13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sentado junto um do outro; - que vim eu aqui fazer, eu pobre escrava, no meiodos saraus dos ricos e dos fidalgos!... este luxo, estas luzes, estas homenagens,que me rodeiam, me perturbam os sentidos e causam-me vertigem. É um crimeque cometo, envolvendo-me no meio de tão luzida sociedade; é uma traição,meu pai; eu o conheço, e sinto remorsos... Se estas nobres senhorasadivinhassem que ao lado delas diverte-se e dança uma miserávelescrava fugida a seus senhores!... <strong>Escrava</strong>! - exclamou levantando-se - escrava!...afigura-se-me que todos estão lendo, gravada em letras negras em minha fronte,esta sinistra palavra!... fujamos daqui, meu pai, fujamos! esta sociedadeparece estar escarnecendo de mim; este ar me sufoca... fujamos.Falando assim a moça, pálida e ofegante, lançava a cada fraseolhares inquietos em roda de si, e empuxava o braço de seu pai, repetindosempre com ansiosa sofreguidão:- Vamo-nos, meu pai; fujamos daqui.- Sossega teu coração, minha filha, - respondeu o velho procurandoacalmá-la. - Aqui ninguém absolutamente pode suspeitar quemtu és. Como poderão desconfiar que és uma escrava, se de todas essaslindas e nobres senhoras nem pela formosura, nem pela graça e prendasdo espirito nenhuma pode levar-te a palma?- Tanto pior, meu pai; sou alvo de todas as atenções, e essesolhares curiosos, que de todos os cantos se dirigem sobre mim, fazem-mea cada instante estremecer; desejaria até que a terra se abrisse debaixo de meuspés, e me sumisse em seu seio.- Deixa-te dessas idéias; esse teu medo e acanhamento é quepoderiam nos pôr a perder, se acaso houvesse o mais leve motivo dereceio. Ostenta com desembaraço todos os seus encantos e habilidades,dança, canta, conversa, mostra-te alegre e satisfeita, que longe de tesuporem uma escrava, são capazes de pensar que és uma princesa.Toma ânimo, minha filha, ao menos por hoje; esta também, assimcomo é a primeira, será a derradeira vez que passaremos por esteconstrangimento; não nos é possível ficar por mais tempo nesta terra, ondecomeçamos a despertar suspeitas.- É verdade, meu pai!... que fatalidade!... - respondeu a moçacom uma triste oscilação de cabeça. - Assim pois estamos condenadosa vagar de pais em país, sequestrados da sociedade, vivendo no mistério, eestremecendo a todo instante, como se o céu nos tivesse marcadocom um ferrete de maldição!... ah! esta partida há de me doer bem nocoração!... não sei que encanto me prende a este lugar. Entretanto, tereide dizer adeus eterno a... esta terra, onde gozei alguns dias de prazer etranqüilidade! Ah! meu Deus!... quem sabe se não teria sido melhormorrer entre os tormentos da escravidão!...Neste momento entrava Álvaro na ante-sala percorrendo-a com osolhos, como quem procurava alguém.- Onde se sumiriam? - vinha ele murmurando; - teriam tido atriste lembrança de se irem embora?... oh! não; felizmente ei-los ali! -exclamou alegremente, dando com os olhos nos dois personagens queacabamos de ouvir conversar. - D. Elvira, V. Ex.ª. é modesta demais;vem esconder-se neste recanto, quando devia estar brilhando no salão,onde todos suspiram pela sua presença. Deixe isso para as tímidas efanadas violetas; à rosa compete alardear em plena luz todos os seusencantos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!