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A Escrava Isaura

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Deus me favorecerá em tão justa e santa causa.- Pelo que vejo, meu Álvaro, não procedes assim só por espíritode filantropia, e ainda amas muito a essa escrava.- Tu o disseste, Geraldo; amo-a muito, e hei de amá-la sempre enem disso faço mistério algum. E será coisa estranha ou vergonhosaamar-se uma escrava? O patriarca Abraão amou sua escrava Agar, epor ela abandonou Sara, sua mulher. A humildade de sua condiçãonão pode despojar <strong>Isaura</strong> da cândida e brilhante auréola de que a via eaté hoje a vejo circundada. A beleza e a inocência são astros que maisrefulgem quando engolfados na profunda escuridão do infortúnio.- É bela a tua filosofia, e digna de teu nobre coração; mas quequeres? as leis civis, as convenções sociais, são obras do homem, imperfeitas,injustas, e muitas vezes cruéis. O anjo padece e geme sob o jugoda escravidão, e o demônio exalça-se ao fastígio da fortuna e do poder.- E assim pois, - refletiu Álvaro com desânimo, - nessas desastradasleis nenhum meio encontras de disputar ao algoz essa inocente vítima?- Nenhum, Álvaro, enquanto nenhuma prova puderes aduzir emprol do direito de tua protegida. A lei no escravo só vê a propriedade, equase que prescinde nele inteiramente da natureza humana. O senhortem direito absoluto de propriedade sobre o escravo, e só pode perdê-lomanumitindo-o ou alheando-o por qualquer maneira, ou por litígioprovando-se liberdade, mas não por sevícias que cometa ou outro qualquermotivo análogo.- Miserável e estúpida papelada que são essas vossas leis. Parailaquear a boa-fé, proteger a fraude, iludir a ignorância, defraudar opobre e favorecer a usura e rapacidade dos ricos, são elas fecundas emrecursos e estratagemas de toda a espécie. Mas quando se tem em vistaum fim humanitário, quando se trata de proteger a inocência desvalidacontra a prepotência, de amparar o infortúnio contra uma injustaperseguição, então ou são mudas, ou são cruéis. Mas não obstante elas, heide empregar todos os esforços ao meu alcance para libertar a infeliz doafrontoso jugo que a oprime. Para tal empresa alenta-me não jásomente um impulso de generosidade, como também o mais puro e ardenteamor, sem pejo o confesso.O amigo de Álvaro arrepiou-se com esta deliberação tão franca eentusiasticamente proclamada com essa linguagem tão exaltada, que lhepareceu um deplorável desvario da imaginação.- Nunca pensei, replicou com gravidade, - que a tal ponto chegassea exaltação desse teu excêntrico e malfadado amor. Que por umimpulso de humanidade procures proteger uma escrava desvalida, nadamais digno e mais natural. O mais não passa de delírio de uma imaginaçãoexaltada e romanesca. Será airoso e digno da posição que ocupas nasociedade, deixares-te dominar de uma paixão violenta por uma escrava?- <strong>Escrava</strong>! - exclamou Álvaro cada vez mais exaltado, - issonão passa de um nome vão, que nada exprime, ou exprime umamentira. Pureza de anjo, formosura de fada, eis a realidade! Pode umhomem ou a sociedade inteira contrariar as vistas do Criador, etransformar em uma vil escrava o anjo que sobre a Terra caiu das mãosde Deus?...- Mas por uma triste fatalidade o anjo caiu do céu no lodaçal daescravidão, e ninguém aos olhos do mundo o poderá purificar dessa

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