservação, não se <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> incluir no rol dossítios a serem protegidos as obras pioneiras <strong>da</strong> arquitetura mo<strong>de</strong>rna e os conjuntosurbanos <strong>da</strong> arquitetura eclética do início do século XX – por serem representantesautênticos <strong>de</strong> duas correntes culturais distintas.” (GOVERNO DO ESTADO DEPERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.20)A elaboração <strong>de</strong>sse Plano <strong>de</strong>monstra um avanço em relação à ampliação do conceito<strong>de</strong> patrimônio cultural no que tange a temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> e os estilos arquitetônicos, quando consi<strong>de</strong>raas arquiteturas ecléticas e mo<strong>de</strong>rnas.As fichas <strong>de</strong> levantamentos ca<strong>da</strong>strais dos sítios históricos eram predominantementevolta<strong>da</strong>s para o edifício e as informações conti<strong>da</strong>s nessas fichas eram transferi<strong>da</strong>s e trata<strong>da</strong>s em


63forma <strong>de</strong> mapeamento <strong>de</strong> sítios e novas fichas analíticas. As fichas traziam classificações dos sítiosquanto à época 34 (antigo, do início do século e recente) para subsidiar a avaliação do grau <strong>de</strong><strong>de</strong>scaracterização 35 , que por sua vez foram classificados em preservados, modificados,<strong>de</strong>scaracterizados.A análise dos sítios históricos permitiu “uma <strong>de</strong>scrição sucinta reunindo, em fichas <strong>de</strong>caracterização dos sítios históricos *…+, informações sobre sua localização, evolução histórica,diagnóstico sumário <strong>da</strong> situação atual e indicação <strong>da</strong> proteção existente e exigi<strong>da</strong> – e uma<strong>de</strong>limitação preliminar dos perímetros <strong>de</strong> preservação rigorosa e ambiental.” (GOVERNO DO ESTADODE PERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.22)Para a <strong>de</strong>limitação dos sítios históricos foi adotado o uso <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> grausdiferentes <strong>de</strong> rigor <strong>de</strong> preservação, sendo <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>: Zona <strong>de</strong> Preservação Rigorosa (ZPR) eZona <strong>de</strong> Preservação Ambiental (ZPA). O critério para <strong>de</strong>finir uma <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> ZPR foi a maiorconcentração <strong>de</strong> edifícios preservados. Os edifícios isolados são consi<strong>de</strong>rados exceções, pois “… avizinhança dos sítios se constitui <strong>de</strong> edifícios <strong>de</strong> construção recente.” (GOVERNO DO ESTADO DEPERNAMBUCO/ FIDEM, 1978, p.22)Dentre os edifícios isolados o PPSH inseriu a arquitetura mo<strong>de</strong>rnista através <strong>da</strong>proteção <strong>de</strong> exemplares como o Pavilhão <strong>de</strong> Óbitos – Derby (Decreto 11.601 <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>1980), a Escola Rural Alberto Torres (Decreto 11.613 <strong>de</strong> 04 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1980), a Arquitetura Cubista<strong>da</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Suassuna (Decreto 11.879 <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1980) e a arquitetura <strong>de</strong> ferro através<strong>da</strong> proteção <strong>de</strong> exemplares como o Mercado <strong>da</strong> Casa Amarela (Decreto 11.794 <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1980) e a Casa <strong>da</strong> Cultura/ Estação Central (Decreto 11.627 <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1980). (PREFEITURAMUNICIPAL DO RECIFE, 1981)34 “a) Antigo – Consi<strong>de</strong>rou-se Antigo o edifício ou sítio erigido até o século XX, exclusive [sic];b) Do Início do Século. - Trata-se <strong>de</strong> edificação construí<strong>da</strong> nos mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Arquitetura Eclética surgi<strong>da</strong> nas zonasurbanas <strong>da</strong> RMR, nas três primeiras <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> do Século XX;c) Recente. – Classificaram-se como Recente os edifícios construídos na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XX, jáincorporando, na sua concepção e obra, os princípios e a tecnologia <strong>da</strong> Arquitetura Mo<strong>de</strong>rna.” (Governo doEstado <strong>de</strong> Pernambuco/ FIDEM, 1978,p.21)35 “ a) Preservados. – Sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Preservados, figuram as edificações antigas que só necessitam <strong>de</strong>conservação, pois mantêm as características originais, como a forma que tiverem, inclusive com um processonatural <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptações sucessivas às novas funções e ao gosto <strong>de</strong> até o século XIX;b) Modificados. – Modifica<strong>da</strong>s são as edificações antigas que po<strong>de</strong>m ser restaura<strong>da</strong>s, porquanto as mu<strong>da</strong>nçasrecentes são i<strong>de</strong>ntificáveis, assim como o que po<strong>de</strong>ria ter existido antes <strong>de</strong>las;c) Descaracterizados. – Por Descaracterizados enten<strong>de</strong>m-se os edifícios antigos, modificados a ponto <strong>de</strong> não sepo<strong>de</strong>rem i<strong>de</strong>ntificar, numa análise sumária, os seus elementos originais (o que não impe<strong>de</strong>, entretanto, sepossa, durante as obras, com a prospecção e o manuseio <strong>de</strong> iconografia, <strong>de</strong>finir uma hipótese <strong>de</strong> restauração).”(Governo do Estado <strong>de</strong> Pernambuco/ FIDEM, 1978,p.21)


64A <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s ZPA “estabeleceu-se uma faixa <strong>de</strong> transição que, nas zonasurbanas, servirá para atenuar as diferenças existentes entre os núcleos mais recentes – quanto àforma, ocupação e materiais <strong>de</strong> construção – e os sítios históricos.” (Governo do Estado <strong>de</strong>Pernambuco/ FIDEM, 1978, p.22)No Recife 31 núcleos tombados são apresentados com ca<strong>da</strong> Decreto que institui asZonas <strong>de</strong> Preservação Rigorosa e <strong>de</strong> Preservação Ambiental, com suas características específicas emapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s duas zonas para ca<strong>da</strong> sítio. Neste momento, 1981, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife nãoapresenta uma <strong>de</strong>limitação geral para o Centro Histórico do Recife, e sim, núcleos subdivididoscategorizados em: sítios tombados, conjuntos antigos, edifícios isolados e ruínas. (PREFEITURAMUNICIPAL DO RECIFE, 1981)A atuação <strong>da</strong> Prefeitura do Recife sobre seu Centro Histórico a partir <strong>da</strong> elaboraçãodo PPSH trouxe maiores <strong>de</strong>talhamentos sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Lei 13.957 versa sobre as normas queinci<strong>de</strong>m sobre os bens “cujas expressões arquitetônicas ou históricas tenham real significado para opatrimônio cultural <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Recife” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE, 1981) e assim <strong>de</strong>fineos bens:“I – Sítios: Áreas <strong>de</strong> valor artístico notável ou que serviram <strong>de</strong> palco aacontecimentos <strong>de</strong> reconheci<strong>da</strong> importância histórica;II – Conjuntos antigos: complexos urbanos notáveis, formados com edificaçõestípicas, seja por conter exemplares <strong>de</strong> excepcional arquitetura, seja por constituirnúcleo <strong>de</strong> expressivo significado histórico;III – Ruínas: edificações que embora <strong>de</strong>teriora<strong>da</strong>s constituem relíquia evocativa <strong>de</strong>um acontecimento histórico;IV – Edifícios isolados: exemplares excepcionais <strong>de</strong> arquitetura seja pela sua<strong>de</strong>stinação para fins religiosos, militares, públicos ou privados.” (PREFEITURAMUNICIPAL DO RECIFE, 1981)A Lei também apresenta o que reconhece como trabalhos <strong>de</strong> preservação:“Art. 3°. – *…+PARÁGRAFO ÚNICO – O amparo e a proteção preservadora <strong>de</strong> que trata este artigocaracterizam-se pela execução <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> conservação, reparação ou restauraçãodo bem <strong>de</strong> valor artístico e cultural, como tal enten<strong>de</strong>ndo-se:I – OBRA DE CONSERVAÇÃO: a intervenção <strong>de</strong> natureza preventiva, que consiste namanutenção do bem cultural a ser preservado;II – OBRA DE REPARAÇÃO: a intervenção <strong>de</strong> natureza corretiva, que consiste nasubstituição, modificação ou eliminação <strong>de</strong> elementos estranhos ou incompatíveiscom a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> arquitetônica do conjunto ou edifício isola<strong>da</strong>mente consi<strong>de</strong>rado;III – OBRA DE RESTAURAÇÃO: a intervenção <strong>de</strong> natureza corretiva, que consiste nareconstituição <strong>da</strong>s características originárias do imóvel, mediante a recuperação <strong>da</strong>estrutura afeta<strong>da</strong> e dos elementos <strong>de</strong>struídos, <strong>da</strong>nificados ou <strong>de</strong>scaracterizados ou,ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong> expurgo <strong>de</strong> elementos estranhos.” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE,1981)


65As <strong>de</strong>finições e leis aplica<strong>da</strong>s a Recife foram basea<strong>da</strong>s na Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964,Normas <strong>de</strong> Quito <strong>de</strong> 1967 e Compromisso <strong>de</strong> Brasília <strong>de</strong> 1970. As principais contribuições <strong>da</strong>sNormas <strong>de</strong> Quito emprega<strong>da</strong>s nas <strong>de</strong>limitações são:“Para os efeitos <strong>da</strong> legislação protetora, o espaço urbano ocupado pelos núcleos econjuntos monumentais e <strong>de</strong> interesse ambiental <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>limitar-se como segue:a) Zona <strong>de</strong> proteção rigorosa, que correspon<strong>de</strong>rá à maior <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monumentos ou <strong>de</strong> ambiente;b) Zona <strong>de</strong> proteção ou respeito, com uma maior tolerância;c) Zona <strong>de</strong> proteção <strong>da</strong> paisagem urbana, a fim <strong>de</strong> procurar uma integração <strong>da</strong>mesma com a natureza circun<strong>da</strong>nte” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE, 1981)Empregando a recomen<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Normas <strong>de</strong> Quito a Lei traz as <strong>de</strong>finições ecaracterísticas <strong>da</strong>s Zonas <strong>de</strong> Proteção que se estipulou para o Recife:“PARAGRÁFO ÚNICO – O regulamento <strong>da</strong> ZP 36 <strong>de</strong>talhará as normas <strong>de</strong> uso eocupação, as obras e posturas vigentes ou que venham a viger, e disporá quanto àespecífica aplicação que para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s ZP seja <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>.Art. 5°. – Ca<strong>da</strong> ZP po<strong>de</strong>rá ter uma ou mais Zonas <strong>de</strong> Preservação Rigorosa (ZPR) euma Zona <strong>de</strong> Preservação Ambiental (ZPA), que po<strong>de</strong>rá estar subdividi<strong>da</strong> emsetores.Art. 6°. – A ca<strong>da</strong> ZP correspon<strong>de</strong>rá um sítio histórico, arqueológico, arquitetônicoou paisagístico formado pelo bem ou conjunto <strong>de</strong> bens culturais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssascategorias e pelo seu entorno.*…+Art. 11 – To<strong>da</strong> ZPR é envolvi<strong>da</strong> por uma Zona <strong>de</strong> Preservação Ambiental (ZPA), sobo controle <strong>de</strong> padrões menos rígidos, cuja finali<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong> atenuar as diferençasentre a ambiência <strong>da</strong> ZPR e o espaço que a circun<strong>da</strong>, funcionando como faixa <strong>de</strong>transição um para outro.*…+Art. 13 – Inci<strong>de</strong>m sobre a ZPA as seguintes restrições:I – quando a ZP for localiza<strong>da</strong> em área urbaniza<strong>da</strong>, ficam proibi<strong>da</strong>s as ações queimpliquem <strong>de</strong>scaracterização <strong>da</strong> trama urbana, tais como abertura, supressão ealargamento <strong>de</strong> vias e o <strong>de</strong>smembramento e remembramento <strong>de</strong> lotes;II – não serão permiti<strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>smonte, terraplenagem, aterro,<strong>de</strong>smatamento, <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> <strong>de</strong> árvore, bem como qualquer outra que modifique suapaisagem natural;III – é ve<strong>da</strong><strong>da</strong> a colocação <strong>de</strong> poste, letreiro, placa, painel, anúncio ou qualqueroutra forma <strong>de</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong> ou propagan<strong>da</strong>, em terreno vago e na coberta ou notopo <strong>de</strong> prédio nela situado.” (PREFEITURA MUNICIPAL DO RECIFE, 1981)Quadro 03 – Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bens tombados por categoria. Fonte: (PREFEITURA MUNICIPALDO RECIFE, 1981)Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> Área/Zona (tamanho) Quant. Aprox. <strong>de</strong> ruasSítios tombados 01 Restrita 9Conjuntos tombados 09 Ampla, média e restrita +50,+35,+25,11,8,15,5+5,6,4,936 Zona <strong>de</strong> Proteção


66Edifícios isolados 20 Restrita 7,12,9,7,0,4,3,6,3,4,4,6,5,6,0,7,0,2,2Ruínas 01 - 0Total 31De acordo com a área, relativa à quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ruas e espaços públicos, a categoria<strong>de</strong> sítios tombados po<strong>de</strong>ria se enquadrar na categoria <strong>de</strong> conjuntos tombados (Quadro 03). Osconjuntos tombados apresentam 3 que possuem mais <strong>de</strong> 25 ruas que são eles: Bairro <strong>da</strong> Boa Vista,Bairro do Recife e Bairro <strong>de</strong> Santo Antonio/São José. Um dos conjuntos tombados, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>finidoapenas por um <strong>de</strong>creto apresenta duas zonas <strong>de</strong> preservação rigorosa sem congruência <strong>de</strong> zona <strong>de</strong>preservação ambiental. Há edifícios isolados que se equiparam a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ruas inseri<strong>da</strong>s nazona dos conjuntos tombados, bem como outros que não há nenhuma rua conti<strong>da</strong> na <strong>de</strong>limitação,como é o caso <strong>de</strong> dois exemplares <strong>da</strong> arquitetura mo<strong>de</strong>rna: a Escola Rural e a Arquitetura Cubista.Para o Bairro do Recife, categorizado como conjunto urbano em ambos osdocumentos, estadual e municipal, estabeleceu-se zonas <strong>de</strong> preservação rigorosa e uma zona <strong>de</strong>preservação ambiental que se divi<strong>de</strong> em setores. A <strong>de</strong>limitação estadual (Figura 05) subdividia aszonas <strong>de</strong> preservação rigorosa em outras pequenas áreas, enquanto a municipal (Figura 06) unificouas áreas <strong>de</strong> preservação rigorosa que eram contíguas <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s no plano anterior. A setorização<strong>da</strong> zona <strong>de</strong> preservação ambiental foi manti<strong>da</strong>.Figura 5 - Planta do Bairro do Recife com as ZPRs (Tons <strong>de</strong> rosa) e ZPAs (Tons <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>) <strong>da</strong>subdivisão do PPSH-RMR (1978). Fonte: Acervo <strong>da</strong> 5ªSR/Iphan in (SILVA, Aline, 2007).


67Figura 6 - Planta do Bairro do Recife com as subdivisões <strong>da</strong>s ZPRs (bege e marrom) e ZPAs(tons <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>) do Plano <strong>de</strong> Preservação Municipal (1981). Fonte: Acervo <strong>da</strong> 5ªSR/Iphan in(SILVA,Aline, 2007).Em abor<strong>da</strong>gem contemporânea Silva (Aline, 2007) analisa a <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s Zonas <strong>de</strong>Preservação elabora<strong>da</strong>s para o Bairro do Recife basea<strong>da</strong> em fontes como: legislação municipal efe<strong>de</strong>ral, planos <strong>de</strong> preservação, INBI-SU (Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis – Sítios UrbanosTombados), cartas patrimoniais.Discute esses conceitos em uma seqüência <strong>de</strong> “ampliações”, como se entornoestivesse inserido no conceito <strong>de</strong> ambiência, e o <strong>de</strong> ambiência no <strong>de</strong> paisagem, ca<strong>da</strong> umacrescentando algo a mais que o diferencia.“A expressão ‘entorno’, enraiza<strong>da</strong> no corpo técnico do IPHAN, é inicialmenteutiliza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>signar, <strong>de</strong> forma genérica, a ‘vizinhança’ ou ‘circunvizinhança’, as‘proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s’ ou as ‘cercanias’ <strong>de</strong> um objeto – um conceito, físico, espacial, quese refere aos arredores <strong>de</strong> um bem.” (SILVA, 2007)O IPHAN inicia a discussão sobre paisagem para inserir esse conceito como referênciapara tombamentos <strong>de</strong> sítios e <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> entorno.“A paisagem ora é o próprio objeto <strong>de</strong> preservação, ora é a ‘moldura’ que protegee complementa o monumento ou o bem reconhecido como patrimônio.Com a Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, a UNESCO criou, em1972, a categoria <strong>da</strong>s obras conjuga<strong>da</strong>s do homem e <strong>da</strong> natureza, aporte que seconsolidou em 1992 com a noção <strong>de</strong> ‘paisagem cultural’, vencendo a antigaantinomia. Citando o professor Ulpiano <strong>de</strong> Meneses (2002, p.52), a UNESCO‘apenas seguiu a linha traça<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a segun<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> do século XX por geógrafosinovadores, com Carl O. Sauer’. ” (SILVA, Aline, 2007, p.54)“Enten<strong>de</strong>-se que a paisagem é, portanto, o quadro natural e construído, resultantedos fatores condicionadores <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> criadora humana,transcen<strong>de</strong>ndo a noção <strong>de</strong> entorno. É, em princípio, a própria ambiência do bem,que se expressa através <strong>de</strong> formas físicas, melhor dizendo, as formas <strong>da</strong> paisagem,a qual passa a englobar, no entanto, o próprio objeto <strong>de</strong> tombamento, numacompreensão sistêmica (Figura 4).” (SILVA, Aline, 2007)


68A multidisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> e as várias dimensões <strong>de</strong> um ambiente urbano sãoconsi<strong>de</strong>rados para a nova forma <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem:“A paisagem apresenta-se como uma noção multifaceta<strong>da</strong>, muito mais complexaque o entendimento do senso comum, que a circunscreve à sua dimensão física(acepção <strong>de</strong> panorama, lance abarcado pela visão) ou à sua dimensão natural(sinônimo <strong>de</strong> natureza, portanto longe, ou mesmo livre, <strong>da</strong> presença humana) oucomo beleza cênica, noção mais enraiza<strong>da</strong> nas representações <strong>da</strong>s artes,especialmente a pintura e a arquitetura. É na paisagem que se materializa a relaçãoentre o homem e a natureza, em <strong>de</strong>terminado tempo e espaço. Ela é um sistemacomposto por formas integrantes e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes; é viva, dinâmica (MENESES,2002, p.53), está em processo constante <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e substituição.To<strong>da</strong>via, ao mesmo tempo em que a paisagem é um sistema, ela é também umauni<strong>da</strong><strong>de</strong>, constituí<strong>da</strong> por atributos que a tornam homogênea, coesa e única <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> paisagens.” (SILVA, Aline, 2007, p.55)A nova abor<strong>da</strong>gem consi<strong>de</strong>ra as transformações como elemento natural do tempo:“As transformações do sítio histórico são apreendi<strong>da</strong>s mais como fruto <strong>de</strong>diferentes temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do que como <strong>de</strong>scaracterizações, isto é, pelahistorici<strong>da</strong><strong>de</strong> que carregam, resultante <strong>de</strong> diversos momentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Aambiência (ambiente natural e construído) dos bens tombados é apreendi<strong>da</strong> pelocritério <strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, referido no artigo 18 do Decreto-lei nº 25/1937, através <strong>da</strong>análise morfológica, incorporando a dimensão histórica <strong>da</strong> paisagem.” (SILVA,Aline, 2007)Figura 07 – Mapa <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem do Bairro do Recife elaborados por Silva, (Aline,2007). Fonte: (SILVA, Aline, 2007)Em sua análise, Silva (Aline, 2007) i<strong>de</strong>ntifica que as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem (Figura 07)do Bairro do Recife não coinci<strong>de</strong>m com as zonas <strong>de</strong> preservação e seu conjunto <strong>de</strong> normasestabeleci<strong>da</strong>s em 1981 pela Prefeitura do Recife.


69“Ain<strong>da</strong> segundo o texto-base do Plano Diretor do Recife (PREFEITURA DO RECIFE,2004), uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem são as fisionomias peculiares do tecido urbano queresguar<strong>da</strong>m características específicas e <strong>de</strong>terminam vocações, <strong>de</strong>vendo ser objeto<strong>de</strong> planos <strong>de</strong> intervenção paisagística. *…+ Analogamente aos planos <strong>de</strong>preservação estadual e municipal e aos estudos do Plano Diretor do Recife, foirealiza<strong>da</strong> uma subdivisão do bairro, como um sistema paisagístico, em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>paisagem, numa <strong>de</strong>composição <strong>da</strong> escala urbana para a escala <strong>de</strong> bairro (Figura 7).A compreensão e concepção <strong>da</strong>s formas urbanas, segundo Lamas (2004, p.73),‘coloca-se em diferentes níveis, diferenciados pelas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura *…+. Nestaor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> idéias, po<strong>de</strong>-se recortar o espaço em partes i<strong>de</strong>ntificáveis’. RecuperandoTricart e Rossi, o autor estabelece uma classificação <strong>da</strong>s escalas <strong>da</strong> forma urbana: aescala <strong>da</strong> rua (praça), a escala do bairro e a escala <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (LAMAS, 2004, p.73-74)” (SILVA, 2007, p.57)“A análise <strong>da</strong> paisagem do Bairro do Recife apontou que as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>snão coinci<strong>de</strong>m com a ‘uni<strong>da</strong><strong>de</strong> legal’, ou seja, o Conjunto Arquitetônico,Urbanístico e Paisagístico do Antigo Bairro do Recife. O polígono que lhe écorrespon<strong>de</strong>nte incorpora apenas parte <strong>de</strong> uma mesma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> paisagemconstituí<strong>da</strong> por quadras <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>s pela rua Cais do Apolo e pela rua do Brum.Parte <strong>de</strong>sta resguar<strong>da</strong> um gran<strong>de</strong> acervo, que agrega valores históricos,arquitetônicos e urbanísticos e arqueológicos, o que motivou a realização <strong>de</strong> umpré-inventário <strong>da</strong>s edificações como etapa preliminar para encorajar sua futurainclusão no polígono <strong>de</strong> tombamento fe<strong>de</strong>ral do conjunto urbano.” (SILVA, 2007,p.59)3.2 SÃO LUÍS-MAO Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís é tombado pelo IPHANsob o código 454-T-57 <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1974 no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e noLivro <strong>de</strong> Belas Artes 37, possui <strong>de</strong>limitação oficial <strong>de</strong> perímetro tombado (Figura 08) com área <strong>de</strong> 55ha. (BRASIL, 2005)37 LAEP insc. 64, fl. 15; LBA insc. 513 fl. 93


70Figura 08 – Centro Histórico <strong>de</strong> São Luís e suas <strong>de</strong>limitações pela UNESCO, pelo Iphan e peloGoverno Estadual. Fonte: Acervo <strong>da</strong> Superintendência Regional do Iphan do Maranhão.Pestana (2007) em seu estudo sobre a re<strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> poligonal <strong>de</strong> tombamentofe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Luís i<strong>de</strong>ntificou períodos característicos dos processos <strong>de</strong> tombamento ocorridos emSão Luís. O primeiro <strong>de</strong>les caracterizado por tombamentos individuais (1940-1954) <strong>de</strong>finiu trechostombados do conjunto histórico urbano <strong>de</strong> São Luís. No entanto, essa fase, como em outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s,foi marca<strong>da</strong> por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizações e transformações que motivavam to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>do período.“… era necessário remo<strong>de</strong>lar seu tecido urbano e incentivar as construçõesmo<strong>de</strong>rnas, como uma tentativa <strong>de</strong> renovar a fisionomia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, nem que, paratal, parte <strong>de</strong>sta, a que representava o passado, tivesse que ser esqueci<strong>da</strong> ou atémesmo <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>. *…+ Esse i<strong>de</strong>al mo<strong>de</strong>rnizante que imperava naquele momento foiprejudicial ao patrimônio, pois negava sua importância e significação para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.No conjunto arquitetônico e paisagístico <strong>de</strong> São Luís, as intervenções urbanísticasocorri<strong>da</strong>s nesse primeiro período tiveram seus mo<strong>de</strong>los inspirados no PlanoHaussmann e limitavam-se a um urbanismo corretivo, caracterizado pela<strong>de</strong>molição <strong>de</strong> algumas edificações implanta<strong>da</strong>s fora do alinhamento e à diminuiçãodos passeios <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres para viabilizar a flui<strong>de</strong>z viária.” (PESTANA, 2007, p.335)


71A partir <strong>da</strong> negativa <strong>de</strong> tombamento no Livro do Tombo Histórico <strong>da</strong> Igreja <strong>de</strong> SãoJosé do Desterro por não se enquadrar nos critérios empregados pelo DPHAN se i<strong>de</strong>ntifica naquelemomento a <strong>de</strong>monstração <strong>da</strong> primeira preocupação com o conjunto urbano <strong>de</strong> São Luís.Nesta ocasião Rodrigo Mello Franco <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (in PESTANA, 2007, p.339) levanta ahipótese <strong>de</strong> “tombamento do conjunto arquitetônico do bairro em que se acha integrado à Igreja doDesterro, uma vez que fique documenta<strong>da</strong> a sua fisionomia tradicional, merecedora <strong>de</strong> especialproteção dos po<strong>de</strong>res públicos.”Com a proposição <strong>de</strong> um Projeto <strong>de</strong> Lei nº 88/1955 do <strong>de</strong>putado Cunha Machado emque se “propunha converter em monumento histórico nacional o conjunto arquitetônico epaisagístico <strong>da</strong> antiga ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preservá-lo <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição e mutilação<strong>de</strong> seus edifícios”, levanta-se uma discussão no IPHAN, em que o parecerista Rodrigo Mello Franco<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (in PESTANA, 2007, p.340) “aponta que as transformações 38 opera<strong>da</strong>s na fisionomiatradicional <strong>de</strong> São Luís tornaram <strong>de</strong>saconselhável sua inscrição nos Livros <strong>de</strong> Tombo, porém, através<strong>de</strong> um estudo mais <strong>de</strong>talhado, aconselhava o tombamento particularizado <strong>de</strong> áreas urbanas antigas,como as praças João Lisboa *…+, Benedito Leite *…+, Gonçalves Dias *…+, o largo fronteiro à igreja <strong>de</strong>São João do Desterro, bem como vários edifícios.”Pestana (2007) observa a relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s <strong>de</strong>terminações do patrimônio cultural aolongo <strong>da</strong> trajetória <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> preservação.“… quando falamos <strong>de</strong> preservação, estamos falando <strong>de</strong> uma trajetória <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> valores à luz <strong>de</strong> conceitos e interesses em permanentetransformação. Portanto, estaremos sempre construindo valores em função <strong>de</strong>políticas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s sociais e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que se quer ver representa<strong>da</strong>.”(PESTANA, 2007, p.343)O segundo período (1957-1974) i<strong>de</strong>ntificado por Pestana (2007) é marcado porestudos técnicos mais aprofun<strong>da</strong>dos sobre o conjunto urbano <strong>de</strong> São Luís e antece<strong>de</strong> o tombamentofe<strong>de</strong>ral. Os estudos foram realizados por Dora e Pedro Alcantâra, que i<strong>de</strong>ntificaram “elementos que<strong>de</strong>veriam ser preservados, sugerindo alguns tombamentos”. Nesses estudos foram analisa<strong>da</strong>s as“características morfológico-urbanas do centro histórico <strong>de</strong> São Luís.”“Observa-se que nas <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> subseqüentes os olhares se voltam para oreconhecimento <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s e diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que passa a ser38 Em processos <strong>de</strong> tombamento <strong>de</strong> sítios e <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> entorno, essas áreas antigas sãofreqüentemente excluí<strong>da</strong>s em documentos <strong>de</strong> tombamento nacional por haverem sido transforma<strong>da</strong>sao longo <strong>de</strong> suas <strong>história</strong>s, sendo então preteri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> salvaguar<strong>da</strong> <strong>de</strong>vido à própria <strong>história</strong>.


