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A Escrava Isaura

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- Para quê, senhor...- Basta; não te posso ouvir agora, <strong>Isaura</strong>. Não convém que nosencontrem aqui conversando a sós. Em outra ocasião te escutarei. -preciso estorvar que aquele estonteado vã intrigar-me com Malvina -murmurava Leôncio retirando-se. - Ah! cão! maldita a hora em que tetrouxe à minha casa!- Permita Deus que tal ocasião nunca chegue! - exclamoutristemente dentro da alma a rapariga, vendo seu senhor retirar-se.Ela via com angústia e mortal desassossego as continuas e cada vez maisencarniçadas solicitações de Leôncio, e não atinava com um meio deopor-lhes um paradeiro. Resolvida a resistir até à morte, lembrava-se dasorte de sua infeliz mãe, cuja triste história bem conhecia, pois a tinhaouvido, segredada a medo e misteriosamente, da boca de alguns velhosescravos da casa, e o futuro se lhe antolhava carregado das mais negrase sinistras cores. Revelar tudo a Malvina era o único meio, que se lheapresentava ao espírito, para pôr termo às ousadias do seu marido, e atalharfuturas desgraças. Mas <strong>Isaura</strong> amava muito sua jovem senhora para ousar darsemelhante passo, que iria derramar-lhe no seio um pego de desgostose amarguras, quebrando-lhe para sempre a risonha e doce ilusão emque vivia.Preferia antes morrer como sua mãe, vitima das mais cruéissevícias, do que ir por suas mãos lançar uma nuvem sinistra no céu até alitão sereno e bonançoso de sua querida senhora.O pai de <strong>Isaura</strong>, o único ente no mundo, que à exceção de Malvinase interessava por ela, pobre e simples jornaleiro, não se achavaem estado de poder protegê-la contra as perseguições e violências deque se achava ameaçada. Em tão cruel situação <strong>Isaura</strong> não sabia senãochorar em segredo a sua desventura, e implorar ao céu, do qual somentepodia esperar remédio a seus males.Bem se compreende pois agora aquele acento tão dorido, tãorepassado de angústia, com que cantava a sua canção favorita. Malvinaenganava-se atribuindo sua tristeza a alguma paixão amorosa. <strong>Isaura</strong>conservava ainda o coração no mais puro estado de isenção. Comquanto mais dó não a teria lastimado sua boa e sensível senhora, sepudesse adivinhar a verdadeira causa dos pesares que o ralavam.Capítulo 5<strong>Isaura</strong> despertando de suas pungentes e amargas preocupações.tomou seu balainho de costura e ia deixar o salão, resolvida a sumir-seno mais escondido recanto da casa, ou amoitar-se em algumesconderijo do pomar. Esperava assim esquivar-se à repetição de cenasindecentes e vergonhosas, como essas por que acabava de passar. Apenasdera os primeiros passos foi detida por uma extravagante e grotescafigura, que penetrando no salão veio postar-se diante de seus olhos.Era um monstrengo afetando formas humanas, um homúnculo emtudo mal construído, de cabeça enorme, tronco raquítico, pernas curtase arqueadas para fora, cabeludo como um urso, e feio como um mono.Era como um desses truões disformes, que formavam parte indispensáveldo séquito de um grande rei da Média Idade, para divertimentodele e de seus cortesões. A natureza esquecera de lhe formar o

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