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A Escrava Isaura

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dia seguinte, tinha de deixar aquela terra e separar-se de Álvaro,sem esperança alguma de jamais tornar a vê-lo, sem poder dizer-lhe umadeus, sem que ele pudesse saber quem ela era, nem para onde ia,dilacerava-lhe o coração. Partir sem ter um ente a quem apertar nos braçosna hora da despedida, nem ter um seio onde verter as lágrimas damais pungente saudade; partir para levar uma vida errante e fugitiva, semesperança nem consolação alguma, através de mil trabalhos e perigos,para terminá-la talvez entre os tormentos da mais atroz escravidão, oh!...isto era pavoroso! - e, entretanto, era esse o único futuro que a pobre<strong>Isaura</strong> tinha diante dos olhos. Mas não; tinha ainda diante de si umanoite inteira de prazer e de ventura, uma noite esplêndida de baile eregozijo de seu amante, respirando o mesmo ar, inebriando-se de suavoz, bebendo o seu hálito, recolhendo dentro d'alma seus olharesapaixonados, sentindo na sua a pressão daquela mão adorada, contando aspulsações daquele coração, que só por ela palpitava. Oh! uma noiteassim valia bem uma eternidade, viessem depois embora as angústias eperigos, a escravidão e a morte!Cândida e modesta como era, nem por isso <strong>Isaura</strong> deixava de terconsciência do quanto valia. Vendo-se o objeto do amor de um jovemde espírito elevado, e dotado de tão nobres e brilhantes qualidadescomo Álvaro, ainda mais se confirmou na idéia que de si mesma fazia.Com sua natural perspicácia e penetração, bem depressa convenceu-sede que o afeto que o mancebo lhe consagrava não era simples esuperficial homenagem rendida a seus encantos e talentos, nem tampoucopassageiro capricho de mocidade, mas verdadeira paixão, sincera,enérgica e profunda. Era isso para ela motivo de um orgulho íntimo,que a elevava a seus próprios olhos, e por momentos a fazia esquecer-seque era uma escrava.- Estou convencida de que sou digna do amor de Álvaro, senão,ele não me amaria; e se sou digna de seu amor, por que não o serei deme apresentar no seio da mais brilhante sociedade? A perversidade doshomens pode acaso destruir o que há de bom e de belo na feitura doCriador? Assim refletia <strong>Isaura</strong>, e exaltada com estas idéias e com a sedutoraperspectiva de algumas horas de inefável ventura em companhiado amante exclamava dentro d'alma: - Hei de ir, hei de ir ao baile!Enquanto <strong>Isaura</strong>, silenciosa e com a face na mão, se embebia emsuas cismas, procurando firmar-se em uma resolução, o pai, não menosinquieto e preocupado, passeava distraído entre os canteiros do jardim,aguardando com ansiedade uma resposta definitiva de sua filha.- Irei, meu pai, irei ao baile, - disse ela por fim levantando-se,mas vou preparar-me para ele como a vítima que tem de ser conduzidaao sacrifício entre cânticos e flores. Tenho um cruel pressentimento,que me acabrunha...- Pressentimento de quê, <strong>Isaura</strong>?...- Não sei, meu pai; de alguma desgraça.- Pois quanto a mim, <strong>Isaura</strong>, o coração como que está-me adivinhandoque de ir a esse baile resultará a nossa salvação.Capitulo 13

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