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A Escrava Isaura

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ponderando que a fortuna de que pelo acaso do nascimento erasenhor, por outro acaso lhe podia ser tirada, quis para ter uma profissãoqualquer, dedicar-se ao estudo do Direito. No primeiro ano, enquantopairava pelas altas regiões da filosofia do direito, ainda achou algumprazer nos estudos acadêmicos; mas quando teve de embrenhar-se nointrincado labirinto dessa árida e enfadonha casuística do direito positivo,seu espírito eminentemente sintético recuou enfastiado, e não teveânimo de prosseguir na senda encetada. Alma original, cheia de grandese generosas aspirações, aprazia-se mais na indagação das altas questõespolíticas e sociais, em sonhar brilhantes utopias, do que em estudar einterpretar leis e instituições, que pela maior parte, em sua opinião, sótinham por base erros e preconceitos os mais absurdos.Tinha ódio a todos os privilégios e distinções sociais, e é escusadodizer que era liberal, republicano e quase socialista.Com tais idéias Álvaro não podia deixar de ser abolicionistaexaltado, e não o era só em palavras. Consistindo em escravos uma nãopequena porção da herança de seus pais, tratou logo de emancipá-lostodos. Como porém Álvaro tinha um espírito nimiamente filantrópico,conhecendo quanto é perigoso passar bruscamente do estado de absolutasubmissão para o gozo da plena liberdade, organizou para os seuslibertos em uma de suas fazendas uma espécie de colônia, cuja direçãoconfiou a um probo e zeloso administrador. Desta medida podiam resultargrandes vantagens para os libertos, para a sociedade, e para o próprio Álvaro.A fazenda lhes era dada para cultivar, a título de arrendamento, e elessujeitando-se a uma espécie de disciplina comum, não só preservavam-sede entregar-se à ociosidade, ao vício e ao crime, tinham segura a subsistênciae podiam adquirir algum pecúlio, como também poderiam indenizar a Álvaro dosacrifício, que fizera com a sua emancipação. Original e excêntrico como umrico lorde inglês, professava em seus costumes a pureza e severidadede um quaker. Todavia, como homem de imaginação viva e coraçãoimpressionável, não deixava de amar os prazeres, o luxo, a elegância,e sobretudo as mulheres, mas com certo platonismo delicado, certapureza ideal, próprios das almas elevadas e dos corações bem formados.Entretanto, Álvaro ainda não havia encontrado até ali a mulher que lhedevia tocar o coração, a encarnação do tipo ideal, que lhe sorria nos sonhosvagos de sua poética imaginação. Com tão excelentes e brilhantes predicados,Álvaro por certo devia ser objeto de grande preocupação no mundoelegante, e talvez o almejo secreto, que fazia palpitar o coração de maisde uma ilustre e formosa donzela. Ele, porém, igualmente cortês eamável para com todas, por nenhuma delas ainda havia dado o mínimosinal de predileção.Pode-se fazer idéia do desencanto, do assombro, da terríveldecepção que reinou nos círculos das belas pernambucanas ao verem ovivo interesse e solicitude de que Álvaro rodeava uma obscura epobre moça; a deferência com que a tratava, e os entusiásticos elogiosque sem rebuço lhe prodigalizava. Juno e Palas não ficaram tãodespeitadas, quando o formoso Páris conferiu a Vênus o prêmio da formosura.Já antes daquele sarau, Álvaro em alguns círculos de senhorashavia falado de Elvira em termos tão lisonjeiros e mesmo com certaeloquência apaixonada, que a todas surpreendeu e inquietou. As moçasardiam por ver aquele protótipo de beleza, e já de antemão choviam sobre a

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