13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

nunca o foste, e nunca o serás. Pode acaso a tirania de um homem ouda sociedade inteira transformar em um ente vil, e votar à escravidãoaquela que das mãos de Deus saiu um anjo digno do respeito eadoração de todos? Não, <strong>Isaura</strong>; eu saberei erguer-te ao nobre e honrosolugar a que o céu te destinou, e conto com a proteção de um Deusjusto, porque protejo um dos seus anjos.Alvaro, não obstante ficar sabendo, depois da noite do baile, que<strong>Isaura</strong> era uma simples escrava, nem por isso deixou de tratá-la daí emdiante com o mesmo respeito, deferência e delicadeza, como a umadonzela da mais distinta jerarquia social. Procedia assim de acordo comos elevados principios que professava, e com os nobres e delicadossentimentos do seu coração. O pudor, a inocência, o talento, a virtude e oinfortúnio, eram sempre para ele coisas respeitáveis e sagradas, quer seachassem na pessoa de uma princesa, quer na de uma escrava. Suaafeição era tão casta e pura como a pessoa que dela era objeto, enunca de leve lhe passara pelo pensamento abusar da precária ehumilde posição de sua amante, para profanar-lhe a candura imaculada.Nunca de sua parte um gesto mais ousado, ou uma palavra menoscasta haviam feito assomar ao rosto da cativa o rubor do pejo, e nemtampouco os lábios de Alvaro lhe haviam roçado o mais leve beijo pelasvirginais e pudicas faces. Apenas depois de instantes e repetidas súplicasde <strong>Isaura</strong>, havia tomado a liberdade de tratá-la por tu, e isso mesmoquando se achavam a sós.Somente agora pela primeira vez, Álvaro, dominado pela maissuave e veemente emoção, ao proferir as últimas palavras, enlaçando obraço em torno ao colo de <strong>Isaura</strong> a cingia brandamente contra ocoração.Estavam ambos enlevados na doçura deste primeiro amplexo deamor, quando o ruído de um carro, que parou à porta do jardim, e logoapós um forte e estrondoso - ó de casa! - os fizeram separar-se.No mesmo momento entrava na sala o baleeiro de Álvaro, eanunciava-lhe que novas pessoas o procuravam.- Oh, meu Deus!... que será isto hoje!... serão ainda os malditosesbirros?... - refletiu Álvaro, e depois dirigindo-se a <strong>Isaura</strong>:- É prudente que te retires, minha amiga, - disse-lhe; ninguémsabe o que será e não convém que te vejam.- Ah! que eu não sirva senão para perturbar-lhe o sossego! -murmurou <strong>Isaura</strong> retirando-se.Um momento depois Alvaro viu entrar na sala um elegante e belomancebo, trajado com todo o primor, e afetando as mais polidas earistocráticas maneiras; mas apesar de sua beleza, tinha ele na fisionomia,como Lusbel, um não seu quê de torvo e sinistro, e um olhar sombrio, queincutia pavor e repulsão.- Este por certo não é um esbirro, - pensou Álvaro, e indicandouma cadeira ao recém-chegado: - Queira sentar-se, - disse-lhe,e - tenha a bondade de dizer o que pretende deste seu criado.- Desculpe-me, - respondeu-lhe o cavalheiro, passeando umolhar escrutador em roda da sala: - não é a V. S.ª que eu desejavafalar, mas sim ao morador desta casa ou à sua filha.Álvaro estremeceu. Estava claro que aquele mancebo, se bem quenenhuma aparência tivesse de um esbirro, andava à pista de <strong>Isaura</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!