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Transformações sociais recentes no espaço rural do Oeste ... - SOBER

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XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS RECENTES NO ESPAÇO RURAL DO OESTEDE SANTA CATARINA: MIGRAÇÃO, SUCESSÃO E CELIBATOMÁRCIO ANTONIO MELLO;EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTACATARINACHAPECÓ - SC - BRASILmarcio@epagri.rct-sc.brAPRESENTAÇÃO SEM PRESENÇA DE DEBATEDORAGRICULTURA FAMILIARTransformações <strong>sociais</strong> <strong>recentes</strong> <strong>no</strong> espaço <strong>rural</strong> <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de SantaCatarina: migração, sucessão e celibatoGrupo de Pesquisa: Agricultura FamiliarRESUMOO <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina caracteriza-se pela forte presença da agricultura familiar e opapel central que ela historicamente tem desempenha<strong>do</strong> <strong>no</strong> desenvolvimento da região.Entretanto, diversas pesquisas têm aponta<strong>do</strong> que o modelo de desenvolvimento, basea<strong>do</strong> nainserção ao merca<strong>do</strong> através da articulação agroindustrial e a produção de commoditiestem leva<strong>do</strong> a uma situação de crise socioeconômica e ambiental que provoca profundastransformações e precarizações nas relações <strong>sociais</strong> e econômicas. Este trabalho utiliza osresulta<strong>do</strong>s de duas pesquisas realizadas <strong>no</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina e uma terceira queainda está em fase de execução. O objetivo é analisar as transformações <strong>no</strong> processosucessório; o surgimento <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> que éprovoca<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> a forte migração feminina, bem como, a influência da escola e a“violência simbólica” que ela representa na transformação da identidade da agriculturafamiliar.INTRODUÇÃOA agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina começa a enfrentar problemassucessórios que não existiam até pouco tempo atrás. Enquanto <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> os filhos deFortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural1


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”outras camadas da sociedade e pode ser um <strong>do</strong>s motivos, por exemplo, para que osemprega<strong>do</strong>res prefiram contratar filhos de colo<strong>no</strong>s para trabalhos na indústria e comércio. 6O microcosmo fecha<strong>do</strong> em que estava inserida a agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong>catarinense até final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1970 dá lugar, de forma relativamente rápida, a uma aberturaobjetiva e subjetiva <strong>do</strong> espaço social e econômico 7 . De forma concomitante também passaa atuar um fator estrutural que Bourdieu (2000) de<strong>no</strong>mina de “unificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> debens simbólico”, que faz parte de um conjunto de processos econômicos e, sobretu<strong>do</strong>,simbólico <strong>no</strong> interior <strong>do</strong> espaço social de convivência <strong>do</strong>s agricultores. Bourdieu explicaque essa unificação tem como efeito primeiro fazer desaparecerem as condições deexistência de valores camponeses capazes de se colocar ante os valores <strong>do</strong>minantes comoantagonistas. Isso pode significar uma certa transformação <strong>no</strong> habitus camponês. Nestesenti<strong>do</strong>, Bourdieu (2000:103) chega a afirmar que a crescente subordinação da eco<strong>no</strong>miacamponesa à lógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> não teria basta<strong>do</strong>, por si só, para determinar as profundastransformações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>rural</strong> se não estivesse liga<strong>do</strong>, por uma relação de causalidadecircular, a uma unificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de bens simbólicos capaz de determinar o declínioda auto<strong>no</strong>mia ética <strong>do</strong>s camponeses e, com isso, o enfraquecimento de sua capacidade deresistência.O estigma de ser colo<strong>no</strong> e a crise de identidadeA ampliação <strong>do</strong> espaço social e econômico <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong> <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de SantaCatarina, que passa a acontecer com maior intensidade a partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1970,traz em seu bojo importantes transformações globais e caracteriza-se o que Bourdieu(2000) de<strong>no</strong>mina de “unificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de bens simbólicos”. Dentre os principaiselementos que influenciaram essas transformações pode-se citar: a subordinação crescenteao merca<strong>do</strong> de produtos agrícolas, sobretu<strong>do</strong> à indústria alimentar; a escola e seu sistemade ensi<strong>no</strong>, como instrumento principal de <strong>do</strong>minação simbólica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da cidade; avisão <strong>do</strong> camponês sobre o mun<strong>do</strong> real que antes se mostrava embaçada, agora, com adiluição das fronteiras <strong>rural</strong>-urba<strong>no</strong>, permite comparações concretas entre esses <strong>do</strong>ismun<strong>do</strong>s. Acredita-se que os meios de comunicação, em especial a televisão, exerceram eexercem um papel central nessa transformação.Essa unificação tem como primeiro efeito fazer desaparecerem as condições deexistência de valores camponeses tais como o mo<strong>do</strong> de falar, de vestir e, enfim, de secomportar. Nesse processo, a contrastação da cultura urbana em relação à camponesa,toma esta como “atrasada”, operan<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>minação simbólica que se constitui em“estigmas negativos” que muitos jovens buscam se livrar, lançan<strong>do</strong> mão da estratégia damigração. No caso <strong>do</strong>s jovens, sobretu<strong>do</strong> as moças, constata-se uma certa negação daprofissão de agricultor e é neste senti<strong>do</strong> que Champagne (1986) considera que oalargamento <strong>do</strong> espaço social transformou profundamente a percepção que a família <strong>rural</strong>tinha de si mesma.Como resulta<strong>do</strong> dessas transformações, autores como Testa et al. (1996), Renk(2000) Silvestro et al. (2001), Mior (2005) avaliam que a região passa por uma crise6 Silvestro et al. (2001), mostraram que em apenas uma agência de emprego, localizada <strong>no</strong> Extremo <strong>Oeste</strong> deSanta Catarina, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 intermediou a contratação de mais de 800 jovens da região para trabalhar emrestaurante e churrascaria <strong>no</strong> eixo São Paulo-Rio de Janeiro, cujos emprega<strong>do</strong>res dão preferência a essesjovens justamente pelo seu eleva<strong>do</strong> grau de auto-exploração, <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> da<strong>do</strong> por Tepicht (1973).7 Para as condições francesas, segun<strong>do</strong> Bourdieu (2000) o alargamento <strong>do</strong> espaço <strong>rural</strong> se deu principalmente<strong>no</strong> campo escolar, econômico e matrimonial e permitiu que se modificasse a maneira como as relaçõescamponesas eram conduzidas <strong>no</strong> seu espaço social mais fecha<strong>do</strong>.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural4


