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A Escrava Isaura

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melhor do que as outras, e não faz caso de ninguém. Deu agora emnamorar os moços brancos, e como o pai diz que há de forrar ela, pensaque e uma grande enhora. Pobre do senhor Miguel!... não tem onde cairmorto, e há de ter para forrar a filha!- Que má língua é esta Rosa! - murmurou enfadada a velhacrioula, relanceando um olhar de repreensão sobre a mulata. - Quemal te fez a pobre <strong>Isaura</strong>, aquela pomba sem fel, que com ser o que e,bonita e civilizada como qualquer moça branca, não é capaz de fazerpouco caso de ninguém?... Se você se pilhasse no lugar dela, pachola eatrevida como és, havias de ser mil vezes pior.Rosa mordeu os beiços de despeito, e ia responder com todo oatrevimento e desgarre, que lhe era próprio, quando uma voz áspera eatroadora, que, partindo da porta do salão, retumbou por todo ele, veiopôr termo à conversação das fiandeiras.- Silêncio! - bradava aquela voz. - Arre! que tagarelice!... pareceque aqui só se trabalha de língua!...Um homem espadaúdo e quadrado, de barba espessa e negra, defisionomia dura e repulsiva, apresenta-se à porta do salão, evai entrando. Era o feitor. Acompanhava-o um mulato ainda novo, esbelto eaperaltado, trajando uma bonita libré de pajem, e conduzindo uma roda defiar. Logo após eles entrou <strong>Isaura</strong>.As escravas todas levantaram-se e tomaram a bênção ao feitor.Este mandou colocar a roda em um espaço desocupado, que infelizmentepara <strong>Isaura</strong> ficava ao pé de Rosa.- Anda cá, rapariga; - disse o feitor voltando-se para <strong>Isaura</strong>. -De hoje em diante é aqui o teu lugar; esta roda te pertence, e tuasparceiras que te dêem tarefa para hoje. Bem vejo que te não há deagradar muito a mudança; mas que volta se lhe há de dar?... teu senhorassim o quer. Anda lá; olha que isto não é piano, não; é acabar depressacom a tarefa para pegar em outra. Pouca conversa e muito trabalhar...Sem se mostrar contrariada nem humilhada com a nova ocupação,que lhe davam, <strong>Isaura</strong> foi sentar-se junto a roda, e pôs-se a prepará-lapara dar começo ao trabalho. Posto que criada na sala e empregadaquase sempre em trabalhos delicados, todavia era ela hábil em todo ogênero de serviço doméstico: sabia fiar, tecer, lavar, engomar, e cozinhartão bem ou melhor do que qualquer outra. Foi pois colocar-secom toda a satisfação e desembaraço entre as suas parceiras; apenasnotava-se no sorriso, que lhe adejava nos lábios, certa expressão demelancólica resignação; mas isso era o reflexo das inquietaçõese angústias, que lhe oprimiam o coração, que não desgosto por se verdegradada do posto que ocupara toda sua vida junto de suas senhoras.Cônscia de sua condição, <strong>Isaura</strong> procurava ser humilde como qualqueroutra escrava, porque a despeito de sua rara beleza e dos dotes de seuespirito, os fumos da vaidade não lhe intumesciam o coração, nemturvavam-lhe a luz de seu natural bom senso. Não obstante porém todaessa modéstia e humildade transiuzia-lhe, mesmo a despeito dela, noolhar, na linguagem e nas maneiras, certa dignidade e orgulho nativo,proveniente talvez da consciência de sua superioridade, e ela sem oquerer sobressaía entre as outras, bela e donosa, pela correção enobreza dos traços fisionômicos e por certa distinção nos gestose ademanes. Ninguém diria que era uma escrava, que trabalhava entre as

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