72entendi<strong>da</strong> como um organismo vivo, resultado <strong>da</strong> interação entre diversos fatores<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, social, econômica, cultural, política e tecnológica. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, em suadinâmica, passa a se consoli<strong>da</strong>r como bem social que <strong>de</strong>ve ser legado a geraçõesfuturas.” (PESTANA, 2007, p.344)O embate sobre o tombamento isolado e a percepção <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> elaboraruma <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> um conjunto urbano, procurando reduzir os conflitos perante a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> queacreditava que o IPHAN quando impedia as obras <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rnização” do centro <strong>de</strong> São Luís,limitando o “ímpeto <strong>de</strong>senvolvimentista”, impedia também o <strong>de</strong>senvolvimento local.“… a prática até então aplica<strong>da</strong> pela instituição <strong>de</strong> efetuar o tombamento imediato<strong>de</strong> edificações isola<strong>da</strong>s para impedir sua <strong>de</strong>molição e posterior construção <strong>de</strong>arranha-céus era <strong>de</strong>saconselha<strong>da</strong> pelo referido estudo, <strong>de</strong>vido ao caráterantipático <strong>da</strong> solução. Desta forma, o estudo <strong>de</strong>fendia a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir,com precisão, os limites <strong>de</strong> tombamento no conjunto urbano histórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.Nesse ponto, é possível perceber os problemas do crescimento urbano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r público municipal assumiu uma postura laissez faire em relação aonúcleo urbano central.” (PESTANA, 2007, p.346)No estudo <strong>de</strong> Dora e Pedro Alcantâra há referência explícita à preservação dotraçado urbano inicial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> elaborado pelo engenheiro-mor Frias <strong>de</strong> Mesquita por volta <strong>de</strong> 1615(PESTANA, 2007). Esse <strong>de</strong>staque serviu como justificativa na proposição <strong>da</strong> inclusão do conjuntourbano <strong>de</strong> São Luís na Lista <strong>de</strong> Patrimônio Mundial <strong>da</strong> UNESCO em 1997.“Vale ressaltar o <strong>de</strong>staque <strong>da</strong>do à homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> do conjunto arquitetônico <strong>de</strong>São Luís, ou seja, a partir <strong>da</strong>s informações coleta<strong>da</strong>s por meio do diagnóstico osdois autores [Dora e Pedro Alcântara] acima perceberam a existência <strong>de</strong> umaporção <strong>de</strong> espaço com aspectos peculiares, diferenciados dos <strong>de</strong>mais pelo seucaráter cultural simbólico, cujos limites estão fisicamente ancorados em elementos<strong>da</strong> paisagem, tais como tipologias e referenciais arquitetônicos. Dora e PedroAlcântara <strong>de</strong>monstram preocupação não só com os monumentos arquitetônicos,mas também com as edificações mais mo<strong>de</strong>stas, sendo necessário incorporá-losaos inventários e tombamentos urbanos. As relações entre os monumentos e omeio no qual estão inseridos, assim como o caráter histórico e o valor documental,intrínseco aos espaços on<strong>de</strong> estão implanta<strong>da</strong>s as edificações mo<strong>de</strong>stas, passam aser expressamente consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como objeto <strong>da</strong> preservação. Os autores<strong>de</strong>stacam ain<strong>da</strong> a concentração muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> casas e sobrados que ain<strong>da</strong>conseguem <strong>da</strong>r uma idéia bem exata <strong>de</strong> como seria o ambiente do século XIX. Combase nessa justificativa o dossiê propunha duas medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m geral: impedir a<strong>de</strong>molição <strong>de</strong> construções azuleja<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> construções com mirante.Ao analisar os fatos narrados acima, conclui-se que o estudo elaborado por Dora ePedro Alcântara merece <strong>de</strong>staque por <strong>de</strong>monstrar que se vivia um momento <strong>de</strong>transição, em que mesmo estando o dossiê <strong>de</strong> acordo com a ótica inicial do IPHAN,se manifestava uma compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> existente a partir do conjuntourbano e sua ambiência.” (PESTANA, 2007, p.347)


73Em 1973, Viana <strong>de</strong> Lima, arquiteto português em missão pela UNESCO elabora oRelatório e propostas para a conservação, recuperação e expansão <strong>de</strong> São Luís, diante do processo<strong>de</strong> crescimento que ocorria na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís.“Esse estudo fazia referência à preservação do patrimônio cultural numaperspectiva que ia além do seu acervo físico e indicava a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dotombamento imediato, pois somente ‘<strong>de</strong>ssa forma será possível salvaguar<strong>da</strong>r auni<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> existente’.O relatório <strong>de</strong>finia para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong>senvolvimento, comvistas a proteger seu tecido urbano histórico que lhe confere ‘lugar <strong>de</strong>stacado na<strong>história</strong> e na cultura do Brasil’. Propunha-se ain<strong>da</strong> a valorização do patrimôniohistórico e artístico encarando-o como uma fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o quechamou <strong>de</strong> tourisme d’art.” (PESTANA, 2007, p.347)Viana <strong>de</strong> Lima em seu relatório indica a área a ser tomba<strong>da</strong> que em 1974 vai serconfirma<strong>da</strong> pelo tombamento fe<strong>de</strong>ral pelo IPHAN. A forma <strong>de</strong> atuação prevista nessa área incluía“preenchimento <strong>de</strong> áreas vagas nos quarteirões” e “uma série <strong>de</strong> ‘arranjos’ que valorizariam seusaspectos peculiares”, “para que se ‘mantenha a estrutura urbana característica’, visando a uma açãocorretiva <strong>de</strong> perspectiva através <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> espaços.” (PESTANA, 2007, p.348)“Outro aspecto que nos chama a atenção no relatório é a preocupação que oarquiteto tinha em <strong>de</strong>finir, após estudos minuciosos, as zonas on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria serautoriza<strong>da</strong> a construção nova. Essa proposta, entretanto, segundo Viana <strong>de</strong> Lima,necessitava ser apoia<strong>da</strong> por uma regulamentação eficiente que aten<strong>de</strong>sse àsimplicações que po<strong>de</strong>ria vir a ter na preservação do conjunto histórico. *…+ oarquiteto <strong>de</strong>fendia a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do inventário tecnicamente criterioso, na épocado tombamento, do conjunto arquitetônico e paisagístico (casas, monumentos elogradouros) <strong>de</strong>limitado no perímetro <strong>de</strong> proteção proposto, i<strong>de</strong>ntificando assim oselementos inseridos no conjunto que não possuíssem características <strong>de</strong> valorcultural.” (PESTANA, 2007, p.349)Os trabalhos <strong>de</strong> Dora e Pedro Alcântara e Viana <strong>de</strong> Lima contribuíram para aconstrução do pensamento adotado pelo Iphan. No entanto, observa-se que no caso <strong>de</strong> São Luíshouve a seleção <strong>de</strong> “classificações estilísticas e temporárias”:“A argumentação conti<strong>da</strong> no parecer <strong>da</strong> instituição baseia-se, sobretudo, na gran<strong>de</strong>concentração <strong>de</strong> edificações do século XIX com características arquitetônicas lusobrasileiras,pois o essencial <strong>da</strong>s construções se concentra num período muito curto,<strong>de</strong> três ou quatro gerações: cerca <strong>de</strong> 60% <strong>da</strong>s moradias ou ‘sobrados’ <strong>da</strong>tam doperíodo compreendido entre 1808 e 1856. Por certo, ao efetuar o tombamento,não se consi<strong>de</strong>rou apenas as características individuais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> edificação, mastambém a importância representa<strong>da</strong> pelo conjunto urbano. Este, por sua vez,comparece como lugar dos mais caros aos ludovicenses, pelas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> suaambiência dinâmica on<strong>de</strong> interagem as perspectivas do horizonte aberto e asreferências <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> estética e histórica do patrimônio construído.”(PESTANA, 2007, p.351)Observa-se que o IPHAN apresenta condutas muito diversas nos vários lugares dopaís on<strong>de</strong> atua. A influência internacional parece gerar produtos <strong>de</strong> gestão mais amplos, inclusive


74trabalhando exaustivamente com inventário sobre os conjuntos urbanos. Sob a influênciainternacional as <strong>de</strong>limitações <strong>de</strong> Centros Históricos em qualquer esfera <strong>de</strong> governo trabalham comuma malha geral e única <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação.O traçado <strong>de</strong> 1615 é reconhecido atualmente na planta contemporânea (Figuras 09 e10), mas se observa a divisão <strong>de</strong> quadras para a abertura <strong>de</strong> novas ruas e as alterações na áreaemuralha<strong>da</strong>.“… a área já inscrita na Lista do Patrimônio Mundial está basea<strong>da</strong> na ampliação doconceito <strong>de</strong> patrimônio cultural, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong> uma visão monumentalistado patrimônio. Esta nova visão concatena todos os elementos formadores <strong>da</strong>i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do conjunto urbano histórico, ou seja, o patrimônio arquitetônico,símbolos, espaços livres o próprio traçado urbano, a paisagem com um todo, seusvalores históricos, sociais, culturais, afetivos e as inter-relações entre eles.”(PESTANA, 2007, p.356)Figura 09 – Mapa <strong>de</strong> SãoLuís-MA. Fonte: REISFILHO, 2001.


75Figura 10 – Sobreposição<strong>de</strong> traçado <strong>de</strong> São Luís <strong>de</strong>mapa <strong>de</strong> 1998 sobre mapa<strong>de</strong> 1640. Fonte: Iphan inPESTANA, 2007.Consi<strong>de</strong>rando a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação adota<strong>da</strong> em São Luís, Pestana (2007) levantauma característica negativa <strong>de</strong>sse modo encontra<strong>da</strong> em seu estudo. Sendo admitido todo o conjuntourbano como bem patrimonial, se i<strong>de</strong>ntifica bens imóveis completamente <strong>de</strong>scaracterizados, quenão apresentam justificativa <strong>de</strong> proteção:“Incorporam-se uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> maior <strong>de</strong> edificações <strong>de</strong>scaracteriza<strong>da</strong>s e nãointegra<strong>da</strong>s à composição do todo, ou seja, imóveis inseridos no conjunto tombado dosséculos XVIII e XIX, sem nenhum valor cultural e <strong>de</strong>sprovidos <strong>da</strong>s características motivadorasdo tombamento *…+É incompatível, portanto, que imóveis não configurados, em nenhum aspecto, como emagregação positiva na relação com o conjunto urbano histórico e cuja presença implica emprejuízo para a compreensão dos valores motivadores do tombamento, sejam alçados àcategoria <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> ‘valor universal excepcional’ e equiparados ao conjunto urbano histórico<strong>de</strong> São Luís, cujos atributos simbólicos, arquitetônicos e paisagísticos conferem umaquali<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental inigualável e polarizam um sem número <strong>de</strong> práticas tão próprias <strong>da</strong>convivência urbana.” (PESTANA, 2007, p.357)O autor sugere que “a associação entre os órgãos dos Governos Fe<strong>de</strong>ral, Estadual eMunicipal, juntamente com o setor privado e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil” (PESTANA, 2007) é o caminhoadministrativo a se <strong>de</strong>finir como meta, on<strong>de</strong> gestão compartilha<strong>da</strong> e estudos sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>permitam o estabelecimento <strong>de</strong> normas e priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ele afirma que, em São Luís, as competências<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> nível administrativo não estão claras. E conclui que não se faz necessário apenas a revisão <strong>da</strong>poligonal <strong>de</strong> tombamento fe<strong>de</strong>ral do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís,mas também <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s competências <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> esfera que atua sobre o Centro Histórico.


76“Essa proposição se justifica, sobretudo, quando se constata o progressivocomprometimento negativo na ambiência do conjunto urbano histórico *…+,implicando em prejuízo para a visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a compreensão <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong>ambiental e paisagística em que se insere o referido conjunto.” (PESTANA, 2007,p.359)3.3 SÃO CRISTÓVÃO - SEDe acordo com Silva (Andrea, 2007) a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Cristóvão teve seu ConjuntoArquitetônico, Urbanístico e Paisagístico tombado em 1967, mas sem a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong><strong>de</strong>limitação, o que consi<strong>de</strong>ra a própria autora como significado disso que to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foiconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> no tombamento. Atualmente, em revisão realiza<strong>da</strong> pelo IPHAN, ele atua sobre uma área<strong>de</strong> 15 ha, mas continua sem apresentar <strong>de</strong>limitação oficial do perímetro tombado e apresenta <strong>de</strong>zmonumentos isolados inseridos na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. (BRASIL, 2005)Em seu estudo Silva (Andrea, 2007) confirma a prática do IPHAN em valorizar as“características arquitetônicas, estético-estilísticas e <strong>de</strong> excepcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> para o tombamento”, masque essa vem sendo altera<strong>da</strong> para consi<strong>de</strong>rar “que um sítio <strong>de</strong>ve ser valorizado como patrimôniocultural também pela atribuição <strong>de</strong> significados ao conjunto <strong>de</strong> vestígios <strong>de</strong> sua <strong>história</strong> impressos noterritório, representativos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que os constitui e <strong>de</strong> sua evolução ao longo do tempo”. Seuobjetivo é propor uma <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> área para atuação do IPHAN e observa que apesar <strong>de</strong> não teracesso ao processo <strong>de</strong> tombamento, acredita que “a inscrição no Livro do tombo Arqueológico,Etnográfico e Paisagístico po<strong>de</strong> levar à afirmação <strong>de</strong> que houve a intenção <strong>de</strong> valorizar outrosvestígios históricos, tais como a conformação geográfica do sítio e <strong>de</strong> sua paisagem natural (morros erios), significativos na configuração urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – <strong>de</strong>limitador natural <strong>da</strong> sua localização econdicionante <strong>da</strong> sua formação.” (SILVA, Andrea, 2007)São Cristóvão passou pela fase inicial dos tombamentos individuais que foi <strong>de</strong> 1938 a1967, segundo Silva (Andrea, 2007), quando foi <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Monumento HistóricoEstadual em 1938, e teve 11 monumentos isolados tombados pelo IPHAN, sendo 3 sobrados e orestante edifícios religiosos.“Quanto aos aspectos urbanos, a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta mantinha as características <strong>de</strong>assentamento mais antigo, com prepon<strong>de</strong>rância dos edifícios monumentais,


77históricos e artisticamente apurados. No entanto, conforme po<strong>de</strong> ser observado aose caminhar em São Cristóvão, a proteção do Decreto-lei Estadual nº 94 nãoimpediu diversas modificações no aspecto arquitetônico e urbanístico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,feitas sem uma reflexão sobre o tipo <strong>de</strong> intervenção que seria mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ao<strong>de</strong>senvolvimento do sítio histórico.” (SILVA, Andrea, 2007, p.105)O tombamento do conjunto urbano em 1967 foi influenciado pela nova conjunturado patrimônio discutido nas cartas patrimoniais como a Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964 e asRecomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> Quito <strong>de</strong> 1967:“A <strong>de</strong>cisão quanto ao tombamento está diretamente liga<strong>da</strong> à atribuição <strong>de</strong> valoresao bem, reconhecido através <strong>da</strong> sua importância para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quanto a SãoCristóvão, esse valor, entendido por um ponto <strong>de</strong> vista atual, <strong>de</strong>ve-se à própriaformação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, um dos marcos <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa do território brasileiro, pelapresença sempre constante <strong>da</strong> religião <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a colonização, a presença dos jesuítase a construção dos monumentos religiosos, bem como as manifestações ecostumes que perduram até os dias atuais. Além disso, sua evolução urbanaformou uma paisagem tipicamente lusía<strong>da</strong>, configura<strong>da</strong> através <strong>da</strong> implantação emdois planos: Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta e Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Baixa. Tal configuração permitiu a formação <strong>de</strong>perspectivas em diversos pontos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como, por exemplo, uma novapaisagem <strong>de</strong>scortina<strong>da</strong> à medi<strong>da</strong> que um observador se afaste <strong>de</strong> uma praça e seaproxime. São fatores que justificam sua inscrição no Livro do Tombo Arqueológico,Etnográfico e Paisagístico.” (SILVA, Andrea, 2007, p.105)3.3.1 O Plano urbanísticoO Plano estabeleceu zonas para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com características <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, assim ficouestabeleci<strong>da</strong> a <strong>de</strong>limitação do Setor Central ou <strong>de</strong> Preservação Integral, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como:“Setor Central ou <strong>de</strong> Preservação Integral – centro do po<strong>de</strong>r Civil e Religioso eativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s terciárias tradicionais, zona <strong>de</strong> homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>monumental”. (SILVA, Andrea, 2007, p.108)E outros dois setores:“’Setor Intermediário ou <strong>de</strong> Preservação Ambiental – correspon<strong>de</strong> às áreas <strong>de</strong>menor homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> arquitetônica, basicamente resi<strong>de</strong>ncial (zona <strong>de</strong> transição);Setor Periférico ou <strong>de</strong> Preservação <strong>da</strong> Visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e paisagem – correspon<strong>de</strong> àsáreas que envolvem o centro Histórico e cuja utilização está sujeita a normas<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a assegurar a visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e emolduramento paisagístico do núcleoantigo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>’ (Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>…, 1980, v.2, p. 66-67).O Plano consi<strong>de</strong>ra com Centro Histórico o Setor Central e o Setor Intermediário(ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta). O Setor Periférico que envolve o Centro Histórico correspon<strong>de</strong> à


78ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa, como po<strong>de</strong> ser visto no estudo sobre a evolução urbana domunicípio.*…+No mapa po<strong>de</strong> ser observado que a <strong>de</strong>limitação e setorização <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s abrangemuma área restrita do setor central, sendo a zona rigorosa <strong>de</strong> preservação. Foramexcluídos, por exemplo, a praça Senhor dos Passos e o Convento do Carmo, osobrado <strong>da</strong> antiga rua <strong>da</strong>s Flores e a Igreja do Amparo que, além <strong>de</strong> serem benstombados individualmente, fazem parte <strong>da</strong> <strong>história</strong> e evolução urbana <strong>de</strong> sãoCristóvão, como po<strong>de</strong> ser visto no estudo ao lado.Além disso, também vale salientar que esse Plano Urbanístico não foi encaminhadoao Conselho do IPHAN e, portanto, não obteve sua aprovação, embora, por estarinserido na Lei Orgânica do município, seja consi<strong>de</strong>rado como um meio <strong>de</strong>legislação cabível para a área <strong>de</strong> São Cristóvão. Suas recomen<strong>da</strong>ções foram e ain<strong>da</strong>são utiliza<strong>da</strong>s como justificativas nas intervenções na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que leva à exclusão<strong>de</strong> áreas importantes como <strong>de</strong> preservação rigorosa, resultando em algumas<strong>de</strong>scaracterizações do acervo arquitetônico e urbanístico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Áreas que<strong>de</strong>ram origem à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e justificam a escolha do sítio <strong>de</strong> implantação em SãoCristóvão e outras representativas <strong>de</strong> sua evolução também não foramcontempla<strong>da</strong>s como áreas <strong>de</strong> preservação.” (SILVA, Andrea, 2007, p.109)4 CONJUNTURA ATUAL SOBRE DELIMITAÇÃO DE POLIGONALO próprio IPHAN admite que até hoje não há um único método estabelecido para a<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> tombamento e entorno, se justificando através do <strong>de</strong>senvolvimento dosinventários <strong>de</strong> bens imóveis e <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> referências culturais.“Os documentos internacionais que abor<strong>da</strong>m o tema do entorno chegaram a umaconcepção ampla, sem negar mas incorporando as concepções iniciais <strong>de</strong> valor – <strong>da</strong>simples visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, do emolduramento, <strong>da</strong>s belas artes -, afirmando, já na déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 1960, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> valorização dos bens também como fontes <strong>de</strong>informação, enten<strong>de</strong>ndo que o monumento é ‘inseparável <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong> que étestemunho e do meio em que se situa’, conforme a Carta <strong>de</strong> Veneza.*…+ ADeclaração <strong>de</strong> Xi’an, <strong>de</strong> 2005, consoli<strong>da</strong> esses aspectos, apontando como valor <strong>de</strong>patrimônio tudo aquilo que forma parte ou contribui para o significado dos bensprotegidos. Além dos aspectos morfológicos paisagísticos, estéticos e aquelesentendidos como testemunhos <strong>da</strong> <strong>história</strong>, aponta também para as práticas sociais,para o patrimônio cultural intangível, tais como os costumes, conhecimentostradicionais, usos ou ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que criaram e formaram o espaço e, ain<strong>da</strong>, para ocontexto atual e dinâmico <strong>de</strong> natureza cultural, social e econômica. Ressalta interrelaçãoentre os bens e seus entornos como fontes <strong>de</strong> informação, condição <strong>da</strong>autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e integri<strong>da</strong><strong>de</strong> dos bens.” (IPHAN/UNESCO,p.52, 2007)Em revisão do perímetro <strong>de</strong> tombamento do Bairro do Recife que está sendorealiza<strong>da</strong> pela Superintendência Regional <strong>de</strong> Pernambuco já se introduz o conceito <strong>de</strong> paisagem


79elaborado e discutido na geografia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950, mas apenas recentemente vem sendoempregado nas discussões e pesquisas sobre patrimônio cultural na instituição.“Enten<strong>de</strong>-se que a paisagem é, portanto, o quadro natural e construído, resultantedos fatores condicionadores <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> criadora humana,transcen<strong>de</strong>ndo a noção <strong>de</strong> entorno. É, em princípio, a própria ambiência do bem,que se expressa através <strong>de</strong> formas físicas, melhor dizendo, as formas <strong>da</strong> paisagem,a qual passa a englobar, no entanto, o próprio objeto <strong>de</strong> tombamento, numacompreensão sistêmica *…+.” (SILVA, Aline, 2007, p. 56)O discurso recente do IPHAN sobre o entorno traz o seguinte:"[...] a proteção dos entornos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> atribuição <strong>de</strong> valor cultural a essas áreas, exigindoum trabalho técnico <strong>de</strong> explicitação <strong>de</strong> seu valor em relação aos bens tombados, tãoimportante quanto aquele do tombamento para garantir a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do ato. *…+ Estapreservação <strong>de</strong>ve se <strong>da</strong>r por atos discricionários <strong>de</strong> âmbito 'estritamente técnico'.Discricionários, porque são atos feitos a partir <strong>de</strong> discernimento, baseados em trabalhostécnicos que <strong>de</strong>vem estabelecer critérios e explicitar suas motivações. Trata-se <strong>da</strong> construção<strong>de</strong> valor cultural, que atribui aos objetos um valor coletivo, próprio do exercício <strong>da</strong>competência institucional e constitucional do po<strong>de</strong>r público; no caso em pauta, maisespecificamente do IPHAN." (IPHAN/UNESCO, 2007).O Iphan vem realizando novos estudos aplicando o conceito <strong>de</strong> paisagem cultural na<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> sítios culturais tanto no meio urbano como no meio rural. No entanto, observa-seuma diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem em todo território nacional e ao longo do tempo <strong>de</strong> atuação doIphan. A revisão <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gem diante dos bens tombados é uma prática <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>, mas ocorre <strong>de</strong>forma muito lenta. Assim, a parceria com órgãos estaduais e municipais se mostra muito necessária eamplia a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação.O Iphan não tomba em escala territorial e raramente em dimensão urbana. Observaseuma gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tombamentos <strong>de</strong> sítios na escala <strong>de</strong> bairro, inclusive entre osconjuntos urbanos. A dimensão territorial vem sendo alvo <strong>de</strong> inventários <strong>de</strong> varredura em todo opaís, sendo realizados inventários temáticos como o Caminho dos Engenhos, Patrimônio Ferroviário,Caminho do Gado, Rota <strong>da</strong> Imigração, entre outros. A dimensão urbana ocorre em núcleos urbanosantigos que não se expandiram, quando a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é tomba<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> a área urbana existente naépoca do tombamento.A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter acesso aos arquivos <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> tombamento, tanto oshomologados quanto os ain<strong>da</strong> abertos ou extintos, atrasa a revisão dos conceitos e a conseqüentea<strong>de</strong>quação às modificações do pensamento contemporâneo, tornando frágil a preservação dopatrimônio cultural.


