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A Escrava Isaura

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deixa de ser uma escrava fugida.- E por isso mesmo mais digna de interesse e compaixão. <strong>Isaura</strong>tem-me contado toda a sua vida, e segundo creio, pode alegar, e talvezprovar direito à liberdade. Sua senhora velha, mãe do atual senhor, aqual criou-a com todo o mimo, e a quem ela deve a excelente educaçãoque tem, tinha declarado por vezes diante de testemunhas, que porsua morte a deixaria livre; a morte súbita e inesperada desta senhora,que faleceu sem testamento, é a causa de <strong>Isaura</strong> achar-se ainda entre asgarras do mais devasso e infame dos senhores.- E agora, o que pretendes fazer?...- Pretendo requerer que <strong>Isaura</strong> seja mantida em liberdade, e quelhe seja nomeado um curador a fim de tratar do seu direito.- E onde esperas encontrar provas ou documentos para provar asalegações que fazes?- Não sei, Geraldo; desejava consultar-te, e esperava-te comimpaciência precisamente para esse fim. Quero que com a tua ciênciajurídica me esclareças e inspires neste negócio. Já lancei mão do primeiro emais óbvio expediente que se me oferecia, e logo no dia seguinte ao dobaile escrevi ao senhor de <strong>Isaura</strong> com as palavras as mais comedidas esuasivas, de que pude usar, convidando-o a abrir preço para a liberdadedela. Foi pior; o libidinoso e ciumento Rajá enfureceu-se e mandou-meem resposta esta carta insolente, que acabo de receber, em que metrata de sedutor e acoutador de escravas alheias, e protesta lançar mãodos meios legais para que lhe seja entregue a escrava.- É bem parvo e descortês o tal sultanete, - disse Geraldodepois de ter percorrido rapidamente a carta, que Álvaro lhe apresentou;- mas o certo é que, pondo de parte a insolência...- Pela qual há de me dar completa e solene satisfação, eu o protesto.- Pondo de parte a insolência, se nada tens de valioso a apresentarem favor da liberdade da tua protegida, ele tem o incontestável direito dereclamar e apreender a sua escrava onde quer que se ache.- Infame e cruel direito é esse, meu caro Geraldo. É já um escárniodar-se o nome de direito a uma instituição bárbara, contra a qual protestamaltamente a civilização, a moral e a religião. Porém, tolerar a sociedade queum senhor tirano e brutal, levado por motivos infames e vergonhosos, tenha odireito de torturar uma frágil e inocente criatura, só porque teve a desdita denascer escrava, é o requinte da celeradez e da abominação.- Não é tanto assim, meu caro Álvaro; esses excessos e abusosdevem ser coibidos; mas como poderá a justiça ou o poder públicodevassar o interior do lar doméstico, e ingerir-se no governo da casa docidadão? que abomináveis e hediondos mistérios, a que a escravidão dálugar, não se passam por esses engenhos e fazendas, sem que, já nãodigo a justiça, mas nem mesmo os vizinhos, deles tenham conhecimento?...Enquanto houver escravidão, hão de se dar esses exemplos. Umainstituição má produz uma infinidade de abusos, que só poderão serextintos cortando-se o mal pela raiz.- É desgraçadamente assim; mas se a sociedade abandonadesumanamente essas vítimas ao furor de seus algozes, ainda há no mundoalmas generosas que se incumbem de protegê-las ou vingá-las. Quantoa mim protesto, Geraldo, enquanto no meu peito pulsar um coração,hei de disputar <strong>Isaura</strong> à escravidão com todas as minhas forças, e espero que

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