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A Escrava Isaura

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estranho. Casara-se por especulação, e como sua mulher era moça e bonita,sentira apenas por ela paixão, que se ceva no gozo dos prazeressensuais, e com eles se extingue. Estava reservado à infeliz <strong>Isaura</strong> fazervibrar profunda e violentamente naquele coração as fibras queainda não estavam de todo estragadas pelo atrito da devassidão.Concebeu por ela o mais cego e violento amor, que de dia em dia iacrescendo na razão direta dos sérios e poderosos obstáculos queencontrava, obstáculos a que não estava afeito, e que em vão se esforçavapara superar. Mas nem por isso desistia de sua tresloucada empresa, porque emfim de contas, - pensava ele, - <strong>Isaura</strong> era propriedade sua, e quandonenhum outro meio fosse eficaz, restava-lhe o emprego da violência.Leôncio era um digno herdeiro de todos os maus instintos e da brutaldevassidão do comendador.Pelo caminho, como sua mente andava sempre cheia da imagemde <strong>Isaura</strong>, Leôncio conversara longamente com seu cunhado a respeitodela, exaltando-lhe a beleza, e deixando transluzir com revoltante cinismoas lascivas intenções que abrigava no coração. Esta conversaçãonão agradava muito a Henrique, que às vezes corava de pejo e deindignação por sua irmã, mas não deixou de excitar-lhe viva curiosidadede conhecer uma escrava de tão extraordinária beleza.No dia seguinte ao da chegada dos mancebos às oito horas damanhã, <strong>Isaura</strong>, que acabava de espanejar os móveis e arranjar o salão,achava-se sentada junto a uma janela e entrelinha-se a bordar, à esperaque seus senhores se levantassem para servir-lhes o café. Leôncio eHenrique não tardaram em aparecer, e parando à porta do salãopuseram-se a contemplar <strong>Isaura</strong>, que sem se aperceber da presençadeles continuava a bordar distraidamente.- Então, que te parece? segredava Leôncio a seu cunhado. -Uma escrava desta ordem não é um tesouro inapreciável? Quem nãodiria que uma andaluza de Cádiz, ou uma napolitana?...- Não é nada disso; mas é coisa melhor, respondeu Henriquemaravilhado; é uma perfeita brasileira.- Qual brasileira! é superior a tudo quanto há. Aqueles encantose aquelas dezessete primaveras em uma moça livre, teriam feito virar ojuízo a muita gente boa. Tua irmã pretende com instância, que eu aliberte, alegando que essa era a vontade de minha defunta mãe; masnem tão tolo sou eu, que me desfaça assim sem mais nem menos deuma jóia tão preciosa. Se minha mãe teve o capricho de criá-la comtodo o mimo e de dar-lhe uma primorosa educação, não foi decertopara abandoná-la ao mundo, não achas?... Também meu pai pareceque cedeu às instâncias do pai dela, que é um pobre galego, que por aianda, e que pretende libertá-la; mas o velho pede por ela tãoexorbitante soma, que julgo nada dever recear por esse lado. Vê lá,Henrique, se há nada que pague uma escrava assim?...- É com efeito encantadora - replicou o moço, - se estivesseno serralho do sultão, seria sua odalisca favorita. Mas devo notar-te,Leôncio, - continuou, cravando no cunhado um olhar cheio demaliciosa penetração, - como teu amigo e como irmão de tua mulher,que o teres em tua sala e ao lado de minha irmã uma escrava tãolinda e tão bem tratada não deixa de ser inconveniente e talvezperigoso para a tranqüilidade doméstica...

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