13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de truão ou palhaço, servia de instrumento às vinganças e paixões mesquinhasde entes tão ignóbeis como ele, servia para justificar a desconfiança de Álvaro,que acabou por não sentir senão asco e indignação por tão infame procedimento.- Senhor Martinho, - bradou ele com voz severa, - se alguémpagou-lhe para vir achincalhar-me a mim e a esta senhora, diga quantoganha, que estou pronto a dar-lhe o dobro para nos deixar em paz.A esta sanguinolenta afronta, a larga e impudente cara do Martinhonem de leve se alterou, e por única resposta:- Torno a repetir, - bradou com todo o descaramento, - e emvoz bem alta, para que todos ouçam: esta senhora que aqui se acha, éuma escrava fugida, e eu estou encarregado de apreendê-la e entregá-laa seu senhor.Entretanto <strong>Isaura</strong>, avistando seu pai, que também a procurava portoda a parte com os olhos, largando o braço de Álvaro correu a ele,lançou-se-lhe nos braços, e escondendo o rosto em seu ombro:- Que opróbrio, meu pai! - exclamou com voz sumida e a soluçar.- Eu bem estava pressentindo!...- Este homem, se não é um insolente, ou está louco ou bêbado,- bradava Álvaro pálido de cólera. - Em todo o caso deve ser enxotadocomo indigno desta sociedade.Já alguns amigos de Álvaro agarrando o Martinho pelo braço, sedispunham a pó-lo pela porta a fora, como a um ébrio ou alienado.Devagar, meus amigos, devagar!.., disse-lhes ele com toda acalma. - Não me condenem sem primeiro ouvirem-me. Escutemprimeiro este anúncio que lhes vou ler, e se não for verdade o que eudigo, dou-lhes licença para me cuspirem na cara, e me atiraremda janela abaixo.Entretanto, esta pequena altercação começava a atrair a atençãogeral, e numerosos grupos movidos de curiosidade se apinhavam emtorno dos contendores. A frase fatal - esta senhora é uma escrava! -proferida em voz alta por Martinho, transmitida de grupo em grupo, deouvido em ouvido, já havia circulado com incrível celeridade por todasas salas e recantos do espaçoso edifício. Um sussurro geral se propagarapor todo ele, e damas e cavalheiros, e tudo o que ali se achava, inclusivemúsicos, porteiros e fâmulos, atropelando-se uns aos outros, arrojavam-seafanosos para a sala, onde se dava o singular incidente que estamos relatando.A sala estava literalmente apinhada de gente, que afiava o ouvido e alongavao pescoço o mais que podia para ver e ouvir o que se passava.Foi no meio desta multidão silenciosa, imóvel, estupefata e anelante,que Martinho, sacando tranqüilamente da algibeira o anúncio, que nós jáconhecemos, desdobrou-o ante seus olhos, e em voz bem alta e sonora o leude principio a fim.- Bem se vê, - continuou ele concluída a leitura, - que os sinaiscombinam perfeitamente, e só um cego não verá naquela senhoraa escrava do anúncio. Mas para tirar toda a dúvida, só resta examinarse ela tem o tal sinal de queimadura acima do seio, e é coisa que desdejá se pode averiguar com licença da senhora.Dizendo isto, Martinho com impudente desembaraço seencaminhava para <strong>Isaura</strong>.- Alto lá, vil esbirro!... bradou Álvaro com força, e agarrandoo Martinho pelo braço, o arrojou para longe de <strong>Isaura</strong>, e o teria lançado

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!