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A Escrava Isaura

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como a violeta entre a folhagem, ou como fada misteriosa em uma grutaencantada.- É célebre! - retorquiu o doutor - mas como chegaste a descobriressa ninfa encantada, e a ter entrada em sua gruta misteriosa?- Eu vos conto em duas palavras. Passando eu um dia a cavalopor sua chácara, avistei-a sentada em um banco do pequeno jardim dafrente. Surpreendeu-me sua maravilhosa beleza. Como viu que eu acontemplava com demasiada curiosidade, esgueirou-se como umaborboleta entre os arbustos floridos e desapareceu. Formei o firmepropósito de vê-la e de falar-lhe, custasse o que custasse. Por mais, porém,que indagasse por toda a vizinhança, não encontrei uma só pessoa quese relacionasse com ela e que pudesse apresentar-me. Indaguei por fimquem era o proprietário da chácara, e fui ter com ele. Nem esse podiadar-me informações, nem servir-me em coisa alguma. O seu inquilinovinha todos os meses pontualmente adiantar o aluguel da chácara; eistudo quanto a respeito dele sabia. Todavia continuei a passar todas astardes por defronte do jardim, mas a pé para melhor podersurpreendêla e admirá-la; quase sempre, porém, sem resultado. Quandoacontecia estar no jardim, esquivava-se sempre às minhas vistas como daprimeira vez. Um dia, porém, quando eu passava, caiu-lhe o lenço aolevantar-se do banco; a grade estava aberta; tomei a liberdade de penetrarno jardim, apanhei o lenço, e corri a entregar-lho, quando já ela punha o péna soleira de sua casa. Agradeceu-me com um sorriso tão encantador,que estive em termos de cair de joelhos a seus pés; mas não mandou-meentrar, nem fez-me oferecimento algum.- Esse lenço, Álvaro, - atalhou um cavalheiro, - decerto ela odeixou cair de propósito, para que pudesses vê-la de perto e falar-lhe. Éum apuro de romantismo, um delicado rasgo de coquetterie.- Não creio; não há naquele ente nem sombra de coquetterie;tudo nela respira candura e singeleza. O certo é que custei a arrancarmeus pés daquele lugar, onde uma força magnética me retinha, e queparecia rescender um misterioso eflúvio de amor, de pureza e de aventura...Álvaro pára em sua narrativa, como que embevecido em tãosuaves recordações.- E ficaste nisso, Alvaro! - perguntava outro cavalheiro; - o teuromance está-nos interessando; vamos por diante, que estou aflito porver a peripécia...- A peripécia?.., oh! essa ainda não chegou, e nem eu mesmo seiqual será. Esgotei enfim os estratagemas possíveis para ter entrada nosantuário daquela deusa; mas foi tudo baldado. O acaso enfim veio emmeu socorro, e serviu-me melhor do que toda a minha habilidade ediligência. Passeando eu uma tarde de carro no bairro de SantoAntônio, pelas margens do Beberibe, passeio que se tornara para mim umadevoção, avistei um homem e uma mulher navegando a todo pano emum pequeno bote.Instantes depois o bote achou-se encalhado em um banco de areia.Apeei-me imediatamente, e tomando um escaler na praia, fui em socorro dosdois navegantes que em vão forcejavam por safar a pequenaembarcação. Não podem fazer idéia da deliciosa surpresa que senti, aoreconhecer nas duas pessoas do bote a minha misteriosa da chácara eseu pai...

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