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A Escrava Isaura

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Não pense o leitor que já se acha terminado o baile a que estávamosassistindo. A pequena digressão que por fora dele fizemos nocapitulo antecedente, nos pareceu necessária para explicar por queconjunto de circunstãncias fatais a nossa heroína, sendo uma escrava, foiimpelida a tomar a audaciosa resolução de apresentar-se em umesplêndido e aristocrático sarau, - fraqueza de coração, ou timidez decaráter, que pode ser desculpada, mas não plenamente justificada emuma pessoa de consciência tão delicada e de tão esclarecidoentendimento.O baile continua, mas já não tão animado e festivo como ao princípio.Os aplausos frenéticos, a admiração geral, de que <strong>Isaura</strong> se haviatornado objeto da parte dos cavalheiros, tinham produzido um completoresfriamento entre as mais belas e espirituosas damas da reunião.Arrufadas com seus cavalheiros prediletos, em razão das entusiásticashomenagens, que francamente iam render aos pés daquela queimplicitamente estavam proclamando a rainha do salão, já nem ao menosqueriam dançar, e em vez de tisos folgazões, e de uma conversaçãofranca e jovial, só se ouviam pelos cantos entre diversos gruposexpansões misteriosamente sussurradas, e cochichos segredados entreamarelas e sarcásticas risotas.Propagava-se entre as moças como que um sussurro geral dedescontentamento. Era como esses rumores surdos e profundos, querestrugem ao longe pelo espaço, precedendo uma grande tempestade.Dir-se-ia que já estavam adivinhando que aquela mulher, que porseus encantos e dotes incomparáveis as estava suplantando a todas,não era mais do que - uma escrava. Muitas mesmo se foram retirando,nomeadamente aquelas que afagavam alguma esperança, ou se julgavamcom algum direito sobre o coração de Álvaro. Aniquiladas sob o pesodos esmagadores triunfos de <strong>Isaura</strong>, não se achando com ânimo demanterem-se por mais tempo na liça, tomaram o prudente partido deirem esconder no misterioso recinto das alcovas o despeito e vergonhade tão cruel e solene derrota.Não diremos todavia que no meio de tantas e tão nobres damas,distintas pelos encantos do espírito e do corpo, não houvesse muitasque, com toda a isenção e sem a menor sombra de inveja, admirassema beleza de <strong>Isaura</strong>, e aplaudissem de coração e com sincero prazer osseus triunfos, e foram essas que conseguiram ir dando alguma vida aosarau, que sem elas teria esmorecido inteiramente. Todavia não émenos certo que do belo sexo, sem distinção de classes, ao menosa metade é ludibrio dessas invejas, ciúmes e rivalidades mesquinhas.Deixamos <strong>Isaura</strong> indo tomar parte em uma quadrilha, tendo Álvaropor seu par. Enquanto dançam, entremos em uma saleta, onde há mesas dejogo, e bufetes guarnecidos de licoreiras, de garrafas de cerveja echampanha. Esta saleta comunica imediatamente com o salão onde sedança, por uma larga porta aberta. Acham-se ai uma meia dúzia derapazes, pela maior parte estudantes, desses com pretensões a estróinase excêntricos à Byron, e que já enfastiados da sociedade, dos prazeres e dasmulheres, costumam dizer que não trocariam uma fumaça decharuto, ou um copo de champanha, pelo mais fagueiro sorriso damais formosa donzela; desses descridos, que vivem a apregoar em

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