construção de laços de confiança e solidariedade entre os próprios cata<strong>do</strong>res e,enfim, a própria noção de <strong>cidadania</strong>.Birkbeck (1978), em sua caracterização <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res de Cali, Colômbia, registrabem as dificuldades que limitam a capacidade organizativa desse segmentocomo, entre outros, o baixo nível de confiança mútua, a falta de suporte deagentes media<strong>do</strong>res externos que ajudem a catalisar o processo organizativo, aspressões <strong>do</strong>s intermediários da reciclagem que obviamente não vêem com bonsolhos essas organizações. Bursztyn (2000), em seu estu<strong>do</strong> sobre os cata<strong>do</strong>res deBrasília, também confirma o baixo grau de associativismo como uma fortecaracterística desse segmento. Daí a importância <strong>do</strong> trabalho da Pastoral de Ruaem Belo Horizonte, centrar-se na construção de laços de confiança mútua ereciprocidade.A aposta que a Pastoral de Rua fez, foi a de que era possível trabalhar com osrecicláveis sem estar na condição de mendigo, organizar a produção <strong>do</strong>scata<strong>do</strong>res e lutar pelo reconhecimento <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> cata<strong>do</strong>r enquanto categoriaprofissional, tanto pelo poder público quanto pela população.Para isso era necessário, então, politizar a relação <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res com a cidade! Aluta <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res de papel foi, desde o seu início, uma luta, usan<strong>do</strong> umaexpressão de Lefebvre, pelo “direito à cidade”, na medida em que a presença <strong>do</strong>scata<strong>do</strong>res nas ruas, como vimos, realizan<strong>do</strong> a coleta e triagem <strong>do</strong>s recicláveissempre foi um ponto de tensionamento, não somente com o poder público, comotambém com a população, em geral, que sempre os identificou como mendigos.Assim, é que sua primeira reivindicação, a partir <strong>do</strong> momento em que os mesmoscomeçam a se constituir em sujeitos de direitos, é a garantia <strong>do</strong> direito de exercero seu trabalho na cidade: qual seja o de realizar, em condições dignas, a coletaseletiva da cidade, passo inicial que viabiliza a reciclagem. E um marco dessa lutaé a reação organizada <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res à famosa “operação limpeza” de 22 deagosto de 1988, impressa de forma vívida na memória <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res antigos.Os cata<strong>do</strong>res que haviam ocupa<strong>do</strong> a área da antiga CBTU (à Av. <strong>do</strong> Contorno,10.555, atual sede da ASMARE) e que ali moravam e triavam o seu material58
(eram cerca de 50 a 60 barracos) foram expulsos numa violenta ação daPrefeitura e da Polícia: “a Prefeitura chegou no dia 22 de agosto com a PM e aDefesa Civil às quatro horas da manhã jogan<strong>do</strong> os barracos para o chão com ascoisas e to<strong>do</strong>s nós dentro. A gente não teve nem tempo para tirar as coisas.Perdemos tu<strong>do</strong> que tínhamos: cobertores, <strong>do</strong>cumentos (...), também o papel, asucata, (...), ferro que tínhamos para vender”. 78 A Pastoral de Rua foi acionada econseguiu reunir os cata<strong>do</strong>res dispersos em diversos pontos da cidade, emfunção da ação da Prefeitura, mobilizan<strong>do</strong>-os para a redação de uma carta abertaà população de Belo Horizonte que denunciasse a repressão a que vinham sen<strong>do</strong>submeti<strong>do</strong>s os mesmos.Intensifica-se, a partir daí o processo de mobilização <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res com arealização de inúmeras reuniões que culminaria com a fundação da Associação<strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res de Papel, Papelão e Material Reaproveitável – ASMARE, emassembléia de fundação no dia 27 de abril de 1990, com 10 associa<strong>do</strong>s. Aoficialização e celebração <strong>do</strong> fato se deu numa festa no dia 01/05/90, no salão aola<strong>do</strong> da Igreja Nossa Senhora da Conceição.A formação <strong>do</strong> capital de giro para a comercialização se deu a partir daestocagem <strong>do</strong> papelão. Dona Geralda relembra: “...aí começou cada cata<strong>do</strong>rdeixar o papelão aqui e vender o papel branco pro depósito. Quan<strong>do</strong> juntou oprimeiro caminhão de papelão aí se formou o capital de giro, aí começou afuncionar”. 79 Essa “poupança” <strong>do</strong> papelão durou cerca de 3 meses e com aobtenção de algumas <strong>do</strong>ações, pôde, assim, se iniciar o repasse semanal aosassocia<strong>do</strong>s e a comercialização <strong>do</strong> reciclável feita diretamente para a ASMAREao invés de com o depósito.O perío<strong>do</strong> de 1990-92, como relembra Ci<strong>do</strong>, foi de muito conflito “...até porque aSuperintendência de Limpeza Urbana, ela não reconhecia o potencial <strong>do</strong>scata<strong>do</strong>res...” A primeira briga foi para que a Prefeitura estabelecesse um sistemade cadastro com um perfil sócio-econômico <strong>do</strong>s mesmos, que acabou sen<strong>do</strong>78 Trecho da CARTA ABERTA À CIDADE DE BELO HORIZONTE, 22/08/88.79 Entrevista em 14/08/01.59
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