27viverem na lógica do mundo moderno, no qual está cada vez mais se exigindorapidez, agilidade e produtividade, e onde o lúdico acaba sendo desvalorizado e,assim, perdendo o seu espaço.3.2 HISTÓRIA DO BRINCARHá muitos anos atrás adultos, jovens e crianças misturavam-se em todasas atividades sociais, nos divertimentos, no exercício das profissões e em tarefasdiárias, nas festas, cultos e demais atividades. Nestes momentos não se faziamuita questão em distinguir as crianças dos jovens e dos adultos, pois essesgrupos sociais estavam pouco claros em suas diferenciações.Benjamin (1984) relata que muitos brinquedos, tais como o arco, a bola e apipa foram de uma forma ou outra, impostos às crianças como objetos de culto eanos mais tarde, de acordo com a imaginação dos pequenos, estes foramtransformados em brinquedos. Estes objetos–brinquedos não eram inventados porespecialistas ou fábricas, mas sim por antigos lenhadores que ao cortarem amadeira moldavam artigos para as crianças divertirem-se.Os brinquedos não eram vendidos em lojas ou comercializados. Ainda deacordo com Benjamin (1984), os animais de madeira entalhada podiam serencontrados em carpintarias, os soldadinhos de chumbo em caldeirarias, as figurasde doce nas confeitarias, as bonecas de cera nas fábricas de velas.De acordo com Volpato (1999), alguns brinquedos são fabricados paraensinar comportamentos, gestos, atitudes, valores considerados corretos em nossasociedade. Por isso, a maioria deles já vem pronta, contendo todas as instruçõesde uso, idade, sexo, número de participantes, tempo de duração do jogo, bastandoapenas segui-las de acordo com as mesmas.Em um pequeno texto de Rubem Alves, publicado na internet podemosentender realmente o sentido do brincar:
28Minhas netas: Eu gosto de ler as revistinhas do Pato Donald. Pois oprofessor Pardal, aquele inventor maluco, teve uma idéia genial. Imaginouque seria legal se ele inventasse, para o Huguinho, o Zezinho e oLuizinho, brinquedos que lhes dessem alegria sempre. Pois há brinquedosque não dão alegria: pipa em dia sem vento, não voa e fica no chão; piãoque não gira quando se puxa a cordinha e vai rolando pelo chão; taco debeisebol quando erra a bola e o menino fica com cara de bobo. Quandoessas coisas acontecem os brinquedos não dão alegria; dão tristeza. “Poiseu vou inventar brinquedos que dêem alegria sempre“, disse o professorPardal. “Uma pipa que voe sempre, um pião que gire sempre e um tacoque acerte a bola sempre! “Dito e feito! O professor Pardal entrou no seulaboratório, pensou, trabalhou e inventou os três brinquedos que, segundoele imaginava, dariam alegria sempre. De fato, os três patinhos ficaramfelicíssimos quando receberam os brinquedos mágicos. Mas a alegriadurou pouco. Porque não existe nada mais chato do que um brinquedoque acerta sempre. Brincar só é divertido quando existe a possibilidade denão dar certo. Brinquedo divertido exige luta, esforço: lutar com o vento,lutar com o pião, lutar com o taco, para ver quem pode mais. (RUBEMALVES, Brincar é difícil)Pensemos que nenhuma criança gosta de ter as respostas de todas asbrincadeiras, pois dessa forma não terá graça, pois todas às vezes a estratégiaestará pronta e não precisará nem pensar para jogar ou brincar. O que as criançasgostam e necessitam para a sua aprendizagem é de desafios, não gostam muitode perder, porque dessa forma sentem-se lesadas, ficam felizes e vibram quandoganham. Muitas vezes os adultos fazem de conta que perderam somente paradeixar a criança alegre, mas isso não deve ocorrer, pois a criança precisa entenderque ela também pode errar e perder, assim como os outros. Através do brincar acriança aprende a lidar com as frustrações colocadas pelas situações de perda.De acordo com OLIVEIRA (2001), é brincando que a criança elaboraprogressivamente o luto pela perda relativa dos cuidados maternos, assim comoencontra forças e descobre estratégias para enfrentar o desafio de andar com aspróprias pernas e pensar aos poucos com a própria cabeça assumindo aresponsabilidade por seus atos. Constitui-se assim na ferramenta por excelênciade que dispõe para aprender a viver.Quando se fala da importância do brincar para o desenvolvimento psíquicodo ser humano, Bettelheim afirma que:Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. Suaescolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas,ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determinasuas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemosrespeitar mesmo se não a entendemos. (BETTELHEIM, 1984, p.105)