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”socioeconômica. O forte êxo<strong>do</strong> <strong>rural</strong> e regional, verifica<strong>do</strong> na década de 1990, pode serconsidera<strong>do</strong> um claro indica<strong>do</strong>r da crise pela qual passa o <strong>Oeste</strong> catarinense e, emparticular, a agricultura familiar. Analisan<strong>do</strong> as taxas de crescimento demográfico daregião e <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong>, especialmente <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1990, Mello et al. (2005) constataram queelas foram significativamente me<strong>no</strong>res que as <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina. Noperío<strong>do</strong> entre 1991 e 2001 a evolução da população <strong>rural</strong> da região foi negativa (-2,49%a.a.), apresentan<strong>do</strong> uma diminuição de 102 mil pessoas, dentre as quais, Ferrari (2003),estima que mais de 75 mil eram jovens e, dentre estes, a maioria eram moças.A crise atualmente vivida pela agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense pode estarse refletin<strong>do</strong> nas aspirações que os pais almejam e insinuam para os seus filhos e filhas e,assim, contribuin<strong>do</strong> para que, desde ce<strong>do</strong> os filhos, sobretu<strong>do</strong> as filhas, comecem aconstruir seu futuro volta<strong>do</strong> para o meio urba<strong>no</strong>. Conforme foi observa<strong>do</strong> por Silvestro etal. (2001), em muitos casos os próprios pais estimulam, de forma explícita ou velada àsaída das filhas rumo a construção de uma vida profissional fora da agricultura. Neste caso,a crise de reprodução da agricultura familiar pode ser o próprio reflexo de uma crise deidentidade, isto é, da negação da condição de colo<strong>no</strong>. Champagne (1986) coloca em relevoque para que um agricultor possa reproduzir-se como tal é necessário que ele julgue quesua vida de agricultor ainda mereça ser vivida e que seus filhos acreditem nisso. Comoanalisaremos mais adiante, parece que é exatamente o estilo de vida (colo<strong>no</strong>) <strong>do</strong>s pais quetende a ser rejeita pelos filhos/filhas.Este quadro vivi<strong>do</strong> pela agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina pode sercompara<strong>do</strong> ao que Bourdieu (2000:104) chama de “conversão coletiva”. Trata-se de umprocesso que inicia com a progressiva queda das barreiras entre os mun<strong>do</strong>s <strong>rural</strong> e urba<strong>no</strong>,permitin<strong>do</strong> uma comparação entre eles, tornan<strong>do</strong> percebidas e apreciadas as vantagensassociadas à existência urbana. A conversão coletiva, por conseguinte, representa a atração<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida urbana exercida sobre as mentes convertidas as suas seduções, conferin<strong>do</strong>ao campo social um poder simbólico funda<strong>do</strong> <strong>no</strong> reconhecimento concedi<strong>do</strong> de formaunânime aos valores <strong>do</strong>minantes. Para Bourdieu os agentes me<strong>no</strong>s apega<strong>do</strong>s a terra e àcasa são os que oferecem a me<strong>no</strong>r resistência às forças de atração externas e que percebemantes <strong>do</strong> que os outros as vantagens da migração. No caso <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense poderíamosdizer que estes agentes são os jovens (especialmente as mulheres) e o contingente dapopulação representa<strong>do</strong>s pelos mais pobres.Como reflexo dessa “conversão coletiva” a agricultura familiar da região começa aenfrentar problemas sucessórios que não existiam até pouco tempo atrás. As pesquisas(Silvestro et al. 2001a e Mello et al. 2003) têm destaca<strong>do</strong> a existência de estabelecimentossem a presença de sucessor, o que pode evidenciar dificuldades na reprodução social eeconômica de muitas unidades familiares. Silvestro et al. (2001), por exemplo, constataramque em mais de 12% das unidades familiares (em tor<strong>no</strong> de 10 mil) <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de SantaCatarina, cujos pais já ultrapassaram a idade de 40 a<strong>no</strong>s, não há a presença de filhos(as), oque significa que são estabelecimentos que apresentam fortes ameaças de não teremsucessores. A mesma pesquisa também identificou que em outras 17% das unidadesfamiliares da região há apenas um filho ou uma filha moran<strong>do</strong> com os pais, e cuja idade ésuperior a 40 a<strong>no</strong>s, o que pode sugerir que muitas delas estão percorren<strong>do</strong> uma trajetóriaque poderá culminar na ausência de sucessores. Em resumo, o processo sucessório degrande parcela da agricultura familiar da região parece estar “interdita<strong>do</strong>” e a suareprodução social e econômica ameaçada ou sujeita à elaboração de <strong>no</strong>vas estratégias.O êxo<strong>do</strong> massivo da população <strong>rural</strong> e, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jovens, que se constituem naforça re<strong>no</strong>va<strong>do</strong>ra da agricultura familiar, mesmo poden<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong> como umaestratégia de reprodução social da agricultura familiar, coloca em risco a continuidade deFortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural5


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”muitas unidades e a dinamização <strong>do</strong> espaço <strong>rural</strong> e de toda a região. Na realidade amigração, na proporção verificada, não coloca em risco apenas a reprodução social eeconômica daquelas unidades que vêem seus componentes partirem. O despovoamento dealgumas comunidades, como já é possível observar, também coloca em risco apermanência <strong>do</strong>s que ainda continuam <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>, uma vez que também enfraquece oteci<strong>do</strong> social e as redes de relações.Cabe ressaltar, entretanto, que a recusa <strong>do</strong>s jovens em continuar exercen<strong>do</strong> a mesmaprofissão <strong>do</strong>s pais é mais intensa <strong>no</strong>s estratos de me<strong>no</strong>r idade, não se reproduzin<strong>do</strong> entre osfilhos das gerações mais <strong>recentes</strong> a “pressão moral” de permanecer na agricultura, comoAbramovay et al. (1998) constataram nas gerações anteriores. Os da<strong>do</strong>s da pesquisa deSilvestro et al. (2001) bem ilustra esta situação: enquanto (70%) <strong>do</strong>s rapazes com idade entre25 e 30 a<strong>no</strong>s ainda manifestaram um certo desejo de construir sua vida profissional naagricultura, aqueles na faixa etária entre 13 e 18 a<strong>no</strong>s, que ainda estão cursan<strong>do</strong> o ensi<strong>no</strong>fundamental e médio, a perspectiva de permanecer na agricultura é desconsiderada e vemsen<strong>do</strong> substituída por <strong>no</strong>vas possibilidades. Para os autores a significativa diferença deinteresse está associada ao me<strong>no</strong>r nível de escolaridade <strong>do</strong>s jovens com maior idade, que nãotiveram oportunidades para estudar além da 4ª série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental, tratan<strong>do</strong>-se de umclaro exemplo de privação de capacidade (Sen, 2000), que determina uma limitação àspossibilidades de escolha. Os autores explicam que a maioria <strong>do</strong>s rapazes com idade entre 25e 30 a<strong>no</strong>s estudaram até a 4ª série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental e que, portanto, sua preferência depermanecer na agricultura, parece se apoiar na percepção realista de que sua condiçãoeducacional não permite vislumbra um futuro promissor fora <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong> e da agricultura.Na mesma pesquisa constatou-se também que há uma forte desigualdade entregêneros com relação ao futuro profissional deseja<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que as moças manifestaram uminteresse em permanecer <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> como agricultora, significativamente me<strong>no</strong>r que o<strong>do</strong>s rapazes. Na realidade, os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho de Silvestro et al. (2001) mostram queas moças, de uma forma geral, estão preparan<strong>do</strong> seu futuro profissional com os olhosvolta<strong>do</strong>s para o meio urba<strong>no</strong> e isso é tão mais verdadeiro quanto me<strong>no</strong>r a faixa etária. Umapossível conseqüência <strong>do</strong> maior desinteresse das moças pela agricultura e o desequilíbriode gênero na migração é o surgimento <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> 8 .Em síntese, poderíamos dizer que um êxo<strong>do</strong> <strong>rural</strong> juvenil de tamanha proporção,como o verifica<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense, pode estar indican<strong>do</strong> que grande parte <strong>do</strong>sfilhos(as) já não deseja mais reproduzir o papel de seus pais e demonstra até mesmo umcerto desprezo à identidade de colo<strong>no</strong> (agricultor). Mesmo que os filhos(as) aindaparticipem, de alguma maneira, <strong>no</strong> processo de socialização para o trabalho realiza<strong>do</strong> <strong>no</strong>ambiente familiar, Silvestro et al. (2001) esclarece que “os conhecimentos e habilidadesadquiridas não significam que os jovens organizam seu futuro com olhos necessariamentevolta<strong>do</strong>s para a propriedade paterna”. Assim, os filhos(as) de agricultores buscam fora daagricultura e <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong> oportunidades de trabalho que atendam suas aspiraçõespessoais, seja <strong>no</strong> campo profissional, econômico, cultural ou social. Essa perda deidentidade, ou o desejo de se afastar <strong>do</strong> estigma de ser colo<strong>no</strong>, faz com que até mesmo otrabalho assalaria<strong>do</strong>, que <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> era avalia<strong>do</strong> negativamente pelos agricultores8 Para o a<strong>no</strong> de 2000, <strong>no</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina a proporção da população <strong>rural</strong> masculina superavanumericamente a feminina em 9,4%, enquanto em 1991 esta proporção era de 8,9%. Na pesquisa emandamento realizada em 2005 em 20 comunidades de diferentes municípios da região, muitos agricultoresentrevista<strong>do</strong>s tinham dificuldades para lembrar quanto tempo não ocorria casamento na comunidade em queos casais se instalaram como agricultores. Ainda invisível para a maioria da população e tratada apenas deforma velada pelos agricultores, o fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>, que já foi relata<strong>do</strong> porBourdieu (1962) para as condições da Europa, começa a se fazer presente na região e, parece estarrelaciona<strong>do</strong> ao atual quadro de crise vivi<strong>do</strong> pela agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural6


