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A Escrava Isaura

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vez menos tratável e benigna para com a escrava, que antes haviatratado com carinho e intimidade quase fraternal.Malvina era boa e confiante, e nunca teria duvidado da inocênciade <strong>Isaura</strong>, se não fosse Rosa, sua terrível êmula e figadal inimiga.Depois do desaguisado, de que <strong>Isaura</strong> foi causa inocente, Rosa ficou sendoa mucama ou criada da câmara de Malvina, e esta às vezes desabafavaem presença da maligna mulata os ciúmes e desgostos que lhe ferviame transvazavam do coração.- Sinhá está-se fiando muito naquela sonsa... - dizia-lhe amaliciosa rapariga. - Pois fique certa que não são de hoje esses namoricos;há muito tempo que eu estou vendo essa impostora, que diante dasinhá se faz toda simplória, andar-se derretendo diante de sinhô moço.Ela mesmo é que tem a culpa de ele andar assim com a cabeça virada.Estes e outros quejandos enredos, que Rosa sabia habilmenteinsinuar nos ouvidos de sua senhora, eram bastantes para desvairaro espírito de uma cândida e inexperiente moça como Malvina, e foramproduzindo o resultado que desejava a perversa mulatinha.Acabrunhada com aquele novo infortúnio, <strong>Isaura</strong> fez algumastentativas para achegar-se de sua senhora, e saber o motivo por que lheretirava a afeição e confiança, que sempre lhe mostrara, e a fim depoder manifestar sua inocência. Mas era recebida com tal friezae altivez, que a infeliz recuava espavorida para de novo ir mergulhar-se maisfundo ainda no pego de suas angústias e desalentos.Todavia, enquanto Malvina se conservava em casa, era sempreuma salvaguarda, uma sombra protetora, que amparava <strong>Isaura</strong> contraas importunações e brutais tentativas de Leôncio. Por menor que fosseo respeito, que lhe tinha o marido, ela não deixava de ser um poderosoestorvo ao menos contra os atos de violência, que quisesse pôr emprática para conseguir seus execrandos fins. <strong>Isaura</strong> ponderava isso tudo,e é custoso fazer-se idéia do estado de terror e desfalecimento em queficou aquela pobre alma quando viu partir sua senhora, deixando-ainteiramente ao desamparo, entregue sem defesa aos insanos e bárbaroscaprichos daquele que era seu senhor, amante e algoz ao mesmo tempo.De feito, Leôncio mal viu sumir-se a esposa por trás da últimacolina, não podendo conter mais a expansão de seu satânico júbilo, tratoulogo de pôr o tempo em proveito, e pôs-se a percorrer toda a casa emprocura de <strong>Isaura</strong>. Foi enfim dar com ela no escuro recanto de umaalcova, estendida por terra, quase exânime, banhada em pranto earrancando do peito soluços convulsivos.Poupemos ao leitor a narração da cena vergonhosa que aí se deu.Contentemo-nos com dizer que Leôncio esgotou todos os meios brandose suasivos ao seu alcance para convencer a rapariga que era dointeresse e dever dela render-se a seus desejos. Fez as mais esplêndidaspromessas, e os mais solenes protestos; abaixou-se até às mais humildessúplicas, e arrastou-se vilmente aos pés da escrava, de cuja boca nãoouviu senão palavras amargas, e terríveis exprobrações; e vendo enfimque eram infrutíferos todos esses meios, retirou-se cheio de cólera,vomitando as mais tremendas ameaças.Para dar a essas ameaças começo de execução, nesse mesmo diamandou pô-la trabalhando entre as fiandeiras, onde a deixamos no capítuloantecedente. Dali teria de ser levada para a roça, da roça para o tronco,

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