Parte IICapítulo IFormação urbana <strong>de</strong> João Pessoa – ParaíbaPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


“*…+ nenhuma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> jamais nasceu <strong>da</strong> invenção <strong>de</strong> um gênio, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é o produto<strong>de</strong> to<strong>da</strong> uma <strong>história</strong> que se cristaliza e manifesta. O que interessa não é tanto suafun<strong>da</strong>ção, em geral lendária, quanto seu <strong>de</strong>senvolvimento, ou seja, suas mu<strong>da</strong>nçasno tempo.” (ARGAN, 1998, p.245).Des<strong>de</strong> a tentativa <strong>de</strong> ocupação <strong>da</strong> margem direita do Rio Sanhauá para fun<strong>da</strong>r umaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ocorreram muitos anos <strong>de</strong> batalha entre os indígenas habitantes <strong>de</strong>stas terras e osestrangeiros europeus. A Capitania Real <strong>da</strong> Paraíba foi cria<strong>da</strong> em 1574, mas apenas em 1585 a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong>s Neves foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, <strong>de</strong>correndo todos estes anos <strong>de</strong> batalha entre portugueses,franceses e indígenas (Cariris, Potiguaras e Tabajaras) (MELLO,2002). Quando a Paraíba foiconquista<strong>da</strong>, em 1585, Portugal já estava sob o jugo espanhol, <strong>de</strong>vido a unificação <strong>da</strong> Coroa Ibérica.A ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção, em 1588, teve seu nome modificado para Filipéia <strong>de</strong>Nossa Senhora <strong>da</strong>s Neves, em homenagem ao Rei Felipe II <strong>da</strong> Espanha. Ficaria com este nome até oano <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> pelos holan<strong>de</strong>ses, em 1634.O Ouvidor Geral Martim Leitão, encarregado <strong>de</strong> implantar o assente <strong>da</strong> nova ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,consi<strong>de</strong>rava a forma <strong>de</strong> ocupação e assentamento <strong>de</strong> Olin<strong>da</strong> um modo valorozo <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong>uma urbe:“A povoação seria implanta<strong>da</strong> no alto <strong>de</strong> um platô e seu arruamento inicial seria formadopor duas ruas longitudinais e duas ou três travessas interligando-as” (NOGUEIRA;SOUSA, 2008). ACoroa já vinha implantando várias ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s com planos regulares pelo novo continente, mas com acaracterística do terreno selecionado, adotou-se uma a<strong>da</strong>ptação do mo<strong>de</strong>lo regular. “Ele <strong>de</strong>cidiuentão que as ruas <strong>de</strong>veriam ser retas e paralelas e que as travessas seriam dispostasperpendicularmente a elas, mas sem gerar uma quadrícula.*…+Com essa abor<strong>da</strong>gem híbri<strong>da</strong>, eleconseguiu produzir um assentamento <strong>de</strong> caráter inovador que conciliava traços <strong>de</strong> origem medieval,prezados pelos portugueses, com características mo<strong>de</strong>rnas preconiza<strong>da</strong>s pela cultura renascentista.”(NOGUEIRA;SOUSA, 2008)


82A partir <strong>da</strong> análise feita sobre a <strong>de</strong>scrição na Relação <strong>de</strong> Diogo Campos Moreno <strong>de</strong>1609 (MENEZES, 1985) se conclui: “A representação gráfica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é simplifica<strong>da</strong> mas indica,claramente, a rua referi<strong>da</strong>, o varadouro com o armazém junto ao rio e as igrejas e conventos”.A “ruareferi<strong>da</strong>” é <strong>de</strong>scrita como “uma rua <strong>de</strong> mui boa casas <strong>de</strong> pedra e cal que se vão acabando e outras <strong>de</strong>taipa, que tudo promete haver <strong>de</strong> ser lugar formoso…” (in MENEZES, 1985)Em mapa <strong>da</strong>tado <strong>da</strong> época <strong>da</strong> ocupação holan<strong>de</strong>sa (Figura 11), observa-se que aci<strong>da</strong><strong>de</strong> já havia consoli<strong>da</strong>do a Rua Duque <strong>de</strong> Caxias encabeça<strong>da</strong> pelo Conjunto Franciscano, queapresenta inclusive suas terras cerca<strong>da</strong>s. Assenta<strong>da</strong> sobre ela, a Igreja <strong>da</strong> Misericórdia e na outraextremi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a Igreja <strong>de</strong> São Gonçalo. Assim, autores como Menezes (1985) e Nogueira&Sousa 39(2008) consi<strong>de</strong>ram que esta é a rua mais antiga <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, havendo sido planeja<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois doassentamento inicial <strong>da</strong> Matriz.Figura 11 – “Fre<strong>de</strong>ricaCivitas” do Barleus(1647). Fonte: REIS,2000.Em 1647 já se observa a Rua Nova aberta em frente à Igreja Matriz com oassentamento do Conjunto Beneditino, o qual Herckmans (1985) <strong>de</strong>screve como <strong>de</strong> boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong>para ocupação e observatório do rio para <strong>de</strong>fesa.O assentamento <strong>de</strong> algumas edificações já <strong>de</strong>monstra a consoli<strong>da</strong>ção do trecho norte<strong>da</strong> Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas (Antiga Rua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia) e do trecho oeste <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Monsenhor39 Ver tese levanta<strong>da</strong> sobre a implantação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba e suas características <strong>de</strong> planejamento eescolha do sítio.


83Walfredo Leal. A Igreja do Carmo, apesar <strong>de</strong> não estar alinha<strong>da</strong> à Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, noprocesso <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> rua, teve papel prepon<strong>de</strong>rante na formação <strong>da</strong> rua, mantendo o largofronteiriço.Na Figura 11 ain<strong>da</strong> se observa a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Baixa com um pequeno núcleo <strong>de</strong> funçõesfun<strong>da</strong>mentais para atracar <strong>de</strong> embarcações e proteção e ataque do contexto belicoso <strong>da</strong> época.Além disso, o olho d’água <strong>da</strong> Lagoa dos Irerês (atual Parque Sólon <strong>de</strong> Lucena) está representado ecom os caminhos <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong>monstrados.Na estampa seguinte, <strong>de</strong> características mais livres, em <strong>de</strong>senho que não seapresenta em vista ortogonal, i<strong>de</strong>ntifica-se vários elementos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, inclusive o pelourinho e ala<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> São Francisco la<strong>de</strong>ando uma gran<strong>de</strong> construção.As gravuras, mapas e estampas foram reproduzidos repeti<strong>da</strong>s vezes, variando afi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao <strong>de</strong>senho original, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do artista (MENEZES, 1985). Assim écomum encontrar gravuras <strong>de</strong> períodos próximos, mas que não marcam a existência <strong>de</strong> todos oselementos do período; caminhos e aci<strong>de</strong>ntes naturais como a lagoa (Figura 12), por exemplo, sãoalguns dos que não constam em to<strong>da</strong>s as gravuras, o que não significa que não eram conhecidos ouusados na época. Alguns <strong>de</strong>talham mais o traçado, outros as edificações.


84Rua DireitaRua NovaConvento <strong>de</strong>São BentoMatrizMatrizLa<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> SãoFranciscoConventoFranciscanoIgreja <strong>da</strong>MisericórdiaPelourinhoRua <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>iaCaminho <strong>de</strong> TambiáFigura 12 – “Reprodução <strong>de</strong> estampa holan<strong>de</strong>sa, grava<strong>da</strong> em 1635, Afbeeding <strong>de</strong>r Stadt enFortressan Van Parayba – Atlas van Stolk Roter<strong>da</strong>m.” Fonte: DIEB, 1999.Apenas em 1692, surgiu um mapa que não era elaborado por holan<strong>de</strong>ses (Figura 13),que <strong>da</strong>va <strong>de</strong>staque a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta e às construções do Mosteiro <strong>de</strong> São Bento e <strong>da</strong> Matriz. O mapa foielaborado por or<strong>de</strong>m do Mosteiro <strong>de</strong> São Bento para <strong>de</strong>limitar o seu patrimônio. Rodrigues(1994)transcreve algumas inscrições do mapa <strong>de</strong>screvendo a formação <strong>da</strong> La<strong>de</strong>ira do Rosário e as vertentes<strong>de</strong> água <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>:“Alto do Varadouro. Águas vertentes dos moradores, nas terras do Marechal-<strong>de</strong>-Campo. Capela <strong>de</strong> S. Frei Pedro Gonçalves. Águas vertentes do Varadouro, nasterras do Marechal-<strong>de</strong>-Campo Matias Soarez. Alfân<strong>de</strong>ga. Pôrto do Varadouro.‘Passo’. Terras <strong>de</strong> Sesmaria do licenciado que foram do seu sogro AugustoCarvalho. Estra<strong>da</strong> que vai <strong>da</strong>s cacimbas até a porta <strong>da</strong> Igreja do Rosário dos Pretos.Rua do Varadouro para a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Varadouro para as cacimbas e portinho. Estra<strong>da</strong>ou caminho do Carro para a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Casa on<strong>de</strong> morou Maria Ribeiro, on<strong>de</strong> tomouposse o Desembargador Luís, marido <strong>de</strong> Maria <strong>da</strong> Conceição. Nesta quadra 50braças <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> Paulo Gonsalvez. 40 braças <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta do Desembargador Luís.Daqui para Leste tudo são terras do Mosteiro. Cerca ou muro do Mosteiro <strong>de</strong> S.Antônio. Terras do Mosteiro.” (RODRIGUES, 1994, p.10)


85Figura 13 – “Croquis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Parahyba feito por Manoel Francisco Granjeiro, capitãopilotono ano <strong>de</strong> 1692.”Fonte: Rodrigues, 1994.Na gravura se observa o Mosteiro <strong>de</strong> São Bento e a Igreja Matriz. Quando se refere aRua do Varadouro para a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e por sua ligação por trás do Mosteiro e pelo casario járepresentado, <strong>de</strong>duz-se que já se encontrava consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> a Rua <strong>da</strong> Areia, rua íngreme, mas já menosacentua<strong>da</strong> que os caminhos tomados pelas la<strong>de</strong>iras <strong>da</strong> Borborema e São Francisco. O que estáindicado como Varadouro para as cacimbas e portinho se supõe como o <strong>de</strong>lineamento inicial <strong>da</strong> RuaMaciel Pinheiro, on<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntifica posteriormente a fonte do Gravatá. Entre as duas se encontrava aEstra<strong>da</strong> ou caminho do carro para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> como a Rua Barão do Triunfo que sofreutransformações ao longo <strong>da</strong> <strong>história</strong>. Essa rua menos íngreme, <strong>da</strong>va acesso a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta por umabaixa<strong>da</strong> encontra<strong>da</strong> no relevo. A La<strong>de</strong>ira do Rosário, atual Aveni<strong>da</strong> Gue<strong>de</strong>s Pereira,é i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> nomapa como Estra<strong>da</strong> que vai <strong>da</strong>s cacimbas até a porta <strong>da</strong> Igreja do Rosário dos Pretos. Além disso, seconfirma a existência <strong>da</strong> Capela <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves.Po<strong>de</strong> se afirmar que até o final do século XVII já existiam as ruas Direita (Rua Duque<strong>de</strong> Caxias), Nova (Aveni<strong>da</strong> General Osório), <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia (Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas), <strong>da</strong> Areia, o primeiro


86trecho <strong>da</strong> Monsenhor Walfredo Leal, do Fogo (La<strong>de</strong>ira do Rosário- atual Gue<strong>de</strong>s Pereira), Estra<strong>da</strong> doCarro (Atual Barão do Triunfo) e a Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Cacimbas (Rua Maciel Pinheiro).Além disso, nas análises realiza<strong>da</strong>s sobre o traçado <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> por Nogueira&Sousa(2008), conclui-se que “conciliando habilmente a tradição com a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele era sensato,lógico e possuidor <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estéticas, além <strong>de</strong> ter sido uma experiência inovadora e ímpar,<strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> relevo no urbanismo luso-brasileiro dos séculos XVI e XVII.”Após esta gravura, poucas informações se têm sobre o espaço público e as novasconstruções <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A fonte mais próxima temporalmente, na qual se i<strong>de</strong>ntifica com muitaproprie<strong>da</strong><strong>de</strong> a estrutura urbana consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>, surge apenas em 1855 no Governo <strong>de</strong> BeaurepaireRohan (Figura 14).Nesta, além <strong>da</strong>s ruas já cita<strong>da</strong>s, os caminhos e estra<strong>da</strong>s <strong>de</strong>scritos se apresentamconsoli<strong>da</strong>dos, com edificações construí<strong>da</strong>s. Observa-se que são nelas que se encontram a maiorconcentração <strong>de</strong> edificações maiores e aquelas conjuga<strong>da</strong>s. As saí<strong>da</strong>s do núcleo urbano, Aveni<strong>da</strong>Walfredo Leal, Rua <strong>da</strong>s Trincheiras (continuação <strong>da</strong> Rua Direita) e Rua <strong>da</strong> República (Rua <strong>da</strong>Imperatriz ou Estra<strong>da</strong> Nova) e a ponte sobre o Rio Sanhauá, estão também consoli<strong>da</strong>dos repletos <strong>de</strong>edificações robustas, firmando os eixos <strong>de</strong> expansão.


87Bica do TambiáIg. N. S. Mãe dosHomensConvento doCarmoRua <strong>da</strong>Ca<strong>de</strong>ia VelhaIgreja <strong>da</strong>MisericórdiaIg.Rosáriodos PretosIgreja <strong>da</strong>sMercêsConjuntoJesuíticoIg. <strong>de</strong> N. S.<strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>sConventoFranciscanoMatrizLa<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> SãoFranciscoRua DireitaRua <strong>da</strong> AreiaRua do FogoMosteiroBeneditinoLa<strong>de</strong>ira <strong>da</strong>BorboremaQuartel <strong>de</strong>PolíciaCa<strong>de</strong>ia NovaRua MacielIg. Pinheiro S. F.GonsalvesCemitérioAlfân<strong>de</strong>gaThezouroProvincialEstra<strong>da</strong> do CarroHospital e Quartel<strong>de</strong> LinhaRua <strong>da</strong>ImperatrizFigura 14 – Mapa <strong>de</strong> 1855, produzido no Governo <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan. Fonte: Comissão doCentro Histórico <strong>de</strong> JPA, 2002.Des<strong>de</strong> o mapa <strong>de</strong> 1647 (Figura 11), já no período <strong>de</strong> ocupação holan<strong>de</strong>sa (1634-1654), observamos uma evolução extremamente lenta, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 62 anos, havia poucasconstruções <strong>de</strong> pedra na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta e na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa – não se observa construção significativa alémdo que po<strong>de</strong> ser a Capela <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves. Até 1855 (Figura 14), 270 anos após afun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a área urbaniza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Paraíba não passava <strong>de</strong> 150ha. Em 1920, ocupava menos<strong>de</strong> 600ha, mas se <strong>de</strong>staca como o primeiro período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expansão. A maior expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>ocorreu a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940, o que contribuiu para que não ocorressem gran<strong>de</strong>s modificaçõesna morfologia e na arquitetura <strong>de</strong>sta área <strong>de</strong> origem <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.


88De acordo com LACERDA(2002), o grau <strong>de</strong> transformação é tão mais lento quantomais tradicional for uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, isso é atribuído à intensa vinculação entre valores e cultura.O caso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa certamente se enquadra neste pensamento. O fato<strong>de</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não ser e não ter sido um centro econômico <strong>de</strong> uma região maior, mas o fato <strong>de</strong> estarpróximo <strong>de</strong> outros centros econômicos – fossem rurais ou urbanos - em várias épocas <strong>da</strong> <strong>história</strong>, fez<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa um lugar sempre mais calmo e <strong>de</strong> ritmo mais lento que nestes outroslugares, on<strong>de</strong> giravam mais negócios, que por sua vez produziam mais mu<strong>da</strong>nças.Como se observa na Figura 14, a malha urbana se ampliara timi<strong>da</strong>mente para umaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 270 anos, porém se observa a consoli<strong>da</strong>ção do traçado.“Não só a arquitetura lhe dá corpo e estrutura, mas também a torna significativacom o simbolismo implícito em suas formas. Assim como a pintura é figurativa, aarquitetura é por excelência representativa. Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, todos os edifícios, semexclusão <strong>de</strong> nenhum, são representativos e, com freqüência, representam asmalformações, as contradições, as vergonhas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (Argan, 1998,p.243).A própria socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que se estabeleceu aqui po<strong>de</strong> ter sido tão conservadora que nãose permitia mu<strong>da</strong>nças. As maiores mu<strong>da</strong>nças e per<strong>da</strong>s que a estrutura urbana <strong>de</strong> João Pessoa viveu,ocorreram ao longo do Século XX. Com a <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> igrejas barrocas para a circulação do bon<strong>de</strong>por volta <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 20 e a <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> quadras para a implantação <strong>de</strong> viadutos como símbolo<strong>de</strong> progresso – mesmo que não fosse necessário pois o tráfego <strong>de</strong> veículos era muito baixo, ain<strong>da</strong> nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960 e 1970 do mesmo século.Os significados encontrados entre a permanência ou a <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> elementosurbanos são aqueles que nos chegaram até hoje e que nos faz reconhecer a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e a cultura <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que se vive.1 A ARQUITETURA DE FORMAÇÃO DA PAISAGEM URBANA


89Nos primeiros 20 anos <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Felipéia já se instalaram três or<strong>de</strong>nsreligiosas:“A ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que está situa<strong>da</strong> pelo rio acima ao longo <strong>de</strong>le, pôsto que pequena,to<strong>da</strong>via é povoa<strong>da</strong> <strong>de</strong> muitas casas, tô<strong>da</strong>s <strong>de</strong> pedra e cal e já enobreci<strong>da</strong> <strong>de</strong> trêsreligiões que nela assistem com seus conventos, a saber, o <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m do PatriarcaSão Bento e os religiosos <strong>de</strong> Nossa Senhora do Carmo com os do Seráfico Padre SãoFrancisco <strong>da</strong> Província Capucha <strong>de</strong> Santo Antônio, que tem um convento suntuoso,o melhor dos <strong>da</strong>quela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> todo o Estado do Brasil” (AGUIAR & O<strong>CT</strong>ÁVIO,1985, p.59)O Convento Franciscano (Convento <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Franciscana) foifun<strong>da</strong>do em 1591 (BARBOSA,1994,p.130). O início <strong>da</strong> construção do Conjunto Beneditino é <strong>de</strong> 1600,mas assim como a construção franciscana, a primeira edificação foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> provisória, e ocupouo mesmo lugar em que se encontra hoje (BARBOSA, 1994,p.79).No período <strong>de</strong> ocupação holan<strong>de</strong>sa (1634-1654) Elias Herckmans como governanteelaborou um relatório sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ali se encontra um relato sobre Duarte Gomes <strong>da</strong> Silveira,responsável por parte importante do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> antes <strong>da</strong> ocupação holan<strong>de</strong>sa, queergueu a Igreja <strong>da</strong> Misericórdia e a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia, além <strong>de</strong> distribuir premiações aos queconstruíssem casas <strong>de</strong> pedra e cal, elevando o prêmio se esta fosse um sobrado. Elias Herckmansrelata que: “Ele próprio levantou um magnífico prédio ao lado oci<strong>de</strong>ntal do convento <strong>de</strong> S. Bentopara lhe servir <strong>de</strong> casa; mas não está acaba<strong>da</strong>, e se acha quase que somente em caixão, mostrandoquão gran<strong>de</strong> seria se estivesse concluí<strong>da</strong>.” (HERCKMANS, 1982,p.14)O levantamento realizado por Herckmans (1982) enumerava 6 igrejas e conventos:“O convento <strong>de</strong> S. Francisco é o maior e o mais belo: está cercado <strong>de</strong> um muro, e por <strong>de</strong>ntro foiconstruído mui regularmente.” (HERCKMANS, 1982, p. 13). A tão elogia<strong>da</strong> estrutura foi emprega<strong>da</strong>como mora<strong>da</strong> dos governadores holan<strong>de</strong>ses, dos sol<strong>da</strong>dos e dos mercadores que necessitassem. Já oConvento dos Carmelitas não foi invadido pelos holan<strong>de</strong>ses e permaneceu ocupado pelos fra<strong>de</strong>s,mas sua estrutura não estava ain<strong>da</strong> termina<strong>da</strong>. “O convento não está ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> todo acabado, porquesomente há poucos anos que este lugar é ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e em gran<strong>de</strong> parte lhes faltaram os meios.”(HERCKMANS, 1982, p.13-14). O Convento <strong>de</strong> São Bento foi encontrado sem cobertura, apenas comas pare<strong>de</strong>s. “Eles o teriam construído convenientemente; mas, como por ocasião do cerco achou-seque esse lugar estava mui bem situado para servir <strong>de</strong> fortificação, diante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> levantou-se umatrincheira em torno do convento.” (HERCKMANS, 1982,p.14). No ano <strong>de</strong> 1636, ele foi <strong>de</strong>volvido aosfra<strong>de</strong>s <strong>da</strong> mesma maneira que encontraram, removendo a trincheira, quando foram ocupar oConvento <strong>de</strong> São Francisco. As igrejas complementam a listagem. A matriz era a principal <strong>de</strong>las, masnão se encontrava finaliza<strong>da</strong>. “É uma obra que promete ser grandiosa, mas até o presente não foi


90acaba<strong>da</strong>, e assim continua, arruinando ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong> dia em dia.” (HERCKMANS, 1982,p.14). AIgreja <strong>da</strong> Misericórdia se encontrava quase acaba<strong>da</strong> e “os Portugueses servem-se <strong>de</strong>la em lugar <strong>da</strong>matriz.” “A sexta e última igreja, que assinala também limite extremo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, é uma igrejinha, ou,para melhor dizer, uma simples capela com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> São Gonçalo. (HERCKMANS, 1982, p.14). A Capela <strong>de</strong> São Gonçalo faria parte do Conjunto Jesuítico.Surgiram novas igrejas durante o Século XVIII. A Igreja do Rosário, por exemplo, <strong>da</strong>taoficialmente <strong>de</strong> 1720 e se localizava na Rua <strong>da</strong> Baixa (atual Duque <strong>de</strong> Caxias), na atual Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros, e em sua lateral havia uma rua que <strong>da</strong>va acesso à Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas (antiga Rua <strong>da</strong>Ca<strong>de</strong>ia Velha) e uma nova Igreja do Rosário foi construí<strong>da</strong> no bairro <strong>de</strong> Jaguaribe. É surpreen<strong>de</strong>nteobservarmos que, embora mais recentes, a maioria <strong>de</strong>ssas igrejas do Século XVIII não existem maisatualmente.A Igreja <strong>da</strong>s Mercês recebeu a benção canônica em 1741 e como supõeBarbosa(1994) faltava construir as duas torres. Ela se localizava no extremo sul <strong>da</strong> Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>Pelotas na atual Praça 1817.A Igreja Mãe dos Homens (Figura 15) que Walfredo Rodrigues (1994,p.175) afirmaser do Século XVIII, se localizava na atual Praça Coronel Antônio Pessoa com a frente para oeste. Foi<strong>de</strong>moli<strong>da</strong> em 1925 em conseqüência do plano <strong>de</strong> urbanização <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ealargar a Rua do Tambiá. O mesmo autor apresentou uma foto <strong>da</strong> igreja neste mesmo livro na página28 e escreveu na legen<strong>da</strong> que ela foi construí<strong>da</strong> no século XIX e <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> em 1923, na administração<strong>de</strong> Gue<strong>de</strong>s Pereira.


