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A Escrava Isaura

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o podendo conseguir, combinaram de mãos dadas e efetuaram o planode rapto; que chegando ao Recife, um moço que tanto tinha de rico,como de extravagante e desmiolado, enamorando-se dela a tomara aseu primeiro amante; que <strong>Isaura</strong> com seus artifícios, dando-se por umasenhora livre o tinha enleado e iludido por tal forma, que o pobre moçoestava a ponto de casar-se com ela, e mesmo depois de saber que eracativa não queria largá-la, e praticando mil escândalos e disparates estavadisposto a tudo para alforriá-la. Fora das mãos desse moço que elea fora tomar no Recife.Malvina, moça ingênua e crédula, com um coração semprepropenso à ternura e ao perdão, deu pleno crédito a tudo quanto aprouvea Leôncio inventar não só para justificar suas faltas passadas, como parapredispor o comportamento que dai em diante pretendia seguir.Na qualidade de esposa ofendida irritara-se outrora contra <strong>Isaura</strong>,quando surpreendera seu marido dirigindo-lhe falas amorosas; mas oseu rancor ia-se amainando, e se desvaneceria de todo, se Leôncio nãoviesse com falsas e aleivosas informações atribuir-lhe os mais torpesprocedimentos. Malvina começou a sentir por <strong>Isaura</strong> desde esse momento,não ódio, mas certo afastamento e desprezo, mesclado de compaixão, talqual sentiria por outra qualquer escrava atrevida e mal comportada.Era quanto bastava a Leôncio para associá-la ao plano de castigo evingança, que projetava contra a desditosa escrava. Bem sabia que Malvinacom a sua alma branda e compassiva jamais consentiria em castigos cruéis;o que meditava, porém, nada tinha de bárbaro na aparência, se bem que fosseo mais humilhante e doloroso flagício imposto ao coração de uma mulher, quetinha consciência de sua beleza, e da nobreza e elevação de seu espírito.- E o que pretendes fazer de <strong>Isaura</strong>? perguntou Malvina.- Dar-lhe um marido e carta de liberdade.- E já achaste esse marido?- Pois faltam maridos?... para achá-lo não precisei sair de casa.- Algum escravo, Leôncio?... oh!... isso não.- E que tinha isso, uma vez que eu também forrasse o marido?era cré com cré, lé com lé. Bem me lembrei do André, que bebe osares por ela; mas por isso mesmo não a quero dar àquele maroto.Tenho para ela peça muito melhor.- Quem, Leôncio?- Ora quem!... o Belchior.- O Belchior!... exclamou Malvina rindo-se muito. Estás caçoando;fala sério, quem é?...- O Belchior, senhora; falo sério.- Mas esperas acaso, que <strong>Isaura</strong> queira casar-se com aquelemonstrengo?- Se não quiser, pior para ela; não lhe dou a liberdade, e há depassar a vida enclausurada e em ferros.- Oh!... mas isso é demasiada crueldade, Leôncio. De que servedar-lhe a liberdade em tudo, se não lhe deixas a de escolher um marido?...Dá-lhe a liberdade, Leôncio, e deixa ela casar-se com quem quiser.- Ela não se casará com ninguém: irá voando direitinho paraPernambuco, e lá ficará muito lampeira nos braços de seu insolentetaful, escarnecendo de mim...- E que te importa isso, Leôncio? - perguntou Malvina com

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