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A Escrava Isaura

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Esta revelação foi para Álvaro como um relâmpago que se abre aosolhos do viandante extraviado em noite tormentosa, mostrando-lhe derepente e bem ao perto o albergue hospitaleiro que demanda.- E V. S.ª porventura é também credor desse fazendeiro? - perguntou Álvaro.- Infelizmente, e um dos principais...- E a quanto montará a fortuna do tal Leôncio?- A menos de nada, presentemente, pois como já lhe disse, o seupassivo excede talvez em mais do dobro a todos os seus bens.- Mas esse passivo mesmo, em que soma é calculado pouco maisou menos?- Calcula-se aproximadamente em quatrocentos e tantos a quinhentoscontos, enquanto que a fazenda de Campos, com escravos e todos os maisacessórios, não excederá talvez a duzentos. Já temos tido com esse fazendeirotodas as atenções possíveis, e lhe temos dado mais moratórias do que a leiconcede; não somos obrigados a mais, e agora estamos resolvidos a cair-lheem cima com a execução.- E quais são os outros credores? V. S.ª quererá indicar-mos?- E por que não? - respondeu o negociante, e passou a indicara Álvaro os nomes e moradas dos demais credores.De feito, a casa de Leôncio, já desde os últimos anos da vida deseu pai, ia em contínuo regresso e desmantelamento. O velhocomendador, entregando-se no último quartel da vida a excessos edevassidões, que nem na mocidade são desculpáveis, vivendo quase semprena corte, e deixando quase em completo abandono a administraçãoda fazenda, havia já esbanjado não pequena porção de sua fortuna.Por efeito da má administração, não só as safras começaram a escassearconsideravelmente, como também o número de escravos foi-se reduzindopela morte e pelas freqüentes fugas, sem que tanto o comendadorcomo seu filho deixassem de substituí-los por outros novos, que iamcomprando a prazo, tornando cada vez mais pesado o ônus das dívidas.Depois da morte do comendador, as coisas foram de mal a pior.Leôncio, com a educação e a índole que lhe conhecemos, era o homem menospróprio possível para dirigir e explorar um grande estabelecimento agrícola.Seus desvarios e extravagâncias, e por último sua nefasta e insensatapaixão por <strong>Isaura</strong>, fizeram-no perder de todo a cabeça, arrojando-se em um planoinclinado de despesas ruinosas, sem cálculo nem previsão alguma. Com osenormes dispêndios que teve de fazer em conseqüência da fuga de <strong>Isaura</strong>,mandando procurá-la por todos os cantos do império, acabou de cavar oabismo de sua ruína. Em pouco tempo o jovem fazendeiro estava de todoinsolvável, sem um real em caixa, e com uma multidão de letras protestadasna carteira de seus credores. Quando estes acordaram e se lembraram de lheabrir a falência e executar os seus bens, compreenderam que mal poderiamembolsar-se da metade do que lhes era devido, e, portanto, trataram comsofreguidão de promover os meios executivos, antes que o mal fosse a mais.Depois de conferenciar com os credores de Leôncio, propôs-lhes acompra de todos os seus créditos pela metade do seu valor. Para evitarqualquer odiosidade, que semelhante procedimento pudesse acarretarsobre sua pessoa, declarou-lhes que nenhuma intenção tinha de vexarnem oprimir o infeliz fazendeiro, que pelo contrário era seu intuitoprotegê-lo e livrá-lo do vexame de uma rigorosa execução judicial,e deixá-lo ao abrigo da miséria. E realmente, a despeito da aversão e

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