91Figura 15 - “1912- Antiga Igreja <strong>da</strong> Mãedos Homens, no Tambiá (<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>)”.Fonte: Rodrigues, 1974.Estas duas igrejas foram construí<strong>da</strong>s respectivamente próximas às antigaslocalizações, mas com facha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> características menos elabora<strong>da</strong>s.A Igreja <strong>de</strong> São Bom Jesus, atual Igreja Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s, não apresentadocumentos e relatos <strong>de</strong> sua implantação. Assim, <strong>de</strong> acordo com Barbosa (1994) a igreja não émenciona<strong>da</strong> diretamente nos documentos estu<strong>da</strong>dos entre o período <strong>de</strong> 1639 e 1817, mas consi<strong>de</strong>rapossível que ela existisse em 1754, quando Padre Domingos Lôreto Couto <strong>de</strong>screveu a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>Paraíba.A partir do final do Século XIX alguns prédios classicistas são construídos para aadministração pública ou mesmo alguns antes <strong>de</strong> aparência colonial receberam tratamento <strong>de</strong>facha<strong>da</strong> para se transformarem em um edifício <strong>de</strong> aparência classicista imperial 40 como é o caso doConjunto Jesuítico e do Palácio do Bispo (antigo Convento dos Carmelitas). Exemplares disso são oprédio do Tesouro, o Quartel <strong>de</strong> Polícia e o Teatro Santa Roza. Ou seja, a remo<strong>de</strong>lação <strong>da</strong> paisagemurbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> aconteceu também em forma <strong>de</strong> “maquiagem” nas facha<strong>da</strong>s dos edifícios coloniais,além <strong>de</strong> abertura e alargamento <strong>de</strong> ruas.40 Termo adotado por Sousa (1994) para qualificação <strong>da</strong> arquitetura classicista adota<strong>da</strong> no Brasil no períodoimperial


92O Século XX tem em seus primeiros 15 anos a implantação <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong>energia, abastecimento e saneamento, tornando onerosa a administração pública e portantoimpedindo a construção <strong>de</strong> prédios públicos. Na fase seguinte, <strong>de</strong> 1916 a 1940 juntamente com asreformas urbanas <strong>de</strong> embelezamento, são construídos novos prédios públicos em busca <strong>da</strong> extinção<strong>da</strong>s feições coloniais que se opunham aos anseios <strong>de</strong> progresso (ARAÚJO, 2008).Figura 16 – Desenhoem perspectiva doProjeto do Instituto<strong>de</strong> Educação. Fonte:Depto <strong>de</strong> Estatística ePublici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado<strong>da</strong> Paraíba, 1938O Instituto <strong>de</strong> Educação (Figura 16 e 17) inaugurado em 1939 é um marco importante<strong>da</strong> arquitetura mo<strong>de</strong>rnista construí<strong>da</strong> na Paraíba. Localiza<strong>da</strong> em uma área nova <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, na porçãosu<strong>de</strong>ste <strong>da</strong> Lagoa, apresentava características harmoniosas com o novo conjunto do parkway. A obrafoi executa<strong>da</strong> pela DVOP (Diretoria <strong>de</strong> Viação e Obras Públicas) e projetado por Ítalo Joffily (ARAÚJO,2008).Figura 17 –Construção doInstituto <strong>de</strong> Educaçãono ano <strong>de</strong> 1938. Fonte:Depto <strong>de</strong> Estatística ePublici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado<strong>da</strong> Paraíba, 1938


932 AS TRANSFORMAÇÕES, O EMBELEZAMENTO E A ORDENAÇÃO DA PAISAGEM URBANA2.1 O Século XIXA vin<strong>da</strong> <strong>da</strong> Missão Artística Francesa em 1816 ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, que foram trazidospela Corte Real Portuguesa, influenciou todo o território brasileiro. O objetivo era a<strong>de</strong>quar a capitalbrasileira às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Corte e à Lisboa, reconstruí<strong>da</strong> após o terremoto <strong>de</strong> 1755 aos mol<strong>de</strong>s doMarquês <strong>de</strong> Pombal.“Era preciso, sobretudo, construir o cenário <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mostrassecompatível com a posição política e econômica <strong>da</strong> realeza portuguesa que aqui seinstalara, e que satisfizesse, também, aos padrões <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> urbana, ca<strong>da</strong>vez mais mol<strong>da</strong><strong>da</strong> por valores europeus, particularmente franceses e ingleses,afastando-se dos padrões rurais, patriarcais e religiosos que caracterizavam o iníciodo século XIX.” (MOURA FILHA, 2000, p.49)Estas mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> padrões correram o país na veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> permiti<strong>da</strong> para a época.Salvador e Recife an<strong>da</strong>vam na frente no processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização que ocorreu praticamente emparalelo ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, pois o po<strong>de</strong>r econômico e político <strong>de</strong>stas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s eram os maiores do país.A Companhia <strong>de</strong> Comércio <strong>de</strong> Pernambuco e Paraíba cria<strong>da</strong> no século XVIII aumentoua <strong>de</strong>pendência econômica <strong>da</strong> Paraíba e subordinou to<strong>da</strong> a administração ao Estado <strong>de</strong> Pernambuco,o que retardou o crescimento <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba. O século XIX foi <strong>de</strong> comercialização do algodãocom a Europa e <strong>de</strong> outros gêneros trazidos para cá, então gerando o aumento do comércio urbano.(MOURA FILHA, 2000)Enquanto o Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Recife e Salvador iniciaram este processo no começo doséculo XIX, na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba só começou na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século com a primeira planta<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (Figura 19).Em 1850, a Estra<strong>da</strong> Nova é reconheci<strong>da</strong> como Rua <strong>da</strong> Imperatriz (atual Rua <strong>da</strong>República) (Figura 18). Esta estra<strong>da</strong> foi aberta na presidência <strong>de</strong> Amorim Bezerra com o objetivo <strong>de</strong>ligar a Ponte do Sanhuá em linha reta com o Palácio do Governo e facilitar o acesso dos que vinham


94do interior para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta. Outra rua aberta neste mesmo ano foi a do Lyceu, esta já era umcaminho há muito realizado e partia do Lyceu para a La<strong>de</strong>ira do Rosário, constituindo hoje a RuaGeneral Osório (RODRIGUES, 1994, p.23).Em 1858, Henrique Beaurepaire Rohan assumiu a Presidência <strong>da</strong> Província e<strong>de</strong>stacou o curto período <strong>de</strong> sua administração na <strong>história</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba. Seus planosabrangiam o embelezamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e a higienização como, por exemplo, o direcionamento <strong>da</strong>ságuas nas ruas. Em 1857, o presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Província foi autorizado a levantar a planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> como alinhamento <strong>da</strong>s ruas e as praças existentes.Alguns <strong>de</strong>stes eram o pensamento e as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan:“Os arruamentos nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> nunca foram nem ain<strong>da</strong> estão sujeitos a plano algumquer em relação aos alinhamentos quer ao nivelamento, ca<strong>da</strong> um edifica à suavonta<strong>de</strong> e <strong>da</strong>í resulta êsse labirinto em que se vai sensivelmente convertendo aci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (RODRIGUES, 1994, p.24)“… Man<strong>de</strong>i proce<strong>de</strong>r ao nivelamento geral para um sistema <strong>de</strong> esgotos, questãoque interessa a salubri<strong>da</strong><strong>de</strong> pública. *…+ Novas direções foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s às águas queafluem a Rua <strong>da</strong> Baixa, que prejudicavam a saú<strong>de</strong> pública.” (RODRIGUES, 1994,p.24)Foi neste governo que a La<strong>de</strong>ira do Rosário foi alarga<strong>da</strong> com a doação <strong>de</strong> terrenos eque a rua do Melão (atual Beaurepaire Rohan) foi aberta. Os trabalhos <strong>de</strong> aterramento <strong>da</strong> viaparalela ao Rio Sanhauá, a partir <strong>da</strong> Ponte Sanhauá até a antiga Praça <strong>da</strong> Gameleira (atual ÁlvaroFigura 18 - “1920 – AntigaRua <strong>da</strong> Imperatriz, atual <strong>da</strong>República, com <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>sua balaustra<strong>da</strong>,<strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>”. Fonte:Rodrigues, 1974.Machado), foi também realizado neste governo com o intuito <strong>de</strong> facilitar o acesso dos viajantes. Em1859, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> avalia<strong>da</strong> a planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, são abertas as novas ruas: Formosa (antiga Melão, atualBeaurepaire Rohan), Conciliação (antiga Travessa do Teatro, atual Gama Rosa), Jardim (TenenteRetumba), Palma (antiga do Império, atual Silva Jardim). (RODRIGUES, 1994,p.25)


95Neste Governo a Rua Nova não apresentava ain<strong>da</strong> a formação atual, o sobrado ain<strong>da</strong>permanecia interrompendo a rua na altura do Beco <strong>da</strong> Misericórdia.A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa se <strong>de</strong>finiu como a área comercial e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta continuou abrigandoa administração e a religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. As proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s igrejas eram áreas mais valoriza<strong>da</strong>se mais rapi<strong>da</strong>mente estrutura<strong>da</strong>s por construções <strong>de</strong> pedra e cal, mesmo assim, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> altaapresentava neste ano <strong>de</strong> 1889 menos residências <strong>de</strong>ste tipo e mais casas <strong>de</strong> palha que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>baixa. Talvez isso tenha ocorrido pela gran<strong>de</strong> movimentação comercial que envolveu este setor, poisa estrutura <strong>da</strong>s edificações <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa ain<strong>da</strong> dividia com freqüência a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> comercial e aresidência.Vi<strong>da</strong>l (2004) elabora análise sobre as transformações ocorri<strong>da</strong>s na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>stacainicialmente a intervenção que Beaurepaire Rohan promoveu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> após o levantamentorealizado. Em sua avaliação sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, Rohan i<strong>de</strong>ntificou uma ocupação espontânea e<strong>de</strong>salinha<strong>da</strong>, contrastando com o restante do traçado regular já existente. Vi<strong>da</strong>l (2004) levantou<strong>da</strong>dos sobre o que ocorreu após a elaboração <strong>da</strong> planta entre <strong>da</strong>dos bibliográficos e em especial aMonografia <strong>de</strong> Vicente Gomes Jardim (Figura 19).A planta <strong>de</strong>duzi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa combinação <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>monstra que uma porção <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong> sofreu transformações rigorosas para o alinhamento e alargamento <strong>da</strong>s vias, seguindo omo<strong>de</strong>lo haussmanniano em proporções reduzi<strong>da</strong>s.


96Figura 19 – Transformações ocorri<strong>da</strong>s na administração <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan em área <strong>de</strong>ocupação espontânea (1 – Rua Formosa; 2 – Rua dos Quintais; 3 – Rua do Império). Fonte:VIDAL(2004)A elaboração <strong>de</strong> uma base cartográfica a partir do cruzamento <strong>de</strong> informações doperíodo <strong>de</strong> 1855 a 1889 (Figura 20) i<strong>de</strong>ntifica ruas abertas nesse período, <strong>de</strong>monstrando o processo<strong>de</strong> assentamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, é possível ler que antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> do século XX a Rua Nova(Aveni<strong>da</strong> General Osório) já havia sido retifica<strong>da</strong>, a Aveni<strong>da</strong> Beaurepaire Rohan já havia sido aberta,além <strong>de</strong> outras ruas haverem sido abertas. As ruas já consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s não sofreram transformações anão ser aquelas já cita<strong>da</strong>s. A área <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao Jardim Botânico foi corta<strong>da</strong> por uma rua cruzando-o eoutras duas sem saí<strong>da</strong>. Essa planta reforça a lentidão <strong>da</strong> expansão ocorri<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que apenas semodificará no século XX.


97Figura 20 – Planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> elabora<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> Planta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba levanta<strong>da</strong> porAlberto <strong>de</strong> Barros e Vasconcelos <strong>de</strong> 1855 e <strong>de</strong> informações <strong>da</strong> Monografia <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>Parahyba do Norte <strong>de</strong> Vicente Gomes Jardim <strong>de</strong> 1889. Fonte: (VIDAL, 2004)No início do século XX, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não sofreu com transformações urbanas, mas sim,ocorreram melhorias dos sistemas <strong>de</strong> abastecimento e iluminação que não alteraram a forma dotraçado. A partir <strong>de</strong> 1916 com a administração <strong>de</strong> Camilo <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong> é que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> começa a passarpor intervenções urbanas para mu<strong>da</strong>r o quadro <strong>de</strong> “fisionomia colonial” que tanto recebia críticas.Foram feitos alargamento, extensão e abertura <strong>de</strong> ruas e urbanização <strong>de</strong> praças.


982.2 O Século XXJoão Machado é consi<strong>de</strong>rado por Oswaldo Trigueiro <strong>de</strong> Albuquerque MELLO 41 ,ogovernador responsável por mo<strong>de</strong>rnizar a Capital. Foi em seu man<strong>da</strong>to (1908-1912) que se construiuo primeiro serviço <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, que se substituiu os bon<strong>de</strong>s à tração animal edistribuiu luz na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A atual Aveni<strong>da</strong> João Machado foi aberta em seu man<strong>da</strong>to, sendo uma ruamuito útil à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e muito característica com suas mangueiras ao centro.Camilo <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>, com man<strong>da</strong>to entre 1916 e 1920 ergueu edifícios, abriu novasaveni<strong>da</strong>s e calçou ruas. MARIZ 42 <strong>de</strong>screve seu pensamento acerca <strong>de</strong>ste período:“Com o Presi<strong>de</strong>nte Camilo vieram vários rapazes animados nas inovações. AParaíba, com água, esgoto, luz elétrica, já parecia uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas o casario ain<strong>da</strong>era o <strong>de</strong> estilo antigo, estilo ótimo para se aperfeiçoar, honrando nas linhasoriginais, a criação própria ou bem her<strong>da</strong><strong>da</strong>. Isso não se <strong>de</strong>u, senão parcialmente.”(AGUIAR & O<strong>CT</strong>ÁVIO, 1985, p. 138)Os rapazes a quem se refere Mariz eram os arquitetos 43 <strong>de</strong>ste período responsáveispela elaboração <strong>da</strong>s obras públicas do Governo <strong>de</strong> Camilo <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>.Vi<strong>da</strong>l (2004) i<strong>de</strong>ntifica o intenso período <strong>de</strong> intervenções por que passou a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. E<strong>de</strong>staca o seguinte: “Mais do que transformar profun<strong>da</strong>mente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ação do po<strong>de</strong>r públicoinvestiu na construção <strong>de</strong> imagens urbanas emblemáticas. A inauguração <strong>da</strong> Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreirosrepresenta bem tal postura.” Ali se <strong>de</strong>moliu uma igreja do século XVII, o cinema e o casario <strong>de</strong> suasproximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para abrir espaço no local <strong>de</strong> efervecência social.Na planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 1923 (Figura 21) observa-se os eixos <strong>de</strong> expansão com aabertura <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> João Machado, que recebia transversalmente as ruas <strong>da</strong>s Trincheiras, <strong>da</strong>Palmeira, Estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Jaquaribe e Estra<strong>da</strong> do Macaco, incentivando o assentamento do Bairro <strong>de</strong>41 MELLO, Oswaldo Trigueiro <strong>de</strong> Albuquerque. A Paraíba na Primeira República. João Pessoa: A União Editora,1982. Coletado por AGUIAR&O<strong>CT</strong>ÁVIO, 1985.42 MARIZ, Celso. Evolução econômica <strong>da</strong> Paraíba. 2ªed, João Pessoa: A União Editora. Coletado porAGUIAR&O<strong>CT</strong>ÁVIO, 1985.43 Foram eles e suas obras: Fiorilo responsável pela Praça Venâncio Neiva, pelo Grupo Escolar Tomás Min<strong>de</strong>lo epelo Grupo Epitácio Pessoa. Otávio Freire responsável pela Escola Normal e pela Balaustra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Trincheiras.Hermenegildo Di Láscio responsável pela Praça do Carmo, Praça Aristi<strong>de</strong>s Lobo , Associação Comercial, GrupoEscolar Isabel Maria, Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Comércio, Escola <strong>de</strong> Aprendizes Artífices, Loja Maçônica Branca Dias,Instituto <strong>de</strong> Proteção à Infância. Gioia responsável pelo Pavilhão do Chá, Cinema Rex, Clodoaldo Gouveia,responsável pelos Correios e Telégrafos, Paraíba-Hotel, Palácio <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>.


99Jaguaribe. Outro setor <strong>de</strong> expansão se <strong>de</strong>u no Montepio, porção à leste <strong>da</strong> Lagoa e o prolongamento<strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Monsenhor Walfredo Leal até a Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência.Figura 21 – Planta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1923. Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e Aveni<strong>da</strong> Monsenhor WalfredoLeal. (VIDAL, 2004)No período em que a Paraíba foi governa<strong>da</strong> por Argemiro <strong>de</strong> Figueiredo (1935-1940)ocorreram mais ações para aprimorar o serviço elétrico, tanto para o funcionamento <strong>de</strong> fábricascomo para to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, incluindo a iluminação pública.“A iluminação <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> General Osório foi completamente mo<strong>de</strong>rniza<strong>da</strong> e a <strong>da</strong>rua Duque <strong>de</strong> Caxias substituí<strong>da</strong> por elementos dos mais elegantes, comcanalização subterrânea.” (DEPTO DE ESTATÍSTICA E PUBLICIDADE DA PARAÍBA,1938)


100Figura 22 - Urbanização doParque Solon <strong>de</strong> Lucena em1938, à esquer<strong>da</strong> a construçãodo atual Liceu Paraibano.Fonte: Depto <strong>de</strong> Estatística ePublici<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>da</strong>Paraíba, 1938O sistema <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>s foi reformado e ampliado e a iluminação pública aumentou <strong>de</strong>1314 para 1879 pontos <strong>de</strong> luz. As obras realiza<strong>da</strong>s compreendiam a finalização <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong>Fazen<strong>da</strong>, a construção do Instituto <strong>de</strong> Educação cujo projeto foi do arquiteto Clodoaldo Gouveia, aimplantação <strong>de</strong> 80 mil metros quadrados <strong>de</strong> calçamento em to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o embelezamento doParque Solon <strong>de</strong> Lucena (Figura 22) – que foi consi<strong>de</strong>rado “o eixo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento futuro <strong>da</strong>Capital” (Figura 22), a instalação <strong>de</strong> serviço telefônico automático, entre outras.“O Parque Solon <strong>de</strong> Lucena, outrora virtualmente abandonado, se transforma emmagnífico passeio público <strong>de</strong> perspectiva admirável, ao mesmo tempo que virácontribuir na solução <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte do problema <strong>de</strong> tráfego na Capital. Zonasantigamente inhabita<strong>da</strong>s cobrem-se <strong>de</strong> prédios resi<strong>de</strong>nciais por força dosmelhoramentos <strong>de</strong> iniciativa do po<strong>de</strong>r público.” (DEPTO DE ESTATÍSTICA EPUBLICIDADE DA PARAÍBA, 1938)O gran<strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ocorre a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 40, principalmente emdireção às praias. As moradias começam a serem transferi<strong>da</strong>s para fora do núcleo urbano e a praia<strong>de</strong> Tambaú que era utiliza<strong>da</strong> apenas no veraneio – além <strong>da</strong> colônia <strong>de</strong> pescadores – passa a abrigarparte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.O surgimento <strong>de</strong> novos bairros adjacentes a este núcleo central – Varadouro, Tambiáe Trincheiras - ocorrem também nesta época. Os bairros <strong>de</strong> Cordão Encarnado e Ilha do Bispo surgemnas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> fábrica <strong>de</strong> cimento e <strong>da</strong> usina <strong>de</strong> óleo Matarazzo; os bairros do Roger e <strong>de</strong>Man<strong>da</strong>caru são ocupados pela população <strong>de</strong> baixa ren<strong>da</strong>. Jaguaribe, Cruz <strong>da</strong>s Armas, Torre, bemcomo os bairros ao longo <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Epitácio Pessoa, também surgem nesta época.Foram implantados os viadutos Dorgival Terceiro Neto e Damásio Franca entre as<strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1960 e 1970 com a intenção <strong>de</strong> que João Pessoa se tornasse uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna – estas


101estruturas eram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s símbolos <strong>de</strong> progresso. Ambos ligaram o Parque Solon <strong>de</strong> Lucena e aci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa, atravessando a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta. As obras <strong>de</strong> implantação exigiram a <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> váriosprédios e trechos <strong>de</strong> quadra. O viaduto Damásio Franca foi implantado em uma área já altera<strong>da</strong> pelanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> agilizar o bon<strong>de</strong>, cruzando a Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros (Figuras 26 e 27), modificandosua forma e sua função.Figura 23 – Foto <strong>de</strong> 1928 a partir<strong>da</strong> Rua Maciel Pinheiro on<strong>de</strong> seobserva o casario <strong>de</strong>molido paraa abertura <strong>da</strong> Praça AntenorNavarro. Fonte: Rodrigues (1974)Figura 24 – Foto <strong>de</strong> 1910 quemostra o Pátio <strong>da</strong>s Mercês e suaIgreja e casario. Fonte:Rodrigues (1974).


102Figura 25 – Praça 1817,observando ao fundo aspalmeiras <strong>da</strong> Praça JoãoPessoa. Fonte: AcervoHumberto NóbregaFigura 26 – Foto <strong>de</strong> 1920 on<strong>de</strong>se vê a Igreja do Rosário e todocasario antes <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong>Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros. Fonte:Rodrigues (1974)Figura 27 – Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros ou Ponto dos CemRéis. Fonte: Acervo HumbertoNóbrega


103Conclui-se que o núcleo inicial <strong>de</strong> João Pessoa sofreu alterações nas <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1910a 1940 e, novamente, nas <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1960 e 1970. A primeira fase <strong>de</strong> transformações ocorreuprincipalmente nas ruas: General Osório, Duque <strong>de</strong> Caxias, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, São Francisco,Monsenhor Walfredo Leal, 7 <strong>de</strong> Setembro (Odon Bezerra), Palmeira (Rodrigues <strong>de</strong> Aquino), MacielPinheiro (Figura 23), Trincheiras, Beaurepaire Rohan, Amaro Coutinho, República, Barão do Triunfo,Gama e Melo, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhaúma, Cardoso Vieira, Gue<strong>de</strong>s Pereira, Almei<strong>da</strong> Barreto e Duarte <strong>da</strong>Silveira. As transformações se caracterizaram por prolongamentos, alargamentos, nivelamentos ecorreção <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios, que em alguns casos implicaram em <strong>de</strong>molições e <strong>de</strong>sapropriações <strong>de</strong> edifícios.E nas praças as transformações ocorreram na Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros, Coronel Antônio Pessoa, AnternorNavarro (Figura 23) e 1817 (Figuras 24 e 25), e envolveram <strong>de</strong>molições <strong>de</strong> edificações <strong>de</strong> valoreshistóricos e artísticos importantes para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tanto como monumentos isolados – Igreja <strong>de</strong> NossaSenhora do Rosário dos Pretos, Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora Mãe dos Homens e Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora<strong>da</strong>s Mercês; assim como também o casario <strong>de</strong>molido para facilitar o acesso ao Largo <strong>de</strong> São FreiPedro Gonçalves através <strong>da</strong> Rua Maciel Pinheiro.


Parte IICapítulo IIDelimitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João PessoaPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa se inicia em 1975 como 1º Plano Diretor <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>fine uma primeira poligonal <strong>de</strong> preservação rigorosa e outra<strong>de</strong> preservação ambiental, juntamente com uma legislação <strong>de</strong>finidora e condutas gerais diante<strong>de</strong>stas áreas.Ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, o IPHAEP é criado sob o Decreto 5.225 <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>1971 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1971), on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>termina que o Conselho Estadual <strong>de</strong>Cultura <strong>de</strong>veria, no prazo <strong>de</strong> 30 dias, apresentar o regulamento do órgão, que só ocorrerá em 1978,com a publicação do Decreto 7.819 <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1978 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA,1978), on<strong>de</strong> se lê: “Dispõe sobre o Ca<strong>da</strong>stramento e Tombamento dos Bens Culturais, Artísticos eHistóricos no Estado <strong>da</strong> Paraíba, e dá outras providências” e em 1982 é publicado o Decreto 9.484(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1982) on<strong>de</strong> se apresenta a <strong>de</strong>limitação do CENTRO HISTÓRICOINICIAL DE JOÃO PESSOA. Esta área, on<strong>de</strong> atuou o IPHAEP, é bastante mais ampla que a anterior, masnão se subdividia em rigorosa e ambiental ou divisão similar.Em 1987, estabelece-se uma terceira poligonal que não apresenta seus limitescoinci<strong>de</strong>ntes com nenhum dos anteriores, estabelecendo uma área intermediária entre o PlanoDiretor e o do IPHAEP. Esta <strong>de</strong>limitação surge juntamente com a execução <strong>de</strong> um inventário <strong>da</strong>sedificações inseri<strong>da</strong>s nesta área, subsidiando normativas <strong>de</strong> construção, reforma, restauração e<strong>de</strong>molição pela Comissão.Prefeitura <strong>de</strong> João Pessoa, IPHAEP e Comissão trabalharam em colaboração sobre afiscalização e análise <strong>de</strong> projetos para a área do Centro Histórico <strong>de</strong> acordo com o perímetro <strong>da</strong>Comissão. O restante <strong>da</strong> área do IPHAEP ficava sob a análise do mesmo e <strong>da</strong> Prefeitura.A revisão <strong>de</strong>stas áreas só ocorre em 2004, com a publicação do Decreto n.°25.138(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004), on<strong>de</strong> se unifica a área <strong>de</strong> atuação dos dois órgãos


106atuantes sobre o Centro Histórico. IPHAEP e Comissão atuam a partir <strong>de</strong> então na mesma área, mas apartir <strong>de</strong>ste momento trata-se <strong>de</strong> uma área mais ampla para ambos. Outro aspecto importante é areferência ao tombamento <strong>de</strong> ruas e praças.Em 2006, ocorre a confirmação do tombamento nacional que, no entanto seapresenta menor do que to<strong>da</strong>s as áreas <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>s anteriormente.Procurando fazer a análise dos procedimentos e critérios para a <strong>de</strong>finição dosperímetros estabelecidos ao longo do processo <strong>de</strong> preservação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa,se apresenta a seguir a listagem <strong>de</strong> bens tombados pelo Iphan e IPHAEP em João Pessoa, comcomentários sobre a ótica <strong>da</strong> conjuntura teórica já discuti<strong>da</strong> anteriormente e a relação que elesapresentam ou não com a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros.1- OS BENS TOMBADOS PELO IPHANDe 12 bens tombados (monumento isolado) pelo IPHAN (Quadro 04) ditos comolocalizados no município <strong>de</strong> João Pessoa, 1 <strong>de</strong>les, a Ruína <strong>da</strong> Almagre se encontra fora do município,por erro <strong>de</strong> registro freqüente no início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do IPHAN. Sete <strong>de</strong>les foram tombados no ano<strong>de</strong> 1938 e o restante em 1941, 1952, 1957 e 1984.Apenas a Capela do Engenho <strong>da</strong> Graça não está inseri<strong>da</strong> no núcleo inicial <strong>da</strong>formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa.Dos bens tombados em 1938, apenas o Sobrado à Rua Peregrino <strong>de</strong> Carvalho não era<strong>de</strong> função religiosa, militar ou administrativa e não apresenta estilo colonial. O tombamento <strong>de</strong> umbem <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial ocorre apenas em 1984 com a Fábrica <strong>de</strong> Vinhos Tito Silva seapresentando aproxima<strong>da</strong>mente 20 anos atrasado em relação ao reconhecimento do patrimônioindustrial como patrimônio cultural que já acontecia em vários lugares do mundo e tambémrepresentado nas cartas patrimoniais.


