13.07.2015 Views

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

A Escrava Isaura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Neste momento chega André trazendo o tronco e as algemas, quedeposita sobre um banco, e retira-se imediatamente.Ao ver aqueles bárbaros e aviltantes instrumentos de suplícioturvaram-se os olhos a <strong>Isaura</strong>, o coração se lhe enregelou de pavor, aspernas lhe desfaleceram, caiu de joelhos e debruçando-se sobre otamborete, em que fiava, desatou uma torrente de lágrimas.- Alma de minha sinhá velha! - exclamou com voz entrecortadade soluços, - valei-me nestes apuros; valei-me lá do céu, onde estais,como me valíeis cá na Terra.- <strong>Isaura</strong>, - disse Leôncio com voz áspera apontando para osinstrumentos de suplício, - eis ali o que te espera, se persistes em teulouco emperramento. Nada mais tenho a dizer-te; deixo-te livre ainda, efica-te o resto do dia para refletires. Tens de escolher entre o meu amore o meu ódio. Qualquer dos dois, tu bem sabes, são violentos epoderosos. Adeus!...Quando <strong>Isaura</strong> sentiu que seu senhor se havia ausentado, ergueu orosto, e levantando ao céu os olhos e as mãos juntas, dirigiu à Rainhados anjos a seguinte fervorosa prece, exalada entre soluços do maisíntimo de sua alma:- Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vóssabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-meneste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me.Livrai-me das garras de um algoz, que ameaça não só a minha vida,como a minha inocência e honestidade. Iluminai-lhe o espírito einfundi-lhe no coração brandura e misericórdia para que se compadeçade sua infeliz cativa. É uma humilde escrava que com as lágrimasnos olhos e a dor no coração vos roga pelas vossas dores sacrossantas,pelas chagas de vosso Divino Filho: valei-me por piedade.Quanto <strong>Isaura</strong> era formosa naquela suplicante e angustiosaatitude! oh! muito mais bela do que em seus momentos de serenidade eprazer!... se a visse então, Leôncio talvez sentisse abrandar-se o férreo eobcecado coração. Com os olhos arrasados em lágrimas, que em fio lheescorregavam pelas faces desbotadas, entreaberta a boca melancólica,que lhe tremia ao passar da prece murmurada entre soluços, atiradasem desordem pelas espáduas as negras e opulentas madeixas, voltandopara o céu o busto mavioso plantado sobre um colo escultural,ofereceria ao artista inspirado o mais belo e sublime modelo para aefígie da Mãe Dolorosa, a quem nesse momento dirigia suas ardentessúplicas. Os anjos do céu, que por certo naquele instante adejavam emtorno dela agitando as asas de ouro e carmim, não podiam deixar delevar tão férvida e dolorosa prece aos pés do trono da Consoladora dosaflitos.Absorvida em suas mágoas <strong>Isaura</strong> não viu seu pai, que, entrandopelo salão a passos sutis e cautelosos, encaminhava-se para ela.- Oh! felizmente ela ali está, - murmurava o velho, - o algozaqui também andava! oh! pobre <strong>Isaura</strong>!... que será de ti?!...- Meu pai por aqui!... - exclamou a infeliz ao avistar Miguel. -Venha, venha ver a que estado reduzem sua filha.- Que tens, filha?... que nova desgraça te sucede?- Não está vendo, meu pai?... eis ali a sorte, que me espera, -respondeu ela apontando para o tronco e as algemas, que ali estavam

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!