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A Escrava Isaura

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e conselhos daquele tão solícito quão inteligente amigo, a dor de Álvaro foi-setornando mais calma e resignada. Por suas exortações Álvaro chegou mesmo aconvencer-se que o melhor partido que lhe ficava a tomar nas difíceis conjunturasem que se achava, era procurar esquecer-se de <strong>Isaura</strong>.Todo o esforço que fizeres, - dizia-lhe o amigo, - em favorda liberdade de <strong>Isaura</strong>, será rematada loucura, que não terá outro resultadosenão envolver-te em novas dificuldades, cobrindo-te de ridículo ede humilhação. Já passaste por duas decepções bem cruéis, a do baile,e esta última ainda mais triste e humilhante. Quase te fizeste réu depolícia, querendo disputar uma escrava a seu legítimo senhor. Pois bem;as seguintes serão ainda piores, eu te asseguro, e te farão ir rolando deabismo em abismo até tua completa perdição.Atendendo a estas e mil outras considerações de Geraldo, Àlvaroprocurou firmar o espírito e a vontade no propósito de renunciar ao seuamor, e a todas as suas pretensões filantrópicas sobre <strong>Isaura</strong>. Foi debalde.Depois de um mês de luta consigo mesmo, de sempre frustradasveleidades de revolta contra os impulsos do coração, Álvaro sentiu-sefraco, e compreendeu que semelhante tentativa era uma luta insensatacontra a força onipotente do destino. Embalde procurou, já nas gravesocupações do espírito, já nas distrações frívolas da sociedade, um meiode apagar da lembrança a imagem da gentil cativa. Ela lhe estava semprepresente em todos os sonhos d'alma, ora resplendente de beleza egraça, donosa e sedutora como na noite do baile, ora pálida e abatida,vergada ao peso de seu infortúnio, com os pulsos algemados, cravandonele os olhos suplicantes como que a dizer-lhe:- Vem, não me abandones; só tu podes quebrar estes ferros queme oprimem.O espírito de Álvaro firmou-se por fim na íntima e inabalávelconvicção de que o céu, pondo em contato o seu destino com o daquelaencantadora e infeliz escrava, tivera um desígnio providencial, e oescolhera para instrumento da nobre e generosa missão de arrebatá-la àescravidão, e dar-lhe na sociedade o elevado lugar que por sua beleza,virtudes e talentos, lhe competia.Resolveu-se portanto, fosse qual fosse o resultado, a prosseguirnessa generosa tentativa, com a cegueira do fanatismo, senão com oarrastamento de uma inspiração providencial.Álvaro partiu para o Rio de Janeiro. Ia ao acaso, sem planonenhum formado, sem bem saber o que devia fazer para chegar aos seusfins; mas tinha como uma intuição vaga de que o céu lhe deparariaocasião e meios de levar a cabo a sua empresa. O que queria emprimeiro lugar era colocar-se nas vizinhanças de Leôncio, a fim depoder colher informações e investigar se porventura algum recurso haveriapara obrigar o senhor de <strong>Isaura</strong> a manumiti-la.Desembarcou na corte com o fim de dirigir-se brevemente paraCampos. Antes porém de partir para seu destino, procurou colher entreas pessoas do comércio algumas informações a respeito de Leôncio.- Oh! conheço muito esse sujeito, - disse logo o primeironegociante, a quem Álvaro se dirigiu. - Esse moço está falido, e emcompleta ruína. Se V. S.ª também é credor dele, pode pôr as suas barbasde molho, porque as dos vizinhos estão a arder. Essa casa bem liquida,mal dará para um rateio, em que toque cinquenta por cento a cada credor.

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