107Não há praça, rua ou qualquer elemento do espaço público urbano que seja tombadonacionalmente. O tombamento do conjunto urbano centro histórico <strong>de</strong> João Pessoa vem sertombado apenas em 2007.Quadro 04 - Lista <strong>de</strong> bens tombados pelo Iphan em João Pessoa. Fonte: Arquivo NoronhaSantosITEM IMÓVEL DENOMINAÇÃO ENDEREÇO Livro e nº <strong>de</strong>processo01 Capela do Engenho <strong>da</strong> Graça João Pessoa/Pb LBA (042)0045-T-3802 Casa do Erário Praça Rio Branco - João LH (431)Pessoa/Pb.0828 – T -7003 Igreja <strong>da</strong> Misericórdia Rua Duque <strong>de</strong> Caxias LBA (041)João Pessoa/Pb.0103 -T -3804 Casa <strong>da</strong> Pólvora: ruínas La<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> São Francisco - LBA (103)João Pessoa/Pb.LH (058)0272 –T - 4105 Igreja <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> SãoFranciscoJoão Pessoa/Pb LH (020)LBA (047)0042-T-38João Pessoa LH (063)0061-T-38Praça Dom A<strong>da</strong>uto – João LBA (190)Pessoa0043 – T -38Praia do Poço – João LH (101)Pessoa0041-T- 38LH (176)João Pessoa/Pb.0127 –T - 3806 Sobrado à Rua Peregrino <strong>de</strong>Carvalho, 11707 Igreja <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Terceira doCarmo08 Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora dosNavegantes: ruínas 4409 Fonte do Tambiá Parque Arru<strong>da</strong> Câmara -10 Convento e Igreja <strong>de</strong> SantoAntônio e Casa <strong>de</strong> Oração eclaustro <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong>São Francisco (João Pessoa, PB)Largo <strong>de</strong> São FranciscoJoão Pessoa/Pb.LBA (407)0063- T -3811 Igreja <strong>de</strong> São Bento João Pessoa LBA (434)0063-T- 3812 Fábrica <strong>de</strong> Vinho Tito Silva João Pessoa/Pb. LH (495)1054-T- 82Fonte: Arquivo Noronha Santos, 2009.DATA DAPUBLICAÇÃO30/04/193826/04/193825/04/193824/05/193805/05/193821/06/193822/07/193812/08/193826/09/194116/10/195210/01/195702/08/1984O Iphan só instala um escritório técnico em João Pessoa em 1984, que permaneceusob a tutela do Superintendência Regional <strong>de</strong> Pernambuco. Em 1998, o escritório foi transformadoem Sub-regional e em 2005, Superintendência Regional Paraíba/ Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.44 Os tombamentos realizados no início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do IPHAN apresentam erros <strong>de</strong> <strong>de</strong>nominação elocalização que ocorrem com certa freqüência. Neste caso há o erro <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, já que o local on<strong>de</strong> se encontraa ruína já faz parte do município <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo. Além disso, já foram elaborados estudos sobre a <strong>de</strong>nominação<strong>da</strong> Santa padroeira <strong>da</strong> Igreja, o que alteraria o nome para Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora do Bom …. Também éconheci<strong>da</strong> como ruínas <strong>de</strong> Almagre.


1082- OS PRIMEIROS TRABALHOS PARA A DELIMITAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃOPESSOA - PARAÍBAEm Diário Oficial do dia 03 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1976 se publica a Lei n° 2.102, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1975 (PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1975), que institui o Código <strong>de</strong>Urbanismo, integrante do “Plano Diretor físico do Município <strong>de</strong> João Pessoa”. O primeiro planodiretor <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> estipulou a Área <strong>de</strong> Interesse Histórico e Artístico <strong>de</strong> João Pessoa, já <strong>de</strong>monstrandoconsonância com a Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairobi <strong>de</strong> 1976, em que se recomen<strong>da</strong> zonas a seremprotegi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com as “condições e restrições específicas que lhe dizem respeito”(RECOMENDAÇÃO DE NAIROBI, 1976). São atribuídos os nomes <strong>de</strong> área <strong>de</strong> preservação rigorosa eárea <strong>de</strong> importância ambiental. Esta gran<strong>de</strong> área apresenta limitação <strong>de</strong> usos <strong>de</strong> acordo com ozoneamento do plano, on<strong>de</strong>, para a área <strong>de</strong> preservação rigorosa, estavam <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s asseguintes condições:“Art. 264 – *…+I –Não será permiti<strong>da</strong> a execução <strong>de</strong> reformas que <strong>de</strong>scaracterizem os exemplaresdignos <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> arquitetura civil e religiosa conforme discriminação a serestabeleci<strong>da</strong> por <strong>de</strong>creto do Prefeito.II – Os volumes <strong>da</strong>s edificações serão mantidos conservando-se as inclinações,alturas e materiais existentes nas cobertas.III- As construções novas <strong>de</strong>verão ter suas cobertas constituí<strong>da</strong>s somente <strong>de</strong> telhascerâmicas ou concreto armado.IV – As construções novas <strong>de</strong>verão obe<strong>de</strong>cer a um gabarito máximo <strong>de</strong> 8,00m (oitometros) <strong>de</strong> altura contados a partir <strong>da</strong> cota média natural do terreno noalinhamento.V – Não serão permitidos <strong>de</strong>smembramento e remembramento <strong>de</strong> terreno salvopermissão expressa do I.P.H.A.N.§ 1º - A Prefeitura po<strong>de</strong>rá incentivar a restauração arquitetônica <strong>da</strong>s edificaçõessitua<strong>da</strong>s na área a que se refere o presente artigo.§ 2º - As quadras que contêm o Convento <strong>de</strong> São Francisco, o Convento do Carmo eo Convento <strong>de</strong> São Bento, terão sua taxa <strong>de</strong> ocupação máxima limita<strong>da</strong> em 20%(vinte por cento).Art.265 – Na área <strong>de</strong> importância ambiental <strong>de</strong>verão ser obe<strong>de</strong>ci<strong>da</strong>s as seguintescondições.I – As edificações <strong>de</strong>verão obe<strong>de</strong>cer a um gabarito máximo <strong>de</strong> 16,00m (<strong>de</strong>zesseismetros) <strong>de</strong> altura contados a partir <strong>da</strong> cota média natural do terreno noalinhamento.


109II – As coberturas só po<strong>de</strong>rão ser executa<strong>da</strong>s em concreto armado ou telhascerâmicas.” (PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1975)To<strong>da</strong> a regulamentação estava muito direciona<strong>da</strong> ao edifício e sugeria a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>uso <strong>da</strong> coberta <strong>de</strong> concreto, e ain<strong>da</strong> usava-se o termo “exemplares dignos <strong>de</strong> preservação”. Areferência que mais se aproxima do espaço público é o item que se refere ao <strong>de</strong>smembramento eremembramento <strong>de</strong> terreno.As normas or<strong>de</strong>nadoras e disciplinadoras são muito amplas, <strong>de</strong>ixando margem paramuitas interpretações. Além disso, vários itens são direcionados para o julgamento e avaliação doIPHAN, que analisariam caso a caso.Na Sub-seção II, encontra-se as <strong>de</strong>finições dos conceitos <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> conservação,reparação, reforma, ampliação ou novas construções:“Art. 268 – As obras <strong>de</strong> restauração total ou parcial consistem na consoli<strong>da</strong>ção erestauração <strong>da</strong> estrutura original, remoção dos anexos sem mérito arquitetônico, erealização <strong>da</strong>s a<strong>da</strong>ptações necessárias a uma melhor utilização social, sem restrição<strong>da</strong> or<strong>de</strong>nação dos espaços internos.Art. 269 – As obras <strong>de</strong> restauração exterior – consistem na restauração <strong>da</strong>volumetria e facha<strong>da</strong>s originais sendo permiti<strong>da</strong>s as modificações internas que nãose reflitam no exterior compreen<strong>de</strong>ndo:I – Restauração <strong>da</strong> primitiva fenestração;II – Substituição <strong>de</strong> esquadrias, balaustres, revestimentos inautênticos porelementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, material e cor compatíveis com a época do prédio.III – Recomposição <strong>de</strong> telhados primitivos no que se refere ao material, disposiçãoe <strong>de</strong>talhes, com eliminação <strong>de</strong> qualquer apêndice inautêntico.Art. 270 – No caso <strong>de</strong> quaisquer obras <strong>de</strong> restauração também estão sujeitos àaprovação do I.P.H.A.N. os revestimentos, cores, textura e tom <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s pisos eforros, e <strong>de</strong>mais elementos arquitetônicos dos cômodos que se abrem para ruaspraças e largos.Art. 271 – As obras <strong>de</strong> preservação ambiental – referem-se a edificações semmérito arquitetônico <strong>de</strong>ntro do conjunto.§ 1º - Tais obras <strong>de</strong>verão obe<strong>de</strong>cer a volumetria a ser fixa<strong>da</strong> pelo I.P.H.A.N. sendoque as cores e formas não po<strong>de</strong>rão conflitar com o conjunto.§ 2º - As construções novas não po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong> forma alguma ser imitações <strong>de</strong>arquitetura do passado e não po<strong>de</strong>rão reduzir ou impedir a visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> origináriados monumentos ou do conjunto.Art. 272 – As obras <strong>de</strong> construção com reduzi<strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> ocupação são construçõesnovas, que por se situarem no raio <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> monumento ouconjuntos arquitetônicos, terão sua taxa <strong>de</strong> ocupação reduzi<strong>da</strong> a critério doI.P.H.A.N. e <strong>da</strong> Prefeitura.Art. 273 – As obras sujeitas apenas a limitação <strong>de</strong> gabarito, são obras novas queterão somente seu gabarito em altura controlado conforme as prescrições <strong>de</strong>staLei.” (PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1975)


110O conceito <strong>de</strong> restauração abor<strong>da</strong>do po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado divergente do conceitoatual, inclusive do encontrado na Carta <strong>de</strong> Veneza <strong>de</strong> 1964 45 , remetendo ain<strong>da</strong> aos conceitos <strong>de</strong>Viollet-le-Duc. Permitia se completar a “originali<strong>da</strong><strong>de</strong>” do bem através <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> elementos“compatíveis” substituindo os inautênticos. Há uma profusão <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> cartas patrimoniais <strong>de</strong>várias épocas, inclusive a Carta <strong>de</strong> Atenas on<strong>de</strong> proíbe as imitações <strong>de</strong> arquiteturas do passado.A área <strong>de</strong> preservação rigorosa (Figura 28) correspon<strong>de</strong> a aproxima<strong>da</strong>mente 44,9 Hae não inclui áreas historicamente importantes como o Largo <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves e as PraçasJoão Pessoa e Venâncio Neiva; estas nem sequer foram incluí<strong>da</strong>s na área <strong>de</strong> importância ambiental.O Parque Solon <strong>de</strong> Lucena é segmentado e apresentou-se inserido apenas parcialmente na área <strong>de</strong>importância ambiental. A linha traceja<strong>da</strong> em vermelho <strong>de</strong>staca a área <strong>de</strong> preservação rigorosa e oscubos em vermelho são os bens tombados pelo IPHAN que se encontram na área do mapa. Além <strong>da</strong>Capela <strong>da</strong> Graça e <strong>da</strong> Ruína <strong>de</strong> Almagre, foi excluído <strong>de</strong> qualquer proteção nesse perímetro a Fontedo Tambiá.45 “Artigo 9° - A restauração é uma operação que <strong>de</strong>ve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar erevelar os valores estéticos e históricos do monumento e fun<strong>da</strong>menta-se no respeito ao material original e aosdocumentos autênticos. Termina on<strong>de</strong> começa a hipótese; no plano <strong>da</strong>s reconstituições conjeturais, todotrabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas <strong>de</strong>stacar-se-á <strong>da</strong>composição arquitetônica e <strong>de</strong>verá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedi<strong>da</strong> eacompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> um estudo arqueológico e histórico do monumento.*…+Artigo11° - As contribuições váli<strong>da</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as épocas para a edificação do monumento <strong>de</strong>vem serrespeita<strong>da</strong>s, visto que a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo não é a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> a alcançar no curso <strong>de</strong> uma restauração, a exibição<strong>de</strong> uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias excepcionais e quando o que se elimina é <strong>de</strong> poucointeresse e o material que é revelado é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor histórico, arqueológico, ou estético, e seu estado <strong>de</strong>conservação é consi<strong>de</strong>rado satisfatório. O julgamento do valor dos elementos em causa e a <strong>de</strong>cisão quanto aoque po<strong>de</strong> ser eliminado não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r somente do autor do projeto.Artigo 12° - Os elementos <strong>de</strong>stinados a substituir as partes faltantes <strong>de</strong>vem integrar-se harmoniosamente aoconjunto, distinguindo-se , to<strong>da</strong>via, <strong>da</strong>s partes originais a fim <strong>de</strong> que a restauração não falsifique o documento<strong>de</strong> arte e <strong>de</strong> <strong>história</strong>.” (CARTA DE VENEZA, 1964)


111Porto do capimPraça Álvaro MachadoPraça NapoleãoLaureanoFonte doTambiáPraça João Pessoa eVenâncio NeivaFigura 28 – Mapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> área <strong>de</strong> preservação rigorosa e ambiental do Plano Diretor doMunicípio <strong>de</strong> João Pessoa. (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa, 1976)Observa-se a valorização atribuí<strong>da</strong> ao conjunto franciscano que ocupaaproxima<strong>da</strong>mente 40% <strong>da</strong> área <strong>de</strong> preservação rigorosa e, no restante, se apresentam os outrosbens tombados pelo Iphan, que por conseqüência estão inseridos nas primeiras ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.Paradoxalmente dois trechos <strong>de</strong> transformações urbanas importantes estão inseridos na área <strong>de</strong>preservação rigorosa: as vias expressas Miguel Couto e Cardoso Vieira. A primeira alterou pelasegun<strong>da</strong> vez os elementos urbanos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com a abertura do viaduto e <strong>da</strong> Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros com a alça <strong>de</strong> acesso à Rua Duque <strong>de</strong> Caxias. A segun<strong>da</strong> cortou três quadras consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX e lançou uma superestrutura sobre a Rua <strong>da</strong> Areia.A área <strong>de</strong> preservação ambiental é mais ampla com aproxima<strong>da</strong>mente 130, 7ha, masexclui áreas importantes como as Praças Venâncio Neiva e João Pessoa, o Porto do Capim, as PraçasÁlvaro Machado e Napoleão Laureano.


1123- IPHAEP – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DO ESTADO DAPARAÍBAO IPHAEP foi criado em 1971 pelo Decreto Estadual n.° 5.225 pela Secretaria <strong>de</strong>Educação e Cultura “com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preservar os bens culturais do Estado, que não seencontram sob proteção e guar<strong>da</strong> do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, compreendidos ossetores histórico, artístico, folclórico, florístico e arqueológico.” (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA,1971). No entanto, os primeiros tombamentos estaduais ocorreram apenas a partir <strong>de</strong> 1979 e foramdistribuídos por todo o estado, já incluindo tombamento <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Os primeiros municípios aterem sítio histórico tombado pelo órgão estadual foram o <strong>de</strong> Areia e o <strong>de</strong> Mamanguape em04/12/1979, seguido do <strong>de</strong> Pilar em 1980, e apenas em 1982, o <strong>de</strong> João Pessoa.De 138 bens tombados pelo Iphaep, 55 se localizam em João Pessoa (Quadro 05),incluindo a Delimitação do Centro Histórico Inicial do Município <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong> 1982. Quarenta eseis bens são tombados em João Pessoa <strong>de</strong> 1979 a 1982, ocorrendo novos tombamentos para aci<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas em 1998, quando ocorrem 6 tombamentos. Em 2001, mais dois tombamentos e outrono ano <strong>de</strong> 2002.O IPHAEP também tombou o Engenho e Casa Gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> Várzea em Areia/PB em1979, como um exemplar <strong>de</strong> arquitetura rural e, praças, como a Praça Venâncio Neiva e a Praça <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência em 1980. O Parque Arru<strong>da</strong> Câmara é tombado em 1980. O Conjunto UrbanísticoEducacional, composto do Lyceu Paraibano, Instituto <strong>de</strong> Educação e Escola <strong>de</strong> Aplicação, tombadoem 1980.Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que os tombamentos realizados pelo IPHAEP estavam coerentescom o quadro que se estabelecia naquele momento sobre os bens patrimoniais, que já seapresentava ampliado do conceito <strong>de</strong> monumento isolado, <strong>da</strong> restrição ao estilo colonial, <strong>da</strong>localização no núcleo inicial. Os bens tombados se configuram em patrimônio rural, espaço públicourbano, conjuntos arquitetônicos funcionais, além <strong>de</strong> imóveis resi<strong>de</strong>nciais que incluem vários estilosarquitetônicos <strong>da</strong> república, bem como <strong>de</strong> antes e <strong>de</strong>pois como o mo<strong>de</strong>rnismo do Lyceu Paraibano.Quadro 05 - Lista <strong>de</strong> bens tombados pelo Iphaep no município <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong> 1979 a 2002ITEM IMÓVEL DENOMINAÇÃO N.º ENDEREÇO PROTEÇÃO DATA DAEXISTENTE PUBLICAÇÃO01 Conj. Urbanístico Educacional, Av. Getúlio Vargas e Rua Dec. 8.644 D.O. 09/09/80


113Composto dos seguintes Edf: Camilo <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>,Lyceu Paraibano, Instituto <strong>de</strong> Respectivamente- JoãoEducação e Escola <strong>de</strong> Pessoa/PbAplicação.02 Biblioteca Pública do Estado. 253 Av. General Osório - JoãoPessoa/Pb.03 Balaustra<strong>da</strong> João <strong>da</strong> Mata. Av. João <strong>da</strong> MataJoão Pessoa/Pb.04 Etfpb. -Centro <strong>de</strong> Formação<strong>de</strong> Cultura Ciência eTecnologia do Nor<strong>de</strong>ste.S/NAv. João <strong>da</strong> MataJoão Pessoa/Pb.05 Residência 203 Av. João <strong>da</strong> MataJoão Pessoa/Pb.06 Núcleo <strong>de</strong> Reprografia <strong>da</strong> Sec. 185 Av. João <strong>da</strong> MataJoão Pessoa/Pb.07 Ex-Clínica Cardiológica M. 163 Av. João <strong>da</strong> MataPereira Diniz.João Pessoa/Pb.08 Residência 133 Av. João Da MataJoão Pessoa/Pb09 Imóvel 105 Av. João <strong>da</strong> Mata – JoãoPessoa10 Residência 115 Av. João <strong>da</strong> Mata – JoãoPessoa11 Associação dos Delegados <strong>da</strong> 93Polícia Civil do Estado <strong>da</strong> Av. João <strong>da</strong> Mata – JoãoParaíba – Se<strong>de</strong> Adm.Pessoa12 Imóvel - ruínas 81 Av. João <strong>da</strong> Mata – JoãoPessoa13 Escola 1.º Grau d. Pedro II 53 Av. João <strong>da</strong> Mata – JoãoPessoa14 Imóvel 265 Rua <strong>da</strong> Areia – JoãoPessoa15 Núcleo <strong>de</strong> Arte S/n Rua <strong>da</strong>s Trincheiras – JoãoContemporâneaPessoa16 Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito S/n Praça João Pessoa JoãoPessoa17 Gran<strong>de</strong> Loja Maçônica Branca 128 Av. General Osório – JoãoDiasPessoa18 Sobrado Comen<strong>da</strong>dor Santos 159 Rua ConselheiroCoelhoHenriques – Centro – JoãoPessoa19 Quartel <strong>da</strong> Polícia Militar s/n Praça Pedro Américo –J.Pessoa<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.626<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec. 8.627<strong>de</strong> 26/08/80<strong>de</strong>c.8.627 <strong>de</strong>26/08/80Dec.8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.627<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.628<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.629<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.630<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.631<strong>de</strong> 26/08/80Dec.8.632<strong>de</strong> 26/08/80D.O. 05/09/80D.O. 05/09/80D.O. 05/09/80D.O. 05/09/80D.O. 05/09/80D.O. 05/09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80Dec. 8.633 DO 05./09/80<strong>de</strong> 26/08/8020 Associação Comercial do 02 Rua Maciel Pinheiro – Dec.8.661 DO 05./09/80Estado <strong>da</strong> ParaíbaJ.Pessoa<strong>de</strong>26/08/198021 Coreto e Praça Venâncio S/n Praça Venâncio Neiva- Dec.8.636 DO 05./09/80NeivaJ.Pessoa<strong>de</strong>26/08/198022 Palácio <strong>da</strong> Re<strong>de</strong>nção S/n Praça João Pessoa - Dec.8.638 DO 05./09/80J.Pessoa<strong>de</strong>26/08/198023 IAB-PB 02 Largo São Frei Pedro Dec.8.639 DO 05./09/80Gonçalves – Varadouro –João Pessoa<strong>de</strong>26/08/198024 Antigo Hotel Globo 07 Largo São Frei Pedro Dec.8.639 DO 05./09/80


114Gonçalves – Varadouro –João Pessoa25 Residência 10 Largo São Frei PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa26 Residência 16 Largo São Frei PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa27 Residência 36 Largo São Frei PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa28 Residência 48 Largo São Frei PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa29 Residência 75 Largo São Frei PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa<strong>de</strong>26/08/1980Dec.8.639<strong>de</strong>26/08/1980Dec.8.639<strong>de</strong>26/08/1980Dec.8.639<strong>de</strong>26/08/1980Dec.8.639<strong>de</strong>26/08/1980Dec.8.639<strong>de</strong>26/08/1980DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/80DO 05./09/8030 Parque Arru<strong>da</strong> Câmara S/n Roger - João Pessoa Dec. 8.640<strong>de</strong>26/08/198031 Coreto, Praça <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência e Obelisco32 Sobrado on<strong>de</strong> residiu oPresi<strong>de</strong>nte João PessoaS/n Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência –João Pessoa92 Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência –João Pessoa33 Palácio Episcopal Pça. Dom A<strong>da</strong>uto – JoãoPessoa34 Aca<strong>de</strong>mia Paraibana <strong>de</strong> Letras 25 Rua Duque <strong>de</strong> Caxias –João Pessoa35 Sobrado ConselheiroHenriques81 Rua Duque <strong>de</strong> Caxias –João Pessoa36 Residência 93 Pça. Simeão Leal – Cruz<strong>da</strong>s Armas - João Pessoa37 Correios e Telégrafos S/n Pça. Pedro Américo – JoãoPessoa38 Imóvel 366 Rua <strong>da</strong> Areia – JoãoPessoa39 Sobrado <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Ribamar(Sítio Boi Só) e Capela25 Bairro dos Estados– JoãoPessoa40 Comando <strong>da</strong> Polícia Militar S/n Pça. Aristi<strong>de</strong>s Lobo – JoãoPessoaDec. 8.641<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.634<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.624<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.643<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.643<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.645<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.647<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.649<strong>de</strong>6/08/1980Dec. 8.656<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.648<strong>de</strong>DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980REP –09/09/1980DO05/09/1980


11541 Residência 85 Pça. Simeão Leal –VaradouroJoão Pessoa42 Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico do Estado<strong>da</strong> Paraíba – IPHAEP348 Av. João Machado- JoãoPessoa43 Parque Solon <strong>de</strong> Lucena Parque Solon <strong>de</strong> Lucena(Lagoa) – João Pessoa44 Área 7,56 há - Parte eleva<strong>da</strong><strong>da</strong> Praia <strong>da</strong> Penha, nestaCi<strong>da</strong><strong>de</strong>, com os seguintesbens:Igreja <strong>de</strong> N. S. <strong>da</strong> Penha,Casario com 24 uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s,Cemitério, Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,Escola, Árvore Oiti (MoquileaTomentosa Crysobalanace –AE), remanescente <strong>da</strong> MataAtlânticaPraia <strong>da</strong> Penha - JoãoPessoa45 Tribunal <strong>de</strong> Justiça S/n Praça João Pessoa –Centro – João Pessoa46 Delimitação do CentroHistórico Inicial do Município<strong>de</strong> João Pessoa26/08/1980Dec. 8.651<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.652<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.653<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.654<strong>de</strong>26/08/1980Dec. 8.637<strong>de</strong>26/08/1980João Pessoa Dec. 9.484<strong>de</strong>10/05/198247 Basílica <strong>de</strong> N. S. <strong>da</strong>s Neves S/n Pça. Dom Ulrico – Centro –João Pessoa48 Igreja <strong>de</strong> N. S. do Rosário S/n Rua 1 <strong>de</strong> Maio – Jaguaribe– João Pessoa49 Igreja N. S. do Carmo S/n Pça. Dom A<strong>da</strong>uto- Centro– João Pessoa50 Igreja <strong>de</strong> São Frei PedroGonçalves51 Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> ComércioEpitácio PessoaS/n Largo <strong>de</strong> São PedroGonçalves – Varadouro –João Pessoa45 Rua <strong>da</strong>s Trincheiras –Centro – João Pessoa52 Teatro Santa Roza S/n Praça Pedro Américo –João Pessoa53 Estação Ferroviária <strong>de</strong> JoãoPessoa - Se<strong>de</strong>54 Igreja <strong>de</strong> Santa Terezinha -Roger55 Imóvel on<strong>de</strong> residiu Anay<strong>de</strong><strong>de</strong> Azevedo BeirizFonte: IPHAEP,2008.S/nDec. 20.132<strong>de</strong>02/12/1998Dec. 20.133<strong>de</strong>02/12/1998Dec. 20.134<strong>de</strong>02/12/1998Dec. 20.135<strong>de</strong>02/12/1998Dec. 20.136<strong>de</strong>02/12/1998Dec. 20.136<strong>de</strong>02/12/1998João Pessoa - PB Dec. 22.082<strong>de</strong>03/08/2001Rua Carlos Pessoa – JoãoPessoa - PB176 Rua Santo Elias, Centro –João Pessoa - PBDec. 22.362<strong>de</strong>31/10/2001Dec. 23.552<strong>de</strong>07/11/2002DO05/09/1980D 005/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO05/09/1980DO14/05/1982DO03/12/1998DO03/12/1998DO03/12/1998DO03/12/1998DO03/12/1998DO03/12/1998D.O04/08/2001D.O01/112001D. O08/11/2002


116A partir do Decreto Estadual 9.484, do dia 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1982, estabelece-se a<strong>de</strong>limitação do Centro Histórico Inicial <strong>de</strong> João Pessoa (Figura 29), <strong>de</strong>finido pelo Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico do Estado <strong>da</strong> Paraíba- IPHAEP 46 .Apesar <strong>de</strong> o Conjunto do Lyceu Paraibano e a Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência seremtombados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980 e estarem bastante próximos ao limite do perímetro, foram excluídos <strong>da</strong> linha<strong>de</strong> Delimitação do Centro Histórico Inicial do Município <strong>de</strong> João Pessoa, enquanto o Parque Arru<strong>da</strong>Câmara e o Parque Solon <strong>de</strong> Lucena estão inseridos. Sendo assim, levanta-se a questão sobre ocritério <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação, pois se i<strong>de</strong>ntifica que a maioria dos bens tombados <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> estão inseridosna linha, excetuando o Conjunto <strong>da</strong> Penha (1980) que se localiza a uma distância bastante gran<strong>de</strong> donúcleo inicial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e a Igreja <strong>de</strong> Santa Terezinha no Roger que foi tomba<strong>da</strong> em 2001. Apenas osdois monumentos citados estão excluídos do perímetro. Por que terá havido essa exclusão? Por quea continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Walfredo Leal 47 e <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Getúlio Vargas 48 foram <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>da</strong>linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação sendo que ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las apresentam justificativas para tal? As ruas ain<strong>da</strong> nãoeram aceitas como patrimônio a ser preservado?Observa-se que a linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por apenas um perímetro semconsi<strong>de</strong>rar área <strong>de</strong> preservação rigorosa e área <strong>de</strong> entorno. As quadras que faceiam externamente operímetro são <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s como “quadras imediatamente volta<strong>da</strong>s para a área <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>”, masnão fica claro se são trata<strong>da</strong>s como entorno.As áreas cita<strong>da</strong>s anteriormente e que foram excluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> Zona <strong>de</strong>Preservação Rigorosa e Ambiental do Plano Diretor <strong>de</strong> 1976 estão inseri<strong>da</strong>s na nova <strong>de</strong>limitação doIPHAEP (1982), que inclui ain<strong>da</strong> outras áreas como a Faixa <strong>de</strong> Domínio <strong>da</strong> CBTU no Varadouro, ocemitério Nosso Senhor <strong>da</strong> Boa Sentença e o Bairro <strong>da</strong>s Trincheiras. A área que tangencia o Horto doconjunto franciscano é excluí<strong>da</strong>.46 Área <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> 305,40Ha47 Antiga Estra<strong>da</strong>48 Faz parte <strong>da</strong> execução <strong>da</strong> Urbanização do Parkway <strong>da</strong> Lagoa interligando-a com o Lyceu Paraibano.


