13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Leôncio, tendo trazido <strong>Isaura</strong> para sua fazenda, a conservara namais completa e rigorosa reclusão. Não era isto só com o fim decastigá-la ou de cevar sua feroz vingança sobre a infeliz cativa. Sabia quantoera ardente e capaz de extremos o amor que o jovem pernambucanoconcebera por <strong>Isaura</strong>; tinha ouvido as últimas palavras que Álvaro lhedirigia - confia em Deus, e em meu amor; eu não te abandonarei.- Era uma ameaça, e Álvaro, rico e audacioso como era, dispunha degrandes meios para pó-la em execução, quer por alguma violência, querpor meio de astúcias e insídias. Leôncio, portanto, não só encarceravacom todo o rigor a sua escrava, como também armou todos os seusescravos, que daí em diante distraídos quase completamente dos trabalhosda lavoura, viviam em alerta dia e noite como soldados de guarnição auma fortaleza.Mas a alma ardente e feroz do jovem fazendeiro não desistia nuncade seu louco amor, e nem perdia a esperança de vencer a isenção de <strong>Isaura</strong>.E já não era só o amor ou a sensualidade que o arrastava; era umcapricho tirânico, um desejo feroz e satânico de vingar-se dela e do rivalpreferido. Queria gozá-la, fosse embora por um só dia, e depois deprofanada e poluída, entregá-la desdenhosamente ao seu antagonista,dizendo-lhe: - Venha comprar a sua amante; agora estou disposto avendê-la, e barato.Encetou pois contra ela nova campanha de promessas, seduções eprotestos, seguidos de ameaças, rigores e tiranias. Leôncio só recuoudiante da tortura e da violência brutal, não porque lhe faltasseferocidade para tanto, mas porque conhecendo a têmpera heróica davirtude de <strong>Isaura</strong>, compreendeu que com tais meios só conseguiriamatá-la, e a morte de <strong>Isaura</strong> não satisfazia o seu sensualismo, e nemtampouco a sua vingança. Portanto tratou de meditar novos planos, não sópara recalcar debaixo dos pés o que ele chamava o orgulho da escrava,como de frustrar e escarnecer completamente as vistas generosasde Álvaro, tomando assim de ambos a mais cabal vingança.Além de tudo, Leôncio via-se na absoluta necessidade dereconciliar-se com Malvina, não que o pundonor, a moral, e muito menosa afeição conjugal a isso o induzissem, mas por motivos de interesse,que em breve o leitor ficará sabendo. Com esse fim pois, Leônciofoi à corte e procurou Malvina.Além de todas as más qualidades que possuía, a mentira, a calúnia,o embuste eram armas que manejava com a habilidade do mais refinadohipócrita. Mostrou-se envergonhado e arrependido do modo porque a havia tratado, e jurou apagar com o seu futuro comportamentoaté a lembrança de seus passados desvarios. Confessou, com umasinceridade e candura de anjo, que por algum tempo se deixara enlevarpelos atrativos de <strong>Isaura</strong>, mas que isso não passara de passageiro desvario,que nenhuma impressão lhe deixara na alma.Além disso assacou mil aleives e calúnias por conta da pobre<strong>Isaura</strong>. Alegou que ela, como refinada loureira que era, empregaraos mais sutis e ardilosos artifícios para seduzi-lo e provocá-lo, nointuito de obter a liberdade em troco de seus favores. Inventou mil outrascoisas, e por fim fez Malvina acreditar que <strong>Isaura</strong> fugira de casa seduzidapor um galã, que há muito tempo a reqüestava, sem que eles o soubessem; quefora este quem fornecera ao pai dela os meios de alforriá-la, e que, não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!