toda, ele recolhia o seu material e na primeira viagem que ele iaentregar no depósito ele recebia várias bebidas alcoólicas. Quan<strong>do</strong>ele se sentia droga<strong>do</strong>, alcooliza<strong>do</strong> e aí não via o peso da balança emuitas vezes ele era suga<strong>do</strong>, naquela triste batalha <strong>do</strong> seu ganhapão.Felizmente, com a nossa bela ASMARE, isso veio a trazer paranós, para toda a comunidade <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res de papel, um benefícioque só Deus poderá pagar a essas pessoas que tiveram essa felizidéia que é a construção da ASMARE. 731.3. CONSTRUINDO UMA “PROMESSA DE FUTURO”: A GÊNESE DAASMARE“Essas pessoas que tiveram essa feliz idéia”, pertenciam a um grupo de irmãsbeneditinas, que vieram para Belo Horizonte, em 1987, ten<strong>do</strong> em sua bagagem aexperiência de organização <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res de rua e da cooperativa de cata<strong>do</strong>res– COOPAMARE, de São Paulo. A Pastoral de Rua da Arquidiocese de BeloHorizonte, grupo forma<strong>do</strong> por duas Beneditinas (Cristina Bove e Fortunata) ecerca de 10 leigos, trouxe “...um novo olhar e uma nova forma de lidar com apopulação de rua...” 74 Ao iniciar o seu trabalho sócio-pedagógico junto aosmora<strong>do</strong>res de rua, a Pastoral percebeu que um grupo dele se destacava, porrealizar um trabalho bem defini<strong>do</strong>, que era o <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res de papel. A Pastoral,decide, então, concentrar os seus esforços nesse grupo por acreditar napossibilidade de construir com eles uma experiência, que a médio prazo, fossecapaz de construir o sentimento de dignidade, de <strong>cidadania</strong> e de resgatar adimensão <strong>do</strong> sonho desses indivíduos.A equipe da Pastoral passa, assim, a vivenciar o cotidiano de vida dessesegmento, ten<strong>do</strong> como premissa fundante de sua meto<strong>do</strong>logia de trabalho a idéiade que era preciso se misturar à “lida” desse grupo. Desta forma, a pastoralrompe com a prática tradicional da assistência, da <strong>do</strong>ação de comida e começa o73 Entrevista <strong>do</strong> ex-chefe da Divisão de Limpeza Centro em 20/06/01.74 Entrevista com agente da Pastoral de Rua em 10/07/01.56
seu trabalho de aproximação e de construção de relações de confiança mútua.Assim se refere Ci<strong>do</strong>, a esse perío<strong>do</strong>:...o agente da Pastoral, ele ia prá rua, tentava de alguma forma,algum mecanismo de aproximação. E uma maneira interessante quea Pastoral conseguiu na época, foi a seguinte: na época <strong>do</strong> inverno aequipe fazia um chá na rua, e, enquanto os cata<strong>do</strong>res paravam paratomar o chá, a equipe começava a conversar sobre a história decada um (...), depois a Pastoral começou a propor: olha, a gente trazo chá que nós vamos fazer uma vaquinha entre o grupo, porque agente vai comprar um lanche, vamos fazer um lanchecomunitariamente (...), a base da meto<strong>do</strong>logia é <strong>do</strong> estabelecimentode laços, de vínculo com os cata<strong>do</strong>res para que a confiança (grifomeu) pudesse vir de maneira recíproca, e isso deu certo. 75A concepção meto<strong>do</strong>lógica da Pastoral, se pauta pelos princípios aplica<strong>do</strong>s pelaeducação popular que reconhece os cata<strong>do</strong>res e a população de rua comosujeitos de sua própria história. O objetivo da ação pastoral é o de ser umapresença solidária e evangélica junto a essa população historicamente excluída,fortalecen<strong>do</strong> o surgimento de novos sujeitos e valores.A memória <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res históricos da ASMARE é povoada de lembranças dessetempo, de lembranças da ação da Pastoral. O cata<strong>do</strong>r Márcio José, recorda: “hádez anos atrás, antes de conhecer a Pastoral, na rua, naquele tempo, a gente nãotinha segurança nenhuma. Eles nos viam como marginais”. 76 Dona Geraldaconfirma: “a Pastoral de Rua foi quem primeiro enxergou o cata<strong>do</strong>r de papel”. 77Através das festas, jogos e celebrações ecumênicas, a equipe da Pastoral iatrabalhan<strong>do</strong> várias questões com os cata<strong>do</strong>res: a percepção das potencialidadesindividuais, a divisão de tarefas, a diferenciação da relação trabalho/rua/casa, aidentidade de trabalha<strong>do</strong>r, a percepção da importância ecológica <strong>do</strong> trabalho poreles desempenha<strong>do</strong>, a exploração <strong>do</strong> seu trabalho pelos intermediários, a75 Agente da Pastoral de Rua.76 In Oliveira (1998).77 Depoimento público em 25/04/00 no Workshop <strong>do</strong> Programa LIFE, Belo Horizonte.57
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