117Figura 29 – Perímetro <strong>de</strong> Atuação (linha vermelha) do Iphaep na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa em1982. Perímetro <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> Comissão do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa (em azul). Fonte:IPHAN, 2006.Des<strong>de</strong> a sua criação em 1971, o IPHAEP publicou <strong>de</strong>cretos estabelecendo quais suasfunções seriam <strong>de</strong> sua obrigação e no Decreto 7.819 <strong>de</strong> 1978 se apresentam quais são os bens queestão sobre “proteção e vigilância” do IPHAEP:“I - construções e obras <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> notável quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética ou particularmenterepresentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> época ou estilo;II - edifícios, monumentos, documentos e objetos intimamente vinculados a fatosmemoráveis <strong>da</strong> História local ou a pessoa <strong>de</strong> excepcional notorie<strong>da</strong><strong>de</strong>;III - monumentos naturais, sítios e paisagens, inclusive os agenciados pela indústria humana,que possuam especial atrativo ou sirvam <strong>de</strong> "habitat" a espécimes interessantes <strong>da</strong> flora e <strong>da</strong>fauna locais;IV - bibliotecas e arquivos <strong>de</strong> acentuado valor cultural;V - ruas, logradouros, praças, largos, tudo enfim que possa caracterizar o ambiente históricoarquitetônico,<strong>de</strong> quaisquer ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Estado.”Este <strong>de</strong>creto traz elementos <strong>de</strong> consonância com a corrente mundial como areferência a paisagens “agencia<strong>da</strong>s pela indústria humana”, além <strong>de</strong> citar especificamente as ruas, oslogradouros, as praças e os largos.


118Nesse mesmo <strong>de</strong>creto se estabelece que o IPHAEP fará o ca<strong>da</strong>stramento <strong>de</strong> bensrelevantes para o patrimônio do Estado <strong>da</strong> Paraíba e que estes, mesmo que não tombados nãopo<strong>de</strong>rão sofrer modificações ou ser <strong>de</strong>molidos e que os tombamentos dos bens ca<strong>da</strong>strados serãorealizados gra<strong>da</strong>tivamente sob a análise do Conselho Consultivo do IPHAEP. Além disso, seestabelece que o IPHAEP “manterá um código <strong>de</strong> regulamento <strong>de</strong> obras em convênio com o IPHAN ea Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa e igualmente com as <strong>de</strong>mais Prefeituras do Estado, paraorientação dos trabalhos a serem executados no local pelos interessados na exploração <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s previstas por este Órgão” (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1978). Assim, qualquerobra realiza<strong>da</strong> por qualquer ente público ou privado <strong>de</strong>ve submeter a proposta à análise do IPHAEPpelo Conselho Consultivo.O Decreto nº 9.484 <strong>de</strong> 1982 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1982) estabelece operímetro que circun<strong>da</strong> a área <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> sobre a jurisdição do IPHAEP. Assim, to<strong>da</strong> obra <strong>de</strong>reforma, <strong>de</strong>molição, construção ou outra, pública ou priva<strong>da</strong> inseri<strong>da</strong> no perímetro <strong>de</strong>ve sersubmeti<strong>da</strong> à avaliação pelo Conselho Consultivo do IPHAEP.Em 1992 foi publicado o Decreto nº 14.569 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA,1992) sobre o regimento interno do IPHAEP, apresentando a competência do órgão cujaresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>stramento e tombamento dos bens culturais, artísticos e históricos <strong>da</strong>Paraíba, e assim:“Art. 2º.*…+I - planejar, coor<strong>de</strong>nar e supervisionar a execução e o controle <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>srelaciona<strong>da</strong>s com a preservação e restauração dos bens históricos, artísticos eculturais;II- revitalizar os bens móveis e imóveis <strong>de</strong> interesse histórico, artístico e cultural;III - classificar, inventariar, ca<strong>da</strong>strar, tombar, restaurar, preservar a conservação <strong>de</strong>monumento, obras, documentos e objetos <strong>de</strong> valor histórico, artístico,arqueológico, folclórico e artesanal, bem como sítios e locais <strong>de</strong> interesse turístico,ecológico e paisagístico do Estado <strong>da</strong> Paraíba;*…+V - promover entrosamento com enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s municipais, estaduais, regionais,fe<strong>de</strong>rais, paraestatais e internacionais, com vistas à conservação, restauração,preservação, ca<strong>da</strong>stramento e tombamento <strong>de</strong> bens móveis e imóveisconsi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> valor histórico, artístico e cultural.” (GOVERNO DO ESTADO DAPARAÍBA, 1992)E ain<strong>da</strong> se reafirma no Capítulo VI, Art. 14.°, que compete à Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong>Arquitetura e Ecologia, “manter entrosamento com a Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento doCentro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, para melhor execução dos projetos”. (GOVERNO DO ESTADO DAPARAÍBA, 1992)


119O Art. 16.° apresenta a competência <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Projetos <strong>de</strong> Proteção eRevitalização, órgão subordinado à Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Arquitetura e Ecologia, que em <strong>de</strong>staque aoobjeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sta pesquisa ressalta a área urbana do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Estudose projetos <strong>de</strong> “Proteção e Revitalização” para esse centro servirão <strong>de</strong> base metodológica para“outras áreas <strong>de</strong> interesse urbanístico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e em outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Estado” (GOVERNO DOESTADO DA PARAÍBA, 1992).4- COMISSÃO PERMANENTE DE DESENVOLVIMENTO DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃOPESSOAApesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1982 já haver a <strong>de</strong>limitação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoanenhum plano geral havia sido colocado em prática (Nogueira, 2005). Assim com o estabelecimentodo Convênio Brasil-Espanha implantou-se uma metodologia <strong>de</strong> reconhecimento e análise, ain<strong>da</strong> nãoaplicado ao Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Nogueira (2005) se refere ao método do GovernoEspanhol <strong>da</strong> seguinte maneira:“…o programa tem uma metodologia própria que se baseia –uma coisa comum,que pelo menos <strong>de</strong>veria ser na maioria dos casos – no princípio <strong>de</strong> que o própriocentro histórico com suas características, sua <strong>história</strong>, seus potenciais, é que<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>terminar o método.*…+ O princípio é esse, conhecer primeiro o centrohistórico, enten<strong>de</strong>r seus problemas e seus potenciais. *…+ Por isso, a primeira fasefoi todo um trabalho minucioso <strong>de</strong> inventário, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>stramento, coisa que atéentão o Centro Histórico não tinha.”A <strong>de</strong>limitação do IPHAEP <strong>de</strong> 1982, não foi completamente atendi<strong>da</strong> nessa fase, sendoconsi<strong>de</strong>rado aquele núcleo que representasse “a maior <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> evolução histórica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,que era precisamente o Varadouro e a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta, pois até começo do século XIX, século XX, aci<strong>da</strong><strong>de</strong> era basicamente isso.” (NOGUEIRA, 2005).Todo o processo <strong>de</strong> diagnóstico e elaboração do plano <strong>de</strong> revitalização do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa foram pautados sobre discussões sobre teorias urbanísticas, <strong>de</strong> conservaçãoe <strong>de</strong> planejamento e assim Nogueira (2005) <strong>de</strong>screve:


120“Isso teve durante todo o processo, porque inclusive, na época, em paralelo, a própriaimplantação do projeto serviu como especialização. Tinha todo um suporte <strong>de</strong> informação, <strong>de</strong>discussão, <strong>de</strong> conceituação. A própria equipe estava implantando esse processo. Até porquepoucos técnicos aqui no estado tinham condições na época e já a própria filosofia do projetoque previa o aproveitamento e o entendimento do centro e <strong>de</strong> suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, elareconhecia que um dos gran<strong>de</strong>s potenciais para esse processo é a pessoa do local. Era umprocesso que não trazia uma equipe <strong>de</strong> fora, para vir realizar um projeto. Eles trazemconsultores e uma coor<strong>de</strong>nação feita pelo IPHAN, outra pela Cooperação Espanhola. Elesserão os dois técnicos permanentes <strong>de</strong> fora. O restante, o projeto previa que fosse monta<strong>da</strong>uma equipe local, que fosse capacita<strong>da</strong>, para que ela mesma fizesse esse trabalho. Por umlado você está trabalhando a coisa edifica<strong>da</strong>, o patrimônio, mas está trabalhando também ocomponente humano e a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 ele extrapola. Começa a formar tambémmão-<strong>de</strong>-obra, que é o trabalho <strong>da</strong> Oficina-Escola.”Sob a direção <strong>da</strong> arquiteta espanhola María Luisa Cerrillos, profissionais locaiselaboram o Projeto <strong>de</strong> Revitalização do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa (AECI, 2005). O início doprojeto foi elaborado através <strong>de</strong> levantamento e diagnóstico, o qual gerou uma nova <strong>de</strong>limitação(Figura 29) – agora menor e que consi<strong>de</strong>rou em seu trabalho apenas o Varadouro e a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta,esta <strong>de</strong>limitação foi basea<strong>da</strong> no mapa <strong>de</strong> 1858 e em fontes textuais e iconográficas (NOGUEIRA,2005).A situação encontra<strong>da</strong> na época do estudo do Projeto <strong>de</strong> Revitalização foi a seguinte:falta <strong>de</strong> integração entre o rio e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, intensa alteração <strong>da</strong>s edificações tradicionais – mais <strong>de</strong>60%, uso habitacional <strong>da</strong>s edificações reduzido para 30%, congestionamento do tráfego urbano,poluição visual principalmente pelas instalações elétricas aéreas e reduzido equipamento <strong>de</strong> serviçopúblico (AECI, 2005). O estudo buscou compreen<strong>de</strong>r os princípios <strong>da</strong> conformação urbana(NOGUEIRA, 2005).Em 1987, o então Instituto <strong>de</strong> Cooperação Iberoamericana (atual AECI) e o Governodo Estado <strong>da</strong> Paraíba realizaram um Estudo <strong>de</strong> Revitalização para o Centro Histórico, <strong>de</strong>vido aoacelerado processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração em que se encontrava. (AECI, 2005)A implantação do projeto em sua primeira fase ocorre com a execução dos ProjetosPilotos, que, <strong>de</strong> acordo com a proposta, foram executados: Praça Dom A<strong>da</strong>uto e Conjunto Carmelita,Conjunto Beneditino, Adro <strong>de</strong> São Francisco, Casarão <strong>de</strong> Azulejos e Coreto <strong>da</strong> Praça Venâncio Neiva –todos estes na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta; Praça Antenor Navarro, Largo <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves, Hotel Globo eAntiga Fábrica <strong>de</strong> Vinhos Tito Silva (AECI, 2005). Especificamente os espaços públicos vinham sendoocupados por postos <strong>de</strong> gasolina, estacionamento ou comércio informal (NOGUEIRA, 2005).“Então tinha monumentos como São Bento, Igreja do Carmo, Misericórdia queestavam em situações limites. A primeira etapa foi resgatar estes conjuntos porqueeles têm peso na estrutura do conjunto, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> concepção <strong>da</strong> imagem, <strong>da</strong>formação <strong>da</strong> imagem <strong>de</strong>sse centro. Então esses primeiros anos, foi na perspectiva


121<strong>de</strong> pelo menos consoli<strong>da</strong>r e resgatar alguns <strong>de</strong>sses monumentos. No caso dopróprio Hotel Globo que estava completamente abandonado, São Bento queestava fechado a <strong>déca<strong>da</strong>s</strong>, nessa primeira fase <strong>de</strong> intervenção.” (NOGUEIRA, 2005)O trabalho <strong>da</strong> Comissão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, consi<strong>de</strong>rou a importância <strong>de</strong> valorizar oespaço público, nota<strong>da</strong>mente percebi<strong>da</strong> na revitalização <strong>de</strong> 5 espaços, sendo três <strong>de</strong>les associados amonumentos isolados – Igreja <strong>de</strong> São Bento, Conjunto Carmelita, Conjunto Franciscano e Igreja <strong>de</strong>São Frei Pedro Gonçalves. As Praças Antenor Navarro e Venâncio Neiva como espaços <strong>de</strong> passeiopúblico.As instituições envolvi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do programa foram o IPHAN, o Governo doEstado <strong>da</strong> Paraíba e a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa.A Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa foicria<strong>da</strong> em 1987 para ser o escritório técnico <strong>de</strong> implementação e gestão do Projeto <strong>de</strong> Revitalizaçãodo Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, originado <strong>da</strong> parceria do Ministério <strong>da</strong> Cultura do Governobrasileiro através do Ministro Celso Furtado, com o Governo <strong>da</strong> Espanha através <strong>da</strong> AgênciaEspanhola <strong>de</strong> Cooperação Internacional (COMISSÃO, 2005).O projeto inicialmente implantado numa área <strong>de</strong> 117ha, em 2004 teve sua árearevista e amplia<strong>da</strong> para 410ha (Figura 29). A área apresenta a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um meio urbanotradicional com trechos importantes <strong>de</strong> ambiente natural como o Rio Sanhauá e sua paisagem <strong>de</strong>mangue, o Horto <strong>de</strong> São Francisco (reserva <strong>de</strong> área ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7ha) e o Parque Solon <strong>de</strong> Lucena(COMISSÃO, 2005).A Comissão possui vínculo direto com o Conselho <strong>de</strong> Preservação dos Bens HistóricosCulturais, que faz parte do IPHAEP; este por sua vez, é um órgão <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Educação e Culturado Estado, que representa o Convênio Brasil/Espanha (COMISSÃO, 2005).A Comissão possui dois programas implantados por ela na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa: oPrograma <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Revitalização nos Centros Históricos Ibero-americanos e o Programa <strong>de</strong>Preservação do Patrimônio Cultural na Ibero-américa (COMISSÃO,2005). O Programa <strong>de</strong> Estudos éfinanciado pela Agência Espanhola <strong>de</strong> Cooperação Internacional, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “promoção <strong>de</strong>estudos relativos à revitalização <strong>de</strong> centros históricos e elaboração <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> intervenção eintercâmbio técnico e cultural” (COMISSÃO, 2005).O Programa <strong>de</strong> Preservação apresenta uma fonte <strong>de</strong> recursos mais ampla: AgênciaEspanhola <strong>de</strong> Cooperação Internacional, Ministério <strong>da</strong> Cultura/ IPHAN, Governo do Estado <strong>da</strong> Paraíbae Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa (COMISSÃO, 2005). Sua atuação é sobre “obras <strong>de</strong> restauração


122<strong>de</strong> monumentos e recuperação <strong>de</strong> espaços urbanos e meio (sic) ambientes natural (sic)” (COMISSÃO,2005). Em parceria, existem o Programa <strong>de</strong> Escuelas-Taller na Ibero-América, funcionando na Oficina-Escola <strong>de</strong> Revitalização do Patrimônio Cultural <strong>de</strong> João Pessoa – para a formação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, eo Programa <strong>de</strong> Ação para o Desenvolvimento Turístico <strong>da</strong> Paraíba (PRODETUR), visando “assegurar o<strong>de</strong>senvolvimento turístico sustentável e responsável” com “ações nos âmbitos municipal e estadual”com investimentos do Banco do Nor<strong>de</strong>ste do Brasil e do Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento(COMISSÃO, 2005).Apesar <strong>de</strong> esses projetos urbanos terem sido estabelecidos no macro-projeto <strong>de</strong>revitalização <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987 e previsto um horizonte <strong>de</strong> sete anos para a implantação, a maioria <strong>de</strong>lesnão foi executa<strong>da</strong> até hoje. Cláudio Nogueira (2005), coor<strong>de</strong>nador <strong>da</strong> Comissão, em entrevista,justificou este fato a problemas econômicos e políticos, como o fato <strong>de</strong> a prefeitura municipal <strong>da</strong>época do início <strong>da</strong> implantação do projeto não se dispor ao trabalho em parceria, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>randoas propostas e tentativas <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça do programa.O objetivo do Convênio foi <strong>de</strong> recuperar as “raízes culturais comuns entre Brasil eEspanha” através <strong>da</strong> revitalização do Centro Histórico e restauração <strong>de</strong> monumentos.“Nos anos iniciais (1988 a 1995), foram prioriza<strong>da</strong>s ações que visavam o resgateemergencial <strong>de</strong> monumentos que se achavam há vários anos abandonados, aexemplo do Antigo Hotel Globo e a Igreja <strong>de</strong> São Bento. A partir <strong>de</strong> 1996, as açõesforam direciona<strong>da</strong>s para a revitalização <strong>de</strong> setores do Centro histórico, visando àrestauração <strong>de</strong> monumentos e <strong>de</strong> suas áreas <strong>de</strong> entorno, recuperação emo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> infra-estrutura urbana, o fortalecimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s presentesnestes setores e a atração <strong>de</strong> novas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, nota<strong>da</strong>mente na área do Varadouroe antigo Porto do Capim.” (IPHAN, 2006, p.120-122)O discurso aqui apresentado <strong>de</strong>monstra uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, masmuito diversa <strong>da</strong> ocorri<strong>da</strong> com o processo <strong>de</strong> industrialização e crescente uso dos meios <strong>de</strong>transporte do final do século XX e começo do XXI. O ponto negativo nesse período recai sobre adiscussão <strong>da</strong> gentrificação e <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> cenários elaborados <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente para <strong>de</strong>stacar osmonumentos como ocorreu em Recife e Salvador.“Para implementação do Projeto <strong>de</strong> Revitalização, fez-se necessário <strong>de</strong>senvolverestudos sobre a área <strong>de</strong>limita<strong>da</strong> para atuação, tendo como produto <strong>de</strong>ste trabalhoum levantamento do acervo patrimonial inserido nesta área (ca<strong>da</strong>stro); a <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> normas específicas para ca<strong>da</strong> edificação e/ou lote (Normas Gerais e Específicaspor lote) e estudo minucioso dos aspectos tipológicos dos edifícios <strong>de</strong> valorpatrimonial.Seu <strong>de</strong>senvolvimento foi composto por quatro fases. A fase <strong>de</strong> informação,consistiu no levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos históricos, sócio-econômico, ambientais,técnico-arquitetônicos, artísticos e tipológicos <strong>da</strong> estrutura urbana do CentroHistórico, através do ca<strong>da</strong>stramento individual <strong>da</strong>s 2.193 edificações e lotestipológicos, além <strong>da</strong>s 180 fichas <strong>de</strong> trechos <strong>de</strong> ruas, que forma o quadro <strong>da</strong> imagem


123urbana <strong>da</strong> área. Na fase <strong>de</strong> diagnóstico, os <strong>da</strong>dos levantados apontaram os fatosgeradores <strong>de</strong> transformação que inci<strong>de</strong>m sobre o Centro Histórico, condicionando<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>terminante a sua estrutura urbana, <strong>de</strong>monstrando a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> dosproblemas que afetam a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física do núcleo inicial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na fase <strong>de</strong>propostas, houve a <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong>s diretrizes <strong>de</strong> atuação necessária parasolucionar, ou ao menos minorar, os problemas que afetam a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> vital doCentro Histórico. Como última fase, o diagnóstico <strong>de</strong>talhado <strong>da</strong> área permitiu aelaboração <strong>da</strong> Normativa <strong>de</strong> Proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa,estrutura<strong>da</strong> em três níveis: normas gerais <strong>de</strong> proteção, normas específicas <strong>de</strong>quadra, normas específicas para as edificações.” (IPHAN, 2006, p.120-122)Como parte <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> intervenção em maior escala a Praça AntenorNavarro foi seleciona<strong>da</strong> como pólo atrativo para se atingir a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica <strong>da</strong> área doVaradouro e o Antigo Porto do Capim.“Entre as obras empreendi<strong>da</strong>s pela Comissão, foi relevante a revitalização <strong>da</strong> PraçaAntenor Navarro, que imprimiu um novo caráter a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Baixa, um localabandonado que passou a ser um novo ponto <strong>de</strong> atração cultural, <strong>de</strong> lazer, turismoe diversão. Esta intervenção encontra-se inseri<strong>da</strong> numa proposta mais ampla <strong>de</strong>revitalização <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Baixa: a Revitalização do Varadouro e Antigo Porto doCapim.A área <strong>de</strong> abrangência <strong>de</strong>sta proposta inclui o Largo e La<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> São PedroGonçalves, a Rua Maciel Pinheiro, o Antigo Porto do Capim e a Ribeira do RioSanhauá (Praças XV <strong>de</strong> Novembro, Álvaro Machado e Napoleão Laureano, Faixa <strong>de</strong>Domínio <strong>da</strong> Linha Férrea e área <strong>de</strong> mangue existente por trás <strong>da</strong> EstaçãoFerroviária).” (IPHAN, 2006, p.120-122)A forma <strong>de</strong> planejamento <strong>da</strong> intervenção no Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa seapresenta bastante avança<strong>da</strong> para sua época aqui no Brasil, pois já fazia parte <strong>da</strong> ferramenta <strong>de</strong>pesquisa um amplo inventário do conjunto para subsidiar as estratégias <strong>de</strong> ação. Estratégia que foiincorpora<strong>da</strong> com mais clareza pelo Iphan para disseminação em suas regionais e escritórios técnicosapenas a partir <strong>de</strong> 2001 49 com uma Proposta <strong>de</strong> Termo <strong>de</strong> Referência, on<strong>de</strong> se apresentam três fases<strong>de</strong> trabalho: <strong>de</strong> diagnóstico, normativa e avaliativa.A Comissão realizou juntamente ao IPHAEP a re<strong>de</strong>finição do tombamento do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa em 2004 e também fez parte <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> trabalho que alimentou oprocesso <strong>de</strong> tombamento iniciado no Iphan alguns anos antes.49 BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Cultura. Iphan. Programa <strong>de</strong> Reabilitação Urbana <strong>de</strong> Sítios Históricos –URBIS. Termogeral <strong>de</strong> referência para plano <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> sítio histórico


