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A Escrava Isaura

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mais humilhante irrisão! faze idéia de quanto eu ficaria confuso e corrido diantedaquelas ilustres damas, com as quais tinha feito ombrear uma escrava empleno baile, perante a mais distinta e brilhante sociedade!...- E o que mais é, - acrescentou Geraldo, - uma escrava queas ofuscava a todas por sua rara formosura e brilhantes talentos. Nemde propósito poderias preparar-lhes mais tremenda humilhação, umcrime, que nunca te perdoarão, posto que saibam que tambémandavas iludido.- Pois bem, Geraldo; eu, que naquela ocasião, desairado e confuso,não sabia onde esconder a cara, hoje rio e me aplaudo por terdado ocasião a semelhante aventura. Parece que Deus de propósitotinha preparado aquela interessante cena, para mostrar de um modopalpitante quanto é vã e ridícula toda a distinção que provém donascimento e da riqueza, e para humilhar até o pó da terra o orgulhoe fatuidade dos grandes, e exaltar e enobrecer os humildes de nascimento,mostrando que uma escrava pode valer mais que uma duquesa.Pouco durou aquela primeira e desagradável impressão. Bem depressaa compaixão, a curiosidade, o interesse, que inspira o infortúnio emuma pessoa daquela ordem, e talvez também o amor, que nem comaquele estrondoso escândalo pudera extinguir-se em meu coração,fizeram-me esquecer tudo, e resolvi-me a proteger francamente e atodo o transe a formosa cativa. Apenas consegui que <strong>Isaura</strong> recobrasseos sentidos, e a vi fora de perigo, corri à casa do chefe de polícia,e expondo-lhe o caso, graças às relações de amizade, que com ele tenho,obtive permissão para que <strong>Isaura</strong> e seu pai, - fica sabendo que érealmente seu pai, - pudessem recolher-se livremente à sua casa, ficandoeu por garantia de que não desapareceriam; e assim se efetuou, adespeito dos bramidos do Martinho, que teimava em não querer largara presa. Todavia, no dia seguinte pela manhã, o mesmo chefe, pesando agravidade e importância do negócio, quis que ela fosse conduzida àsua presença para interrogá-la e verificar a identidade de pessoa.Encarreguei-me de conduzi-la. Oh! se a visses então!... Através daslágrimas, que lhe arrancava sua cruel situação, transparecia, em todo oseu brilho, a dignidade humana. Nada havia nela que denunciasse a abjeção doescravo, ou que não revelasse a candura e nobreza de sua alma. Era oanjo da dor exilado do céu e arrastado perante os tribunais humanos.Cheguei a duvidar ainda da cruel realidade. O chefe de polícia,possuído de respeito e admiração diante de tão gentil e nobrefigura, tratou-a com toda a amabilidade, e interrogou-a com brandura epolidez. Coberta de rubor e pejo confessou tudo com a ingenuidade de umaalma pura. Fugira em companhia de seu pai, para escapar ao amor deum senhor devasso, libidinoso e cruel, que a poder de violências etormentos tentava forçá-la a satisfazer seus brutais desejos. Mas <strong>Isaura</strong>, aquem uma natureza privilegiada secundada pela mais fina e esmeradaeducação, inspirara desde a infância o sentimento da dignidade e dopudor, repeliu com energia heróica todas as seduções e ameaças de seuindigno senhor. Enfim, ameaçada dos mais aviltantes e bárbaros tratamentos,que já começavam a traduzir-se em vias de fato, tomou o partido extremo defugir, o único que lhe restava.- O motivo da fuga, Álvaro, a ser verdadeiro, é o mais honrosopossível para ela, e a toma uma heroína; mas... enfim de contas ela não

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