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”familiares, passa a ser reavalia<strong>do</strong> e considera<strong>do</strong>, como observou Renk (2000), como umacondição privilegiada: trabalhar na sombra; ter segurança, expressa <strong>no</strong> rendimento mensal;ter férias anuais e folga semanal. Hoje migrar para esses jovens significa dizer que “nãovale mais a pena ser colo<strong>no</strong>” e, em certo senti<strong>do</strong>, recusar à condição de agricultor.O quadro relata<strong>do</strong> aqui suscita formular questões, como por exemplo: que razõesfizeram com que, em um espaço tão curto de tempo, a condição de colo<strong>no</strong> que eraenaltecida pelos próprios agricultores passa a ser estigmatizada negativamente a ponto <strong>do</strong>sjovens, de uma forma geral, negar sua própria identidade e, de certa maneira, atétransformar o habitus camponês?A baixa remuneração da agricultura é apontada por Ferrari et al. (2004) como umaforça de expulsão e fator de esvaziamento <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong>. Evidente que o porte econômico<strong>do</strong> estabelecimento pode definir ou não a presença de um sucessor. Entretanto, diferente<strong>do</strong>s assalaria<strong>do</strong>s, a posse de uma propriedade, mesmo de peque<strong>no</strong> porte, permite à famíliaviver, ou pelo me<strong>no</strong>s sobreviver. Isso pode ser comprova<strong>do</strong> pela coexistência <strong>no</strong> mesmoespaço geográfico de estabelecimentos que funcionam segun<strong>do</strong> lógicas econômicas muitodiferentes. Portanto, como salienta Champagne (1987), a crise de reprodução <strong>do</strong>campesinato está sim relacionada com fatores econômicos, porém, isso ocorre de umamaneira indireta. O fundamental é que a recusa <strong>do</strong>s filhos(as) de serem os sucessores <strong>do</strong>estabelecimento parece que se deve muito mais a negação <strong>do</strong> estilo de vida de seus pais.Não estamos queren<strong>do</strong> minimizar a importância <strong>do</strong> fator econômico, mas apenas afirmarque em muitos casos ele pode não ser o mais importante e, nem mesmo, o fator defini<strong>do</strong>r.Isto pode ser constata<strong>do</strong> em muitas unidades familiares em que o potencial sucessor deixaa propriedade em troca <strong>do</strong> trabalho assalaria<strong>do</strong> cuja remuneração é me<strong>no</strong>r a que ele obteriatrabalhan<strong>do</strong> <strong>no</strong> próprio estabelecimento familiar.Certamente, outras razões, que não de ordem econômica, também levam os jovensa migrar. Os inúmeros depoimentos que tratam da perda de auto-estima entre osagricultores ou o descontentamento das mulheres apontam outras perspectivas. Apenaspara citar alguns exemplos: a resistência paterna em aceitar as sugestões <strong>do</strong>s filhos(Woortmann, 1988); dependência <strong>do</strong> “pai-patrão”, serviço de “escravo” e posição desubalternidade <strong>do</strong> colo<strong>no</strong> (Renk & Cabral Jr., 2000). Entretanto, não se trata apenas deentender os motivos que levam os jovens a migrar em massa mas, algo que vai além disto,que condições fizeram com que os jovens, especialmente as moças, passem crescentementea negar sua identidade de colo<strong>no</strong> a ponto de transformar o próprio habitus camponês. Podeo habitus se transformar? Sim responde Loyola (s.d.) “sen<strong>do</strong> produto da história o habitusé um sistema de disposição aberto, permanentemente afronta<strong>do</strong> a experiências <strong>no</strong>vas epermanentemente afeta<strong>do</strong> por elas. Ele é durável, mas não imutável”. A resposta deAbramovay (1992) para esta questão também vai neste senti<strong>do</strong>, para ele o camponêsquan<strong>do</strong> exposto a uma sociedade e a uma eco<strong>no</strong>mia mais ampla acaba se“metamorfosean<strong>do</strong>” , buscan<strong>do</strong> moldar-se à situação cambiante.Entende-se que a questão suscitada é complexa e multi-causal e, portanto, nãopermite respostas simples e lineares. Entretanto, neste texto pretendemos abordar <strong>do</strong>isfatores que, associa<strong>do</strong>s com abordagem de Bourdieu da “unificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de benssimbólicos” podem ajudar a esclarecer a questão colocada acima, são eles: (i) o papel quehistoricamente foi reserva<strong>do</strong> para a mulher na unidade familiar e que hoje as moças já nãose sujeitam mais a desempenhar, cujo resulta<strong>do</strong> mais imediato é a forte migração femininajuvenil e o surgimento <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>; (ii) a influência da escola e desua <strong>do</strong>minação simbólica. Antes de analisarmos estas duas questão, pretendemos discutir atransformação <strong>do</strong> padrão sucessório na agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense, pois istoajudará a melhor entender as questões que serão abordadas na seqüência. Evidente que nãoFortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural7


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”temos aqui a ambição de aprofundarmos o assunto ou, até mesmo, de realizar uma análisemais elaborada. Nosso objetivo é colocar o tema em discussão e apontarmos algumas dasquestões que pesam sobre o processo sucessório e a reprodução social da agriculturafamiliar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina.Transformações <strong>no</strong> padrão de sucessório da unidade familiarAté o final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1960 os agricultores <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina produziam paraeles algo tão importante quanto a produção de alimentos e matérias primas: <strong>no</strong>vas unidadesfamiliares, ali mesmo onde viviam - através da repartição de suas terras – ou pela aquisiçãode <strong>no</strong>vas glebas de terra, na permanente tentativa de “colocar os filhos 9 ”. Havia, portanto,como observou Abramovay et al. (1998), uma fusão entre os objetivos da unidadeprodutiva e as aspirações subjetivas de seus membros, que desde a mais tenra idade eramsocializa<strong>do</strong>s para o trabalho e o mo<strong>do</strong> de vida camponês. Evidentemente que nem sempre oobjetivo de instalar os filhos/filhas na agricultura podia ser alcança<strong>do</strong> ou era o deseja<strong>do</strong>pela família, não sen<strong>do</strong> raras as ocasiões em que surgiam pla<strong>no</strong>s autô<strong>no</strong>mos ou mesmo <strong>do</strong>grupo familiar para inserção profissional de seus membros fora <strong>do</strong> espaço <strong>rural</strong> 10 . Noentanto, pode-se dizer que a identidade social e o habitus camponês associa<strong>do</strong> com a fortepressão moral, tanto da família como da comunidade 11 , são elementos que contribuíampara a continuidade da profissão de agricultor, até mesmo porque os horizontesprofissionais alternativos eram escassos e pouco acessíveis.O distanciamento geográfico, econômico e cultural da região constituía umadinâmica social muito específica que configurava um “microcosmo fecha<strong>do</strong>”. Sob essescondicionantes havia, por um la<strong>do</strong>, uma base objetiva que fazia da agricultura aperspectiva mais viável de reprodução social para as <strong>no</strong>vas gerações. Por outro, a ligaçãoao mun<strong>do</strong> comunitário e a incorporação <strong>do</strong>s valores próprios à continuidade da profissãopaterna estavam também na raiz dessa fusão entre os objetivos <strong>do</strong> grupo familiar e asaspirações de seus membros.Portanto, <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> que