1245- PLANO DIRETOR DE 1992O Plano Diretor vigente foi votado em 1992 e elaborado com o objetivo <strong>de</strong> completare atualizar os documentos já or<strong>de</strong>nadores do município: Código <strong>de</strong> Urbanismo, Código <strong>de</strong> Obras eEdificações, Código <strong>de</strong> Posturas e do Código <strong>de</strong> Defesa do Meio Ambiente. Dividido em sete títulos, oCentro Principal aparece principalmente no Título II - DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, on<strong>de</strong> seestabelece o Macrozoneamento e subdivi<strong>de</strong> a área urbana 50 em: I - zonas a<strong>de</strong>nsáveis prioritárias; II -zonas a<strong>de</strong>nsáveis não prioritárias; III - zonas não a<strong>de</strong>nsáveis; IV - zonas <strong>de</strong> restrição adicional; V-zonas especiais.O Centro Principal <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> se inclui nas zonas <strong>de</strong> restrições adicionais que são<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s como “porções <strong>da</strong> Área Urbana, situa<strong>da</strong>s em zonas a<strong>de</strong>nsáveis ou não, nas quais ointeresse social <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> características ambientais, paisagísticas, históricas e culturais,como patrimônio comum, impõe restrições adicionais ao uso e ocupação do solo”. Além do CentroPrincipal compreen<strong>de</strong>m as Zonas Especiais <strong>de</strong> Preservação:“… a Falésia <strong>de</strong> Cabo Branco, o Parque Arru<strong>da</strong> Câmara, a Mata do Buraquinho, a Mata doCabo Branco, os manguezais, os mananciais <strong>de</strong> Marés-Mumbaba e <strong>de</strong> Gramame, o Altiplano<strong>de</strong> Cabo Branco, a Ponta e a Praia do Seixas, o Sítio <strong>da</strong> Graça, as lagoas do Parque Sólon <strong>de</strong>Lucena, Antônio Lins e João Chagas, as três lagoas <strong>de</strong> Oitizeiro, os vales dos rios Jaguaribe,Cuia, do Cabelo, Água Fria, Gramame, Sanhauá, Paraíba, Tambiá, Man<strong>da</strong>caru, Timbó, Aratu eMussurê, e as áreas tomba<strong>da</strong>s ou preserva<strong>da</strong>s nos níveis municipal, estadual ou fe<strong>de</strong>ral.”(PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1992, p.106)O Plano Diretor caracteriza o Centro Principal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que inclui o Centro Histórico:“*…+ é a porção <strong>da</strong> Área Urbana que sofre processo acelerado <strong>de</strong> transformação e que abrigafunções urbanas conflitantes, tais como: maior concentração <strong>de</strong> tráfego <strong>de</strong> veículos e pessoase um número significativo <strong>de</strong> edificações <strong>de</strong> uso institucional, comercial e <strong>de</strong> serviços, sendoportanto, objeto <strong>de</strong> regulamentação complementar específica, submeti<strong>da</strong>s à apreciação doórgão estadual <strong>de</strong> preservação do Patrimônio Histórico, e que <strong>de</strong>ve contemplar:I - a restrição à circulação <strong>de</strong> veículos;II - a regulamentação <strong>de</strong> horários e percursos para operação <strong>de</strong> carga e <strong>de</strong>scarga;III - a exigência um número suficiente <strong>de</strong> vagas para estacionamento, em todos os projetos <strong>de</strong>construções novas e reformas;IV - a recuperação e livre <strong>de</strong>simpedimento <strong>da</strong>s vias para circulação <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres;V - o estabelecimento <strong>de</strong> índices urbanísticos específicos para ca<strong>da</strong> quadra consi<strong>de</strong>rando aproximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> área do Centro Histórico, o entorno do Parque Solon <strong>de</strong> Lucena e as áreas50 “Art. 9°. A Área Urbana <strong>de</strong> João Pessoa é constituí<strong>da</strong> por zonas que abrigam ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s urbanas atendi<strong>da</strong>s nomínimo por dois dos sistemas <strong>de</strong> infra-estrutura básica e pelo serviço <strong>de</strong> transporte coletivo.” (1992)


125on<strong>de</strong> é possível o uso resi<strong>de</strong>ncial ou o a<strong>de</strong>nsamento dos outros usos.” (PREFEITURAMUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1992)As Zonas Especiais “são porções do território do Município com <strong>de</strong>stinação específicae normas próprias <strong>de</strong> parcelamento, uso e ocupação do solo” e se divi<strong>de</strong>m em dois tipos: as ZonasEspeciais <strong>de</strong> Interesse Social e as Zonas Especiais <strong>de</strong> Preservação. “Zonas Especiais <strong>de</strong> Preservaçãosão porções do território, localiza<strong>da</strong>s tanto na Área Urbana como na Área Rural, nas quais o interessesocial <strong>de</strong> preservação, manutenção e recuperação <strong>de</strong> características paisagísticas, ambientais,históricas e culturais, impõe normas específicas e diferenciados para o uso e ocupação do solo”(PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1992). Fazem parte <strong>da</strong>s Zonas Especiais <strong>de</strong> Preservação“áreas tomba<strong>da</strong>s ou preserva<strong>da</strong>s por legislação Municipal, Estadual ou Fe<strong>de</strong>ral”, mas se exigeobservação <strong>de</strong> regulamentação específica para a área <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo Decreto Estadual n° 9484, <strong>de</strong> 10<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1982:“I - o estabelecimento <strong>de</strong> mecanismo conjunto <strong>de</strong> consulta, aprovação efiscalização <strong>de</strong> projetos e obras entre o Po<strong>de</strong>r Executivo e os órgãos <strong>de</strong>preservação;II - a utilização do instrumento <strong>da</strong> Operação Urbana;III - a estruturação do sistema <strong>de</strong> transportes coletivo por ônibus, compreen<strong>de</strong>ndoterminais <strong>de</strong> integração, corredores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> e as re<strong>de</strong>s transversais,permitindo a articulação <strong>da</strong>s zonas periféricas entre si e com a zona do CentroPrincipal;IV - a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> circulação do transporte coletivo na re<strong>de</strong> viária principal,sobretudo nos corredores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> e na zona do Centro Principal;VII - a a<strong>de</strong>quação do sistema <strong>de</strong> transporte à política <strong>de</strong> preservação e revitalizaçãodo Centro Histórico, permitindo a integração <strong>de</strong> seus espaços públicos, tendo comopólo principal <strong>de</strong> eventos populares o Parque Solon <strong>de</strong> Lucena;VIII - a a<strong>de</strong>quação do sistema <strong>de</strong> transporte publico a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização e<strong>de</strong>sconcentração do Centro Histórico utilizando o efeito indutor no vigoramento <strong>de</strong>subcentros ou eixos <strong>de</strong> comércio e serviços nas zonas <strong>de</strong> maior a<strong>de</strong>nsamento;X - adoção <strong>da</strong> utilização onerosa <strong>de</strong> espaços públicos, para fins <strong>de</strong> estacionamento<strong>de</strong> veículos públicos e privados, principalmente na área central, mediante sistema<strong>de</strong> parqueamento, com tarifa progressiva no tempo;XI - o Plano Diretor <strong>de</strong>verá prever tratamento urbanístico para vias e áreascontíguas a re<strong>de</strong> estrutural <strong>de</strong> transportes com o objetivo <strong>de</strong> garantir a segurançados ci<strong>da</strong>dãos, do patrimônio ambiental, paisagístico e arquitetônico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.”(PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 1992)O Plano Diretor <strong>de</strong> 1992 adotou o perímetro <strong>de</strong>finido pelo Decreto Estadual nº 9.484,<strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1982. Não sendo elabora<strong>da</strong> a revisão do Código <strong>de</strong> Urbanismo e <strong>de</strong> Obras que<strong>da</strong>tam <strong>de</strong> 1975, atribuiu-se à Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico e aoIPHAEP a análise técnica e a <strong>de</strong>liberação respectivamente <strong>da</strong>s intervenções nesta área.A Comissão com o Projeto <strong>de</strong> Revitalização do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa<strong>de</strong>finiu uma Normativa <strong>de</strong> Proteção que trata “uso do solo, edificações, posturas, parcelamento e


126incentivos” que se planejava incorporar à legislação estadual e municipal. Isso não aconteceu comoplanejado, mas a Comissão e o IPHAEP trabalharam para orientar, fiscalizar e aprovar projetos.“Sendo assim, a Normativa <strong>de</strong> Proteção vem sendo utiliza<strong>da</strong> como orientadortécnico, abriga<strong>da</strong> por dispositivos <strong>da</strong> legislação estadual (1972) sob aresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do IPHAEP, através <strong>da</strong>s <strong>de</strong>liberações emana<strong>da</strong>s pelo CONPEC –Conselho <strong>de</strong> Proteção dos Bens Históricos Culturais. A função do CONPEC é julgar e<strong>de</strong>liberar sobre todos os processos que passam pelo Instituto do PatrimônioHistórico <strong>da</strong> Paraíba. No entanto, a aplicação <strong>de</strong>sta normativa é <strong>de</strong>ficiente porconta <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> atualização <strong>da</strong>s legislações municipal e estadual, que não aincorporam na totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, dificultando a tramitação, a aprovação e fiscalização <strong>da</strong>sintervenções.” (IPHAN, 2006,p.106)A Prefeitura adotou o novo perímetro para o plano diretor como se observa noDecreto Estadual n.° 25.138 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004).6- O DECRETO Nº 25. 138, DE 28 DE JUNHO DE 2004 51Documento estadual que aprova o “Tombamento do Centro Histórico <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>João Pessoa” e <strong>de</strong>fine tipificações <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservação e níveis <strong>de</strong> intervenção em edificações<strong>de</strong>ssas áreas, além <strong>de</strong> diretrizes técnicas para intervenção nas edificações <strong>de</strong>sta mesma área.A <strong>de</strong>liberação apresenta<strong>da</strong> pela CONPEC – Conselho <strong>de</strong> Proteção dos Bens Histórico-Culturais consi<strong>de</strong>rou que o Decreto Estadual n.° 9484 <strong>de</strong> 1982 foi baseado “em critério quantitativo<strong>de</strong> configuração espacial”, que <strong>de</strong>mandou “a sua reorientação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> critérios qualitativos,objetivando preservar as feições arquitetônicas urbanas necessárias à sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e àpreservação <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Assim, concluíram que havia a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revisar osinstrumentos <strong>de</strong> gestão para melhor funcionamento do planejamento integrado entre as instituiçõesatuantes sobre o patrimônio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>: Prefeitura Municipal <strong>de</strong> João Pessoa, Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional- Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado <strong>da</strong>Paraíba- IPHAEP e Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa.51 Publicado no Diário Oficial do Estado <strong>da</strong> Paraíba em 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004


127Com este <strong>de</strong>creto fica <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> a ampliação <strong>da</strong> área <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa, fazendo coincidir fisicamente a área <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> duas instituições <strong>de</strong>conservação, o Iphaep e a Comissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa (Figura 30), que até então trabalhavam com perímetros distintos (Figura 29). A Comissãoconcentrava seus esforços num perímetro que abrangia a área <strong>de</strong> ocupação urbana até a segun<strong>da</strong>meta<strong>de</strong> do século XIX aproxima<strong>da</strong>mente, enquanto o Iphaep trabalhava com um espaço físico maisamplo, bem como um período <strong>de</strong> expansão histórica até a primeira meta<strong>de</strong> do século XX.Com a re<strong>de</strong>finição <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> área do tombamento estadual do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa (Figura 30) ficaram <strong>de</strong>finidos novos zoneamentos, além <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong>área e a atuação sobre o mesmo espaço físico <strong>da</strong> Comissão e do Iphaep. O zoneamento divi<strong>de</strong> a áreaem duas zonas: área <strong>de</strong> preservação rigorosa – APR (1.577.753,98 m 2 ) e a área <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong>entorno (2.516.862,72 m 2 ) (DECRETO Nº 25.138, 2004). Quando isso acontece, o novo perímetro seadéqua às características do que se sugere a Recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Nairóbi <strong>de</strong> 1976, quando observa econsi<strong>de</strong>ra “que este conhecimento i<strong>de</strong>ntifica as particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s diferentes áreas que compõemum mesmo Centro Histórico”, permitindo a gestão mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para a promoção <strong>da</strong> preservação<strong>da</strong> significação cultural.A Área <strong>de</strong> Preservação Rigorosa do Centro Histórico <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa – APR<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pela inclusão <strong>de</strong> ruas e praças para on<strong>de</strong> estão assenta<strong>da</strong>s as edificações, <strong>de</strong>stacatambém a inclusão do espelho d’água e <strong>da</strong>s áreas ver<strong>de</strong>s do Parque Solon <strong>de</strong> Lucena, além dos anéisviários interno e externo.


Figura 30 - Áreas <strong>de</strong> preservação do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. Fonte:Decreto nº25138(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004).128


129A APR é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como “o conjunto dos logradouros públicos, dos lotes e edificaçõescom qualquer limite voltado para eles, *…+ cujos elementos que o compõem, inclusive o própriotraçado urbano, <strong>de</strong>vam ser preservados, valorizados, restaurados ou a<strong>da</strong>ptados às característicasarquitetônicas e urbanísticas originais” e que possuam uma <strong>da</strong>s características abaixo ou mais:“concentra gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> exemplares significativos <strong>da</strong> arquitetura religiosa,civil, institucional e militar;possua conjuntos <strong>de</strong> edificações que, pela continui<strong>da</strong><strong>de</strong>, harmonia e uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong>,mesmo tratando-se <strong>de</strong> construções <strong>de</strong> natureza popular, formam a ambiência <strong>de</strong>edifícios significativos;está relacionado a acontecimentos históricos ou a personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais, estaduais enacionais;constitua testemunho <strong>da</strong>s práticas e tradições <strong>de</strong> uma época ou <strong>de</strong> um momento <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>;exemplifica a evolução estilística ou tecnológica <strong>da</strong> arquitetura;possua elementos naturais portadores <strong>de</strong> significação histórica, paisagística ouambiental.” (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004)A Área <strong>de</strong> Preservação do Entorno do Centro Histórico <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa –APE introduz os Setores Homogêneos, parcelas menores em que se subdivi<strong>de</strong> a APE. A <strong>de</strong>finiçãoapresenta<strong>da</strong> para a APE justifica também a sua seleção através <strong>da</strong> explicação <strong>de</strong> sua função:“é a porção <strong>de</strong> território natural ou urbano vinculado pela continui<strong>da</strong><strong>de</strong> espacial evolutiva dotraçado urbano e pelos laços históricos, culturais, sociais, econômicos e funcionais à APR, masque não possua semelhante <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> significação cultural. Funciona como área<strong>de</strong> transição e <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> ambiência entre a APR e a área <strong>de</strong> expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,através <strong>da</strong> preservação do seu traçado urbano e dos bens <strong>de</strong> significação cultural ain<strong>da</strong> nelaexistentes e pela renovação <strong>da</strong>s edificações sem valor <strong>de</strong> forma a não comprometer aambiência <strong>da</strong> APR, nota<strong>da</strong>mente nos aspectos relativos a sua escala e textura <strong>de</strong> materiais.”(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004)Os Setores Homogêneos –SH como subdivisões <strong>da</strong> APE se <strong>de</strong>terminam a partir <strong>de</strong>estudos <strong>de</strong> “relação <strong>de</strong> escala, volume e texturas <strong>de</strong> materiais com a APR, como o objetivo <strong>de</strong><strong>de</strong>terminar valores individualizados <strong>de</strong> escala, volume e textura <strong>de</strong> materiais para as novasconstruções e que melhor se a<strong>da</strong>ptem à manutenção <strong>da</strong> ambiência <strong>da</strong> APR.” (PARAÍBA, 2004) Noentanto, ain<strong>da</strong> não há referência clara ao estudo <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> paisagem como foi citado emestudos elaborado para o Recife em sua revisão <strong>de</strong> tombamento fe<strong>de</strong>ral.O Decreto 25.138 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004) traz ain<strong>da</strong> a <strong>de</strong>finiçãodos conceitos relativos às edificações: Edificação <strong>de</strong> Conservação Total –<strong>CT</strong>, Edificação <strong>de</strong>Conservação Parcial –CP, Edificação <strong>de</strong> Renovação Controla<strong>da</strong> – RC e Edificação <strong>de</strong> Renovação Total –RT.


130Os casos <strong>de</strong> intervenção na APR ou em bens tombados individualmente ouconsi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> conservação total na APE apenas são autorizados com a <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong> CONPEC, os<strong>de</strong>mais casos cabem à Diretoria Executiva do IPHAEP que <strong>de</strong>ve em segui<strong>da</strong> comunicar ao CONPEC. AComissão Permanente <strong>de</strong> Desenvolvimento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa é responsável poremitir Laudo Técnico para subsidiar as <strong>de</strong>liberações <strong>da</strong> CONPEC e as autorizações <strong>da</strong> Divisão Técnica.A maior inovação para o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa é a referência aotombamento <strong>de</strong> ruas e praças. No entanto, as referências a este tombamento se resumem a apenaseste trecho do <strong>de</strong>creto, ou seja, o mapa <strong>de</strong> “Áreas <strong>de</strong> preservação do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa”. A maior concentração <strong>de</strong> ruas e praças a serem tomba<strong>da</strong>s se encontra ain<strong>da</strong> na área on<strong>de</strong>se limitava a atuação <strong>da</strong> Comissão anterior a esse <strong>de</strong>creto. As ruas e praças a serem tomba<strong>da</strong>s nãosão ain<strong>da</strong> categoriza<strong>da</strong>s, nem possuem diretrizes técnicas pré-<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s, como ocorre com asedificações.Observando a lista <strong>de</strong> tombamentos <strong>de</strong> monumentos isolados do IPHAEP e a<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetro do Decreto 9.484 (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1982), constata-sea inclusão <strong>de</strong> áreas como a Praça <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e a Aveni<strong>da</strong> Walfredo Leal, Aveni<strong>da</strong> GetúlioVargas e o Complexo do Lyceu Paraibano, a Aveni<strong>da</strong> João <strong>da</strong> Mata e a Rua <strong>da</strong>s Trincheiras, todos naárea <strong>de</strong> preservação rigorosa. E a exclusão do Parque Arru<strong>da</strong> Câmara <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação, inclusive <strong>da</strong>área <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> entorno.Apesar <strong>de</strong> o texto <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação ain<strong>da</strong> apresentar termos como “características *…+originais” como valor prepon<strong>de</strong>rante para a valorização <strong>da</strong> conservação do bem, ele sugere otombamento <strong>de</strong> ruas e praças do núcleo central que permanecem em sua forma original e tambémque sofreram transformações que fazem parte <strong>de</strong> momentos históricos relevantes, seja pelanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> planificação como <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do século XIX ou <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização paraa<strong>da</strong>ptação ao uso <strong>de</strong> veículos automotores.Os elementos e espaços públicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta estão sugeridos para tombamento,como ruas e praças, excluindo um trecho <strong>da</strong> Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, levantando o questionamento<strong>da</strong> justificativa para tal. Mas a Rua <strong>da</strong>s Trincheiras, primeira linha <strong>de</strong> expansão para sul <strong>de</strong>vido aocaminho em direção ao Recife; a Aveni<strong>da</strong> João Machado, que foi marco <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> renovaçãourbana; o Parque Solon <strong>de</strong> Lucena, Aveni<strong>da</strong> Getúlio Vargas e Complexo Educacional, marco <strong>da</strong>urbanização <strong>de</strong> um charco que limitava o crescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; a Aveni<strong>da</strong> Walfredo Leal e Praça <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência, caminho <strong>de</strong> expansão em direção ao leste, contato com a Praia <strong>de</strong> Tambaú, oCemitério e a Rua <strong>da</strong> República, rumo para o interior do estado e engenhos através <strong>da</strong> Ponte sobre o


131Rio Sanhauá; Praças <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Baixa, além <strong>de</strong> ruas <strong>de</strong> ligação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa e ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta; todosesses estão sugeridos como praças e ruas a serem tombados, tratando-se <strong>de</strong> uma avanço conceitualsobre a autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e equi<strong>da</strong><strong>de</strong> inter-gerações.7- TOMBAMENTO NACIONALA evolução dos trabalhos nos órgãos <strong>de</strong> preservação ao longo <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente70 anos, passaram <strong>de</strong> tombamentos individuais <strong>de</strong> edifícios até chegar à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se tombar otraçado, a partir do trabalho <strong>de</strong> inventário realizado pela Comissão do Centro Histórico em 1987, quese iniciou a elaboração <strong>de</strong>sse estudo 52 .Apreensão dos valores patrimoniais <strong>da</strong> área como objeto motivador <strong>da</strong> instrução doprocesso <strong>de</strong> tombamento nacional do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa:“A presente proposta <strong>de</strong> tombamento do núcleo histórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> JoãoPessoa assenta no pressuposto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar este como um conjunto urbano comuma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> própria que lhe adveio <strong>da</strong> permanência <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong>ste lugar,num tempo mais ou menos longo, com estruturas construí<strong>da</strong>s que <strong>de</strong>ram respostasàs funções que justificaram esse assentamento, e que explicam também assucessivas metamorfoses pelas quais esse núcleo foi passando.” (IPHAN, 2006,p.28)Neste trecho citado po<strong>de</strong>mos perceber que a apreensão do conjunto urbano comoelemento <strong>de</strong> valor patrimonial traz consigo conceitos contemporâneos como o <strong>de</strong> permanência,advindo <strong>da</strong> geografia (TRICART apud ROSSI,1995; LAMAS,1993). Refere-se às “metamorfoses”sugerindo como justificativa para as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s funcionais.A proposta apresenta justificativas históricas <strong>da</strong> forma do traçado e <strong>da</strong>s edificações,além disso, a realização <strong>de</strong> um inventário <strong>de</strong> estrutura urbana e <strong>da</strong>s edificações inseri<strong>da</strong>s noperímetro. O trabalho dos órgãos municipal e estadual são reconhecidos, mas se reforça anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção fe<strong>de</strong>ral para o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa. O enfoque é feito sobre a52 Instrução para o processo <strong>de</strong> tombamento nacional pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional)


132“formação urbana, sua morfologia e tipologias arquitetônicas, ressaltando os valores estilísticos epaisagísticos.” (IPHAN, 2006, p.9)O estudo estabelece a relação paisagística natural e urbana entre o Núcleo Urbano eo Rio Sanhauá: “topografia <strong>de</strong> relevo suave, a vegetação exuberante do seu entorno e,principalmente, a relação existente entre seu núcleo histórico e o Rio Sanhauá”.As características geográficas e naturais do território <strong>de</strong> implantação próximo ao RioSanhauá produziram os ambientes urbanos <strong>de</strong> “acentua<strong>da</strong> integração” com o ver<strong>de</strong> comoexemplifica: “o ver<strong>de</strong> <strong>da</strong>s cercas conventuais dos franciscanos e beneditinos, em parte ain<strong>da</strong>existente.” (IPHAN, 2006, p.12)Para o tombamento fe<strong>de</strong>ral se propõe uma poligonal que inclui apenas a parte maisantiga <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>: Varadouro e Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta.Os critérios e justificativas para o tombamento do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoaressaltam as características <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> própria do conjunto urbano <strong>de</strong> João Pessoa – Paraíba efun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na Carta Internacional <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s Históricas do ICOMOS “’os valores a preservar sãoo caráter histórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e o conjunto <strong>de</strong> elementos materiais e espirituais que lhe <strong>de</strong>terminarama imagem.’”O tombamento nacional <strong>de</strong>finiu como elementos merecedores <strong>de</strong> atenção particular“a forma urbana <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo traçado viário e parcelamento do solo, as relações entre edifícios eespaços livres ver<strong>de</strong>s, a forma e a imagem dos edifícios, as mutações impostas à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> por outrasfunções adquiri<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> <strong>história</strong>. Situação, sítio, formas, funções, paisagem natural epaisagem construí<strong>da</strong>, <strong>de</strong>finem um conjunto coerente on<strong>de</strong> é possível assinalar a passagem do tempoatravés <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> paisagem que se preten<strong>de</strong> tombar, preservando-a para o futuro comosímbolo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (IPHAN, 2006, p.28)Pontos <strong>de</strong> relevância para o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa obter o tombamento:“Mantendo ain<strong>da</strong> praticamente intacta esta malha urbana, as característicastipológicas e urbanísticas originais, consi<strong>de</strong>ra-se a estrutura urbana como umjustificativo consistente para a sua preservação como referencial histórico <strong>da</strong>ocupação territorial do Brasil no século XVI, bem como <strong>da</strong> organização e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> colonial ao longo dos séculos XVII e XVIII.Preservar este traçado urbano é importante para a memória e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> João Pessoa, mas também significa manter um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização urbanafun<strong>da</strong>mental para a compreensão <strong>da</strong> origem e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste fenômeno<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s no Brasil.” (IPHAN, 2006, p.29)


133“A malha urbana do centro tradicional será bastante íntegra, constituindo,portanto, registro <strong>de</strong> significativa relevância para a compreensão do processo <strong>de</strong>ocupação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (IPHAN, 2006,p.31)A proposta <strong>de</strong> uma poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional para o Centro Histórico <strong>de</strong>João Pessoa foi justifica<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> seus valores históricos e artísticos sendo <strong>de</strong>stacados aformação e evolução <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e o período <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência à república e, o patrimônio edificado,dividido em dois gran<strong>de</strong>s grupos: estrutura urbana e bens tombados.“Aos poucos, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> implanta<strong>da</strong> em sítio <strong>de</strong> encosta foi se constituindo, tendopor porta <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> o rio Sanhauá, acesso para as embarcações que ali chegavam.Uma pequena capela edifica<strong>da</strong> no alto <strong>da</strong> colina marcou importante ponto <strong>de</strong>referência para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo em pouco tempo eleva<strong>da</strong> à condição <strong>de</strong> igrejamatriz. Assim, foi <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a sua estrutura inicial, dividi<strong>da</strong> entre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta- olugar <strong>da</strong> matriz- e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa, à margem do rio, área também <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong>Varadouro.Fazendo a ligação entre o Varadouro e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta, surgiu a la<strong>de</strong>ira, hoje<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> São Francisco, caminho através do qual homens e mercadoriascirculavam entre o porto e o núcleo administrativo e resi<strong>de</strong>ncial situado em cima<strong>da</strong> encosta, uma vez que o Varadouro tinha função portuária e, segundo registrosdocumentais, apenas havia ali algumas roças e sítios.Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta, foi aberta a Rua Nova, a qual tinha início à porta <strong>da</strong> igreja matriz,sendo ali edificados a Casa <strong>de</strong> Câmara e Ca<strong>de</strong>ia, e o Açougue. Estes doislogradouros foram os primeiros a compor a nascente malha urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, quea partir <strong>de</strong> 1588, no governo <strong>de</strong> Frutuoso Barbosa, passou a se chamar Filipéia <strong>de</strong>Nossa Senhora <strong>da</strong>s Neves, em homenagem ao rei <strong>de</strong> Espanha e Portugal.” (IPHAN,2006, p.37)A consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> se confirma por ocorrer pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta a partir <strong>de</strong><strong>de</strong>scrições <strong>da</strong> época e <strong>da</strong> instalação <strong>da</strong>s igrejas e seus conjuntos, <strong>de</strong>stacando o aspecto do traçado doCentro Histórico que persiste <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem:“Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta, além <strong>da</strong> rua nova, surgiu a Rua Direita, paralela àquela, comtraçado regular, e em formação por volta do ano <strong>de</strong> 1600. Havia algumas viastransversais – a Rua <strong>da</strong> Misericórdia, a Travessa do Carmo, cujo trajeto estavaassociado à posição assumi<strong>da</strong> pelos respectivos edifícios religiosos na malhaurbana. To<strong>da</strong>s essas ruas <strong>de</strong>finiam um traçado urbano regular, dividindo o sítio emquadras também regulares, on<strong>de</strong> as casas ocupavam lotes <strong>de</strong> testa<strong>da</strong> estreita ecom longos quintais, configurando o típico parcelamento colonial.” (IPHAN, 2006,p.38)“Visualizando o traçado urbano <strong>da</strong> Filipéia nesta época, vê-se que a Rua Novapartia <strong>da</strong> Igreja Matriz, terminando na esquina, <strong>da</strong> Rua <strong>da</strong> Misericórdia, pois apartir <strong>da</strong>li havia apenas um estreito caminho. A Rua <strong>da</strong> Misericórdia, principiandona Rua Nova, se encerrava à porta <strong>da</strong> igreja <strong>da</strong> Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia,edifica<strong>da</strong> na rua Direita. Por sua vez, a rua direita era a via mais extensa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,iniciando no adro <strong>da</strong> igreja dos franciscanos e seguindo até a Capela <strong>de</strong> SãoGonçalo on<strong>de</strong> residiam os jesuítas. No entanto, esta rua era parcialmente ocupa<strong>da</strong>apenas no trecho compreendido entre os conjuntos dos franciscanos e <strong>da</strong>Misericórdia. Havia ain<strong>da</strong> a Travessa do Carmo, ligando a Rua Nova ao conjunto doscarmelitas. Observa-se a relação que havia entre o traçado urbano e os edifíciosreligiosos que pontuavam a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.”(IPHAN, 2006,p.39)


