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A Escrava Isaura

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durante os quais a havia estudado, não havia descoberto nela senão novosencantos e perfeições. Estava plenamente convencido que de todas asformosuras que até ali tinha conhecido, Elvira era em tudo a mais dignade seu amor, e já nem por sombras duvidava da pureza de sua alma,da sinceridade do seu afeto. Pensava portanto que, sem receio algumde comprometer o seu futuro, podia abandonar o coração ao impériodaquela paixão, que já não podia dominar. Quanto à origem eprocedência de Elvira, era coisa de que nem de leve se preocupava, enunca se lembrou de indagar. A distinção de classes repugnava a seusprincípios e sentimentos filantrópicos. Fosse ela uma princesa que odestino obrigava a andar foragida, ou tivesse o berço na palhoça dealgum pobre pescador, isso lhe era indiferente. Conhecia-a em si mesma,sabia que era uma das criaturas mais perfeitas e adoráveis que sepode encontrar sobre a Terra, e era quanto lhe bastava.Observava Alvaro em seus costumes, como já sabemos, a severidadede um quaker, e seria incapaz de abusar do amor que havia inspirado à formosadesconhecida, aninhando em seu espírito um pensamento de sedução.Naquela noite pois o apaixonado mancebo, rendido e deslumbradomais que nunca pelos novos encantos e atrativos que Elvira alardeavaentre os esplendores do baile, não pôde e nem quis dilatar por maistempo a declaração, que a cada instante lhe ardia nos olhos, e esvoaçavapelos lábios, e apenas achou-se em lugar onde pudesse não serouvido senão de Elvira:- D. Elvira, - lhe disse com voz grave e comovida, - se asenhora é um anjo em sua casa, nos salões do baile é uma deusa. Omeu coração há muito já lhe pertence; sinto que o meu destino dehoje em diante depende só da senhora. Funesta ou propícia, a senhoraserá sempre a minha estrela nos caminhos da vida. Creio que me conhecebastante para acreditar na sinceridade de minhas palavras. Sou senhorde uma fortuna considerável; tenho posição honrosa e respeitável nasociedade; mas não poderia jamais ser feliz, se a senhora não consentirem partilhar comigo esses bens, que a fortuna prodigalizou-me.Estas palavras de Álvaro, tão meigas, tão repassadas do maissincera e profundo amor, que em outras condições teriam caído comobálsamo celeste sobre o coração de <strong>Isaura</strong> a banhá-lo em inefáveis eflúviosde ventura, eram agora para ela como um atroz e pungentesarcasmo do destino, um hino do céu ouvido entre as torturas do inferno.Via de um lado um anjo, que, tomando-a pela mão com um suavesorriso, mostrava-lhe um éden de delícias, ao qual se esforçava porconduzi-la, enquanto de outro lado a hedionda figura de um demônioatava-lhe ao pé um pesado grilhão, e com todo o seu peso a arrastavapara um gólfão de eternos sofrimentos.É que a pobre <strong>Isaura</strong>, cheia de sustos e desconfianças, duranteuma pausa tinha notado os movimentos do infame Martinho, quandoencostado ao umbral da saleta com um papel na mão, pareciaexaminá-la com a mais minuciosa atenção. Aquela vista produziu nelao efeito de um raio; não duvidou mais que estava descoberta, eirremissivelmente perdida para sempre. Súbita vertigem lhe escureceu osolhos, pareceu-lhe que o chão lhe faltava debaixo dos pés, e que ia sendotragada pelas fauces de um abismo imensurável. Para não cair foi-lhepreciso agarrar-se fortemente com ambas as mãos ao braço de Álvaro.

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