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A Escrava Isaura

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movimento foi um ímpeto de cólera brutal; esteve a ponto de atirartoalha, pratos, talheres e tudo pelos ares, e ir esbofetear o desassisado einsolente rapaz, que em má hora viera à sua casa para perturbar atranqüilidade do seu viver doméstico. Mas conteve-se a tempo, eacalmando-se entendeu que melhor era não se dar por achado, e encararcom ares da maior indiferença e mesmo de desdém, os arrufos daesposa, e o mau humor do cunhado. Estava bem persuadido que lheseria difícil, se não impossível, dissimular mais aos olhos da esposao seu torpe procedimento; incapaz, porém, de retratar-se e implorarperdão, resolveu amparar-se da tempestade, que ia despenhar-se sobresua cabeça, com o escudo da mais cínica indiferença. Inspiravam-lheeste alvitre o orgulho, e o mau conceito em que tinha todas as mulheres,nas quais não reconhecia pundonor nem dignidade.Depois do almoço Leôncio montou a cavalo, percorreu as roças ecafezais, coisa que bem raras vezes fazia, e ao descambar do Sol voltoupara casa, jantou com o maior sossego e apetite, e depois foi para osalão, onde, repoltreando-se em macio e fresco sofá, pôs-se a fumartranqüilamente o seu havana.Nesse comenos chega Henrique de suas excursões venatórias, edepois de procurar em vão a irmã por todos os cantos da casa, vaienfim encontrá-la encerrada em seu quarto de dormir desfigurada,pálida, e com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.- Por onde andaste, Henrique?... estava aflita por te ver,- exclamou a moça ao avistar o irmão. - Que má moda é essa de deixar agente assim sozinha!...- Sozinha?!... pois até aqui não vivias sem mim na companhia deteu belo marido?...- Não me fales nesse homem... eu andava iludida; agora vejoque andava pior do que sozinha, na companhia de um perverso.- Ainda bem que presenciaste com teus próprios olhos o que eunão tinha ânimo de dizer-te. Mas, vamos! que pretendes fazer?...- O que pretendo?... vais ver neste mesmo instante... Onde estáele?... viste-o por ai?...Se me não engano, vi-o no salão; havia lá um vulto sobre um sofá.- Pois bem, Henrique, acompanha-me até lá.Por que razão não vais só? poupa-me o desgosto de encararaquele homem...- Não, não; é preciso que vás comigo; estava à tua esperamesmo para esse fim. Preciso de uma pessoa que me ampare e mealente. Agora até tenho medo dele.- Ah! compreendo; queres que eu seja teu guarda-costas, parapoderes descompor a teu jeito aquele birbante. Pois bem; presto-me deboa vontade, e veremos se o patife tem o atrevimento de te desrespeitar.Vamos!Capítulo 6- Senhor Leôncio, - disse Malvina com voz alteradaaproximando-se do sofá, em que se achava o marido, - desejo dizer-lheduas palavras, se isso não o incomoda.- Estou sempre às tuas ordens, querida Malvina, - respondeulevantando-se lesto e risonho, e como quem nenhum reparo fizera no

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