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A Escrava Isaura

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cozinheira.Triste consolação! o estigma do cativeiro não podia apagar da belafronte de <strong>Isaura</strong>, antes mais realçava o cunho de superioridade que osopro divino nela havia gravado em caracteres indeléveis.Entre os mancebos a impressão era bem diferente. Poucos, bempoucos, deixavam de tomar vivo interesse e compaixão pela sorte dainfeliz e formosa escrava. Por todos os cantos falava-se e discutia-secom calor a respeito do caso. Alguns, a despeito da evidência dos indíciose da confissão de <strong>Isaura</strong>, ainda duvidavam da verdade que tinham diantedos olhos.- Não; aquela mulher não pode ser uma escrava, - diziam eles,- aqui há algum mistério, que algum dia se desvendará.- Qual mistério? o caso é muito factível, e ela mesma o confessou.Mas quem será esse bruto e desalmado fazendeiro, que conservano cativeiro uma tão linda criatura?- Deve ser algum lorpa de alma bem estúpida e sórdida.- Se não for algum sultãozinho de bom gosto, que a quer para oseu serralho.- Seja como for, esse bruto deve ser constrangido a dar-lhe aliberdade. Na senzala uma mulher que merecia sentar-se num trono!...- Também só o infame do Martinho, com o seu satânico instintode cobiça, poderia farejar uma escrava na pessoa daquele anjo! queimpudência! se o visse agora aqui, era capaz de estrangulá-lo!Entretanto, Martinho, que se havia previamente munido de ummandado de apreensão, e se fazia acompanhar de um oficial de justiça,exigia terminantemente que se lhe fizesse entrega de <strong>Isaura</strong>. Álvaro, porém,interpondo o valimento e prestígio de que gozava, opôs-se decididamente aessa exigência, e tomando por testemunhas as pessoas que ali se achavam,constituiu-se fiador da escrava, comprometendo-se a entregá-la a seu senhor,ou a quem por ordem dele a reclamasse. Em vão Martinho quis insistir; umamultidão de vozes, que o apupavam e cobriam de injúrias, forçaram-no acalar-se e desistir de sua pretensão.- Ah! malditos! querem-me roubar! - bradava Martinho comoum possesso. - Meus cinco contos! ai! meus cinco contos! lá se vãopela água abaixo.E dizendo isto procurou a escada, e saltando-a aos dois e trêsdegraus, lá se foi bramindo pela porta a fora.Capítulo 15Já é passado cerca de um mês depois dos acontecimentos queacabamos de narrar. <strong>Isaura</strong> e Miguel, graças à valiosa intervenção deÁlvaro, continuam a habitar a mesma pequena chácara no bairro deSanto Antônio. Já não lhes sendo mais possível pensar em fugir paramais longe nem ocultarem-se, ali se conservam por conselho de seuprotetor, esperando o resultado dos passos que este se comprometera adar em favor deles, porém sempre na mais angustiosa inquietação,como Dâmocles tendo sobre a cabeça aguda espada suspensa por um fio.Álvaro vai quase todos os dias à casa dos dois foragidos, e ali

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