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construindo a cidadania: avanços e limites do ... - Inclusive Cities

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observa, algumas crenças em poluições “...são usadas como analogias paraexpressar uma visão geral da ordem social”, poden<strong>do</strong> ser usadas num “diálogoreivindicatório e contra-reivindicatório de status”(op.cit.:14). Assim é, que damesma maneira como falamos de coisas fora <strong>do</strong> lugar, podemos falar de ‘pessoasfora <strong>do</strong> lugar’ ou até mesmo, eu acrescentaria, de ‘pessoas no lugar certo’ 31 . Deuma maneira geral, as diferentes sociedades, no tempo e no espaço, têm umarelação de afastamento e estigmatização com os resíduos por ela produzi<strong>do</strong>s.Sen<strong>do</strong> um produtor diário de resíduos, o cidadão comum quer, comobrilhantemente nos lembra Italo Calvino, que aquilo que lhe remete ao que ele é,esteja bem distante, como se somente jogan<strong>do</strong> fora aquilo que um dia fomos,pudéssemos estar seguros de que não estamos jogan<strong>do</strong> a nós mesmos fora(1994:104). É importante observar que os estigmas associa<strong>do</strong>s ao lixo sãodesloca<strong>do</strong>s para aqueles que com ele trabalha ou que lhe estão próximos, comopor exemplo, garis e cata<strong>do</strong>res.A recuperação de materiais a partir <strong>do</strong> lixo é uma atividade milenar. Há registrosarqueológicos que sugerem que a sucata de metal e objetos metálicos inúteispodem ter si<strong>do</strong> derreti<strong>do</strong>s e recicla<strong>do</strong>s já no ano 3000 A.C. Downs & Medina,argumentam que a catação é uma resposta adaptativa 32 à escassez causadapela pobreza crônica, guerra e crises econômicas (2000:42). Como registraLieberherr-Gardiol, “from ancient times, the socially deprived have managed tosurvive thanks to refuse” 33 . No entanto, a autora continua, “at all times, the ragpickers of Paris were despised and marginalised as the lowest caste, subjected to31 Na Índia, os “intocáveis” foram, historicamente, os responsáveis pela coleta <strong>do</strong> lixo de todas ascastas. Na Roma antiga, essa atividade era atribuição <strong>do</strong>s escravos. Nos países islâmicos, aindahoje, os não mulçumanos são os responsáveis pelo manejo <strong>do</strong> lixo (Downs & Medina, 2000).Como se vê, em algumas religiões o estigma que o lixo carrega determina quem são as ‘pessoasno lugar certo ou na função certa’.32 Os autores observam que durante o perío<strong>do</strong> entre os séculos XIII e XVIII a demanda por papelera crescente, enquanto que o fornecimento de retalhos usa<strong>do</strong>s em sua produção eraextremamente baixo, já que face a um quadro de pobreza crônica (na França <strong>do</strong> século XVIII, porexemplo, cerca de metade de sua população estava condenada à pobreza) as pessoas usavamseu vestuário o máximo possível (p.30). As vestimentas eram mesmo consideradas como“commodities” como podemos ver em O casaco de Marx - roupas, memória, <strong>do</strong>r de PeterStallybras (1999), onde o autor nos conduz às idas e vindas <strong>do</strong> casaco de Marx da loja depenhores, quan<strong>do</strong> as necessidades financeiras o compeliam a empenhar sua própria vestimenta.33 Tradução: Desde os tempos antigos, os destituí<strong>do</strong>s sociais conseguiram sobreviver às custas <strong>do</strong>lixo.39

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