Mas como é que os associa<strong>do</strong>s percebem o seu trabalho? Existe umaconsciência bastante generalizada entre os cata<strong>do</strong>res, de que o trabalho por elesrealiza<strong>do</strong> é importante para a cidade: “se fosse levar em conta esse trabalhonosso, deveria ser bem melhor remunera<strong>do</strong>. A gente contribui com o meioambiente. Onde a gente passa, a rua fica limpa” 119 . A fala de Dona Geraldatestemunha essa consciência:Como nós é importante, eu descobri isso depois da ASMAREtambém. Depois dessas palestras, depois da parceria com a SLU,porque até a gente não sabia que a gente catava era materialreciclável. A gente tratava de lixo, porque nunca ninguém passou pránós que era material. (...) Então a gente hoje sabe dessa importânciapelo meio ambiente, pela <strong>cidadania</strong> da gente. Que o cidadão éaquele que não joga lixo na rua, aquele que faz coleta seletiva,porque as pessoas acha que é só ir no supermerca<strong>do</strong> fazer suascompras e mandar pro lixo... 120Essa percepção da importância desse trabalho para a limpeza da cidade écompartilhada, hoje, pelos próprios garis da SLU: “Se eles pararem de catar opapel, a SLU vai ter que ter outra estrutura”, ou ainda “...eles têm uma parcelamuito importante. Se não fosse eles, a SLU teria que trabalhar muito mais” 121 .O testemunho <strong>do</strong> cata<strong>do</strong>r Luiz Henrique expressa o significa<strong>do</strong>, atribuí<strong>do</strong> pormuitos, <strong>do</strong> papel que o trabalho na ASMARE representa tanto em termos dasubsistência, quanto em termos <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida, vida que na rua, em geral, ébreve :119 Extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento “Diagnóstico Participativo da ASMARE”. Este diagnóstico foi realiza<strong>do</strong>em 1998, no galpão da Contorno, sob a coordenação <strong>do</strong> Centro da Mulher /Movimento <strong>do</strong> Graalno Brasil e a Coordena<strong>do</strong>ria de Direitos Humanos e Cidadania – CDHC/PBH, com pesquisa<strong>do</strong>resdas já referidas entidades, da Pastoral de Rua e da SLU. O diagnóstico participativo constituiu-sena aplicação de um conjunto de técnicas com o objetivo de levantar informações que pudessempropiciar um melhor conhecimento da realidade <strong>do</strong> grupo sob o ponto de vista <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s. Ascitações retiradas desse <strong>do</strong>cumento, serão <strong>do</strong>ravante referenciadas somente como DiagnósticoParticipativo da ASMARE120 Entrevista, 14/08/01.121 Questionários aplica<strong>do</strong>s com garis da SLU, em 18/07/01.118
...quan<strong>do</strong> eu vim para a ASMARE, era um cara extremamente difícil,tinha uma vida atribulada na rua, eu já tinha perdi<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, até adignidade. (...) A gente tinha que agir daquele jeito mesmo, comolixo, porque a gente não tinha consciência afetiva com ninguém, erano meio da brutalidade, né, no meio da bebida. Valores morais nãoexistiam, mas a partir da ASMARE, eu comecei a dar valor à minhavida, comecei a agir de outra forma. E se não fosse a ASMARE, nãosei o que seria de mim. Acho que estaria, hoje, numa vida totalmentediferente, nem sei se estaria vivo, porque as pessoas daquela épocaque não mudaram de vida, ou estão mortas ou estão no mun<strong>do</strong> dasdrogas e presas. (...) Ela foi o meu retorno na vida. 122Vejamos como é a rotina de trabalho na ASMARE. A disseminação <strong>do</strong>s galpõesde triagem trouxe um disciplinamento das atividades, com horários de abertura efechamento <strong>do</strong> espaço de trabalho, normas de convivência mútua e demanutenção da limpeza e da ordem. Os galpões trouxeram inúmeros benefíciostanto para o cata<strong>do</strong>r, quanto para a limpeza urbana, mas também potencializouconflitos.Uma estrutura espacial urbana possui diferentes significa<strong>do</strong>s dentre umacomunidade de usuários e diferentes formas de uso e apropriação, que variamsegun<strong>do</strong> as posições diferentes ocupadas pelos usuários dentro <strong>do</strong> mesmoespaço, a forma como a comunidade de usuários foi aglutinada, entre outrosfatores. Vejamos um pouco da dinâmica de funcionamento <strong>do</strong>s galpões, asdiferenças existentes de um galpão para o outro e o seu significa<strong>do</strong> para osassocia<strong>do</strong>s.Os galpões de triagem funcionam de segunda a sexta-feira de 08:00 às 24:00horas 123 . As normas de funcionamento (ver anexo 8) com a especificação <strong>do</strong>sdeveres e proibições <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res, deveres <strong>do</strong> vigilante e diretrizes gerais foram122 Entrevista, 21/08/01.123 Até 1988 os galpões abriam também aos sába<strong>do</strong>s até as 13 horas. Mas por sugestão daprópria ASMARE esse horário foi modifica<strong>do</strong> com o objetivo de reduzir custos de manutenção.119
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