134As igrejas construí<strong>da</strong>s no século XVIII foram indutoras <strong>de</strong> expansão urbana:“Associa<strong>da</strong> a estes edifícios referenciais, a malha urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Paraíbasofreu sua pequena expansão no século XVIII, sem no entanto se verificar qualquerpreocupação com a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> observa<strong>da</strong> no traçado urbano mais antigo <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta. As novas vias em formação apenas tinham a função <strong>de</strong> ligar pontosestratégicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como mostra a planta abaixo.” (IPHAN, 2006, p.48)O período <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência à República correspon<strong>de</strong> ao período <strong>de</strong> melhoramentos,mo<strong>de</strong>rnização e expansão inicial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Incluía iluminação pública, criação do Lyceu e <strong>da</strong> escola<strong>de</strong> mulheres, criação do jardim botânico e <strong>da</strong> escola agrícola. O Governo <strong>de</strong> Beaurepaire Rohan foi<strong>de</strong>stacado quanto a estas características <strong>de</strong> período <strong>de</strong> melhoramentos:“Ao encerrar seu governo, Beaurepaire Rohan havia <strong>de</strong>ixado um conjunto <strong>de</strong> obrasque registravam a situação <strong>da</strong> Paraíba naquela época, entre elas a carta geográfica<strong>da</strong> Província, o levantamento <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Paraíba e a Corografia <strong>da</strong> Província <strong>da</strong>Paraíba do Norte, que contém um relato <strong>de</strong> aspectos físicos, populacionais,econômicos, etc. *…+ Observando a ‘Planta <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba’, levanta<strong>da</strong> em1855 pelo 1º Tenente do Corpo <strong>de</strong> Engenheiros, Alfredo De Barros e Vasconcelos,verifica-se que a área ocupa<strong>da</strong> pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> era pouco superior aos limites<strong>de</strong>marcados nas cartografias do século XVII, apesar <strong>de</strong> transcorridos quase trêsséculos <strong>da</strong> sua fun<strong>da</strong>ção. No entanto, a malha urbana se expandira sobre vaziosexistentes na área <strong>de</strong> encosta situa<strong>da</strong> entre as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s baixa e alta, e uma série <strong>de</strong>novos logradouros surgiu, marcando a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do século XIX. Começava, também, ocrescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> seguindo os eixos <strong>de</strong>finidores dos futuros bairros <strong>de</strong>Trincheiras e Tambiá. *…+ Nesta época *fim do século XIX+ , o núcleo inicial <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong> conservava suas características tipológicas e urbanísticas originais. Nas ruas<strong>da</strong>s Converti<strong>da</strong>s, Nova, Direita e <strong>da</strong> Areia, estavam concentra<strong>da</strong>s as residências, emgeral mo<strong>de</strong>stas, seguindo a arquitetura típica <strong>da</strong>s casas coloniais, sendo poucos ossobrados que ostentavam o status mais elevado dos seus moradores.Nas primeiras <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> do século XX, o po<strong>de</strong>r público promoveu intervençõesvolta<strong>da</strong>s para a melhoria <strong>da</strong> infra-estrutura urbana, como a implantação dosserviços <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, iluminação e transportes públicos fazendo uso<strong>de</strong> energia elétrica, calçamento <strong>de</strong> ruas, etc. Com estas propiciava, também, aestruturação <strong>de</strong> novos espaços urbanos e o ‘aformoseamento’ <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (IPHAN,2006, p.53-56)A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1910 “outras tipologias arquitetônicas foram surgindo naci<strong>da</strong><strong>de</strong>, aten<strong>de</strong>ndo ora às novas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> população, ora aos novos conceitos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e aprincípios sanitaristas.” (IPHAN, 2006, p.56)A proposta <strong>de</strong> poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional 53 constatou que o Centro Históricopo<strong>de</strong> ser separado em dois núcleos que compõe o conjunto urbano do Centro Histórico <strong>de</strong> JoãoPessoa (Figura 31):53 “Consi<strong>de</strong>rando a estrutura urbana como um conjunto organizado <strong>de</strong> elementos diferenciados – o traçado, oparcelamento, a estrutura edifica<strong>da</strong>, os espaços abertos, etc. suscetíveis <strong>de</strong> serem percebidos <strong>de</strong> formahomogênea por um observador, no centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa…” (IPHAN, 2006, p.60)


1351- Núcleo Porto do Capim – Com características <strong>da</strong> função portuária permaneceunesta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> até o século XX, quando teve sua população substituí<strong>da</strong> porhabitantes <strong>de</strong> baixa ren<strong>da</strong> e os armazéns receberam funções diversas. As ferroviasprovocaram as primeiras alterações <strong>de</strong> traçado já no século XIX, e,posteriormente, a transferência <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> portuária para Cabe<strong>de</strong>lo.2- Núcleo Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta“Por sua vez, a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Alta (cota +45,00m) se <strong>de</strong>senvolveu como núcleo resi<strong>de</strong>nciale <strong>de</strong> controle <strong>da</strong> administração pública, em torno <strong>de</strong> diversas igrejas e conventos.Neste espaço ficaram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s quadras <strong>de</strong> traçado regular dispostas em torno <strong>de</strong>dois eixos principais, que forma uma cruz latina. No sentido longitudinal, o eixoparte <strong>da</strong> Igreja <strong>de</strong> Santo Antônio (conjunto Franciscano) e termina no conjuntoJesuíta (Praça João Pessoa); no sentido transversal, liga a Igreja do Carmo aoMosteiro <strong>de</strong> São Bento.Esta estrutura urbana, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> dos séculos XVI e XVII, se mantém até hoje sendo umdos mais fortes referenciais <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, estando a esta agregados outroslogradouros abertos nos séculos subseqüentes. Somente no século XX ocorreramintervenções neste núcleo histórico que modificaram o seu traçado urbano original.No lugar <strong>da</strong> antiga Igreja <strong>da</strong>s Mercês, surgiu a Praça 1817, e a Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros – conheci<strong>da</strong> como o Ponto <strong>de</strong> Cem Réis – foi aberta no local on<strong>de</strong> estavaa antiga Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário. Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, a construção dosviadutos Damásio Franca e Dorgival Terceiro Neto representou uma agressão aotraçado urbano do Centro Histórico.” (IPHAN, 2006, p.63)Uma terceira área é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, mas com função clara <strong>de</strong> ligação dos núcleos:“estão unidos por duas ruas que são marcantes em sua estrutura urbana: a La<strong>de</strong>ira<strong>de</strong> São Francisco, bastante íngreme, e a Rua <strong>da</strong> Areia, diagonal seguindo a linha <strong>de</strong>menor <strong>de</strong>clivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> encosta que divi<strong>de</strong> esta parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (IPHAN, 2006, p.64)


136Figura 31 - Eixos direcionais <strong>de</strong> estrutura urbana i<strong>de</strong>ntificados na caracterização do CentroHistórico <strong>de</strong> João Pessoa. 01 – Porto do Capim, 02 – Igreja <strong>de</strong> São Frei Pedro Gonçalves, 03 –Conjunto Franciscano, 04 – Conjunto Beneditino, 05 – Conjunto Carmelita, 06 – AntigoConjunto Jesuítico. Fonte: IPHAN, 2006.Inseridos no perímetro <strong>de</strong> tombamento nacional (Figura 32) estão 8 monumentosisolados sob proteção do Iphan e 21 sob proteção do IPHAEP, são <strong>de</strong>stacados ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>z “imóveis <strong>de</strong>relevante valor patrimonial” que não possuem proteção como bem isolado em nenhuma esferaadministrativa:1. Clube Cabo Branco2. Balaustra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Praça Aristi<strong>de</strong>s Lobo3. Igreja Presbiteriana4. Colégio Nossa Senhora <strong>da</strong>s Neves5. Colégio Diocesano Pio XII


1376. Casa Paroquial7. Antiga Delegacia Fiscal8. Antiga Alfân<strong>de</strong>ga9. Secretaria Estadual <strong>de</strong> Finanças10. Estação Elevatória <strong>de</strong> EsgotoEsses bens também <strong>de</strong>monstram a abertura para estilos arquitetônicosprotomo<strong>de</strong>rnistas, além do eclético.Destacam-se as três ruas no sentido Norte-Sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alta: Aveni<strong>da</strong> GeneralOsório, Duque <strong>de</strong> Caxias e Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, on<strong>de</strong> se instalaram as edificações religiosas quevieram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros anos <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> – a Matriz, o Mosteiro Beneditino, ConjuntoFranciscano, Conjunto do Carmo, Igreja <strong>da</strong> Misericórdia, e entre as que foram <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>s a Igreja doRosário dos Homens <strong>de</strong> Cor e a Capela <strong>de</strong> São Gonçalo do Conjunto Jesuítico.A Praça João Pessoa, a Praça Venâncio Neiva e a Praça Rio Branco estão inseri<strong>da</strong>s napoligonal <strong>de</strong> proteção rigorosa, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s para o Iphan sob a mesma caracterização que a PraçaAntenor Navarro. A Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros, a Praça Pedro Américo, a Praça Aristi<strong>de</strong>s Lobo e a PraçaNapoleão Laureano estão <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>s pela poligonal <strong>de</strong> entorno. A Praça 1817 e a Praça CoronelAntonio Pessoa não estão inseri<strong>da</strong>s na poligonal.


Figura 32 – Perímetro <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong> poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional do Centro Histórico<strong>de</strong> João Pessoa. Fonte: IPHAN, 2006.138


Consi<strong>de</strong>raçõesFinaisPerímetro <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa: três <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>


A poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional, on<strong>de</strong> inci<strong>de</strong> maior rigor nos critérios <strong>de</strong>avaliação <strong>de</strong> qualquer intervenção a se realizar no Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, bem como apoligonal <strong>de</strong> entorno, são bem menores do que a estabeleci<strong>da</strong> pelo Decreto Estadual n.° 25.138(GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2004) mais recente sobre a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong>atuação na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.A poligonal principal do tombamento nacional elimina algumas áreas importantescomo a Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros e a Praça Pedro Américo. Ambas sofreram modificações durante oséculo XX, principalmente com a chega<strong>da</strong> do bon<strong>de</strong> e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s vias <strong>de</strong>circulação a esse meio <strong>de</strong> transporte. A Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong> Negreiros era uma espaço que continha umaquadra com edificações similares às outras <strong>de</strong> quadras próximas e um exemplar <strong>de</strong> arquiteturareligiosa do século XVIII, a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário. Essa cabeça <strong>de</strong> quadra foi <strong>de</strong>moli<strong>da</strong>para abrigar o Ponto <strong>de</strong> Cem Réis, praça <strong>de</strong> manobra <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>s e para<strong>da</strong> <strong>de</strong> carros <strong>de</strong> aluguel.Posteriormente sofreu nova intervenção, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, com a abertura do viaduto DamásioFranca, obra <strong>de</strong>snecessária ao tráfego <strong>de</strong> veículos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.A Praça Pedro Américo e Aristi<strong>de</strong>s Lobo, área envoltória do Comando <strong>da</strong> PolíciaMilitar, foram urbaniza<strong>da</strong>s e tiveram suas ruas e facha<strong>da</strong>s alinha<strong>da</strong>s. A antiga Rua do Fogo, atualAveni<strong>da</strong> Gue<strong>de</strong>s Pereira, foi retifica<strong>da</strong> para passagem do bon<strong>de</strong> e posteriormente modifica<strong>da</strong> para aabertura do viaduto citado anteriormente.Não fica claro, porém, o motivo <strong>da</strong> inserção <strong>da</strong> Praça Antenor Navarro na poligonalprincipal, já que a área sofreu intervenções na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930 com a abertura <strong>da</strong> praça cujo espaçoanteriormente fazia parte <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> quadra com lotes construídos e também o alinhamento <strong>da</strong>Rua Maciel Pinheiro on<strong>de</strong> atualmente se encontra a Associação Comercial. Além disso, até a déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 1980, a Praça se encontrava ocupa<strong>da</strong> por um posto <strong>de</strong> gasolina e estacionamento <strong>de</strong> veículos


141automotores, quando apenas na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 foi revitaliza<strong>da</strong> e requalifica<strong>da</strong> para o estado que seencontra atualmente.Nas análises realiza<strong>da</strong>s em fontes históricas e mapas se i<strong>de</strong>ntifica que as Praças 1817,Coronel Antonio Pessoa e Antenor Navarro sofreram alterações durante as <strong>déca<strong>da</strong>s</strong> <strong>de</strong> 1920 e 1930com o objetivo <strong>de</strong> facilitar a circulação na perspectiva <strong>de</strong> sanear e embelezar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo que asduas primeiras são espaços ampliados numa estrutura urbana já existente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII apartir <strong>da</strong> <strong>de</strong>molição <strong>da</strong>s igrejas <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong>s Mercês e Nossa Senhora Mãe dos Homens e aPraça Antenor Navarro surgiu <strong>da</strong> <strong>de</strong>molição <strong>de</strong> casario para facilitar o acesso ao Largo <strong>de</strong> São FreiPedro Gonçalves e o Porto.Consi<strong>de</strong>rando como referência <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> o mapa <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>Parahyba <strong>de</strong> 1855, po<strong>de</strong>mos observar que ruas e quadras permanecem sob a mesma forma <strong>de</strong>s<strong>de</strong>esse período até hoje como é o caso <strong>da</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Rua Maciel Pinheiro, <strong>da</strong> Rua Barão doTriunfo, além <strong>da</strong> Rua Desembargador Odon Bezerra e Rua Joaquim Nabuco.Como se observa no quadro a seguir, espaços urbanos criados anteriormente àinauguração <strong>da</strong> Praça Antenor Navarro não foram incluí<strong>da</strong>s no novo tombamento. A Praça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros <strong>de</strong>monstra cenário similar ao <strong>da</strong> Praça Antenor Navarro, sendo, no entanto, palco <strong>de</strong>efervescência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> paraibana, ora como convergência <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> transportes, ora comolugar <strong>de</strong> protestos. Atualmente a Praça mantém sua característica peculiar <strong>de</strong> reunir parte <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoense e continua sendo um espaço <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação.


142Situações pontuais <strong>de</strong> transformações urbanas e inserção nas <strong>de</strong>limitações do Centro Histórico <strong>de</strong> João PessoaMapasCi<strong>da</strong><strong>de</strong>BaixaEixo <strong>de</strong>ligaçãoCi<strong>da</strong><strong>de</strong>Alta/ BaixaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> AltaLegen<strong>da</strong>:sim (I)urbanosantigos <strong>de</strong>João PessoaData <strong>de</strong>fun<strong>da</strong>ção/inauguração/aberturaDelimitações <strong>de</strong> perímetros <strong>de</strong> proteção1855 1889 1975 1982 1987 2004 2007Praça AntenorNavarro não não 1933 54 não sim sim sim simPorto do Capim sim sim não sim sim sim nãoPraça NapoleãoLaureano não nãoDéca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1940 não sim sim sim nãoPraça ÁlvaroMachado não sim não sim sim sim nãoPraça PedroAmérico e Aristí<strong>de</strong>sLobo sim sim sim sim sim sim nãoRua <strong>da</strong> Areia sim sim sim sim sim sim sim(I)Rua <strong>da</strong> República sim sim não sim sim sim nãoPraça Vi<strong>da</strong>l <strong>de</strong>Negreiros não nãoPraça CoronelAntônio Pessoa não nãoParque Solon <strong>de</strong>Lucena não nãoDéca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1970 55 sim sim sim sim não1928(Demolição<strong>da</strong> Ig. Mãedos Homens sim sim não sim não1914(Parkway) não sim não sim nãoPraça João Pessoa sim sim não sim sim sim simPraça 1817 não nãoDéca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1930(Demolição<strong>da</strong> Ig. DasMercês) não sim sim sim nãoRua Odon Bezerra sim(I) sim(I) sim(I) sim(I) não sim nãoRua <strong>da</strong>s Trincheiras sim(I) sim(I) não sim não sim nãoAveni<strong>da</strong> JoãoMachado não nãoRua Getúlio Vargas não nãoDéca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1920 não1914(Parkway) nãoExistia inicialmente ou está inserido parcialmente na <strong>de</strong>limitaçãoAs situações pontuais que foram inseri<strong>da</strong>s no tombamento nacional.sim(I) nãosim(I) nãosim(I) não sim não54 Inauguração55 Última gran<strong>de</strong> transformação.


143Como <strong>de</strong>monstrado nesse quadro, os espaços urbanos que já se representavam nomapa <strong>de</strong> 1855 e na construção <strong>de</strong> um mapa <strong>de</strong> transformações na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do Século XIX apartir <strong>de</strong> elementos históricos, apenas a Praça João Pessoa e a Rua <strong>da</strong> Areia foram inseridos noperímetro <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do tombamento nacional. A Praça Antenor Navarro só é aberta após a<strong>de</strong>molição parcial <strong>de</strong> uma quadra em 1933, mas mesmo assim está inseri<strong>da</strong> na <strong>de</strong>limitação do Iphan.Qual a justificativa para manter fora <strong>da</strong> Poligonal <strong>de</strong> Tombamento Nacional espaçosurbanos como: Porto do Capim, Praça Álvaro Machado, Praça Pedro Américo e Aristi<strong>de</strong>s Lobo, Rua <strong>da</strong>República, Rua Odon Bezerra e Rua <strong>da</strong>s Trincheiras? Espaços consoli<strong>da</strong>dos, que representam importantesligações históricas e locais <strong>de</strong> simbologia social significativa.A poligonal <strong>de</strong> tombamento nacional se <strong>de</strong>fine sob a ótica do tombamento do bemisolado e seu entorno, apesar <strong>de</strong> o produto gerado ser apenas <strong>de</strong> uma poligonal principal e outra <strong>de</strong>entorno. A referência a ruas funcionam como justificativa <strong>de</strong> uma poligonal única e maior <strong>de</strong>entorno, que anteriormente nunca foi estipula<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> bem tombado nacionalmente em JoãoPessoa. Em vários exemplos pelo Brasil é possível observar a elaboração <strong>de</strong> tombamento e área <strong>de</strong>entorno do bem isolado, protegendo-o <strong>de</strong> intervenções ao seu redor que agri<strong>da</strong>m sua visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ouambiência, no entanto, esse entorno nunca foi <strong>de</strong>finido para os bens tombados pelo IPHAN em JoãoPessoa.Apesar disso nunca ter acontecido, a partir <strong>de</strong> 1976 com a publicação do primeiroPlano Diretor os bens isolados receberam algum tipo <strong>de</strong> proteção, mesmo que variável durante três<strong>déca<strong>da</strong>s</strong> passa<strong>da</strong>s. Além disso, o po<strong>de</strong>r econômico influente na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não se interessou em fazergran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças no meio urbano mais antigo, po<strong>de</strong>ndo se consi<strong>de</strong>rar a ampla reserva <strong>de</strong> área <strong>de</strong>expansão do município. São encontra<strong>da</strong>s algumas torres <strong>de</strong> edifícios resi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong> escritórios <strong>de</strong>arquitetura mo<strong>de</strong>rnista que apenas em uma análise <strong>de</strong> paisagem será possível <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong>interferência, no entanto, diante do fato <strong>de</strong> que esses edifícios são também parte <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar também a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> preservá-los. Além disso, os dois viadutos quecortam o centro histórico são também dois exemplares <strong>de</strong> interferência. O Viaduto Dorgival TerceiroNeto teve seu percurso alterado para evitar a <strong>de</strong>molição do bem isolado tombado nacionalmente, aCasa do Erário. O prédio vizinho chegou a ser <strong>de</strong>molido para a abertura do viaduto, por on<strong>de</strong> eleteria uma inclinação menos acentua<strong>da</strong>. O tombamento isolado impediu a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> obra,porém já havia provocado um <strong>da</strong>no ao espaço público urbano e ao patrimônio arquitetônico. OViaduto Damásio Franca foi construído sem dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pois no momento <strong>de</strong> sua abertura existiauma praça on<strong>de</strong> havia sido o antigo Ponto dos Cem Réis, local <strong>de</strong> encontro dos ramais <strong>de</strong> bon<strong>de</strong> epraça <strong>de</strong> carros <strong>de</strong> aluguel.


144Apesar <strong>da</strong> assimilação do elemento urbano na representação <strong>da</strong> rua, <strong>da</strong> praça e dolargo como patrimônio cultural por ele mesmo ocorrer no Decreto Estadual nº 25.138 (GOVERNO DOESTADO DA PARAÍBA, 2004) como sugestão para tombamento futuro, isso não ocorre notombamento nacional que é homologado em 2007. Além disso, apesar <strong>de</strong> sempre ser <strong>de</strong>terminadoapenas uma poligonal para o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa, ela flutuou sobre a área <strong>de</strong> origem <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong> variando sua área e as bor<strong>da</strong>s que incluíam ou excluíam bens isolados e/ou conjuntos urbanosimportantes. Até 2004 (4.074.616,70 m 2 ) a poligonal seguiu aumentando, apenas no tombamentonacional (370.000 m 2 ) a redução foi drástica, perfazendo apenas pouco mais <strong>de</strong> 9% <strong>da</strong> área <strong>de</strong>tombamento estadual vigente.A relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> atribuição <strong>de</strong> valor quanto ao sujeito e à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que vive(LACERDA, 2002) po<strong>de</strong> ser correspondi<strong>da</strong> à justificativa para se encontrar diversas formas <strong>de</strong>abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> metodologias para poligonais <strong>de</strong> preservação. Igualmente, é escolha <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>arcar com a conseqüência <strong>de</strong> preservar uma referência do passado ou <strong>de</strong>sprezá-la, ou ain<strong>da</strong>encontrar o equilíbrio dinâmico (Harvey, 2006) na busca <strong>da</strong> convivência do antigo e do novo, dovelho e do moço.No entanto, a situação reconheci<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> João Pessoa <strong>de</strong>monstra que asescolhas po<strong>de</strong>m levar à construção <strong>de</strong> uma nova <strong>história</strong>, pois está se atribuindo valor a certostrechos em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros na mesma situação.Ciente <strong>de</strong> que a atribuição <strong>de</strong> valor por uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> aos seus próprios bensculturais é uma forma <strong>de</strong> posicioná-la entre seus pares, compreen<strong>de</strong>-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborarmodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-los, no entanto, sem que a contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> seja bloquea<strong>da</strong> ou nega<strong>da</strong> <strong>de</strong>seus benefícios.É importante <strong>de</strong>stacar que apesar <strong>de</strong> o tombamento nacional ter ratificado uma áreareduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> proteção não significa que o tombamento estadual tenha sido <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado. Assim,atualmente o Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa apresenta 2 perímetros <strong>de</strong> proteção: o mais amplo, omunicipal/ estadual (Decreto Estadual nº 25.138, <strong>de</strong> 2004) e o mais reduzido, o nacional(tombamento do Iphan <strong>de</strong> 2007).Não apenas a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> perímetro <strong>de</strong> centro histórico é suficiente para a gestãourbana, mas é uma etapa essencial para o reconhecimento e a priorização <strong>de</strong> valores patrimoniaisespacializados no meio urbano.


145A partir <strong>da</strong> <strong>de</strong>limitação, vários outros instrumentos po<strong>de</strong>m ser elaborados para assentarpráticas claras e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s à gestão urbana, beneficiando o trabalho dos técnicos e fiscaismunicipais e também a conservação dos valores culturais reconhecidos.Os 30 anos <strong>de</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong> proteção do Centro Histórico <strong>de</strong> João Pessoa se apresentambastante avançados em alguns aspectos como a crescente integração entre as três esferasadministrativas e ain<strong>da</strong>, consonância com as recomen<strong>da</strong>ções internacionais.Reconhecendo o processo gra<strong>da</strong>tivo <strong>de</strong> engrenagem do processo <strong>de</strong> gestão éperceptível que o município <strong>de</strong> João Pessoa apresenta ferramentas <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para a boa gestãodo centro histórico, necessitando <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> normativas e <strong>da</strong> revisão <strong>de</strong> códigos <strong>de</strong> posturase <strong>de</strong> obras que até o momento não sofreram revisões direciona<strong>da</strong>s às características do centrohistórico.


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