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A Escrava Isaura

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nódoa, que lhe mancha as asas. Álvaro, a vida social está toda juncadade forcas caudinas, por debaixo das quais nos é forçoso curvar-nos,sob pena de abalroarmos a fronte em algum obstáculo, que nos façacair. Quem não respeita as conveniências e até os preconceitos sociais,arrisca-se a cair no descrédito ou no ridículo.- A escravidão em si mesma já é uma indignidade, uma úlcerahedionda na face da nação, que a tolera e protege. Por minha parte,nenhum motivo enxergo para levar a esse ponto o respeito por umpreconceito absurdo, resultante de um abuso que nos desonra aos olhosdo mundo civilizado. Seja eu embora o primeiro a dar esse nobreexemplo, que talvez será imitado. Sirva ele ao menos de um protestoenérgico e solene contra uma bárbara e vergonhosa instituição.- És rico, Álvaro, e a riqueza te dá bastante independência parapoderes satisfazer os teus sonhos filantrópicos e os caprichos de tuaimaginação romanesca. Mas tua riqueza, por maior que seja, nuncapoderia reformar os prejuízos do mundo, nem fazer com que essaescrava, a quem segundo todas as aparências quererias ligar o teudestino, fosse considerada, e nem mesmo admitida nos círculos da altasociedade...- E que me importam os círculos da alta sociedade, uma vez quesejamos bem acolhidos no meio das pessoas de bom senso, e coraçãobem formado? Demais, enganas-te completamente, meu Geraldo. Omundo corteja sempre o dinheiro, onde quer que ele se ache. O ourotem um brilho que deslumbra, e apaga completamente essas pretendidasnódoas de nascimento. Não nos faltarão, nunca, eu te afianço, orespeito, nem a consideração social, enquanto nos não faltar odinheiro.- Mas, Álvaro, esqueces-te de uma coisa muito essencial; e se tenão for possível obter a liberdade de tua protegida?...A esta pergunta Álvaro empalideceu, e oprimido pela idéia de tãocruel como possível alternativa, sem responder - palavra olhava tristementepara o horizonte, quando o boleeiro de Álvaro, que se achava postado com suacaleça junto à porta do jardim, veio anunciar-lhe que algumas pessoas oprocuravam e desejavam falar-lhe, ou ao dono da casa.- A mim! - resmungou Álvaro; porventura estou eu em minhacasa?... mas como também procuram o dono desta... faça-os entrar.- Álvaro, disse Geraldo espreitando por uma janela, - se me nãoengano, é gente da polícia; parece-me que lá vejo um oficial de justiça.Teremos outra cena igual à do baile?...- Impossível!.., com que direito virão tocar-me no depósitosagrado, que a mesma polícia me confiou!...- Não te fies nisso. A justiça é uma deusa muito volúvel e fértilem patranhas. Hoje desmanchará o que fez ontem.Capítulo 16O primeiro cuidado de Martinho logo ao sair do baile, em que viumalograda a sua tentativa de apreender <strong>Isaura</strong>, foi escrever ao senhordela uma longa e minuciosa carta, comunicando-lhe que tinha tido a

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