vai até final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1960 a agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong>catarinense era, antes de tu<strong>do</strong>, como se referiram Abramovay et al. (1998), uma “máquina”de produzir <strong>no</strong>vos agricultores familiares. Para que isso ocorresse, era necessário que secumprissem <strong>do</strong>is objetivos: evitar, tanto quanto possível, o parcelamento <strong>do</strong> seu patrimôniofundiário e garantir a instalação de outros membros da família num processo migratório deabertura de fronteira agrícola que se estendeu <strong>do</strong> Alto Uruguai Gaúcho até o <strong>Oeste</strong> deSanta Catarina, passan<strong>do</strong> pelo Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Paraná e atingin<strong>do</strong> o Centro-<strong>Oeste</strong> ou o Norte<strong>do</strong> País 12 .Esse duplo objetivo é assegura<strong>do</strong>, até o final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, basicamente de trêsmaneiras: a) pela instituição <strong>do</strong> mi<strong>no</strong>rato (ou ultimogenitura); b) pelo esforço permanenteem <strong>do</strong>tar os filhos mais velhos <strong>do</strong>s meios que permitissem a reprodução de suas condições9 Recuperamos <strong>do</strong>s agricultores a expressão “colocar os filhos” que naquela época significava e restringia-se,na maioria <strong>do</strong>s casos, a instalação <strong>do</strong>s filhos na atividade agrícola e, assim, a continuidade da profissãopaterna.10 Uma alternativa muito comum a<strong>do</strong>tada pelas famílias que não queriam ou não podiam instalar to<strong>do</strong>s seusfilhos ou filhas na agricultura foi encaminhá-los para estudar em seminários para seguir a profissão religiosa.11 Mesmo que haja algum exagero nessa constrange<strong>do</strong>ra pressão comunitária sobre o comportamento <strong>do</strong>sindivíduos, a característica fundamental desse perío<strong>do</strong> é uma certa naturalização da continuidade <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> devida pater<strong>no</strong> para os rapazes, assim como da condição materna para as moças (Abramovay et al., 1998).12 Como observou Champagne (1986:73) para as condições francesas, também aqui são principalmente asfamílias rurais que produzem as gerações futuras de agricultores. Isto significa que o futuro da agriculturafamiliar se relaciona profundamente com o futuro das famílias rurais atuais.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural8


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”de agricultores e pela valorização da atividade agrícola como forma de realização na vidaadulta; e c) por um merca<strong>do</strong> de terras particularmente dinâmico entre os agricultoresfamiliares (Mello et al., 2003).Em síntese, como foi indica<strong>do</strong> por Abramovay et al. (1998), o processo sucessório naagricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina até o final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, em geralcentrava-se <strong>no</strong> mi<strong>no</strong>rato, ou seja, na transferência da propriedade paterna para o filho mais<strong>no</strong>vo. Enquanto isso não se concretizava, toda a organização familiar dirigia esforços eelaborava estratégias <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de viabilizar a instalação <strong>do</strong>s demais filhos comoagricultores. Portanto, nessa época, a profissão de agricultor era fortemente valorizada naformação <strong>do</strong>s filhos. Abramovay et al. (1998) constataram que nesse perío<strong>do</strong> em mais dametade <strong>do</strong>s casos investiga<strong>do</strong>s os pais estimularam to<strong>do</strong>s os filhos a serem agricultores.Pode-se dizer, então, que <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> que vai até o final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1960 o objetivobásico da unidade familiar era fazer com que a maior quantidade possível de filhos pudessereproduzir a identidade social de agricultor. A terra paterna tendia a ficar com o filho mais<strong>no</strong>vo (que se comprometia a cuidar <strong>do</strong>s pais na velhice) 13 e, enquanto a sucessão não seconcretizava, a unidade produtiva buscava fornecer as condições, seja para compra deoutros lotes, seja para apoiar os filhos mais velhos na busca de terra em regiões defronteira, e/ou em alguns casos, ainda ocorria a subdivisão da propriedade paterna.Enquanto to<strong>do</strong>s os filhos trabalhavam na unidade paterna, na prática, estavam geran<strong>do</strong> umconjunto de renda familiar que tinha a finalidade de comprar terras, na comunidade ou emoutros lugares, para a instalação <strong>do</strong>s filhos mais velhos (Abramovay, et al., 1998).O processo sucessório centra<strong>do</strong> <strong>no</strong> mi<strong>no</strong>rato, que possibilitava a reprodução social eeconômica de <strong>no</strong>vas unidades de produção familiar, se esgota <strong>no</strong> final da década de 1960. Apartir deste perío<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Abramovay et al. (2001) a agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> deSanta Catarina expõe-se a uma dupla ruptura: por um la<strong>do</strong>, as possibilidades objetivas deformação de <strong>no</strong>vas unidades produtivas encontram-se cada vez mais limitadas. Por outro, aidéia de que, na sua grande maioria, os jovens <strong>no</strong> campo destinam-se a reproduzir os papéisde seus pais parece cada vez me<strong>no</strong>s verdadeira <strong>no</strong> interior das próprias famílias 14 .A pesquisa de Silvestro et al. (2001) vem confirmar que o padrão sucessório vigentena geração passada (mi<strong>no</strong>rato) encontra-se fortemente abala<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que apenas13% <strong>do</strong>s pais entrevista<strong>do</strong>s apontavam o filho mais moço como o futuro sucessor da unidadefamiliar. Outro da<strong>do</strong> da referida pesquisa que chama atenção é que embora a maioria <strong>do</strong>s paisentrevista<strong>do</strong>s tenha idade superior a 60 a<strong>no</strong>s e o/a filho/filha caçula tem mais de 15 a<strong>no</strong>s, emmais de 75% das unidades familiares pesquisadas o sucessor ainda não estava designa<strong>do</strong>. Paraos autores isto é um forte indicativo de que o futuro da unidade produtiva será joga<strong>do</strong> entre asalternativas que os potenciais sucessores encontrarem pela frente. Aqui também fica claro quea profissão de agricultor perde o caráter “moral” que já teve <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> e coloca-se como umapossibilidade entre outras 15 . O atual processo sucessório mostra que acabou a fusão anterior13 As diferentes formas de pagamento aos irmãos que não herdavam a terra, bem como a compensaçãodaqueles que ficavam na incumbência de cuidar <strong>do</strong>s pais na velhice, assim como as mulheres, que em geralnão herdavam a terra, podem ser visto em Silvestro et al. (2001) e Mello et al. (2003).14 Renk (2000: 22) chega a afirmar que “o processo de en<strong>do</strong>reprodução, naturaliza<strong>do</strong> há algumas gerações,encontra-se interdito, seja pela inacessibilidade a terra, seja em razão <strong>do</strong> alto preço, seja pela crescentedescapitalização, seja pela recusa de permanecer <strong>no</strong> ofício, expresso principalmente com a migração <strong>do</strong>sjovens”.15 Acredita-se que a instituição da aposentaria <strong>rural</strong>, que permitiu aos agricultores a obtenção de uma renda(mesmo que baixa) vitalícia a partir da idade de aposenta<strong>do</strong>ria, de certa forma, contribui para “relaxar” apressão moral que fazia com que pelo me<strong>no</strong>s um filho (a) permanecesse com os pais durante a velhice.Talvez essa mudança comportamental contribua para que muitas unidades familiares já não tenham maisnenhum filho moran<strong>do</strong> junto com os pais.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural9


