13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Desculpe-me, - murmurou <strong>Isaura</strong> - uma pobre moça criadacomo eu na solidão da roça, e que não está acostumada a tão esplêndidasreuniões, sente-se abafada e constrangida...- Oh! não... há de acostumar-se, eu espero. As luzes, o esplendor,as harmonias, os perfumes, constituem a atmosfera em que devebrilhar a beleza, que Deus criou para ser vista e admirada. Vim buscá-laa pedido de alguns cavalheiros, que já são admiradores de V. Ex.ª. Parainterromper a monotonia das valsas e quadrilhas, costumam aqui as senhorasencantar-nos os ouvidos com alguma canção, ária, modinha, ouseja o que for. Algumas pessoas a quem eu disse, - perdoe-me aindiscrição, filha do entusiasmo - que V. Ex.ª possui a mais linda voz, ecanta com maestria, mostram o mais vivo desejo de ouvi-la.- Eu, senhor Álvaro!... eu cantar diante de uma tão luzida reunião!...por favor, queira dispensar-me dessa nova prova. É em seupróprio interesse que lhe digo; canto mal, sou muito acanhada, e estoucerta que irei solenemente desmenti-lo. Poupe-nos a nós ambos essavergonha.- São desculpas, que não posso aceitar, porque já a ouvi cantar,e creia-me, D. Elvira, se eu não tivesse a certeza de que a senhoracanta admiravelmente, não seria capaz de expô-la a um fiasco. Quemcanta como V. Ex.ª não deve acanhar-se, e eu por minha parte peço-lheencarecidamente que não cante outra coisa, senão aquela maviosacanção da escrava, que outro dia a surpreendi cantando, e afianço a V. Ex.ªque arrebatará os ouvintes.- Por que razão não pode ser outra? essa desperta-me recordações tãotristes...- E é talvez por isso mesmo, que é tão linda nos lábios de V. Ex.ª.- Ai! triste de mim! - suspirou dentro da alma D. Elvira: -aqueles mesmos que mais me amam, tomam-se, sem o saber, os meusalgozes!...Elvira bem quisera escusar-se a todo transe; cantar naquela ocasiãoera para ela o mais penoso dos sacrifícios. Mas não lhe era mais possível relutar,e lembrando-se do judicioso conselho de seu pai, não quismais ver-se rogada, e aceitando o braço que Álvaro lhe oferecia, foi porele conduzida ao piano, onde sentou-se com a graça e elegância dequem se acha completamente familiarizada com o instrumento.Uma multidão de cabeças curiosas, e de corações palpitando namais ansiosa expectação, se apinharam em volta do piano; os cavalheirosestavam ansiosos por saberem se a voz daquela mulher correspondia à suaextraordinária beleza; se a fada seria também uma sereia; asmoças esperavam, que ao menos naquele terreno, teriam o prazer dever derrotada a sua formidável êmula, e já contavam compará-la com opavão da fábula, queixando-se a Juno que, o tendo formado a maisbela das aves, não lhe dera outra voz mais que um guincho áspero edesagradável.A conjuntura era delicada e solene; a moça achava-se na difícilsituação de uma prima-dona, que, precedida de uma grande reputação,faz a sua estréia perante um público exigente e ilustrado. Em tomo delafazia-se profundo silêncio; as respirações estavam como que suspensas,ao passo que parecia ouvir-se o palpitar de todos os corações no ofegoda expectação. Álvaro, apesar de conhecer já a excelência da voz de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!