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A Escrava Isaura

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momento! Como não devia viver aflito e atribulado aquele coração!Dentro de casa contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado emroubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o coração: três amantes,Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula terrível e desapiedada, Rosa. Fácillhe fora repelir as importunações e insolências dos escravos e criados;mas que seria dela, quando viesse o senhor?!...De feito, poucos instantes depois Leôncio, acompanhado pelofeitor, entrava no salão das fiandeiras. <strong>Isaura</strong>, que um momentosuspendera o seu trabalho, e com o rosto escondido entre as mãos seembevecia em amargas reflexões, não se apercebera da presença deles.- Onde estão as raparigas que aqui costumam trabalhar?... perguntouLeôncio ao feitor, ao entrar no salão.- Foram jantar, senhor; mas não tardarão a voltar.- Mas uma cá se deixou ficar... ah! é a <strong>Isaura</strong>... Ainda bem! -refletiu consigo Leôncio, - a ocasião não pode ser mais favorável;tentemos os últimos esforços para seduzir aquela empedernida criatura.Logo que acabem de comer, - continuou ele dirigindo-se ao feitor, -leve-as para a colheita do café. Há muito que eu pretendia recomendar-lheisto e tenho-me esquecido. Não as quero aqui mais nem uminstante; isto é um lugar de vadiação, em que perdem o tempo semproveito algum, em continuas palestras. Não faltam por aí tecidos dealgodão para se comprar.Mal o feitor se retirou, Leôncio dirigiu-se para junto de <strong>Isaura</strong>.- <strong>Isaura</strong>! murmurou com voz meiga e comovida.- Senhor! - respondeu a escrava erguendo-se sobressaltada; depoismurmurou tristemente dentro d'alma: - meu Deus! é ele!... échegada a hora do suplício.Capítulo 8Agora nos é indispensável abandonar por alguns instantes <strong>Isaura</strong>em sua penível situação diante de seu dissoluto e bárbaro senhor parainformarmos o leitor sobre o que ocorrera no seio daquela pequenafamília, e em que pé ficaram os negócios da casa, depois que a notíciada morte do comendador, estalando como uma bomba no meio dasintrigas domésticas, veio dar-lhes dolorosa diversão no momento emque elas, refervendo no mais alto grau de ebulição, reclamavamforçosamente um desenlace qualquer.Aquela morte não podia senão prolongar tão melindrosa e deplorávelsituação, pondo nas mãos de Leôncio toda a fortuna patema, edesatando as últimas peias que ainda o tolhiam na expansão de seusabomináveis instintos.Leôncio e Malvina estiveram de nojo encerrados em casa por algunsdias, durante os quais parece que deram tréguas aos arrufos edespeitos recíprocos. Henrique, que queria absolutamente partir no diaseguinte, cedendo enfim aos rogos e instâncias de Malvina, consentiuem ficar-lhe fazendo companhia durante os dias de nojo.- Conforme for o procedimento de meu marido, disse-lhe ela, -iremos juntos. Se por estes dias não der liberdade e um destino qualquera <strong>Isaura</strong>, não ficarei mais nem um momento em sua casa.

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