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”entre o desti<strong>no</strong> da unidade produtiva e o da própria família. Os autores sugerem que houveuma espécie de implosão <strong>do</strong>s critérios sucessórios e hereditários tradicionais, sem que estesfossem substituí<strong>do</strong>s por outras formas pre<strong>do</strong>minantes. Nas famílias que já escolheram osucessor o que pre<strong>do</strong>mina - ao contrário <strong>do</strong> que acontecia anteriormente - é a preferência pelofilho mais velho, sen<strong>do</strong> que em to<strong>do</strong>s os casos a escolha recai sobre um filho homem.Acredita-se que a transformação <strong>do</strong> padrão sucessório se deve, em parte, aofechamento da fronteira agrícola e o relativo encarecimento das terras, que impossibilitava suaaquisição para instalação <strong>do</strong>s filhos mais velhos. Por outro la<strong>do</strong>, estes filhos que foramsocializa<strong>do</strong>s para serem agricultores, estudaram apenas até a 4ª série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental oque não permite vislumbrar um futuro promissor fora da agricultura. Enquanto isso, os filhosmais <strong>no</strong>vos estão estudan<strong>do</strong> (até porque neste perío<strong>do</strong> foram criadas maiores oportunidadespara o filho de agricultor estudar além <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental) e possivelmente se preparan<strong>do</strong>para deixar o meio <strong>rural</strong>.As moças recusam desempenhar o mesmo papel das suas mãesO processo sucessório e, de certa forma, toda a organização <strong>do</strong> processo de trabalhona unidade familiar são enviesa<strong>do</strong>s contra a mulher e seu papel na organização da propriedadeainda é subalter<strong>no</strong>, caben<strong>do</strong> às moças um papel hierarquicamente inferior, tanto na gestão <strong>do</strong>estabelecimento como <strong>no</strong> casamento quanto <strong>no</strong> processo sucessório. No padrão de sucessãodas propriedades familiares, embora haja variações, são principalmente os filhos homens queherdam a terra, enquanto as mulheres, segun<strong>do</strong> Paulilo (2003: 188) se tornam agricultoras porcasamento. Na herança da terra elas sempre correm o risco de serem alijadas, pois se tiver queexcluir alguém, as mulheres são as primeiras a serem escolhidas. Como a herança estáassociada ao pagamento <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s na terra, o alijamento das mulheres significaque seu trabalho não é reconheci<strong>do</strong> como tal, sen<strong>do</strong>, que em geral, é considera<strong>do</strong> apenascomo uma ‘ajuda’.Constata-se, portanto, que na agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina é nítidaa preferência familiar masculina na escolha <strong>do</strong> sucessor, tanto é assim que as pesquisas deAbramovay et al., (1998); Silvestro et al., (2001); Mello et al., (2003), não encontraramnenhum caso em que a moça tenha si<strong>do</strong> escolhida sucessora ou que então dirigisse, de fato,a propriedade paterna. Como também foi constata<strong>do</strong> por Tavares <strong>do</strong>s Santos (1978) e Renk(2000), em geral as filhas não herdam a terra, recebem sua parte da herança na forma deauxílio para estudar, ou quan<strong>do</strong> casam, recebem um <strong>do</strong>te em dinheiro, animais ouequipamentos que iriam compor o patrimônio da futura unidade. Ao ser excluída <strong>do</strong>processo produtivo, também é subtraída à jovem a possibilidade de participação social,isolan<strong>do</strong>-a <strong>no</strong> recesso priva<strong>do</strong> <strong>do</strong> lar (Panzutti, 1996).Além de serem excluídas <strong>do</strong> processo sucessório da unidade familiar, o papel dasmoças <strong>no</strong> interior da família <strong>rural</strong> não parece muito diferente daquele vivi<strong>do</strong> pelas geraçõesanteriores. As perspectivas que se oferecem para elas, <strong>no</strong> papel de esposa e mãe, estãomuito aquém da aspiração de vida que outro ambiente social pode proporcionar. Isso não é<strong>no</strong>vo e consiste num traço verdadeiramente secular das formas familiares de produção emto<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Só que anteriormente – <strong>no</strong>s moldes que <strong>do</strong>minaram a reprodução daagricultura familiar até o final da década de 1960 – os códigos éticos e morais (Woortman,1994) estimulavam a mulher a permanecer como um elo fundamental da cadeia reprodutiva.Talvez sejam estes alguns <strong>do</strong>s motivos que causam o desinteresse das moças pelaunidade produtiva e que as pressiona à construção <strong>do</strong> seu futuro profissional com os olhosvolta<strong>do</strong>s para o espaço urba<strong>no</strong>. O trabalho de Silvestro et al. (2001) identificou uma nãoparticipaçãodas moças nas discussões sobre o futuro da propriedade o que explica a poucaatração que, em geral, elas têm pelo trabalho na agricultura. Os autores destacam, ainda, queFortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural10


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”esse comportamento das jovens é resultante (sem levar em conta seu maior preparoeducacional para enfrentar o merca<strong>do</strong> de trabalho urba<strong>no</strong>) da ausência de espaços departicipação na propriedade e seu desinteresse pela agropecuária em função da pe<strong>no</strong>sidade <strong>do</strong>trabalho. Isto confirma a observação de Arnalte (1997) de que “está haven<strong>do</strong> umdistanciamento por parte das mulheres <strong>do</strong> setor agrícola e isso parece estar mais acentua<strong>do</strong>nas mais jovens e com um maior nível de formação”. Se <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> o trabalho pesa<strong>do</strong>realiza<strong>do</strong> na agricultura era visto pelos próprios agricultores como uma virtude étnica <strong>do</strong>sagricultores familiares da região, “o trabalho a<strong>do</strong>çava a vida”, atualmente há umareavaliação desta percepção, especialmente por parte das moças, agora “o trabalho estragao corpo” (Renk, 2000).Assim, com muita propriedade Abramovay et al. (1998), afirmaram que a existênciade relações <strong>sociais</strong> desiguais e excludentes <strong>no</strong> interior da agricultura familiar pode serconsiderada como um <strong>do</strong>s principais fatores responsáveis pela saída das mulheres <strong>do</strong> campo.Na pesquisa de Silvestro et al. (2001) constatou-se que “as moças deixam o campo antes enuma proporção muito maior que os rapazes”. Numa amostra com 116 famílias, os autoresidentificaram que dentre os 176 jovens que deixaram a propriedade paterna, 103 eram moçase 73 rapazes.Os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 1, que foram obti<strong>do</strong>s em um censo agropecuáriomunicipal realiza<strong>do</strong> em 1999 pela Epagri/Icepa em 20 municípios representativos daagricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina e que congrega 17.778 estabelecimentos (20%<strong>do</strong>s estabelecimentos <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina) ilustram bem a distribuição desequilibradada população quan<strong>do</strong> analisada por gênero e por faixa etária. Observa-se que das 35500pessoas solteiras, com idade até 40 a<strong>no</strong>s e que viviam <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>, 19477 (54,9%) eramhomens, enquanto apenas 16023 (45,1%) eram mulheres. Consideran<strong>do</strong> toda a população atéa idade de 40 a<strong>no</strong>s, os da<strong>do</strong>s ressaltam a existência de 21,6% a mais de homens em relação àsmulheres. Observa-se que esta relação é crescente conforme aumenta a faixa etária,alcançan<strong>do</strong> uma proporção de 84,1% de homens a mais que as mulheres <strong>no</strong> extrato de 25 a 29a<strong>no</strong>s. Ou seja, na faixa etária compreendida entre 25 e 29 a<strong>no</strong>s, para cada 100 mulheresviven<strong>do</strong> <strong>no</strong> espaço <strong>rural</strong> há 184 homens. Acredita-se que seja ainda muito recente odesequilíbrio de gênero, na proporção verificada atualmente, na população <strong>rural</strong> jovem <strong>do</strong><strong>Oeste</strong> de Santa Catarina. Portanto, os efeitos <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong>, queresultam desse desequilíbrio, ainda não expressam na sua plenitude mas provavelmente seapresentarão <strong>no</strong> futuro, quan<strong>do</strong> um maior número de celibatários assumir o coman<strong>do</strong> daunidade familiar.Tabela 1. Distribuição da população <strong>rural</strong> solteira por sexo e faixa etária em 20municípios representativos da agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de SantaCatarinaIdade (a<strong>no</strong>s)Homens(%)Mulheres(%)Relaçãohomens/mulheres (%)Número depessoasMe<strong>no</strong>s de 10 50,7 49,3 2,70 1172410 a 14 51,7 48,3 6,89 783515 a 19 55,4 44,6 24,24 653020 a 24 60,9 39,1 55,69 370525 a 29 64,8 35,2 84,10 266230 a 34 63,6 36,4 74,96 185635 a 40 59,7 40,3 48,02 1188Total geral (%) 54,9 45,1 21,6 -Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural11


