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A Escrava Isaura

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Martinho, e que ninguém mais se lembre de descobrir a cativa <strong>Isaura</strong>nessa moça, por quem me interesso, e embora mil malsins a procurempor todos os cantos do mundo, pouco me importará. Sempre obtenhouma dilação, que poderá me ser muito vantajosa.- Pois bem, Álvaro; vamos que assim aconteça; mas tu não vêsque semelhante procedimento não é digno de ti?... que assim incorresrealmente nos epítetos afrontosos, com que obsequiou-te o tal Leôncio,e que te tomas verdadeiramente um sedutor e acoutador de escravosalheios?...- Desculpa-me, meu caro Geraldo; não posso aceitar a tua reprimenda.Ela só pode ter aplicação aos casos vulgares, e não às circunstânciasespecialíssimas em que eu e <strong>Isaura</strong> nos achamos colocados. Eunão dou couto, nem capeio a uma escrava: protejo um anjo, e amparouma vítima inocente contra a sanha de um algoz. Os motivos que meimpelem, e as qualidades da pessoa por quem dou estes passos, nobilitam omeu procedimento, e são bastantes para justificar-me aos olhos de minhaconsciência.- Pois bem, Alvaro; faze o que quiseres; não sei que mais possadizer-te para demover-te de um procedimento, que julgo não só imprudente,como, a falar-te com sinceridade, ridículo, e indigno da tua pessoa.Geraldo não podia dissimular o descontentamento que lhe causavaaquela cega paixão, que levava o seu amigo a atos que qualificava deburlesco desatino, e loucura inqualificável. Por isso, longe de auxiliá-locom seus conselhos, e indicar-lhe os meios de promover a libertação de<strong>Isaura</strong>, procurava com todo o empenho demovê-lo daquele propósito,pintando o negócio ainda mais difícil do que realmente o era. De bomgrado, se lhe fosse possível, teria entregado <strong>Isaura</strong> a seu senhor somentepara livrar Álvaro daquela terrível tentação, que o ia precipitando na senda dasmais ridículas extravagâncias.Capitulo 17Achando-se só, Alvaro sentou-se junto a uma mesa, e apoiandonela os cotovelos com a fronte entre as mãos, ficou a cismar profundamente.<strong>Isaura</strong>, porém, pressentindo pelo silêncio que reinava na sala, quejá ali não havia pessoas estranhas, foi ter com ele.- Senhor Álvaro, - disse ela chegando-se de manso e timidamente;- desculpe-me... eu venho decerto lhe aborrecer... queria talvez estar só...Não, minha <strong>Isaura</strong>; tu nunca me aborreces; pelo contrário, éssempre bem-vinda junto de mim...- Mas vejo-o tão triste!... parece-me que aqui entrou mais gente,e alteravam-se vozes. Deram-lhe algum desgosto, meu senhor?...- Nada houve de extraordinário, <strong>Isaura</strong>; foram algumas pessoasque vieram procurar o doutor Geraldo.- Mas então, por que está assim triste e abatido?- Não estou triste nem abatido. Estava meditando nos meios dearrancar-te do abismo da escravidão, meu anjo, e elevar-te à posiçãopara que o céu te criou.- Ah! senhor, não se mortifique assim por amor de uma infeliz,

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