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A Escrava Isaura

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não tardarão a chegar por aí o tabelião para passar escriturade liberdade a <strong>Isaura</strong> com toda a solenidade, e também o padre paracelebrar o casamento. Bem vês que de nada me esqueci. Tratem de estartodos prontos; e tu, Malvina, manda já preparar a capela para seefetuar esse casamento, que pareces desejar com mais ardor, - acrescentousorrindo, - do que desejaste o teu próprio.Malvina saiu do salão, deixando Leôncio em companhia de umterceiro personagem, que também ali se achava, por nome Jorge, aquem o leitor ainda não conhece. Dizendo que era um parasita, aindanão temos dito tudo.Este gênero contém muitas variedades, e mesmo cada individuotem sua cor e feição particular. Era um homem bem apessoado,espirituoso serviçal, cheio de cortesia e amabilidade, condiçõesindispensáveis a um bom parasita. Jorge não vivia da seiva e da sombra deuma só árvore; saltava de uma a outra, e assim peregrinava porlongas distâncias, o que era da sua parte um excelente cálculo, poisproporcionava-lhe uma vida mais variada e recreativa, ao mesmo tempo quetornava sua companhia menos incômoda e fatigante aos seus numerososamigos. Conhecia e entretinha relações de amizade com todos osfazendeiros das margens do Paraíba desde São João da Barra até SãoFidélis. A crer no que dizia, andava sempre cheio de afazeres edando andamento a mil negócios importantes, mas estava sempre pronto aprescindir deles a convite de qualquer desses amigos para passaruns oito ou quinze dias em sua companhia.Na solidão em que Leôncio se achou depois de seu rompimentocom Malvina, Jorge foi para ele um excelente recurso quando se achavana fazenda. Servia-lhe de companheiro não só à mesa, como ao jogo eà caça: entretinha-o a contar-lhe anedotas divertidas e escandalosas,aplaudia-lhe os desvarios e extravagâncias, e lisonjeava-lhe as ruinspaixões, enquanto Leôncio, que o acreditava realmente um amigo, faziadele o seu confidente, e comunicava-lhe os seus mais íntimospensamentos, os seus planos de perversidade, e os mais secretosnegócios de família.Para melhor entrarmos no mistério dos planos atrozes e ignóbeis,das satânicas maquinações de Leôncio, ouçamos a conversação íntima,que vão tratar estes dois entes dignos um do outro.- Até que por fim, Jorge, achei um meio engenhoso e seguro deaplanar todas as dificuldades. Desta maneira espero que tudo se vaiarranjar ás mil maravilhas.- Seguramente, e já de antemão te dou os parabéns pelos teustriunfos, e aplaudo-te pela feliz combinação de teus planos.- Mas escuta ainda para melhor poderes compreendê-los. Comeste casamento ficam satisfeitos os desejos de minha mulher, sem que<strong>Isaura</strong> escape de todo ao meu poder. Como o pai dela está debaixo deminha restrita dependência, eu saberei reter junto de mim esse estúpidojardineiro com quem caso-a, e depois... tu bem sabes, o tempo e aperseverança amansam as feras mais bravias. Entretanto a atrevidaescrava receberá o castigo que merece sua inqualificável rebeldia. Era-meabsolutamente necessário dar este passo, porque minha mulherrecusa-se obstinadamente a reconciliar-se comigo, enquanto eu conservar<strong>Isaura</strong> cativa em meu poder, capricho de mulher, com que bem pouco

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