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”Número de pessoas 19477 16023 - 35500Fonte <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s primários: Censo Agropecuário Municipal 1998 (Epagri/Icepa 1999).Elaboração <strong>do</strong> autor.Em resumo, o que a realidade esta indican<strong>do</strong> é que para as moças uma vida comoesposa camponesa – conhecen<strong>do</strong> outras alternativas possíveis – pode ser rejeitada ou objetode resistência, diante da aspiração de vida em outro meio cultural e ocupacional. Parcialmenteliberadas das restrições familiares em razão <strong>do</strong> enfraquecimento das tradições, mais prontaspara a<strong>do</strong>tar os modelos de comportamento urba<strong>no</strong>, as filhas <strong>do</strong>s agricultores podem ganhar ascidades mais facilmente que os rapazes. Neste senti<strong>do</strong>, Bourdieu (2000:105) explica que asmulheres por estarem “me<strong>no</strong>s presas pelas preocupações com o patrimônio a ‘manter’, maisdispostas em relação à educação e às promessas de mobilidade que ela contém, elas importampara o coração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> camponês o olhar citadi<strong>no</strong>, que desvaloriza e desqualifica asqualidades camponesas”.Portanto, o forte êxo<strong>do</strong> femini<strong>no</strong> observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense éresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato, como foi identifica<strong>do</strong> por Silvestro et al. (2001), das mulheres estarem maisbem preparadas que anteriormente para enfrentar a vida urbana, passan<strong>do</strong> a questionar o que évisto como servidão da vida camponesa. Os autores sugerem que talvez esta seja uma dasrazões que explique a preferência, manifestada por parte de algumas moças entrevistadas, emcasar com rapazes de fora <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong>. Constatação semelhante também foi feita napesquisa de Stropasolas (2002), para quem “as moças ‘estudadas’ ou que se orientam para talfinalidade, começam a desenhar um conceito restritivo [em relação ao namoro e aocasamento] aos quadros masculi<strong>no</strong>s que integram a agricultura familiar”. Na realidade,Silvestro et al. (2001) observaram nas conversas informais com os pais que, de forma velada,eles incentivam a partida de suas filhas em direção a cidade e acalentam o desejo de que elasse casem com alguém da cidade. Neste senti<strong>do</strong>, Bourdieu (2000) explica que os filhos decamponeses casam com filhas de camponesas ao passo que as filhas muitas vezes unem-se anão-camponeses. Essa estratégia, segun<strong>do</strong> o autor, manifesta o antagonismo de que o gruponão quer para suas moças o que quer para seus rapazes. Tu<strong>do</strong> se passa como se o grupoconspirasse contra si mesmo, ajudan<strong>do</strong> a instaurar as condições <strong>do</strong> celibato <strong>do</strong>s herdeiros e <strong>do</strong>êxo<strong>do</strong> <strong>rural</strong>.Uma migração juvenil fortemente feminina, como a constatada <strong>no</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense,resulta na “masculinização” <strong>do</strong> espaço <strong>rural</strong>, como já foi constatada <strong>no</strong> trabalho deCamara<strong>no</strong> e Abramovay (1998). Com isso, os rapazes que permanecem <strong>no</strong> campoprovavelmente terão dificuldades para constituir família, sen<strong>do</strong> candidatos potenciais aocelibato, caracterizan<strong>do</strong>-se assim numa séria ameaçada na reprodução da agriculturafamiliar.Analisan<strong>do</strong> o celibato entre os camponeses franceses, Bourdieu (1962:32) toma ofenôme<strong>no</strong> como um sintoma da crise <strong>do</strong> campesinato e considera como um caso de“reprodução interdita”. O autor avalia que a unificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de bens simbólicos, <strong>no</strong>qual a expansão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> matrimonial é um <strong>do</strong>s aspectos, e que incluía o circuito urba<strong>no</strong>,ocasionava alta taxa de celibatários destina<strong>do</strong>s a continuidade das maisons. Neste caso, osherdeiros condena<strong>do</strong>s ao celibato são as vítimas da concorrência que passou a <strong>do</strong>minar omerca<strong>do</strong> matrimonial, até então protegi<strong>do</strong> pelos vínculos e pelos controles da tradição. Aunificação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> das trocas simbólicas (Bourdieu, 2000: 107) 16 “ao determinar umadesvalorização de to<strong>do</strong>s os produtos <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> camponês de produção e reprodução, de tu<strong>do</strong>16 Na metáfora <strong>do</strong> bailinho de natal, Bourdieu (1962), considera que naquele contexto os celibatáriosobserva<strong>do</strong>res <strong>do</strong> espetáculo eram as vítimas da violência simbólica, segun<strong>do</strong> a qual a França liqui<strong>do</strong>u o seucampesinato em trinta a<strong>no</strong>s, sem os meios da violência física como ocorreu na URSS.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural12


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”que as famílias têm para oferecer (a terra, a vida <strong>no</strong> campo, o próprio ser <strong>do</strong> camponês, sualinguagem, suas roupas, suas maneiras, sua postura e até seu “físico” ) neutraliza osmecanismos <strong>sociais</strong> que garantiam as mulheres necessárias à reprodução social <strong>do</strong> grupo.O caráter seletivo <strong>do</strong>s processos migratórios <strong>recentes</strong> <strong>no</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense tem leva<strong>do</strong>gradualmente ao pre<strong>do</strong>mínio masculi<strong>no</strong> entre os jovens rurais e pode ser considera<strong>do</strong> como aexpressão máxima da crise de identidade e das transformações <strong>do</strong> habitus camponês, cujosresulta<strong>do</strong>s emergem <strong>no</strong> aparecimento <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong>. No <strong>Oeste</strong> de SantaCatarina, Renk (2000), constatou que a condição celibatária é vista pela população <strong>rural</strong> como“algo erra<strong>do</strong>” porque o “<strong>no</strong>rmal é casar”. Para esta população um homem executar atividadesnaturalizadas como da esfera feminina pode representar uma subversão grave e recebersanções da comunidade, sob a forma de chacotas e zombarias, pela suposta perda daautoridade masculina. Embora a migração seletiva não seja um fenôme<strong>no</strong> <strong>no</strong>vo o queimpressiona, não é apenas a ausência de estu<strong>do</strong>s recente a respeito, mas a magnitude que elaparece estar assumin<strong>do</strong> <strong>no</strong> espaço <strong>rural</strong> <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina e o impacto que ela podetrazer na reprodução social da agricultura familiar.Na realidade, se considerarmos que a reprodução biológica da família agrícola é umcomponente fundamental na sua condição de funcionamento então, como ressalta Bourdieu(2000:118), a crise que ataca a instituição matrimonial – <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> catarinense da<strong>do</strong>pela ausência de moças <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> e, em grande medida, a sua recusa em casar com jovensagricultores – ameaça a própria existência da unidade da “casa” camponesa, unidadeindissociável de um patrimônio.A escola e sua influênciaO exercício da profissão de agricultor <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> não estava associa<strong>do</strong> ànecessidade de estudar, sen<strong>do</strong> que o conhecimento adquiri<strong>do</strong> formalmente na escola, emgeral até a quarta série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental, soma<strong>do</strong> ao herda<strong>do</strong> da família <strong>no</strong>desempenho cotidia<strong>no</strong> das atividades, era considera<strong>do</strong> suficiente para o desempenho dasatividades agrícolas. A regra constatada em vários estu<strong>do</strong>s da América Latina (Durston,1996) é que fica <strong>no</strong> campo o filho que me<strong>no</strong>s estu<strong>do</strong>u. A pesquisa de Silvestro et al.(2001), confirma, para o <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina, a assertiva segun<strong>do</strong> a qual ou se estudaou fica <strong>no</strong> campo 17 . Entende-se, entretanto, que seria mais frutífero se a questão fosseformulada da seguinte maneira: “por que quem estuda não fica <strong>no</strong> campo?”.Neste item <strong>no</strong>sso objetivo não é analisar o nível de escolaridade das pessoas quepermanecem <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>, para as condições <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina, alguns trabalhosjá fizeram isso (Abramovay et al., 1998,; Silvestro et al., 2001,; Mello et al., 2003). O quepretendemos discutir, ainda que de maneira exploratória, é a influência da escola naformação da identidade <strong>do</strong> agricultor ou na desconstrução dessa identidade 18 . Nossahipótese é que a escolarização abala o quase mo<strong>no</strong>pólio das famílias rurais sobre asocialização de seus filhos e que o sistema de ensi<strong>no</strong> e to<strong>do</strong> o ambiente em tor<strong>no</strong> da escolaestigmatiza negativamente o meio <strong>rural</strong>, a agricultura e o ofício de agricultor.Até o final <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarina o ensi<strong>no</strong>fundamental até a quarta série era realiza<strong>do</strong> em escolas localizadas nas própriascomunidades e o ensi<strong>no</strong> até a oitava série nas comunidades maiores (distritos). A partir17 Os autores explicam que os rapazes com idade superior a 24 a<strong>no</strong>s e que vivem <strong>no</strong> estabelecimento pater<strong>no</strong>(portanto candidato à sucessão), mais de 60% deles estudaram apenas até a quarta série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>fundamental. Argumentam também que o nível de escolaridade <strong>do</strong>s jovens que permanecem <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> sediferencia por gênero, sen<strong>do</strong> que as moças apresentam um nível de escolaridade superior a <strong>do</strong>s rapazes.18 Para Bourdieu (2000:113) o sistema de ensi<strong>no</strong> se constitui <strong>no</strong> principal instrumento de <strong>do</strong>minação <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> da cidade.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural13


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”desta época, num processo chama<strong>do</strong> de “nucleação <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>”, as escolas rurais sãodesativadas e seus estudantes desloca<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong> transporte coletivo, para escolasmaiores localizadas, em geral, <strong>no</strong> núcleo urba<strong>no</strong> <strong>do</strong> município. A justificativa para estamudança era a diminuição <strong>do</strong>s custos e, principalmente, pela melhor qualidade de ensi<strong>no</strong>que a escola localizada <strong>no</strong> meio urba<strong>no</strong> poderia proporcionar.Inicialmente parece que não houve maiores discussões em tor<strong>no</strong> <strong>do</strong> tema etampouco reações contrárias <strong>do</strong>s agricultores ou <strong>do</strong>s próprios estudantes implica<strong>do</strong>s pelareferida mudança, fato que pode ser avalia<strong>do</strong> pela <strong>no</strong>ção de “violência simbólica” utilizadapor Bourdieu (1970). Para o autor, é pelo controle <strong>do</strong> capital simbólico que os <strong>do</strong>minantesimpõem aos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s seu arbítrio cultural, as hierarquias, as relações de <strong>do</strong>minação,fazen<strong>do</strong>-os percebê-las como legítimas. Essa capacidade de imposição consentida de umarbítrio cultural aos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s é que Bourdieu de<strong>no</strong>mina de violência simbólica.Entretanto, a “nucleação <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>” promovida <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s começa a serquestionada pelos agricultores e por eles considerada como uma das causas <strong>do</strong> afastamento<strong>do</strong>s jovens <strong>do</strong> meio <strong>rural</strong>. Na pesquisa de campo onde foram reuni<strong>do</strong>s mais de 300agricultores (homens e mulheres) em grupos de discussão ouvimos relatos de profun<strong>do</strong>significa<strong>do</strong>, expressos em frases como “o fechamento das escolas <strong>do</strong> interior acabou com avida da comunidade”; “escola forma emprega<strong>do</strong>s e não agricultores” e “o ensi<strong>no</strong> afasta osmais <strong>no</strong>vos da roça”. O que ocorre é que as formas de sociabilidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> urba<strong>no</strong> nemsempre são compatíveis com os valores da sociedade <strong>rural</strong>, o que pode causartransformações cruciais <strong>no</strong> relacionamento pais-filhos.A escola primária, localizada na comunidade, cujos professores eram conheci<strong>do</strong>s deto<strong>do</strong>s e quase sempre integrada ao funcionamento da sociedade local, ficava sob o olhardireto <strong>do</strong>s agricultores, atualmente não acontece mais o mesmo. Por isso, a rejeição dessemodelo de ensi<strong>no</strong>, por uma parcela <strong>do</strong>s pais, pode ser uma reação contra uma instância queameaça efetivamente a reprodução dessas famílias. Um exemplo disso foi a reação de umpai contra essa institucionalidade que, de certa forma, bloqueia a construção social <strong>do</strong>ofício de agricultor e de sua identidade: “a professora ensina aos jovens que eles nãoprecisam trabalhar antes <strong>do</strong>s 14 a<strong>no</strong>s”. To<strong>do</strong>s os agricultores sabem que o aprendiza<strong>do</strong> deseu ofício se dá pela lenta transmissão familiar <strong>do</strong>s saberes, desde a mais tenra idade <strong>do</strong>sfilhos. “Se meu filho não aprender a ser agricultor até os 14 a<strong>no</strong>s, depois ele não aprendemais”, justificou um outro agricultor.Assim, a escola freqüentada pelos filhos <strong>do</strong>s agricultores, localizada <strong>no</strong> espaçourba<strong>no</strong>, cuja homogeneidade <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s educacionais, em geral, não valoriza e muitome<strong>no</strong>s considera a diversidade, expõem-os a um sistema de aprendizagem que, de formasubliminar ou mesmo objetiva, faz apologia o meio urba<strong>no</strong> em detrimento ao meio <strong>rural</strong> esuas particulares relações <strong>sociais</strong>, produtivas e culturais 19 . Ao desvalorizar, de formapreconceituosa, os saberes familiares e o espaço <strong>rural</strong>, porque são toma<strong>do</strong>s como“atrasa<strong>do</strong>s”, o sistema de nucleação <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> contribui para solapar os alicerces onde <strong>no</strong>passa<strong>do</strong> estava assenta<strong>do</strong> o habitus camponês e cujos resulta<strong>do</strong>s, em muitos casos, passa aser a negação – por parte <strong>do</strong>s jovens – da identidade de agricultor.Ao discutir o desenvolvimento <strong>rural</strong> sob a perspectiva territorial, Abramovay(2000) destaca que uma característica sempre presente <strong>no</strong>s locais mais dinâmicos, sob oponto de vista econômico e social, é a capacidade de promover iniciativas i<strong>no</strong>va<strong>do</strong>ras que,por sua vez, dependem das formas específicas de interação social, da capacidade <strong>do</strong>sindivíduos, das empresas e das organizações locais em promover ligações dinâmicas,19 Neste caso a população <strong>rural</strong> seria, segun<strong>do</strong> Bourdieu (1999) “os excluí<strong>do</strong>s de dentro”, cujo termocaracteriza os alu<strong>no</strong>s ou jovens trabalha<strong>do</strong>res e desemprega<strong>do</strong>s discrimina<strong>do</strong>s por suas origens (étnicas,<strong>sociais</strong>, culturais e geográficas).Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural14


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”capazes de valorizar seus conhecimentos, suas tradições e a confiança que foram capazes,historicamente, de construir. Evidente que se o meio <strong>rural</strong> representar – sobretu<strong>do</strong> àpopulação mais jovem – estagnação, conserva<strong>do</strong>rismo e atraso, as chances de iniciativasi<strong>no</strong>va<strong>do</strong>ras serão mínimas. Por isso, o autor afirma que não se trata apenas de melhorar aescola <strong>rural</strong>, mas de modificar o conjunto <strong>do</strong> ambiente que se refere à aquisição e ao uso <strong>do</strong>conhecimento <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>.Apesar <strong>do</strong>s progressos alcança<strong>do</strong>s na educação nas últimas décadas, sobretu<strong>do</strong>quanto a possibilidade de universalização de acesso aos filhos de agricultores aos bancosescolares (ao me<strong>no</strong>s ao ensi<strong>no</strong> fundamental), o modelo de ensi<strong>no</strong> e o sistema de nucleaçãoparecer ser um elemento a mais que pesa contra a reprodução da agricultura familiar. Ainstituição <strong>do</strong> herdeiro e o efeito de desti<strong>no</strong> que ela exerce cabe também à escola cujosjuízos e sanções podem confirmar os da família, mas também contrariá-los e se opor a eles,contribuin<strong>do</strong> de maneira totalmente decisiva para a construção da identidade (Bourdieu,1997). Na realidade, a escola e to<strong>do</strong> o ambiente em tor<strong>no</strong> dela (a forma de vestir, de seexpressar, de se portar) impõe e faz-se reconhecer como detentora de uma identidade sociallegítima, ganhan<strong>do</strong> espaço na transmissão de valores, em larga medida, estranho aos quesão necessários para a construção social <strong>do</strong> agricultor (colo<strong>no</strong>). Nesse contexto, cresce adesvinculação com o meio <strong>rural</strong>, e com ele, aumenta também a possibilidade da migraçãojuvenil <strong>do</strong> campo para a cidade.Neste senti<strong>do</strong>, o sistema de “nucleação <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>”, o modelo educacional e oconteú<strong>do</strong> que é repassa<strong>do</strong> aos jovens rurais pode ser analisa<strong>do</strong> sob a <strong>no</strong>ção de “violênciasimbólica”, utilizada por Bourdieu (1970). O autor diz que este é um mecanismo que fazcom que os indivíduos vejam como “natural” as representações ou as idéias <strong>sociais</strong><strong>do</strong>minantes. A violência simbólica é desenvolvida pelas instituições e pelos agentes que asanimam e sobre a qual se apóia o exercício da autoridade. Bourdieu considera que atransmissão pela escola da cultura escolar (conteú<strong>do</strong>s, programas, méto<strong>do</strong>s de ensi<strong>no</strong> e deavaliação, relações pedagógicas, práticas lingüísticas), própria à classe <strong>do</strong>minante, revelauma violência simbólica exercida sobre os alu<strong>no</strong>s de classes populares, como é o caso <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes e jovens filhos de agricultores.Um esforço para reduzir o impacto desse modelo educacional talvez possa ser da<strong>do</strong><strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de adequar os conteú<strong>do</strong>s à realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>rural</strong> e as especificidades decada região, sem contu<strong>do</strong> comprometer uma formação universal adequada àsoportunidades de vida tanto <strong>do</strong> meio urba<strong>no</strong> quanto <strong>do</strong> <strong>rural</strong>.Considerações finaisComo buscamos demonstrar a agricultura familiar <strong>do</strong> <strong>Oeste</strong> de Santa Catarinacomeça a enfrentar problemas sucessórios que não existia até a algum tempo atrás. Oconsiderável número de unidades familiares sem sucessor é um exemplo. Na realidade osjovens já não identificam mais o ofício de agricultor como a escolha “natural” para realizarseus projetos de vida, como acontecia há algum tempo. O estigma negativo (social,econômico e cultural) <strong>do</strong> <strong>rural</strong> e <strong>do</strong> agricultor é resulta<strong>do</strong> de um ambiente socioeconômicohostil para o <strong>rural</strong> e sua população e parece ser responsável por parte desta realidade.A forte migração da população <strong>rural</strong>, sobretu<strong>do</strong> da parcela mais jovem e, dentreeles as moças, pode ser considera<strong>do</strong> um claro sinal de que a área <strong>rural</strong> da região apresentauma crise econômica e social. A conseqüência deste quadro de crise é o empobrecimentoda população <strong>rural</strong>, o despovoamento de muitas localidades e o envelhecimento dapopulação, o que pode criar fortes barreiras à promoção de um desenvolvimento <strong>rural</strong>,cujos resulta<strong>do</strong>s sejam eqüitativos socialmente e equilibra<strong>do</strong> geograficamente.Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006Sociedade Brasileira de Eco<strong>no</strong>mia e Sociologia Rural15


XLIV CONGRESSO DA <strong>SOBER</strong>“Questões Agrárias, Educação <strong>no</strong> Campo e Desenvolvimento”A intensa migração feminina juvenil começa a criar um desequilíbrio de gênero napopulação <strong>rural</strong>, especialmente na faixa etária compreendida entre os 20 e 30 a<strong>no</strong>s. Oresulta<strong>do</strong> é o surgimento <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong> que, além dassuas conseqüências <strong>sociais</strong>, <strong>no</strong> futuro pode se constitui em mais um bloqueio nareprodução da agricultura familiar.Grande parte <strong>do</strong> desinteresse das moças pela agricultura parece relacionar-se com opapel subalter<strong>no</strong> que historicamente foi reserva<strong>do</strong> às mulheres <strong>no</strong> interior da agriculturafamiliar. A possibilidade de serem sucessoras, as responsabilidades, o planejamento, aparticipação, a apresentação social na qualidade de agricultoras são, de certa forma,vedadas às jovens, contribuin<strong>do</strong> para que se afastem das atividades agrícolas e <strong>do</strong> espaço<strong>rural</strong>. Ressalta-se também a pe<strong>no</strong>sidade <strong>do</strong> trabalho agrícola como um <strong>do</strong>s fatores quecontribui para desincentivar as moças a construir seu futuro profissional como agricultora.Se antes “o trabalho a<strong>do</strong>çava a vida”, agora na visão das moças ele também “estraga ocorpo”. Como comenta Stropasolas (2004) em relação às moças rurais “o sonho de receberum ‘sim’ em uma cerimônia matrimonial é precedi<strong>do</strong> de muitas interrogações por parte dasmoças ‘acostumadas’ a receber um ‘não’ na sua realidade cotidiana, como contrapartida <strong>do</strong>papel e <strong>do</strong> lugar que ocupam na família, na comunidade e na sociedade”.Com relação ao fenôme<strong>no</strong> <strong>do</strong> celibato masculi<strong>no</strong> <strong>no</strong> meio <strong>rural</strong>, os jovens queatualmente estão na idade entre os 20 e 30 a<strong>no</strong>s parece ser os mais ameaça<strong>do</strong>s. Até mea<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 o padrão de estu<strong>do</strong> para os homens que compunham a agricultura familiarda região era a 4ª série <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> fundamental. O baixo nível escolar destes jovens criouuma barreira para eles se inserirem <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho urba<strong>no</strong>. Isto acaboumodifican<strong>do</strong> o padrão sucessório (que passou <strong>do</strong> mi<strong>no</strong>rato para o maiorato) pois estesjovens praticamente “não tiveram escolha” senão permanecer na agricultura, enquanto seusirmãos mais moços continuaram estudan<strong>do</strong> e se preparan<strong>do</strong> para deixar o meio <strong>rural</strong>.Enquanto isso, as moças na atual faixa etária ente 20 e 30 a<strong>no</strong>s, cujo padrão de estu<strong>do</strong> erasuperior aos <strong>do</strong>s homens, continuaram estudan<strong>do</strong> e conseguiram se inserirprofissionalmente <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> urba<strong>no</strong> de trabalho.Atualmente, entretanto, o que se observa é que tanto as moças quanto os rapazesestão estudan<strong>do</strong> e, ao que parece, se preparan<strong>do</strong> para uma oportunidade de trabalho urba<strong>no</strong>,desvencilha<strong>do</strong>s que estão da pressão moral de antigamente que “quase exigia” apermanência de pelo me<strong>no</strong>s um <strong>do</strong>s filhos na unidade familiar para cuidar <strong>do</strong>s pais navelhice.Com relação à escola e a violência simbólica que ela representa para os estudantesde origem <strong>rural</strong>, especialmente após a instituição da “nucleação <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong>” – que levou osjovens rurais para estudar <strong>no</strong> meio urba<strong>no</strong> –, talvez represente uma das causas para a perdada identidade camponesa. Isso sinaliza a necessidade de uma <strong>no</strong>va política de educação<strong>rural</strong> que seja adequada às necessidades e à realidade <strong>do</strong>s diferentes territórios rurais.Referências BibliográficasABRAMOVAY, R. Paradigmas <strong>do</strong> capitalismo agrário em questão. São Paulo:Hucitec/Rio de Janeiro: Anpocs/Campinas: Unicamp. 1992. 275p.ABRAMOVAY, R. O capital social <strong>do</strong>s territórios: repensan<strong>do</strong> o desenvolvimento <strong>rural</strong>.Eco<strong>no</strong>mia Aplicada. v. 4, n. 2, abr./jun. 2000ABRAMOVAY, R.; SILVESTRO, M. L.; CORTINA, N.; BALDISSERA, I. T.; FERRARI, D. L.;TESTA, V., M. Juventude e agricultura familiar: desafio <strong>do</strong>s <strong>no</strong>vos padrões sucessórios.Brasília: Edições Unesco, 1998, 101 p. 2ª ed.ARNALTE, A. Formas de producción y tipos de explotaciones en la agricultura española:viejas y nuevas lineas de diferenciación. 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